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domingo, novembro 23, 2014

José Sócrates e as tentações de Santo Antão

Lovis Corinth. Tentações de Santo Antão (1908)

A maldição de Santo Antão da Barca


Consta que há uma lenda em Santo Antão da Barca segundo a qual quem afronta o princípio filosófico da pobreza do Anacoreta egípcio e pai de todos os santos, Antão do Deserto, é severamente punido, sobretudo se o pecado for a soberba e a luxúria.

A verdade é que desde que José Sócrates, António Mexia, Manuel Pinho e o então presidente da câmara de Torre de Moncorvo, Aires Ferreira, confraternizaram em nome da destruição do Rio Sabor, para nele mandarem edificar uma barragem inútil (ver vídeo), o referido autarca do PS matou a mulher e suicidou-se, Manuel Pinho viu a sua vida andar para trás desde a cena dos chifres na AR até ao humilhante downsizing do seu vencimento no ex-BES, e José Sócrates foi preso no dia 21 de novembro de 2014 sob suspeita de vários crimes de corrupção. Só falta a Mexia ter que explicar a trapalhada das barragens e a compra das ventoinhas à Goldman Sachs para ser severamente atingido pela maldição do Eremita cuja imagem foi roubada do sítio onde esteve mais de duzentos anos, e a capela em sua homenagem removida do lugar e do caminho histórico de Santiago.

Só há corrupção se a política deixar

As pessoas têm que perceber uma realidade simples: não há corrupção, pelo menos na escala pandémica que atingiu o nosso país, que não seja fruto da própria política.

Nas ditaduras a corrupção é controlada policialmente pelos corruptos que são poder, determinando quem pode e quem não pode partilhar o saque dos cidadãos.

Em democracia, porém, a corrupção em larga escala só funciona sem problemas se houver muita riqueza para distribuir, ou seja, se houver riqueza suficiente para alimentar ao mesmo tempo a pequena corrupção que alastra a 25% ou mais da população, e a grande corrupção promovida por menos de 0,1% da população, normalmente distribuida por três setores: políticos, banqueiros e empresas piratas. Quando, porém, a economia entra num ciclo recessivo prolongado, a lógica da corrupção em democracia colapsa, pois deixa de haver margem para tal. A austeridade e o desemprego fustigam progressivamente mais de 90% da população, as classes médias são ameaçadas de extinção ou metamorfose dolorosa e, por fim, as próprias elites vêm-se envolvidas numa guerra fratricida incontrolável. É o que está neste momento a acontecer.

Ciclicamente a história parece repetir-se, com laivos bíblicos e até mitológicos.

Santo Antão da Barca foi levado por ladrões

Santo Antão da Barca foi roubado do seu altar onde se encontrava há pelo menos duzentos anos.

[...]

O Santuário de Santo Antão da Barca ainda nos dias de hoje possui um grande significado religioso, etnográfico e cultural, mas é nos finais do século XIX e durante quase todo o século XX que o sítio granjeia um significado especial entre a população que vive nas aldeias implantadas nas imediações do vale do Baixo Sabor.

Esta importância cultural, etnográfica, religiosa e social foi mesmo invocada pelos ambientalista e todos aqueles que se opõem à construção de uma barragem no rio Sabor, como mais um argumento para ajudar a obstar a sua construção.

O santo foi roubado após o arrombamento das portas, que tudo indica, foram forçadas com um pé de cabra.

As autoridades policiais já estão a investigar o furto.

Notícias do Nordeste, 13/6/2007
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Obras da EDP impedem festividades de Santo Antão da Barca junto ao rio Sabor

Alfândega da Fé, 14 jun (Lusa) - A presidente da Câmara de Alfândega da Fé anunciou hoje que o atraso na trasladação do santuário de Santo Antão da Barca levará a que as tradicionais festas de setembro não tenham lugar naquele templo.

O santuário situado na margem direita do rio Sabor, está a ser transferido para nova localização pela EDP, dado que o seu local tradicional vai ficar submerso após a conclusão da barragem do Baixo Sabor.

Visão, 10:06 Sexta feira, 14 de Junho de 2013
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Memorial perpetuará Santuário de Santo Antão da Barca

D. José Cordeiro presidiu esta tarde à bênção do memorial - uma cruz aberta, em granito - que perpetuará a memória do espaço que acolheu, ao longo de mais de 200 anos, uma das maiores romarias da região transmontana – o santuário de Santo Antão da Barca, espaço que vai ficar submerso pela barragem do Sabor.

RR, 17-01-2014 18:18
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sábado, maio 31, 2014

O lobo Mário e o cordeiro Tozé


O bonzo-mor do PS defende na praça pública o assassinato político e o golpe de estado, como um vulgar estalinista do século passado. Ao que esta criatura chegou. Paz à sua alma democrática perdida!


Mário Soares:

“...a “grande vitória” anunciada por Seguro foi uma vitória de Pirro. Que não pode deixar de desagradar aos socialistas a sério que tenham uma ambição para lá de ganhar eleições (...).

Impõe-se, mais do que nunca, uma política corajosa que faça a ruptura com a direita e com as políticas da direita.

Ainda bem que António Costa resolveu disponibilizar-se e que avançou para se bater pelo PS. Para que o PS seja um partido de esquerda e se bata em favor do povo contra a direita que o tem oprimido. Foi um acto de grande coragem que faz esquecer as hesitações do passado.

Felicito-o e apoio-o. Acho que nos vai fazer permitir que o nosso querido PS, do punho erguido à esquerda e dos socialistas que não têm medo de ser tratados por camaradas, se mobilize para construir um futuro diferente” — in Público, 29/5/2014.
António José Seguro:
[...] o partido e a democracia portuguesa vivem uma situação única, com uma contestação a um líder que ganhou duas eleições e está legitimado democraticamente. De acordo com fonte oficial socialista, esta posição foi transmitida por António José Seguro logo na intervenção de abertura da reunião — in  Assis: “Não sou nenhum troca-tintas”, 15:52 Observador, 30/5/2014.

Não se conhece António Costa pelas ideias, mas ficámos a saber que desta vez vai obedecer ao Tio Mário. A castanha, porém, poderá estourar-lhe na boca. A criatura Costa é ambiciosa, mas de líder partidário nada tem. Logo, o mais provável é o atual presidente da autarquia lisboeta perder mais este confronto com António José Seguro, seminarista que conhece bem as manhas com que se tece uma máquina partidária, e que teve, inesperadamente para muitos, nestas eleições europeias, uma janela de oportunidade em matéria de governabilidade à esquerda da atual coligação: Marinho Pinto (1).

Foi, aliás, isto mesmo que Mário Soares farejou imediatamente, e o que fez tocar o telemóvel do Costa, com a abrupta ordem de marcha! Acontece que esta nova tentativa de remover à bruta o atual líder eleito do PS, pela forma imposta por Mário Soares, mas sobretudo pela corja que representa, a ter sucesso, representaria o regresso ao passado do PS, e não a tentativa, titubeante, é certo, de renovar o partido que levou o país à falência.

O erro de António José Seguro foi, como então aqui se escreveu, não ter criticado abertamente Sócrates, assumindo as culpas do PS na situação desgraçada a que chegámos, mas prometendo ao mesmo tempo emendar os erros e inovar a praxis 'socialista'.

E no entanto, o Tozé ganhou mesmo as eleições!

Vejamos os resultados das eleições europeias em 2009 e 2014 no que toca aos níveis de abstenção e aos resultados dos partidos do arco governamental:

Abstenção — 2009 | 2014
  • 63,22% | 66,16%

PS — 2009 | 2014
  • 946.818 (26,53%) | 1.033.110 (31,46%)

PSD+CDS — 2009 | 2014
  • 31,7%+8,36% (40,06%) | 27,71%

Tal como na fábula do lobo e do cordeiro, o Tozé é culpado de não ter "ambição para lá de ganhar eleições". E o que é extraordinário e acresce à frase inconcebível do senhor Soares, é que atrás desta profissão estalinista de fé se perfile já uma bicha de energúmenos ideológicos para quem só conta o que conseguem sacar ao tacho do regime.

O PS de Seguro teve mais 4,93% do que Sócrates. E a coligação de governo teve menos 12,35%. Como é possível apear um líder partidário com estes números. Que dizer então de mon ami Hollande?!!!

Do ponto de vista formal, Seguro tem a lei e a lógica do seu lado. Do ponto de vista político, tem 40 mil novos militantes e uma geração de jovens dirigentes que só com ele poderão medrar. Finalmente, do ponto de vista democrático, António José Seguro tem um partido novo (o MPT) com o qual se poderá coligar em caso de vencer as próximas legislativas. Foi isto que fez Soares saltar do sofá!

Na realidade, o que se vai passar no PS é irrelevante para o país. Importante, importante, é saber como irão evoluir o MPT e António Marinho Pinto.

Sobreviverá o inseguro Seguro à incumbência imposta por Soares a António Costa? Serão os jovens turcos do PS assim tão fracos? Amanhã saberemos.

PS: Qual a solução que convém mais à coligação governamental? A manutenção do Tozé, ou um António Costa inspirado pela transfiguração estalinista de Mário Soares? Creio que o Passos de Coelho vai ajudar o Tozé!

NOTAS
  1. Todos percebemos que a atual coligação poderá até ganhar as próximas eleições, mas está tão acossada pela realidade, que dificilmente sobreviverá a nova legislatura. Por outro lado, a possibilidade de o PS arrancar uma maioria absoluta nas próximas eleições legislativas não existe. Que alternativas restam, então?

    Se não houver novidades na frente partidária, o PS, se ganhasse as próximas eleições, teria que aliar-se ao próprio partido derrotado, PPD/PSD, pois a formação de um governo com o PCP estaria sempre fora de causa, e o Livre não é galinha que voe.

    Esta grande aliança, ou governo de emergência nacional, sob a canga insuportável do serviço da dívida e de uma dívida que continua a crescer, teria, porém, o grave inconveniente de propiciar o aparecimento de alternativas radicais e populistas cada vez mais atraentes, à esquerda e à direita.

    É aqui que o joker Marinho Pinto e  MPT aparecem como a carta fora do baralho que poderá propiciar uma alternância renovada no sistema político português, com a inevitável revisão da atual Constituição que, como está, imobiliza o país de tal forma que as possibilidades de sairmos do buraco da dívida se esfumam a cada dia que passa, abrindo caminho a um muito perigoso fascismo fiscal.

