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terça-feira, maio 20, 2008

Mix Energetico

Lula da Silva apoia cultivo do Pinhão Manso (Jatropha curcas)
Presidente brasileiro, Lula da Silva, apoia a plantação de 1 milhão de hectares de Pinhão Manso (Jatropha curcas) para produzir biodiesel. Uma ideia sustentável?

Emergência Energética Global

"The use of vegetable oils for engine fuels may seem insignificant today, but such oils may become in the course of time as important as petroleum and the coal tar products of the present time." -- Rudolph Diesel, 1912.

30/04/2008 08:06 - "As plantações de cana-de-açúcar no Brasil destinadas à produção de etanol ocupam apenas 1% do total de área cultivável - 3,6 milhões de hectares de um total de 355 milhões -, sendo suficiente para abastecer metade do consumo de combustível dos automóveis." - Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil.

Cento e sessenta milhões de dólares estão a ser investidos neste momento no cultivo da Jatrofa, em Moçambique, nas províncias de Nampula (Norte) e Sofala (Centro). "O projecto está a ser promovido pela empresa portuguesa Enerterra SA, e destina-se a produção de bio-combustíveis no País.
O montante será usado igualmente na instalação da fábrica, a ser edificada provavelmente no distrito de Nacala-Porto, Província de Nampula. O Director Executivo da Enerterra, Viannes Vales, disse que as previsões apontam para a produção anual de quatrocentas mil toneladas de Jatrofa nas duas províncias. Os combustíveis terão como mercado prioritário a Europa, mas serão acomodadas as necessidades locais." -- O AUTARCA - 03.04.2008

Chineses querem produzir biodiesel de jatropha em Moçambique

"Quatro companhias chinesas apresentaram propostas de cultivo de 30 mil hectares de jatrofa, ou pinhão manso, (planta típica da África e da América), em Nampula (norte), para a produção de biodiesel.

... "Dados da direção da Agricultura em Nampula revelam que a província superou a meta do plantio da jatrofa ao alcançar 221 hectares, contra os 105 da última safra.

Basta observar a atual corrida dos mercados financeiros e respectivos fundos de investimento em direção aos biocarburantes (biodiesel e bioetanol), e o envolvimento direto das empresas petrolíferas e energéticas no negócio, para percebermos que uma nova bolha especulativa está em plena formação. Chamem-lhe a BOLHA VERDE! Os protagonistas no terreno pressionam os governos, aturdidos pelas sirenes da alta do petróleo, para que lhes subsidiem os novos carburantes e em geral as energias alternativas. Pressionam os agricultores para enveredarem pelo cultivo intensivo dos agro-carburantes e, claro está, adoptarem os Organismos Geneticamente Modificados. Procuram entrar nos países com grandes áreas agrícolas efectivas e potenciais para aí implementarem os seus projectos de agro-carburantes. Contratam agências de comunicação e põem-nas a trabalhar na grande campanha mediática da década. Mas será que faz sentido?
"...the United States has already wasted a lot of time, money, and natural resources... pursuing a mirage of an energy scheme that cannot possibly replace fossil fuels... The only real solution is to limit the rate of use of these fossil fuels. Everything else will lead to an eventual national disaster." -- TADEUSZ W. PATZEK.

"It requires production equivalent to 0.5 ton of grain to feed one person for one year, a value sufficiently large to allow some production to be used as seed for the next crop, some to be fed to animals, and some land to be diverted to fruit and vegetable crops. Compare this value with that for a car running 20,000 km/year at an efficient consumption of 7 liters/100 km. The required 1400 liters of ethanol would be produced from 3.5 ton grain (2.48 kg grain/liter), requiring an agricultural production seven times the dietary requirement for one person. Agriculture now provides, with some shortfalls, food for 6 billion people and will need to feed 9 billion by 2050, while conserving natural resources. From an agronomic perspective, increasing food production to this level during the next 50 years is an enormous challenge. -- DAVID CONNOR AND INÉS MÍNGUEZ.

