sábado, abril 16, 2011

Expulsos do Paraíso?

Não, não podemos ser os chineses (pobres) da Europa!

A histeria anti-germânica do PS, partido acarinhado e financiado durante décadas pelos social-democratas alemães, é mais um tiro na testa dos portugueses dado pelas agora histéricas criaturas dependentes da tríade de piratas que assaltou o PS e Portugal e nos conduziu à bancarrota. Sim, se a Alemanha der ouvidos à retórica recente de Mário Soares, e à verborreia febril da funcionária cor-de-rosa Ana Gomes, acabando por nos deixar resvalar para fora da moeda única europeia, o nosso país perderá literalmente a face, tornando-se mais um estado pária dos muitos que preencherão a geopolítica do futuro. Eu só compreendo as palavras de Mário Soares como um táctica negocial — mas é tarde para isso, além de que foi esta mesma espécie de chantagem europeia o estratagema usado sem vergonha por Sócrates ao longo dos últimos três anos e meio.

É difícil passarmos a ser os chineses (pobres) da Europa, se formos expulsos do euro. E isto por quatro razões básicas:
  1. a nossa dívida tornar-se-ia muito mais pesada e porventura eterna...
  2. o que exportamos bem (têxteis, calçado e máquinas/utensílios) já o fazemos apesar da valorização do euro face às demais moedas mundiais; 
  3. mas como precisaremos sempre de divisas fortes para comprar a energia que move a nossa economia e o país em geral (petróleo, gás e matérias primas, nomeadamente alimentares), a saída de Portugal do sistema monetário europeu acabaria por destruir o sector exportador, tornando impagável a nossa gigantesca dívida colectiva;
  4. estamos a perder população e a envelhecer..., o que somado a uma desvalorização de 50% ou mais da nossa economia, e a não conversão automática da nossa futura moeda fraca, mergulharia o país numa espiral inflacionista, emigração em massa e possível guerra civil.
Só temos, pois, um caminho: emagrecer o Estado > aumentar a transparência > atacar a endogamia do regime > e aumentar dramaticamente a racionalidade e o pragmatismo de todo o sistema político.

Como no início desta emergência escrevi, não passaremos sem uma taxa de IVA de 25%, pelo menos durante dois ou três anos. Só depois deste aperto inicial, será possível e desejável aliviar progressivamente a carga fiscal, beneficiando os criadores de riqueza e recuperando assim parte do produto indevidamente apropriado por capatazes especados diante de quem bule, burocratas que arrastam os pés por esse país fora entre as onze e as cinco e meia, e pela virtualmente inútil nomenclatura partidária.

Emagrecer o Estado implicará também uma separação de águas radical nos sistemas públicos de educação, saúde, justiça e administração do território. O Estado Social terá que tranformar-se nos próximos três a cinco anos num Estado Essencial — o que não for urgente e estratégico (em suma, essencial) não deve continuar nas mãos do Estado, e deve passar tão rapidamente quanto possível aos domínios da iniciativa privada e das comunidades auto-organizadas (associações, cooperativas e organizações de cidadania). O estado autárquico, por exemplo, depois de uma diminuição drástica do número de municípios (sobretudo nas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto) terá que encontrar inevitavelmente novas formas de financiamento para além das transferências do Estado central e da cobrança de taxas e impostos locais; e para conseguir atingir tal objectivo terá que ganhar constitucionalmente (já na próxima revisão) uma muito maior autonomia administrativa e capacidade de negociação, seja com as comunidades de onde emanam, seja com as irmandades que conseguirem estabelecer pelo país e por esse mundo fora.

Entretanto, persiste a possibilidade de o euro colapsar, seja pela via do regresso das moedas europeias nacionais (uma hipótese, apesar de tudo, inverosímil); seja pela via da emergência de duas bandas no euro: uma banda forte e uma banda fraca. Neste caso, a moeda manter-se-ia a mesma, mas as taxas de juros do BCE seriam diferenciadas consoante o pedinte...., sem que, ao mesmo tempo, os bancos nacionais e os governos pudessem depois repercutir directamente o preço caro do dinheiro em taxas de juro nacionais, regionais ou locais.