    Como é bom de ver, se for António José Seguro a protagonizar estes desenvolviemntos, adeus soarismo, adeus socratismo, adeus velha guarda maçónica do PS. Se, porém, o Costa fizer o que lhe mandaram, e tiver sucesso, o pior do 'socialismo' indígena triunfará. Ou melhor, Marinho PInto triunfará, sobre o campo de batalha de um partido, o PS; que há muito perdeu a bússola da estratégia, da honestidade, da coragem e do bom senso.
Atualizado: 31/5/2014 10:12

sábado, outubro 19, 2013

O regresso de Sócrates

José Sócrates cumprimenta Dilma Rousseff, mas... pensava em Lula.

Não há fumo sem fogo

JOSÉ SÓCRATES, sobre o Freeport: “Quem estava a pedir esse dinheiro (ao meu tio) era um gabinete de advogados ligados ao PSD e muito próximos do doutor Santana Lopes, prometendo o licenciamento por um preço.” !!!

Se esta e outras revelações feitas pelo antigo primeiro ministro a Clara Ferreira Alves são verdade, não fica pedra sobre pedra da corja parlamentar que vai do CDS/PP e PSD ao PCP e Bloco. Enfim, o PS sentado na AR era parte interessada, e por isso é obviamente poupado pelo seu antigo SG nesta entrevista.

O PEC-4, que pelos vistos fora meticulosamente negociado por José Sócrates com Angela Merkel, Durão Barroso e o BCE, foi chumbado por uma coligação geral, da extrema-esquerda à direita parlamentares (BE+PCP/PEV+PSD+CDS/PP), dando passo imediato à queda do governo e à entrada da Troika em Portugal. Se foi como Sócrates relata, esta revelação vai ser, de ora em diante, explorada com mestria a favor do antigo PM, afinal a única criatura política que tentou evitar a desgraça em que agora estamos e que vai piorar ao longo de 2014 e 2015!

Esta entrevista, que foi intensamente promovida —ao ponto de ser citada e defendida de forma dissimulada por Miguel Sousa Tavares no artigo que publica na mesmíssima edição do Expresso (percebendo-se que a leu antes de redigir o seu texto)—, vem na sequência do programa dominical que José Sócrates mantém na RTP e faz claramente parte de um plano: regressar ao poder assim que a casa em ruínas que é neste momento o desgoverno do Jota Passos Coelho se desfaça de vez. Força Arménio!

Só não percebi ainda se José Sócrates tenciona derrubar o seminarista Tó Zé, antes, ou depois da queda de Passos Coelho...

Creio que a hora dos jovens turcos e da jovem turca do PS chegou!

Será isto, ou outra coisa?

Bastou-me ouvir a entrevista dada pela ministra das finanças ao José Gomes Ferreira no Sábado passado, para perceber que este governo talvez passe o Natal deste ano no poleiro, mas não chegará vivo ao próximo. Não trataram do desmantelamento do paquiderme partidário que inchou o aparelho de estado, nem afastaram do orçamento os rendeiros, no início do programa da Troika, como foi recomendado. Agora, apesar de Victor Gaspar ter reconhecido o fracasso e sobretudo a sua incapacidade de se opor ao regime devorista, a coligação mantém-se, mas em estado terminal, à espera de um golpe de graça qualquer. Há quem diga que espera uma catanada providencial do dito Tribunal Constitucional. Com ou sem catanada, o seu destino está traçado e será curto.

Ironicamente, o PS aguarda que todo o trabalho sujo em matéria de redução do estado e diminuição radical dos rendimentos do trabalho seja realizado pelo governo em funções até às próximas legislativas. Depois, o próximo governo atacará os grandes rendeiros do regime e começará a aliviar lentamente o sofrimento do povo. Se for assim, a direita bem pode emigrar, pois ficará sem país durante umas boas décadas.

Coloca-se, entretanto, um problema: quem sucederá ao Passos Coelho? Seguro? Mas como?!

E que acontecerá ao PSD e ao partido do táxi? A minha previsão é que desapareçam do mapa, acompanhados pelo Bloco de Esquerda. Enfim, talvez não desapareçam de vez, mas ficarão numa tal fragilidade que o vazio gerado tenderá a ser ocupado por uma reorganização partidária do país.

Toda esta balbúrdia mais ou menos inevitável criará o caldo de cultural ideal para o regresso de uma personalidade forte como a de José Sócrates. A princípio, a coisa parecerá óleo de fígado de bacalhau. Mas depois de provado o inferno que este governo ainda nos reserva, muitos preferirão o remédio que dá vómitos à morte prematura.

A presença de Lula vai certamente dar o mote!

quarta-feira, maio 01, 2013

Swapilândia cor-de-rosa

Carlos Costa Pina transitou do governo de Sócrates para a Ongoing (i Online)

É enorme a responsabilidade da Esquerda no colapso de Portugal

Perdas nos "swaps" cresceram para 2.840 milhões de euros

No final do ano passado as perdas potenciais com instrumentos de cobertura do risco de taxas de juro, nas empresas públicas, chegaram aos 2.840 milhões de euros. Um agravamento de 183,2 milhões nos últimos três meses de 2012. Esta é a fotografia oficial mais actualizada da "caso dos 'swaps'" — in Jornal de Negócios.

Portugal demorará 25 anos a ter dívida abaixo de 60% do PIB

Segundo o Documento de Estratégia Orçamental (DEO), entregue hoje na Assembleia da República, Portugal terá uma dívida pública dentro dos limites dos Tratado de Maastricht apenas em 2037, ou seja, dentro de 25 anos — in Jornal de Negócios.

Os derivativos são, por definição, veículos sem controle!
Da Caixa Geral de Depósitos ao BCP, passando pelo BPI, Santander-Totta e BES, há segredos que precisam de ser revelados quanto antes. Como irá o governo continuar a financiar as dívidas pública e orçamental? Haverá quem nos empreste dinheiro suficiente para acedermos aos fundos do QREN? O ciclo eleitoral que se avizinha não podia ser pior conselheiro para a malta irresponsável dos partidos. Vai ser uma procissão de perigosas baboseiras — in O António Maria, 29 set 2008.

Como já se temia, e no fundo se sabia desde 2008 (alertámos então para a bomba-relógio), PSD, e sobretudo o PS de José Sócrates, enterraram o país em derivados especulativos (1).

O ‘socialista’ António Vitorino, presidente da AG do Santander-Totta, e o ‘socialista’ Carlos Santos Ferreira, que transitou em 2005 da Estoril-Sol (de Stanley Ho) para a Caixa Geral de Depósitos (até 2008), devem explicações ao país. E António José Seguro tem que tirar a cabeça da toca onde a enfiou durante todo o congresso, e vir a terreiro explicar qual é a posição do Partido Socialista sobre este monumental escândalo. Quer ou não o candidato a primeiro-ministro saber o que se passou? Exige ou não o apuramento de responsabilidades? Está ou não disposto a retirar todas as consequências desta monumental irresponsabilidade cometida por camaradas seus no anterior governo?

O Bloco Central, da estupidez, da irresponsabilidade, da endogamia, da ganância e da corrupção é o principal culpado do colapso do país, em associação ilegítima e frequentemente criminosa com os ‘banksters’, os rendeiros, as corporações (patronais, profissionais e sindicais), e a nomenclatura nepotista e partidocrata do regime. Os 90% de portugueses que o regime pretende continuar a sangrar, se possível mesmo, com mais intensidade, apenas cometeram um pecado: confiar nas promessas eleitorais de uma partidocracia populista aparentemente inimputável.

Temos que colocar um ponto final a esta destruição criminosa do país.

Como? Separando as águas, identificando claramente os responsáveis, nomeadamente do PSD, do CDS-PP, do PS, do PCP, do Bloco, da Intersindical e da UGT, com responsabilidades no endividamento aventureiro dos portugueses, e organizando a resistência democrática ao que nos espera (se nada fizermos) ao longo de toda esta década e da próxima: a maior espoliação de que há memória das poupanças e haveres da esmagadora maioria dos portugueses.

Partidos e bancos, ambos falidos, olham para as casas, quintas e quintais dos portugueses, olham para os seus pinhais e micro-empresas, olham para as suas poupanças, com uma gula nunca vista. Se deixarmos, roubarão tudo!

A Esquerda (do PS ao PCP, passando pelo Bloco) não assumiu até agora, por cobardia e populismo, as suas graves responsabilidades no buracão recentemente revelado dos swap especulativos encomendados por José Sócrates aos banqueiros piratas, indígenas e internacionais. O grosso dos contratos teve lugar entre 2005 e 2011, e o grosso dos contratos especulativos foi cozinhado e realizado entre 2009 e 2011. Que é preciso saber mais para colocar o DCIAP atrás dos mandantes destas operações de entrega do tesouro nacional e da nossa soberania a especuladores profissionais e países terceiros?

Em vez de assumir os erros, e demarcar-se frontalmente dos ladrões, a Esquerda barafusta e corre como uma barata tonta atrás de fantasmas, pretendendo assim lançar uma onda de ruído sobre a realidade.

Os portugueses pagam cada vez mais por cada vez menos e piores transportes públicos, pagam as greves do senhores maquinistas do Estado, e agora pagam também com língua de pau os lucros especulativos do Santander-Totta, da Caixa Geral de Depósitos, do JP Morgan, da Goldman Sachs e de outros ‘banksters’ do género.

Os portugueses pagam, assim, a socialização dos prejuízos e dos roubos, na forma de desemprego em massa (que vai chegar em breve ao funcionalismo público), em perdas de salário, de reformas e de  subsídios, na deterioração rápida dos serviços sociais, tudo isto, em grande parte, cortesia da imprestável Esquerda que temos.

Não foi precisa nenhuma Direita para desgraçar o nosso país. Bastaram os oportunistas de abril.

O problema destas perversões populistas têm, porém, um preço trágico: costumam terminar em ditaduras. Para já estamos a caminho de uma ditadura fiscal — diria mesmo, de uma espécie de fascismo fiscal :(

Temos uma democracia capturada pelos bancos, pelas corporações e por uma oligarquia partidária. O resultado desta captura, ao fim de três décadas, chama-se bancarrota. Para evitar a sua consumação trágica aceitámos subscrever um acordo humilhante com os credores. No entanto, a coligação PSD-CDS/PP cumpriu apenas metade do Memorando assinado com a Troika, exagerando nos impostos e em cortes cegos na despesa pública, sem praticamente atacar a despesa estrutural onde a mesma deve cessar de vez, e sem beliscar sequer os grandes rendeiros do regime, da EDP à Portugal Telecom, passando pela Mota-Engil, Grupo Mello e BES.

