sábado, janeiro 01, 2011

2011 - ressaca

Baltika no. 7
o melhor remédio para a ressaca desta madrugada
Exclusivo: CHICOTE

Produzida em São Petersburgo, uma das melhores cervejas do planeta.

Há várias maneiras de curar uma ressaca de fim de ano —a pior de todas é parar de beber!

Os ingleses gostam muito de curar os violinos partidos que chocalham algures na cavidade craniana, e o travo a bilhetes de lotaria na boca, tomando um pequeno almoço líquido, à base de cerveja preta com dois ovos crus inteiros, ambos mergulhados num copo de meio litro bem medido (o chamado pinto). Ou então curam a monumental bebedeira com o clássico Bloody Mary. Os mediterrânicos sofisticados procuram calmamente uma esplanada e pedem um Campari com soda.

Opções que a CHICOTE não aprecia particularmente, mas compreende, passam por beber três Coca-Colas seguidas num copo sempre cheio de gelo, ou uma garrafa inteira de litro e meio de água Fastio ou Carvalhelhos gelada, devagarinho.

Para quem não se preocupa demasiado com o preço das coisas, sobretudo no day-after de uma passagem de ano, e está hospedado num hotel de 4 ou 5 estrelas, a receita chama-se Black Velvet: um longo copo gelado para dentro do qual deslizam a meias um Krug Brut Champagne Grande Cuvée 2005 e uma Guinness.

Mas a escolha urbana da CHICOTE vai para o que os ingleses, especialistas em tudo o que diz respeito ao álcool, chamam the Hair of the Dog that Bit You ("um pelo do que cão que te mordeu" — outra maneira de ver o problema teórico da ressaca). Basicamente a receia é esta: volta a beber um pouco do que transformou a tua cabeça num disco voador: um copito de vinho branco ou tinto de muito boa qualidade, ou uma cerveja estupidamente gelada, mas que seja uma cerveja premium, muito saborosa, leve, sem o rabo amargo do lúpulo — em suma, uma Baltika no. 7, criada nas famosas fábricas de cerveja de São Petersburgo, mas que faz hoje parte do império de 304 marcas da dinamarquesa Carlsberg. Para encontrar esta cerveja em Portugal, basta procurar uma loja de produtos eslavos, nomeadamente russos. A loja ucraniana situada na estação de comboios de Carcavelos é um dos pontos de abastecimento regular da CHICOTE. Já por lá passámos hoje, claro!

sexta-feira, dezembro 31, 2010

2011 - toma!

Ora aqui está um comentário que saiu na edição do jornal I de hoje...

O melhor comentário (rubrica diária)
“Não me interessa se o sr. primeiro ministro não desiste, não arreda pé, ou se mantêm firme. A mim interessa saber se ele é capaz de ser timoneiro desta nau de 10 milhões de almas? Se é capaz de escolher os melhores da tripulação de 4 milhões para servir o país? Se é capaz de afastar os que andam envolvidos em corrupções? Se é capaz de escolher quem melhore o sistema de justiça? Ou de decidir que rumo vamos escolher? Será o mar, a investigação e as PME's ou os empréstimos atrás de empréstimos? Será capaz de promover a redução do número de deputados? Será capaz de reduzir os viciados nos subsídios? Será capaz de pôr os ricos a pagar em vez de quem precisa de um subsídio de emprego? Será capaz de falar com a oposição e com os parceiros sociais? É que nesta nau precisamos de todos e não se vai lá sem se ouvir os outros.” — por António Gonçalves

Com estes economistas...

Milhões, bilhões, milhares de milhões e biliões
A propósito dos "biliões" de Daniel Bessa



A dívida externa portuguesa supera os 200% do PIB! E não os 100% que não sei quantos economistas vêm lançando para o ar mediático nas últimas semanas, depois de terem tolerado durante anos a conversa fiada dos 3% em volta do défice orçamental, como se este fosse o maior problema estrutural do país. Não é! — in O garrote da dívida externa portuguesa, O António Maria (19-11-2008).

