Decisões difíceis
A vitória tangencial de Manuela Ferreira Leite nas eleições directas do PPD-PSD deixou o partido dividido em três bocados, agora mais evidentes e consolidados que nunca: o bocado populista (Santana Lopes e Menezes), o bocado neoliberal (Passos Coelho, Relvas, Marco António) e o bocado social-democrata (Manuela Ferreira Leite e... Cavaco Silva!)
O primeiro problema que Manuela Ferreira Leite vai ter que enfrentar é o da ameaça de turbulência, ou mesmo de separatismo, por parte dos populistas de norte a sul do país. O segundo problema será o presente envenenado que uma excessiva solicitude de Pedro Passos Coelho poderá representar para o aproveitamento da janela de oportunidade que se abriu, por breves momentos, com esta sua vitória. Na realidade, se quiser levar o PSD a vencer José Sócrates, Manuela Ferreira Leite deverá evitar subtilmente estes obstáculos iniciais. Terá, no entanto, que estar preparada para uma provável cisão do PPD-PSD, antes ou depois das eleições legislativas de 2009. Tudo dependerá da natureza e intensidade das feridas abertas nas últimas semanas, e ainda da evolução da crise aberta no PS pelas mais recentes e quase simultâneas iniciativas de Mário Soares e Manuel Alegre.
Como observava um amigo meu, a moção de censura avançada pelo PP poderá ter sido combinada com José Sócrates, visando criar uma oportunidade inesperada para este se demitir, forçando Cavaco Silva a antecipar as eleições. Bastaria para isso que toda a Oposição votasse a favor da moção e alguns deputados socialistas se ausentassem para tomar café. Não sei se a coisa é verosímil, mas que o actual primeiro ministro anda desesperadamente à procura de uma saída para a agonia longa e humilhante que o espera, disso não tenho dúvidas. Na realidade, se isto fosse possível, nem Manuela Ferreira Leite teria tempo para derrotar Sócrates, nem este teria que temer a conspiração aberta contra si por toda a esquerda portuguesa, incluindo os socialistas que existem e dão nome ao partido que o levou ao poder. Por fim, a actual conjuntura aponta para a extinção eleitoral pura e simples do PP, mas se houvesse um golpe de rins semelhante ao descrito, o "partido do táxi" ganharia ainda mais uns anos de vida.
Prefiro, no entanto, olhar para os próximos dois ciclos legislativos que previsivelmente se sucederão: 2009-2012 e 2013-2016. O que vejo não é nada bom. A crise energética mundial vai continuar a agravar-se (bye bye NAL de Alcochete!); a crise financeira continuará indomável (bye bye TTT Chelas-Barreiro!); a crise alimentar tenderá a piorar à medida que aumentar a produção dos agro-combustíveis; o descalabro ecológico estará longe de ser mitigado. Ou seja, Portugal, cuja classe média tem vindo a desaparecer a um ritmo fulminante, estará em piores lençóis do que hoje e por conseguinte mais do que disponível para acolher alternativas populistas ao apodrecido presente político-partidário. O surgimento de novos partidos tem pois o caminho aberto, antes ou depois das próximas eleições legislativas.
Não faz sentido, a não ser por pura cobardia política, vermos os populistas do PPD agora derrotados permanecerem hipocritamente num partido que precisa urgentemente de cortar a ligação siamesa existente entre o PPD e o PSD, para assim poder dar lugar a duas formações ideologicamente mais bem delimitadas e com lugar seguro numa refundada geometria eleitoral. Quanto ao PS, passa-se algo semelhante. Socialistas e neoliberais disfarçados não podem continuar a conviver com a mesma rosa ao peito. Onde votarão Mário Soares e Manuel Alegre nas próximas eleições? Responder a esta pergunta é dizer que algo decisivo irá acontecer proximamente na esquerda portuguesa. Tomar as declarações de Mário Soares e as iniciativas de Manuel Alegre e de Francisco Louçã como meras manobras tácticas para enganar algumas dezenas de milhar de eleitores ingénuos em 2009 seria um erro de avaliação crasso. O eleitorado de esquerda não irá dar um voto que seja ao pinóquio que nos governa, sobretudo depois de o maior partido da oposição ter eleito para sua líder uma social-democrata declaradamente preocupada com a crise social estrutural que temos pela frente, por tempo indeterminado. Não me admiraria nada que a tríade de Macau estivesse a pressionar José Sócrates para fazer alguma coisa...
OAM 373 01-06-2008, 01:01
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domingo, junho 01, 2008
PPD-PSD-10
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sábado, maio 24, 2008
PPD-PSD-8
Vasco Pulido Valente: um ácido em estado puro. |
Freak show
Nunca tinha visto a Manuela Moura Guedes em acção. Alguma vez passara por ela em velocidade zapping, mas nunca me detivera a vê-la, nem escutá-la, verdadeiramente. A TVI, para mim, começou por ser coisa de sacristia bolorenta, que dispenso, e depois metamorfoseou-se numa espécie de Freak TV, a partir do primeiro e famoso Reality Show desembarcado na basbaque praia lusitana, onde aparecia um Zé Ninguém que se tornou, do dia para a noite, herói nacional. Nunca me detive no canal, mas era impossível, mesmo assim, escapar à omnipresença mediática daquela anedota oriunda de uma fronteira onde insistem matar os touros como se ainda vivessem dentro de um filme do Buñuel. Recentemente, por recomendação de amigos, lá tenho ido uma que outra vez escutar o vozeirão do matador e fumador viril todo-o-terreno, filho de excelente poetisa, ao que dizem escritor (que nunca li) de sucesso: Miguel Sousa Tavares. Fala e escreve como um impressionista, pelo que em nada difere da leveza algo histérica e feminina que caracteriza a esmagadora maioria dos opinocratas lusitanos. O seu horror aos números e aos factos leva-o inexoravelmente à facilidade demagógica. É, no fundo, mais um dos responsáveis pelo populismo jornalístico e mediático actual. No caso deste MST, o modo como defende a nicotina que toma e impinge aos demais, ataca a regionalização administrativa e defende ao mesmo tempo a pulverização da linha de costa e a distribuição dos estilhaços às autarquias ávidas de receitas fáceis, mostra bem a pouca confiança a depositar nas suas palavras semanais.
