Se a intriga do Expresso corresponde à verdade, mais parece que Passos Coelho seguiu um ritual de convites previamente orquestrado para chegar a um bom resultado final. E chegou!
Assunção Cristas (CDS-PP): uma das grandes esperanças do novo Governo. Foto:©Pedro Elísio/Negócios |
Quatro independentes lideram quatro das pastas mais importantes. Além de Álvaro Santos Pereira para Economia, Vítor Gaspar estará à frente das Finanças enquanto Nuno Crato substituirá Isabel Alçada no Ministério da Educação. Paulo Macedo assume a tutela da Saúde — Jornal de Negócios.
Há um equilíbrio surpreendente e fresco entre partidocratas, jovens políticos ambiciosos, e técnicos independentes com formação e competência comprovadas, mas sobretudo com visões (que partilho) sobre o presente que infelizmente temos e o futuro pelo qual podemos e devemos lutar. A quase ausência de caras gastas e de contrabandistas de influências e lugares são as duas grandes alegrias que esta composição governativa começa por dar ao país. Passos de Coelho acaba de ser promovido, por mim, a Passos Coelho. Oxalá não me arrependa!
A primeira impressão causada pelo novo elenco de governo, no eleitorado que despachou José Sócrates para a capital francesa, foi certamente positiva (aguardemos pela sondagem da Marktest).
A surpresa, no entanto, foi grande, tão grande que os jornalistas, as redacções e os opinocratas de serviço andaram, todo o dia de ontem, à nora: sem fotos decentes dos novos ministros, e balbuciando dúvidas pela falta do que chamaram "pesos pesados" — i.e. a malta do costume, que ou deitou este país abaixo, ou ajudou a deitar este país abaixo, ou deixou deitar este país abaixo sem nada dizer até que a bancarrota se tornou óbvia para todos. Não é só José Sócrates que deve pagar pelos tremendos erros e crimes cometidos no passado recente. Há toda uma geração de cúmplices, por acção ou omissão oportunista, que deveriam acompanhar o mitómano que nos conduziu ao abismo, na sua declarada intenção de emigrar para Paris. Atenas, aliás, seria a cidade mais indicada para os novos estudantes de filosofia. Eu próprio só acordei em 2003 para a desgraça que vinha a caminho, quando deveria ter acordado muito antes!
Um governo com onze ministros é mais do que suficiente!
Os ditos super-ministros evitam os conflitos de poder e os jogos de empurra entre pastas afins. Não nos esqueçamos que actualmente Portugal tem menos população, às vezes metade dos habitantes, do que qualquer destas vinte e uma cidades (World Atlas) — que são naturalmente governados por câmaras municipais, ou quanto muito, governos metropolitanos (a solução de que precisamos urgentemente para as cidades-região de Lisboa e Porto)
- Tóquio, Japão - 32 450 000
- Seul, Coreia do Sul - 20 550 000
- Ciade do México, México - 20 450 000
- Nova Iorque, EUA - 19 750 000
- Mombaim, Índia - 19 200 000
- Jakarta, Indonésia - 18 900 000
- São Paulo, Brasil - 18 850 000
- Deli, Índia - 18 680 000
- Osaka/Kobe, Japão - 17 350 000
- Xangai, China - 16 650 000
- Manila, Filipinas - 16 300 000
- Los Angeles, EUA - 15 250 000
- Calcutá, Índia - 15 100 000
- Moscovo, Federação Rússia - 15 000 000
- Cairo, Egipto - 14 450 000
- Lagos, Nigéria - 13 488 000
- Buenos Aires, Argentina - 13 170 000
- Londres, Reino Unido - 12 875 000
- Pequim, China - 12 500 000
- Carachi, Paquistão - 11 800 000
- Daka, Bangladesh - 10 979 000
Mas há ainda dois outros factos (como lembrei em post anterior) que arrumam esta falsa polémica num ápice. Aqui vão:
- O Executivo do Estados Unidos, 1ª economia mundial, e 3º em população, tem 15 departamentos (equivalentes aos nossos ministérios);
- O Executivo do Japão, 2ª economia mundial, e 10º em população, tem 11 ministérios;
- O Executivo de Portugal, 38ª economia mundial, e 77º em população, tem 16 ministérios e 36 secretarias de Estado.
Claro que para termos um tal governo são precisos ministros e ministras com personalidade, conhecedores, independentes e dispostos a defender as suas convicções, discutindo-as abertamente nos lugares próprios, e não uma turma de mortos-vivos da laia do último governo de José Sócrates.
O governo é este:
- Primeiro Ministro - Pedro Passos Coelho
- Ministro Negócios Estrangeiros - Paulo Portas
- Ministro das Finanças - Vítor Gaspar
- Ministro da Economia - Álvaro Santos Pereira
- Ministro da Educação - Nuno Crato
- Ministro da Saúde - Paulo Macedo
- Ministro da Solidariedade e da Segurança Social - Pedro Mota Soares
- Ministro da Agricultura, Ambiente e Território - Assunção Cristas
- Ministro da Defesa - Aguiar Branco
- Ministro da Justiça - Paula Teixeira da Cruz
- Ministro da Administração Interna - Miguel Macedo
- Ministro dos Assuntos Parlamentares - Miguel Relvas
- Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros - Marques Guedes
- Secretário de Estado adjunto do PM - Carlos Moedas
- Secretário de Estado da Cultura - Francisco Manuel Viegas
- As principais potências culturais do planeta —Estados Unidos, Alemanha, Japão e Reino Unido— não têm ministérios da cultura. Logo, o problema não está na burocracia nem nos subsídios, mas, uma vez mais, na visão, na estratégia e no sistema de aplicação das forças e dos investimentos disponíveis;
- Nunca soube quem é a senhora Gabriela Canavilhas, mas sei há muito quem é o Francisco José Viegas.