Uma das possíveis causas da nossa desgraça económica deriva do simples mas inacreditável facto de a esmagadora maioria dos economistas portugueses não perceberem patavina de energia, agricultura, pescas, pecuária, transportes, e mal saberem o que é uma empresa, quanto mais pagar salários da sua imaginação e suor! Outro aspecto igualmente grave da sua cada vez mais evidente ignorância, é a falta de conhecimento histórico analítico das crises cíclicas do Capitalismo (ao que parece História, Cultura e Arte são disciplinas que nunca viram ao longo das suas burocráticas vidas). Mas pior ainda: sofrem, quase todos, de uma escandalosa iliteracia terminológica! Dois exemplos:
  1. Apesar de aqui termos chamado a atenção para a dimensão real e gravidade da dívida externa portuguesa em 4 de Novembro de 2008 (A cenoura e o pau do Bloco Central), 19 de Novembro de 2008 (O garrote da dívida externa portuguesa), e no dia 10 de Dezembro do mesmo ano (Economistas lentos), chamando a atenção para a falácia da chamada "dívida externa líquida", só agora, no suplemento de economia do Expresso de ontem, o reputado economista Daniel Bessa reconhece que, afinal, o que importa reter é mesmo a dimensão colossal da nossa dívida externa bruta — a qual, segundo números do Banco de Portugal que consultou recentemente, e que se referem a 30 de Setembro último, apontam para qualquer coisa como 294% do PIB. Quando chamei a atenção para esta catástrofe iminente, em 19 de Novembro de 2008, a percentagem era de 200% — ou seja, em apenas dois anos (entre Junho de 2008 e Setembro de 2010) a dívida externa portuguesa passou de 200 para 294% do PIB. A isto chama-se crescimento exponencial. Sabem o que é? Ora vejam o vídeo que incluí acima, do excelente crash course de Chris Martenson.
  2. Como se esta manifestação de iliteracia económica não fosse já de si inadmissível, acresce a confusão que Daniel Bessa e uma parte substancial de economistas, comentadores económicos, ministros e jornalistas, continuam a fazer entre milhares de milhões, bilhões e biliões!

    Na coluna citada do Expresso desta semana Daniel Bessa confunde sistematicamente milhares de milhões de euros com biliões de euros. A confusão é grave. Pois um bilião de euros são um milhão de milhões de euros, i.e. 10E12€, ou 10^12€, ou 1 000 000 000 000€, quer dizer, mil milhões + novecentos mil milhões de euros! Já agora aproveito para recomendar um pequeno artigo sobre esta confusão, publicado recentemente pelo Jornal de Negócios.

    Colocando os números no sítio certo, é então assim:
    1. devemos ao exterior 505 mil milhões de euros (294% do PIB), entre dívidas comerciais, empréstimos contraídos no estrangeiro e investimento estrangeiro realizado no nosso país (por exemplo, espanhol e alemão), que espera naturalmente retorno e ganho;
    2. o estrangeiro, por sua vez, deve-nos, entre dívida comercial, empréstimos contraídos em Portugal e investimento português no estrangeiro (por exemplo na falida Irlanda), 325 mil milhões de euros;
    3. a posição líquida da dívida externa portuguesa é assim de 180 mil milhões de euros, ou seja, 105% do PIB (na realidade, se contarmos com as dívidas do sector empresarial do Estado, empresas regionais e municipais, e um longo etc., será bem maior!)
Este exemplo de dupla iliteracia, de que padece também Luís Campos e Cunha, que se passou recentemente com armas e bagagens do rosa socratinta para a laranjada cavaquista, não pode deixar de preocupar seriamente o vulgar cidadão, como eu, que tende a pensar apenas na corrupção como causa de todos os nossos males, esquecendo que, afinal, a ignorância oceânica dos nossos economistas pode ser uma causa bem maior do próximo grande colapso da Lusitânia.

    quinta-feira, dezembro 30, 2010

    Europeus, coragem!

    Dólar e libra perdem guerra contra o euro
    Agora é preciso limpar os cacos, resistir ao assalto fiscal e à destruição de serviços públicos essenciais, bem como controlar os bancos e colocar as burocracias partidárias na ordem



    "We propose the creation of a harmonious economic community stretching from Lisbon to Vladivostok." — Vladimir Putin, ao Süddeutsche Zeitung (ler artigo no Spiegel Online de 25-11-2010)

    A resposta à ofensiva das moedas falidas do eixo anglo-saxónico (EUA-Inglaterra) contra o euro, na tentativa desesperada de impedir o abandono crescente do dólar como moeda de reserva mundial, parece estar em curso de forma rápida e eficaz, embora os radares da imprensa convencional captem com dificuldade e lamentável atraso esta realidade subtil mas de importância decisiva para os deslocamentos em curso das placas tectónicas do poder mundial.