Um automóvel que ande 20.000 Km por ano precisará de um 1,4 hectares de terra arável para satisfazer o seu consumo anual de biodiesel. Ou seja, se todos os 850 milhões de automóveis ligeiros e pesados, de passageiros e mercadorias, que circulam no planeta fossem alimentados exclusivamente com biodiesel derivado do Pinhão Manso (Jatropha curcas) -- a planta melhor colocada na corrida dos biocarburantes (pois não é uma planta alimentar) --, seria necessário dedicar 1.190 milhões hectares de terra arável para alimentar a frota automóvel mundial. A terra produtiva disponível no planeta é aproximadamente (ver Wikipedia) de 3.100 milhões de hectares. No entanto, 40% desta terra está seriamente degradada e tudo aponta para que esteja irremediavelmente irrecuperável no futuro, pois haverá cada vez menos recursos para investimentos subsidiados como os que seriam precisos para reverter a erosão galopante dos solos agrícolas e florestais em todo o mundo. Ou seja, restam pouco mais de 1.860 milhões de hectares para alimentar 6.664 milhões de pessoas e uns 900 milhões de motores! A missão é obviamente impossível! Ou dito doutro modo, os biocarburantes não podem ser cultivados em terra agrícola disponível para a produção de alimentos, mas apenas, e sob controlo político apertado, nos 40% de terras outrora aráveis e hoje degradadas, se para tal houver recursos financeiros disponíveis, e ainda substituindo parcialmente culturas ameaçadas, como a do Tabaco -- que poderia reduzir para metade os 4 milhões de hectares dedicados a um produto cujo consumo vem sendo dificultado por um número rapidamente crescente de países.

Se o mundo pretendesse chegar, como a Europa pretende, em 2010, à meta dos 5,75% de biodiesel incorporado nos gasóleos, e admitindo que se utilizaria apenas a oleaginosa que parece oferecer o melhor rendimento e fiabilidade produtiva, e o menor estrago ambiental, ter-se-ia que dedicar ao cultivo do Pinhão Manso (Jatropha curcas), em todo o mundo, qualquer coisa como 68 milhões de hectares - quase 20% da superfície cultivável do Brasil. Mas de que serve um objectivo tão tímido se o crude chegar aos 150 USD no fim deste ano, aos 200 no fim de 2009... e aos 300 em 2015?! Só percentagens de incorporação de biocarburantes claramente superiores poderiam mitigar o caos que a actual emergência energética irá seguramente causar nas sociedades e na política mundial se nada de inteligente e justo se fizer entretanto.

Ponhamos pois a fasquia nos 30% de incorporação de biodiesel no gasóleo, percentagem para que estão preparados os motores a diesel da nova geração. Considerando de novo que a proveniência do biodiesel seria o Pinhão Manso (Jatropha curcas), o mundo precisaria agora de alocar à sua produção qualquer coisa como 357 milhões de hectares. Mais dois milhões de hectares do que toda a superfície cultivável do Brasil. Para quem não souber, convem dizer que o país de Lula é só o segundo maior país do planeta, logo depois dos Estados Unidos, se considerarmos apenas as áreas habitáveis dos cinco maiores países do mundo. É certo que a Rússia, o Canadá e a China são maiores do que o Brasil em território absoluto, mas convém saber que são mais pequenos se em cada um deles descontarmos as respectivas áreas geladas e desérticas improdutivas.

O biodiesel e os biorcarburantes em geral não passam pois de alternativas de emergência ao pico petrolífero. Temporárias, insuficientes e que raramente pagam impostos! E a explicação para esta transitoriedade é simples: se algum dia fossem produzidos na proporção máxima tolerada pelos actuais motores a diesel (30%), a capacidade de o planeta alimentar as suas criaturas ficaria irremediavelmente comprometida. Ora tal não pode acontecer!

O problema energético actual tem, em suma, que ser visto como aquilo que é: uma emergência real e global, que exige respostas globais, rápidas, bem informadas, criativas, tecnicamente competentes e democraticamente supervisionadas. Menos do que isto, ou deixar as coisas como estão, i.e. num impasse e entregues aos oportunistas de ocasião, só poderá conduzir o mundo ao desastre.

Biofuels: Biodevastation, Hunger & False Carbon Credits

Europe's thirst for biofuels is fuelling deforestation and food price hikes, exacerbated by a false accounting system that awards carbon credits to the carbon profligate nations. A mandatory certification scheme for biofuels is needed to protect the earth's most sensitive forest ecosystems, to stabilise climate and to safeguard our food security. -- Dr. Mae-Wan Ho
Na Europa, para produzir biocarburantes, preferiu-se até agora, por ordem decrescente, o trigo (!), os excedentes de álcool vínico (o mau vinho pode dar bons biocarburantes, mas atenção ao preço do vinho!), a beterraba açucareira (!), o centeio (!), a cevada (!), o milho (!) e a biomassa florestal. O impacto desastroso sobre os preços alimentares destas opções lideradas pela Alemanha e pela Espanha está à vista e o recuo será inevitável.

