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sexta-feira, novembro 22, 2024

António José Seguro ou um Almirante?

Foto: Rita Chantre/Global Imagens (editado)

António José Seguro assume estar a ponderar candidatura a Belém DN

António José Seguro, candidato presidencial, seria um sinal de esperança para o decadente PS, mas não tem condições para chegar a Belém.

Prefiro um almirante que saiba de submarinos e de guerra! 

E que a corja partidária passe por um período de quarentena e desinfestação. 

Para tal, precisamos dum presidente não partidário, de preferência militar, que perceba até que ponto a duração do país depende de uma renovação radical do nosso poder naval, em particular no que se refere ao que é hoje o 'mar português': mar territorial, a zona económica exclusiva, incluindo a zona contígua ao mar territorial, e a plataforma continental. Isto é o mais importante, com o decorrente desenvolvimento de conhecimento fundamental, tecnologias e projetos económicos estratégicos associados. AInda na área militar, é fundamental desenvolver nichos militares de excelência, por exemplo, no setor das tropas especiais e aviação costeira.

As discussões sobre energia e infraestruturas (aeroportos e ferrovia, nomeadamente) foram ultrapassadas nestes últimos três anos, pela invasão russa da Ucrânia, pelas ambições cada vez mais agressivas da China comunista e pelo terrorismo fundamentalista islâmico. 

Temos um mix energético razoavelmente equilibrado, que fornece um produto essencial a preços comparativamente competitivos, cuja segurança relativamente às fontes intermitentes nos é garantida pela energia nuclear espanhola e francesa.

 Por outro lado, o setor ferroviário deve orientar-se para as ligações internas onde estas forem competitivas (nomeadamente nas principais regiões urbanas do país), e para os eixos internacionais prioritários: Corunha-Faro (Corunha, Santiago, Vigo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Sanarém, Lisboa, Setúbal, Faro) e Lisboa-Madrid. As ligações internacionais deverão, porém, obedecer a critérios de interoperabilidade eficientes e competitivos, e devem ser desenhados à partida em função da concorrência existente na Europa neste domínio.

Os dados digitais e a eletrónica são o petróleo de hoje e do próximo futuro. 

Por sua vez, o carvão, o petróleo, o gás natural e a energia nuclear, da era industrial ,vão continuar, embora sob condicionamentos crescentes e a par do crescimento exponencial das energias renováveis não poluentes que não roubem aos equilíbrios ecológicos e à produtividade económica os solos ricos em água e matéria orgânica.

Em suma, é preciso uma pequena revolução democrática para mudar o nosso paradigma indolente e populista de desenvolvimento. Prioridade absoluta: segurança e defesa do 'mar português', com tudo o que esta prioridade implica nos setores estratégicos militar, económico, cognitivo e cultural.

Nota: a nova Árvore das Patacas, que é o turismo português, deve ser acarinhada, dando lugar a uma especialização que não existe, que evite a todo o custo a destruição dos destinos turísticos pela massificação e pela homogenia comercial e cultural. Precisamos, neste domínio, de diferença!

sábado, janeiro 21, 2023

Afinal, Pedro Nuno Santos sabia. Ou seja, mentiu.

Este texto, enviado por Pedro Nuno Santos às redações, foi meticulosamente escrito por advogados (suponho). E tem uma pequena manha semântica que o título desta notícia do ECO passa em claro: PNS não diz que deu anuência à indemnização milionária (por explicar até hoje) paga pela TAP a Alexandra Reis. Diz antes que, e cito: "a mesma foi dada". Ou seja, o seu secretário de estado e a sua chefe de gabinete pediram-lhe a anuência política para a indemnização... e a "mesma foi dada"... por quem? Esta é a pergunta que paira no ar da resposta de PNS. Eu presumo que a anuência também foi dada por António Costa. Só falta perguntar ao PM se o PNS falou com ele sobre esta anuência, ou não. Em caso afirmativo... QED! É simples.

A frase do Ponto 7 da missiva é este: "Aquilo que me foi pedido nessa comunicação foi anuência política para fechar o processo e a mesma foi dada."

ECO, 20 janeiro 2023

quinta-feira, janeiro 19, 2023

O Bando dos Quatro e a TAP


Christine Ourmières-Widener não se demite

A CEO da TAP não se demitirá, pois agiu de boa fé, disse no parlamento. Mas se o governo a demitir, Christine Ourmières-Widener terá 80% de possibilidades de ganho de causa em tribunal, com direito a uma pesada indemnização e a uma cobertura jornalística, nomeadamente internacional, proporcional. João Galamba e a sua turma sabem disso. Vão, pois, deixar a senhora em paz, enquanto esperam que a Espada de Dâmocles caia na cabeça de António Costa.

O importante de toda esta caça às bruxas é o seguinte: a re-nacionalização da TAP falhou. 

A reversão escandalosa da privatização da TAP foi levada a cabo como condição imposta pelo PCP para viabilizar um governo chefiado por um líder partidário que acabara de perder as eleições. Desta negociação viria a resultar a famosa Geringonça. Entretanto, a nova TAP viria a tornar-se uma espécie de Espada de Dâmocles sobre a cabeça de António Costa. 

Pedro Nuno Santos saiu a tempo, ao sentir subitamente um frio na espinha. 

A negociação no terreno que deu lugar à configuração da Geringonça foi liderada por este ambicioso político, membro proeminente do Bando dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse do Partido Socialista, mais conhecidos por Jovens Turcos do PS: Duarte Cordeiro, João Galamba, Pedro Nuno Santos e Pedro Delgado. O poder destas personagens, hoje de meia idade, que ajudaram António Costa a derrubar António José Seguro em 2014, é grande no PS e no país. O seu objetivo é evidente: tomar o poder no PS e substituir António Costa assim que este cair definitivamente em desgraça. O fio de seda que suspende o buraco negro da TAP sobre a cabeça do ainda líder do PS e primeiro ministro poderá romper-se de um momento para o outro. A janela de oportunidade dos sucessores do ainda primeiro ministro é, por outro lado, muito estreita, pois a oposição das forças de centro-direita, de direita e da direita populista estarão em breves prontas para ganhar eleições e governar. A substituição de PNS por João Galamba revela, em suma, e de forma clara, que António Costa está, de facto, nas mãos destes quatro aventureiros.

O episódio da demissão/indemnização de Alexandra Reis é, assim, o fio de seda que suspende a Espada de Dâmocles sobre a cabeça de Costa. E foi este o provável percurso da informação que está a esticar o fio até ao limite:

Conflito (sobre aquisições de aeronaves?) entre Alexandra Reis (especialista em compras) e a francesa Christine Ourmières-Widener (CEO da TAP) 

--> rescisão de contrato de Alexandra Reis 

(informação segue para:)

--> Secretário de Estado (Hugo Mendes) 

--> Ministro (PNS) 

--> António Costa (PM) 

--> Marcelo Rebelo de Sousa (PR) 

--> Pedro Rebelo de Sousa 

--> SRS Advogados 

--> demissões de Pedro Nuno Santos, Alexandra Reis (secretária de estado do tesouro por um dia!), Hugo Mendes e Marina Gonçalves --> ...

(continua...)


LINKS

CEO da TAP diz que secretário de Estado aprovou indemnização de Alexandra Reis (RTP)

Demissões no Governo. Em nove meses, contam-se 11 saídas (SAPO)

Alexandra Reis sai do Governo a pedido de Medina (Observador)

Quem é Alexandra Reis, a secretária de Estado envolta em polémica (SIC Notícias)

Jovens turcos do PS em contenção (Sol)

sábado, agosto 03, 2019

A gola nepotista

Eduardo Cabrita, par do reino socialista.
Meme, autor desconhecido

O que parece é: a corrupção tornou-se um modo de vida para muitos.


Golas anti-fumo não são golas anti-fogo. A polémica neste ponto é que não passa duma manobra de distração. Montada por quem? A demissão de um responsável por ter aprovado um negócio aparentemente nepotisa serviu, isso sim, para dar outro tiro no porta-aviões dos jovens turcos do PS (Pedro Nuno Santos) depois de este ter criticado a formação das listas para deputados benzida por António Costa.

Eu recomendaria ao atual ministro das infraestruturas a leitura de Robert Axelroad sobre tit-for-tat e cooperação, antes de se lançar no assalto à fortaleza do PS. Até agora, esta fortaleza já soube expôr as evidentes fraquezas genealógicas de Pedro Nuno Santos. Do Maserati ao Porshe, e destes aos negócios do pai com o Estado, resta o quê da suposta integriade socialista do delfim rebelde de António Costa?

