quinta-feira, maio 07, 2015

Lucros caem

A inversão da tendência demográfica expansionista é evidente
(clique para aumentar)

Temos que aprender a ser felizes com menos consumo, menos capital e menos trabalho


Basta escrever na janela de pesquisa do Google, como hoje, 7 de maio de 2015, fiz:

— lucros caem,

para ver como está a economia...

E basta olhar para o gráfico acima —previsão da ONU sobre a taxa de crescimento demográfico mundial— para esquecermos toda a demagogia partidária e das instituições governamentais sobre o regresso ao crescimento nas economias, no emprego, nos rendimentos do trabalho e de capital, nos lucros das empresas, e sobretudo no consumo conspícuo suportado pelo endividamento crescente das pessoas, das empresas e dos governos.

O período de crescimento rápido iniciado por volta de 1897 chegou ao fim. Entrou em crise no início da década de 70 do século passado, mas a conclusão natural do ciclo foi sendo sucessivamente adiada por via da expansão do crescimento assente no consumo e no endividamento, e ainda pela globalização.

  • Lucros da Samsung caem 39% nos primeiros três meses de ...
  • Lucros da REN caem 7% com taxa sobre o sector 
  • Lucros da Sonangol caem 77%
  • Lucros da Jerónimo Martins caem mais de 20% num ano ...
  • Lucros da Allianz Portugal caem 33 em 2014 para cerca de ...
  • Lucros das seguradoras caem para 28 milhões em 2014
  • EDP: lucros caem 6,2%, mas mantêm-se acima de mil ... 
  • BlackBerry afunda: lucros caem 58% no trimestre ...
  • A Research in Motion afundou 22% na bolsa de Frankfurt ...
  • Lucros da sands china caem 54,2% devido à queda das ...
  • Lucros da McDonald's caem 33% no primeiro trimestre de ...
  • Lucros das seguradoras caem para 28 milhões em 2014 ...
  • OJE | Lucros do Barclays caem 52% no primeiro trimestre
  • Receitas públicas caem 32% e espelham quebra nos lucros ...
  • Exame Angola – Lucros da banca caem para metade
  • Lucros da Novabase caem 4,4 milhões de euros em 2014 ...
  • Lucros da Sonae caem 61% até Setembro - Sol
  • Lucros do Barclays caem 52% no primeiro trimestre ...
  • ...

Este colapso evidente dos lucros ocorre num ambiente de empregabilidade onde abundam as empresas de trabalho negreiro ('temporário') e os estágios sem remuneração a que, por exemplo em Portugal, o PSI 20 recorre profusamente.

No caso das empresas de trabalho temporário, há vínculos que amarram as pessoas economicamente mais frágeis a bancos de horas de salário mínimo, 40h/semana, sem fins-de-semana, nem feriados, nem férias...

Não estamos longe da escravidão do Qatar.

Até que um dia a revolta parta a loiça toda e a perseguição aos políticos corruptos tome as ruas de Lisboa, Porto, etc. Como vem acontecendo num número crescente de cidades: Londres, São Paulo, Baltimore, Milão...

Onde estão as denúncias fundamentadas por parte dos realejos do PCP e do Bloco?


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação A sociedade civil precisa de assumir a gestão democrática para lá dos enquadramentos institucionais tradicionais. Temos que reinventar a democracia!

segunda-feira, maio 04, 2015

Fim de festa


Esta era nasceu de guerras e revoluções. A próxima, não sabemos.


Uma reflexão simultaneamente melancólica e realista de Bill Gross, um dos grandes gestores financeiros americanos dos últimos quarenta anos, sobre uma era que está a chegar ao fim.

