Elisabeth Taylor e Richard Burton em “Quem tem medo de Virgínia Woolf?” (1966) |
O alto preço da exposição mediática
O que é um crime público?
Segundo o Ministério Público, “é um crime para cujo procedimento basta a sua notícia pelas autoridades judiciárias ou policiais, bem como a denúncia facultativa de qualquer pessoa.
As entidades policiais e funcionários públicos são obrigados a denunciar os crimes de que tenham conhecimento no exercício de funções.
Nos crimes públicos o processo corre mesmo contra a vontade do titular dos interesses ofendidos.”
Esta é a quinta vez (1, 2, 3, 4) que escrevo sobre Manuel Maria Carrilho, pessoa que conheço como político polémico e a quem vi inúmeras vezes tomar posições corajosas, embora para muitos tais atitudes agressivas não fossem mais do que a prova reiterada do seu mau feitio e mau perder.
Conheci Manuel Maria Carrilho quando o 'soarismo' apodrecia e Sampaio e Guterres conspiravam para comandarem o próximo ciclo 'socialista'. Alguns jovens intelectuais e artistas andavam então preocupados com o provincianismo e a miséria cultural do país. Eu era um deles, Carrilho era um deles, o saudoso Pedro Miguel Frade era um deles, Ricardo Pais, outro, etc., etc.
Em 1995, Guterres chamou Manuel Maria Carrilho para ministro da cultura. Contam-se várias peripécias sobre este episódio, mas o certo é que se o inesperado ministro correspondeu às expectativas dos artistas e da generalidade dos agentes culturais, já na comunicação social as baterias foram sendo assestadas na sua direção. O segundo governo de António Guterres começou mal (sem maioria) e acabou pessimamente, dois anos depois, por demissão do próprio primeiro ministro. Carrilho já tinha batido com a porta, antevendo o famoso 'pântano' de que mais tarde se lamentaria Guterres e onde o regime invariavelmente cai quando não há maioria absoluta no parlamento.
Carrilho nunca foi, não é, nem será um homem de partido, como por exemplo foi e é José Sócrates e são muitos outros dirigentes e governantes do PS. Talvez por isso a sua vida depois de abandonar o governo, que menos de dois anos depois cairia, tivesse sofrido uma guinada imprevista em direção a Bárbara Guimarães, filha de um escultor obscuro, à época uma das mais celebradas Barbies da TV portuguesa, e aparentemente casada em 1997 com alguém de quem teve que se divorciar para poder voltar a casar, em 2002, desta vez com um ex-ministro.
Nunca me interessei por revistas cor-de-rosa, nem nunca li a Gente, ou a Caras. Só agora, perante esta hecatombe matrimonial, fui obrigado a chafurdar na literatura mais vendida no país.
Os divórcios são frequentemente coisas horríveis, onde chovem as acusações e os insultos mais despudorados. No caso, Manuel Maria Carrilho, ao ver-se subitamente impedido de entrar na sua própria casa, sem que para tal houvesse qualquer interdição judicial, e ao ver-se no mesmo dia, ou dia seguinte, acusado de espancar Bárbara Guimarães, sua esposa, estava realmente em muito maus lençóis. Talvez por isso a sua resposta fosse um contra-ataque violentíssimo ao suposto alcoolismo e à suposta decadência de Bárbara Guimarães, mãe de dois dos seus três, ou quatro filhos. É que a provarem-se os factos de que é acusado pela ainda sua esposa, se não houver fortes atenuantes, Manuel Maria Carrilho ficará numa situação pessoal gravíssima. O melhor mesmo é chegarem a uma separação negociada.
Não sei, e ninguém sabe, por enquanto, o que é verdade, o que é mentira, e o que são meias verdades e meias mentiras em toda esta história vulgar da imprensa cor-de-rosa. É que para além da tragédia que se abateu sobre os visados, e em especial sobre os filhos de ambos, tudo isto é banal e sórdido ao mesmo tempo. Prefiro mil vezes rever Who's Afraid of Virginia Woolf.
Perdeu-se um político, provavelmente há muito mais tempo do que ele próprio quis crer. Os próximos meses dirão se Bárbara Guimarães não terá também que buscar outra profissão. Para Barbie realmente já não serve!
ÚLTIMA HORA (7 nov 2013, 15:07)
Manuel Maria Carrilho e Bárbara Guimarães chegaram a acordo sobre o divórcio, estão divorciados e o mais importante agora são os dois filhos que há que proteger de um tempo que jamais esquecerão. Fico feliz por ambos terem evitado prolongar um situação que, doutro modo, seria fatal para ambos. All's well that ends well!
3 comentários:
Quem tem medo de quem?
Bem, eu tenho medo "destas coisas", mormente quando neste momento estou a ser esbulhado por uma cambada de mentirosos que (des)Governa.
Olá António
Gostaria de deixar aqui 2 ou 3 impressões: compreendo o desgosto de ver destruida a reputação de um amigo e de um político que respeita. Eu também não gosto de que tenha escrito "o Sampaio conspirava", porque acho que se este de facto conspirou, e bastante, foi na época em que se dedicava a "safar" das cadeias da Pide vários presos políticos.
Acho lamentável toda esta exploração das zangas e cenas de casal, mas parece que é isso que alimenta o imaginário de muita gente; por outro lado não sabemos muita coisa, há sempre lados desconhecidos nas barbies, nos amigos, nos políticos respeitados e amados por uns e outros.
Tudo isto para lhe dizer o quê? Que o filme do Mike Nichols se baseia numa peça muito bem feita, que inspirou à reflexão os primeiros terapeutas de casal e família, psiquiatras de Palo Alto. Também vi o filme, na altura, e gostei muito, porque se pode gostar muito de uma coisa bem feita, impressionante de verdade e emoção, embora extraordinariamente destrutiva: é um casal com um vínculo sadomasoquista, portanto ambos muito dependentes um do outro; tanto quanto me lembro, depois de uma escalada terrífica que parecia destruir toda a relação, ficava tudo a zero, a tempestade amainava e, numa hábil troca de papeis, recomeçava o ataque recíproco e a luta pelo domínio da situação.
numa coisa estou de acordo consigo: mais vale assistir a um filme, por mais neurótico e perverso que seja, do que assistir à destruição pública da imagem de um amigo.
Abraço
Rosina
Rosina, as 'conspirações' do Sampaio para suceder a Mário Soares são conhecidas e famosas, e nada têm que ver com conspirações malignas.
Quanto ao filme Who's afraid of Virginia Woolf, tenho-o comigo, em casa, e de vez em quando vejo-o. Transporta-me para os grandes contistas russos. Magistral!
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