Da literalidade das leis posta em causa (escusadamente) pelo cardeal Santos Silva.

Não parece haver grandes dúvidas: os negócios realizados com o Estado pelas empresas dos familiares de Pedro Nuno Santos, Graça Fonseca, Francisca Van Dunem, etc., deverão ser anulados. A lei não prevê, porém, nestes casos concretos, a destituição dos cargos que os citados ocupam, pois estes não terão tido qualquer participação direta ou indireta nos negócios em causa.

Da lei que está em vigor:

"Artigo 8.º
Impedimentos aplicáveis a sociedades

1 - As empresas cujo capital seja detido numa percentagem superior a 10/prct. por um titular de órgão de soberania ou titular de cargo político, ou por alto cargo público, ficam impedidas de participar em concursos de fornecimento de bens ou serviços, no exercício de actividade de comércio ou indústria, em contratos com o Estado e demais pessoas colectivas públicas.

2 - Ficam sujeitas ao mesmo regime:
a) As empresas de cujo capital, em igual percentagem, seja titular o seu cônjuge, não separado de pessoas e bens, os seus ascendentes e descendentes em qualquer grau e os colaterais até ao 2.º grau, bem como aquele que com ele viva nas condições do artigo 2020.º do Código Civil;
b) As empresas em cujo capital o titular do órgão ou cargo detenha, directa ou indirectamente, por si ou conjuntamente com os familiares referidos na alínea anterior, uma participação não inferior a 10/prct..

e...

Artigo 14.º
Nulidade e inibições
A infracção ao diposto nos artigos 8.º [...] determina a nulidade dos actos praticados [...].

in Lei n.º 64/93, de 26 de Agosto
INCOMPATIBILIDADES E IMPEDIMENTOS DOS TITULARES DE CARGOS POLÍTICOS E ALTOS CARGOS PÚBLICOS(versão actualizada)

sexta-feira, novembro 06, 2015

Obrigado camarada Cunhal!


PCP salva-se de um salto para o abismo e salva o país de um mais que certo desastre se, porventura, António Costa usurpasse a maioria das últimas eleições


Para Francisco Assis o acordo de esquerda é a parte visível de um icebergue, mas “a parte invisível (deste icebergue) é a mais determinante”. Salvo se, digo eu, o PCP e o Bloco já tivessem passado pelo upgrade ideológico e programático de que desesperadamente precisam para ainda estarem por cá, quer dizer com alguma presença expressiva no parlamento e nas autarquias, em 2020. Não passaram, e não vai ser fácil aos mais novos vencerem as resistências dessa espécie de honestas e dogmáticas testemunhas de Jeová que habitam o lúgubre CC do PCP, ou os esqueletos ideologicamente decrépitos do Bloco, dos pequeno-burgueses maoístas Fazenda e Rosas, ao quadrado trotskista, da estirpe mandeliana, Francisco Louçã.

Os aggiornamentos do PCP e do Bloco precisam de tempo, e de ver reformados os velhos dirigentes. A golpada de António Costa, a que se somou a gula pelo poder que cresceu em e à volta de Catarina Martins, precipitaram os acontecimentos numa direção que poderá revelar-se fatal para o esperado e necessário renascimento do que resta das seitas marxistas-leninistas e trotskistas europeias.

Acontece que Arménio Carlos percebeu a armadilha e reagiu forte e feio. Nada mais do que uma manifestação-cerco da Assembleia da República no dia da votação das anunciadas moções de censura, e uma greve de estivadores durante dez dias, nos portos de Lisboa, Setúbal e Figueira da Foz, a partir de 14 de novembro. Ou seja, os nichos de mercado do PCP (sindicatos, autarquias e grupo parlamentar) não podem morrer nos braços do PS, um partido que como todos sabem e os comunistas nunca se cansaram de repetir, sempre esteve com as 'políticas de direita'.

Jerónimo de Sousa:
“a vida tem demonstrado que o PS, em minoria ou em maioria absoluta, sempre, mas sempre, ao longo destes 39 anos, fez uma opção - a política de direita - e a verdade é que os portugueses têm prova de facto, incluindo neste programa eleitoral [do PS]”, que, segundo o deputado do PCP, só se diferencia da coligação PSD/CDS-PP no “ritmo, modo ou grau” de austeridade — in Económico com Lusa, 1 set 2015.

O PCP recusa-se, portanto, a firmar acordos escritos com o PS. Ou seja, não há acordo que chegue para convencer Cavaco. E assim sendo só vejo uma saída para António Costa: ouvir Francisco Assis, anunciar este domingo que não há acordo para uma alternativa ao governo dos partidos que ganharam as eleições de 4 de outubro, e demitir-se imediatamente.

É que os danos que já causou ao país e ao PS são intoleráveis!

quarta-feira, novembro 04, 2015

A nova esquerda

Pedro Nuno Santos 
Enric Vives-Rubio/ Público

Com ou sem governo PS apoiado pelo PCP e pelo Bloco, nada ficará como dantes depois das Legislativas de 4 de outubro


Ao contrário do que ocorreu na Grécia, ou mesmo em Espanha, os comunistas do PCP, e os esquerdistas do Bloco, têm já, sobretudo os primeiros, uma larga praxis de convivência com as instituições da democracia burguesa, e uma grande experiência de negociação diária da política, quer no seio das esquerdas, quer, aliás, com os seus declarados adversários principais: a direita portuguesa.

Ambos são, na realidade, partidos burgueses, mais burocrático o PCP, mais classe média, o Bloco.

Como todos sabemos, o campesinato desapareceu debaixo dos tratores e drones das agro-indústrias, e o proletariado industrial é no nosso país uma memória cada vez mais vaga, ultrapassada pelas sucessivas revoluções tecnológicas e de gestão.

O que aflige, portanto o PS, o PCP e o Bloco é o ataque sem precedentes que a crise do capitalismo financeiro especulativo desferiu contra as classes médias, e o perigo que tal rolo compressor representa para a democracia. O que restava dos principais nichos de poder do PCP —sindicatos, autarquias e parlamento— foi e continuará a ser erodido pela armadilha das dívidas públicas e privadas em que nos deixámos cair, nomeadamente por incapacidade de lidar com a demagogia dos ciclos eleitorais. Por sua vez, a hipertrofia burocrática do setor educativo e social em geral atingiu limites de sustentabilidade fiscalmente incomportáveis, começando a corroer rapidamente solvabilidade do país, mas também as bases sociológicas, quer do PCP, quer do Bloco. Por fim, a demografia colocou todos os partidos perante desafios urgentes com que não contavam, e para os quais não se prepararam a tempo e horas.

É neste contexto que temos que analisar e entender o colapso do Bloco Central, e as novas polaridades político-partidárias em gestação. A economia da redistribuição populista chegou ao fim. Ao espetro das ideologias exigem-se agora novas ideias e programas de ação. O centro-direita foi empurrado para o exercício da austeridade, mas esqueceu-se que a mesma deve tocar também aos rendeiros do regime. A pergunta pertinente, neste caso, é esta: estarão as esquerdas dispostas a distribuir efetivamente o mal pelas aldeias?

Se não houver acordo para um governo do PS suportado diariamente pelo PCP, pelo Bloco e pelos pseudo Verdes —opção que claramente prefiro—, o governo minoritário do PSD-CDS seguirá o seu caminho até que o próximo presidente da república convoque novas eleições legislativas. Até lá o processo de convergência das esquerdas, protagonizado nomeadamente por Pedro Nuno Santos, Mariana Mortágua e João Oliveira, terá tempo suficiente para convencer os portugueses da sua bondade e do realismo de um novo modelo de alternância democrática.

Se, pelo contrário, as esquerdas avançarem precipitadamente para um saco de gatos capitaneado pelo oportunista António Costa, tudo ficará mais difícil para as novas gerações que neste momento protagonizam a sua necessária metamorfose. Toda esta trapalhada será vista por uma maioria esmagadora dos portugueses como um golpe de estado parlamentar para satisfazer as ambições sectárias dum secretário-geral que perdeu claramente umas eleições que ambicionou ganhar com maioria absoluta.

Até Francisco Assis desistirá de desafiar uma parte do PS a fundar um novo partido de centro-esquerda, se até à próxima segunda-feira os jovens turcos das esquerdas souberem fazer a curva apertada e vertiginosa por onde entraram sob pressão de um perdedor aflito—António Costa.

