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segunda-feira, agosto 21, 2017

Peak Growth?



Sem energia barata e abundante não há trabalho, nem crescimento.


...it appears that only a relatively small share of countries have experienced rising GDP in current US dollars.
(...)
To fix the problems (...), we would need to get prices of oil and other energy products back up again. This would indirectly raise prices of many other products as well, including food, new vehicles, and new homes. With lagging wages in many countries, this would seem to be virtually impossible to accomplish.
(...)
—in “World GDP in current US dollars seems to have peaked; this is a problem”, Posted on August 14, 2017, by Gail Tverberg.

Isto está bem pior do que parece. Já só crescemos, e pouco, endividando-nos. O filão chinês está a chegar ao fim. A demagogia, o populismo e a gritaria mediática browniana são, pois, sintomas de uma crise profunda, e não caminhos para a ultrapassar.

O resultado geral da deflação económica, sobretudo visível nos preços da energia e das commodities, é a falência progressiva dos países e dos seus governos. Até agora esta tendência recessiva foi disfarçada, desde 2001 (Japão), 2009 (Reino Unido/ EUA) e 2015 (União Europeia), com doses sucessivas de expansão monetária eletrónica, promovida pelos bancos centrais. Infelizmente, a abundância artificial de liquidez tem sido acompanhada da desvalorização do dinheiro, nomeadamente através da destruição das taxas de juro, para assim mais facilmente financiar o endividamento explosivo dos governos e ensopar as imparidades e desvarios acumulados nas bolhas especulativas. Que o objetivo desta política monetária tem sido o de impedir um colapso económico-financeiro em cadeia à escala planetária percebe-se claramente quando observamos o fracasso persistente dos chamados mecanismos de transmissão. O dinheiro circula dos bancos centrais para os bancos comerciais e destes para os governos, entretanto submetidos a regras orçamentias cada vez mais apertadas, mas raramente cheg diretamente às empresas sob a forma de crédito.

O autor involuntário do famoso Quantitative Easing (Prof. Richard Werner) repudiou a receita que apareceu em seu nome, por esta trair a sua intenção inicial ao propor uma resposta à crise do ' yen carry-trade' japonês, a qual consistia originalmente em aumentar a liquidez monetária para potenciar o crédito disponível, mas sem desvalorizar intencionalmente a poupança!



O pico do petróleo propagou-se ao crescimento, empurrando-o para o seu próprio pico.

As formações sociais —a economia e as infraestruturas, por um lado, a riqueza e o trabalho produtivo remunerado, por outro— estão a ruir por dentro. Um dia, apesar da pele dos países se apresentar ainda brilhante, e continuarmos a ouvir decibéis de otimismo de governantes, banqueiros e demagogos, veremos o seu interior completamente podre. Quando isto acontecer, as soluções disponíveis serão provavelmente insuficientes e todas más.

Existe, como facilmente se percebe, uma necessidade absoluta de percebermos o que aí vem. Mas para o conseguirmos temos que nos afastar da algazarra que inevitavelmente acompanha e acompanhará a metmorfose em curso. Precisamos de tudo menos de uma abordagem ideológica aos limites do crescimento.

terça-feira, dezembro 27, 2016

Verdes ilusões


O esgotamento do nosso modelo energético é a principal causa dos nossos problemas presentes e futuros