Ou seja: se é verdade que a sobrevivência do euro está em causa, esta dependerá menos da diminuição do espaço euro, do que do seu alargamento (nisto a Alemanha teve e continua a ter razão) e, sobretudo, da aceitação por todos os países que quiserem permanecer nesta zona monetária, de um verdadeiro governo económico europeu — o qual passará a vigiar directamente as contas públicas de todos os seus membros, nomeadamente através dum mecanismo de aprovação/rejeição europeia dos orçamentos de estado. Por menos do que isto não vamos a parte alguma.

É verdade que a especulação tonou conta do mundo. É verdade que o buraco negro dos chamados derivados financeiros equivale a mais de dez vezes o PIB mundial. Mas nada disto diminui o fundamental: os Estados Unidos e a Europa vivem acima das suas possibilidades há pelo menos trinta anos. Nós, portugueses, vivemos acima das nossas possibilidades, pelo menos desde que a última árvore das patacas inundou o país de riqueza que não criámos, que outros criaram por nós e que agora, legitimamente, querem ver retribuída.

O discurso anti-germânico, sobretudo vindo dum partido que acaba de realizar um congresso proto-fascista, é preocupante.

quinta-feira, abril 14, 2011

Um FMI mais humano

Estela Barbot — uma tragédia contada aos pequeninos
Para recuperar a credibilidade, Portugal precisa de uma verdadeira dona de casa

A entrevista realizada por José Gomes Ferreira (na SIC) a Estela Barbot vale cada segundo da conversa. Estela Barbot, antiga empresária, membro da Comissão Trilateral do Clube de Roma, e actual conselheira do FMI, em palavras simples, muitas vezes cavalgadas pelo seu raciocínio agudo e ultra-rápido, deixou os desajeitados mas nem por isso menos arrogantes machos da política portuguesa num verdadeiro buraco de vergonha.

Depois de Manuela Ferreira Leite e Medina Carreira, esta celtibera de pelo claro e olhar de lince fez o mais compreensível e demolidor retrato do desastre a que o tele-ponto da tríade de Macau conduziu o país. O PS, capturado por um inacreditável polvo cor-de-rosa (sim, é mesmo uma rede mafiosa) atirou Portugal para a bancarrota, e não quer sair da toca de corrupção, manipulação e intriga que defende desesperadamente. Como qualquer ditador árabe ou africano, José Sócrates está agarrado ao poder como uma lapa depois de tocada pelo momento da verdade. Vai ter que ser arrancado de São Bento, como Mubarak, Kadafi e Laurent Gbagbo, e enviado à barra dos tribunais, se não acordar a tempo do paraíso alucinado onde se refugiou. Até nisto nos estamos a transformar rapidamente num país do terceiro mundo!

Os machos partidários deste país (do Bloco ao CDS) fizeram de Portugal um atoleiro de onde é cada mais difícil escapar sem enormes estragos e feridas duradouras. Venham pois as mulheres! Estela Barbot, Manuela Ferreira Leite, Paula Teixeira da Cruz, Maria João Rodrigues, Assunção Cristas, Manuela Arcanjo, tomem conta do meu país, já!

NOTA: José Gomes Ferreira questionou-se, pela primeira vez, sobre a inutilidade óbvia do novo aeroporto (até que enfim ;) E Estela Barbot demoliu numa frase de bom senso o desastre financeiro e técnico que foi a todavia incompleta modernização da linha ferroviária no norte, que liga Lisboa ao Porto e Braga. João Cravinho, hoje no BEI, bem poderia pedir desculpa a todos nós por este erro monumental, bem como pela lunática invenção das SCUTs — as quais, afinal, vão ter desastrosos custos para o utilizador! Esperemos que o Eduardo Catroga veja e medite seriamente nas palavras de Estela Barbot, e se deixe de fantasias aeroportuárias no programa que o PSD vai apresentar em breve o país.

Ver entrevista

quarta-feira, abril 13, 2011

Populismo pós-moderno

O comício de Matosinhos fez-me lembrar outros tempos...

Carrilho diz que congresso do PS foi a cassete de Sócrates
No seu comentário semanal na TVI24, Carrilho voltou a repetir a ideia de José Sócrates “construiu uma história em que ele [Sócrates] é o herói” e que foi ao congresso “transformar a boa história numa cassete.”

“Não houve uma única ideia no congresso”, acrescentou Carrilho, que não foi à reunião socialista. “Foi como se todos os socialistas assumissem o teleponto de Sócrates.”

Carrilho salientou ainda que o PS “vai avançar para as eleições sem programa” e em que José Sócrates se apresenta “como um cartão de crédito” — in Público.