Vale a pena ler a entrevista a Pedro Nuno Santos publicada esta manhã pelo Público. A mesma dá bom recado da renovação das esquerdas, cuja aceleração súbita ninguém previu. A metamorfose no PS é uma mudança qualitativa necessária e há muito esperada e desejada no sistema partidário. Terá necessariamente consequências na configuração do regime. Também no PCP as coisas avançam, ainda que mais lentamente. No Bloco já só está em causa ajustar a mudança operada, afastando as influências intempestivas de alguns dos seus fundadores.

“Afastamento do PSD do centro facilitou” acordo à esquerda

A mensagem é clara para quem contesta o acordo do PS com o BE e o PCP. Mais antinatural que assinar um acordo de Governo com o BE ou PCP seria “viabilizar um Governo de direita, talvez o mais radical que o país já conheceu”. E argumenta que foi a deriva do PSD que fez aproximar o PS da esquerda.

[...]

—Se o acordo falha agora não destrói a possibilidade por muitos anos?

—Primeiro ponto: independentemente do resultado final, isto já foi uma vitória. É a primeira vez que se consegue sentar estes quatro partidos para discutir um programa de Governo. Isto é importante porque nós conhecemo-nos melhor, sabemos melhor o que é que cada um quer e defende, até onde é que pode ir. Isso representa um ganho inestimável. Segundo ponto: seria um desperdício enorme, não para os partidos, mas para o povo português, para a classe média, para os reformados, se não conseguíssemos chegar a um acordo. Era inaceitável.

São José Almeida e Nuno Sá Lourenço 04/11/2015 - 07:10. PUBLICO.PT

terça-feira, outubro 13, 2015

Primavera ibérica

Mariana Mortágua
Foto: Nuno Ferreira Santos (pormenor); in Público

Quem são os protagonistas desta espécie de revolução?


Se os camponeses portugueses foram substituídos por tratores e drones, se os operários portugueses foram substituídos por operários chineses, indianos, paquistaneses, bengaleses, e por robots, se as ideologias mais fundamentalistas do PCP e do Bloco há muito deixaram de ser determinantes para a sua ação política quotidiana, quem são então os novos comunistas e socialistas que hoje se dispõem a tomar as rédeas do poder em Portugal?

A avaliar pelas transferências de votos que permitiram ao Bloco tornar-se na nova charneira partidária do regime, só tenho uma resposta: a classe média ameaçada.

Quer dizer: uma classe média profissional qualificada, que vive do seu trabalho e depende em geral da saúde das empresas, mas também a vasta burocracia, particularmente atenta à distribuição do dinheiro público, que povoa o estado, o setor público empresarial, as autarquias e os partidos do arco parlamentar.

A ameaça de domínio autoritário, empobrecimento e fragmentação que pende sobre as classes médias tal como se foram desenvolvendo ao longo dos últimos cinquenta anos —habituadas a um conforto relativo decorrente do seu estatuto social, conhecimentos adquiridos, espírito de iniciativa e méritos— provocou finalmente uma reação inteligente daquela que é a base essencial das democracias, ao subir o patamar da rua para o patamar institucional da disputa eleitoral democrática. Que o tenham feito votando também no Partido Comunista Português e no Bloco de Esquerda, e não em novos partidos que entretanto se apresentaram a escrutínio, é a novidade complexa nascida na noite de 4 de outubro.

A revolução que agora começa em Portugal será, pelo que temos visto e lido, uma revolução inteligente, programática, meticulosa, tecnicamente fundamentada, cognitiva e culturalmente sofisticada. Começa depois de uma destruição sem precedentes das nossas expectativas, e depois de uma devastação igualmente sem precedentes no tecido económico-empresarial e financeiro do país. Estamos praticamente em cima de uma tábua rasa, e é preciso reaprender quase tudo no que diz respeito ao desenho do novo estado social, da nova economia e do novo sistema financeiro.

Mais cedo do que imaginei, formou-se uma aliança tácita entre os jovens políticos visionários do PS, do PCP e do Bloco. Várias vezes chamei a atenção para os nomes de Pedro Nuno Santos, João Oliveira e Mariana Mortágua, entre outros. A ameaça que pende sobre a velha esquerda e os seus sindicatos, sobre a impotência ideológica que os dividiu até agora, e que já ninguém entende, acabaria, em suma, nestas eleições, por trazer à superfície uma solução óbvia: concretizar a maioria numérica de esquerda existente no parlamento numa maioria parlamentar substancial e num governo.

Claro que esta metamorfose implicará ajustamentos algo drásticos, sobretudo dentro do PS, mas também no PCP. Por isso pareceu-me que o processo deveria ser gradual, uma vez revelada e comungada a nova estratégia da esquerda. O perigo de deixar o derrotado António Costa liderar um governo apoiado pelo PCP e pelo Bloco é o deste trair à esquerda e à direita, e o de tentar, quando a dívida pública voltar a apertar em cheio, um golpe de asa bonapartista, como fez Alexis Tsipras. A laracha populista do nosso Costa concórdia, sobre os mais pobres, já começou!

Um pormenor...

O PS só contará com uma maioria parlamentar estável se puder contar com o apoio a 100% dos 17 deputados do PCP, 100% dos 19 deputados do Bloco, e, pelo menos, 80 deputados do PS.

Poderá António Costa prometer isto mesmo a Cavaco Silva?

Quantos deputados socialistas eleitos discordam da aventura do náufrago Costa? Será que o país precisa neste momento de um Costa concórdia?

Aconteça o que acontecer, o Bloco de Esquerda, e o PCP se aprofundar o aggiormanento que em boa hora iniciou, mas também o PS, que parece querer renascer das cinzas, terão ao longo dos próximos quatro anos um tempo precioso para mudar de alto a baixo a esquerda portuguesa.

Seja como for, as coisas avançaram já demasiado para que os diferente atores possam recuar.

Alea jacta est!

segunda-feira, outubro 12, 2015

Costa concórdia II

António Costa
Foto @ José Sérgio/ Sol

Tsipras à portuguesa? A avaliar pelo andar da carruagem, é bem possível que sim!


Última hora: coligação sem governo; governo PS-Bloco-PCP a caminho

Presidente do BCE elogia Grécia 
«Muitas coisas assumiram um rumo melhor nos últimos tempos e isso deve-se ao primeiro-ministro grego, ao Governo grego e ao povo grego. Creio que é do interesse de todos que a atenção se centre a partir de agora na aplicação rápida das medidas que foram acertadas em conjunto, de acordo com os prazos previstos», disse o responsável italiano, numa entrevista a ser publicada este domingo no jornal grego Katherimini. 
— in Expresso, 10.10.2015 às 20h23 


A Alemanha está cada vez mais virada para a Eurásia e a Nova Rota da Seda sino-russa e, por outro lado, enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido se preparam para enfraquecer ainda mais a União Europeia, Berlim não pode suportar mais, por si só, os custos de uma integração europeia atolada em dívidas, crescimento a caminho de zero e uma demografia cada vez mais envelhecida e improdutiva.

O eixo Paris-Berlim poderá ter assim os dias contados, sobretudo se Marine Le Pen continuar a progredir sob o impacto da instabilidade plantada pelos Estados Unidos no Médio Oriente, no leste da Europa e no Mediterrâneo, e as velhas esquerdas de Portugal, Espanha e Grécia conseguirem atravessar com êxito as metamorfoses ideológicas que já iniciaram. Não creio que Washington coloque quaisquer reservas à emergência de governos de esquerda nestes três países. E se assim for, o PàF e Cavaco Silva passarão rapidamente à história.

O escândalo da Volkswagen, que não por acaso rebentou nos Estados Unidos, abriu uma cratera na credibilidade alemã e começou a destapar o buraco negro do seu sistema financeiro.

Só o Deutsche Bank tem uma exposição aos contratos de derivados financeiros na ordem dos 54,7 biliões de euros (54,7x10E12), isto é, 19x o PIB da Alemanha! Para termos uma ideia ainda mais dramática do problema, basta pensar que o PIB mundial em 2014 andou pelos 68 biliões de euros.

A fraude ambiental da Volkswagen pode, pois, ter sido o cisne negro que levou o sistema financeiro global —e portanto o capitalismo como o conhecemos— a dar mais um forte sinal de que caminha rapidamente em direção ao colapso, que alguns já chamam pós-capitalismo. Para já, o que se vislumbra no horizonte mais próximo é o esgotamento da capacidade económico-financeira alemã de impor condições ao resto da União Europeia.