Envelhecimento demográfico, elevados níveis de endividamento/PIB, e destruição tecnológica de emprego, são uma combinação letal. Todos morremos, como morrem todas as eras de crescimento assentes em 'revoluções de preços' (inflação). Esta, que vem de 1887 (Fischer, D. H.), chegou ao fim. Segue-se uma nova era de deflação, regressão demográfica (Portugal poderá chegar a 2050 com menos 750 a 800 mil residentes que hoje), elevados níveis de desemprego estrutural, envelhecimento da população (a sustentabilidade do estado social tenderá a degradar-se), quebra dos rendimentos do trabalho e do capital, instabilidade social, política e diplomática recorrente, e finalmente, adaptação.

Possivelmente assistiremos a um novo renascimento cultural, por mais paradoxal que este vaticínio pareça. Será, com certeza, noutro paradigma energético, noutro paradigma de consumo, e noutro paradigma de felicidade.

A Sense of an Ending
By Bill Gross
Janus Capital / Investment Outlook, May 4, 2015

Having turned the corner on my 70th year, like prize winning author Julian Barnes, I have a sense of an ending. Death frightens me and causes what Barnes calls great unrest, but for me it is not death but the dying that does so. After all, we each fade into unconsciousness every night, do we not? Where was “I” between 9 and 5 last night? Nowhere that I can remember, with the exception of my infrequent dreams. Where was “I” for the 13 billion years following the Big Bang? I can’t remember, but assume it will be the same after I depart – going back to where I came from, unknown, unremembered, and unconscious after billions of future eons. I’ll miss though, not knowing what becomes of “you” and humanity’s torturous path – how it will all turn out in the end. I’ll miss that sense of an ending, but it seems more of an uneasiness, not a great unrest. What I fear most is the dying – the “Tuesdays with Morrie” that for Morrie became unbearable each and every day in our modern world of medicine and extended living; the suffering that accompanied him and will accompany most of us along that downward sloping glide path filled with cancer, stroke, and associated surgeries which make life less bearable than it was a day, a month, a decade before.

Turning 70 is something that all of us should hope to do but fear at the same time. At 70, parents have died long ago, but now siblings, best friends, even contemporary celebrities and sports heroes pass away, serving as a reminder that any day you could be next. A 70-year-old reads the obituaries with a self-awareness as opposed to an item of interest. Some point out that this heightened intensity should make the moment all the more precious and therein lies the challenge: make it so; make it precious; savor what you have done – family, career, giving back – the “accumulation” that Julian Barnes speaks to. Nevertheless, the “responsibility” for a life’s work grows heavier as we age and the “unrest” less restful by the year. All too soon for each of us, there will be “great unrest” and a journey’s ending from which we came and to where we are going.

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A formiga branca partidária




Em Espanha há 445 mil políticos. O dobro dos que há em Itália, e trezentos mil mais que na Alemanha. E em Portugal?


Vale a pena passar os olhos por este exemplo paradigmático do parasitismo partidário que consome as democracias europeias, como se fosse uma formiga branca. Não há nenhum Wikiblues lusitano que apure o tamanho da nossa corte partidária? Seria melhor que adormecer a ouvir os economistas de serviço e os seus cenários macroeconómicos pueris.

http://wikiblues.net/node/9456



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domingo, maio 03, 2015

TAP—FOSUN

Um cenário possível
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Depois da tempestade...


Os partidos gritam por causa do IVA da restauração. O PS faz contas ao número de potenciais eleitores ligados aos tascos e tasquinhas do país, e promete baixar dos atuais 23% para 13%, afirmando que assim irá salvar um setor onde continua a predominar a informalidade e a fuga aos impostos (o PS sempre gostou da aldrabice).

Nesta gritaria, a coligação que defende a taxa de 23%, prisioneira de um quadro constitucional que reprime a diminuição da despesa do estado, afirma que a alternativa é recorrer a mais receita fiscal. Neste caso, o resultado traduz-se numa arrecadação suplementar de 230 milhões de euros.

Vejam agora, por comparação, o que o subsídio público à TAP nos custou, só em 2014: 367 milhões de euros! Esta fatura foi passada à vaca leiteira Parpública, a qual, no mesmo exercício, registou 461,9 milhões de euros de prejuízos.