Manuel Maria Carrilho tem sido uma das poucas vozes avisadas do PS com a lucidez e coragem suficientes para denunciar o plano inclinado que Sócrates trouxe ao partido fundado por Mário Soares e a Portugal.

O ajuntamento partidário do último fim-de-semana fez-me pensar no que conduz realmente um povo ao fascismo. É só isto: a ameaça de miséria e o desemprego em regimes partidários parlamentares corrompidos. Sobretudo o desemprego urbano e suburbano, que num primeiro momento (uma ou duas décadas) o proteccionismo partidário e burocrático ainda disfarça com emprego público financiado por empréstimos e por uma fiscalidade cada vez mais agressiva.

Chega, porém, um momento em que deixa de ser possível esconder a realidade, e a ameaça de colapso social ameaça a continuidade dos próprios regimes. É aqui que a irracionalidade crescente pode levar os líderes outrora democratas à metamorfose e ao surgimento inesperado de caudilhos, cuja tropa de choque é formada, precisamente, pelo tipo de clientela que hoje vive e sobrevive apenas à custa dos partidos. A unanimidade do comício de Matosinhos, onde sintomaticamente nem Carrilho, nem Mário Soares estiveram, foi terrivelmente premonitório a este propósito. Aquela gente já é uma tropa de choque em movimento! A cassete do líder foi ali apresentada, saudada e unanimemente tomada como hóstia do desespero e agressividade que rapidamente irá tomar conta de milhões de portugueses.

O embate partidário em curso, da parte de todos os partidos que disputam assentos parlamentares, conselhos de administração, direcções-gerais, e toda a espécie de indecorosas mordomias, transpira cada vez mais estes perigosos odores populistas. O fascismo pós-moderno, que terá outra cor e dimensão mediáticas, pode estar, efectivamente, ao virar da esquina. Não digam, se o pior ocorrer, que não foram avisados.

Basta ler o excelente estudo editado por Daniele Albertazzi e Duncan McDonnell —Twenty-First Century Populism (2008) — para perceber claramente como novas formas de populismo estão a crescer rapidamente em toda a Europa e poderão eventualmente conduzir, antes de a presente década chegar ao fim, ao colapso da União Europeia, a uma nova guerra civil europeia ou, pelo contrário, mas só se tivermos juízo, à urgente paragem da globalização suicida das últimas três décadas.

Precisamos dum NOVO TRATADO DE TORDESILHAS! A América e a Europa devem proteger as respectivas economias. A China, o Japão e a Índia, mas  também a Alemanha e a Rússia, ou entendem rapidamente que é do seu interesse uma nova divisão internacional do trabalho, favorável ao equilíbrio, e não mais às deslocações tectónicas dos centros de produção, nem à especulação desenfreada, ou acabaremos numa guerra global que acabará com um parte substancial da humanidade.

O FMI até poderá ser uma bênção para o nosso país — sobretudo se conseguir rapidamente acantonar a parasitária, mole e indecorosa burguesia palaciana que temos. Sobretudo se conseguir rapidamente colocar os nossos deputados a andar de metro e autocarro. Sobretudo se conseguir limitar os danos à nossa independência e sustentabilidade provocados pelo terrorismo fiscal e pelos monopólios que há décadas têm vindo a destruir o nosso tecido económico e a discriminar os portugueses em duas grandes categorias: os que vivem à custa do Estado, nomeadamente pela via da cunha familiar e/ou partidária, e aqueles que emigram.

segunda-feira, abril 11, 2011

Nobre trava Alegre e Ferro

Fernando Nobre trava populismo de esquerda de Sócrates

O convite dirigido por Passos Coelho a Fernando Nobre e a aceitação deste é uma luz ao fundo do túnel. Serve para travar a demagogia populista de esquerda que aí vem — como se a "esquerda" não fosse também responsável pela bancarrota do país! Somos todos, quanto mais não seja pela nossa distracção...

Por outro lado, a entrada de Fernando Nobre pela porta do PSD na Assembleia da República servirá para instalar no conflituoso parlamento que sairá das próximas eleições uma voz independente, que será ouvida, não apenas pelos deputados, mas também por quem nele votou para as presidenciais e dele continua a esperar um protagonismo que ajude a inverter o curso autofágico da nossa degenerada democracia — capturada por uma partidocracia ignorante, irresponsável, egoísta e clientelar.

