Paulo Portas poderá revelar-se como o primeiro ministro possível, e até desejável, no decorrer da crise de regime que se desenrola diante de nós.
O discurso de encerramento do congresso do CDS, que decorreu este fim-de-semana em Viseu, é uma notável peça de oratória política, e mostra claramente que Paulo Portas é o líder partidário melhor preparado, e porventura melhor colocado, para substituir José Sócrates no difícil papel de liderar em breve um governo de coligação maioritário no nosso país.
Passos de Coelho é um político sem provas dadas, medíocre nas palavras, mole nos actos, rodeado de gente pouco recomendável, e comprometido com o pior do Bloco Central; em suma, uma criatura que não oferece qualquer esperança de configurar uma alternativa credível ao abismo de inépcia e corrupção cavado pela tríade de piratas que tomou de assalto o PS e o país. Até poderá ganhar as próximas eleições, mas duvido que seja capaz de formar um governo maioritário.
Como tudo leva a crer, José Sócrates colocou a sua tropa de choque a segurar posições dentro do PS, e vai auto eleger-se como secretário-geral do farrapo partidário que o Partido Socialista hoje é, com a complacência e cobardia da esmagadora maioria dos aparachiques cor-de-rosa. O seu objectivo é, em primeiro lugar, proteger-se pessoalmente do tecto de críticas e revelações que inexoravelmente desabará sobre a sua cabeça e sobre as muitas cabeças da hidra que invadiu e colonizou a casa socialista ao longo da última década. O segundo objectivo desta entronização norte-coreana é, obviamente, uma tentativa desesperada de salvar o Bloco Central da Corrupção, para o que se considera, com o sim-sim de muito pirata laranja, melhor preparado, e sobretudo conhecedor, do que o titubeante e eterno imberbe Pedro Passos de Coelho.
Os jovens turcos do Partido Socialista —Francisco Assis, António José Seguro, e o entediado Sérgio Sousa Pinto— que deveriam aproveitar esta ocasião de ouro para ajudar a restaurar os valores matriciais do partido que os alimenta, desistiram, ao que parece, de fazer o que a sua geração naturalmente deles esperava: agir com lucidez e coragem num momento particularmente dramático para o país e para o próprio Partido Socialista. É o que dá não terem profissão própria!
António Costa emitiu um sinal de vida a semana passada, dando a entender que, em caso de necessidade, o PS tem pelo menos um dirigente experiente e com provas dadas, à mão se semear: ele! Mas como este simpático personagem também vive da política, reserva-se o direito de esperar pelo naufrágio de Sócrates, antes de ser levado em ombros pelos seus patrícios cor-de-rosa. Acontece, porém, que o futuro imediato do país dificilmente se compadecerá destes calculismos oportunistas. Depois de Sócrates, no PS, espera-se ver emergir alguém com ideias, vontade de reformar o país e o regime, e capacidade de liderança. Se não houver sucessor à altura das circunstâncias, o Partido Socialista entrará em crise profunda. Mas mau mesmo é a permanência de Sócrates à frente do partido poder transformar até ao fim o PS naquilo que realmente já é, embora sem o saber: um partido de direita e um instrumento de corrupção ao mais alto nível. Se isto acontecer, e está à beira de acontecer, não restará outra alternativa à gente decente e convicta que ainda milita no PS que não seja uma cisão partidária em massa e a constituição dum novo partido de esquerda, que recupere, nomeadamente, todos os socialistas convictos que hoje também desesperam com a experiência do Bloco de Esquerda.
Mas atenção: até o PSD caminha, ao contrário do que transparece, para uma profunda crise interna. A previsível meia-vitória eleitoral laranja nas eleições antecipadas que aí vêm poderá transformar-se num boomerang com energia suficiente para decapitar a direcção de Passos de Coelho. Fazem bem Pedro Santana Lopes e Rui Rio prepararem-se, desde já, para o "day after"!
Por fim, no que se refere aos partidos da velha esquerda estalinista, que são o PCP e mais de metade da direcção eterna do BE, e ainda ao herdeiro camuflado de Léon Trotsky, Francisco Louçã, abandonemos toda a esperança! Cumprirão as respectivas funções sindicais (aliás, necessárias), mas são radicalmente inúteis para resolver o que quer que seja em matéria de governação. A crise para onde nos deixámos cair é grave, estrutural e duradoura. Como estes partidos são por natureza burocráticos e defendem a ditadura do Estado, e este, desgraçadamente, está falido, o seu futuro é, de facto, nenhum. Esperemos, pois, que nos próximos meses e anos, do seu interior, se libertem as energias mais recentes e descomprometidas com passados cheio de equívocos, assuntos inconfessáveis, e impotência intelectual, abrindo caminho a novas formas de acção política —inteligentes, criativas, audazes, mas realizáveis.
Dado o xadrez complexo actual, em que é previsível uma perda eleitoral do PS e do PSD para propostas políticas e partidos menos comprometidos com o atoleiro para onde o Bloco Central conduziu Portugal, a oferta de Paulo Portas para liderar uma futura maioria, precisamente na condição de partido minoritário, mas fortalecido pela presente crise, faz mais sentido do que à primeira vista parece.
6 comentários:
Não exagere, António Maria. também gosto de ler o padre António Vieira. Abraço.
Eu só tive um partido na vida, por sinal muito atraente pela via literária, confesso. Chamou-se LCI e fui seu dirigente (em 1975, precisamente durante o Verão quente e na crise de 25 de Novembro, quando parte do partido passou à clandestinidade!) Mas o mesmo Trotsky que me levou à extrema-esquerda, também me ajudou a abandonar um via revolucionária empobrecida e cheia de menoridades, nomeadamente éticas e intelectuais.
A minha independência partidária é, pois, total. Não sofro de preconceitos Esquerda-Direita, sobre o que escrevi o que tinha que escrever há mais de vinte anos.
Este post apenas procura, como todos os 880 anteriores, ler a realidade, com alguma verve e paixão, confesso. Mas é só para que conste, não porque tenha qualquer interesse nos partidos ou no que eles me possam dar. Não me podem dar nada.
Rui Rio é um bom nome, Portas não me convence; não o demonizo mas não me convence, mas se calhar até vou votar nele.
Passos Coelho, vejamos no que dá, se for mais do mesmo leva a mesma receita do que o que por lá anda agora.
Penso que Cavaco terá um papel fundamental nesta legislatura que se avizinha, e não acredito que Passos Coelho tenha mais força dentro do PSD que Cavaco.
Precisamente: Cavaco é bem capaz de preferir um governo de grande coligação (PS-PSD-CDS) chefiado por Portas! Acontece nas melhores democracias europeias. Um partido minoritário, com um líder experiente, pode desempenhar o crucial papel de "honest broker"...
Um pouco "arrojada" esta sua ideia, mas desde que vi um porco a andar de bicicleta...
Eu acho sinceramente que governa o Passos num governo PSD-CDS; o PS vai ser "refrescado", talvez com o António Costa, a entrevista ao Medeiros Ferreira à dois dias n'O i foi uma pista do que por aí vem.
Há quem diga que o Socialismo acabou. À escala mundial, que exemplos peremptórios de Socialismo podemos encontrar?
Marx redefiniu a relação entre trabalhador e patrão, no contexto da fábrica. Quem o fez no paradigma de trabalho contemporâneo? O Negri/Hardt? Quem mais?
E quem até à data conseguiu adaptar isto na prática?
Talvez isto desse um post interessante...
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