sexta-feira, março 30, 2007

Petroleo 5

Pico petrolífero

Governo americano reconhece finalmente a existência de um sério problema.

29-03-2007 01:41. O GAO, United States Government Accountability Office, acaba de publicar um relatório explosivo sobre a situação petrolífera mundial, dando finalmente ouvidos ao eminente e já desaparecido geólogo norte-americano M. King Hubbert (que não só previu, em 1956, o pico petrolífero dos EUA, ocorrido em 1973, como apontou a fatalidade de se verificar um pico à escala global antes do final do século 21). Para muitos estudiosos, o pico mundial da produção petrolífera ocorreu este ano, mas só se tornará evidente em 2008.

O certo é que, depois do quase silenciado Hirsh Report (2005), igualmente encomendado pelo governo de Bush, acaba de ser publicado e difundido pela agência Associated Press, o relatório CRUDE OIL - Uncertainty about Future Oil Supply Makes It Important to Develop a Strategy for Addressing a Peak and Decline in Oil Production, elaborado pelo referido GAO. Temos finalmente reconhecido pelo governo da maior potência mundial o mais sério e imediato problema geo-estratégico do século 21, a par das alterações climáticas provocadas pelas emissões de gases com efeito de estufa. Por ambos os motivos, paradoxa e assustadoramente, acabámos de entrar num novo tic-tac militar e nuclear de larga escala.

Escusado será dizer que os grandes exercícios militares que acabam de terminar na zona do Golfo Pérsico, a prisão dos militares britânicos em águas territoriais iranianas, mais os exercícios de tele-guerra via satélite em preparação na Grande Barreira de Coral australiana (1), fazem seguramente parte da resposta Bush a dar a este desafio. É que, no melhor dos cenários, em 2015, apenas 4% do dispêndio energético dos EUA provirá de energias alternativas ao petróleo. E por outro lado, com as reservas exploráveis europeias, mexicanas e venezuelanas em confirmado declínio, 60% das melhores reservas mundiais situam-se no Médio Oriente, na Rússia e em algumas zonas de África...

O GAO afirma que, "dados estes desafios, um pico eminente e uma queda pronunciada na produção petrolífera poderiam ter consequências severas, incluindo uma recessão mundial. Se o pico chegar mais tarde, todavia, estas tecnologias terão um maior potencial de mitigar as consequências."

"Embora as consequências de um pico petrolífero fossem sentidas à escala global, os Estados Unidos, como o maior consumidor de petróleo e uma das nações mais pesadamente dependentes dele no sector dos transportes, pode vir a estar numa situação particularmente vulnerável"

"Por conseguinte, para melhor preparar os Estados Unidos para o pico e declínio da produção petrolífera, recomendamos que o Secretário de Estado da Energia tome a liderança, em coordenação com outras relevantes agências federais, no estabelecimento de uma estratégia para o pico petrolífero. Essa estratégia deverá incluir esforços para reduzir a incerteza sobre a previsão do pico da produção petrolífera e facultar aconselhamento atempado ao Congresso sobre as medidas apropriadas em termos de custo-eficiência para mitigar as consequências do pico petrolífero." (ver documento integral, PDF)

Ainda faltarão mais argumentos para levar o governo português a perceber que a construção de um novo aeroporto, na Ota ou noutra parte qualquer (em vez da adaptação dos existentes) não faz qualquer sentido nas actuais circunstâncias? Eu sei que o ignorante que dirige o Ministério das Obras Públicas é um comissário político. Mas a menos que o governo português esteja prisioneiro de alguma chantagem desconhecida, creio que deve ter a sensatez e a coragem de abandonar um projecto manifestamente sem futuro num mundo à beira do colapso energético e climático (2).




1 - Operation Talisman Sabre 2007
In June this year, 26,000 US and Australian troops will take part in bombarding the ancient fragile landscape of Australia. They will storm the Great Barrier Reef, gun down "terrorists" and fire laser-guided missiles at some of the most pristine wilderness on earth. Stealth, B-1 and B-52 bombers (the latter alone each carry 30 tonnes of bombs) will finish the job, along with a naval onslaught. Underwater depth charges will explode where endangered species of turtle breed. Nuclear submarines will discharge their high-level sonar, which destroy the hearing of seals and other marine mammals.

Run via satellite from Australia and Hawaii, Operation Talisman Sabre 2007 is warfare by remote control, designed for "pre-emptive" attacks on other countries. Australians know little about this. The Australian parliament has not debated it; the media is not interested. The result of a secret treaty signed by John Howard's government with the Bush administration in 2004, it includes the establishment of a vast, new military base in Western Australia, which will bring the total of known US bases around the world to 738. No matter the setback in Iraq, the US military empire and its ambitions are growing.