Finalmente, Fernando Nobre na AR poderá muito bem ser um futuro candidato presidencial capaz de suceder ao imprestável Cavaco Silva. A sociedade civil desorganizada pode pressionar a democracia, mas não pode mudá-la se não aceitar pelo menos algumas das suas regras. E a regra, em democracia, para eleger um presidente é que tenha o apoio de, pelo menos, um partido político.

O mitómano Sócrates transformou o congresso coreano que o reelegeu, com 97,2% de inúteis, num comício repetitivo de burocratas e aparachiques que, sem a benção nepotista e endogâmica do partido, morreriam à fome ou teriam que emigrar, como muitos de nós. Sócrates anunciou, por outro lado, que prepara uma fantasmagoria de esquerda, com o objectivo expresso de roubar os votos dos profissionais liberais desiludidos com os quadrados maoístas e trotsquistas do Bloco. Foi repescar os zombies Alegre e Ferro Rodrigues para servirem de martelos pesados contra o PSD, e prepara uma campanha de retórica assassina contra os perigosos liberais que aí vêm, como se liberais não fossem os funcionários do BCE e do FMI que chegam amanhã para ditar as regras do resgate de uma economia falida, ou como se liberal não fosse tudo o que o vigarista-mor da Tríade de Macau fez ao longo dos últimos seis anos enquanto primeiro-ministro de Portugal.

O PSD é um partido provinciano, ao contrário do cosmopolita PS. No entanto, o cosmopolitismo do PS transformou-se numa mancha de interesses e ganância sem limites que levou o país à ruína. A apoteose que rodeia Sócrates é a parte visível dessa mancha; mais do que isso: é uma gangrena que atirou o país para a bancarrota e que persiste, como um dependente de heroína desesperado, no assalto à farmácia chamada Estado, para acalmar a sua dependência suicida.

Fernando Nobre não é apenas o médico com provas dadas nos teatros desesperados de todo o mundo; é também o ex-candidato presidencial que convenceu quase 600 mil cidadãos a votar na sua atitude. Saberá como ninguém travar o discurso hipócrita de esquerda que os zombies Alegre e Ferro —acólitos devedores do pirata Sócrates e da Tríade de Macau— intentarão contra o PSD.

Tudo somado, o convite de Passos Coelho a Fernando Nobre foi o sinal de que a inteligência táctica começa a emergir do interior da nova direcção do PSD. O próximo passo seria talvez recomendar ao Marcelo Rebelo de Sousa que adira ao PS (pois ele lá sabe o que deve a Sócrates!)


POST SCRIPTUM — o reflexo instintivo de Passos Coelho foi a maneira, realmente rápida e inteligente, de travar a manobra populista de esquerda que o Sócrates lançou no congresso. Claro que o eleitorado do Bloco estará agora sob uma enorme pressão. Mas é, por outro lado, o momento ideal para proceder à clarificação interna de que este albergue espanhol precisa para sobreviver. O maoísmo cadavérico e o trotsquismo débil do Louçã bem podiam dispensar o aumento da idade da reforma, e sair de cena quanto antes!

domingo, abril 10, 2011

O grande tuga

Sócrates prepara Frente Populista

"Unidade não é unanimidade, porque isto não é o PC chinês e não é o partido da Coreia do Norte do Kim Jong II"— Ana Gomes (DN)


PR: É "crucial" que próximo Governo seja um executivo maioritário.
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, congratulou-se hoje por os partidos já terem reconhecido que o próximo Governo terá ser de um executivo com apoio maioritário na Assembleia da República (DN).

Sócrates prepara com Ferro Rodrigues e Manuel Alegre uma Frente Populista para a eventualidade de ter que subir a parada das negociações do contrato de resgate da dívida pública portuguesa que começam na próxima terça-feira em Lisboa. Se for preciso travar o ímpeto usurário de alguns bárbaros europeus, Sócrates poderá dizer "não" às condições que comprometam irremediavelmente qualquer possibilidade de crescimento económico, de criação de emprego ou de manutenção de níveis de segurança social semelhantes aos dos demais estados da União. Para já, o xeque-mate às finanças públicas, lançado pelo BCE (1), será o grande alimento de toda a campanha eleitoral, e uma tremenda prova de esforço para a moeda única europeia. Mais do que a Grécia e a Irlanda, Portugal colocará verdadeiramente à prova a seriedade do projecto franco-alemão.

