terça-feira, julho 07, 2015

O mito do perigo comunista




Afinal, o problema da Guerra Fria não teve nada que ver com o Comunismo!


“Putin’s Fourth of July Bear greeting to Obama.”

FOX News: While the United States celebrated Independence Day, two pairs of Russian bombers flew off the coast of California and Alaska -- forcing the Air Force to scramble fighter jets to intercept both flights, two senior defense officials tell Fox News.

The first incident occurred at 10:30 a.m. ET on July 4 off the coast of Alaska, Fox News is told. Two U.S. Air Force F-22 jets were scrambled from their base in Alaska to intercept two Tupolev Tu-95 long-range strategic bombers, capable of carrying nuclear weapons.

The second incident occurred at 11:00 a.m. ET also on July 4, off the central coast of California. Two F-15s from an undisclosed location were scrambled to intercept another pair of Tu-95 Bear bombers.

O comentário dum funcionário da defesa dos Estados Unidos, acima transcrito, dá bem a ideia do grau de atrito existente entre o grande, mas decadente, imperialismo americano, e o império continental russo, para quem o colapso da ex-União Soviética parece ter sido inteiramente ultrapassado pela recuperação estratégica da velha Rússia.

Lembro-me de uma conversa filosófica de agosto, no Algarve, provavelmente em 1972, da qual participaram, entre outros, Egídio Namorado, físico e filósofo brilhante, Sottomomayor Cardia, intelectual que então despontava no firmamento da esquerda, João José Cochofel, poeta e publicista, António Paulouro, célebre editor do Jornal do Fundão, e alguns ouvintes, entre os quais estava. Eram então todos eles, marxistas, mais ou menos próximos do Partido Comunista. Mas a condição intelectual que os unia obrigava o exercício regular do racionalismo crítico, nomeadamente ao fim da tarde, sobre as areias quentes de Armação de Pêra. Nunca me esquecerei daqueles diálogos.

Numa daquelas conversas discutiu-se o que teria levado o socialismo a implantar-se num país atrasado como a Rússia, ainda por cima trocando a ideia da revolução comunista mundial, idealizada por Trotsky sob o paradigma da Revolução Permanente, pela peregrina doutrina do socialismo num só país. A explicação, dada por Egídio Namorado, assentava basicamente num ponto: a extensão continental da Rússia. Esta extensão permitira não apenas saltar da Idade Média para a Revolução Industrial, como testar misseis intercontinentais sem sair do país. A chamada ditadura do proletariado, por outro lado, foi uma espécie de metamorfose pragmática do czarismo, sem a qual não teria sido possível tamanha aceleração da História: Comunismo = a Eletricidade + Sovietes!

Esta compreensão do mistério do socialismo num só país, permite-nos hoje perceber melhor as tensões leste-oeste.

Sob a divergência ideológica entre capitalismo e comunismo, sob este manto diáfano de fantasia, hipocrisia e propaganda, escondeu-se a nudez forte de uma verdade definida por Halford Mackinder em 1904 como a teoria do coração do mundo: “Even in Asia we are probably witnessing the last moves of the game first played by the horsemen of Yermak the Cossack and the shipmen of Vasco da Gama” (“The geographical pivot of history”. The Geographical Journal, 1904).

A célebre frase de Mackinder,  “Who rules East Europe commands the Heartland; Who rules the Heartland commands the World Island; Who rules the World Island commands the World”, extraída do seu livro publicado em 1919, Democratic Ideals and Reality: A Study in the Politics of Reconstruction, é ainda hoje responsável por boa parte da consciência estratégica mundial.

É por isto que alguns anos depois do colapso da União Soviética, a Rússia aparece de novo como o inimigo público número um da América. Mas a verdade é que o centro do mundo continua e continuará por muitos séculos na Eurásia.


Atualizado: 8/7/2015 01:25 WET

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