    Por um lado, a SCO (Shanghai Cooperation Organization) tornou-se, de 2001 para cá (lembram-se de 2001?), numa poderosa aliança de estados euro-asiáticos. Por outro, a China começou a usar a sua moeda nas trocas internacionais com países como a Argentina, e acaba de acordar com a Rússia o abandono progressivo da divisa americana nas transacções entre estas duas potências económicas e nucleares mundiais. Esta tendência, cujo anúncio prematuro por Saddam Hussein lhe viria a custar a vida e a segunda grande invasão do Iraque pelos Estados Unidos e Inglaterra, foi retomada em Novembro passado por uma ofensiva diplomática sem precedentes de Vladimir Putin, tendo por alvo directo a Alemanha de Angela Merkel, mas visando obviamente um cenário muito mais amplo e particularmente atractivo para a União Europeia no momento em que esta enfrenta um ataque traiçoeiro e sem precedentes de Wall Street e Londres contra a estabilidade e integridade do euro. Mas mais: os emergentes BRIC, actualmente presididos pela China, acabam de incorporar formalmente no seu seio a África do Sul, transformando-se em BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa), na mesma semana em que sete países do Leste Europeu (1) anunciam a sua vontade de entrar na Eurolândia, apesar da crise (ou por causa dela...) Por fim, como que a provar a sabedoria de quem foge da nota verde, os dados mais recentes da economia dos USA, nomeadamente sobre a queda imparável dos preços do imobiliário, são de deixar os cabelos em pé (2).

    Mapa da área de influência da nova aliança estratégica promovida pela China

    As economias do Ocidente europeu e norte-americano estão sobre endividadas, quer no que se refere às respectivas dívidas externas, quer no que respeita às respectivas dívidas públicas. Mas o mesmo é ainda mais verdade para o Japão —onde a deflação continua a fazer vítimas, nomeadamente entre os pensionistas (3)—, não deixando de ser verdade também para muitos outros países: Austrália, Israel, Sudão, Líbano, etc. Ou seja, teremos que procurar a causa deste endividamento global em algo de mais fundamental do que as divergências —aliás praticamente inexistentes— entre sociais-democratas e neoliberais. Todos têm sido neo-keynesianos à sua maneira desde a crise petrolífera de 1973 —uns empolando mais as burocracias de Estado, partidárias e municipais, outros transformando as economias em gigantescos jogos de Monopólio, onde o dinheiro é grátis e não custa praticamente nada a fabricar (pois aflui aos mercados em formatos puramente virtuais por actos de magia electrónica e administrativa!) Em ambos os casos a receita é, por assim dizer, keynesiana: trata-se de inventar trabalho e consumo onde não existe!

    Há dois factos até agora não refutados que poderão fazer alguma luz sobre a magnitude e sincronia da actual crise sistémica do Capitalismo:
    • a produção de petróleo per capita tem vindo a decair consistentemente desde 1970, 
    • e a produção de cereais per capita começou igualmente a decair de forma aparentemente irreversível desde 1980.

    Outro ponto a ter em conta é o fim objectivo do colonialismo e do imperialismo ocidentais, que embora tenha começado a desaparecer lentamente no longínquo ano de 1823, por imposição da célebre Doutrina Monroe, que retirou progressivamente o "novo mundo" do domínio colonial europeu, acelerou extraordinariamente com os processos de descolonização na Ásia e em África depois da Segunda Guerra Mundial. A verdade é que este processo de implosão do imperialismo ultramarino iniciado pela Europa em 1415 (com a conquista de Ceuta por portugueses, galegos, biscainhos e ingleses), só agora está a chegar ao fim. Podemos ler estes sinais nas sucessivas derrotas da Europa e da América na Indochina, em África, e mais recentemente no Iraque e no Afeganistão. Podemos entender o alcance destes sinais desde 1960, quando os principais países produtores de petróleo formaram a OPEP, excluindo expressamente do seu seio grandes produtores com eram e ainda são os Estados Unidos e o Canadá. Podemos, enfim, ter a certeza de que algo de fundamental mudou, quando os países emergentes dos BRICS começaram a juntar os trapos, conscientes da sua importância global enquanto detentores de vastos territórios ricos em recursos naturais e humanos.

    De um lado, temos a velha Europa, a parte rica da América do Norte (EUA e Canadá), e o Japão, industrializados, urbanizados, e devoradores insaciáveis de recursos. Do outro, uma imensa maioria populacional pobre, pouco industrializada, pouco e mal urbanizada, e com acesso limitado às matérias-primas, fontes de energia e bens de consumo, vivendo paradoxalmente em territórios imensos, onde se encontra boa parte dos recursos vitais para a sobrevivência do modelo de desenvolvimento e crescimento criado e desenvolvido pelas antigas potências imperiais: energia, minérios, recursos alimentares e mão de obra barata.