Entretanto, alguém me telefonou e insistiu que visse o debate entre os candidatos à liderança do PPD-PSD. Lá zapei para a TVI. O que vi foi, no mínimo, espantoso! A personagem apresentada como sendo Manuela Moura Guedes (aceito que fosse) pareceu-me coisa de pura ficção, espécie de comediante Botox saída do MADtv, ou melhor, regressada de um filme que vira há muitos anos e que não resisti a rever após o debate: Freaks (1932) de Tod Browning.
Para minha surpresa, os políticos do PPD-PSD lá foram aparecendo, assegurando-me assim que aquilo era mesmo a sério. Um debate sobre o próximo PPD ou PSD, e sobre o futuro de Portugal! Manuela Ferreira Leite, na sua manifesta falta de eloquência (um eco perfeito de Cavaco Silva) manteve-se discreta como uma cobra assediada por três viris demagogos, cheios de razões. E no entanto, dizimou-os a todos em quatro assaltos rápidos e incisivos:
- o nosso principal problema, grave e urgente, já não é o défice orçamental, nem muito menos a privatização da Caixa Geral de Depósitos, nem obviamente conversas de café em volta da teoria do Liberalismo -- mas sim, o da pobreza social galopante, depois de erros sucessivos na política económica e social;
- o novo código de trabalho, ainda em revisão, é insusceptível de discussão no contexto daquele debate televisivo, pois o essencial do que está verdadeiramente em jogo reside nos pormenores e não nas linhas gerais que têm entretido o populismo parlamentar e mediático dominante (palavras minhas) -- pelo que, só em sede de negociação concreta do mesmo se pode ou não fazer a diferença;
- das grandes obras públicas, nomeadamente aquelas sobre as quais o Governo parece ter já tomado decisões firmes, não é curial, afirmou MFL, desfazê-las a pretexto de um mero exercício de exaltação oposicionista; a seu tempo, quando o PSD voltar a ser governo, se ganhar credibilidade para tal, se analisarão os vários projectos em causa e as respectivas viabilidades económicas e prioridades. De que vale impugnar ideologicamente decisões que os factos se encarregarão de desfazer ou corrigir naturalmente -- pergunto eu?
- serviço nacional de saúde, universal e gratuito para todos, é coisa que infelizmente não será possível prometer para o futuro; o essencial, perante as circunstâncias reais que nos rodeiam, é garantir que aqueles que não podem mesmo pagar, nem por isso deixem de ser convenientemente assistidos pelo Estado.
Era. Como um ácido corrosivo e implacável aviou e enterrou os três challengers de Manuela Ferreira Leite. E eu rebolei-me às gargalhadas no sofá a ouvi-lo rosnar os seus argumentos assassinos. Um velho impagável! Temi, no entanto, depois de me congratular com aquele reencontro virtual, pela minhas próprias apostas nesta competição. É que também eu vaticino a vitória da Manuela, por uma simples razão: é o caminho mais rápido para a separação entre o PPD e o PSD. Ou ganha, e a curto prazo os populistas arrumam as trouxas e fazem um partido novo com possibilidade de captar 15 a 20% do eleitorado. Ou perde para Santana Lopes, e nasce um novo PSD ainda mais depressa. No entanto, se ganhar Pedro Passos Coelho, há uma maior probabilidade de a ambiguidade entre populistas, liberais e social-democratas prolongar a agonia do PPD-PSD. Sucede porém que, tanto quanto me lembro, o Vasco tem uma queda especial para ser corrosivo como ninguém, mas costuma falhar nos prognósticos.
Post scriptum -- li há pouco um artigo encomendado, assinado por uma pseudo-jornalista do Expresso, fazendo campanha contra Manuela Ferreira Leite, sob o falso argumento de que José Sócrates teria assegurada a renovação da sua maioria absoluta no caso de ser MFL a ganhar as directas do PPD-PSD. Errado! O PS perderá a maioria absoluta em qualquer circunstância. E provavelmente perderá as eleições, se tiver pela frente a antiga ministra das finanças de Durão Barroso. O actual PS encontra-se dominado por uma tríade de piratas vendidos ao liberalismo mais boçal e sórdido. A vitória de MFL será aliás uma excelente oportunidade para os socialistas recuperarem o seu partido.
OAM 367 24-05-2008, 21:23
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sábado, maio 03, 2008
PPD-PSD-5
Alberto João Jardim, uma carta ainda fora do baralho? |
O gambito da Madeira
Se eu fosse o Alberto João telefonava amanhã ao Santana Lopes para lhe dizer uma coisa muito simples. Meu caro amigo: vou disputar a liderança do PiSD! Isto está a ficar uma merda e eu não vou aceitar nenhuma liderança com 25% ou 29% dos votos. Era o que faltava! Eu, como sabe, por causa do Sócrates, ainda há pouco me submeti ao povo e voltei a ganhar com maioria absoluta. A democracia é isto, meu caro! Assim que, das duas uma: ou Você desiste já a meu favor, e eu ganho a guerra à Ferreira Leite, o que eu não acredito que Você queira fazer, ou então teremos que almoçar depois das directas para saber quem é que deve liderar o PiSD depois da Manela borregar, como acontecerá inevitavelmente, pois não estou a vê-la resistir ao seu grupo parlamentar e ao pandemónio que vou montar nas ilhas se tivermos o PiSD liderado por uma minoria de 25 ou 29%.