A produção doméstica e industrial de biocarburantes a partir do aproveitamento de resíduos tem futuro, mas não chega para atender à emergência energética actual. O aproveitamento das algas para produção de biodiesel (as chamada petro-algas) poderão fazer alguma diferença, mas a sua exploração está ainda numa infância puramente experimental, nomeadamente em Portugal, através do consórcio luso-canadiano Vertigro/SGCEnergia (Grupo SGC, de João Pereira Coutinho.)

Apesar da corrida aos biocarburantes, a verdade é que ela não resolverá por si só o problema gigantesco que temos pela frente. E por outro lado está a provocar uma subida dramática dos preços alimentares à escala mundial. As consequências políticas desta troca egoísta de pão por petróleo serão gigantescas e muito perigosas para a estabilidade política mundial. Os governantes terão forçosamente que alterar o rumo das decisões. Por mim, a única prioridade defensável e reprodutiva é a que souber apontar para uma alteração faseada e consistente do actual paradigma energético. O modelo económico do crescimento contínuo e do consumismo tem que desaparecer. E no imediato, para nos defendermos da escassez e da alta dos preços dos derivados do petróleo teremos que aumentar radicalmente a eficiência energética das nossas cidades, das nossas economias e das nossas vidas. Sem reduzir, recuperar, reciclar e diversificar a nossa pegada ecológica não iremos a parte nenhuma. O colapso da nossa civilização já esteve mais longe!



REFERÊNCIAS
  • Os falsos créditos do carbono no biodiesel de Jatrofa no sul de África
    por Mae-Wan Ho

    "De acordo com as regras internacionais, nenhum dos gases com efeito de estufa ligados à produção de biocombustíveis será atribuído ao sector dos transportes. As emissões decorrentes da produção do biocombustível serão levadas à conta das emissões da agricultura e indústria e/ou sector energético. Do mesmo modo, todas as emissões provenientes do cultivo e refinação nos países do Terceiro Mundo, serão levadas à conta das emissões desses países, portanto um país, como o Reino Unido, que importe o biocombustível pode utilizá-lo para melhorar a sua quota de gases com efeitos de estufa. Isto permite que as nações importadoras ricas possam reduzir parte das suas emissões e reclamar os louros por fazê-lo ao abrigo do Acordo de Quioto. Foi assim que surgiram as plantações de árvores Jatrofa no Malawi e na Zâmbia."

    "As plantações de Jatrofa podem ter graves impactos na protecção dos alimentos e da energia da região, principalmente se se expandirem. Até agora, ainda não se fez qualquer análise do ciclo de vida nem qualquer estudo de sustentabilidade do biocombustível da Jatrofa.

    ..."Estimei que se todos os desperdícios biológicos e do gado na Grã-Bretanha fossem tratados com digestores anaeróbicos obter-se-ia mais de metade do combustível de transporte do país (...). É verdade que os veículos precisam de um motor diferente, mas já existem carros desses no mercado, e os carros alimentados a biogás de metano têm descargas tão limpas que foram eleitos como os carros ambientais do ano em 2005.

  • Produzir Jatrofa para matar?
    ....lamentações dos camponeses em Namacurra

    O cultivo da jatrofa constitui uma prioridade nacional, ou seja, mais um cavalo de batalha no combate a pobreza absoluta, segundo declarou ainda este ano o presidente da República de Moçambique Armando Emílio Guebuza. Desde a sua declaração como um imperativo em Moçambique, um pouco por este país são reproduzidos os mesmos discursos do Presidente da República, desde ministros, governadores, passando para administradores até ao chefe ou secretários das zonas, falam da jatrofa como sendo uma cultura que produzida em quantidades pode aliviar a pobreza absoluta.

    Recentemente Pio Tameliua técnico agrário afecto no distrito de Namacurra apareceu aos camponeses associados de Furquia posto administrativo de Macuse distrito de Namacurra onde teria explicado das suas vantagens e desvantagens. Falando das desvantagens Tameliua disse que a planta da jatrofa é tóxica e que requer um tratamento especial. "ao produzirmos a jatrofa temos que ter em conta que ela mata é muito tóxica, temos de ter muito cuidado com ela" - alertou aquele técnico para depois acrescentar que "temos que pastar os nossos cabritos longe da machamba da jatrofa por que se o cabrito come ele morre o mesmo risco corre o homem sobretudo as crianças que nem devem brincar perto dela" - disse. Pediu igualmente que mesmo as galinhas, patos entre outros animais não devem comer, devem ser protegidos no sentido de não comerem a planta da jatrofa.