Sócrates e o congresso do PS

Ouvi e vi com irritação que baste as intervenções do teleponto de José Sócrates. O mitómano anunciou, com a prosápia, lata e cinismo que se lhe conhecem, a litania da campanha PS para as eleições antecipadas do próximo dia 5 de Junho. Falou sempre e só para o seu eleitorado, pretendendo ludibriar uma vez mais a sua potencial base eleitoral de apoio — com optimismo, mentiras piedosas e promessas vãs.

A unanimidade coreana demonstrada pelos 97,2% dos votos que o reelegeram, e o calculismo dos candidatos "socialistas" à sua sucessão, estampam sem vergonha a democracia que temos: endogâmica, irresponsável, partidocrata e ligada a meia dúzia de grupos económico-financeiros que não conseguem sobreviver fora do perímetro orçamental suportado pelos nossos impostos e pelos empréstimos externos. A saída do PS da esfera governativa significará o desemprego imediato para dezenas de milhar de "famílias socialistas" e respectivos clientes ou fornecedores. A origem da unanimidade é assim natural: medo de perder um emprego pouco exigente e bem pago.

A reforma da administração do Estado, que terá como consequência a diminuição inevitável do número de funcionários públicos e equiparados, e a eliminação pura e simples de centenas, ou mesmo milhares (a prazo mais longo) de organismos e burocracias inúteis, assusta uma zona ainda mais ampla do eleitorado, que o demagogo Sócrates convoca, uma vez mais, para o ajudar a sobreviver como pináculo de uma verdadeira rede de interesses ilegítimos, de temperamento claramente mafioso, predadora e, em última instância, como se viu, ruinosa para o país.

Ou seja, a estratégia eleitoral de Sócrates é evidente: salvar a rede de empregos partidários criada ao longo das últimas décadas, salvar a tríade de Macau, e prometer aos funcionários públicos o impossível: emprego durável e regalias, privilégios e vencimentos acima dos que existem no sector privado. Estas promessas contrastarão com as imagens negras que desenharão dos adversários: o PCP e o Bloco —porque são bota-abaixo; o PSD e o CDS, porque querem privatizar tudo, e despedir todos os funcionários públicos.

Sócrates e a União Europeia

Já aqui escrevemos sobre a possível vantagem negocial de, uma vez claramente falidos (situação em que efectivamente nos encontramos), negociarmos a bancarrota directamente com os nossos principais credores (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), em vez de negociar um resgate com o Fundo Europeu de Estabilização Financeira e o FMI. Na primeira opção, os nossos credores poderiam ser convencidos a aceitar um corte nas suas expectativas de lucro com a dívida portuguesa (o tal "hair cut"); mas na opção que Bruxelas e Frankfurt querem, Portugal fica fora dos mercados de financiamento externo enquanto durar a quarentena do resgate, e vê diminuir a margem de negociação à medida que a situação evolua num ou noutro sentido.

Em que ficamos? Quem irá esticar a corda? Sócrates? Se o fizer, terá que se socorrer de uma viragem bem nítida em direcção aos partidos à sua esquerda. O PCP já defende algo parecido com a negociação directa com os credores, fora da tutela do FMI (uma posição negocial de total realismo). Este golpe de asa, por incrível que pareça, poderia colocar toda a zona euro perante um enorme dilema: retirar a Portugal o euro, dando início a um inevitável Harakiri da moeda única; ou aceitar um grande debate político sobre o buraco negro do endividamento soberano europeu — de onde pudesse sair simultaneamente uma governação económica e financeira comunitária mais coerente e coesa, mas também mais solidária.

A bolha do euro

Rebentou a grande bolha imobiliária do Subprime, que começou nos EUA e bateu depois em força na Europa. Estamos no meio do rebentamento em dominó das gigantescas bolhas soberanas irlandesa, grega, portuguesa, espanhola, americana, inglesa... E muito em breve teremos pela frente a grande bolha do euro!

O capital especulativo correu e afocinhou na construção civil. Depois este mesmo capital especulativo correu e afocinhou nas grandes obras públicas e na voracidade orçamental de países cada vez menos produtivos e mais consumistas, envelhecidos e socialmente protegidos pelos respectivos governos.

