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segunda-feira, outubro 26, 2009

TAP 7

Ryanair:
Porto-Faro: 1 milhão de voos a €6!



Os criadores de aeromoscas deveriam meditar bem neste quadro,
que passei a manhã a desenhar. OAM.



Porto-Faro por €30! Bilhetes esgotados.
  • A TAP cobra pelo mesmo voo €179 :-(
  • O turismo algarvio está em pulgas :-)
  • Menos carros para o Algarve :-)
  • Menos emissões de CO2 :-)
  • Menos negócio para a Brisa :-(
  • Um grande empurrão para as economias regionais do Norte e do Algarve :-)
  • 30% do mercado da TAP já passou para as Low Cost :-(
  • A TAP caminha rapidamente para o precipício — como há muito a blogosfera avisou :-(
  • Um xeque-mate às ideias peregrinas da Tríade de Macau e do Bloco Central do Betão!
O aeroporto Sá Carneiro transforma-se paulatinamente no Hub Low Cost do Noroeste Peninsular. Entretanto, se os otários da Mota-Engil-BES-Stanley Ho-Governo Sócrates continuarem a confiar no gaúcho da TAP —em vez de consultarem o horóscopo do António Maria e a sua imbatível assessoria técnica e estratégica—, o mais provável é que o golpe de misericórdia que levará à quebra irreversível da TAP venha de Badajoz! Sim, da transformação do aeroporto de Badajoz, que tem uma pista com 2805 metros, num novo Hub Low Cost!

A futura Eurocidade de Elvas-Badajoz, depois de ver construída a estação ferroviária do Caia (2013? 2015?), destinada ao serviço de Alta Velocidade /Velocidade Elevada (1), que levará pessoas e mercadorias até ao Pinhal Novo, para dali seguirem para o Campo Grande (via Fertagus e Ponte 25 de Abril) ou para Sines e Setúbal (via linhas complementares em bitola europeia), poderá muito bem ser a futura base para voos de Baixo Custo que, como se compreende, deixarão Lisboa no dia em que ficarem sem a Portela e forem convidados a pagar altas taxas aeroportuárias no prometido aeromoscas intercontinental da Ota-em-Alcochete. O aeromoscas de Beja, do genial Augusto Mateus está aí para nos ensinar o preço da ignorância, da leviandade, da irresponsabilidade, da ganância e da... corrupção!

As novas prospectivas relativas ao comércio mundial, ao transporte aéreo e ao turismo aconselham o máximo de prudência (2). O endividamento do Ocidente (EUA e Europa), por sua vez, não recomenda outra coisa! Daí, não nos cansamos de insistir, que a decisão prudente em matéria de aeroportos, até que o estado crítico global da economia dê lugar a novos paradigmas, passe por:
  1. manter operacional o aeroporto da Portela, fazendo as obras que nunca foram feitas —prolongamento do taxyway, modernização radical do sistema de gestão e transporte de bagagens e utilização pela TAP das inúmeras mangas disponíveis (3);
  2. substituir os seus incompetentes gestores por gente nova, profissional e séria;
  3. melhorar o aeroporto de Tires para os voos executivos;
  4. adaptar a Base Aérea do Montijo para servir as companhias Low Cost;
  5. fechar a TAP e criar uma nova companhia, numa lógica de reforço da Star Alliance, e porventura sob administração da Lufthansa (numa lógica semelhante à que presidiu à passagem da KLM para uma companhia nova chamada Air France-KLM), ainda que previamente a TAP possa ter que engordar por via de uma fusão intercontinental qualquer (Angola+Brasil+China?)
Há coisas simples que é preciso não ignorar na hora de pensar o futuro dos aviões no nosso país:
  • 86% do mercado aeroportuário de Lisboa está circunscrito ao espaço comunitário (tal como 60-70% das nossas trocas comerciais se fazem também com a União Europeia) e esta realidade não vai mudar nas próximas décadas. Antes pelo contrário...
  • É por isso que 92% dos aviões da TAP são da classe Narrow Body — i.e. não transportam mais de 200 passageiros.
  • Não se troca de aeronaves como quem troca de camisa, até porque as da TAP estão, em boa medida, por pagar!
  • O grupo TAP tem cerca de 10 mil trabalhadores, tantos como a easyJet, a Ryanair e a Air Berlin juntas!
  • Nenhum angolano, nem mesmo brasileiro, estará na disposição de alimentar este inacreditável grau de ineficiência e desperdício a Pão de Ló.
  • Só mesmo o Estado mafioso que temos pode fazê-lo. Ou melhor, podia, até que o peso acumulado e incontrolado da dívida externa, dívida pública, défice orçamental e défice comercial chegou ao ponto a que chegou.
  • A margem de manobra da tríade de Macau e do Bloco Central da Corrupção chegou ao fim!
Acordemos, pois, para as duras realidades.


Post scriptum — ouvi, horas depois de publicar este post, o Prof. Luís Campos e Cunha no Jornal das Nove (SIC) comentando com a sua sensatez e sobriedade habituais as expectativas que rodeiam o governo Sócrates 2. Retive dois pontos que interessam ao conteúdo do que aqui escrevo. 1 — Adiar o novo aeroporto até ver foi, se bem entendi, a sua posição. Se entendi bem, aplaudo. 2 — Depois, pareceu-me ouvi-lo dizer que era contra o TGV. Assim, sem mais, invocando o péssimo exemplo norte-americano nesta matéria. Defendeu, no entanto, o comboio pendular (uma variante optimizada do "nosso" enviesado Alfa Pendular —da FIAT/Alstom, do Pendolino italiano e do muito eficiente Talgo espanhol), sobretudo por uma questão de eficiência energética e de custos, e por cumprir expectativas razoáveis de velocidade numa economia cuja performance não é propriamente supersónica.