Mas o pior ainda está para vir! 

Se deixarmos a Esquerda populista que conduziu o país à falência regressar ao poder, nomeadamente por demérito e falta de coragem da coligação saída das últimas eleições, o que a Esquerda fará, sobretudo depois de reunir à sua volta toda a nomenclatura oportunista e corrupta do regime, será certamente continuar a expropriar as poupanças dos 90% de portugueses que não vivem de impostos, mas pagam imposto por tudo e por nada.

As classes médias e os pequenos proprietários urbanos e rurais serão em breve as presas ideais deste regime falido. Pela via fiscal, e pela via bancária, a corja instalada roubará tudo o que puder. E a maior burla de todas é esta: tentará fazê-lo, em nome, dirão, da preservação das conquistas de abril e do estado social!

Nunca Portugal esteve tão perto de se transformar num estado falhado e chupado até à medula pela corrupção. É isto que queremos? Não. Mas então é preciso dizer basta!


POST SCRIPTUM

A propaganda da economia
Bubble Symmetry and Housing. By Charles Hugh Smith of two minds.

Hmm, what would have happened if the Federal Reserve hadn't dumped trillions of dollars into the mortgage market, and the Federal housing agencies hadn't subsidized mortgages and housing with 3% down payments and tax credits?

O colapso da bolha imobiliária americana tem sido sustada por intervenções maciças da FED. Até quando, pergunta Charles-Hugh Smith?

Também em Portugal e no resto da Europa a queda livre dos preços do imobiliário tem sido travada pelos bancos em geral (resistindo a rever os valores dos seus ativos imobiliários) e pelo BCE em particular, à custa da extensão das maturidades das dívidas soberanas e de doses criminosas de austeridade (cuja designação técnica é 'consolidação fiscal'), destinadas a diminuir os défices e as dívidas soberanas.

Acontece que o sistema financeiro euro-americano está viciado em duas coisas: especulação com derivados OTC (sobretudo com taxas de juro e câmbios) e crédito aos governos. Ou seja, apesar da contração da procura de crédito por parte dos especuladores (em período de defeso) e dos governos (em período de defeso), o aperto no crédito à economia (sobretudo às empresas) continua violento como dantes. Os bancos preferem colocar o excesso de depósitos e os próprios empréstimos do BCE a render, por vezes a juros negativos, no mesmo BCE. É por isto que o discurso sobre a economia, o emprego e o crescimento não passa de propaganda populista — tanto do lado da Oposição, como do lado do Governo.

Como temos visto, as grandes empresas e bancos indígenas, depois de colocarem as sedes de holdings e veículos especulativos na Holanda, andam desesperadamente à procura de paraísos de exploração (a Colômbia é a Gata Borralheira du jour) para onde possam exportar paulatinamente os seus negócios... antes do colapso final :(

Comentário sobre afirmação (verdadeira) do PM

O primeiro-ministro sublinhou hoje que "em democracia" o país "nunca conseguiu registar um excedente orçamental" e que não é possível "cumprir obrigações e respeitar compromissos sem diminuir a despesa" e que quem o defende faz "demagogia" — in Jornal de Negócios.

Há verdades que pesam como chumbo sobre o estado a que chegámos. E a principal conclusão a retirar é que todos nós, mas em particular a oligarquia do regime, com os seus partidos populistas, as suas corporações egoístas, os rendeiros de sempre e os ladrões de ocasião, que proliferaram como coelhos em toda a parte, são responsáveis pela pré-bancarrota do país, pelo inevitável e doloroso ajustamento que temos pela frente para mais de uma década.

Os erros do governo de coligação são, porém, evidentes e para os mesmos chamámos reiteradamente a atenção dos leitores. No essencial, Passos Coelho e Gaspar não seguiram a receita, mais equilibrada, da Troika: ajustar pelo aumento da receita e ajustar pela diminuição da despesa, ao mesmo tempo, atacando frontalmente os lóbis financeiros, económicos e corporativos. Preferiram uma forma inaceitável de fascismo fiscal. Poderão cair por este imperdoável erro de avaliação. E o país, se tal ocorrer, descerá um nível mais na degradação do regime e na injustiça.


NOTA
  1. Especulação com taxas de juros (Swaps e Credit Default Swaps): mais de dois terços do mercado especulativo de derivados OTC (não regulamentados, nem supervisionados) está concentrado, precisamente, na especulação com taxas de juro. É por aqui que os cinco 'banksters' que controlam 95% deste mercado (JPMorgan, Bank of America, Citi, Goldman Sachs e HSBC), sangram os países. É por aqui que nasceu a grande especulação destes banksters com as dívidas soberanas americana e europeia. Para aceder a vários textos aqui publicados sobre estes produtos especulativos basta pesquisar em 'derivados OTC'.

    The interest rate derivatives market is the largest derivatives market in the world. The Bank for International Settlements estimates that the notional amount outstanding in June 2009 [1] were US$437 trillion for OTC interest rate contracts, and US$342 trillion for OTC interest rate swaps. According to the International Swaps and Derivatives Association, 80% of the world's top 500 companies as of April 2003 used interest rate derivatives to control their cashflows. This compares with 75% for foreign exchange options, 25% for commodity options and 10% for stock options — in Wikipedia.
Última atualização: 1 de maio de 2013, 20:31

domingo, abril 28, 2013

Seguro: obrigado, Cavaco!



Vai fermoso e mais seguro


O secretário-geral do PS já está em campanha eleitoral. O encerramento do XIX Congresso socialista assinalou para António José Seguro uma nova fase. Avançou com propostas políticas, anunciou os seus Estados Gerais e pediu uma maioria absoluta para formar Governo. Mas garantiu que, devido ao “estado de emergência” do país, mesmo com maioria absoluta, fará coligação governativa. Público, 28 abr 2013.
A unidade do PS não foi total. Fora dos 251 eleitos para a Comissão Nacional, o órgão máximo entre congressos, ficaram deputados da chamada ala socrática, como Fernando Serrasqueiro, José Lello ou André Figueiredo. Jornal de Negócios, 28 abr 2013.
A negociação para a elaboração da lista única para a Comissão Nacional acabou já o sol nascia. O que se julgava ser um processo relativamente fácil, uma vez que se tratava de uma lista única - marca da imagem de unidade com que o PS quer sair de Santa Maria da Feira -, foi uma dor de cabeça ainda maior do que manda a tradição. Expresso, 28 abr 2013.

António José Seguro comprou um seguro de vida chamado Pedro Passos Coelho. E deve a sua salvação de uma cruel execução partidária, por incrível que pareça, à criatura de Belém. É simples de entender, não é? Não? Ora vejamos:

  • A crise da coligação agrava-se sob o impacto da austeridade, a qual permite a formação de uma verdadeira fronda (incluindo personagens de todos os partidos do leque parlamentar, ex-presidentes da república, sindicatos, entidades patronais, corporações, o manipulado movimento Que se Lixe a Troika! e até o próprio Presidente da República) para derrubar o governo, apesar da sua legitimidade e da sua maioria.
  • José Sócrates instruiu António Costa para derrubar o Tó Zé num congresso antecipado, apostando na queda a curto prazo do governo. “Qual é a pressa?”, perguntou o aterrorizado secretário-geral do PS. Foi a crise de 23-30 de janeiro de 2013.
  • António Costa, um aparachic de compêndio, recua à última da hora, tendo supostamente negociado a permanência das tropas de José Sócrates em lugares-chave do partido (viu-se hoje que a garantia não era muito forte).
  • José Sócrates, impaciente, decide aterrar na RTP a 28 de março, passando deste modo inopinado ao ataque — um ataque, percebe-se agora, desesperado.
  • O previsível chumbo do Orçamento pelo Tribunal Constitucional, que viria a ocorrer a 5 de abril, é o gatilho que supostamente ditará o fim da coligação, nomeadamente por iniciativa de Cavaco Silva, recolocando o PS no centro da cena política.
  • Entretanto, o fiasco de Chipre e a chegada em força da crise financeira, nomeadamente associada às dívidas soberanas, a países como a França e Holanda, vai forçar uma flexibilização no discurso alemão e um abrandamento das exigências por parte da Troika, nomeadamente na Irlanda e em Portugal — há quem tenha cheirado isto mesmo, a tempo...
  • Por um lado, o economista presidente percebeu o que iria ocorrer depois do fiasco de Chipre, e por outro, ficou assustado com o ataque desferido por José Sócrates na entrevista à RTP e reiterado no primeiro programa da série que contratou com o infeliz Miguel Relvas (um erro colossal, certamente resultante de um conselho crasso… de quem?)
  • O Tribunal Constitucional chumba parte do Orçamento, como previsto; agrava-se a crise política; o Primeiro Ministro dirige-se a Belém, como aqui recomendámos, e exige uma clarificação de Cavaco Silva. Terá dito algo parecido com isto: Senhor Presidente, ou fica comigo ou vai ter que aturar o Sócrates. Qual prefere?!
  • Cavaco decide o que era expectável em face dos dados disponíveis, e numa breve nota enviada à imprensa assassina politicamente José Sócrates, garante estabilidade presidencial ao governo (agora só mesmo o frágil Portas poderá derrubar o governo), e lança uma inesperada rede de salvação a António José Seguro!
  • A 13 de abril confirma-se o que já se esperava, sobretudo depois das declarações de Durão Barroso na sequência do chumbo do Tribunal Constitucional: Vítor Gaspar consegue mais tempo e até o horizonte de um pequeno perdão nos juros devidos da parte do BCE (cortesia de Mario Draghi, que Vítor Constâncio anunciou urbi orbi).
  • No dia 25 de abril o Presidente da República garante solenemente a estabilidade constitucional à coligação, adverte o PS sobre a rigidez do peso da dívida, e portanto da necessidade de se poder contar com o PS para amplos consensos que venham a ser exigidos no curto e médio prazo, e desanca de forma fria os partidos que andaram nos últimos meses a organizar esperas e cercos ao presidente e a quase todos os ministros do governo.
  • A fronda, em suma, começou a desfazer-se apesar da gritaria e dos murmúrios que ainda se ouvem. A mudança de tom de Arménio Carlos —um pragmático esperto e experimentado— foi um sinal agudo desta mudança.
  • As tropas de José Sócrates e os secretários de Mário Soares montaram um verdadeiro assédio a António José Seguro durante a reunião de Vila da Feira. Este, por fim, acabou por perceber a manobra e respondeu da única maneira que tem para se livrar de José Sócrates: começando a limpar as listas.
  • Como ontem escrevi, o escândalo dos CDS (Credit Default Swap) que rebentou oportunamente na véspera desta reunião magna acabaria por ser a ajuda de Passos Coelho de que o seu amigo Tó Zé tanto precisava, e teve!
  • Dos jovens turcos que escrevem cartas, um, porventura o mais ambicioso e menos comprometido com Sócrates, Pedro Nuno Santos, foi sacrificado no altar dos equilíbrios internos.
Os tempos que aí vêm continuarão a ser muito duros. A crise do sistema político-partidário, neo-corporativista, devorista e populista que arruinou o país está longe de terminar. O processo do regime está em curso, mas em câmara lenta. Muitos chegarão em breve à conclusão de que o tempo de reformar o sistema partidário, sem o que o regime não muda, chegou. Espero que os escrevinhadores de cartas cor-de-rosa a António José Seguro percebam também que só conseguirão preservar a identidade do PS, sem cair na tentação de uma nova dissolução neoliberal nas malhas do poder, se entretanto surgirem novos movimentos políticos arejados e autónomos com vontade de fazer realmente renascer a democracia portuguesa das cinzas em que o Bloco Central a deixou.