O capital especulativo corre agora em direcção ao euro, na expectativa das inevitáveis operações de resgate das dívidas públicas e privadas dos países da moeda única virem a ser financiadas pela China, e pelos grandes produtores de petróleo, gás natural e recursos alimentares. Ou seja, chegou a vez de a União Europeia começar a fabricar dívida soberana à escala continental, oferecendo aos grandes detentores mundiais de reservas financeiras uma alternativa mais interessante do que as depauperadas moedas americana e inglesa. Se a Europa não mudar, ou se mudar mal, esta bolha irá rebentar com um estrondo absolutamente catastrófico. É portanto o momento certo para discutir a história do euro. E se Sócrates provocar este debate, adeus Passos de Coelho!

Os PIGS não são Bárbaros, Protestantes, nem sequer Calvinistas. Nunca foram, nunca o serão, e já por cá andam a civilizar-se há mais tempo do que os moralistas que agora querem humilhar-nos. Cautela, portanto.

Quem inventou o euro à pressa e à pressa encheu o saco da Eurolândia de países e mais países, com graus de desenvolvimento económico, social, técnico e cultural muito diversos, foi a Alemanha. E se assim fez foi porque precisava de aumentar rapidamente o "seu" mercado interno. Deu euros a quem tinha marcos (numa relação de 1/1) e deu euros a quem tinha escudos (numa relação de 1/200), tornando de um dia para o outro, portugueses, espanhóis, gregos e irlandeses, que antes se deslocavam em automóveis Renault 5 e Opel Corsa, à razão de 3 a 4 indígenas por carro, em compradores deslumbrados de automóveis BMW, Mercedes, Golf e Audi, à razão de 1 a 2 novos-ricos por automóvel!

A Alemanha financiou, com a sua poupança, o alargamento do mercado europeu, forçando a emergência em catadupa de uma Eurolândia ávida de consumo conspícuo e bem estar social. O PIB nesta zona do mundo cresceu, porém, mais pela via do consumo e do endividamento do que pela via da produção, das exportações para fora do espaço comunitário, e da poupança. Quando este mercado amadureceu, isto é quando Portugal, por exemplo, passou a ter uma casa para cada duas pessoas, e 5,7 milhões de automóveis para 10,6 milhões de pessoas, e autoestradas vazias, como a A17, onde ontem, uma vez mais, percorri centena e meia de quilómetros, entre Aveiro e Alcobaça, como se estivesse num autódromo alugado, a Alemanha procurou outros mercados, entretanto aptos para os seus produtos de qualidade, ao mesmo tempo que emprestava aos novos europeus de leste dinheiro para se desenvolverem e comprar tecnologia e marcas alemãs. Em Xangai, em 1999, quem tinha automóvel (sobretudo taxistas), conduzia invariavelmente um Volkswagen Santana de lata mal batida; agora, os novos e orgulhosos urbanoides de Pequim e Xangai enchem as ruas de Mercedes, Audis e BMW.

Para a Alemanha, é hora de os PIGS pagarem as suas dívidas, em boa parte porque nestes países os mercados amadureceram, o boom consumista chegou ao fim, e as explosões das bolhas imobiliária e das dívidas soberanas obrigam a suspender os fluxos especulativos das últimas duas décadas, sob pena de os fundos de investimentos alemães, muitos deles financiados com pensões de reforma, caminharem rapidamente para o colapso.

Eu entendo o problema. Mas também me parece evidente que as responsabilidades devem ser justamente partilhadas. Maior controlo orçamental na Eurolândia? Menos burocracia? Menos clientelismo? Menos corrupção comunitária e inter-governamental? Mais transparência? Maior coerência estratégica comunitária? Mais imaginação? Melhor iniciativa privada? Menos corrupção e menos desperdício na economia social? Sim a tudo isto— e já! Mas é preciso enfrentar primeiro e com coragem o principal problema desta Europa: sem outro modelo cultural de desenvolvimento, estaremos irremediavelmente condenados ao desastre.

NOTAS
  1. "Banco de Portugal e BCE não deram indicações à banca para não comprar dívida" (A Bola, 10-04.2011). Este desmentido segue-se ao de Jean-Claude Trichet sobre o mesmo assunto. Bem me parecia que o tema, aqui abordado na semana assada, e hoje reiterado, era sensível para o Sistema Monetário Europeu.  [11-04-2011 0:43]

quinta-feira, abril 07, 2011

Xeque-mate

José Sócrates, o homem “lixo”



A hipótese foi colocada e nunca saberemos a resposta: teria ou não sido preferível abrir oficialmente falência e reestruturar a nossa dívida —negociando com os credores um perdão parcial da mesma—, em vez de precipitarmos o país num abismo de austeridade durante os próximos dez, vinte ou mais anos? Poderia José Sócrates ter mantido este braço-de-ferro com o BCE por muito mais tempo?