Nesta conjuntura, que à escala global é de agravamento das tensões entre o Oriente e Ocidente, mas sobretudo de avanço estratégico da China no Grande Jogo da Eurásia (que, como sabemos, vai de Lisboa e Vladivostok), os graus de liberdade dos países do sul da Europa, apesar das suas crises de endividamento soberano, poderão aumentar contra todas as expetativas.

É neste quadro que a renovação da esquerda se joga, e o futuro da direita que temos, também.

Para ajudar a compreender porque motivo o impensável se poderá realizar em breve, junto alguns artigos recentes que permitem perceber as mudanças rápidas que estão em curso


Central bank cavalry can no longer save the world 
LIMA (Reuters) - In 2008 central banks, led by the Federal Reserve, rode to the rescue of the global financial system. Seven years on and trillions of dollars later they no longer have the answers and may even represent a major risk for the global economy.
[…]
"Central banks have described their actions as 'buying time' for governments to finally resolve the crisis... But time is wearing on, and (bond) purchases have had their price," the report said.
[…]
Reuters calculates that central banks in those four countries alone have spent around $7 trillion in bond purchases.
The flow of easy money has inflated asset prices like stocks and housing in many countries even as they failed to stimulate economic growth. With growth estimates trending lower and easy money increasing company leverage, the specter of a debt trap is now haunting advanced economies, the Group of Thirty said. 
— in Reuters, Sat Oct 10, 2015 | 3:34 PM EDT, By David Chance
The Endgame Takes Shape: "Banning Capitalism And Bypassing Capital Markets" 
We believe that the path of least resistance would be to effectively ban capitalism and by-pass banking and capital markets altogether. We gave this policy change several names (such as “Cuba alternative”, “British Leyland”) but the essence of the new form of QE would be using central banks and public instrumentalities to directly inject “heroin into blood stream” rather than relying on system of incentives to drive investor behaviour. 
Instead of capital markets, it would be governments that would decide on capital allocation, its direction and cost (hence reference to British Leyland and policies of the 1960s). It could involve a variety of policy tools, with wholesome titles (i.e. “Giving the economy a competitive edge”, “Helping hard working American families” or indeed recent ideas from the British Labour party of “People’s QE”). Who can possibly object to helping hard working families or improving productivity? 
However as the title of our previous note suggested (“Back to the Future”), most of these policies have already been tried before (such as Britain in the 1960-70s or China over the last 15 years) and they ultimately led to lower ROE and ROIC as well as either stagflationary or deflationary outcomes. Whilst the proponents of new attempts of steering capital could argue that we have learned from the lessons of the past and economists would start debating “multiplier effects” and “private-public partnerships”, the essence of these policies remain the same (i.e. forcing re-allocation of capital, outside normal capital market norms), and could include various policies, such as: 
—Central banks directly funding expansion of fiscal spending;
—Central banks and public instrumentalities funding direct investment in soft (R&D, education) and hard (i.e. infrastructure) projects; and
—Outright nationalization of various capital activities (such as mortgages, student loans, SME financing, picking industry winners etc). 
Whilst, these policies would ultimately further misallocate resources, they could initially result in a significant boost to nominal GDP and given that capital markets are now populated by highly leveraged financial instruments, the impact on various financial asset classes would be immediate and considerable. In other words, neither China nor Eurozone need to spend one dime for copper prices to potentially surge 30%+. 
Are we close to such a dramatic shift in government and CB policies? 
We maintain our view that for CBs to accept this new form of QE, we need to have two key prerequisites: 
Undisputed evidence that it is needed. The combination of a major accident in several asset classes and/or sharp global slowdown would be sufficient; and there has to be academic evidence (hopefully supported by sophisticated algebra and calculus) that there are alternatives to traditional QEs. 
At the current juncture, none of these conditions are satisfied. However, we maintain that as investors progress through 2016-17, there is a very high probability that both conditions would fall into place.
— in Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 10/10/2015 19:44 -0400

Why Are The IMF, The UN, The BIS And Citibank All Warning That An Economic Crisis Could Be Imminent? 
— in The Economic Collapse, By Michael Snyder, on October 8th, 2015
The Final Crescendo Of Cognitive DollarDissonance And The Remonetisation Of Gold 
There is good reason to believe that what is already underway is going to be more severe than 2008-09. This time around, interest rates are already at zero, or outright negative. QE has failed. Confidence in economic officials’ general ability to restore healthy, sustainable growth has weakened considerably. Indeed, at a recent roundtable event at Chatham House I attended, multiple prominent international economists suggested that with ‘conventional QE’ having failed, the next logical arrow in the monetary policy quiver is that of direct money injections into corporations or households, in effect a Friedmanesque ‘Helicopter Drop’ of money. This conversation would not be taking place at all were the macroeconomic outlook not so poor. 
— in The Amphora Report, Vol.6, 8 October 2015

quinta-feira, outubro 08, 2015

E se fosse Maria de Belém?

Maria de Belém, candidata presidencial
Foto © desconhecido, in Luso Notícias

Uma candidata para derrotar Marcelo à primeira volta?


Ninguém compreenderia que o próximo governo fosse um governo de esquerda. Nem a própria esquerda lúcida que temos. Logo, aquilo a que estamos a assistir no rescaldo das eleições legislativas tem um alcance bem maior do que as aflições de Cavaco Silva, Passos Coelho e António Costa.

Há dois partidos no nosso espetro parlamentar que não fizeram o rejuvenescimento necessário para responder, com novos protagonistas, nova estratégia e nova linguagem, às mudanças profundas que têm ocorrido nas sociedades humanas nos últimos quarenta anos: o Partido Socialista, e o Partido Comunista. As lideranças oportunistas e as castas dirigentes destas organizações partidárias de origem jacobina, invariavelmente machistas, têm uma fatal e insuportável tendência para se perpetuarem nas cadeiras de poder que em dado tempo conquistaram. Nos tempos que correm, porém, estas características genéticas acabam por ser mais ameaçadoras da sua sobrevivência do que o próprio oportunismo marxista-leninista do PCP, ou do que o aburguesamento dos sociais-democratas do PS. O scratch ideológico de ambos deixou, aliás, de convencer e mobilizar. Resta-lhes, pois, fazer um reset das respetivas filosofias políticas, ou definhar.

Pelo contrário, o Bloco de Esquerda, cujo aggiornamento está em curso, terá as portas abertas para promover uma renovação sem precedentes do ideário socialista, cortando meticulosamente os nós górdios que tolhem o futuro tanto do PS, como do PCP. A necessária espada para o conseguir parece empunhá-la, a quatro mãos, Catarina Martins e Mariana Mortágua. Será, no entanto, imprescindível impedir o regresso dos fantasmas do oportunismo marxista-leninista e do trotsquismo mandeliano que ainda andam por aí. Há, tanto no PCP (João Oliveira), como no PS (Pedro Nuno Santos), jovens líderes e sobretudo muitos eleitores que há muito anseiam por uma verdadeira convergência da esquerda. Esta oportunidade chegou!

Não será, no entanto, no plano da formação do próximo governo —que deverá assentar na coligação que venceu as eleições, ainda que sem maioria e depois de uma sangria de mais de 720 mil votos— que os trabalhos ciclópicos e meticulosos da construção da almejada maioria de esquerda deverão confluir e precipitar-se.

A maioria potencial de esquerda atualmente existente no parlamento deve abrir um processo de convergência pragmática séria apontada à formação de um próximo governo de maioria, nomeadamente na sequência de um possível colapso do governo do PàF a que Cavaco Silva deverá dar posse, e o primeiro passo desta caminhada que recomendo é o da eleição de Maria de Belém para o cargo de Presidente da República — à primeira volta!

Se desafiar a maioria eleitoral de centro-direita obtida pelo PàF é um ato ilegítimo, e pior do que isso, aventureiro, já negar a possibilidade de eleger Maria de Belém à primeira volta seria a prova de que, afinal, o teatro montado por António Costa (que espero seja em breve substituído por Álvaro Beleza) não teria passado de uma farsa política inqualificável.

O país nunca precisou, e agora precisa ainda menos, de uma esquerda negativa.

O país precisará certamente, quando a atual coligação se esgotar, de uma esquerda positiva, capaz de governar com pragmatismo e assumindo com coragem as potencialidades, mas também os espinhos da transição social em que todos já estamos metidos.