    Este discurso provocou terror no seio dos camponeses que estavam longe de pensar sobre os cuidados a ter com aquela planta cuja finalidade é produzir biodísel. Manganhia Manganhia um camponês do posto administrativo de Macuse que falou a nossa Reportagem disse que com estes perigo que ela representa na comunidade não havia razão de tanta promoção como um mecanismo de combater a pobreza. "Se eles próprios sabem que mata, como é que nos dizem para produzir?" – questionou aquele camponês visivelmente arrepiado com aquela explicação que considerou de ameaçadora. "Nós sobrevivemos das nossas galinhas, e um pouco dos nossos cabritos que criamos no âmbito de desenvolvimento, como é que viveremos quando eles morrerem devido a jatrofa?" – voltou a questionar tendo de seguida concluído que a jatrofa vai tornar as famílias miseráveis, uma vez que segundo suas palavras a jatrofa poderá trazer luto nas famílias sobretudo crianças dada a sua vulnerabilidade.

    O nosso entrevistado disse igualmente não haver explicação clara sobre o seu rendimento. "Ainda não nos explicaram quanto dinheiro podemos obter em cada hectare por exemplo e nem sabemos quantas plantas são necessárias para fazer um litros do tal biodísel" - disse. Falou igualmente que os discursos que tem sido lançados nas comunidades nunca dão conta dos valores monetários da sua comercialização. -- in Diário da Zambézia (23.10.2006).


  • The bumpy road to clean, green fuel
    by Charles Mkoka and Mike Shanahan

    4 November 2005. Osman Ibrahim is encouraging farmers in Malawi to abandon their traditional tobacco crops and enter the energy sector - by planting a tree called jatropha (Jatropha curcas).

    Its seeds contain an oil that can be blended with conventional gasoline or diesel to make 'biodiesel', an eco-friendly alternative to fossil fuels. Pure, the oil can be used for cooking, lighting or generating electricity. And the range of by-products includes glycerin - used in cosmetics - and 'seed cake', which is re-processed and used as an organic fertiliser.

    Ibrahim, who heads an organisation called the Biodiesel Agricultural Association, considers the tree to be a kind of 'green gold', a cash crop that can boost rural incomes in poor countries while helping address issues ranging from climate change to soil erosion.

    Ibrahim is not alone, nor is Malawi unique. Elsewhere in Africa, and in parts of Asia and Latin America, plantations of jatropha are appearing.

    In Indonesia last month, the heads of six major energy companies gathered with the governor of the central bank, a dozen cabinet ministers and representatives of universities and local development organisations to sign a declaration supporting government plans to produce jatropha oil on a large scale.

    According to the plan, by 2009 Indonesia will have ten million hectares of jatropha plantations, each hectare yielding enough oil to produce 1,000 litres of biodiesel a year.


  • Portugal e Canadá investem nas Petro-algas




    BRUSSELS, BELGIUM -- 07/26/07 -- Vertigro and SGCEnergia, the biofuels division of the SGC Group of Portugal (João Pereira Coutinho), have agreed to form a joint venture company to produce Vertigro algae biodiesel feedstock. Vertigro is jointly owned by Valcent Products Inc. (OTCBB: VCTPF) ("VCTPF") and Global Green Solutions Inc. ("GGRN").

    The agreement calls for SGCEnergia to build and operate a Vertigro pilot plant near Lisbon, Portugal which will also serve as a research and development facility for Vertigro technology applications and projects in Europe.

    Glen Kertz, CEO of Valcent Products Inc. notes, "This Joint Venture company is the first of many commercial applications of the Vertigro technologies overseas which will form the basis of rapid development within Europe and Africa." According to recent Frost and Sullivan research, approximately 9.5 million tonnes (224 million gallons) per year of biodiesel will be required to meet the European Union's directives that biodiesel become 5.75% of transport fuels.

    "We are excited to team up with one of the world's leading providers of algae-to-biodiesel feedstock technology," said Vianney Vales, CEO of SGCEnergia. "This agreement is a significant milestone for SGCEnergia's planned production of second generation biofuels."