Parece cada vez mais evidente que Cavaco Silva prefere subrepticiamente Alberto João Jardim a Pedro Santana Lopes, para desestabilizar a maioria do PS e levar este partido a perder, no mínimo, a maioria absoluta em 2009. Claro que se Jardim fugir do obstáculo, então as apostas do Presidente vão direitinhas para Manuela Ferreira Leite. Na realidade, Cavaco Silva já só poderá assegurar a sua reeleição (1) se conseguir opor rapidamente ao populismo de esquerda que tem vindo a crescer no nosso país (de Sócrates a Louçã, passando por Alegre e Jerónimo de Sousa), um populismo na linha de Berlusconi, capaz de desencadear a reestruturação do sistema partidário eleitoral, fazendo um rebentamento controlado do putrefacto Bloco Central (2).
O sorridente líder italiano tem 71 anos, mais 7 anos do que Alberto João Jardim! Ou seja, o líder madeirense é um jovem apto para oferecer uma direcção alternativa à confluência oportunista da Esquerda que o PS de Sócrates protagonizará daqui até às eleições de 2009. O discurso populista de direita é aliás a única alternativa credível e mobilizadora ao populismo de esquerda dominante. Os posicionamentos centristas (sócio-liberais, social-democratas, tecnocratas, etc.), que dominaram a política portuguesa dos últimos vinte e cinco anos, perderam a sua base objectiva de sustentação. Os fundos comunitários ainda afluirão até 2013 (daí a hesitação de muitos autarcas do PPD-PSD relativamente à cisão do partido nesta altura do campeonato), mas o impacto tremendo da crise global do Capitalismo já começou a fazer os seus estragos e ameaça fracturar a rede de vasos comunicantes entre o poder central, as autarquias e as regiões, que até agora tem assegurado a estabilidade do rotativismo político-partidário do pós-25 de Abril. Entrámos num novo ciclo de dilemas. O centro esfumou-se no seu próprio oportunismo militante e na corrupção. Agora, e porventura por mais de uma década, resta-nos encarar a inevitável pulverização do regime partidário, a emergência de formações populistas de sinal contrário e o provável reforço da componente presidencialista do regime. A burguesia adaptar-se-à, e os proletariados também. Resta saber como irá reagir a incipiente classe média portuguesa a semelhante metamorfose. As directas do PPD-PSD serão certamente um bom indicador.
Volto a repetir que os novos populismos e sobretudo os novos populismos europeus têm características inesperadas e complexas que convém começar a estudar e perceber antes de deitar os bebes fora com as águas dos respectivos banhos.
NOTAS
- Embora não seja para já evidente, Manuel Alegre tem todas as condições para vencer Cavaco Silva nas próximas presidenciais se, entretanto, a Direita se revelar incapaz de controlar o caótico processo de fragmentação lenta e indecisa actualmente em curso. Na realidade, poderemos ver emergir no nosso país um processo similar ao italiano, mas com uma coloração populista de esquerda. Os ingredientes estão aí: falências de empresas em catadupa, desemprego massivo na área dos serviços, crescimento da dívida externa e inflação, nomeadamente do preço do dinheiro, falhanço imparável do Estado social, impactos das crises energética e alimentar, regresso ao proteccionismo comercial, sobretudo nos grandes blocos exportadores de recursos primários, proliferação das guerras e conflitos sociais violentos, gigantescas pressões demográficas à escala global movidas pela fome e pela falência económica. No entanto, pela dinâmica própria dos populismos, a sua consolidação, ainda que temporária (estamos a falar em períodos de duas a três legislaturas seguidas), exige um grau avançado de degradação da democracia e sobretudo das liberdades individuais. Até agora as ordens constitucionais europeias têm impedido esta deriva, comum aos populismos re-emergentes na América Latina. Mas não é certo que, perante uma mais grave desordem mundial, os tiques clássicos do populismo não voltem a estar de moda.
- No entanto, evidências de hoje (03-05-2008) parecem apontar para uma aposta de Cavaco Silva em Pedro Passos Coelho, ou seja, para a alternativa mais liberal e menos populista. Seja como for, depois do previsível flop de Manuela Ferreira Leite, teremos o PPD-PSD a partir-se ao meio entre populistas de direita e liberais mitigados.
Diário de Notícias: Assessor de Cavaco (Jorge Moreira da Silva) faz programa de Passos Coelho03-05-2008. "Confirmo que estou a colaborar com a candidatura do Pedro Passos Coelho", diz o ex-eurodeputado do PSD ao DN. Jorge Moreira da Silva está encarregado das áreas da sua especialidade, que são a ciência, o ambiente, a inovação e a energia. No entanto, como se trata de um quadro com enorme experiência política, fontes da candidatura garantem que parte da vertente estratégica também passará pelo actual consultor para a Ciência e Ambiente da Presidência da República.
OAM 354 03-05-2008, 02:22 (actualização: 03-05-2008, 20:40)
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terça-feira, abril 29, 2008
PPD-PSD-3
Populismo suave, populismo duro
Prolongar o actual status quo no PPD-PSD seria como manter a soro um doente em fase terminal, crendo que o falido Bloco Central poderá renascer das cinzas, quando o que começa a ser evidente para todos é a emergência imparável de populismos de sinal contrário, com tudo o isso possa ao mesmo tempo significar de renovação e condenação do actual regime democrático. Pela frente temos um tempo de crise profunda à escala europeia e mundial. Assim sendo, não há nada pior que evitar as discussões difíceis. A repetição, em tão curto período, das directas do PPD-PSD é um sinal evidente da instabilidade que nos espera.
O dilema profundo do PPD-PSD é este: que opor ao populismo suave de José Sócrates?
Um populismo forte e truculento (Alberto João Jardim) que o faça sair do sério e perder as eleições de 2009, ou, pelo contrário, uma promessa de competência, seriedade e respeitabilidade (Manuela Ferreira Leite), com a ambição menor de retirar, num primeiro passo, a maioria absoluta ao PS, para depois, numa possível eleição intercalar, chegar ao poder, reeditando em ambos os passos a valsa gasta do Bloco Central?