O Partido Socialista, tal como existe ainda, morreu.

sábado, outubro 03, 2015

O suicídio do Rato


Não teremos tanta sorte


Um governo de zombies disfarçados de Frente Popular até nem seria mau para acabar de vez com o sonambulismo politicamente correto e desmiolado do país. Infelizmente, não teremos essa sorte.

Vamos mesmo ter instabilidade em 2016, 2017...

Ganhe quem ganhar, governe ou desgoverne quem governar ou desgovernar, vem aí uma nova dose de austeridade fiscal e o desmoronamento do capitalismo português.

É desta morte anunciada que verdadeiramente a Esquerda tem medo!


PS: António Costa regressa a Fontanelas no dia 5 de outubro.

quinta-feira, outubro 01, 2015

Syriza à moda de São Bento?


O importante é mudar a configuração do parlamento, votando em novas forças políticas


Num jantar comício da coligação PSD/CDS-PP, em Viseu, onde esteve Rui Rio, Passos Coelho defendeu que está em causa saber se “quem ganhar as eleições vai poder formar o Governo”, referindo que “já foi prometido, já houve quem o tivesse dito com todas as letras”, que “isso pode não ser assim tão simples, que uns podem ganhar e ser outros a governar”.

Passos acena com hipótese de Governo contra a vontade do povo
TSF, 30 de SETEMBRO de 2015

Outra maneira de apelar à maioria absoluta. No entanto, um governo PS+Bloco, ou PS+PCP, ou PS com acordos de viabilização dos orçamentos de estado de 2016, 2017, 2018 e 2019, parecem-me hipóteses altamente improváveis.

O Bloco e o PCP sabem perfeitamente que um Syriza em Portugal não duraria mais de um ano, e que uma tal experiência poderia fragmentar ainda mais a esquerda ideológica e politicamente atrasada que temos, arrumando-a de vez na mesma gaveta onde Mário Soares depositou o socialismo, em troca de uma cadeira garantida no topo da pirâmide do poder — capitalista, claro!

Não deixa de me surpreender os movimentos brownianos que agitam neste momento os donos da esquerda. Enquanto a extrema esquerda (Catarina Martins) se dirige ao eleitorado do centro-direita, o desastrado e nada recomendável líder improvisado do PS afasta-se, de forma suicida, do eleitorado que trouxe o partido da rosa ao arco da governação. Isto, e a corrupção que grassa nas entranhas mais viscerais do Partido Socialista são uma receita certa para o seu mais do que provável definhamento histórico.

Percebe-se o esforço retórico de Passos Coelho, pedindo de forma suave uma maioria para governar. Palpita-me que irá obtê-la. Até porque, com a nova fé marxista-leninista do PS, e o histórico pessoal de António Costa, que começa a aflorar no blogue Do Portugal Profundo, cautela e caldos de galinha não fazem mal a ninguém.

Além do mais, como me dizia o meu dentista há dois dias atrás, depois de um tratamento de choque, depois de iniciar-se um período de recuperação, ninguém quer mudar de médico. Seria trocar o certo e previsível, por uma incógnita que poderia levar-nos a uma recaída, com o consequente agravamento da doença e dos seus efeitos mais perniciosos.

É, no entanto, absolutamente necessário colocar no parlamento uma ou duas novas forças parlamentares ligadas à cidadania participativa, entre outras razões, para desdramatizar e anular o pendor populista da democracia que temos.

sexta-feira, setembro 18, 2015

Rien ne va plus? Just joking!

Janet Yellen
Illustração: DonkeyHotey

A caminho da deflação global (2016-2017-...)


ZERO TAX CAPITALISM > TRANSITION > COLLAPSE > POSTCAPITALISM

Tudo isto sem uma mãozinha sequer dos sindicatos, ou dos famosos e desmiolados 'donos' intelectuais do marxismo degenerado que chegou até nós.

Taxas de juro negativas tão só alimentam a economia de casino e a corrupção e jamais o crescimento. O ZIRP e o NIRP, ou seja, taxas de juro igual a zero ou realmente negativas, numa conjuntura global caracterizada pelo esgotamento da capacidade de endividamento público e privado (peak debt), apenas conseguem arruinar a poupança privada e o poder de compra dos mais débeis: reformados, pensionistas e os que estão pendurados nos subsídios de desemprego, ou no rendimento mínimo.

Por outro lado, uma subida empinada das taxas de juro dos bancos centrais destruiria as finanças públicas, as quais, na ausência de crescimento e perante uma demografia adversa, se alimentam há vários anos da inflação monetária virtual (no transmission whatsoever, you know...) e da expropriação silenciosa da poupança privada. Mas destruiria também o próprio sistema bancário mundial na configuração existente desde 1971, ou seja, desde que abandonou o padrão-ouro, primeiro, e o dólar como referência, depois.

Este é o nó górdio keynesiano que atirou o capitalismo mundial para uma irreversível metamorfose.

Não podem continuar a destruir valor, nomeadamente pela via da desvalorização monetária e da repressão fiscal, nem conseguem reflacionar a economia, dado o excesso de endividamento global, e estimular o crescimento (o novo Graal cujo paradeiro ninguém descobre), pois há excesso de capacidade instalada, excesso de stocks, e o consumo está bloqueado pelo excesso de endividamento privado e por uma destruição líquida de empregos à escala planetária como nunca se viu.

É por estas e por outras que o programa do PS está errado duma ponta à outra, e que o próximo governo não terá outra alternativa que não seja seguir o BCE, mitigando como puder os efeitos da destruição dos preços e a austeridade que vai continuar a fustigar as nossas vidas.

Uma no cravo e outra na ferradura. É o que há...

Mas atenção: entregar  o país a uma frente populista formada pelo disléxico Costa, o PCP, o Bloco, o Livre e o PDR, atirar-nos-ia imediatamente para um beco sem saída muito parecido com o grego, ou pior!

Janet Yellen decidiu ontem manter as taxas de juro da Fed a zero vírgula qualquer coisa. Sobre as implicações desta decisão vale a pena ouvir o que David Stockman disse na véspera da decisão.
David Stockman Interview On Yahoo——The Fed Painted Itself Into A Corner, Confidence In The Casino Is Headed For A Fall
by Yahoo • September 17, 2015

David Stockman is not a fan of the Fed. In fact he claims that the Fed is on a “jihad” against retirees and savers.

The former Reagan budget director and author of “The Great Deformation: The Corruption of Capitalism in America” visited Yahoo Finance ahead of the Fed announcement to discuss his predictions and the potential impact of today’s interest rate decision. “80 months of zero interest rates is downright crazy and it hasn’t helped the Main Street economy because we’re at peak debt,” he says.

Businesses in the U.S. are $12 trillion in debt. That’s $2 trillion more than before the crisis, but “all of it has gone into financial engineering—stock buybacks, mergers and acquisitions and so forth,” according to Stockman. “The jig is up; [the Fed] needs to get on with the business of allowing interest rates to find some normalized level.”

While Stockman believes that the Fed should absolutely raise rates today, he isn’t so sure that they will. But even if they do, he says they’ll muddle the effect by saying “‘one and done’ or ‘we’re going to sit back and watch this thing unfold for the next two or three months.’”   

domingo, agosto 30, 2015

PS neoliberal

As barragens lançadas por Sócrates-Mexia são um crime

Vem aí outra diarreia neo-keynesiana!


O economista-chefe do Citigroup pensa como o nobel taberneiro Krugman: é preciso inundar o planeta com novos casinos, cheios de fichas para jogar. INFINITO=ZERO !

O PS socratino de António Costa, e os seus lunáticos sábios economistas, são da mesma opinião...

Só que desta vez vão mesmo ter que confiscar tudo o que se puder trincar, por exemplo: o dinheiro físico (através da proibição da circulação de notas e até moedas), o ouro (através do controlo policial dos seus movimentos e depósitos, as nossas jóias incluídas!), as casas, as quintas, os salários e as pensões (sobretudo através da repressão fiscal, que vai aumentar, mesmo que baixem alguns impostos populistas).

