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Conseguiremos declarar o Estado de Emergência Ecológica?
O relatório elaborado pelo antigo economista do Banco Mundial, Sir Nicholas Stern, por encargo do governo inglês e sob os auspícios de Gordon Brown, veio a público a 30/10/2006, tornando-se instantaneamente assunto prioritário das principais agências noticiosas internacionais. O relatório não aporta nada que não suspeitassemos, grosso modo, desde Limits to Growth (1972), ou que não soubessemos desde a publicação de Plan B (2003-2006), de Lester R. Brown, de The Long Emergency (2005), de James Howard Kunstler e de Uma Verdade Inconveniente (2006), de Al Gore. Mas ainda assim, e apesar ser por vezes algo optimista nas soluções, tem a significativa vantagem de ser um documento criterioso, relativamente actualizado, substancial, prudente e oficial.
Algumas conclusões (retiradas pelo Herald Tribune e de uma leitura resumida do documento):
- os países pobres e em desenvolvimento serão os mais prejudicados pelas alterações climáticas;
- o sector energético mundial terá de se descarbonizar em 60% até 2050 (na realidade, talvez precise de uma redução bem maior e mais rápida nos países industralizados: 90% até 2030...);
- os mercados dos produtos de baixa intensidade carbónica valerão qualquer coisa como 374 mil milhões de euros anuais em 2050;
- a desflorestação será responsável por mais de 18% das emissões globais de gases com efeito de estufa (ultrapassando o sector de transportes);
- os incentivos ao desenvolvimento de tecnologias de baixa intensidade carbónica deverão multiplicar por 2 a 5 vezes o montante anual actualmente dispendido, devendo chegar aos 26,9 mil milhões de euros/ano em 2050;
- a União Europeia, a China e o Estado da Califórnia são os primeiros grandes espaços económicos e demográficos mundiais a agir face à presente Emergência Ecológica Global, prevendo-se que venham a introduzir, ao longo desta e da próxima décadas, taxas ecológicas crescentes sobre a produção, comercialização e uso de combustíveis carbónicos e sistemas destes dependentes ou acoplados:
transportes rodoviários, aéreos, marítimos e fluviais movidos a combustíveis fósseis (taxas s/ os combustíveis fósseis, s/ a mobilidade pendular, s/ o estacionamento, s/ a renovação dos equipamentos e veículos, etc.)
energia doméstica, sobretudo sistemas de ar condicionado e electrodomésticos ineficientes;
tratamento de resíduos (lixos domésticos e resíduos perigosos);
embalagens anti-ecológicas, com incorporação intensiva de energia e de materiais críticos, etc.
Tudo isto, bem entendido, se o planeta for capaz de declarar até ao fim da presente década um verdadeiro Estado de Emergência Ecológica (EEE). Se não agirmos sem demora, avisa o Relatório Stern, o planeta poderá ter que consumir 5 a 20% do PNB global para acudir à deterioração sem precedentes das condições de vida na Terra.
Notas
Para uma visita rápida ao conteúdo deste relatório, vale desde logo a pena ler a tradução portuguesa do respectivo Resumo.
A versão original e integral do Stern Report será objecto de comentário crítico assim que acabe de lê-lo.
O artigo de George Monbiot publicado pelo Guardian de 31/11/2006, Drastic action on climate change is needed now - and here's the plan adverte-nos para uma leitura crítica do Relatório Stern.
Sobre este tema, vale também a pena ler o estudo igualmente recente de Andrew J. Hoffman, Getting Ahead of the Curve: Corporate Strategies That Address Climate Change (2006), publicado pelo Pew Center on Global Change. (PDF 2.3Mb)
O Council of Foreign Relations, por sua vez, publicou este sintomático estudo sobre a situação americana: National Security Consequences of U.S. Oil Dependency
[Este artigo foi originalmente publicado no blog de O Grande Estuário]
OAM #150 04 NOV 2006
3 comentários:
Vem ai o fim do mundo... pronto já está.
Ou a malta se poe a pau ou daqui as uns anos vamos assar todos que nem febras em churasco.
Mas antes de tirarmos conclusoes precipitadas vejamos isto.
Desde já as minhas desculpas pela extensão do comentário.
Em 980, foi possível navegar até ao sul da Gronelândia. Erik, o Vermelho, que fora banido da Islândia, conseguiu salvar a vida escapando para a Gronelândia. Após cinco anos regressou à Islândia para realizar a primeira acção de marketing da história.