Euan Mearns has shown that in Europe, countries that use large amounts of wind and solar tend to have very high residential electricity prices. This comparison strongly suggests that when costs are charged back to consumers, they are very high. (In the US, subsidies tend to be hidden in the tax system instead of raising prices, so the same pattern is not observed.) 
[...] 
It seems to me that going forward, a completely different approach is needed, if we want to evaluate which energy products should be included in our electricity mix. The low energy prices (for oil, natural gas, coal, and electricity) that we have been experiencing during the last 30 months are a sign that consumers cannot really afford very high electricity prices. Analysts need to be looking at various scenarios to see what changes can be made to try to keep costs within the amounts consumers can actually afford to pay. In fact, it probably would be helpful if building of new generation could be reduced to a minimum and existing generation could be kept operating as long as possible, to keep costs down. 
[...] 
A Long-Term Role for Solar PV
It appears that our civilization is reaching limits. In fact, it seems likely that our current electric grid will not last many years–probably not as long as people expect solar panels will last. We also know that in past collapses, the only thing that seemed to partially mitigate the situation was radical simplification. For example, China transported goods in animal-powered carts prior to collapse, but changed to transporting goods in wheelbarrows, after it collapsed about the third century A. D.
Building on this idea, the place for intermittent renewables would seem to be off the electric grid. They would likely need to operate in very small networks, probably serving individual homes or businesses. For example, some homeowners might want to set up 12 volt direct current systems, operating a few LED lights and a few specially designed 12 volt direct current appliances. Businesses might want to do more. The problem, of course, comes in maintaining these systems, as batteries degrade and other parts need to be replaced. It would seem that this type of transition could be handled without huge subsidies from governments.
The belief that we can maintain our current electric grid system practically indefinitely, using only wind + solar + hydroelectric + biomass, is almost certainly a pipe dream. 
in EROEI Calculations for Solar PV Are Misleading
Posted on December 21, 2016, by Gail Tverberg
https://ourfiniteworld.com/2016/12/21/eroei-calculations-for-solar-pv-are-misleading/

segunda-feira, setembro 08, 2014

Colapso?


O petróleo barato chegou ao fim. O período de transição já começou.

Estaremos a tempo de evitar o pior?


O colapso já começou, como começa a ser evidente para todos nós, e se verá melhor ainda em 2015. Este colapso anunciado pode, no entanto, ser mais ou menos ordenado, mais ou menos catastrófico. Tudo depende das medidas que forem entretanto tomadas. Sugerimos algumas, necessárias e urgentes, nomeadamente em Portugal:
  1. Integrar a Rússia (e a Ucrânia) na União Europeia e na NATO.
  2. retirar os recursos estratégicos (água, redes energéticas, transportes e telecomunicações) do circuito rentista, comercial e especulativo do capitalismo, submetendo todos estes setores, numa fase intermédia, a um colete de supervisão e transparência reforçado.
  3. diminuir o consumo de petróleo, e aumentar a produção energética local OFF-THE-GRID.
  4. desmaterializar a economia e o consumo: mais serviços online e mais desporto, saúde, turismo e cultura locais; menos betão; menos automóveis, mais transporte aéreo Low Cost e mais comboios e transportes coletivos de qualidade.
  5. diminuir o peso orçamental, fiscal e humano das burocracias, nomeadamente públicas, em nome do bem-estar e felicidade das comunidades, e da preservação efetiva do chamado 'estado social'.
  6. reforçar as democracias, reformando drasticamente as suas instituições — diminuir o peso da partidocracia e das corporações nas decisões democráticas; instituição de referendos nacionais, regionais e locais para a tomada de decisões que afetem a vida presente e futura dos cidadãos;
  7. instituição de um Rendimento Básico Universal e Incondicional, como meio de atalhar vários problemas complexos próprios das sociedades de transição decorrentes, nomeadamente, do crescimento da produtividade tecnológica, do custo da concentração urbana, do aumento da esperança de vida das pessoas, e da globalização económica — a multiplicação de mecanismos improvisados de emergência social fora de qualquer escrutínio democrático é ineficiente, socialmente injusto e fonte de enorme corrupção.
  8. acabar com a relação perversa entre governos, bancos centrais e especulação financeira mundial, instituindo-se neste particular um conjunto de princípios e regras fiscais universais, justas e equilibradas.
  9. favorecer uma demografia saudável e equilibrada, onde as migrações sejam reguladas de forma transparente e não oportunista.
  10. apostar na desmaterialização progressiva dos processos de informação, ensino e aprendizagem, cuidados de saúde e justiça, com o consequente alívio das correspondentes pressões orçamentais.
  11. defender as liberdades individuais e o direito de propriedade dos indivíduos e das famílias, nomeadamente contra o peso avassalador, autoritário e ilegítimo das grandes corporações e das grandes burocracias.