    Era uma questão de tempo até que o mapa da divisão internacional do trabalho e do poder mudasse de geografia e de mãos. E é o que vem acontecendo de forma clara desde 1971, ano em que o presidente americano Richard Nixon descolou a divisa americana do ouro, pondo-a a flutuar num reino de arbitrariedade cambial, cujo fim negro se aproxima agora, perigosamente, do fim. O ataque indecente e traiçoeiro dos piratas de Wall Street e da City londrina contra o euro, mais não tem sido do que um último e lamentável episódio demonstrativo do que pode fazer um sistema fiduciário técnica e moralmente falido, entregue à ganância e ao crime, quando estrebucha.

    China, Rússia e boa parte dos países árabes estão fartos do dólar e dos americanos. Decidiram por isso apostar na moeda única europeia. É pois provável que não deixem cair o Euro, apesar de todas as pressões e do preço que tiverem que pagar por tal decisão estratégica. Os leilões de dívida soberana que ocorrerão na Europa ao longo de todo o ano de 2011 vão ser o verdadeiro teste de esforço à nova ordem económica e financeira mundial prestes nascer.

    Curiosamente, Putin, líder de facto de um imenso país despovoado e a caminho de uma perigosa depressão demográfica, já terá percebido que a China é um aliado de circunstância. Tornar pois possível a grande Europa de Lisboa a Vladivostoque é agora o grande desígnio "secreto" da Rússia (4), que os portugueses deverão acarinhar com o mesmo entusiasmo que deverão colocar na rápida entrada da Turquia numa Eurolândia que tem tudo a ganhar com a sua abertura a Leste. Uma nova Europa com mil milhões de habitantes e uma longa história cultural poderá fazer a diferença que falta na recomposição planetária dos equilíbrios entre as grandes regiões humanizadas. E no fim, Portugal até poderá deixar de estar na periferia —se souber transformar-se numa pequena mas importante potência diplomática mundial. Bom ano, Portugueses!

    REFERÊNCIAS
    • A V.O. de Mark Blyth on Austerity, encontra-se acessível na Videoteca deste blogue, ou no portal Vimeo.

    NOTAS
    1.  "Sept pays candidats pour rejoindre le club. Par Fabrice Nodé-Langlois". Le Figaro (27/12/2010)
    2. "Investors Attempting to Dump Bonds Push Bid Index Near Record: Muni Credit", By Brendan A. McGrail, Bloomberg, Dec 27, 2010.
      ROBERT SHILLER: "If House Prices Keep Falling This Fast, The Economy Is Screwed", Business Insider, Dec 29, 2010.
    3. Japan to cut pension benefits amid deflation. Japan Today, Tuesday 21st Dec, 08:18 AM JST
    4. Sobre isto mesmo escrevemos, a pretexto da cimeira Europa-Rússia celebrada durante a presidência portuguesa da UE em Lisboa, em Outubro de 2007, o seguinte:
      A cimeira Europa-Rússia que hoje tem lugar em Portugal, no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia, na conjuntura explosiva que o mundo está a atravessar, tem uma importância crucial para o futuro imediato do próprio projecto europeu. Ou a Europa descola diplomaticamente da América e defende os seus interesses regionais de forma inteligente e clara, ou permanece atrelada às manobras inglesas (e agora também do garnisé francês), deixando os proto-fascistas da Casa Branca conduzirem o planeta para uma III Guerra Mundial. Mesmo que limitada, mesmo que não alastre imediatamente a todo o planeta, uma guerra de mini-nukes (contra o Irão, por exemplo) levará necessariamente a um novo Tratado de Tordesilhas, desta vez entre os EUA e a Rússia-China, por cima dos escombros materiais e ideológicos de uma Europa decapitada de qualquer protagonismo nos próximos duzentos anos. O contrário desta possibilidade passa pela existência de uma terceira posição estratégica independente, protagonizada pela Europa, em nome da racionalidade, da distensão e da cooperação mundial. Não é assim tão difícil. — in "Rússia, Vladimir Putin, um novo príncipe" (O António Maria, 25-10-2007.)