Convenceu os seus amigos da Islândia sobrepovoada que se lhes oferecia melhores condições de sobrevivência numa verdejante terra que apelidou de Greenland (terra verde).
No ano 985, Erik, o Vermelho, partiu da Islândia acompanhado de 25 grandes barcos cheios de escandinavos para colonizar a Gronelândia. Esta esquadra foi apanhada por um violento temporal já próximo do sul da Gronelândia.
Em consequência, nove dos 25 barcos afundaram-se. Levaram consigo, para o fundo do mar, todos os seus passageiros. Os escandinavos sobreviventes da tempestade iniciaram os estabelecimentos coloniais do oriente e do ocidente da Gronelândia.
Estes pioneiros da colonização gronelandesa trouxeram o cristianismo com eles. Erik, o Vermelho, e a sua esposa Tjodhild construíram uma igreja que ficou sob a protecção do arcebispo de Nidaros (Trondheim). Ainda existem as ruínas da igreja de Herolfsnes.
Cem anos mais tarde, com o regresso do gelo, era impossível estabelecer contacto com os estabelecimentos coloniais da Gronelândia. Quando estes sítios foram visitados no século XVII, encontraram-se ruínas, nomeadamente dos templos religiosos, e sepulturas.
Mas não se encontraram vestígios dos mortos que pereceram pela fome que assolou a ilha com o regresso do frio. É muito provável que os velhos colonos os tenham embalado juntamente com os haveres que embarcaram a caminho da Nova Inglaterra.
Os gronelandeses pereceram porque se recusaram a adaptar-se à variação climática, ou seja, adoptar o modo de vida dos esquimós que já viviam naquela região e que continuam a sobreviver até hoje. Preferiram morrer como cristãos a viver como esquimós.
A era dos vikings correspondeu ao período mais quente dos últimos mil anos. Os cilindros de gelo retirados dos mantos da Gronelândia demonstram este facto.
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Colonização da Islândia
Fred Goldberg, secretário-geral do simpósio internacional realizado em Estocolmo, em 11 e 12 de Setembro passado, foi o apresentador de uma das mais interessantes palestras introdutórias. Falou sobre ?Some selected climate events from historical records?.
Fred escolheu especialmente alguns acontecimentos históricos para mostrar como o homem sempre soube adaptar-se às circunstâncias da eterna variabilidade do clima.
Os seres humanos sempre estiveram à mercê de variações rápidas do clima. Resistiram a 7 ou 8 períodos de gelo durante os últimos milhões de anos. Os nossos antepassados souberam adaptar-se aos ciclos irregulares de frio e de calor.
Adaptaram-se às inundações e às secas desde a última era do gelo de há 10 mil anos. Desenvolveram estratégias para sobreviver às secas, aos dilúvios ou aos longos períodos de frio com colheitas desfeitas.
Durante os séculos IX e X o Atlântico Norte foi afectado por um período quente. Os escandinavos que sobrepovoavam a costa da Noruega aproveitaram essa situação para colonizar a Islândia.
Existem registos históricos que permitem afirmar que em 874 os vikings aproveitaram as condições favoráveis do degelo para colonizar a Islândia em permanência. Antes a grande ilha estava abarrotada de gelo. Daí o nome de Iceland (terra de gelo).
Durante alguns séculos, a colonização de escandinavos prosperou com um estável clima suave. A sobrevivência foi possível pela fertilidade dos solos. Os solos permitiram colheitas de cereais para a alimentação humana.
Foi igualmente possível a pastorícia pela obtenção de alimentos para o gado caprino. Salienta-se que actualmente isto não é possível. O solo arável ficou prejudicado não só pelos mantos de gelo.
Se dúvidas houvesse, isto prova que o Período de Aquecimento Medieval existiu com temperaturas superiores às actuais.
Nos primórdios do século XIII apareceram os primeiros sinais de uma variação climática. O gelo começou a cercar a Islândia. As viagens entre a ilha e o continente tornaram-se mais difíceis e até perigosas.
As colheitas e a criação de gado foram fortemente afectadas. Os colonos que partiram da Noruega deixaram de poder cultivar vários cereais facilmente obtidos durante o período de clima ameno. Até hoje?
O Período Quente Medieval foi uma bênção para os camponeses pobres do norte da Europa. Aumentaram substancialmente as suas colheitas de cereais. Melhoraram as condições para a pesca e para a caça.
Existem muitas pinturas medievais que mostram a riqueza dos campos dessa época. Nessa altura as colheitas agrícolas e a produção de cerais eram florescentes nos planaltos da Escócia.
