Helena Roseta é melhor do que Salgado, mas chegará para levar António Costa ao colo até à renovação do mandato?
Salvo nas últimas eleições europeias, e nos anos da Revolução, quando andava entusiasmado a ler o Trotsky, creio que votei sempre no PS. Quando se trata de eleições autárquicas, porém, a coisa muda de figura: votei no Capucho contra o indecoroso Judas em quem um dia acreditei, e vou voltar a votar em António Capucho, do PSD, contra a perigosa Ana Paula Vitorino, do aparelho socratino do PS. E nas Legislativas de Outubro irei votar outra vez no Bloco, não porque acredite no respectivo programa, ou no professor Louçã, mas pela simples razão de que só um voto naquele albergue espanhol poderá fazer duas coisas:
- ajudar a enterrar José Sócrates e a tríade de Macau, impedindo ao mesmo tempo que Paulo Pedroso e Vera Jardim mal substituam os neoliberais que desgraçaram o PS, ao mesmo tempo que se ajuda objectivamente algum jovem ambicioso mais fiel ao ideário social-democrata, a relançar o Partido Socialista;
- contribuir para o amadurecimento democrático e político do Bloco, que só começará a ser menos oportunista e demagógico quando se aproximar realmente da área da governação.
No caso da cidade de Lisboa, onde não voto, mas onde poderei candidatar-me para perder e jamais ser eleito, pendo francamente para António Costa e Helena Roseta, apesar de estar cada vez mais convencido de que Pedro Santana Lopes já ganhou!
Uma vitória desta toupeira cor-de-laranja não deixa, para mim, de ser um cenário demasiado insuportável para que possa recomendar um voto no senhor UDP do Bloco. Na realidade, gostava mesmo de influenciar o bestunto do PS que actualmente anseia por uma vitória de António Costa, ajudando-o a construir um programa cor-de-rosa tingido com algumas notas de bom senso. Mas é difícil. Muito difícil! Tal como a crise, os "socialistas" ainda não bateram no fundo. E porventura precisam mesmo de bater no fundo, para acordarem!
O PS desta legislatura que chegou ao fim foi um desastre. E no entanto, continua a fazer-se rodear pela nata narcisista e bem-pensante dos artistas, dos arquitectos, dos designers, dos escritores, e dos homens de ciência. Porque será? O tema é controverso e daria para um pequeno ensaio. Não é este o lugar ideal para semelhante dissertação, mas podemos sugerir um vislumbre: ilusão apaparicada, hipocrisia, cabotinismo, oportunismo dissimulado. Na realidade, a ideia de que há uma esquerda cultural omnisciente tem sido um dos grandes obstáculos ao verdadeiro entendimento do colapso dos paradigmas da modernidade e da própria contemporaneidade. Estamos, de facto, enfiados num vórtice suicida, que continuamos a ignorar olimpicamente. É este o grande problema da Esquerda. O dado adquirido da nossa suposta superioridade intelectual é uma maldição que nos persegue e que nos arrumará de vez se não formos rapidamente capazes de parar para pensar. Claro que, no pior dos casos, a coisa é mesmo rasteira, resumindo-se às pequenas estratégias e acolitagem destinadas a garantir a proximidade do poder, as encomendas e o emprego!
Mas voltemos à previsível superioridade política de Santana Lopes nas eleições autárquicas que se avizinham.
Escutei-o na primeira entrevista que deu a Judite de Sousa, na RTP1, sobre o combate autárquico. Retemperado do passado, bem preparado, solto, olhos nos olhos, quase paternalista no modo como escalpelizou António Costa e traduziu a repescagem do Zé Ninguém e de Helena Roseta para uma espécie de coligação acagaçada, à moda do Costa! Foi demolidor. Sobretudo quando defendeu a capital e a cidade contra o governo e o centralismo. Ou quando defendeu o aeroporto da Portela... e a nova pista do Montijo, para as Low Cost. Como vai António Costa descalçar esta bota? Que pensa contestar-lhe quando Santana Lopes exibir a tentativa socratina de assassinar o rio Tejo com a putativa Terceira Travessia no corredor Chelas-Barreiro?
Aquilo que eu, o Rui Rodrigues, o Frederico Brotas, o Mendo Henriques, o Professor Jubilado do IST e militante do PS, António Brotas, mais uma data de gente minuciosa, atenta e preocupada, andam a dizer e a escrever desde 2006 (pelo menos), vai fazer toda a diferença nas próximas eleições, como já fez nas eleições europeias. O interesse público está acima das conveniências partidárias e da corrupção endémica em que o regime se deixou cair. Quem não perceber isto numa altura em que o país colapsa nas suas próprias dívidas e ilusões, ficará irremediavelmente para trás.