O PS, que recomenda a expansão 'temporária' da nossa astronómica dívida, quer dizer, que promete promover, se for governo, a retoma dos negócios da Coelho-Mota-Engil e quejandos, perdão, que promete promover, se for governo, a retoma do investimento público, é, na realidade, a única força neoliberal do nosso espetro político-partidário. É que o liberalismo, tal como o neoliberalismo, nunca deixaram de ser variantes ardilosas de mercantilismo e capitalismo de estado dos que têm dinheiro e poder, contra os que não têm, ou têm menos, dinheiro e poder. Quem iniciou a desregulamentação financeira dos bancos foi um democrata americano chamado Bill Clinton, enquanto fumava charutos cubanos clandestinos bem humedecidos. Capiche?


No período que se seguirá ao fim da Grande Miragem da China, a próxima diarreia financeira destinar-se-à, uma vez mais, a estimular as bolhas especulativas dos degenerados mercados financeiros, alargando ainda mais o fosso entre os super ricos e as classes médias, pagando para tal o preço de continuar a alimentar burros a Pão de Ló, ou seja, as elites burocráticas, de que os partidos do famoso arco da governação são os principais beneficiários. Este é um esquema de rapina da poupança mundial e do valor do trabalho, e em geral de tudo o que é tangível, sem precedentes.

Será que ainda ninguém percebeu esta verdade elementar? Ainda vai votar no PS? Se é de esquerda, ao menos vote no PCP, ou no Bloco!

Citigroup Chief Economist Thinks Only "Helicopter Money" Can Save The World Now
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 08/29/2015 20:00 -0400


Speaking on a panel at the Council of Foreign Relations in New York, Mr Buiter said the dollar will “go through the roof” if the US Federal Reserve lifts interest rates this year, compounding the crisis for emerging markets.

“So why it matters is that the competence of the Chinese authorities as managers of the macro economy is really in question - the messing around with monetary policy, the hinting on doing things on the fiscal side through the policy banks. But I think the only thing that is likely to stop China from going into, I think, recession - which is, you know, 4 percent growth on the official data, the mendacious official data, for a year or so - is a large consumption-oriented fiscal stimulus, funded through the central government and preferably monetized by the People’s Bank of China.

Well, they’re not ready for that yet. Despite, I think, the economy crying out for it, the Chinese leadership is not ready for this.

So I think they will respond, but they will respond too late to avoid a recession, and which is likely to drag the global economy with it down to a global growth rate below 2 percent, which is my definition of a global recession. Not every country needs go into recession. The U.S. might well avoid it. But everybody will be adversely affected.”

segunda-feira, julho 13, 2015

No Grexit. Zona euro soma e segue

Este gráfico precisa de correção

Grécia—1, Alemanha—0 (já o tínhamos escrito...)


Quer queiramos, quer não, Alexis Tsipras está de parabéns. Evitou o Grexit e travou a nova arrogância alemã. Soube usar os dois pés da Grécia: o pé romano e o pé grego (hoje, a aliança atlântica e o novo eixo Moscovo-Pequim). Nós avisámos o senhor Schäuble: quem não tem dinheiro, não tem vícios! 

Flash Grexit (ou a mini quarentana)

Na realidade, a Grécia esteve fora do euro durante mais de duas semanas e regressará lentamente a esta união monetária ao longo dos próximos meses. Há quem diga que a normalização do sistema bancário grego poderá levar mais de dois anos. De algum modo, esta foi a pequena-grande vitória de Schäuble, e os seus efeitos catastróficos na sociedade grega funcionarão certamente como um último aviso: ou as elites gregas ganham juízo, ou da próxima vez, tudo será mais expedito e resoluto. Ironia, a que já nos habituámos, da história: coube e caberá a um ex-comunista e a um governo de esquerda radical levar a cabo esta complicada e dolorosa metamorfose. Uma lição para os esqueletos da esquerda e da extrema esquerda indígena que aturamos há décadas no nosso dispendioso e insuportavelmente populista parlamento.

Consequências em Espanha e Portugal

Uma vez analisadas em pormenor as medidas de austeridade acrescida que a Grécia irá adotar, os governos em funções e abraços com programas de resgate apressar-se-ão, por um lado, a demonstrar, com razão, que parte do desenho e dos pacotes de austeridade é, por assim dizer, inevitável. E por outro, irão certamente exigir alterações nos seus próprios programas de austeridade—cortesia do Syriza! Quando ao PS, ao Podemos e ao Bloco, já estarão neste momento a esgotar o stock de bicarbonato de sódio existente nas pharmacias, tal a indigestão causada pelos sapos que as suas retóricas populistas começaram a engolir e terão ainda que engolir até às eleições.

“We fought to get the best result. We gave a chance for the country to stand on its own two feet” (Alexis Tsipras, 13/7/2015) —in Politico

Schaeuble and others seemed to favour a “Grexit”, another participant said. The European Central Bank’s Draghi seemed “the strongest European” in the room, most opposed to the risky experiment of cutting Greece loose and braving Schaeuble’s ire by interrupting him during a discussion on Athens’ debt burden — in The Latest Out Of Europe: “Pretty Steady Level Of Shittiness”, Zero Hedge, 07/12/2015 20:30 -0400
... 
The Greek parliament now has to approve four laws by Wednesday at the latest, to set in motion the so-called prior actions. Those include reforms of the pension system, raising the VAT rate, reforming the labor and products markets, and changing the current format of the country’s statistical office.

Those include measures that were on the table before last week’s referendum, such as privatizing the country’s energy market and modernizing the labor market — Vince Chadwick 30 minutes ago, WHAT HAPPENS NOW?, Politico, 13/7/2015 09:55.


By contrast, Greek Finance Euclid Tsakalotos, appointed last week in place of the often provocative Yanis Varoufakis, seemed calm and expressed a willingness to take steps to convince creditors Athens could be trusted to implement budget and economic reform measures to unlock tens of billions of euros.

At one point a fellow minister turned to Tsakalotos and told him to ignore the rows raging around him: “Don’t worry Euclid,” he said. “It’s not your problem any more, it’s theirs.”

...

in Berlin and Paris, officials have played down differences in tone on Greece, stressing that Merkel and Hollande must sell their decisions to different national constituencies — in The Latest Out Of Europe: “Pretty Steady Level Of Shittiness”, Zero Hedge, 07/12/2015 20:30 -0400

segunda-feira, dezembro 15, 2014

Cair num novo resgate depende dos eleitores

Números de 2012 em Simon Thrope's Ideas on Economy

Cuidado com os revisionistas!


Portugal, Espanha e Grécia, embora na ordem inversa, voltam a ser os tubos de ensaio da Europa.

Os eleitores portugueses, se deixarem o PS aproximar-me dos esqueletos do estalinismo, do maoísmo e do trotskysmo revisionista, acabarão por empurrar o país para um beco sem saída, pior ainda do que o da Grécia. É que a nossa dívida total per capita é maior do que a dos gregos!

A Grécia de novo
Observador. João Marques de Almeida, 14/12/2014, 17:47

Se o Syriza chegar ao poder no início do ano, as consequências chegarão a Portugal e aos outros países do Euro. O regresso da desconfiança em relação ao Euro por parte dos mercados será o maior risco. Se isso acontecer, os países com finanças públicas mais vulneráveis – como Portugal – voltarão a pagar juros mais altos para se financiarem nos mercados. Antes que as almas mais sensíveis se indignem, convém recordar a realidade. Os governos não recorrem aos mercados por prazer, ou por razões ideológicas, mas sim por necessidade. O recurso aos mercados une a esquerda e a direita. Todos necessitam de se financiar nos mercados porque os recursos nacionais não são suficientes para pagar as despesas. E os “mercados” só emprestam com juros baixos se confiarem que os empréstimos serão pagos.

quarta-feira, novembro 26, 2014

A Encruzilhada do Partido Socialista


Por Henrique Neto

Na manhã de sábado passado recebi, como presumo todos os militantes socialistas, uma mensagem do  novo Secretario Geral do PS António Costa, iniciada como segue: “Caras e Caros Camaradas, Estamos todos chocados com a notícia da detenção de José Sócrates”.  A mensagem está muito bem escrita, mas confesso que não fiquei chocado e há muitos anos que esperava os acontecimentos do passado fim de semana, na convicção de que José Sócrates representava uma bomba relógio para o prestígio do PS e para a qualidade da democracia portuguesa. Escrevi-o vezes sem conta, na tentativa de chamar à razão os socialistas e  com o objectivo de defender o PS do opróbrio público e de proteger o regime democrático. Não por quaisquer razões de inimizade pessoal.

