Depois do petróleo, que Angola teremos?
Se Angola não melhorar rápida e eficazmente o perfil institucional da sua quase-democracia, a incerteza sobre o futuro e a instabilidade político-militar voltarão a atormentar o país.
Valeria certamente a pena gastar 1% do seu orçamento numa revolução pacífica pela educação, competitividade, sustentabilidade, transparência, democracia e liberdade do país.
O gráfico aqui publicado é completamente claro sobre a história recente de Angola.
1960-1974: guerra colonial (exploração inicial do petróleo de Cabinda)
1975-1991: guerra civil angolana (quebra inicial da produção seguida de crescimento rápido até superar os 500 mil b/d)
1991-1994: guerra civil angolana (subida sustentada da produção; abaixo do milhão b/d)
1998-2002: guerra civil angolana (subida sustentada da produção; abaixo do milhão b/d)
2002-2011: período de paz (produção acima do milhão b/d, até próximo dos 2 milhões b/d)
2011-2015: período de paz ('peak oil', 'plateau', fim do 'boom' petrolífero angolano)
Em Angola, depois de uma subida a pique na produção de petróleo, no período de paz que se seguiu ao fim da guerra civil, a que chegaria perto dos 2 milhões de barris/dia, em 2008, a produção estagnou numa espécie de planalto, algo acima dos 1,6 milhões b/d.
Mais recentemente, com a diminuição da procura agregada mundial e a queda abrupta dos preços resultante do abrandamento económico global, Angola procurou ganhar margem comercial suplementar na exploração do petróleo impondo custos administrativos aos concessionários. Mas os concessionários não gostaram, e acabam de avisar a casta dirigente do que poderá ocorrer em Angola se insistirem no aumento político das margens.
Total: Angola vai ficar sem indústria do petróleo se não reduzir os custos
Jornal de Negócios, 13 Setembro 2015, 18:04 por Lusa
"Se não houver uma significativa redução dos custos, tudo vai parar", disse o director-geral da Total em Angola, Jean-Michel Lavergne, em declarações à agência financeira Bloomberg, nas quais explicou que caso as condições não melhorem, a indústria petrolífera angolana "vai desaparecer", partindo do princípio que o preço do barril de petróleo se mantém nos 60 dólares.
Em causa estão as várias medidas que o Governo angolano tem tomado nos últimos anos, que fizeram os custos de produção aumentar em 500 milhões de dólares por ano, disse Lavergne durante um fórum empresarial em Luanda, no qual anunciou que está pedida uma reunião com o Governo angolano para dar conta destas preocupações causadas pelos custos da regulação.
A China estará a crescer pouco acima dos 3% ao ano, mas os especuladores, incluindo os analfabetos indígenas, adoram repicar a litania dos 7%. A China cresceu, como Angola cresceu, acima dos 7%, duplicando o PIB de dez em dez anos, enquanto dispôs de petróleo próprio em quantidade e a bom preço. No caso da China, o maná começou a jorrar em 1965, acelerou depois da Revolução Cultural, com Deng Xiaoping (1978), e o pico chegaria em... 2015. No caso de Angola, o petróleo de Cabinda começou a jorrar em 1967, acelerou a partir de 1982, e disparou depois da guerra civil (2002) até atingir o 'plateau' do 'peak oil' angolano em 2011.
O grande problema, agora, é que os países emergentes (China, Angola, Nigéria, Brasil, África do Sul, Rússia, Índia, etc.) precisam de continuar a exportar a ritmos elevados para sobreviverem, ou seja, para impedirem um retrocesso violento das suas sociedades. Acontece, porém, que perderam, ou estão a perder, as suas duas principais vantagens competitivas: a energia petrolífera barata e trabalho humano 6x, 5x, 4x, 3x, 2x mais barato que nos países industrializados e pós-industriais: EUA, Canadá, Europa ocidental, Japão, ...)
O petróleo caro ameaça os países ricos e em geral quem depende dele, mas o petróleo barato compromete gravemente o ritmo de crescimento económico e o desenvolvimento social dos países emergentes; nuns casos, grandes produtores de energia e matérias primas, noutros, regiões demográficas densamente povoadas que são também reservatórios de trabalho humano barato.
A globalização acabou, não por desejo das esquerdas desmioladas, mas pela natureza própria do fenómeno económico que lhe deu origem. O empobrecimento dos países industriais desenvolvidos tem limites que chocam com o enriquecimento relativo dos chamados países emergentes. Só num mundo pós-capitalista avançado, a teoria dos vasos comunicantes entre países pobres e ricos (e entre pessoas ricas e pobres) poderá, eventualmente, reiniciar o seu caminho de esperança democrática.