Em 2015 a fatura será ainda maior se o mal não for cortado pela raiz (leia-se privatização).

A nossa análise da situação da TAP é obviamente desinteressada, ao contrário das adivinhações da administração da TAP, do Governo, da banca exposta ao buraco de dívidas da empresa, do SPAC e dos pilotos não sindicalizados, da generalidade dos trabalhadores da empresa, dos fornecedores e do turismo.

O António Maria e os seus amigos preocupam-se com os erros e com a corrupção pandémica que nos atingiu, e escrevem a favor do que julgam ser as melhores estratégias para o país. A centena de artigos escritos sobre a TAP e a estratégia aeroportuária e ferroviária de que precisamos provam a bondade das nossas intenções. Temos acertados nas previsões e felizmente algumas das decisões estratégicas mais catastróficas (Ota e Alcochete, nomeadamente) caíram sob o peso da realidade.

A TAP, como está, é um cancro. Só a sua progressiva privatização a poderá salvar do pior.

A TAP precisa de capital, ou seja, de um acionista privado maioritário (61%), da participação dos seus trabalhadores no capital da empresa (5%), da dispersão de 30% do capital por outros interessados (por exemplo, as câmaras de comércio portuguesas espalhadas pelo mundo), e da retenção nas mãos do estado de uma pequena percentagem do capital da companhia: 4%.

A TAP precisa de parar a estratégia ruinosa que tem seguido até aqui, nomeadamente ao subestimar o paradigma Low Cost (que veio para durar).

A TAP precisa de uma reestruturação profunda e de uma nova gestão, livre dos condicionamentos da cleptocracia indígena que a manipulou, conduzindo a empresa pública à ruína.

A União Europeia, que neste momento está perfeitamente informada sobre a insolvência da TAP, terá já dado instruções a Passos Coelho sobre o que estará disposta a fazer. Tal como no caso do BES, o ponto de não retorno foi atingido: é preciso resolver imediatamente o problema da TAP!

Acontece que o ex-Grupo BES é provavelmente a instituição financeira mais exposta ao buraco financeiro da TAP (a par da Caixa Geral de Depósitos). Quantas centenas de milhões de euros em crédito à TAP estão registados nas múltiplas operações em que o BES, o GES e a TAP estiveram envolvidos? Só a operação Airbus A350 representa uma exposição superior a 2,5 mil milhões de euros!

A nossa intuição diz-nos que a operação de privatização do Novo Banco precipitou a clarificação do processo de privatização da TAP, precisamente por causa da exposição da nova instituição financeira à companhia aérea portuguesa.

No dia 10 de maio, se não for antes, termina a greve da TAP. No dia 15 de maio termina o prazo da entrega de propostas vinculativas para a aquisição de 61% do capital da TAP (os restantes 5% da fatia em processo de privatização são destinados aos trabalhadores do Grupo TAP). Por sua vez, até ao fim do mês de junho, os cinco candidatos à compra do Novo Banco, entretanto escolhidos pelo Banco de Portugal, terão que apresentar as suas propostas vinculativas de compra.

Sem reestruturação prévia da TAP, com as restrições conhecidas do caderno de encargos, e sem se saber a verdadeira dimensão do endividamento e conhecer todos os credores, só um louco (ou um inside trader muito aventureiro) arriscaria oferecer um euro que fosse pela companhia.

A privatização da TAP está, em certa medida, dependente da venda do Novo Banco, e esta está provavelmente dependente do desfecho da privatização da companhia aérea.

O grupo privado chinês FOSUN, que já comprou o Hospital da Luz e a companhia de seguros Fidelidade, e detém cerca de 5% da REN, é um dos candidatos à compra do Novo Banco. Se vencer a concorrência espanhola (espero que vença) a TAP será naturalmente um ativo muito apetecível. Na realidade, as dívidas da TAP ao Novo Banco devem superar os famosos 300 milhões de euros que o Governo espera arrecadar da privatização. Se assim for, e a FOSUN, como sucessora do Grupo BES, poderá comprar a TAP pelos famosos 60 milhões de contos (o valor que Cravinho pedia, em 1999, pela companhia), transformando as dívidas da TAP em capital.