Para Dennis Meadows, co-autor de The Limits to Growth, já não há nada a fazer, a não ser aumentar os níveis individuais e coletivos de resiliência




Os Limites do Crescimento vistos por uma universidade australiana

Um estudo da universidade australiana de Melbourne analisa o célebre relatório The Limits to Growth (1972) e conclui que as previsões deste relatório encomendado pelo Clube de Roma e pela Volkswagen foram acertadas: 2030 será mesmo um ano charneira, isto é, o início de um colapso sem precedentes, pré-anunciado, aliás, pela forte quebra global da produção industrial per capita que certamente veremos ocorrer em 2015.

Is Global Collapse Imminent?

The Limits to Growth “standard run” (or business-as-usual, BAU) scenario produced about forty years ago aligns well with historical data that has been updated in this paper. The BAU scenario results in collapse of the global economy and environment (where standards of living fall at rates faster than they have historically risen due to disruption of normal economic functions), subsequently forcing population down. Although the modelled fall in population occurs after about 2030—with death rates rising from 2020 onward, reversing contemporary trends—the general onset of collapse first appears at about 2015 when per capita industrial output begins a sharp decline. Given this imminent timing, a further issue this paper raises is whether the current economic difficulties of the global financial crisis are potentially related to mechanisms of breakdown in the Limits to Growth BAU scenario. In particular, contemporary peak oil issues and analysis of net energy, or energy return on (energy) invested, support the Limits to Growth modelling of resource constraints underlying the collapse.

in
Is Global Collapse Imminent?
An Updated Comparison of The Limits to Growth with Historical Data
Author: Dr Graham M. Turner
Research Paper No. 4 August 2014 (PDF)

quinta-feira, dezembro 20, 2012

Apocalipse 2012

Fim do mundo
©TOYZE para OAM

Não é o fim do mundo, mas de uma era que se esvai com o fim do petróleo barato e alterações climáticas brutais

“A fourth stage began as this institutionalized inflation took hold. Prices went higher, and became highly unstable. They began to surge and decline in movements of increasing volatility. Severe price shocks were felt in commodity movements. The money supply was alternately expanded and contracted. Financial markets became unstable. Government spending grew faster than revenue, and public debt increased at a rapid rate. In every price-revolution, the strongest nation-states suffered severely from fiscal stresses: Spain in the sixteenth century, France in the eighteenth century, and the United States in the twentieth century.

[...]

Finally, the great wave crested and broke with shattering force, in a cultural crisis that included demographic contraction, economic collapse, political revolution, international war and social violence. These events relieved the pressures that had set the price-revolution in motion. The first result was a rapid fall of prices, rents and interest. This short but very sharp deflation was followed by an era of equilibrium that persisted for seventy or eighty years. Long-term inflation ceased. Prices stabilized, then declined further, and stabilized once more. Real wages began to rise, but returns to capital and land fell.”

Estas palavras foram escritas por David Hackett Fischer num livro que recomendo vivamente, sobretudo aos feiticeiros conhecidos por economistas. The Great Wave; Price Revolutions and the Rhythm of History foi publicado em 1996, uma década antes de a bolha do Subprime rebentar e dar origem à maior crise financeira mundial desde a Grande Depressão.

As conclusões deste vasto e meticuloso estudo do autor de Washington's Crossing (2006) resumem-se, como ele próprio escreve, a uma evidência histórica: houve quatro revoluções-de-preços (price-revolutions) desde o século XII, na Europa, mas que se propagaram aos outros continentes, sobretudo às regiões com as quais a Europa estabeleceu pontes comerciais e coloniais. Entre cada uma destas longas ondas de carestia crescente houve períodos marcados por preços relativamente baixos e estáveis. Grosso modo, as ondas marcadas pela subida, primeiro subtil e lenta, depois acentuada, e finalmente explosiva de preços, estão compreendidas entre as seguintes datas: 1180-1350 (170 anos); 1470-1650 (180 anos); 1730-1815 (85 anos); e 1896-? 

Os mares de tranquilidade relativa que antecederam estes longos períodos de inflação, ou que lhes sucederam, foram muito férteis em criatividade: Renascimento do século XII, Renascimento do século XV, Iluminismo, e Era Vitoriana. Será que estamos perto de um novo colapso demográfico e de preços, acompanhado da inevitável desestruturação das nossas sociedades de consumo, dando origem a um novo mar de tranquilidade, procriação e crescimento moderado, assente em novos paradigmas, mentalidades e ideias culturais? 