Há ainda uma terceira via, que julgo ter vislumbrado esta noite ao escutar as declarações de Marco António, líder incontestado da distrital do PSD do Porto e vice-presidente da câmara municipal de Vila Nova de Gaia, ao Jornal das Nove (SIC). Para este político, que parece saber o que quer, Pedro Passos Coelho até poderá transformar-se numa alternativa credível a Manuela Ferreira Leite (e desde logo ao desastrado Pedro Santana Lopes.) Mas para isso, teria que fazer alguns ajustamentos estratégicos e programáticos importantes no seu discurso, até agora recheado de banalidades neoliberais fora de prazo. O meu pessimismo relativamente à capacidade de resposta do antigo líder da Juventude Social Democrata é, porém, absoluto. Daí que, em minha opinião, Marco António precise de pensar rapidamente se não será tempo de avançar ele mesmo, com as ideias que tem, para a disputa da liderança do partido laranja, marcando desde já uma posição clara, preparatória de futuros voos. Num ponto Marco António tem toda a razão: as alternativas que se apresentaram até agora estão velhas e gastas.
Santana e Ferreira Leite, por mais que queiram, não poderão surpreender. Santana ficará seguramente pelo caminho. Mas o efeito que a vitória provável de Manuela Ferreira Leite terá no partido, depois de superada nova catarse eleitoral, acabará por ser o agravamento da agonia em curso do PPD-PSD. Jardim, ao contrário do que cheguei a crer, está receoso e não tem efectivamente tropas no continente (vai esperar pela terra queimada.)
O populismo suave de Sócrates não se depara, conhecidos que foram os candidatos às próximas directas do PPD-PSD, com nenhuma alternativa temível. Tanto mais que o actual governo tenderá a intensificar as suas manobras de propaganda e sedução populistas até às legislativas de 2009.
Se decidir abrir alas à vitória de Manuela Ferreira Leite, por verificar que a alternativa Pedro Passos Coelho não passa de uma promessa pífia, Marco António ganhará porventura o tempo de que necessita para projectar a sua aposta estratégica de renovação geracional da liderança do PSD, da qual seria provavelmente o principal protagonista. Quando Marco António repete a ideia de que é preciso bom senso, ressoa claramente o aviso sobre a extrema fragilidade actual do seu partido. Nisso está plenamente sintonizado com Manuela Ferreira Leite. Uma sintonia que, bem vistas as coisas, poderá salvar o segundo maior partido português de uma extinção prematura.
As coisas poderão, no entanto e apesar de todos os cuidados, ir noutra direcção. O cenário da cisão continua de pé. Entretanto, uma certeza: o tempo de crise extrema que aí vem não poderia ser mais propício à proliferação dos populismos. Não vale a pena excomungar o fenómeno sem sequer discuti-lo. Os partidos tradicionais não só enfermam todos eles de tiques populistas, como o status quo de que fazem parte e inconscientemente acarinham há décadas passa por ser um dos grandes fermentos desta forma de empobrecimento, desvio e finalmente deformação da pulsão democrática.
Donde que a pergunta crítica que me apetece colocar neste momento seja esta: existe ou não uma variante europeia de populismo, civilizada, sofisticada e incapaz de subverter os pressupostos básicos da democracia representativa suportada por uma clara e bem institucionalizada divisão de poderes? E se a resposta for afirmativa, qual seria o seu papel na regeneração das democracias ocidentais?
OAM 351 29-04-2008, 03:56
Prolongar o actual status quo no PPD-PSD seria como manter a soro um doente em fase terminal, crendo que o falido Bloco Central poderá renascer das cinzas, quando o que começa a ser evidente para todos é a emergência imparável de populismos de sinal contrário, com tudo o isso possa ao mesmo tempo significar de renovação e condenação do actual regime democrático. Pela frente temos um tempo de crise profunda à escala europeia e mundial. Assim sendo, não há nada pior que evitar as discussões difíceis. A repetição, em tão curto período, das directas do PPD-PSD é um sinal evidente da instabilidade que nos espera.
"As we know, the 'catch-all' party is not the political party's final and definitive incarnation. Since 1970's, in fact, another mutation has occurred with the rise of what Richard Katz and Peter Mair (1994; 1995) term the 'cartel party', denoting the oligopolistic transformation of interparty competition through which parties have established links of cooperation/collusion. Emboldened by their positions of strength vis-a-vis the state, they worked together to discourage new entrants into the political market and to ensure their own confortable survival, independent of electoral competition. In short, the parties found safe haven within the state, on whose resources they largely depend and of which they can almost be viewed as expressions (Van Biezen, 2004).
... "The evolution of the parties followed a parallel route to that taken by organized production. Mass-based parties attracted support by integrating the electorate and organizing it according to the same type of hierarchical model also adopted both by the state and the Fordist factory. If the latter was labour-intensive, the parties were member-intensive. In similarly parallel fashion, the parties of today have dismantled their old organizational structures and assigned crucial segments of their productive cycles to specialized agencies, while superficially enhancing the role of members and activists through primaries and direct elections. It is clear, however, that while their 'shareholders' may be present at assemblies, they do not threaten the monopoly of the management, which often controls the composition of the body of shareholders. The parties have not become less important. Indeed, they continue to post impressive gains in terms of public offices secured. However, they have become something else, something which has diminished their democratic nature.