Swapgate cor-de-rosa

Estação de Castanheira do Ribatejo, às moscas desde 2006.
Responsabilidade: Refer; construtor: Somague.

Nunca um congresso do PS pareceu tanto uma convenção mafiosa

Há um ambiente estranho no congresso antecipado do Partido Socialista. António José Seguro não diz nada de jeito, olha para o lado, e o lado move-se como uma sombra inquieta pelos corredores e ruelas de Santa Maria da Feira, fazendo uma marcação cerrada às suas palavras, inibindo-o de decidir seja o que for que surja imprevistamente e fora da pauta dos trabalhos de um conclave sem disputa aparente. Cavaco falou, mas António José Seguro teve que esperar pelo congresso para balbuciar umas frases ininteligíveis sobre o assunto, enquanto que, entre o discurso do presidente da república no dia 25 de abril e o congresso, a sombra desmultiplicou-se em declarações bombásticas sobre a criatura de Belém e o novo governo de iniciativa presidencial. Apareceu, entretanto, a notícia de uma carta do novo ministro Miguel Poiares Maduro ao PS solicitando uma reunião. A sombra travou uma vez mais Seguro e acusou imediatamente o Governo de “encenar diálogo” (Expresso, 27 abr 2013), deixando a este último a tarefa humilhante de balbuciar aos jornalistas que a sua resposta (do PS, diz) será entregue na próxima terça-feira (TVI 24). A cereja assassina em cima do bolo dinamitado desta farsa foi oferecida por Sérgio Sousa Pinto:
“[...] o nosso principal problema é de credibilidade. Enquanto não o reconhecermos e não o enfrentarmos enquanto não nos apresentarmos neste país com protagonistas credíveis de mudança e de ruptura estaremos a falhar ao povo português” (i online, 27 abr 2013)

Este congresso Kim Il-sunguiano do PS, que apregoa mais democracia e abertura à sociedade, mas onde apenas vemos um candidato tolhido (os outros dois que tentaram, nem sequer conseguiram ultrapassar a barreira burocrática do partido), não é só uma encenação, mas uma conspiração. As sombras dos idos de março coligaram-se para atar António José Seguro de mãos e pés e deixar espaço livre a José Sócrates. O pobre secretário-geral a prazo está assustado!

O rodopio mediático das tropas de Sócrates e de Soares no congresso do PS contrasta com os discursos medíocres e sem alma dos fracos turcos que escreveram a tal carta aberta ridícula a António José Seguro. E contrasta ainda com a apatia de seita estampada no semblante indigente dos congressistas.

Foi enternecedor ver o jovem Tiago Silveira falar dos desempregados e dos pobres — em nome da tal carta-aberta. Talvez pudesse levar os pobres de espírito deste pais, congressistas incluídos, a passear no Gianzo, um iate topo de gama que comprou ao dono da Tecnovia com empréstimo da CGD (Correio da Manhã, 17 out 2012).

Sinais contraditórios

Ao juntar as peças deste labirinto de sombras ouvimos o coro repetir a cada hora que passa o fim do diálogo com o governo, a necessidade de deitar o governo abaixo, e a radiosa alternativa de esquerda que o PS tem pela frente: “Edite Estrela defende alianças à esquerda para alcançar governo maioritário” (i online, 27 abr 2013). Mas a mesma Edite, madrinha omnisciente do partido cor-de-rosa, afirma no mesmo dia, desta vez ao semanário dum aliado na fronda criada contra o governo de coligação, que “Portas é o político mais poderoso do país” (Expresso, 27 abr 2013), sugerindo que é sua a chave que abre ou fecha a porta à sobrevivência de Passos Coelho. Há aqui uma contradição, pelo menos aparente: afinal com que diabo está o Partido Socialista disposto a coligar-se: Louçã, ou Portas?

Edite Estrela, na realidade, está a defender um futuro governo PS+CDS, mas embrulhado com uma prata populista de esquerda (virtual, claro), para enganar os jovens tolos do PS que devem a sua vida míope a José Sócrates, mas escrevem cartas-abertas a António José Seguro.

Enigma

Tudo isto parece-me lógico. Não entendo, porém, a tensão e a pressa. Qual é a pressa?

Recebi hoje um álbum de fotografias sobre mais um deserto deixado por aí por José Sócrates, à semelhança do aeromoscas de Beja. Trata-se da estação de caminho de ferro, mandada construir pela Refer em Castanheira do Ribatejo, que custou 30 milhões de euros, sumptuosa, inaugurada ainda em obras, que está às moscas desde 2005, e que se tornou por isso um problema de segurança, caminhando para uma rápida deterioração (ler notícias do Mirante aqui, e aqui).

Talvez comece agora a entender o que move a sombra neste soturno congresso do PS. Talvez seja a entrada em ação da parte do Memorando da Troika que até agora foi boicotada, e que por não ter sido cumprida induziu o conhecido exagero nas doses de austeridade. Refiro-me ao ataque às rendas excessivas da corja rendeira, e à renegociação das ditas parcerias público-privadas (PPP). É que depois de Cavaco Silva ter fechado a porta a uma dissolução do parlamento (salvo se o PP abandonar o governo), começou a caça ao legado catastrófico e potencialmente explosivo dos governos de José Sócrates. O regresso de Paris pode ter sido, afinal, apressado e com consequências imprevisíveis.

A procissão dos swaps ainda vai no adro, mas já deu para perceber duas coisas: é um buracão colossal, recheado de má administração e de mais do que prováveis operações ilícitas ou até criminosas.

Vamos ver quem é que no PS, no PCP ou no Bloco quererá investigar o ‘swapgate’. Com tanto namoro hipócrita à esquerda por parte das tropas socratinas e soaristas, vai ser difícil...

As operações swap realizadas pelo Santander-Totta com o governo de José Sócrates começaram em 2005 (Sol, 27 abr 2013). António Vitorino é Presidente da Mesa da Assembleia-geral do Banco Santander Portugal (1998 - 1999) e do Banco Santander Totta desde 2005. Parece-me razoável perguntar-lhe o que tem a dizer sobre este negócio entre o Estado, através de um governo liderado por um colega de partido, e um gigante financeiro privado, onde desempenha uma função de topo. Soube dos swaps?

Esperam-se, pois, muitas cenas e muitos capítulos nesta telenovela de Sopranos. Nada de ilusões: António Costa não passa de uma manobra de distração.

quinta-feira, março 21, 2013

O Sócrates Parte II

Olá! Já tinham saudades, não?

O meu vaticínio: governo PS+CDS em 2014

Já repararam? José Sócrates regressou e tem a sua poderosa máquina a trabalhar, ou não fossem Jorge Coelho e Pedro Silva Pereira duas lagartas imparáveis. Cuidem-se!

Quanto ao zero à esquerda do PS, mais conhecido por Tó Zé, tem o destino traçado: ou aceita ser figura de retórica e decorativa do regresso do PS ao poder, ou terá que ser despachado pela Grande Tríade de Almeida Santos. Democraticamente, claro!

Tudo começou quando o príncipe das trevas mandou o António Costa pisar os calos ao infeliz líder que sucedeu a José Sócrates. A ideia era mesmo tomar de assalto o próximo congresso do PS, mas com a anuência cordata de António José Seguro. Este reagiu indignado (dizem que é bom rapaz, mas não muito brilhante), deixando o cardeal do partido bastante aborrecido e obrigado a avançar com um qualquer Plano B.

Ora o Plano B está em marcha, e a praia lusitana desprotegida!

Um governo perdido entre o monumental caso de corrupção do BPN (um banco pirata criado pelos piratas do PSD), um presidente à beira da demência, e um governo de raparigas e raparigos universitários que nunca plantaram uma couve, ainda por cima chefiado por um troglodita da Jota S Dê (eu apostei no Paulo Rangel, mas perdi...), e que falhou todas as previsões e já não diz coisa com coisa, vai necessariamente cair antes do Natal.

É preciso não esquecer que o Conselho de Estado já virou o polegar para baixo, mesmo sem ir ao quintal de Belém. Idem no que toca às chefias militares. E idem, é bom de ver, da parte dos sindicatos, confederações patronais, burguesia rendeira e banqueiros. Todos, embora aflitos, querem um governo forte dentro e fora do país. Ou seja, capaz de maior agilidade negocial perante os credores e o governo não eleito de Bruxelas, e sobretudo com o pragmatismo suficiente para, se necessário for, tomar medidas drásticas, buscando previamente as necessárias alianças internacionais — financeiras, económicas e... militares.

Está bem de ver que os mimados garotos das juventudes partidárias não estão aptos para estas tarefas. E como o tempo urge, é preciso, desde já, tratar das autárquicas e preparar o governo pós-Gaspar.