    Construction of the pilot plant is slated to begin in late 2007. Under the terms of the agreement, SGC is committed to building additional large commercial-scale facilities in Portugal as well as other countries in Europe. Plants will also be built in Africa. As Vertigro algae thrives on the absorption of carbon dioxide, significantly reducing greenhouse gases, the plants will be constructed near major sources of carbon dioxide emissions. - The Earth Times.

OAM 364 20-05-2008, 03:42 (última actualização: 19:40)

sábado, setembro 29, 2007

Tratado Europeu

Alga castanha
Alga castanha, excelente fonte de biodiesel e produtos sintéticos vários

Atenção às soberanias marítimas!

As algas são responsáveis por 73 a 87 por cento da produção global de oxigénio.

'Green fuel' from seaweed could help solve energy crisis
By Ofri Ilani

The dramatic increase in the price of fuel in recent years has succeeded where many environmental groups have failed: It convinced many firms around the world to seek alternative sources of energy. One of the cheapest alternatives, already commercially available, is the production of fuel from a variety of agricultural produce, mostly corn. However, the increase in the demand for corn has also caused a significant price hike and developing nations' populations are experiencing difficulties obtaining corn for consumption.

It is now possible that new technology may offer a solution to the problem, which Israeli firm Seambiotic Ltd. revealed earlier this week. The technology allows the production of commercial quantities of fuel from a surprising source, one that will not undermine global food sources: seaweed. -- in Haaretz.

A União Europeia não se constrói por decreto, nem em directórios ilegítimos. Foi essa a lição dos referendos francês e europeu!

A União Europeia só pode ganhar asas quando corresponder à vontade firme dos estados independentes que a formam, e para tal, esses estados têm que saber o que são e o que querem. Por exemplo, no texto do projecto de Tratado Constitucional Europeu que José Sócrates, José Manuel Durão Barroso e Aníbal Cavaco Silva querem aprovar por debaixo da mesa, o artigo I-13º diz o seguinte:
1. A União dispõe de competência exclusiva nos seguintes domínios:
a) União aduaneira;
b) Estabelecimento das regras de concorrência necessárias ao funcionamento do mercado interno;
c) Política monetária para os Estados-Membros cuja moeda seja o euro;
d) Conservação dos recursos biológicos do mar, no âmbito da política comum das pescas;
Isto significa uma cedência de soberania inqualificável por parte dos países marítimos aos burocratas e lóbis instalados em Bruxelas. Imaginemos, por um instante, que o putativo tratado estabelecia a mesma regra para os recursos mineralógicos ou aquíferos (nomeadamente no que respeita aos rios, lagos e lençóis freáticos da Europa), ou para os recursos biológicos das suas terras. Inimaginável, certo?

Sempre quero ver o que dizem os ingleses e os noruegueses a esta alínea sibilina do projecto do Tratado. É que o petróleo, tal como o gás natural, são recursos efectivamente biológicos! Tal como a água salgada e as algas! Estas últimas têm aliás um enorme e já comprovado potencial alimentar e energético!!

Este comentário surge na sequência de um alerta oportuno de António Brotas, que deve ser muito seriamente tomado em conta, nomeadamente pelos dirigentes do partido a que pertence e actualmente governa o país.

-- OAM 251, 29.09-2007, 19:01


Alerta de António Brotas

ARTICLE I - 13

Les domaines de competence exclusive

a) l'union douanière;
b) l'établissement des règles de concurrence nécessaires au fonctionnement du marché intérieur;
c) la politique monétaire pour les états membres dont la monnaie est l'euro;
d) la conservation des ressourses biologiques de la mer dans le cadre de la politique commune de la pêche;
e) la politique commerciale commune.

COMENTÁRIO

A alínea d), que em nada atinge estados como a Austria, no caso de ser aprovada, traduz-se para Portugal por uma efectiva perda de soberania sobre o seu território marítimo;

A medida que nem sequer é eficaz para efeitos de conservação dos recursos marítimos, que são muito mais bem defendidos pelos estados ribeirinhos (princípio da subsidariedade);

De facto, se esta medida for aprovada, os estados terão tendência para explorar ao máximo os recursos biológicos das águas dos outros, e Portugal nem sequer fica com competência para defender a sua pesca artezanal, em que a conservação dos recursos ficará da exclusiva competência dos distantes burocratas de Bruxelas.

É inteiramente legítimo e desejavel que a UE adopte normas de conservação dos recursos biológicos, que tenham de ser respeitados pelos estados, que devem ser pemslizados quando não cumprirem, mas estas normas devem ser na terra e no mar e não exclusivamente no mar, e na~devem traduzir-se por uma antecipada e prematura transferência de competência e soberania, como resultaria desta alínea d), se tivesse sido aprovada;

Esta alínea está manifestamente desencontrada das outras 4 alíneas do nº 1 do artigo I-13.