... "According to the Trilateral Comission [report by Michel Crozier, Samuel Huntington and Joji Watanuki (1975); ... "although it is also worth mentioning the work of Niklas Luhmann (1990) ...], democracy had involved citizens too much. It had made them too active. It had overprotected them, but to their own detriment, since it had pushed them towards making excessive and particularistic demands which damaged the effectiveness of democracy. The remedy, therefore, for the good of democracy, lay in driving redundant pluralism back towards society and out of the political sphere. This solution did not profess to wish to surpress social pluralism or fundamental rights such as the freedom of thought or association. Rather, it claimed to desire to put things back in their proper place by restraining a political pluralism which had become counterproductive and by revising the mechanisms of representation. After all, it was argued, democracies were now mature, predicated on solid agreements regarding their foundations, while what citizens really needed most of all was good government and good policies, carried out by authoritative and competent leaders, so that they, the citizens, could devote themselves to their own affairs in peace and tranquility.
To this end, the Trilateral specifically called for an about-turn in how parties functioned: from being selective carriers of social pluralism, they should become selective filters of political pluralism. ... "In this way, from the idea that democracy should function thanks to hospitable and welcoming parties, the prevailing logic - above all that of the Establishment - moved towards an idea that, since the defeat of Fascism, only the most obtuse and isolated conservatives had dared to profess: that democracy, democratic participation and politics itself are harmful, particularly when administered in large doses." -- in "Politics against Democracy: Party Withdrawal and Populist Breakthrough", by Alfio Mastropaolo; Twenty-First Century Populism; Ed. Daniele Albertazzi & Duncan McDonnell.
O dilema profundo do PPD-PSD é este: que opor ao populismo suave de José Sócrates?
Um populismo forte e truculento (Alberto João Jardim) que o faça sair do sério e perder as eleições de 2009, ou, pelo contrário, uma promessa de competência, seriedade e respeitabilidade (Manuela Ferreira Leite), com a ambição menor de retirar, num primeiro passo, a maioria absoluta ao PS, para depois, numa possível eleição intercalar, chegar ao poder, reeditando em ambos os passos a valsa gasta do Bloco Central?
Há ainda uma terceira via, que julgo ter vislumbrado esta noite ao escutar as declarações de Marco António, líder incontestado da distrital do PSD do Porto e vice-presidente da câmara municipal de Vila Nova de Gaia, ao Jornal das Nove (SIC). Para este político, que parece saber o que quer, Pedro Passos Coelho até poderá transformar-se numa alternativa credível a Manuela Ferreira Leite (e desde logo ao desastrado Pedro Santana Lopes.) Mas para isso, teria que fazer alguns ajustamentos estratégicos e programáticos importantes no seu discurso, até agora recheado de banalidades neoliberais fora de prazo. O meu pessimismo relativamente à capacidade de resposta do antigo líder da Juventude Social Democrata é, porém, absoluto. Daí que, em minha opinião, Marco António precise de pensar rapidamente se não será tempo de avançar ele mesmo, com as ideias que tem, para a disputa da liderança do partido laranja, marcando desde já uma posição clara, preparatória de futuros voos. Num ponto Marco António tem toda a razão: as alternativas que se apresentaram até agora estão velhas e gastas.
Santana e Ferreira Leite, por mais que queiram, não poderão surpreender. Santana ficará seguramente pelo caminho. Mas o efeito que a vitória provável de Manuela Ferreira Leite terá no partido, depois de superada nova catarse eleitoral, acabará por ser o agravamento da agonia em curso do PPD-PSD. Jardim, ao contrário do que cheguei a crer, está receoso e não tem efectivamente tropas no continente (vai esperar pela terra queimada.)
O populismo suave de Sócrates não se depara, conhecidos que foram os candidatos às próximas directas do PPD-PSD, com nenhuma alternativa temível. Tanto mais que o actual governo tenderá a intensificar as suas manobras de propaganda e sedução populistas até às legislativas de 2009.
Se decidir abrir alas à vitória de Manuela Ferreira Leite, por verificar que a alternativa Pedro Passos Coelho não passa de uma promessa pífia, Marco António ganhará porventura o tempo de que necessita para projectar a sua aposta estratégica de renovação geracional da liderança do PSD, da qual seria provavelmente o principal protagonista. Quando Marco António repete a ideia de que é preciso bom senso, ressoa claramente o aviso sobre a extrema fragilidade actual do seu partido. Nisso está plenamente sintonizado com Manuela Ferreira Leite. Uma sintonia que, bem vistas as coisas, poderá salvar o segundo maior partido português de uma extinção prematura.
As coisas poderão, no entanto e apesar de todos os cuidados, ir noutra direcção. O cenário da cisão continua de pé. Entretanto, uma certeza: o tempo de crise extrema que aí vem não poderia ser mais propício à proliferação dos populismos. Não vale a pena excomungar o fenómeno sem sequer discuti-lo. Os partidos tradicionais não só enfermam todos eles de tiques populistas, como o status quo de que fazem parte e inconscientemente acarinham há décadas passa por ser um dos grandes fermentos desta forma de empobrecimento, desvio e finalmente deformação da pulsão democrática.
Donde que a pergunta crítica que me apetece colocar neste momento seja esta: existe ou não uma variante europeia de populismo, civilizada, sofisticada e incapaz de subverter os pressupostos básicos da democracia representativa suportada por uma clara e bem institucionalizada divisão de poderes? E se a resposta for afirmativa, qual seria o seu papel na regeneração das democracias ocidentais?
OAM 351 29-04-2008, 03:56
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quinta-feira, abril 24, 2008
PPD-PSD 2
O Joker do Atlântico
Depois de uma noite de facas longas, Jardim regressou ao Funchal com uma certeza: no Continente só viu candidatos fracos, como uma Manuela Ferreira Leite incapaz de chegar a primeira-ministra, e alguns exóticos, entre os quais se deparou, inesperadamente, com o cadáver ambulante de Pedro Santana Lopes.
Há quatro partidos dentro do PPD-PSD: o PSD de Cavaco, Pacheco Pereira e Manuela Ferreira Leite, o PPD dos herdeiros desvairados de Sá Carneiro, entre os quais se destacaram pela caricatura, Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes, o PiSD, de Alberto João Jardim -- impagável jindungo da nossa malbaratada democracia --, e o grande vagão laranja de quem um dia espera ser ministro ou motorista de Aníbal Cavaco Silva, de Alberto João Jardim, ou de qualquer outro distribuidor de empregos pouco especializados.