A abadia de Kelso, no sul da Escócia, possuía uma exploração agrícola com mais de cem hectares situada a 300 metros acima do nível do mar. Ainda se conseguem encontrar vestígios deste tipo de explorações na fronteira entre a Escócia e a Inglaterra.
O frio também fazia das suas apesar de se viver no Período Quente Medieval. Os preços do mercado de cereais flutuavam ao sabor das temperaturas. Desciam quando a temperatura subia.
Um outro sinal importante do clima ameno do Período Quente Medieval foi o facto de a Inglaterra se ter tornado num país produtor de vinho. Entre 1100 e 1300, os vinhedos espalhavam-se pelo sul e pelo centro da Inglaterra.
O limite vinhateiro mais a norte de Inglaterra situava-se em Hereford. Esta exploração vitícola durou até ao início do século XX. Na altura deste período quente, a França tentou negociar acordos comerciais com exclusão dos vinhos britânicos.
É possível acompanhar a variação do clima, ano após ano, através dos registos das vinhas inglesas. Os arquivos registaram os meses em que as uvas estavam prontas para se iniciarem as respectivas vindimas.
No entanto, com a aproximação do ano 1300, as geadas nocturnas começaram a aparecer cada vez mais cedo e deram cabo das vinhas inglesas.
O primeiro sinal da aproximação de um novo período frio aconteceu quando um bloco de gelo desceu do Norte em direcção à Islândia transportando ursos polares. Este acontecimento verificou-se em 1203.
Durante esta primeira fase da chegada de uma era de frio, sucederam-se tempestades e cheias que abrangeram o Mar do Norte e as costas atlânticas da Europa. Estas tempestades fizeram muitos pescadores e marinheiros perder a vida.
Nuvens de areia transportadas pelas tempestades provocaram o aparecimento de enormes dunas. O florescente porto de Kenfig, próximo de Port Talbot, no sul do País de Gales, teve de ser abandonado após uma tempestade que o cobriu de areia.
Muitas vilas experimentaram grandes problemas com estas tempestades. Algumas ficaram enterradas. Tal como florestas próximo das costas. No dia 19 de Agosto de 1413 a pequena cidade de Forvie, próximo de Aberdeen, ficou soterrada sob 30 metros de areia.
No século XIII sucederam-se muitas tempestades e cheias. Calcula-se que durante as tempestades de 1200, 1212-1219, 1237 e 1362 tenham morrido cerca de 100 mil pessoas ao longo da costa alemã e da holandesa, no Mar do Norte.
No norte dos Países Baixos, o Zuider Zee transbordou e submergiu as explorações agrícolas. A última tempestade foi designada ?Grote Mandrake? que significa ?grande afogamento?.
As cheias coincidiram muitas vezes com a preia-mar. Em 1240 e 1362, o mar engoliu 60 comunidades ao longo das costas da Alemanha e dos Países Baixos, no Mar do Norte. A água salgada destruiu bastantes explorações agrícolas.
Durante o MWP, a ilha alemã de Helgoland, no Mar do Norte, tinha um diâmetro de 60 quilómetros. Metade da ilha desapareceu com as tempestades de 1300. Igrejas e vilas inteiras deixaram de existir com a redução da ilha para um raio de 25 quilómetros.
Em 1315 a Flandres esteve mais ou menos debaixo de água. Essa situação prejudicou a campanha militar de Luis X. Os cavalos afundavam-se até à cintura. As carruagens atolavam-se na lama. A infantaria atolava-se nos campos pantanosos.
Como as rações rareavam o rei Luis X teve de dar ordens para recuarem imediatamente. Os naturais da Flandres, agradecidos, consideraram as cheias como um milagre ou uma dádiva divina. Para eles, o clima passou a ter um toque religioso.
De facto, 1315 foi um ano mau, com frio e chuvas torrenciais. Milhares de hectares de cereais não amadureceram e o feno não se aproveitou. O ano seguinte foi também um ano terrível com chuva, frio e inundações na Europa central.
As tempestades de 1421, 1446 e 1570 causaram mais de 400 mil mortes. As margens ribeirinhas foram das que mais sofreram. A cidade de Colónia esteve um ano debaixo de cheias. Era possível andar de barco dentro da cidade.
Mas no ano seguinte, o Reno secou de tal forma que se podia atravessá-lo a pé. Os europeus sofreram severas tempestades, cheias, secas e frios intensos nos Invernos.
Em 1588, a Armada Britânica lutava com a Armada Espanhola na costa ocidental da Irlanda. De repente sucedeu uma violenta tempestade. A Armada Espanhola perdeu mais barcos devido à tempestade do que na luta contra a Armada Britânica.