Admito que só por desatenção dos negociadores portugueses foi incluida neste artigo das competências exclusivas da União.

Uma vez que o projecto de Constituição Europeia vai ser repensado e certamente corrigido nalguns pontos, considero urgente que os negociadores portugueses estejam atentos a esta questão e exijam a supressão desta alínea d) neste artigo.

É algo que penso poderão conseguir, se tornarem claro que os cidadãos portugueses poderão votar contra um projecto de Constituição que prevê, sem quaisquer benefício visivel, uma tão grande perda de soberania imposta ao nosso país.

Penso que o encontro que neste momento decorre na Sociedade de Geografia de Lisboa é uma ocasião oportuna para chamar a atenção para este assunto.

António Brotas

quinta-feira, setembro 06, 2007

Haxixe

haxixe

Legalize-se o cultivo da Cannabis
E denuncie-se a hipocrisia dos Estados


Aqui há uns anos prenderam pai e filho, creio que alemães, no Algarve (Portugal), por terem uns pés de Cannabis no quintal. Agora foi a vez de humilharem uns camponeses pobres, depenados da PAC, por causa de mais umas plantações (pé-de-meia) de erva, algures em terras perdidas de Trás-os-Montes.

Toda a gente sabe, ou deveria saber, que Marrocos produz 80% do haxixe consumido na Europa (e portanto alguém ao mais alto nível deve estar a par do assunto...). Por outro lado, são a Espanha e Portugal dos que mais lucram com a distribuição do produto na península e no resto da Europa (e portanto alguém ao mais alto nível deve estar a par do assunto....) Aliás, Espanha e Portugal são notórias plataformas de distribuição de haxixe, de cocaína e de tabaco ilegal vindo dos Estados Unidos (e portanto alguém ao mais alto nível deve estar a par do assunto...) Estes três produtos, e a lavagem de dinheiro negro proveniente de Estados falhados ou corruptos (Rússia, Angola, etc.), mais algum tráfico de carne branca, são, para quem não sabe, o segredo do milagre imobiliário espanhol e português (e portanto alguém ao mais alto nível deve estar a par do assunto...)

O negócio das iguarias é uma coutada reservada aos poderosos, independentemente de se tratar de droga, tabaco ilegal, prostituição, comércio ilegal de armas, diamantes, ou trabalho clandestino. Por isso esperam que os governos prendam de vez em quando uns pobres diabos, para dar o exemplo...

Mas se o haxixe, o tabaco ilegal e a cocaína são tão importantes fontes de rendimento negro de tantos países, que os mesmos ou outros depois reciclam, porque não legalizar o consumo destas drogas, com regulamentação apropriada, autorizando, por exemplo na Península Ibérica, o cultivo, outrora tão comum, do atractivo e útil cânhamo? Não serve a dita e maravilhosa planta para fazer boas telas e bom papel? Não servem as suas inflorescências e folhas para produzir infusões e fumos tão variados quanto irresistíveis? E não serviriam os restos de todas estas produções (o bagaço do haxixe), bem como as plantas de menor qualidade, para produzir os cada vez mais atraentes biodiesel e bioetanol, sem afectar a produção de alimentos essenciais, como o milho, a soja, a cana-de-açucar, a beterraba açucareira, o óleo de dendê e mesmo variedades especiais de trigo e de ervilhas! A mamona brasileira não se dará provavelmente muito bem na Ibéria, mas o haxixe, sim!!

Na procura de energias alternativas ao petróleo, gás natural e carvão, o segredo está no blend: algum bioetanol e biodiesel que não estupore a agricultura alimentar; ventoinhas que cheguem, bem distribuídas entre a terra e o mar, mas que não excedam os equilíbrios mecânicos da atmosfera; paineis solares onde haja chão improdutivo (pois Sol e sílica não faltam!); enfim, alguma barragem hídrica mais, se for bem demonstrada a respectiva utilidade energética e económica, devidamente indemnizadas as regiões pelas inevitáveis e dolorosas patadas ecológicas dos factos a consumar, e enfim, assegurados os adequados tratamento e transporte das matérias orgânicas que os rios levam naturalmente até ao mar; quanto ao nuclear, não obrigado!