Por isso mesmo, não retiro qualquer satisfação pessoal com a detenção de José Sócrates, que é inocente até prova em contrário, deixando que a justiça portuguesa decida de forma justa e de acordo com os factos encontrados na investigação, se for esse o caso. Todavia, já não faço o mesmo relativamente ao julgamento político dos governos de José Sócrates e daqueles que, de forma indigente, o seguiram em muitas das decisões erradas  que conduziram Portugal à ruína e ao empobrecimento dos portugueses. Também por isso é agora tempo de deixar a justiça fazer o seu trabalho.

Ainda relativamente ao PS, António Costa vai ter a semana mais decisiva da sua vida, em que está em jogo o futuro do Partido Socialista e, por extensão, o futuro da democracia portuguesa. A alternativa é simples: ou António Costa compreende que os partidos políticos portugueses se encontram à beira do abismo, no ponto mais baixo da tolerância pública e inicia uma profunda reforma do PS, começando por limpar casa no próximo congresso, ou segue em frente com os mesmos que conduziram Portugal à falência e dentro de algum tempo rebobinaremos o mesmo filme de tráfico de influências e de promiscuidade entre a política e os negócios, colocando com isso em risco o próprio  regime democrático.

Raramente na nossa história moderna existiu uma oportunidade tão relevante e tão clara  de mudar a política portuguesa, de enobrecer o PS e de abrir as portas do partido a uma nova época de progresso e de desenvolvimento, através da escolha no próximo Congresso dos melhores, dos mais honrados e dos mais devotados ao bem público. Bastará  para isso compreender os desafios que se colocam ao nosso Pais na actual conjuntura e de privilegiar e democracia e a ética na acção política, colocando a defesa dos interesses gerais da comunidade acima de todas as outras considerações.

O Partido Socialista não pode, sob a capa da chamada unidade de todos os socialistas, continuar a ser o partido dos interesses, da distribuição de benesses e de mordomias e do enriquecimento ilícito de alguns dos seus militantes e promotores. É tempo de mudança e se António Costa e os militantes socialistas não o compreenderem, temo  que seja o futuro da democracia portuguesa que está em jogo, Estas foram algumas das razões porque apoiei António José Seguro no recente debate politico, o que não impede que tenha a esperança de ver o recém eleito Secretario Geral do PS ter aquela coragem e visão que, em momentos decisivos, marcam os grandes homens.

24-11-2014
Originalmente publicado no Jornal da Marinha

terça-feira, novembro 25, 2014

E agora Costa? Não se demite?

Sócrates festeja eleição de Costa para a CML

Em Política o que parece é


“Eu disse-vos que a partir de Setembro eles não se iam aguentar, e não se aguentam.” A justificação para a queda do Governo, afirmou, está no “envolvimento do primeiro-ministro em coisas graves de carácter económico, e não só” — Mário Soares (Público, 24 set 2014)

A prisão preventiva do antigo, polémico e autoritário primeiro ministro José Sócrates enquanto suspeito da autoria de crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção faz necessariamente implodir a estratégia de poder por ele mesmo desenhada em colaboração com Mário Soares e António Almeida Santos, da qual fez parte a remoção de António José Seguro do lugar que ocupava e a sua substituição, depois de uma farsa eleitoral de tipo coreano, pelo seu sargento-ajudante António Costa, autarca de uma cidade falida e que mete água por todos os lados chamada Lisboa.

Houve, percebe-se agora, algo que falhou e que falhou fatalmente. O que foi, então?

A campanha para derrubar Tozé Seguro persistiu e acabou por dar resultados. Há precisamente um ano atrás Mário Soares pedia também a demissão de Cavaco e de Pedro Passos Coelho — nada mais, nada menos, do que o presidente da república e o primeiro ministro. O objetivo era claro: derrubar e remover de qualquer maneira —nem que fosse através dum golpe de estado— as jovens cúpulas do PS e as jovens cúpulas do PSD, fazer cair o governo e, por fim, preparar o regresso de José Sócrates ao poder, numa primeira fase, mobilizando as suas tropas, mais tarde, apresentando-se a candidato à presidência da república!

José Sócrates ocupou, enquanto sonhava, um posto de comando virtual na RTP, mantendo vários dos seus antigos ministros, secretários de estado, deputados e autarcas em formação unida contra o governo, mas sobretudo contra António José Seguro.

Não deixa de ser curiosa a insistência e a pressa de Soares, as quais acabariam por forçar António Costa ao confronto com Seguro. Mas porquê setembro?

Talvez o antigo Procurador Geral da República saiba.

Com a morte judicial do mitómano Sócrates toda a estratégia, de que António Costa era apenas um executor titubeante e sem ideias, mas gozando da benevolência e atração erótica que a 'esquerda', por mais estúpida, irresponsável e corrupta que seja, exerce sobre a falhada intelectualidade indígena, colapsa — obviamente.

O Partido Socialista encontra-se, pois, numa encruzilhada de vida: ou Costa percebe a gravidade da situação e se demite, abrindo caminho a uma nova liderança socialista, sem a dislexia de António José Seguro, mas também expurgada da ganga socratina e soarista, ou iremos assistir a coisas muito feias daqui para a frente.

A Esquerda portuguesa está numa encruzilhada da qual poderá resultar um processo rápido de fragmentação/reconstituição ou, se prevalecer a ambição cega e o desespero, uma mais do que provável dispersão e afastamento do famoso arco da governação.

Álvaro Beleza deveria falar com Pedro Nuno Santos, e os dois, por sua vez, deveriam falar com Ana Drago, Mariana Mortágua e Rui Tavares. Talvez assim a coisa ainda se salve. De contrário, será uma corrida lémures em direção ao precipício.

PS: a menina Isabel Moreira deverá ser mantida prudentemente ao largo deste processo.

quarta-feira, outubro 08, 2014

Seguro 2.0



Costa continua assustado e inseguro


O atual candidato a secretário-geral do PS corre a contra-gosto, porque no fundo sabe que o risco de perder as próximas eleições legislativas é grande, e porque sabe também que perdendo esta eleição, ou ganhando-a sem maioria, sem Livre que o valha, a sua já longa tarimba poderá terminar mais cedo do que alguma vez imaginou.

  • Costa não quis desafiar Seguro da primeira vez que desafiou.
  • Costa não quis desafiar Seguro quando foi empurrado a repetir a dose (Seguro, se tivesse sido rápido e certeiro, teria aceitado imediatamente o congresso extraordinário pretendido por Costa — e teria ganho).
  • Costa não deixou a Câmara Municipal de Lisboa, nem quando anunciou que queria derrubar Seguro, nem depois de o derrubar — apesar de em julho de 2013 ter dito publicamente que “É incompatível ser Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e Presidente do Partido Socialista”.
  • Costa continuou a usar a tribuna do Quadratura do Cìrculo para fazer propaganda subreptícia a seu favor, antes, durante e depois de desafiar a liderança do PS ao agora demissionário secretário-geral, António José Seguro.
  • Costa não esmagou o seu adversário e perante a ameaça de ter que enfrentar Álvaro Beleza nas eleições diretas e no congresso extraordinário que se aproximam, cedeu imediatamente 1/3 das posições de poder dentro do partido, deixando muitos cortesãos e cortesãs que borboletam à volta do Costa, com as línguas secas.
  • Costa não revelou ainda que posições vai tomar no debate do Orçamento de 2015, e relativamente à próxima 'visita' da Troika. Provavelmente fará uns comentários na Quadratura do Cìrculo, e irá sussurrar ao telemóvel de Ferro Rodrigues o que este deverá dizer.
  • Costa, apesar de oblíquo, hesitante e de gostar de biombos, recusou-se a acatar a lei que preside ao CADA (Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos), andando dois anos e meio de recurso em recurso para não divulgar o célebre relatório do ex-verador Nunes da Silva. Foram precisas quatro decisões judiciais, duas delas do Tribunal Constitucional, para o autarca ceder, no que não deixou de ser um ato de autoritarismo tipicamente jacobino de quem se julga, como o outro, dono disto tudo.
Se esta espécie de Seguro 2.0 é um bom candidato a primeiro ministro, vou ali e já venho!

domingo, outubro 05, 2014

A virgindade perdida do Livre

Foto©Pedro Freitas Silva/Lusa

Joaquim Tavares diz que a sua papoila pode gerar o voto duplamente útil, e Costa dá uma ajudinha...


“Até agora em Portugal tem existido aquela dicotomia entre o voto útil, que é para mudar o governo e pôr lá outro primeiro-ministro e um voto, que pode ser por convicção, mas que, às vezes, lhe chamam inútil porque não permitiria essa mudança de governo e até constituir um obstáculo”, disse à agência Lusa.