Portugal, uma vez na Eurolândia, e ao contrário da Islândia, que não faz parte da zona euro, deixou muito provavelmente de poder declarar a bancarrota e de negociar a reestruturação das suas dívidas com os seus principais credores (Espanha, França, Alemanha e Reino Unido). Dito doutro modo, a Alemanha e a França não estão dispostas a perdoar dívidas a nenhum estado-membro da União.

O mitómano que deixámos à solta esticou a corda, mas o BCE acabou por instruir o Banco de Portugal e a banca privada para desencadearem a operação xeque-mate contra José Sócrates. Dois dias depois de este ter jurado, como um condenado inocente, que jamais entregaria Portugal ao FMI, ei-lo cabisbaixo confessando que, afinal, sempre teria que pedir socorro às instâncias comunitárias e ao FMI.

As empresas públicas, os bancos, as principais cidades e este governo têm, a partir de hoje, uma mesma notação financeira nos mercados internacionais: lixo! A partir de ontem, para todos os efeitos, Portugal tornou-se no terceiro estado pária da União Europeia. Seguir-se-à a Espanha? E depois quem? A França? E o euro —se formos por aqui, aguentar-se-à? Duvido.

quarta-feira, abril 06, 2011

A um passo do lixo

Os bancos, incluindo aquele que Sócrates ajudou a tomar de assalto (BCP), resolveram hoje retirar o tapete ao vendedor de cobertores da Beira. A ordem veio certamente do BCE, via Banco de Portugal.

Ou seja, o actual primeiro ministro acaba de ser declarado um empecilho indecoroso que é preciso evacuar urgentemente. Se não for a bem, irá a mal. Ouvem-se já as vozes graves do coro da tragédia lusitana. Com juros da dívida pública a 10%, e amanhã porventura a mais, o país e os bancos precipitam-se rapidamente para o lixo. Mas atenção: o homem deste lixo chama-se José Sócrates Pinto de Sousa. Será ele, em última instância, que teremos que sentar no banco dos réus depois de declarada oficialmente a segunda bancarrota do país dos últimos 120 anos. O PS não sairá, de maneira nenhuma, ileso!

É preciso confrontar os socialistas com as suas responsabilidades. Os seus dirigentes não terão atenuantes quando forem julgados pela cobardia, oportunismo rasteiro e falta de visão que exibiram desde 2007.

Portugal está na bancarrota. Negar esta evidência, agravar a situação, como têm feito Sócrates e a turma de ambiciosos irresponsáveis que o rodeia, é um comportamento anti-patriótico. Entregar Portugal à Alemanha, a Espanha e aos demais credores é um acto de traição! Das últimas vezes que tal aconteceu (invasões francesas, perda do Brasil, Ultimato inglês) Portugal ou entrou em guerra civil, ou viu desaparecer o regime monárquico, ou apanhou com uma ditadura em cima durante quarenta e oito anos...

Se o euro colapsar, e a União Europeia for à vida, ou seja, se a aliança EUA-Reino Unido vencer de novo a Alemanha —desta vez na guerra financeira fratricida que está em curso—, Portugal ficará, se não correr com José Sócrates agora, à beira de uma gravíssima crise que poderá levar-nos, outra vez, à guerra civil. Quem produz e paga impostos não tolerará continuar a ser vampirizado pelas burocracias, partidos e máfias do regime. Uma revolução liberal, no sentido de uma revolução das classes médias e das profissões liberais, poderá já estar, neste preciso momento, em pleno período de encubação. Como sempre, bastará uma faísca para incendiar a pradaria.

Para já, PSD e PS parecem ter partido o país ao meio. Os primeiros, prometem fazer melhor o seu próprio programa do que o clone cor-de-rosa que tem andado por aí a secar o país. Os segundos, querem agora fazer esquecer tudo o que de mal fizeram, invocando a fantasia de um Cavaleiro Andantes contra o FMI, protagonizado por um mitómano que presa mais os seus sapatos do que o país que tudo lhe deu.

A imprevisibilidade do país cresceu desmesuradamente ao longo das últimas semanas. A tríade de piratas protagonizada pelo mitómano que nos entra a toda a hora pela casa dentro (como num filme de horror de George Orwell) optou por uma estratégia de terra-queimada. Será oportunamente julgada por isso!