Outrora, e há a propósito textos muito persuasivos de Thomas de Quincey --Confessions of an Opium-Eater (1821)-- e de Baudelaire --De l'Idéal artificiel, le Haschisch (1858)--, a Europa rejeitou o haxixe, basicamente por ameaçar o predomínio económico e cultural de duas outras drogas bem enraizadas e da qual os Estados ocidentais cobravam (e ainda cobram!) bons impostos: o tabaco e o álcool. Ora bem, hoje os consumos do tabaco e do álcool são cada vez mais penalizados, quer do ponto de vista legal, quer mesmo do ponto de vista cultural. Por razões de saúde, claro, mas sobretudo porque os danos por eles provocados, directa e indirectamente, começaram a ameaçar perigosamente os lucros das companhias de seguros e a sustentabilidade dos serviços públicos da saúde. It's always the economics, stupid!

Ora bem, porque não incluir o haxixe, a cocaína, a heroína, e outras drogas difundidas e largamente consumidas no Ocidente (os espanhóis estão entre os maiores consumidores de cocaína do mundo) no lote de substâncias psicoactivas de venda tolerada, ainda que fortemente regulamentada e desaconselhada? As proibições que vigoram em número crescente para o álcool e para o tabaco seriam obviamente aplicáveis ao haxixe e demais drogas culturalmente aceites na Europa. Haveria, por assim dizer, um princípio de liberdade e um princípio de responsabilidade simultaneamente aplicáveis. Será que estou a dizer uma barbaridade? Se não estou, porque é que se perseguem de forma caricata e hipócrita os desgraçados de Trás-os-Montes que vimos hoje, cheios de vergonha, nos noticiários televisivos?

Creio que a explicação é similar à que motiva as campanhas de eco-terrorismo de Estado promovidas pelos governos norte-americano e colombiano contra as plantações de coca: garantir uma fonte regular de super-lucros!

Mas disto nada se ouve da parte dos atarefados partidos políticos portugueses. Andam, como sempre, entretidos com jogos florais em volta da cantina orçamental.

Cannabislândia
Cânhamo
Cannabis
Maconha
Haxixe
Biodiesel
Bioetanol

OAM #237 07 SET 2007

sábado, novembro 04, 2006

Stern Report

Global Warming 2100
img: Global Warming Art


Conseguiremos declarar o Estado de Emergência Ecológica?


O relatório elaborado pelo antigo economista do Banco Mundial, Sir Nicholas Stern, por encargo do governo inglês e sob os auspícios de Gordon Brown, veio a público a 30/10/2006, tornando-se instantaneamente assunto prioritário das principais agências noticiosas internacionais. O relatório não aporta nada que não suspeitassemos, grosso modo, desde Limits to Growth (1972), ou que não soubessemos desde a publicação de Plan B (2003-2006), de Lester R. Brown, de The Long Emergency (2005), de James Howard Kunstler e de Uma Verdade Inconveniente (2006), de Al Gore. Mas ainda assim, e apesar ser por vezes algo optimista nas soluções, tem a significativa vantagem de ser um documento criterioso, relativamente actualizado, substancial, prudente e oficial.

Algumas conclusões (retiradas pelo Herald Tribune e de uma leitura resumida do documento):

  • os países pobres e em desenvolvimento serão os mais prejudicados pelas alterações climáticas;

  • o sector energético mundial terá de se descarbonizar em 60% até 2050 (na realidade, talvez precise de uma redução bem maior e mais rápida nos países industralizados: 90% até 2030...);

  • os mercados dos produtos de baixa intensidade carbónica valerão qualquer coisa como 374 mil milhões de euros anuais em 2050;

  • a desflorestação será responsável por mais de 18% das emissões globais de gases com efeito de estufa (ultrapassando o sector de transportes);

  • os incentivos ao desenvolvimento de tecnologias de baixa intensidade carbónica deverão multiplicar por 2 a 5 vezes o montante anual actualmente dispendido, devendo chegar aos 26,9 mil milhões de euros/ano em 2050;

  • a União Europeia, a China e o Estado da Califórnia são os primeiros grandes espaços económicos e demográficos mundiais a agir face à presente Emergência Ecológica Global, prevendo-se que venham a introduzir, ao longo desta e da próxima décadas, taxas ecológicas crescentes sobre a produção, comercialização e uso de combustíveis carbónicos e sistemas destes dependentes ou acoplados:
    — transportes rodoviários, aéreos, marítimos e fluviais movidos a combustíveis fósseis (taxas s/ os combustíveis fósseis, s/ a mobilidade pendular, s/ o estacionamento, s/ a renovação dos equipamentos e veículos, etc.)
    — energia doméstica, sobretudo sistemas de ar condicionado e electrodomésticos ineficientes;
    — tratamento de resíduos (lixos domésticos e resíduos perigosos);
    — embalagens anti-ecológicas, com incorporação intensiva de energia e de materiais críticos, etc.