A grande revolução de preços, que abrange todo o século XX, já vai em 116 anos. A base de recursos que a fez expandir tão rapidamente —sobretudo depois de passarmos da economia do carvão e da iluminação a gás, para a economia do petróleo e da energia elétrica— dá sinais públicos de esgotamento desde 1973. As recessões sucedem-se desde então com intervalos cada vez mais curtos e impactos cada vez maiores. As respostas políticas conjunturais não diferem em nada das que foram sendo experimentadas nos últimos oitocentos anos (1). O fracasso da bruxaria económica, que aliás cultiva a amnésia histórica, é total.

Nostradamus?

Desde já convém afastar o senhor Nostradamus e os Maias desta conversa. Para quem ficou impressionado com a especulação cinematográfica recente sobre o tema, aqui vai um descodificador de mitos escrito por gente sensata da NASA.

Astrologia e Economia à parte, a verdade é que, desde 1956, ciências um pouco mais sólidas do que as adivinhações anteriores, como a física, a geologia, a biologia, a ecologia, a climatologia e a história têm vindo a estudar e expor os limites do crescimento exponencial que tem caracterizado boa parte das dinâmicas humanas desde que as sociedades industriais tomaram o freio nos dentes.

O primeiro desses estudos fundamentais é um relatório apresentado em 1956 pelo géologo M. King Hubbert num encontro do American Petroleum Institute, no Hotel Plaza de Santo Antonio, no Texas. Pode dizer-se que este documento (PDF) estabeleceu para todo o sempre o intervalo de vida de recursos tão vitais para nós como o carvão, o gás natural e o petróleo.

Em 2001, a teoria do Peak Oil, surgida na esteira analítica de Hubbert, ganha um número crescente de adeptos (ASPO/ ASPO-Portugal), cujos estudos, realizados sobretudo nos Estados Unidos e na Suécia, têm vindo a dar razão ao geólogo americano: o petróleo é um recurso limitado e a sua duração enquanto recurso energético e químico barato e abundante para uso humano chegou ao fim em 2005. As consequências serão necessariamente assustadoras.

No início do século XXI, trágica e simbolicamente assinalado pela destruição de dois arranha-céus de Nova Iorque, a escassas centenas de metros de Wall Street, pelo impacto suicida de dois aviões comerciais com os tanques cheios de querosene, o petróleo deixa visivelmente de ser um recurso suficientemente barato para continuar a garantir o ritmo de crescimento da economia mundial conhecido desde o início do século XX. Em 1964 registou-se o pico da descoberta de novas jazidas. Em 2005 —ou para os mais otimistas, em 2010, 2015, 2020—  mais de metade do petróleo recuperável —isto é, cuja extração é tecnológica e financeiramente viável— terá sido produzido e consumido pelos humanos. A metade restante, e este é lado trágico da história, desaparecerá a uma velocidade muito superior do que a primeira. Nos cem anos de uso intensivo do petróleo (1930-2030) levámos oitenta atingir o pico da produção, mas depois de aqui chegados apenas restarão vinte anos até que a sua produção se torne demasiado cara para continuarmos a produzi-lo numa escala sequer aproximada da atual. Depois deste limiar, o petróleo deixará de ser um recurso estratégico da economia global. Ou será que continuará a sê-lo, por mais algum tempo, enquanto outras energias não o substituem, em regiões delimitadas e militarmente protegidas do planeta, mas pelo preço de um genocídio sem precedentes? Não creio, sinceramente, nesta hipótese.

O nosso modo de vida contemporâneo, industrial, urbano e cosmopolita nasceu há duzentos anos. O seu esgotamento, porém, está à vista, e o colapso dar-se-à muito provavelmente entre 2030 e 2060. Pode, aliás, ocorrer muito antes. Basta para tal que desastres imprevistos mas prováveis, de ordem climática (secas prolongadas, inundações, ciclones, etc.), financeiras, ou bélicas, aumentem de forma súbita e muito intensa a pressão sobre os recursos disponíveis. 