Australia is important because of a remarkable degree of servility that Howard has taken beyond even that of Tony Blair. Once described in the Sydney Bulletin as Bush's "deputy sheriff", Howard did not demur when Bush, on hearing this, promoted him to "sheriff for south-east Asia". With Washington's approval, he has sent Australian troops and federal police to intervene in the Pacific island nations; in 2006, he effected "regime change" in East Timor, whose prime minister, Mari Alkatiri, had the nerve to demand a proper share of his country's oil and gas resources. Indonesia's repression in West Papua, where American mining interests are described as "a great prize", is endorsed by Howard. (...) -- in AUSTRALIA: THE 51st STATE By John Pilger.

2 - Novo livro sobre as consequências do pico petrolífero (BBC/Green Room).
"It is becoming increasingly clear that global oil production will soon go into terminal decline, with potentially devastating economic consequences."

"(...) I calculate that to substitute the fuel lost through a post-peak oil production annual decline of 3% would mean planting about 200,000 sq km - equivalent to the land area of Cuba, Sri Lanka and Papua New Guinea - every year.

Alternatively, if we decided to run Britain's road transport system, say, on cleanly produced hydrogen - electrolysing water using non-CO2-emitting forms of generation - our options would be:

* 67 Sizewell B nuclear power stations
* a solar array covering every inch of Norfolk and Derbyshire combined
* or a wind farm bigger than the entire southwest region of England.

-- The Last Oil Shock: A Survival Guide to the Imminent Extinction of Petroleum Man is published by John Murray


OAM #184 30 MAR 07

2 comentários:

Anónimo disse...

O interessante, ou preocupante, é que o fim do petróleo barato e as alterações climáticas estão interligadas. É que os mais sérios candidatos à substituição do petróleo são o nuclear e o carvão. O primeiro tem os problemas de segurança que se conhece. O segundo é um magnífico produtor de gases com efeito de estufa...
O pico na produção de petróleo continua, aparentemente, muito dependente da procura e, consequentemente, do preço. Se há reservas confirmadas para 3 ou 4 décadas é evidente que, com o investimento adequado, é ainda possível aumentar a produção. A questão está no interesse em fazê-lo! Se a Arábia Saudita tem condições de continuar a fornecer nos próximos 100 anos ou mais e, portanto, interesse em manter uma certa estabilidade no mercado, outros países já não estão nesse ponto e estão bem mais interessados em fazer subir os preços rapidamente, para valorizar o mais possível o que lhes resta. O Irão parece ser parte desse grupo, a julgar pelas manobras que vai fazendo...
Convém não esquecer que transformar carvão em combustível líquido, apto a ser usado nos transportes, não é nada de novo. A Alemanha do início dos anos 40 que o diga. O problema é o custo, em euros e em toneladas de CO2, entre outras delícias.
A tributação, directa ou indirecta, da produção de CO2 parece um bom meio de ir alertando os espíritos e mudando as mentalidades. O problema é que está a ir muito devagarinho!
Receio bem que, subitamente, devido a uma crise ou a um choque qualquer, o uso do carvão aumente em detrimento de cuidados ambientais. Os EUA, a China e Índia têm carvão suficiente para tornar o céu preto, e não apenas lá. A Europa já consumiu uma boa parte do que tinha. Não admira, por isso, que lhe coloque tantos defeitos. No Médio Oriente, pelo que se sabe, não há muito carvão. Até se lhes acabar o petróleo e o dinheiro fácil vão, certamente, levantar muitas ondas...

António Maria disse...

Doutoramento s/ o Pico Petrolífero

05-04-2007. Foi publicada no passado dia 30-03-2007 a tese de doutoramento do sueco Frederik Robelius, defendida na Universidade de Uppsala, com o título "Giant Oil Fields - The Highway to Oil: Giant Oil Fields and their Importance for Future Oil Production". O oponente deste doutoramento foi o conhecido especialista em temas energéticos norte-americano Robert Hirsch, autor do conhecido Hirsch Report.

Na introdução ao seu trabalho (disponível em PDF) escreve:

"Em qualquer dos cenários, o pico petrolífero ocorre mais ou menos ao mesmo tempo que o pico dos campos petrolíferos gigantes (i.e. com mais de 500 milhões de barris). No pior dos cenários o pico ocorrerá em 2008, e no melhor, seguindo um crescimento da procura na ordem dos 1,4%, o pico chegará em 2018."

Se pensarmos que apenas 35 países consomem mais petróleo por dia do que o Pentágono, ou que os Estados Unidos consomen mais de 25% do petróleo produzido no mundo, perceberemos com toda a clareza o motivo que leva Dick Cheney a promover, por todos os meios ao seu alcance, as actuais ofensivas militares no Golfo Pérsico e, em geral, a desestabilização de toda a zona do Médio Oriente e Mar Cáspio. É bem possível que um ataque surpresa ao Irão ocorra antes do fim deste ano, embora não seja provável que venha a ocorrer, como alguns previam, este mês ou em Maio. -- OAM