Não só por falta de dinheiro, mas sobretudo por clamorosos erros de visão e gula partidária, alimentados por uma burguesia burocrática cada vez menos competitiva e cada vez mais desesperadamente clientelar, o PS definiu uma estratégia de obras públicas completamente suicida. No caso de Lisboa, só a renúncia explícita às loucuras de Mário Lino, Jorge Coelho e Cª, poderia impedir a derrota de António Costa. Meter timidamente os grandes projectos de obras públicas na gaveta, sem renunciar de vez à sua execução, dará toda a margem de manobra e gozo ao gato Santana no jogo que inevitavelmente proporá ao rato governamental.
A prometida ponte Chelas-Barreiro é um crime contra o estuário do Tejo mil vezes mais monstruoso do que a barragem que o PSD num dia aziago quis construir em Foz Côa. Fechar o aeroporto da Portela é uma idiotice chapada, sobretudo quando se pode complementar, no prazo de um ano, esta infraestrutura estratégica de primeira água, com um aeroporto de apoio no Montijo, dedicado às companhias de Low Cost — principais responsáveis pelo mais recente crescimento do turismo em Portugal: Algarve, Lisboa, Porto e arquipélago da Madeira. O comboio de Alta Velocidade entre Madrid e Lisboa, que tem que chegar até ao Pinhal Novo, e não ao Poceirão (como quer o Coelho da Mota-Engil), colocará a Comunidade Autónoma de Madrid, i.e. 5 milhões de almas sedentas, a um passo de Lisboa... e do Algarve. Do "Allgarve", sim senhor! Haverá fonte de receitas mais limpa e mais rápida no ciclo depressivo em que estamos?
Lisboa precisa de um Livro Verde e precisa de uma Carta Constitucional que dê o Grito do Ipiranga pela sua autonomia enquanto cidade-região, que já existe, mas que falta consagrar. Precisa, por outro lado, dum Programa Social de Emergência, lúcido, estudado e sobretudo não demagógico. Ora para tanto, o próximo alcaide da capital tem que ter uma enorme ambição, tenacidade, sensibilidade e pragmatismo. Precisa, por outro lado, de ser verdadeiramente independente e estar rodeado de gente desinteressada e lúcida. Estará António Costa à altura do desafio? Poderá competir com Santana Lopes? Para já, na entrevista dada a Judite de Sousa esta noite, Santana Lopes saiu claramente por cima. Faites vous jeux!
OAM 601 15-07-2009 00:30
2 comentários:
Viva António.
Após a entrevista, a mesma foi objecto de abordagem telefónica com o RR.
"Antes da ordem do dia", ao contrário da tua pessoa não irei votar: Não tiro 1 segundo que seja para dar a esta gajada que alegadamente nos governa, e isso por mais cândidos que os mesmos se afirmem.
Na verdade, a entrevista de Santana veio marcar definitivamente a agenda politica para Lisboa nos próximos tempos / campanha.
Ao reafirmar a sua aposta na Portela + Montijo, veio indirectamente levantar o véu relativamente ao programa de obras públicas de MFL.
Conte-se pois com um melhor aproveitamento, capacidade de gestão das infra-estruturas que existem, e quando a sua capacidade estiver esgotada, pois então ponderem-se as alternativas.
A concorrência (qual esquerdalha assustada), opta pelo processo de conglomeração", salpicado aqui ali por personalidades como o Ribeiro Telles. Recordo que um dia comentou-se aqui por exemplo que: "Não era Helena Roseta que ira fazer o quer que fosse por Lisboa, mas sim o contrário: O que poderia fazer Lisboa por Helena Roseta".
Mas nestas coisas da politica à portuguesa, nenhum dos lados é inócuo.
Hoje de manhã, dei-me a ver o fantástico prof. Dr. Damião de Castro a versar sobre o processo de concessão de Alcântara da LISCOUNT à Mota-Engil.
De facto, já se está a posicionar para um qualquer taxo, venha ele de onde vier, pois tal apreciadores de "PERCEVES" (Understands) não é esquisito quanto toca a ser "um gajo porreiro".
Recordo a resistência de tal personalidade a que o aeroporto não fosse feito na Ota, depois a sua destacada posição no Coliseu dos Recreios quando Durão Barroso falou (fase antes "Cherne" - aplidado pela UVA de "peixe de águas profundas") de que "enquanto houvesse uma criança com fome não haveria Ota", verificando alguma plateia mais atenta que até bateu palmas a essa tirada do "esclarecido líder".
Quanto ao restante mandato à frente do "Porto de Lisboa", o melhor que se pode dizer, é que devia de ser ainda mais breve.
Enfim, a rapaziada laranja não perde igualmente tempo no seu posicionamento estratégico, seguindo o exemplo da malta rosa.
No entanto, por onde andará o amigo Fontão de Carvalho. Possivelmente nos dois lados, pois os negócio do sogro a isso convidam.
A
Rui
PS. Mais uma vez a blogosfera acertou quanto ao ponto de chegada do TGV vindo de Madrid. Pois é claro que é Pinhal Novo. Se Poceirão será a plataforma para as mercadorias, Pinhal Novo é no sul, a melhor "placa giratória" para passageiros.
Ana Paula Vitorino? Em cascais? E para a junta de freguesia em quem vota?
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