8 comentários:
E não se cria um movimento para desagravar Medina Carreira e mais um ou dois que andaram a gritar contra o vento que passa?
Ouvi hoje Medina Carreira na RTP-N (repetição de programa de ontem, creio) e pareceu-me agradado com o novo governo.
Meu caro,bom dia.
O que escreveu devia ser entregue a todos os que entrassem para o "secundário" como elemento primeiro da sua formação.
Apenas acrescento: muitos parabéns!
Cumprimentos
Carlos Monteiro de Sousa
Bom dia,
Parabéns pelo artigo, concordo plenamente, ficou no entanto a fazer "figas" para que este governo esteja a altura do desafio e que mesmo com "médicos" competentes o "paciente" não esteja já em fase terminal, sem cura. Esperemos todos que não!
Cumprimentos
Sérgio
O futuro o dirá, mas com ou sem pasta do Trabalho, como ou sem pasta do Ambiente ou com ou sem pasta da Cultura (saliento estas porque denotam hipermodernimos desastrosos- e vê-se nos confrangedores conhecimentos de cultura geral dos povos britânicos e norte-americanos...) este será o regime dos credores. Gostaria que este Governo dissesse vamos renegociar a dívida.
Caro João,
Os ministérios que trazem cultura, trabalho ou bom ambiente ao país, como ficou plenamente demonstrado ao longo da última década. Somos nós! E agora, vamos ter que o provar, começando por avaliar e reconhecer o que não fizemos bem e porquê. Sem este acto de verdade e humildade não sairemos bem da bancarrota em que estamos.
Não há infelizmente nenhuma possibilidade de a Esquerda actual conduzir o país para qualquer forma de utopia que não seja mais desastrosa ainda do que a situação actual. O desastre em que nos encontramos também foi fruto de uma Esquerda iludida, oportunista, irrealista e acima de tudo preguiçosa. Louçã prometeu hoje argumentos para a crise. Espero por eles!
Quero acreditar que o futuro governo não pode falhar. Mas sei que é difícil, e que não será apenas obra, nem responsabilidade sua. A Esquerda será tão responsável pelo futuro imediato quanto a Direita e todos os que, como eu, há muito deixaram de dar demasiada importância às armadilhas retóricas e à partidocracia.
" Não há infelizmente nenhuma possibilidade de a Esquerda actual conduzir o país [...]de tudo preguiçosa...."
Por outro lado, António, a Direita (sim porque o PS nunca foi de Esquerda) ao menos está à vontade em terreno próprio, pelo menos até que seja claro que o único objectivo é o saque do que resta.
Um abraço
Caro João,
O que pretendo sublinhar na minha crítica à Esquerda, nomeadamente a que se situa à esquerda do PS, mas incluindo também o PS (pois há muita gente no PS com sentimentos genuinamente de "esquerda"), é o atraso do seu programa, a perda de autonomia cognitiva de quem nela crê, e a captura do espírito crítico por um maniqueísmo ideológico e por uma retórica não só decadentes e inúteis, como oportunistas e burocráticos.
O erro histórico da Esquerda deu lugar a um situacionismo oportunista intolerável e sobretudo a uma aflitiva incapacidade de pensar. Ora este problema não se salva por mera contraposição aos erros ou sevícias da Direita!
Quanto a esta, temos que ser mais detalhados na análise. A Direita conservadora, por exemplo, aproxima-se mais dos problemas ecológicos que nos afligem do que boa parte da Esquerda. Já na Direita "progressista", urbana e tecnológica, prevalece um comportamento tipicamente predador. Temos que ir com cautela e afastar os estereótipos
Escrevi, há mais de 25 anos atrás, que a velha dicotomia Esquerda-Direita morrera depois da grande purga Estalinista, depois de Auschwitz, depois de Hiroshima, depois da última Guerra do Vietname, e depois de conhecido o terror infundido em milhões de seres humanos por Mao Zedong ou Pol Pot. Opor a "esquerda" pura e boa à "direita" pura e má, é um exercício inútil de auto comiseração. Comparo-o há muito com as divergências entre monárquicos e republicanos, considerando ambas as retóricas simplesmente pueris.
O que deixámos para trás nas últimas eleições foi uma farsa e uma tragédia alimentada por ladrões de toda a espécie. Eram "socialistas"? Tanto pior para o PS, que não soube limpar as nódoas e extirpar o quistos a tempo e horas. Agora temos uma nova situação. Vou acompanhá-la com o espírito crítico de sempre. Mais preocupado do que nnca em imaginar possíveis soluções, do que alimentar as chicanas partidárias do costume.
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