O aparecimento de um grande grupo económico-financeiro chinês em Portugal é uma opção estrategicamente boa para Portugal. Equilibra a pujança das presenças espanhola e angolana num quadro de ruína e extinção dos rendeiros do regime que não souberam ler a tempo o futuro.

Se esta for a floresta, as pequenas árvores retorcidas que se agitam nos média não farão grande diferença.


Nota final: a FOSUN é o maior acionista do Club Med. Ou seja, aviões, aeroportos, barcos e portos, comboios e ferrovia, estão certamente no radar dos seus investimentos futuros. O comércio marítimo e ferroviário, o turismo e as prestação de serviços de saúde de alto valor acrescentado são fileiras a conquistar no curto prazo. Haverá cada vez mais africanos e asiáticos ricos a demandar a Europa. Portugal é uma das principais portas de entrada, não só de petróleo, gás natural e outros recursos estratégicos (sobretudo se as nuvens negras continuarem a crescer na Ucrânia e no Médio Oriente), mas também de pessoas. Que precisa a FOSUN para crescer rapidamente em Portugal? De um banco... e da TAP!


POS SCRIPTUM—A Catarina do Bloco é contra a privatização. Defende, pois, que os pensionistas continuem a levar cortes e mais cortes para alimentar corvos a pérolas, e que as empresas continuem a fechar portas para que a TAP continue a voar alegremente, às costas dos contribuintes. Por outro lado, a Catarina defende que Portugal não deve pagar o que deve. Matematicamente faz sentido. Gasta-se o que não se tem, pede-se emprestado, e depois não se paga. O problema é que o mano Mário, a prima Lagarde, e a tia Merkel já perceberam que esta matemática é um pouco estranha. E como perceberam, decidiram fechar a torneira do crédito, e só a abrem para deixar correr umas pinguinhas de vez em quando, desde que saibam muito bem para onde vai a massa. Para TAP, tão cedo, não haverá um cêntimo mais. Capiche, Margarida Martins do Bloco sem emenda, nem remédio?

Atualização: 9/5/2015 15:12

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Buybacks: o embuste do mercado de capitais

Réplica da Torre Eiffel numa urbanização chinesa

Não há crescimento, há bolhas que incham e outras que rebentam

O principal mecanismo do embuste financeiro em curso desde 2008 tem origem nos bancos centrais e apoia-se em dois pilares principais:
  1. monetização das dívidas públicas (QE e EQE), através da criação de dinheiro meramente contabilístico, i.e. sem contra-valor real, para emprestar aos governos, adiando-se assim colapsos sociais iminentes e potencialmente catastróficos (os tumultos na América e os fogos de rua que precederam a inauguração da Feira de Milão revelam que os barris do desespero social estão prontos a explodir à menor faísca);
  2. empréstimo de dinheiro contabilístico, criado pelos bancos centrais (QE e EQE), aos bancos comerciais e de investimento para que estes financiem as grandes empresas cotadas em bolsa, ajudando-as a manter a ficção do mercado de capitais e de futuros, através da alavancas de crédito orientadas para a prática generalizada da compra de ações próprias ('buybacks').
Vivemos pois, à escala global, numa economia de ficção.

As fugas em frente de matriz keynesiana tiveram e continuam a ter lugar na China, na América e na Europa. A experiência portuguesa deu o que deu: forrobodó socratino, pré-falência do país, entrada dos credores pelo país dentro e uma década de austeridade aflitiva. As réplicas sucedem-se: BPN, BES, TAP, etc.

É por estas e outras que o documento macroeconómico para a década, para já, não passa de um exercício de cenografia sem conteúdo.