Estamos, pois, perante a eventualidade de um retrocesso civilizacional de dimensões bíblicas. E o pior é que nenhum governo se preocupa com o assunto, salvo nas respostas atabalhoadas e pontuais que vão dando aos efeitos das sucessivas e cada vez mais frequentes catástrofes climatéricas, crescentes conflitos militares e guerras civis.


Enquanto a descoberta de novas reservas decresce desde 1966, a produção entrou em 2005 no planalto dos 83 milhões de barris/dia, antes de começar a cair.

Para termos uma ideia da gravidade desta ocorrência, típica do fim de uma era, basta meditar nisto: nos EUA 2/3 do petróleo consumido vão para o transporte automóvel, 60% na OCDE. Por outro lado, 98% dos transportes nos países industrializados dependem do petróleo. Os transportes são ainda responsáveis por 13% das emissões globais de CO2 equivalente, e dentro desta fatia, 80%  das emissões provêm dos veículos rodoviários (The Market Oracle)

O boom mediático em volta das areias betuminosas do Canadá, do petróleo pesado venezuelano, do pré-sal brasileiro, das jazidas do Árctico, e mais recentemente do petróleo e gás de xisto americano e canadiano, há muito contabilizados no estudo de M. King Hubbert, não passa disso mesmo, duma diversão jornalística. Por outro lado, as chamadas energias alternativas representavam, em 2010 (Wikipedia), 16,7% do total da energia industrial consumida pelo homem, sendo que as renováveis tecnológicas mais recentes, solar e eólica, não iam além dos 2%. Como se isto não bastasse, o rendimento energético e a portabilidade das energias que são anunciadas como alternativas ao petróleo são irremediavelmente insuficientes.


Crescimento exponencial e colapso

Um outro estudo sobre limites do crescimento, mais abrangente, foi apresentado em 1972 por Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, e William W. Behrens III, a pedido do Clube de Roma e subsidiado pela Fundação Volkswagen, usando para tal um modelo computacional denominado World3

A sua publicação causou uma enorme polémica e é ainda hoje, pela acuidade dos temas tratados e precisão de resultados, um marco histórico da nova consciência ecológica mundial. 

Basicamente, os autores deste estudo mostraram de modo chocante os limites intransponíveis das dinâmicas de crescimento exponencial em que a humanidade está envolvida e que irão acabar por provocar um enorme colapso se não forem tomadas medidas urgentes de abrandamento do crescimento demográfico mundial, a par de uma utilização sustentável dos recursos disponíveis.

Infelizmente o tempo da mitigação (Hirsch Report, 2005) do desastre anunciado passou, e portanto, não estando o fim do mundo a 24 horas de distância, o fim de uma era, sim. O colapso, aliás, já começou em muitas partes do mundo, e nem o Ocidente industrializado e rico escapa às catástrofes climatéricos e à austeridade que começaram a invadir o nosso quotidiano numa escalada sem precedentes e que só estancará, no que ao paradigma petrolífero se refere, quando o racionamento começar...

Enquanto escrevia este texto encontrei uma entrevista preciosa a Dennis L. Meadows, realizada no dia do meu aniversário, 27 de novembro de 2012, num simpósio promovido pela Fundação Volkswagen. O título é sugestivo: “Already Beyond? – 40 Years Limits to Growth”.


Dennis L. Meadows, Co-Author of the study "The Limits to Growth", during the Opening of the Herrenhausen Symposium | Volkswagen Foundation.
© Photography: F. Fiechter
“Once the limits to growth were far in the future. Now they are widely in evidence. Once the concept of collapse was unthinkable. Now it has begun to enter into the public discourse—though still as a remote, hypothetical, and academic concept. We think it will take another decade before the consequences of overshoot are clearly observable and two decades before the face of overshoot is generally acknowledged.”

in Limits to Growth; The 30-Year Update

January 2004
Dennis L. Meadows, Durham, N.H., USA
Jorgen Randers, Oslo, Norway

Um dos fenómenos que mais estranhei em viagens ao Porto, que tenho vindo a realizar desde há uns cinco ou seis anos, foi a abundância de gaivotas que invade a cidade, de Matosinhos e da Foz do Douro até à Ramada Alta e Avenida Damião de Góis. Também estranhei que as cegonhas pairem já em grande número na zona de Aveiro. E há cerca de um ano comecei a notar em certos dias escuros de vento sul e chuva que também em Carcavelos, onde vivo a maior parte do ano, as gaivotas começam a sobrevoar a vila e o terraço de minha casa. Que se passa? Têm fome!