No momento em que escrevo estas linhas começou o processo de execução do zombie em que se metamorfoseou Pedro Santana Lopes na sua teimosia em não morrer com o mínimo de dignidade política exigível a um ex felizmente brevíssimo primeiro ministro. Convém que a execução seja rápida. Amanhã, ou quanto muito, depois das festividade abrilistas, o populismo voluntarioso e experiente do líder da Madeira deveria começar a desinfectar o PiSD dos seus candidatos exóticos à liderança e das suas obsoletas sobrevivências "maoístas", lançando-se sem demora às goelas de José Sócrates. O país está a precisar dum bom Thriller!
Há muito que defendo a necessidade de partir ao meio (ou mais ou menos ao meio) a laranja e a rosa do nosso esgotado e corrompido Bloco Central. O populista que a tríade de Macau colocou em desespero de causa à frente do PS e do país, merece um populista à altura, capaz de o pôr na ordem e de divertir ao mesmo tempo o país durante o tango político que, presumo, já ninguém conseguirá evitar. A cisão do PPD-PSD é inevitável. Quanto mais cedo se der melhor.
Quanto mais cedo se der, mais cedo precipitará a cisão do PS e a renovação imprescindível do apodrecido espectro político-partidário que temos. O CDS deve desaparecer, porque na realidade há muito que não existe. Os socialistas devem mandar o Sócrates e a tríade de Macau às urtigas e refundar o seu partido em moldes cultural e tecnologicamente decentes. A linda Joana Amaral Dias deve dar um golpe de Estado no Bloco de Esquerda e fazer daquilo um partido pós-contemporâneo capaz de atrair de novo a juventude para o debate político e para a cidadania activa. Em suma, os sociais oportunistas do PSD e do PS devem juntar os trapos sob a batuta de José Sócrates e do sagaz Júdice, e formar uma espécie de partido neo-tecnocrata e tardo-liberal.
Sabem uma coisa? O elogio de Jaime Gama a Alberto João Jardim afinal não foi um lapso. E mais, a noite passada sonhei que o actual presidente da república aproveitou o passeio pelo arquipélago da Madeira para indicar ao populista que o governa há mais de trinta anos, um destino inadiável: Lisboa! Se não for desta, será na próxima crise do moribundo PPD-PSD.
OAM 350 24-04-2008, 21:06
Depois de uma noite de facas longas, Jardim regressou ao Funchal com uma certeza: no Continente só viu candidatos fracos, como uma Manuela Ferreira Leite incapaz de chegar a primeira-ministra, e alguns exóticos, entre os quais se deparou, inesperadamente, com o cadáver ambulante de Pedro Santana Lopes.
Há quatro partidos dentro do PPD-PSD: o PSD de Cavaco, Pacheco Pereira e Manuela Ferreira Leite, o PPD dos herdeiros desvairados de Sá Carneiro, entre os quais se destacaram pela caricatura, Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes, o PiSD, de Alberto João Jardim -- impagável jindungo da nossa malbaratada democracia --, e o grande vagão laranja de quem um dia espera ser ministro ou motorista de Aníbal Cavaco Silva, de Alberto João Jardim, ou de qualquer outro distribuidor de empregos pouco especializados.
No momento em que escrevo estas linhas começou o processo de execução do zombie em que se metamorfoseou Pedro Santana Lopes na sua teimosia em não morrer com o mínimo de dignidade política exigível a um ex felizmente brevíssimo primeiro ministro. Convém que a execução seja rápida. Amanhã, ou quanto muito, depois das festividade abrilistas, o populismo voluntarioso e experiente do líder da Madeira deveria começar a desinfectar o PiSD dos seus candidatos exóticos à liderança e das suas obsoletas sobrevivências "maoístas", lançando-se sem demora às goelas de José Sócrates. O país está a precisar dum bom Thriller!
Há muito que defendo a necessidade de partir ao meio (ou mais ou menos ao meio) a laranja e a rosa do nosso esgotado e corrompido Bloco Central. O populista que a tríade de Macau colocou em desespero de causa à frente do PS e do país, merece um populista à altura, capaz de o pôr na ordem e de divertir ao mesmo tempo o país durante o tango político que, presumo, já ninguém conseguirá evitar. A cisão do PPD-PSD é inevitável. Quanto mais cedo se der melhor.
Quanto mais cedo se der, mais cedo precipitará a cisão do PS e a renovação imprescindível do apodrecido espectro político-partidário que temos. O CDS deve desaparecer, porque na realidade há muito que não existe. Os socialistas devem mandar o Sócrates e a tríade de Macau às urtigas e refundar o seu partido em moldes cultural e tecnologicamente decentes. A linda Joana Amaral Dias deve dar um golpe de Estado no Bloco de Esquerda e fazer daquilo um partido pós-contemporâneo capaz de atrair de novo a juventude para o debate político e para a cidadania activa. Em suma, os sociais oportunistas do PSD e do PS devem juntar os trapos sob a batuta de José Sócrates e do sagaz Júdice, e formar uma espécie de partido neo-tecnocrata e tardo-liberal.
Sabem uma coisa? O elogio de Jaime Gama a Alberto João Jardim afinal não foi um lapso. E mais, a noite passada sonhei que o actual presidente da república aproveitou o passeio pelo arquipélago da Madeira para indicar ao populista que o governa há mais de trinta anos, um destino inadiável: Lisboa! Se não for desta, será na próxima crise do moribundo PPD-PSD.
OAM 350 24-04-2008, 21:06
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sexta-feira, abril 18, 2008
PPD-PSD
Menezes e Ribau Esteves, dupla a caminho do neo-PPD? |
E agora Pacheco?