Estou convencido de que, nas atuais circunstâncias, o Tribunal Constitucional irá chumbar as cláusulas confiscatórias do Orçamento. E se assim for, não vejo como poderá Passos Coelho manter-se onde está. No mínimo, alguém terá que explicar ao quase demente presidente da república —que não deveria ter sido eleito, mas foi— que o senhor primeiro ministro terá que se demitir, por incapacidade manifesta de governar, por incumprimento escandaloso do programa eleitoral pelo qual foi eleito, e para salvaguarda do regular funcionamento das instituições.

E depois? 

O PSD será naturalmente chamado a formar novo governo. Mas se não conseguir renovar a coligação, então não haverá outro caminho se não novas eleições, mantendo-se o governo em funções a cozer em lume vivo!

Será em tal momento crítico que o pragmatismo outrora demonstrado por Mário Soares baterá de novo à porta da governação lusitana. Paulo Portas e... José Sócrates apresentar-se-ão então ao país como a última oportunidade de enfrentar a besta germânica, começando por renovar alianças atlânticas de longa data.

Não me perguntem se gosto do Sócrates. Têm centenas de textos neste blogue para ler!


POST SCRIPTUM

Para que conste:

1) o Pinóquio não foi acusado, não foi julgado e não foi condenado, a não ser eleitoralmente. Logo é um cidadão como outro qualquer e goza dos plenos direitos que a cidadania lhe confere.

2) a RTP goza de independência editorial (pelo menos no papel), e por conseguinte tem todo o direito de contratar o Pinóquio para roubar audiência aos 'comentadores' Marcelo, Mendes, Leite, Santana, Ângelo e Pacheco, mais ou menos cor-de-laranja, que saltitam pelos canais da nossa indigente média.

3) por fim, aquilo que nós, portugueses, deveríamos exigir é a privatização imediata e a 100% da RTP, em vez de andarmos para aqui com irritações hipócritas.

A vinda do Pinóquio, aliás, significa uma coisa muito simples: que a coligação no governo está morta, que não se vislumbra nada no horizonte em termos de alternativa, e que, portanto, a perspetiva de um regresso do PS, desta vez em coligação com o CDS, está na cara!

E já agora: 

Como toda a gente já deveria saber, o PCP e o Bloco são esqueletos sem qualquer utilidade em matéria de governo do país. E os Indignados, por sua vez, ainda não perceberam que não estão a lutar contra uma ditadura, mas contra uma democracia. Um cenário não contemplado nos manuais do velho Gene Sharp :(

Última atualização: 22 mar 2013, 15:23 WET

domingo, fevereiro 10, 2013

Seguramente um zero à esquerda — 3

Quem tem medo compra um cão!

Sócrates, quando é que regressas?

Numa conferência de imprensa realizada após o fim da reunião, António José Seguro incluiu os “contributos” de Costa entre os “vários” que recebeu ao longo dos últimos dias: “Eu não negociei com ninguém, este documento não é nenhum acordo”, frisou Seguro depois de apresentar o documento como um “contributo importante para que os militantes conheçam as minhas ideias”. Público, 10/02/2013 - 15:17.

Se António Costa recuar na ameaça, depois das críticas que já endereçou ao líder do seu partido, alimentando nomeadamente junto da frente anti-Seguro a expectativa de uma disputa de liderança com ele, dará razão a todos os que acham que o antigo ministro da justiça e presidente da câmara municipal de Lisboa em funções nunca foi mais do que um dos muitos aparachics do partido que nunca arriscam coisa nenhuma que possa perturbar a segurança do emprego. Recuar, porém, nesta altura, pode ser fatal ao próprio Costa, na medida em que ficará, se se acobardar, debaixo das patinhas de António José Seguro para o resto da legislatura, e mais. OAM, 26/01/2013.

A hesitação de António Costa foi fatal para o seu futuro político. Os cenários de uma próxima chefia do governo cor-de-rosa, ou de uma futura presidência da república, estão definitivamente arrumados por esta manifestação de evidente e lamentável cobardia política. Não se pode andar meses a criticar um líder, e a manter distâncias televisivas do mesmo, ameaçando substitui-lo num congresso, e depois, apesar de tantos santos a empurrar, fazer uma cangocha destas. Seguro aproveitou imediatamente, como seria de esperar, o desfazer do bluff, desferindo no pobre Costa uma estocada final alguns minutos depois de este balbuciar o recuo.

Eu não quero, prevejo...

Vendo bem as coisas, Sampaio e Sócrates têm agora campo livre. O primeiro, para repensar uma estratégia presidencial em tempos de crise aguda. José Sócrates, por sua vez, é já uma espécie de São Sebastião a quem os portugueses, cada vez mais aflitos, em breve pedirão que regresse.

Seguro perderá as próximas legislativas, e Passos cairá antes de o segundo mandato chegar a meio. O caos financeiro, a degradação salarial e o fascismo fiscal farão o resto pela ressuscitação do determinado timoneiro que, como se irá sabendo, não foi o único, nem sequer o principal, causador da Grande Crise (1). Dirá quando o momento chegar que apenas quisera poupar os portugueses à tragédia que continua a abater-se sobre todos nós. Que se erro cometeu foi o de não ter sido, afinal, ainda mais determinado na resistência que opôs ao cerco financeiro dos banksters. Populismo puro? Não, populismo fino e oportuno quando a hora negra chegar — e vai chegar!

Com uma prestigiada pós-graduação parisiense à sacola, e vários piratas laranja e alguns banqueiros engaiolados depois, José Sócrates desembarcará finalmente em Lisboa a pedido de milhões de zombies lusitanos. Ulrich, põe-te a pau!

Portugal inseguro, alguém quer comprar?

O inseguro zero à esquerda que hoje preside ao ajuntamento cor-de-rosa irá cozendo em lume brando ao longo da legislatura do seu jota-amigo Pedro Passos de Coelho — a quem usurpou, num autêntico lapsus liguae, o título da sua Magna Carta de hoje: Portugal Primeiro! Basta esperar.

NOTAS
  1. Europe: The Last Great Potemkin Village Where “The Rich Get Richer, And Poor Get Poorer”ZeroHedge. Submitted by Tyler Durden on 02/10/2013 12:28 -0500

    “On the surface, it would seem that the euro crisis has calmed. Markets have rallied since the summer and, to borrow a phrase from Herbert Hoover, “prosperity is just around the corner.” But outward appearances in Europe are like a Potemkin village. Behind the well-scrubbed facades, Southern Europe is in a death spiral. Anyone convinced that the European monetary union has come through the crisis stronger is a victim of the slickest PR campaign in history.”

domingo, janeiro 27, 2013

Seguramente um zero à esquerda — 2

Sócrates emprestou o PS a Seguro, mas por pouco tempo...

E agora Costa, vai a jogo ou não?

“Muitas vezes, sou acusado que fazer poucas promessas, mas, quero garantir-vos que só prometerei aos portugueses aquilo que tiver a certeza que posso cumprir, quando um dia, como espero, merecer a confiança para governar este país” — in Sol, 26 jan 2013.

António José Seguro é uma nulidade, como todos sabemos. Ninguém sabe o que pensa sobre o mundo, sobre o país, ou sequer sobre o seu partido. Consta que fala muito com as bases. Bases? A única coisa que há muito se conhece dos partidos portugueses é que não existem, salvo para disputar eleições e distribuir empregos. Ora nesta lógica quase feminina, quem atrai os apoios e votos é quem emitir mais feromonas de liderança e de agressividade convincente face aos adversários que estão na mesma arena. Sócrates, mesmo em desgraça, inunda o país com mais psiquismo e potencial agonístico por quilómetro quadrado na simples notícia de um almoço furtivo em Lisboa, do que a serenata desafinada e oca de António José Seguro que aturde os nossos tímpanos intelectualmente sensíveis sempre que aparece na televisão. Diz que quer uma maioria absoluta porque está farto de dizer ao governo o que este deve fazer, e este, surdo e ingrato, lá acabou por executar o que Seguro exigiu, mas tarde, muito tarde, e sem aquela convicção anti europeia que o rapaz acha que ficaria de bom tom nestes tempos de miséria nacional, causada, ou no mínimo agravada, pelas ações deletérias do PS... ooops!

O que todos esperariam da nova liderança socialista seriam duas coisas simples: um acto de contrição claro sobre os erros do passado (não precisava sequer de enxovalhar o seu antecessor); e uma estratégia clara, sucinta e alternativa às soluções da coligação que entretanto governa o país.

Não fez nem uma coisa, nem outra. Boiou apenas como uma rolha chocha à tona do pântano em que a democracia partidocrata, corporativa e populista transformou o país. Sem ideias, titubeante, acabou por quebrar os laços da coesão interna do PS, rasgou o memorando da Troika, e fez desabar as pontes sempre necessárias com a coligação PSD-CDS. Pior, caiu no regaço da esquerda mais desmiolada, oportunista e populista que existe na Europa —o PCP e o Bloco—, comprando praticamente todos os argumentos dos seus cardápios de bota-abaixo. Aliás, caiu ainda como um patinho na armadilha que Soares lhe estendeu —sabe-se agora com que motivos— ao lançar a ideia peregrina de que ao governo em funções lhe faltaria legitimidade e que, portanto, um próximo governo socialista presidido por AJS estaria ao virar da esquina. 'Eu é que sou o presidente da Junta', sonhou ele!

A oposição interna do PS foi crescendo perante tamanha inépcia do secretário-geral. As iniciativas parlamentares socialistas mais relevantes —como os dois pedidos de fiscalização constitucional do Orçamento de  Estado— deixaram há muito de passar cartão ao inenarrável Zorrinho, rebocando António José Seguro como se fosse mero lastro. O êxito inesperado de Vítor Gaspar na antecipação do célebre regresso aos mercados da dívida soberana de médio-longo prazo, associado ao alargamento de um ano do prazo de cumprimento do memorando em matéria de controlo do défice, e sobretudo a garantia de poder aceder em 2014-2015 ao Mecanismo Europeu de Estabilidade, deitou por terra num só dia toda a verborreia demagógica da Esquerda, a começar fatalmente pela oratória desmiolada de António José Seguro ao longo de mais de um ano. Diz agora que tem um 'laboratório de ideias' a misturar ingredientes para obter uma resposta socialista à crise —quimicamente isenta de neoliberalismo, imaginamos. Vamos aguardar apesar de ser demasiado tarde para andar a brincar com tubos de ensaio.