      Última actualização: 30-12-2010 12:02

    quarta-feira, dezembro 29, 2010

    Only Shoes

    "Portuguese shoes the sexiest industry in europe"

    Calendário Portuguese Shoes 2011 da APICCAPS

    Calendário Portuguese Shoes 2011 da APICCAPS

    Calendário Portuguese Shoes 2011 da APICCAPS

    Já ouviram falar desta campanha? A CHICOTE, não. Mas chegámos ao seu miolo através do conhecido sítio de talentos Beance Network, onde descobrimos o excelente trabalho de Frederico Martins (fotógrafo de moda) e Fernando Bastos Pereira (estilista). O prometido Calendário Portuguese Shoes 2011 da APICCAPS, a Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos, com sede no Porto e fundada em 1975, ainda não saiu a público, mas quando sair queremos ser contemplados!

    Num país sempre visto como conservador, de tamancos, analfabeto funcional e com mulheres de buço, esta campanha promete encostar os nossos detractores à parede. E com que argumentos!

    O passo de ganso da Dominatrix que abre, cremos, o mês de Janeiro de 2011, não é, como o ano que aí vem, para brincadeiras. Ou, melhor, é só para quem estiver disposto à alta escola portuguesa de cavalaria. Por sua vez, o David criado pela dupla Frederico Martins/Fernando Bastos Pereira, é absolutamente divinal. Ficamos sem saber se estamos em Florença, se no preâmbulo de um retrospectiva de Robert Mapplethorpe. Engano nosso — são só sapatos!

    Para o ano negro que aí vem, a ofensiva dos industriais de calçado do norte de Portugal não poderia ser melhor sinal de esperança para quem imagina, para quem desenha, para quem transforma a matéria, para quem sabe seduzir as vítimas do bom gosto, e para quem gosta de Ferraris —claro!

    A CHICOTE não poderia estar mais babada com esta campanha. Podemos levá-la debaixo do braço, e entrar em qualquer sítio decente deste planeta, dizendo que vimos de uma praia à beira-mar plantada, onde há gente linda, artistas incógnitos, e trabalho. Muito trabalho pela frente. Não morremos de frio, os nossos aeroportos e portos não fecham, nem com ventos, nem com tempestades de neve, e temos a a mais genuína slow food da Europa. Welcome, and get use to it!

    Para os que ainda não sabiam, aqui ficam alguns dados para as estatísticas (APICCAPS dixit):
    • A indústria portuguesa de calçado coloca no exterior mais de 90% da sua produção, o equivalente a 1.300 milhões de euros anuais.
    • O calçado português chega, actualmente, a 132 países, nos cinco continentes. Nos últimos cinco anos, o crescimento acumulado das exportações ascende a 6,1%, isto é, três vezes mais do que a generalidade da economia portuguesa.
    • O sector do calçado em Portugal engloba 1.300 empresas, responsáveis por mais de 34 mil postos de trabalho.
    • O sector do calçado é o mais internacionalizado da economia portuguesa.
    • A APICCAPS em parceria com a AICEP e o apoio do Programa Compete, está a ultimar a mais extensa e ousada campanha de promoção de sempre, num investimento total de 10 milhões de euros.
    • A campanha Portuguese shoes the sexiest industry in europe chegará a Las Vegas, Tóquio, Moscovo e Xangai.
    • Em 2011, pela primeira vez, a indústria portuguesa de calçado vai investir na Austrália, na Índia e na Turquia.
    • Mais de 140 empresas participarão em mais de 70 fóruns da especialidade em 16 mercados distintos, numa verdadeira volta ao mundo em menos de 365 dias.
     É caso para dizer: Se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé — CHICOTE.

    Publicado sob autorização da CHICOTE.


    ______________

    Ficha técnica
    Client: APICCAPS
    Photography: Frederico Martins
    Styling: Fernando Bastos Pereira
    Make-up: Patricia Lima
    Hair styling: Rui Rocha
    Photo assistant : Pedro Sá
    Retouching: LaLaLandstudios