The populist Zeitgeist: "... in the twenty-first century, there exist better conditions for the emergence and success of populism than ever before." - in Twenty-first Century Populism; ed. by Danielle Albertazzi and Duncan McDoonnell, 2008).A "bomba" de Pacheco Pereira parece que estourou na boca do priorato da capital. Queriam empurrar o líder democraticamente escolhido há seis meses em eleições directas para novo congresso, e eis que ele se antecipa, deixando o pobre PPD-PSD à beira dum ataque de nervos.
Luís Filipe Menezes anunciou esta noite a sua demissão de secretário-geral do PPD-PSD, afirmando não estar na corrida para a nova liderança, ao mesmo tempo que desafiou a meia dúzia de conspiradores contra o seu consulado a chegarem-se à frente, caso tenham fibra para tal. Se os visados são Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira, José Pedro Aguiar-Branco, Pedro Passos Coelho, António Borges e Nuno Morais Sarmento, estamos conversados.
O professor e o biógrafo são bons comentadores de televisão, mas não mexerão um dedo daqui para a frente. O Aguiar-Branco e o Passos Coelho já estão fritos antes mesmo de começarem a balbuciar banalidades. A sereia da Goldman Sachs está disponível para ministro das finanças, mas não para mais. Esqueci-me de alguém? Ah, pois, Manuela Ferreira Leite! Talvez seja a única hipótese credível, para além do próprio Durão Barroso, para quem esta antecipação chegou em tempo muito inoportuno, pois não sabe ainda se vai ou não recandidatar-se à presidência da Comissão Europeia.
O problema é que Manuela Ferreira Leite jamais se arriscaria a uma luta eleitoral interna contra um líder demissionário pelas razões invocadas. Filipe Menezes ganhou o seu posto numas eleições directas inquestionáveis. E ao fim de seis meses nada justifica a tentativa de assassínio político desencadeada por uma matilha de críticos subitamente preocupados com a possibilidade de José Sócrates perder as eleições. Que Menezes é populista? E quem o não é no actual panorama partidário da triste periferia lusitana? Que Menezes é contraditório? Querem mais contradição que a existente entre as promessas de José Sócrates e a praxis do regime socratintas? Que Menezes troca os Bs pelos Vs? Pois é, também eu recomendei ao então candidato a líder laranja que frequentasse um curso de dicção (como fazem os ingleses de Glasgow quando querem chegar a Londres, ou trabalhar num call center), mas ele não me ligou nenhuma! Que o homem transformou o aparelho numa fortaleza inexpugnável? Ora bem, aqui está uma explicação plausível para o terror que há seis meses percorre a espinha da social-democracia alfacinha. Só que, neste particular, piaram tarde e, como comecei por dizer, a bomba do Pacheco rebentou na boca do priorato da capital. Agora só resta uma alternativa: separar o PSD do PPD!
Luís Filipe Menezes vai seguramente disputar de novo a liderança do seu partido. E fá-lo-à por três ordens de razões: por falta de comparência de adversários à altura, por exigência das suas bases e porque o país, no fundo, deseja uma grande pedrada no charco fétido do actual regime político-partidário. Resta apenas saber se o fará já, ou se esperará pelo fracasso de um eventual líder que lhe suceda. Há ainda outra possibilidade: a formação de partidos regionais (1)... no Norte, na Madeira e mesmo nos Açores. Ao contrário do que debitam semanalmente os nossos oráculos televisivos, as coisas podem mesmo mudar (2), e mudar subitamente.
NOTAS
A balcanização de Portugal
18-04-2008 12:25. O actual regime partidário está esgotado e definha dia-a-dia sob o peso do centralismo acéfalo que empobrece as periferias para alimentar o último banquete da capital. Morre dia-a-dia da monumental irresponsabilidade dos políticos com assento parlamentar, do desmoronamento económico, funcional e administrativo do Estado e da corrupção que atinge um número crescente de protagonistas descarados e impunes. O caldo está pois preparado para algo que os sonolentos suburbanos lusitanos que vagueiam tristemente pelos centros comerciais e outlets ignoram candidamente: a possibilidade de emergirem, de um dia para o outro, movimentos autonomistas imparáveis no norte do país, na Madeira e nos Açores.
Alberto João Jardim dificilmente abandonará a sua ilha aos "socialistas", e o modo mais expedito de consumar a sobrevivência da autonomia de facto que instaurou no arquipélago da Madeira (veja-se a vergonha passada por Cavaco Silva na sua expedição supostamente soberana ao arquipélago de Alberto João), passará por aproveitar a actual explosão do PPD-PSD para levar o PSD-Madeira a dar o grito do Ipiranga, fazer-se reeleger pelo novo partido regional, e proclamar sem pejos uma via rápida para a autonomia radical, se não mesmo para a independência daquelas ilhas atlânticas.
Repare-se que o projecto tem tanto de plausível como de racional. As Canárias estão fartas de Madrid (sobretudo depois de verificarem que o império do turismo que lhes foi imposto -- e os idiotas do regime socratintas querem, fora de horas, aplicar ao nosso país -- se encontra em recessão irreversível, tendo pelo caminho rebentado com a ecologia e a beleza natural de praticamente todas as ilhas). Por outro lado, a provável adesão de Cabo Verde à União Europeia seria um excelente álibi para a formação a prazo curto de um novo país europeu: a Macaronésia! Seria um país formado pelos actuais arquipélagos da Madeira, Canárias, Açores e Cabo-Verde, poliglota, multi-étnico, pluricontinental e uma placa atlântica estratégica entre a Europa, a América e a África, podendo beneficiar instantaneamente dos interesses e múltiplos carinhos de meio mundo. Vir a Lisboa mendigar dum mendigo? Nunca mais!