Diretas e congresso antes das Autárquicas

Esta foi uma das poucas decisões acertadas de António José Seguro (talvez por ser uma questão de sobrevivência política). António Costa terá uma ou duas semanas no máximo para ir a jogo ou mostrar o bluff. Se for a jogo, terá que abrir desde já caminho para um novo candidato do PS à câmara da capital. Se não for, fica em maus lençóis!

Se António Costa recuar na ameaça, depois das críticas que já endereçou ao líder do seu partido, alimentando nomeadamente junto da frente anti-Seguro a expectativa de uma disputa de liderança com ele, dará razão a todos os que acham que o antigo ministro da justiça e presidente da câmara municipal de Lisboa em funções nunca foi mais do que um dos muitos aparachics do partido que nunca arriscam coisa nenhuma que possa perturbar a segurança do emprego. Recuar, porém, nesta altura, pode ser fatal ao próprio Costa, na medida em que ficará, se se acobardar, debaixo das patinhas de António José Seguro para o resto da legislatura, e mais.

Se fizer o que deve, depois da ameaça que fez, então irá a jogo, e as probabilidades de vitória jogam, pelo menos parcialmente, a seu favor, sobretudo se souber manter as devidas distâncias visuais do socratismo. E mesmo se perder o primeiro combate, antes das Autárquicas, terá ainda a oportunidade de forçar a convocação de um congresso extraordinário para arrasar Seguro quando ficar demonstrado perante todo o país e perante as ditas bases do PS que o sucessor de Sócrates é um bom rapaz mas que não está, nem de longe, nem de perto, à altura dos desafios.

Qualquer dos dois candidatos, se houver combate pela liderança do PS nas próximas diretas e no próximo congresso, tem hipóteses de ganhar. Se Seguro tivesse caído na asneira de adiar o confronto seria um derrotado à partida. No caso de António Costa, se fizer uma cangocha neste momento, as suas possibilidades de vir a ser primeiro ministro, presidente da república, ou mesmo de disputar as próximas eleições autárquicas com o necessário apoio do PS ficarão reduzidas a zero. Se, pelo contrário, for a jogo, como deve, ou ganha na primeira disputa, ou ganha na segunda.

Mário Soares, segundo percebi da leitura do Expresso de hoje, foi o mestre desta jogada. Nos seus respeitáveis oitenta e oito anos continua a ser um grande conspirador. Honra lhe seja feita.

quinta-feira, janeiro 24, 2013

Seguramente um zero à esquerda

António Costa, presidente da CML, socialista.
Foto: autor desconhecido

“Qual é a pressa?” Toda!

“Um deputado do PS adiantou ao Diário Económico que “basta ele [Costa] ganhar o partido, para se virar as sondagens a nosso favor”, e outra fonte sustenta que “a Seguro falta esperança e garra”. No mesmo sentido, João Galamba e Pedro Nuno Santos, dois deputados socialistas muito críticos de Seguro, assumem ao jornal que esperam ver o autarca de Lisboa a concorrer à liderança do PS. “Acho que o País precisa de um PS com uma liderança mais forte”, considera Pedro Nuno Santos, enquanto João Galamba frisa que “gostava que houvesse alternativa a Seguro”” — Notícias ao Minuto, 24 jan 2013.

Não sei se António Costa irá desgastar-se nesta corrida, quando o seu futuro está obviamente numa candidatura presidencial a Belém. Não vejo ninguém no PSD capaz de o bater nesta corrida, salvo Durão Barroso, mas este tem ainda um longo percurso a fazer nas instâncias internacionais. Eu aconselharia António Costa a não cair na armadilha preparada por Jorge Sampaio, que tem vindo a dar sinais de querer reincidir em Belém. Quanto ao zero à esquerda e sacristão que de momento lidera o PS, há que removê-lo, claro, e antes das autárquicas, claro!

No entanto, não devemos subestimar a capacidade de José Sócrates persuadir o autarca da capital. Na verdade, é Sócrates quem manda no grupo parlamentar do PS, como ficou demonstrado cabalmente na recente iniciativa de Isabel Moreira ao submeter pela segunda vez o orçamento de estado ao Tribunal Constitucional. A argúcia foi dela, mas o apoio de tão visíveis contrafortes —Vitalino Canas e Alberto Costa— indiciou publicamente algo que a Revolta da Bounty desencadeada ontem, na sequência do confrangedor atavismo exibido por António José Seguro na resposta ao bom desempenho de Vítor Gaspar, veio confirmar. O in Seguro sacristão que tem estado ao leme do PS desde que José Sócrates se retirou acaba de perder o pé. Só falta mesmo removê-lo, democraticamente claro, mas o mais depressa possível.

António José Seguro quis encostar Portugal à Grécia, seguindo inconscientemente as derivas típicas do PCP e do Bloco, para quem, evidentemente, quanto mais perto Portugal estiver da Grécia, melhor! O êxito retumbante do governo foi simplesmente este: encostou Portugal à Irlanda, na sequência de uma operação meticulosa realizada nos bastidores, sem deixar escapar um sinal que fosse para Miguel Relvas, ou para Paulo Portas. Foram todos apanhados literalmente com as calças na mão. As reações ao anúncio de Vítor Gaspar, por sua vez, revelam a fibra de cada um dos ludibriados. Portas veio logo enaltecer Gaspar, abafando todos os amuos do PP como se fossem gatos recém-nascidos a mais. Relvas meteu-se num hotel qualquer, inacessível. E o zero à esquerda do PS optou por um número de mímica semelhante à célebre boca de Cavaco Silva cheia de Bolo Rei.

António José Seguro é um aparachic atrofiado. Não pensa. Decora a frase do dia e repete-a alegremente com um sorriso Malo nos dentes. A criatura repetiu até à exaustão que queria mais tempo, mais dinheiro e menos juros. Bruxelas atendeu as suas preces, e o governo de Passos Coelho agradece! Ou melhor, Seguro andou a escutar atrás das portas e passou o tempo a exigir antecipadamente o que Gaspar, em simbiose com o seu tutor alemão, Wolfgang Schäuble, estava a tratar e conseguiu: um acesso antecipado aos mercados que, se correr bem, e quando for necessário, permitirá um financiamento direto da dívida pública portuguesa através do novo Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), i.e., mais dinheiro, mais tempo e juros mais baixos.

O líder do PS pedia uma maioria absoluta, imagine-se, em nome deste balão de ar quente. O balão entretanto rebentou, numa espécie de Quarta-Feira de Cinzas para o PS de António José Seguro. Ilação: é preciso substituir o homem antes das Autárquicas!


O contexto internacional que alguns desconhecem ou omitem

Americanos e ingleses apostaram tudo o que tinham à mão na implosão de um euro cada vez mais apetecível para os detentores desiludidos da nota preta. Mas a aposta saiu-lhes furada. E o resultado foi imediato, sobretudo depois da reeleição de Obama e depois de se perceber que a dívida pública americana estava e está completamente fora de controlo. Os Estados Unidos são uma Grécia gigantesca. E assim sendo, o dinheiro começou a fluir ainda mais depressa e em maior quantidade para a Zona Euro. O dólar continua a cair face ao euro (hoje: 1€=$1,3353) e, como consequência, o preço do barril de petróleo continua a subir (hoje: $112,80).

O magnetismo do euro sobre os países petrolíferos e emergentes deve-se também a algo que poderá em breve reforçar ainda mais os investimentos estrangeiros na Europa. Refiro-me concretamente ao fim da progressão rápida do crescimento nos países emergentes. Tudo aponta, por causa deste abrandamento inevitável, para a probabilidade de uma guerra de grandes proporções entre a China e o Japão. Estes dois países não sabem viver sem exportar para a Europa e Estados Unidos, e estão envolvidos (com a América) numa corrida de lémures contra as suas próprias moedas e taxas de juro, ao mesmo tempo que dependem criticamente de recursos energéticos, minerais e alimentares (1). A Europa, ao contrário dos EUA, da Rússia ou da China, continua a ser uma referência de legalidade, estabilidade política, inteligência e prosperidade. É por isto que os principais compradores de dívida soberana portuguesa no leilão de ontem, superando largamente a oferta, foram americanos e ingleses!


Qual crescimento ?

Finalmente, há uma estupidez que António José Seguro repete a par do balão anti-Troika que acaba de rebentar em plena campanha de sedução presidencial para demitir o governo: a exigência de crescimento.

Pelos vistos ainda ninguém explicou a esta criatura que o crescimento acabou. E que insistir nesta tecla como se fosse um assunto trivial só revela a triste ignorância e falta de juízo de quem (sem rir) se diz preparado para governar.

O 11 de setembro de 2001 e o 16 de setembro de 2008 foram os relâmpagos iniciais de uma mudança de paradigma na história recente da humanidade. Nos últimos 150 anos vivemos um período, único em toda a nossa história, de crescimento médio à volta dos 3% ao ano, quando até finais do século XVIII, o crescimento médio andou sempre no intervalo entre 0 e 1%. Que existiu então de diferente para permitir a viagem fantástica destes dois últimos séculos? Basicamente isto: carvão e máquinas a vapor, eletricidade, gás e água canalizados, petróleo, motores de combustão e capitalismo financeiro. Sem carvão, sem petróleo, ou sem estas duas formas de energia condensada e portátil, em quantidade e baixo preço, a nossa civilização deixará de crescer, entrará em colapso, e depois terá que readaptar-se a um regime de crescimento médio anual entre zero e um por cento. O colapso está em curso; falta saber se e como iremos fazer a transição.


ÚLTIMA HORA

23:47
Álvaro Beleza revelou a Ana Lourenço, no jornal das 10 da SIC Notícias, que o próximo congresso do PS será antes das eleições autárquicas. Será que leu a nota aqui publicada às 19:35?

