Não, não podemos ser os chineses (pobres) da Europa!
A histeria anti-germânica do PS, partido acarinhado e financiado durante décadas pelos social-democratas alemães, é mais um tiro na testa dos portugueses dado pelas agora histéricas criaturas dependentes da tríade de piratas que assaltou o PS e Portugal e nos conduziu à bancarrota. Sim, se a Alemanha der ouvidos à retórica recente de Mário Soares, e à verborreia febril da funcionária cor-de-rosa Ana Gomes, acabando por nos deixar resvalar para fora da moeda única europeia, o nosso país perderá literalmente a face, tornando-se mais um estado pária dos muitos que preencherão a geopolítica do futuro. Eu só compreendo as palavras de Mário Soares como um táctica negocial — mas é tarde para isso, além de que foi esta mesma espécie de chantagem europeia o estratagema usado sem vergonha por Sócrates ao longo dos últimos três anos e meio.
É difícil passarmos a ser os chineses (pobres) da Europa, se formos expulsos do euro. E isto por quatro razões básicas:
- a nossa dívida tornar-se-ia muito mais pesada e porventura eterna...
- o que exportamos bem (têxteis, calçado e máquinas/utensílios) já o fazemos apesar da valorização do euro face às demais moedas mundiais;
- mas como precisaremos sempre de divisas fortes para comprar a energia que move a nossa economia e o país em geral (petróleo, gás e matérias primas, nomeadamente alimentares), a saída de Portugal do sistema monetário europeu acabaria por destruir o sector exportador, tornando impagável a nossa gigantesca dívida colectiva;
- estamos a perder população e a envelhecer..., o que somado a uma desvalorização de 50% ou mais da nossa economia, e a não conversão automática da nossa futura moeda fraca, mergulharia o país numa espiral inflacionista, emigração em massa e possível guerra civil.
Como no início desta emergência escrevi, não passaremos sem uma taxa de IVA de 25%, pelo menos durante dois ou três anos. Só depois deste aperto inicial, será possível e desejável aliviar progressivamente a carga fiscal, beneficiando os criadores de riqueza e recuperando assim parte do produto indevidamente apropriado por capatazes especados diante de quem bule, burocratas que arrastam os pés por esse país fora entre as onze e as cinco e meia, e pela virtualmente inútil nomenclatura partidária.
Emagrecer o Estado implicará também uma separação de águas radical nos sistemas públicos de educação, saúde, justiça e administração do território. O Estado Social terá que tranformar-se nos próximos três a cinco anos num Estado Essencial — o que não for urgente e estratégico (em suma, essencial) não deve continuar nas mãos do Estado, e deve passar tão rapidamente quanto possível aos domínios da iniciativa privada e das comunidades auto-organizadas (associações, cooperativas e organizações de cidadania). O estado autárquico, por exemplo, depois de uma diminuição drástica do número de municípios (sobretudo nas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto) terá que encontrar inevitavelmente novas formas de financiamento para além das transferências do Estado central e da cobrança de taxas e impostos locais; e para conseguir atingir tal objectivo terá que ganhar constitucionalmente (já na próxima revisão) uma muito maior autonomia administrativa e capacidade de negociação, seja com as comunidades de onde emanam, seja com as irmandades que conseguirem estabelecer pelo país e por esse mundo fora.
Entretanto, persiste a possibilidade de o euro colapsar, seja pela via do regresso das moedas europeias nacionais (uma hipótese, apesar de tudo, inverosímil); seja pela via da emergência de duas bandas no euro: uma banda forte e uma banda fraca. Neste caso, a moeda manter-se-ia a mesma, mas as taxas de juros do BCE seriam diferenciadas consoante o pedinte...., sem que, ao mesmo tempo, os bancos nacionais e os governos pudessem depois repercutir directamente o preço caro do dinheiro em taxas de juro nacionais, regionais ou locais.
Ou seja: se é verdade que a sobrevivência do euro está em causa, esta dependerá menos da diminuição do espaço euro, do que do seu alargamento (nisto a Alemanha teve e continua a ter razão) e, sobretudo, da aceitação por todos os países que quiserem permanecer nesta zona monetária, de um verdadeiro governo económico europeu — o qual passará a vigiar directamente as contas públicas de todos os seus membros, nomeadamente através dum mecanismo de aprovação/rejeição europeia dos orçamentos de estado. Por menos do que isto não vamos a parte alguma.
É verdade que a especulação tonou conta do mundo. É verdade que o buraco negro dos chamados derivados financeiros equivale a mais de dez vezes o PIB mundial. Mas nada disto diminui o fundamental: os Estados Unidos e a Europa vivem acima das suas possibilidades há pelo menos trinta anos. Nós, portugueses, vivemos acima das nossas possibilidades, pelo menos desde que a última árvore das patacas inundou o país de riqueza que não criámos, que outros criaram por nós e que agora, legitimamente, querem ver retribuída.
O discurso anti-germânico, sobretudo vindo dum partido que acaba de realizar um congresso proto-fascista, é preocupante.