Digam-me lá se isto faz ou não sentido. Deixem a tríade de Macau rebentar com o porto de Lisboa e com as empresas energéticas do país, deixem a tríade de Macau e a bronca burguesia clientelar que temos continuarem agarradas ao betão (a snifar o seu inebriante perfume, "Corrupção") e veremos como todo este pesadelo chegará em breve aos lares dos poucos lusitanos que não tiverem entretanto emigrado de vez.
A balcanização da Europa faz parte intrínseca do projecto oculto de Berlim, Paris e Londres. Os Estados Unidos, como a própria Angola e o Brasil (e a China!), não veriam com maus olhos uma Macaronésia independente. E quanto ao norte de Portugal, se a expropriação corrupta das suas riquezas continuar (como resulta escandalosamente evidente do plano de construção de barragens, cuja única finalidade é aumentar os activos da cada vez mais insustentável e especuladora EDP), e por outro lado, os patetas de Cascais e Sintra, do Restelo e do Bairro Alto, persistirem nas humilhações dos protagonistas daquela região, então será inevitável a formação dum forte partido autonomista no norte do continente português, que não é lusitano, como todos deveríamos saber, mas galego! Por fim, é preciso dizer que para a vintena de empresas que controlará a economia industrial e pós-industrial da Europa, esta pulverização do poder político é pura água de Maio.- O programa populista do neo-PPD
18-04-2008 17:10. Luís Filipe Menezes andou errático à procura de um programa e do tom certo para as suas intervenções. Parecia um sonâmbulo às apalpadelas programáticas. E no entanto começou a desgastar a maioria absoluta a partir do momento em que rompeu todos os pactos anteriormente assinados na lógica do Bloco Central. Mais recentemente, quando anunciou a intenção de nivelar os níveis de fiscalidade na raia fronteiriça entre Portugal e Espanha, e atacou o actual terrorismo fiscal, depois de apoiar a CGTP nalgumas das suas movimentações contra o neo-liberalismo pacóvio da clique socratintas, a sua mensagem começou a chegar mais perto do eleitorado que ditará a sorte da próxima maioria legislativa. Não é por acaso, que a operação bombista de Pacheco Pereira foi desencadeada a partir deste ponto de viragem. Ele intuiu e bem que ou apeavam agora o líder eleito do PPD-PSD, ou não veriam mais o poder laranja ao seu alcance. Menezes, porém, surpreendeu-nos a todos! E ele aí está disposto a levar até às últimas consequências o projecto de retirar o PPD da influência suicida dos cabotinos que vivem à sombra do incestuoso Bloco Central.
Para vencer de novo as directas do partido laranja, Luís Filipe Menezes só terá que fazer uma coisa: assumir claramente um programa populista europeu, civilizado, na linha da sua matriz social: republicana, laica, democrática, liberal (mas não neoliberal!) e popular na acepção de uma frente política anti-plutocrata, baseada no equilíbrio económico e cultural da sociedade.
Se me pedissem conselho sobre o assunto, proporia ao neo-PPD que reflectisse em 11 pontos que poderiam configurar o seu novo manifesto para a política futura:- Adopção do princípio geral das eleições directas para todos os cargos públicos electivos, abandonando o uso e abuso dos colégios eleitorais, e maior democracia na formação das instâncias do poder central, regional e local.
- Adopção do princípio da proporcionalidade fiscal: os que mais ganham, maior contributo devem dar para o bem comum, e sobretudo para o alívio da carga fiscal no seu conjunto.
- Garantia dada pelo Estado de que nenhum cidadão nacional cairá na pobreza depois de findo o seu ciclo produtivo, seja por efeito natural da idade, seja por incapacidade causada por acidente ou doença, equiparando-se o limiar de pobreza ao do rendimento mínimo assegurado.
- Rejeição terminante e inegociável de prejudicar o direito ao trabalho no território nacional através de práticas de importação ilegal de mão-de-obra ou "dumping social".
- Manutenção do regime laboral das 40 horas, não podendo nenhum cidadão ser obrigado a trabalhar para além desta carga horária, salvo se por expressa vontade do próprio, e neste caso, sempre com direito ao pagamento das horas extraordinárias efectuadas na sequência de acordo negociado livremente.
- Estabelecimento do instituto universal do referendo, quer a nível nacional, quer a nível regional e local, desde que preenchidas as condições mínimas para a sua convocação, adoptando-se para o efeito um instituto em tudo semelhante ao instituto criado pelo povo Suiço para o mesmo efeito
- Limitação de mandatos de todos os cargos públicos electivos, incluindo os de todas as empresas públicas e/ou cotadas em bolsa, a dois mandatos consecutivos e três no total.
- Proibição da concessão de subsídios públicos a qualquer empresa privada, seja na forma explícita do subsídio, seja na forma dissimulada de parcerias público-privadas (PPP), ou quaisquer outras formas de favorecimento público a interesses privados, que sempre tenderão a distorcer as regras da livre competição e perpetuar clientelas nefastas, fonte de toda a corrupção.
- Defesa intransigente da competitividade fiscal no actual quadro de integração europeia, estabelecendo o princípio de que a carga fiscal em Portugal nunca poderá ser superior, ou inferior, à carga fiscal do país vizinho, a Espanha, em mais de 1 ponto percentual, mantendo-se regimes fiscais especiais na raia fronteiriça entre os dois países ibéricos (onde os impostos e taxas serão idênticos) e nas regiões ultra-periféricas (Açores e Madeira) onde se manterão níveis de fiscalidade mais favoráveis.
- Definição estratégica das funções do Estado no actual quadro comunitário e reforma do mesmo em conformidade com a visão de um Estado Estratégico, i.e. que impõe uma reserva de propriedade e controlo para os territórios, recursos e sectores dos quais dependem a integridade jurídica e de facto da nação portuguesa.
- Defesa de um novo quadro de liberdade individual e colectiva, no qual os princípios constitucionais passem do actual estado de incumprimento e hipocrisia para a realidade.
OAM 347 18-04-2008, 03:06
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