19:35
As coisas estão a rolar mais depressa do que supunha! Se Jorge Sampaio já fez saber nos mentideros socialistas que se prepara para a eventualidade de uma nova candidatura presidencial, então António Costa só pode escolher um caminho: afastar António José Seguro e liderar o PS até às próximas eleições legislativas. Resta agora responder a uma pergunta certamente angustiante para alguns: quando convocará AJS o próximo congresso? Para antes ou para depois das Autárquicas? Se for antes, ainda tem hipóteses de vencer Costa. Depois será tarde demais. Porquê? Porque a alternativa a Seguro vai crescer como um bolo cheio de fermento nos próximos meses, e perante o abcesso que então será mais do que visível, nenhum eleitor irá desperdiçar um voto num líder em queda.
António Costa: “Só o secretário-geral do PS é que está em condições de dizer qual é a data acertada. Respeitarei totalmente a escolha do secretário-geral do PS. Qualquer que seja a data, tenho a certeza que estarei nesse congresso” — Ler mais no Expresso, 24 jan 2013 16:20.


NOTAS
  1. A China depende criticamente das suas reservas de carvão para crescer. No entanto, as estimativas sobre as suas reservas viáveis indicam os anos 2011, 2015 ou, no limite, 2025, como previsões do pico do carvão na China, ou seja, datas a partir das quais a máxima produção de carvão foi ou será alcançada, sucedendo-se então um declínio rápido deste recurso energético estratégico, dificilmente substituível em tempo útil — i.e. a tempo de mitigar um colapso económico e social em larga escala. 

Última atualização: 24 jan 2013 19:35 WET

quarta-feira, abril 13, 2011

Populismo pós-moderno

O comício de Matosinhos fez-me lembrar outros tempos...

Carrilho diz que congresso do PS foi a cassete de Sócrates
No seu comentário semanal na TVI24, Carrilho voltou a repetir a ideia de José Sócrates “construiu uma história em que ele [Sócrates] é o herói” e que foi ao congresso “transformar a boa história numa cassete.”

“Não houve uma única ideia no congresso”, acrescentou Carrilho, que não foi à reunião socialista. “Foi como se todos os socialistas assumissem o teleponto de Sócrates.”

Carrilho salientou ainda que o PS “vai avançar para as eleições sem programa” e em que José Sócrates se apresenta “como um cartão de crédito” — in Público.

Manuel Maria Carrilho tem sido uma das poucas vozes avisadas do PS com a lucidez e coragem suficientes para denunciar o plano inclinado que Sócrates trouxe ao partido fundado por Mário Soares e a Portugal.

O ajuntamento partidário do último fim-de-semana fez-me pensar no que conduz realmente um povo ao fascismo. É só isto: a ameaça de miséria e o desemprego em regimes partidários parlamentares corrompidos. Sobretudo o desemprego urbano e suburbano, que num primeiro momento (uma ou duas décadas) o proteccionismo partidário e burocrático ainda disfarça com emprego público financiado por empréstimos e por uma fiscalidade cada vez mais agressiva.

Chega, porém, um momento em que deixa de ser possível esconder a realidade, e a ameaça de colapso social ameaça a continuidade dos próprios regimes. É aqui que a irracionalidade crescente pode levar os líderes outrora democratas à metamorfose e ao surgimento inesperado de caudilhos, cuja tropa de choque é formada, precisamente, pelo tipo de clientela que hoje vive e sobrevive apenas à custa dos partidos. A unanimidade do comício de Matosinhos, onde sintomaticamente nem Carrilho, nem Mário Soares estiveram, foi terrivelmente premonitório a este propósito. Aquela gente já é uma tropa de choque em movimento! A cassete do líder foi ali apresentada, saudada e unanimemente tomada como hóstia do desespero e agressividade que rapidamente irá tomar conta de milhões de portugueses.

O embate partidário em curso, da parte de todos os partidos que disputam assentos parlamentares, conselhos de administração, direcções-gerais, e toda a espécie de indecorosas mordomias, transpira cada vez mais estes perigosos odores populistas. O fascismo pós-moderno, que terá outra cor e dimensão mediáticas, pode estar, efectivamente, ao virar da esquina. Não digam, se o pior ocorrer, que não foram avisados.

Basta ler o excelente estudo editado por Daniele Albertazzi e Duncan McDonnell —Twenty-First Century Populism (2008) — para perceber claramente como novas formas de populismo estão a crescer rapidamente em toda a Europa e poderão eventualmente conduzir, antes de a presente década chegar ao fim, ao colapso da União Europeia, a uma nova guerra civil europeia ou, pelo contrário, mas só se tivermos juízo, à urgente paragem da globalização suicida das últimas três décadas.

Precisamos dum NOVO TRATADO DE TORDESILHAS! A América e a Europa devem proteger as respectivas economias. A China, o Japão e a Índia, mas  também a Alemanha e a Rússia, ou entendem rapidamente que é do seu interesse uma nova divisão internacional do trabalho, favorável ao equilíbrio, e não mais às deslocações tectónicas dos centros de produção, nem à especulação desenfreada, ou acabaremos numa guerra global que acabará com um parte substancial da humanidade.

O FMI até poderá ser uma bênção para o nosso país — sobretudo se conseguir rapidamente acantonar a parasitária, mole e indecorosa burguesia palaciana que temos. Sobretudo se conseguir rapidamente colocar os nossos deputados a andar de metro e autocarro. Sobretudo se conseguir limitar os danos à nossa independência e sustentabilidade provocados pelo terrorismo fiscal e pelos monopólios que há décadas têm vindo a destruir o nosso tecido económico e a discriminar os portugueses em duas grandes categorias: os que vivem à custa do Estado, nomeadamente pela via da cunha familiar e/ou partidária, e aqueles que emigram.

sábado, fevereiro 12, 2011

Passos de coelho

Direcção do PSD tem trinta dias para mostrar o que vale

Se Passos Coelho deixar passar esta oportunidade de avançar para eleições antecipadas, perderá credibilidade e será visto como um líder medroso e oportunista, deixando o campo totalmente livre a Cavaco Silva.

Cavaco odeia Passos Coelho, e portanto aproveitará a sua hesitação e medo para o pendurar numa corda de seca até que caia de podre num próximo congresso extraordinário — quando o governo, seja ele qual for, caminhar para uma diminuição do número de freguesias urbanas e de municípios, e proceder à venda de algumas empresas públicas falidas, após liquidar os respectivos passivos (suponho).

Se a actual direcção do PSD hesitar, como parece que vai suceder, e ficar encalhada no apoio a José Sócrates, como se a responsabilidade democrática não estivesse, precisamente, na urgência da remoção deste desastroso governo e do mitómano que o conduz, teremos crise laranja até ao fim deste ano.

O senhor que se segue, Paulo Rangel, poderá então ser chamado a Lisboa, por aliados vários, entre eles o senhor Cavaco Silva e a sua interminável comissão de honra presidencial. Depois, é só esperar pelo adensar da balbúrdia "socialista", com a nova banda trotskista acoplada, para que Cavaco Silva tenha a esperada e inequívoca oportunidade de despedir o Mubarak das Beiras, convocar eleições gerais antecipadas, e colocar um PSD amigo no Executivo.

Um presidente, uma maioria e um governo estarão enfim no poder, com duas legislaturas limpas pela frente, e sem grande resistência.

O IVA manter-se-à alto (podendo até subir para 24 ou mesmo 25%); o IRC e o IRS baixarão. O princípio do utilizador-pagador será estendido, da energia, autoestradas e transportes públicos, aos cuidados de saúde e à educação, ou seja, todos pagarão um pouco menos, e os beneficiários dos serviços pagarão um pouco mais — lógico e sustentável!

A administração pública verá desaparecer algumas centenas de direcções-gerais, institutos e fundações, e uma parte do ensino superior público será entregue, de facto, às iniciativas privada e cooperativa, com a passagem instantânea de 10-15% dos funcionários públicos efectivos para um novo quadro de excedentes, onde os vencimentos sofrerão uma erosão paulatina ao longo dos anos... Algumas dezenas de milhar de contratações eventuais e precárias caducarão com a extinção dos organismos.

Por fim, espera-se que o futuro governo, que terá que ser uma coligação com o CDS, a fim de poder contar uma ampla maioria absoluta parlamentar, leve finalmente a cabo uma racionalização competente do aparelho de Estado e uma libertação efectiva da sociedade civil da canga paternalista que há séculos rege as relações entre o poder e a sociedade cortesã, analfabeta e corrupta, que desde a conquista de Ceuta se habituou a viver de expedientes palacianos, da exploração colonial fácil e da emigração.

Se depois do saque realizado pela tríade de Macau e pelos piratas da SLN/BPN, e se depois da fuga em frente da governação socratina, o que vier depois (e não creio que possa vir nada de bom do inseguro e medroso Passos de Coelho, nem muito menos da cabotina e irritante criatura que dá pelo nome de Miguel Relvas) não cumprir o que o país espera do poder —transparência, pragmatismo, eficácia, lucidez, ponderação, estratégia, liberdade de acção, e justiça— então o regime cairá mesmo numa espiral convulsa de desfecho incerto.

quarta-feira, outubro 20, 2010

PSD mais perto do poder

A um passo de virar o país!

“Se o Governo quiser desertar o PSD assumirá as suas responsabilidades”, disse Passos depois de apresentar ao parlamento do partido as seis condições que impõe para que os 81 deputados social-democratas se abstenham na votação de 29 de Outubro. _ in Económico.

Parece que as coisas se encaminham para um beco com saída, ainda que estreita, ao contrário do beco sem nenhuma saída para onde a borra e a bosta desta democracia degenerada queriam levar-nos ao som do papão do FMI. O FMI só cá entra se o chamarem, e de facto, o que a malta que andou a roubar ou a dormir na forma e agora acordou queria era que Sócrates chamasse o FMI e depois atirasse as culpas para o recém chegado líder do PSD, com os capacetes do PCP e do Bloco de Esquerda a abanarem que sim, e a voz cava do poeta Alegre a proclamar cacafonias sem rima, nem prosódia, nem lógica, nem nada. O jota Passos de Coelho parece que me ouviu. Que os deuses de Camões protejam o audaz!

Não sei se já repararam nisto: o país está literalmente a saque, e a toda a velocidade! É preciso estancar a hemorragia quanto antes, dando sinais imediatos à comunidade que o Estado, depois de recomposto, perseguirá os criminosos, sem cerimónias, metendo na prisão, por muitos e bons anos, quem se apropriou indevidamente dos bens colectivos e se preparava para entregar o país aos credores. Os militares não precisam de intervir. Basta que façam saber que não serão usados para defender ladrões.