Estou de acordo que a velocidade não precisa de ir além dos 250Km/h, que os 350Km/h deixaram de fazer qualquer sentido, quanto mais não seja porque Espanha reduziu recentemente o limite máximo da AV para 300Km/h. Mas o ponto essencial não é este! A opção não é entre comboios, mas entre manter a actual rede de bitola ibérica ou substitui-la progressivamente por uma rede de bitola internacional. O que importa ressaltar é a necessidade absoluta de meter Portugal na rede europeia de bitola internacional (dita europeia), substituindo de forma planeada e faseada toda a sua a actual rede de bitola ibérica, a qual, a partir de 2020, deixará pura e simplesmente de poder ligar-se à rede AV/VE nacional, bem como a qualquer ponto da rede ferroviária espanhola — e portanto ao resto da União Europeia!

É isto que está em causa. E se virmos bem, a dimensão gigantesca deste desafio daria para colocar a economia portuguesa num ritmo completamente diverso do actual marasmo especulativo das actividades de import/export, de subsídio-dependência canina e de assalto nepotista e partidário às Finanças Públicas. Diferente para melhor, sobretudo se regressasse a Portugal a indústria ferroviária (como propõe Gabriel Órfão Gonçalves). Uma indústria não apenas focada no hardware, mas também no software, no desenho e nas ideias!

O mais recente livro de Jeff Rubin, Why Your World Is About to Get a Whole Lot Smaller, fala de um virar da esquina energética. O petróleo acima dos 100 euros regressará em breve (2011-12), e com esse regresso, sem comboios eléctricos ficaremos muito provavelmente atolados no betão que enriqueceu os bolsos dos crápulas que nos têm governado nos últimos 30 anos.
"We will see triple digit oil prices very early into an economic recovery"

"I expect we will be there within 12 months."

"By 2012, we will either be in a world of $200 per barrel oil or we will be back in another oil-induced recession."

"West Texas Intermediate (the North American benchmark crude) is trading over $70 per barrel in the shadow of the American economy's deepest post-war recession when there is little evidence yet of a concrete economic recovery; yet only two and a half years ago, today's post-recession oil price was an all-time record high."


NOTAS
  1. AV: Governo avança com mais duas linhas

    Afinal, não serão três mas cinco as linhas de Alta Velocidade que o novo Governo se proporá concretizar. Aveiro-Vilar Formoso e Évora-Faro-Huelva também deverão avançar. [...]

    O Aveiro – Viseu – Vilar Formoso é defendido por todos quantos entendem que essa será a forma mais directa de chegar à Europa trans-pirenaica sem passar por Madrid. E também em função de ser o corredor da actual A25 a principal via para o tráfego de mercadorias à saída de Portugal. Transportes&Negócios.

    AV: Privados “obrigados” a reduzir riscos do Estado

    As propostas concorrentes à concessão do troço Poceirão-Caia da linha de AV Lisboa-Madrid implicavam demasiados riscos para o Estado, considerou a comissão de avaliação. Os privados corrigiram-nas e em meados de Novembro deverá ser confirmado o vencedor anunciado: o consórcio Elos (Brisa/Soares da Costa).

    “Medíocres” terá dito a comissão de avaliação das propostas apresentadas pelos concorrentes à primeira PPP da Alta Velocidade nacional, quanto aos riscos técnico-financeiros, avança hoje o “JdN”. Em causa condições que aumentariam “o risco do Estado de forma que o júri entende ser inaceitável na contratação da parceria, não podendo ser recomendado ao Governo que as aceite, quaisquer que sejam as circunstâncias”.

    Um exemplo: ambos os concorrentes finalistas pretenderiam que o Estado avalizasse por 20 anos o empréstimo de 300 milhões de euros que será contratado pelo futuro concessionário junto do BEI. O júri entende que essa exposição só será aceitável durante o tempo de construção, e não pelo período de manutenção da linha.

    Ao que o “JdN” avança, ambos os consórcios terão aceite emendar as suas propostas até à passada sexta-feira, último dia possível. E assim tudo se encaminha para que a concessão seja entregue ao consórcio Elos.

    O agrupamento liderado pela Brisa e Soares da Costa propõe um custo de construção de 1 359 milhões de euros e um encargo anual de manutenção de 12,2 milhões de euros. Já o consórcio Altavia, liderado pela Mota-Engil, propõe 1 334,2 milhões e 18,8 milhões de euros, respectivamente. Transportes&Negócios.

  2. Aeroportos perdem 1 milhão de passageiros em 2009

    Dados da ANA mostram que os aeroportos portugueses continuam a sentir os efeitos da crise. Nos primeiros nove meses do ano passaram por Lisboa, Faro, Porto e Açores menos 1 milhão de passageiros. Económico (26-10-2009)

  3. O não uso pela TAP das mangas disponíveis (que ligam directamente os aviões, passageiros e bagagens aos terminais) é um dos maiores e mais incompreensíveis constrangimentos à boa gestão do aeroporto da Portela. A verdadeira razão da não utilização das mangas na Portela deve-se ao conflito de interesses entre a ANA, a Groundforce e a TAP! E o grave deste bloqueio é que tem trazido água ao moinho mentiroso dos defensores da Ota em Alcochete, em nome do falacioso, ou melhor, completamente falso argumento do esgotamento da Portela. Ler a propósito este elucidativo PDF de Rui Rodrigues.


OAM 642 26-10-2009 18:33 (última actualização: 28-10-2009 11:31)