  
Post scriptum — quando preparava este post reuni uma série de referências bibliográficas e de sítios web que entretanto coloquei numa página autónoma a que chamei Collapse Link. É um complemento deste e possivelmente de futuros escritos sobre este mesmo tema.

NOTAS
  1. Além destas ondas de 60 a 200 anos de duração, muito bem documentadas no livro de Fischer, há ainda na Europa, e mais particularmente em Portugal, uma mega onda histórica (pura dedução minha que precisa de ser estudada em pormenor) compreendida entre de 1415, data da conquista da praça forte de Ceuta pelos portugueses, e o ano 2015,  data geralmente apontada para o regresso em pleno da China ao palco mundial como grande potência económica, marítima, científica, financeira e militar. A expansão marítima europeia inaugurada pela conquista militar de Ceuta, largamente inspirada pela rainha inglesa Filipa de Lencastre, casada com João I, e que coincide com o Renascimento e o período de equilíbrio nos preços que transcorreu entre 1400 e 1479-90, abriu a Europa a novos mercados de matérias primas, manufaturas e sobretudo ouro e escravos. É sobre esta nova e ampla base de recursos abundantes e baratos, que viria a ser reforçada nos séculos XIX e XX pela sucessiva entrada em cena do carvão e do petróleo, que a Europa irá crescer sem parar até meados da década de 1960. A partir do final desta década, princípios da seguinte, o mundo começa outra vez a mudar. Caminhamos para um novo equilíbrio, não sem antes passarmos por uma quebra brutal do rendimento disponível da Europa. Repare-se qe o império colonial português, um dos mais longos da História, durou praticamente todo este período (1415-1999). Se percebermos isto será muito mais fácil entender a crise atual, para a qual as bruxas economistas nenhuma solução têm ou podem ter. Desde logo porque ainda nem sequer percebam as causas.

Última atualização: 29 dez 2012 - 21:45 WET

terça-feira, junho 19, 2012

Depois do crescimento



O crescimento exponencial condenado, explicado de modo magistral por Albert Bartlett

Arithmetic, Population, and Energy, by Dr. Albert A. Bartlett

 Four million views for an old codger giving a lecture about arithmetic? What's going on? You'll just have to watch to see what's so damn amazing about what he (Albert Bartlett) has to say.

I introduce this video to my students as “Perhaps the most boring video you’ll ever see, and definitely the most important.” But then again, after watching it most said that if you followed along with what the presenter (a professor emeritus of Physics at University of Colorado-Boulder) is saying, it’s quite easy to pay attention, because it is so damn compelling — in YouTube.

A mundo moderno cresceu ao longo dos últimos duzentos anos à custa de incomensuráveis esforços, indescritível sofrimento e injustiças cuja escala de horror é pura e simplesmente indesculpável. Mas o mais trágico de tudo é que o formidável desenvolvimento tecnológico e social que acompanhou a revolução moderna acaba de bater numa parede matemática implacável.

Os sinais foram evidenciados, entre outros, por M. King Hubbert, em 1956, tendo então demonstrado com fundamento bastante a aproximação do pico petrolífero. A solução que anteviu como única alternativa ao fim do petróleo e do carvão economicamente útil, para dar continuidade a uma civilização humana tecnologicamente avançada, foi a do uso generalizado da energia nuclear, como novo paradigma energético da civilização. Mais tarde, em 1972, um outro relatório, igualmente fundamentado, veio chamar a nossa atenção para a inviabilidade do nosso modelo de crescimento: The Limits to Growth, de Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, and William W. Behrens III.