For those who require still more proof that the rally in US equities has become inextricably linked with corporations leveraging their balance sheets to repurchase their own shares, JPM is out with an in-depth look at buyback trends which strongly suggests — unsurprisingly —that buyback activity has indeed been very supportive of US shares over the last several years.

The US Equity Bubble Depends On Corporate Buybacks; Here's The Proof
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 05/02/2015 09:56 -0400

According to a recent report from the management consulting firm McKinsey & Company, China’s total debt in 2007, counting that of private households, independent firms, and government institutions, equaled 158 percent of the country’s GDP. In 2014, it reached 282 percent of GDP—among the world’s highest levels for a major economy.

China's Dangerous Debt
Why the Economy Could Be Headed for Trouble
By Zhiwu Chen / Foreign Affairs


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sábado, maio 02, 2015

SPAC diz que pode acabar com a greve amanhã

Comandante Lino da Silva


Parece que o Lino deu um passo maior do que a perna! 


É tempo de o presidente e a direção do SPAC agirem de acordo com o seu mandato, em vez de continuarem a seguir um estratega que custa os olhos da cara e resolveu jogar à roleta russa com o Sérgio Monteiro, numa altura em que é pública a falta de interessados na privatização da TAP.

Sempre me interroguei porque motivo estariam os pilotos a deixar que o governo fizesse deles o bode expiatório da bancarrota da TAP, consequência da gestão criminosa da casta que capturou o país, os partidos e os governos nos últimos vinte anos.

Acabei por engolir a história do copo cheio, e do já não haver nada a perder. Mas a proximidade do prazo limite da reprivatização —15 de maio— fez-me sempre pensar que teria que haver algo mais e de muito estranho.

Lá estranho é!
Investigação da RTP revela origem do conflito entre pilotos da TAP

RTP, Diana Palma Duarte/Rui Cardoso/Liliana Claro
01 Mai, 2015, 14:59 / atualizado em 01 Mai, 2015, 18:19

A mais polémica greve da TAP está a colocar pilotos contra pilotos. Uma investigação da RTP apurou a origem deste conflito. O foco deste é o assessor financeiro do sindicato que é acusado de ser o grande estratega da paralisação.

A greve dá ao governo o pretexto ideal para, mentindo com todos os dentes dos seus governantes, e ainda os de António Costa, rasgar o caderno de encargos e vender sem mais chatices a empresa a quem ficar com o Novo Banco. Por um euro e uma garrafa de Champagne!

Entretanto, no final do Sexta às 11 (RTP), sobre a greve dos pilotos da TAP, o representante mandatado do SPAC anunciou que estariam dispostos a terminar a greve já amanhã.


Para tal seria apenas preciso que o governo acedesse a sentar-se de novo à mesa das negociações, pois a Gerência da TAP, como se sabe, não passa de uma figura de retórica e uma testa de ferro sabe-se lá de quem.
Hélder Santinhos (SPAC): "o SPAC está aberto a negociar, mas as portas estão fechadas por parte do Governo" — Expresso.
O Governo tem a obrigação de reunir-se com o SPAC amanhã de manhã, ou ainda esta noite, e ambos devem suspender a greve, reiniciando um período de negociação pública, à vista de todos, sobre os assuntos relevantes que preocupam os pilotos, os restantes trabalhadores da TAP, o governo e o país.

Menos que isto será a prova que o Governo teria agido de má fé em todo este processo, procurando fazer do SPAC um bode expiatório do fracasso patente da sua inexistente política de transportes, em particular no caso da TAP.

Mas há ainda uma hipótese sinistra

Uma greve de dez dias, em vésperas do anúncio do resultado do concurso de reprivatização, poderia servir para tornar mais digerível a venda da TAP por um valor irrisório, combinado debaixo da mesa, e precedida do encerramento da empresa e sua reabertura no dia seguinte, com menos 30% dos trabalhadores e nenhum compromisso laboral herdado, os quais cessariam automaticamente com o fecho da empresa. As indemnizações por cessação dos contratos de trabalho ficariam do lado dos contribuintes, a inscrever no orçamento do próximo ano.