A Esquerda que um dia também foi minha morreu. Morreu de cobiça, de oportunismo, de corrupção, e sobretudo de uma enorme estupidez e incultura profunda. Pareceram um dia novos ricos. E foram mesmo ricos, não porque trabalharam no duro, mas antes por terem sabido apropriar-se do bem comum. A partidocracia abriu assim, desta forma canina, caminho à instalação de uma verdadeira cleptocracia burocrática, em tudo semelhante à dos antigos países soviéticos. É preciso parar esta hemorragia suicida.

O preço de adiar o que tem que ser feito agora, dando mais um balão de oxigénio às carraças do orçamento, seria altíssimo. Ainda há umas horas escrevi isto no Facebook:
As classes médias revoltar-se-ão inexoravelmente no momento em que os jovens sem emprego deixarem de poder contar com a mesada dos pais, e passarem, pelo contrário, a ter que contribuir para as despesas domésticas comuns. 50% dos rapazes com menos de 35 anos vivem ainda em casa dos pais; e 1/3 das raparigas estão na mesma situação! É esta combinação explosiva que varrerá do actual regime cleptocrata a corja de bovinos imbecis ou corruptos que capturou o país, o descarnou, e agora se prepara para entregar os ossos aos credores. A partidocracia foi, percebemos todos agora, o instrumento dessa cleptocracia que nos últimos meses vem jorrando sobre os portugueses toda a sua arrogância mórbida e aparente impunidade. Tenho poucas ilusões sobre o desfecho da actual pugna orçamental, e sobre o comportamento do jota Passos de Coelho, mas apesar de tudo desejaria que pudesse acontecer doutro modo. Se não for possível, paciência, lá teremos que exigir uma revolução política a sério. E como é óbvio essa revolução a sério não será feita pelas carcaças carcomidas do estalinismo, ou do trotskysmo universitário que por aí andam.
 Afinal, nem tudo está decidido ainda. Passos de Coelho poderá mesmo vir a ser promovido, por este blogger ordinário e mal disposto, a Pedro Passos Coelho, futuro primeiro ministro deste país desgraçado. Ele está, depois do que ele disse esta noite, à saída do Conselho Nacional do PSD, a um passo de enviar Sócrates e Cavaco às urtigas!

Eu e muitos portugueses temos as maiores dúvidas sobre as capacidades mentais do actual presidente da república. Os rumores sobre o seu estado de saúde (possível doença de Parkinson ou Alzheimer) não foram até agora, incompreensivelmente, desmentidos. Mas há que fazer a pergunta directamente: sofre ou não o cidadão Aníbal Cavaco Silva, presidente da república portuguesa, de doença degenerativa perturbadora das suas faculdades mentais? A presença constante de Maria Cavaco Silva ao seu lado, e as acções diligentes que com frequência crescente tem que antecipar para corrigir gestos ou palavras do presidente, suscitam as maiores preocupações.

Se for verdade, como parece, que Cavaco Silva está doente, esconder um tal facto é não só desumano para o próprio, como intolerável do ponto vista constitucional. Está na altura, creio, de a esposa do presidente olhar seriamente pelo marido e pela dignidade do país. Temo que se o não fizer, a infecta Casa Civil do Presidente continuará a conspirar em nome exclusivo dos seus mesquinhos interesses de sobrevivência, envolvendo até o pueril "professor Marcelo" em manobras golpistas que, a serem provadas, poderão calar de vez o bico ao incontinente tagarela dos Domingos.

quarta-feira, março 11, 2009

Portugal 91

Manuel Alegre ou decide ou desaparece

Se avançar já, tem hipóteses de federar uma nova esquerda responsável (coisa que o Bloco não é); se deixar apodrecer a situação, restar-lhe-à o triste caixote do lixo da História.

Partido Socialista
Carlos Candal: “Não é pensável que o Manuel Alegre faça o que tem feito sem levar um chuto"
11.03.2009 - 10h44 PÚBLICO
O ex-deputado socialista Carlos Candal defendeu em declarações ao Rádio Clube Português (RCP) que o Partido Socialista deveria avançar com um processo disciplinar contra Manuel Alegre. “Não é pensável que o Manuel Alegre faça o que tem feito, e continue a fazer, sem levar um chuto”, disse Candal.

Partido Socialista
Santos Silva sugere saída de Alegre das listas de deputados
11.03.2009 - 08h00 :, Leonete Botelho e Nuno Simas PÚBLICO
Augusto Santos Silva parece ter ontem quebrado o tabu sobre se Manuel Alegre vai ou não ser candidato a deputado nas listas do PS. Tentando não comentar a entrevista do histórico socialista ao "Expresso" porque se trata de "questões que estão resolvidas", o ministro dos Assuntos Parlamentares explicou o que quer dizer: "Se eu não concordar com o programa eleitoral do PS, não me candidato a deputado. Se não concordar com a declaração de princípios do PS, não estou lá a fazer nada", afirmou no debate Cara a Cara, da TVI24.

O PS, em nome da mitigação dos próximos desastres eleitorais, tomou uma decisão: correr com Manuel Alegre. Tem todos os motivos formais para o fazer, e a conveniência é muita.

Se Alegre cindir, formará seguramente um novo partido para concorrer às próximas eleições.

Neste caso, o eleitorado que agora pensa votar nos eternos juvenis do Bloco de Esquerda, como protesto contra os piratas neoliberais que sequestraram o Partido Socialista, transformando-o num autêntico partido da grande burguesia compradora e burocrática lusitana, partir-se-à ao meio: uma metade vai para Louçã, e outra para Alegre. Se isto acontecer, o PS sem maioria absoluta que sair das próximas legislativas terá argumentos de sobra para forçar um novo Bloco Central... com o próximo líder do PSD, o neoliberal imberbe Pedro Passos Coelho — deixando as velhas esquerdas a berrar no deserto.

Resumindo e concluindo, o ponto de ruptura da actual situação política chama-se Manuel Alegre.

E o mais importante agora são os tempos de decisão. Se Manuel Alegre decidir já, poderá federar uma vasta sensibilidade da esquerda realista portuguesa para a utopia de uma renovação democrática do regime. É não apenas um sonho por que vale a pena lutar, mas sobretudo a única saída para a continuidade do actual regime democrático, antes de uma alternativa presidencialista a la française.

Se, ao contrário, continuar a hesitar, e decidir tarde de mais (por exemplo, depois das eleições europeias), o tal eleitorado da esquerda realista partir-se-à ao meio, ou inclinar-se-à mesmo mais para Louçã, do que para um retardatário hesitante, sobre o qual pairará então a sombra do oportunismo pessoal.

O tempo da decisão é agora, e não daqui a três meses, como preferem os estrategas do PS.

A hipótese de Manuel Alegre hibernar até que passe o ciclo eleitoral, com a eventual ilusão de poder então capitalizar os descontentes no interior do partido, e eleger um sucessor de Sócrates que ponha em causa a tríade de Macau, é um passo muito arriscado. A verdade é que este PS se transformou num partido do BES, do BCP e da Mota-Engil, e nada fará mudar a sua nova natureza tão cedo. O PSD, por sua vez, está a redefinir-se como um partido das PMEs e das autarquias — caminho muito rentável, política e eleitoralmente, se o souber fazer com audácia e muita criatividade. A esquerda actual, no contexto da gravíssima crise em curso, não tem soluções — apesar de atrair eleitores desiludidos.

O PCP não passa dum cadáver estalinista adiado, sem qualquer possibilidade de imaginar o futuro. Estão agarrados à burocracia que controlam, dependem do voto senil, e daí não saem.

O Bloco de Esquerda, depois das posições assumidas recentemente sobre a NATO e sobre Angola, confirma à saciedade a sua incorrigível imaturidade política e radicalismo saloio. Nada farão para além de se digladiarem por lugares e correr atrás do tumulto.

E no entanto há um grande eleitorado de esquerda, de uma esquerda inteligente e realista, que não sabe onde votar, ou mesmo se deve votar. Formas mais espontâneas, criativas e realistas de democracia em rede estão a nascer na infoesfera. Se Alegre matar a possibilidade de surgimento de um novo partido democrático com efectivo potencial de acção, a alternativa que nos resta é começar rapidamente a construir uma autêntica Democracia Virtual, cuja vitalidade e sentido de responsabilidade global conduza ao nascimento de novas formas de poder democrático efectivo, capazes de substituir a tempo o moribundo regime que actualmente conduz o país para a fossa.


Post scriptum — O Bloco de Esquerda (BE) tem uma deficiência genética impossível de ultrapassar: nasceu com um corpo medieval dividido entre três estalinistas, de famílias diferentes, e um líder trotsquista. Embora sejam notáveis os esforços de moderação por parte de Francisco Louçã, já da parte dos seus correlegionários estalinistas sobra o disparate e a arteriosclerose ideológica. Nesta configuração, a previsível subida eleitoral do BE terá seguramente a vantagem de retirar a maioria absoluta ao PS. Mas que não se iludam os velhos juvenis do Bloco: não são eles que atraem os votos, mas antes uma parte do eleitorado PS que ali se refugia temporária e tacticamente, para impedir —por qualquer meio— a renovação da actual maioria absoluta.

Assim sendo, se Manuel Alegre decidir abandonar o PS antes das eleições europeias, arrastando consigo muita gente socialista descontente com o take over do PS por uma tríade de piratas neoliberais e cínicos, o Bloco seria imediatamente confrontado com uma crise interna.

Os ex-maoistas são pouco dados à subtileza, e por conseguinte jamais aceitariam a integração do BE num projecto maior, partilhado com Alegre. Mas o partido do poeta —se vier a existir— exerceria uma pressão formidável sobre o BE à medida que as sondagens fossem revelando a transferência do voto inteligente para a nova esperança socialista. E aí, por uma espécie de atracção electrónica irresistível, haveria grande probabilidade de Francisco Louçã (nomeadamente por causa de todo o historial da IV Internacional) propor uma fusão do Bloco com o então emergente Partido Socialista Reconstruído. Haveria pois duas cisões e a formação de uma nova estrela no moribundo universo partidário a que chegámos. Como há muito prevejo, esta recomposição do Centro-Esquerda provocaria a precipitação da crise larvar do PSD, conduzindo mais cedo ou mais tarde a uma recomposição do Centro-Direita.

Manuel Alegre, pense bem!


OAM 553 11-03-2009 13:35 (última actualização: 12-03-2008 01:41)