    terça-feira, dezembro 28, 2010

    Finanças Pessoais

    2011-2020: poupar, proteger, diversificar
    principais aplicações para as auas poupanças
    1. Habitação própria — se contraiu um empréstimo para comprar a sua casa, o ideal é livrar-se tão cedo quanto possível da hipoteca. Livre-se de encargos prescindíveis e de hipotecas que possam afectar a posse do bem em consequência de uma subida empinada das taxas de juro e dos preços de bens essenciais como a energia e a água. A médio-longo prazo (10—20 anos) o Euro irá perder paulatinamente valor, os juros irão subir, e as pensões de reforma e outros subsídios verão diminuir significativamente o respectivo poder de compra. Faça um somatório de todos os encargos que tem com a sua casa (hipoteca, consumos de energia, água e telecomunicações, condomínio e manutenção geral) e simule os impactos que poderão ter nas suas receitas uma inflação real de preços e juros sobre empréstimos na ordem dos 10% ao ano. Não se esqueça que uma moeda como a Libra inglesa, por exemplo, tendo o ouro como padrão de referência, perdeu 400% do seu valor desde 1971 (Why I keep buying Silver and Gold, by Bengt Saelensminde, in MONEY WEEK).
    2. Trabalho — é um bem cada vez mais raro, e enquanto a tecnologia for alimentada por energia fóssil barata, não haverá regresso em massa ao trabalho, isto é, ao trabalho das nossas mãos, braços, pernas e cérebros. Esta realidade é ainda mais séria no Ocidente, cujas indústrias têm emigrado a ritmo acelerado para a China, a nova fábrica do mundo. No entanto, é preciso ter em conta que a energia fóssil barata está à beira do fim. Depois, só energia cara, muito cara mesmo. Preservar o pouco trabalho que há, ainda que auferindo menos dinheiro pela sua realização, vai tornar-se um questão cada vez mais crítica para as economias pessoais e familiares.
    3. Ouro e prata — o valor destes metais não pára de subir e é de crer que continuará a ser uma das melhores aplicações para a poupança que formos conseguindo. Habitue-se a fazer pequenas poupanças semanais, sobretudo nos consumos supérfluos, aplicando-as em pequenas moedas de ouro e prata. Para uma introdução ao investimento em metais preciosos, leia-se este actualizado A beginner's guide to investing in gold, publicado pelo MONEY WEEK. Não é sem motivo que a Índia comprou duzentas toneladas de ouro ao FMI em Novembro de 2009 (in The Prudent Investor).
    4. Terra — as necessidades alimentares que hoje são preenchidas com produtos variados e a preços razoáveis, sobretudo nos países ricos do Ocidente, poderão deparar-se em breve, no prazo de uma década, com falhas de abastecimento inimagináveis nos dias que correm, e uma inflação galopante. Quando esta escassez, motivada pela carestia do petróleo e do gás natural, ocorrer, ou antes, quando esta escassez inevitável se tornar visível no horizonte, a corrida às terra ricas em nutrientes, aptas a gerar alimentos, atingirá proporções nunca vistas —nem nas grandes corridas ao ouro. O momento para investir em terrenos com potencial agrícola, sobretudo nas zonas próximas dos grandes centros urbanos, é agora! 
    5. Amizade — as tensões sociais tendem a agravar-se à medida que a escassez energética aumenta, provocando a inflação e o endividamento geral dos indivíduos, famílias, nações e estados. A tentação dos governos, depois das democracias ocidentais terem degenerado em aparelhos burocráticos, populistas e minoritários, cada vez mais musculados (os estados de excepção, sob a forma de leis anti-terroristas, ou de estados de alarma, regressaram ao nosso quotidiano), é apropriarem-se, por via de leis arbitrárias (ainda que sufragada por parlamentos e dirigentes políticos cada vez mais corruptos), ou à força, da riqueza alheia. Fazem-no já sob a forma de um verdadeiro terrorismo fiscal, da desvalorização do dinheiro, do ataque directo ao Estado Social que os impostos já não conseguem suportar, e preparam-se mesmo para desencadear no futuro operações em massa de expropriação directa da propriedade privada, alegadamente em nome do interesse público. O anúncio pelo actual ministro da agricultura português, rapidamente abafado, da expropriação de terrenos florestais para posterior entrega a empresas privadas "especializadas", foi um balão atirado para o ar para estudar reacções. Mas a verdade é que o assunto estava, está e estará em cima da mesa das burocracias democráticas que, não tenho dúvidas, se preparam para a eventualidade de uma estatização forçada da riqueza, nomeadamente agrícola e florestal. É este tipo de desestruturação social, que em breve poderá tomar conta das economias a braços com a tragédia de um bem comum exausto (o petróleo e o gás natural baratos), que as sociedades civis de todos os países terão que enfrentar. Os povos que souberem criar rapidamente laços de amizade e cooperação, baseados na proximidade e na organização em rede, poderão talvez conseguir travar a barbárie, e reconduzir as nações a um novo ponto de equilíbrio. Daí a importância de promover, desde já, a acumulação dessa nova riqueza imprescindível ao futuro da humanidade: a amizade.