Mais proximo da actualidade podemos constactar que os glaciares alpinos começaram a avançar com o início da Pequena Era do Gelo. Desceram rapidamente pelos vales abaixo. O ataque das vilas da Suíça pelos glaciares ocorreu a uma velocidade de 20 metros por ano.
O avanço constante dos glaciares destruiu habitações e campos cultivados. Naquela época este avanço dos glaciares foi uma autêntica calamidade pública.
Actualmente a retracção de alguns glaciares, que começou há mais de 150 anos, é considerada um desastre. A retracção ainda não causou a mais pequena beliscadura.
Em 1589, o glaciar de Allalin, o rei dos Alpes, perto de Visp, desceu tão abaixo que obstruiu o Vale de Saas. Formou um verdadeiro lago.
Em 1595, o glaciar de Gietroz, nos Alpes apeninos, chegou a pressionar o leito do rio Dranse. Morreram 70 pessoas quando as cheias submergiram a cidade de Martigny, na Suiça.
Em 1926 encontrou-se uma inscrição numa casa próximo de Bagnes que dizia: «Maurice Ollier viveu nesta casa até Bagnes ter sido submersa pelo glaciar Gietroz, em 1595 ».
Em 1599-1600, os glaciares alpinos arrastaram e destruíram vilas inteiras e terras agricultadas na região de Chamonix, igualmente na Suiça.
Como podemos constactar apos uma observação mais cuidada,aquecimentos e periodos de arrefecimento sempre existiram ao longo da historia do planeta, contudo ha um dado novo, que é o facto, de se atribuirem as culpas ao ser humano, pelas alteraçoes climaticas.
Eu percebo, que quando noticias, sobre a culpa do homem no aquecimento global, veem de revistas como a Nature, ou de um antigo economista do Banco Mundial, as pessoas nem se preocupem em saber onde se basearam eles para chegarem a essas conclusões. Contudo, eu penso que seria benéfico, para o esclarecimento da situação, se todos nos nos informassemos, um pouco mais.
Penso que a finalidade disto tudo é tirar-nos mais uns cobres do bolso, para suportar as despezas com a "prevenção do aquecimento global" mas sobretudo a finalidade maior, o grande objetivo é o control das pessoas pelo medo.
Cria-se um falso problema que consequentemente gera uma reação por parte das pessoas, essa reação exige medidas para combater o pseudo problema.O passo seguinte é simples,uma vez criado o medo, as pessoas aceitaram de bom grado qualquer solução, desde que lhe digam que isso minimizará o problema, mesmo que isso implique a redução das liberdades, o control total das suas vidas por parte de quem, sem elas saberem criou o problema.
Um abraço a todos
Este nosso comentarista anónimo não deixa de ser muito útil para o esclarecimento em volta das alterações climáticas. Nada melhor do que termos contraditório relativamente a um discurso que, ao fim de 30 anos, entra no domínio público.
Até o "Expresso da meia-noite" de Sexta Feira passada, que curiosamente evitou uma única palavra sobre o caso BES-Espanha (não vinha na primeira página...), descobriu o aquecimento global e o problema energético mundial.
O problema das alterações climáticas é apenas um dos mais sérios. Mas há outros: fim da energia barata, sobrepopulação, erosão dos solos, esgotamento de muitos bancos de pesca (vamos deixar de comer bacalhau!), contaminação da cadeia alimentar global, novas epidemias, fome, etc. Ou seja, por mais interessante que seja o ponto de vista dos climatocépticos, o que estamos neste momento a discutir são, desde 1972, os limites e os modos do nosso crescimento.
Sobreviveremos? Acredito que sim. Mas este não é o ponto! O que precisamos de saber é se podemos ou não evitar metamorfoses demasiado pesadas para a humanidade. É evidente que se o cenário por alguns desenhado, do desaparecimento de 2/3 da humanidade nos proximos 100 anos, tiver lugar, os restantes 1/3, regressados a uma nova Idade Média (pós-holocáustica) repovoarão lentamente o planeta. Mas isso não deixará de ser uma derrota dos que aqui e agora estão a ter esta discussão.
O tema das alteraçõs climáticas e das energias renováveis tem me levado a procurar informação e sempre achei estranho não encontrar debates, nem sites ou blogs até que esbarrei com este.
Contem comigo para futuras visitas.
Mesmo com toda a incerteza que existe sobre as alterações climáticas eu prefiro acreditar a depois dizer que é tarde demais.
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