Neste caso, em que só uma pequena parte dos pilotos será dispensada, a greve da TAP apareceria como o veículo de um enorme negócio de duvidosa legalidade. Senhora Procuradora-Geral da República, fica aqui o alerta.


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sexta-feira, maio 01, 2015

Os economistas de serviço

Mário Centeno gosta de modelos econométricos. E depois?

O cenário macroeconómico da treta do PS


Mário Centeno: "Mexidas nas taxas contributivas criam cerca de 45 mil postos de trabalho"
Negócios, 01 Maio 2015, 09:00 por Elisabete Miranda

Faz de conta que vamos acreditar nos economistas do palácio em chamas do regime.

Lemos, lemos, lemos, e só achamos mercearia estatística e macro-economia da treta. Quem manda no país são os credores, e quem manda no Orçamento do país é Bruxelas. O resto é fogo-de-vista para embasbacar os indígenas que ainda não emigraram. Ou seja, os velhos e as crianças.

As últimas não votam. E 91% dos reformados e pensionistas auferem rendimentos sociais entre 364 e 1167€. Ou seja, não se pode mexer nas pensões de dois milhões de eleitores potenciais, e é nos dois escalões seguintes (pensões médias de 2013 €, e de 2.879 €, que o Estado terá que inevitavelmente fazer mais alguns 'cortes de cabelo' austeritários, com repercussão visível no mapa da redução da despesa que é preciso apresentar aos credores, nomeadamente ao BCE.

Os mais ricos, onde se situam todos os ex-deputados e ex-governantes do país, também deveriam levar uma boa poda nas pensões, mas o impacto no orçamento desta poda, de que continuaremos a ouvir gritos, choro e ranger de dentes das Ferreiras e dos Félix deste cantinho à beira-mar plantado, é mínimo, embora não devamos subestimar o impacto ideológico e cultural da coisa.

Por outro lado, continuar a cortar à toa nas despesas de capital, transformando Portugal numa ilha ferroviária, e mantendo em geral o país estagnado, é algo que vai mudar na próxima Legislatura, mas não por causa dos professores-pardais arrebanhados pelo nada fiável Costa do PS. É de Bruxelas que vem a liquidez virtual para ver se a Europa evita uma revolução social violenta.

Mas também neste ponto, aliás crucial, é preciso um governo muito vigiado pela cidadania, nomeadamente pela Blogosfera, para impedir o regresso ao saque.

Por fim, a legislação laboral é injusta para quem está fora dela, nomeadamente as centenas de milhar de pessoas que são contratadas por empresas de trabalho temporário, para serem depois escravizadas nas empresas do PSI20, sob o olhar distraído e míope da corja partidária, e da indigente imprensa que temos. E é também injusta para a esmagadora maioria das nano, micro e pequenas empresas que, pela via da hipocrisia da esquerda burocrática arregimentada, são empurradas para a clandestinidade fiscal e social.

Num sistema demopopulista e neocorporativista como aquele que temos e ainda não foi depurado, o PS de António Costa só nos pode trazer retrocesso e desgraça, ao contrário da coligação que está, apesar das asneiras e subserviências manifestas da liderança de Passos Coelho — sobretudo nas coutadas da energia e dos transportes.

Quanto aos economistas de serviço, por muito queridos que sejam, e são, acabarão despedidos ao menor solavanco nas sondagens, ou à menor pressão dos piratas que mandaram sempre e continuam a comandar o PS.

Como canta o realejo de Carlos Carvalhos, que o inapto Costa tem usado abundantemente, como se fosse um miúdo da JCP, cenários todos fazemos, brincar à macroeconomia todos brincamos. Mas o que é preciso é mudar de política!


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