Segundo o membro do grupo de contacto (órgão executivo) do partido, uma expressão eleitoral significativa no “partido da papoila”, nas futuras eleições legislativas, seria além da “disponibilidade que existe de não só influenciar uma governação como de participar nela – controlá-la, fiscalizá-la, não deixar que uma maioria absoluta de um só partido leve tudo à frente e tenha primazia sobre as outras instâncias de deliberação – transformar o voto no Livre num voto duplamente útil”.

Lusa/Obervador
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O “Livre” troca a sua virgindade, afinal simulada, por uma lugarzinho à sombra da pretendida maioria de esquerda do socratino e tarimbeiro António Costa. No entanto, mesmo que esta dança de varão permitisse ao PS chegar à maioria absoluta nas próximas eleições, com ou sem deputados do Livre, este cadáver esquisito não duraria seis meses — o Cavaco, neste ponto, tem razão. A menos que as virgens do Livre expliquem ao desconfiado eleitorado ao que vêm em matéria de ação governativa—que pactos estão dispostos a rubricar com o PS, e onde ficará a sua linha vermelha face à austeridade—não vejo que possam convencer seja quem for.

Por outro lado, a menos que o Costinha fique a dormitar na Pedratura do Cìrculo, docemente embalado pelos arcanjos Pacheco Pereira e António Lobo Xavier, também esta criatura terá que mostrar, aliás já este mês, o que guarda na sua caixa negra. Alguma ideia para fugir à Troika? Marchar contra Bruxelas e Frankfurt? Imitar o senhor Hollande num qualquer ciclo de cinema cómico do Nimas?

A Câmara Municipal de Lisboa, meia falida, esburacada, mal cheirosa e que inunda à mínima chuvada mais forte, anda à boleia do turismo que as Low Cost lhe trouxeram de borla e à revelia do famoso defunto que foi o putativo Novo Aeroporto de Lisboa na Ota, a famosa defunta que foi a cidade aeroportuária de Alcochete, e a famosa defunta TTT Chelas-Barreiro, só para mencionar três projetos criminosos que o ex-número dois de José Sócrates secundou alegremente. Da 'esquerda à esquerda' do PS que havia nos Paços do Município ouvem-se ainda, por vezes, as ladaínhas de Helena Roseta, mas a 'esquerda à esquerda' do PS, esfumou-se num ápice!

E no entanto, o Partido Socialista precisa desesperadamente de um apêndice de governo, tal como o PSD tem Paulo Portas e o PCP tinha o MDP e agora tem os falsos 'verdes'. Será que Rui Tavares, com toda a ajuda que António Costa começou a prestar-lhe há já algum tempo e hoje publicitou, será capaz de fazer da papoila vermelha a preciosa ajuda de que a velha e corrompida rosa precisa para regressar ao poder? Veremos...

Entretanto, preparem-se para uma aliança entre o PCP-Intersindical e o que resta do Bloco e para as suas greves e ações de rua até às próximas Legislativas. Que responderá, caso a caso, António Costa? Que responderá, caso a caso, a papoila?

sexta-feira, outubro 03, 2014

Beleza impõe 'minoria' segurista ao socratino Costa


Álvaro Beleza, líder da tendência 'segurista' 
Foto © Nuno Ferrera Santos, Público

Dois Partidos Socialistas, o caduco e a promessa (interrompida) de um novo


António Costa faz acordo com Álvaro Beleza - um terço do partido para seguristas 
Álvaro Beleza não avança com uma candidatura alternativa às diretas mas chegou a acordo com o novo líder socialista: a "quota" segurista vai ter um terço dos lugares partidários. A começar na direção do grupo parlamentar.
Ler mais: Expresso

A noite eleitoral das Primárias do Partido Socialista foi um evento estranho. António José Seguro reconheceu cedo demais a derrota, sem sequer avaliar o património eleitoral e de vontades acumulado à sua volta —apesar da sua débil liderança—; por outro lado, o discurso de vitória de António Costa foi grosseiro e revelou a incomodidade surda nos gestos e nas palavras de um tarimbeiro que parece ter sido empurrado para um papel que não é o seu. No dia seguinte, quando uma jornalista lhe perguntou se iria continuar à frente da Câmara Municipal de Lisboa, pergunta de óbvio interesse, pois ninguém imagina esta criatura a tomar ao mesmo tempo conta da sobre endividada capital do país (esburacada, inundada e fedorenta), a dirigir o PS, a responder à Troika que chega dentro de duas semanas, e a discutir o Orçamento, sem se tornar um perigo público. Pois a resposta arrogante do autarca candidato a primeiro ministro foi que o seu mandato autárquico é até 2017! Pior, soube-se ontem que a criatura vai continuar na Quadratura do Círculo, para melhor esconder a sua falta de ética, de ideias, de estratégia e de coragem. É raro um sargento-ajudante dar um bom oficial, como se está, uma vez mais, a constatar.

António Costa, que no próprio dia das eleições andou a enviar SMS aos militantes do PS apelando ao voto na sua pessoa,  venceu com 67,7% dos votos, Seguro obteve 31,54%, e as abstenções, brancos e nulos roçaram os 30% (29,98%). A apresentação da contagem eleitoral, a cargo da Novabase, deixou muito a desejar. Começaram por apresentar o número de eleitores inscritos, resultados por federação, concelho e secções de voto. Depois deixámos de ver os inscritos e ou as secções de voto durante largas horas, até que, por fim, os resultados lá foram aparecendo nos sítios certos, mas não deixando de suscitar dúvidas sobre todo este processo (ver no fim os pormenores que conseguimos captar).

Costa venceu, mas não convenceu.

O seu miserável discurso de vitória, não mencionando ostensivamente António José Seguro, nem esclarecendo ninguém sobre as suas intenções, apenas se conseguiu medir pela subsequente indicação de Ferro Rodrigues para novo líder da bancada parlamentar, pelo anúncio de que a proposta de redução de deputados da AR não seria prosseguida, e pelo namoro ao Livre, uma das frações que estalou do Bloco de Esquerda e que Costa pretende potenciar para ver se tem parceiro para uma ansiada nova maioria de esquerda. Vai ser lindo assistir a esta valsa entre o cândido Livre e mais alguns estilhaços do Bloco, o PS de Costa e o PCP!

Marinho e Pinto já traçou uma linha clara de demarcação em relação ao Costa e ao que esta criatura representa em matéria de regresso ao passado irresponsável de uma 'esquerda' que se deixou descaradamente corromper pelas delícias do poder.

Mas a verdadeira novidade é o sinal de fraqueza dado por Costa à ameaça certeira de Álvaro Beleza: ou nos dás 1/3 do poder dentro do PS, ou terás que disputar a liderança comigo! O pânico foi evidente e o resultado está à vista: no caso de Costa fraquejar mais cedo do que se espera, há uma alternativa consolidada dentro do Partido Socialista, o 'segurismo' sem Seguro!

Ainda bem.


NOTA SOBRE O REPORTE ELETRÓNICO DAS PRIMÁRIAS DO PS








Eleições Primárias no PS (28/9/2014) | Trapalhada informática?

Dados reportados

29 de setembro

02:11:16 - Inscritos: 160.512 - Votantes : 112.692 - Secções Apuradas: não registámos
-- António Costa: 73.020 (64,80%%); António José Seguro: 38.851 (34,48%%)

02:15:26 - Inscritos: s/ informação - Votantes: 174.516 - Secções Apuradas: 577
-- António Costa: 118.454 (67,88%); António José Seguro: 55.239 (31,65%)

09:13:38 - Inscritos: 248.475 - Votantes: 174.516 - Secções Apuradas: 577
-- António Costa: 118.454** (67,88%); António José Seguro: 55.239** (31,65%)

20:31:28 - Inscritos: 248.573 - Votantes: 174.770 - Secções Apuradas: 578
-- António Costa: 118.272** (67,67%); António José Seguro: 55.171** (31,57%)

** as votações em AC e AJS diminuíram entre as 09:13 e as 20:30 do dia 29, apesar das Secções
Apuradas terem aumentado de 577 para 578. Explicações?

1 de outubro

19:25:56 - Inscritos: 250.811 - Votantes: 177.350 - Secções Apuradas: 610
-- António Costa: 120.188 (67,77%); António José Seguro: 55.928 (31,54%)