É possível que tecnologias muito mais seguras e avançadas de energia nuclear venham a dar resposta, pelo menos parcial, ao declínio inexorável dos combustíveis fósseis. Os principais problemas relacionados com a substituição do carvão/petróleo/gás natural por outras energias diz sobretudo respeito aos problemas de armazenagem, estabilização, portabilidade, transporte e preço das unidades de energia essenciais à vida das máquinas que nos assistem, a todo o momento e em quase tudo o que fazemos, e ainda à sua neutralidade relativamente aos demais recursos que extraímos da natureza e transformamos para nosso proveito, nomeadamente a terra arável. Nenhuma das chamadas energias alternativas, baseadas no vento, no Sol, nas ondas do mar, ou em biocombustíveis —do milho, cana de açúcar e pinhão manso, ao cultivo de algas— tem a mínima hipótese de substituir o colossal consumo de energia fóssil que tem alimentado o estilo de vida humano desde o tempo das primeiras máquinas a vapor à era do iPhone.

M. King Hubbert, gráfico sobre a era do carvão e do petróleo (1956)

A recente catástrofe nuclear de Fukushima veio atrasar em pelo menos uma década os esforços de convencer a opinião pública mundial de que existem tecnologias nucleares infinitamente mais seguras do que a dos reatores que derreteram em Chernobyl e no Japão. À medida que sincronizamos as leituras de Nuclear Energy  And The Fossil Fuels, de M. King Hubbert (1956), The Limits to Growth (1972), e Peaking of World Oil Production: Impacts, Mitigation, and Risk Management, escrito por Robert Hirsch para do US Department of Energy (2005), entre outras, o ano de 2030 aparece como o da grande implosão do modelo de crescimento que nos habituámos a ver como algo natural e eterno.

Na realidade, os avisos e os sintomas começaram a ser cada vez mais frequentes e graves desde a primeira crise petrolífera (1973), para cá. O colapso financeiro global em curso desde 2008, e do qual ninguém sabe como sair, ou mesmo se é possível sair, não é mais do que uma gigantesca crise de endividamento global com origem na insustentabilidade demográfica e energética do nosso modelo de crescimento. O buraco desta implosão equivale a mais de 12x o PIB mundial! Quem, como, quando, é que semelhante fossa abissal poderá ser tapada? Até quando este verdadeiro Fukushima financeiro fará sentir os seus efeitos letais? Até 2030? Até 2130? Até 3030? Ou até daqui a cinco mil anos — para usar a escala de Hubbert? Num lapso hilariante da presente crise, o BCE aceitou obrigações do tesouro de Portugal com maturidade prevista para 9999!


POST SCRIPTUM

Motivado por algumas perguntas sobre a veracidade do Peak Oil fiz umas contas rápidas para estimular a reflexão, tendo por horizonte a demografia humana prevista pela ONU e pelo USCB para 2100 e a compilação sobre produção petrolífera de John H. Walsh.

Produção mundial de petróleo (máx.) = 80 milhões de barris/dia = 29.200.000.000 bbl/ano

População mundial (março, 2012) = 7.000.000.000

Produção mundial de petróleo per capita = 4,171 bbl/ano

Crescimento demográfico mundial, líquido, médio e anual, até 2100 : +78 milhões de pessoas/ano

Necessidade suplementar de petróleo (mantendo-se o mix energético atual): +325.338.000 bbl/ano = +1.001.040 bbl/dia

Tendo em conta a queda da taxa de crescimento demográfico mundial, para pouco mais de 1% ao ano (1,1% em 2011), pode dizer-se que para manter os atuais níveis de consumo de petróleo per capita seria necessário aumentar a produção em aproximadamente 1 milhão de barris por dia, em cada novo ano, até 2100. Nesta hipótese teórica, supõe-se que todos os poços de petróleo continuarão a produzir sem esgotar nos próximos 89 anos, ou que novos reservatórios substituirão os que entretanto secarem. Assim, se a partir de amanhã não se produzir 81 milhões de barris por dia, e no ano que vem, 82 milhões bbl/d, e em 2014, 83 milhões de bbl/d, 89 milhões bbl/d em 2020, e assim sucessivamente, o resultado é óbvio: a produção per capita começará a decrescer, as tensões pela partilha do petróleo tenderá a aumentar, e a tudo isto não há como não chamar Peak Oil!

 Última atualização: 19 junho 2011 12:48