Tudo isto, bem entendido, se o planeta for capaz de declarar até ao fim da presente década um verdadeiro Estado de Emergência Ecológica (EEE). Se não agirmos sem demora, avisa o Relatório Stern, o planeta poderá ter que consumir 5 a 20% do PNB global para acudir à deterioração sem precedentes das condições de vida na Terra.



Notas
Para uma visita rápida ao conteúdo deste relatório, vale desde logo a pena ler a tradução portuguesa do respectivo Resumo.
A versão original e integral do Stern Report será objecto de comentário crítico assim que acabe de lê-lo.
O artigo de George Monbiot publicado pelo Guardian de 31/11/2006, Drastic action on climate change is needed now - and here's the plan adverte-nos para uma leitura crítica do Relatório Stern.
Sobre este tema, vale também a pena ler o estudo igualmente recente de Andrew J. Hoffman, Getting Ahead of the Curve: Corporate Strategies That Address Climate Change (2006), publicado pelo Pew Center on Global Change. (PDF 2.3Mb)
O Council of Foreign Relations, por sua vez, publicou este sintomático estudo sobre a situação americana: National Security Consequences of U.S. Oil Dependency

[Este artigo foi originalmente publicado no blog de O Grande Estuário]

OAM #150 04 NOV 2006

sábado, outubro 14, 2006

Clima no Parlamento


Sistema Europeu de Informação s/ Fogos Florestais. Dia: 2006-10-14 (previsão p/ 3 dias)

Assembleia da República convida a sociedade civil a debater alterações climáticas e estratégias de mitigação


Passei a manhã e parte da tarde de 10 de Outubro de 2006 enfiado no novo auditório do parlamento português. As leis que ali se discutem são cada vez mais subsidiárias da produção seminal do Parlamento Europeu. Da transposição "in extremis" para o nosso edifício legislativo das leis de Estrasburgo tem dependido a melhoria de um país indisciplinado, onde o maior obstáculo à contemporaneidade continua a ser o elevado grau de analfabetismo funcional (fraca escolaridade básica e secundária), o péssimo hábito de depender de miraculosas mesadas externas (coisa que vem pelo menos desde o século XV e ainda não terminou...) e a persistência de um sistema de poder endogâmico irresponsável, muito dado às mordomias e à falta de ética. A ausência generalizada de civismo e o flagelo burocrático são alguns dos corolários inevitáveis destes males. Já não escarramos tanto na via pública como dantes, mas continuamos a estacionar em cima dos passeios, a obstruir as garagens e a estacionar alegremente em todas as esquinas que nos aparecem pela frente.

A promoção de uma discussão pública sobre as alterações climáticas no auditório da Assembleia da República é pois uma boa notícia. Fará parte da nova estratégia de transparência e abertura dos órgãos do poder à sociedade? Se sim, não poderei deixar de saudá-la. O tema inagural ? que fazer perante as alterações climáticas em curso? ? não poderia ser mais oportuno. O auditório encheu...

Das seis intervenções da manhã, destacaria apenas duas, pela sua concisão e relevância: a de Arturo Gonzalo Aizpiri, Secretário-Geral para a Prevenção da Contaminação e das Alterações Climáticas do ministério espanhol do ambiente, e a de Isabel Guerra, auditora de ambiente do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.

O primeiro fez uma exposição muito clara sobre a estratégia espanhola para o ambiente. Retive duas ideias: que não comprometerão as suas metas económicas essenciais aos limites de emissões de CO2 decorrentes do Protoclo de Quioto (tendo já constituído uma reserva financeira para aquisição de direitos de emissão a países terceiros), mas que nem por isso deixarão de diminuir rápida e drasticamente a sua extrema dependência energética dos combustíveis fósseis importados (85%). Para tal, a Espanha levará a cabo uma profunda revolução no sistema de transportes, tendo em vista diminuir a importância dos transportes rodoviários e aéreos relativamente à ferrovia e aos transportes marítimos, promovendo, por outro lado, um conjunto de medidas destinadas a mitigar decididamente a dependência do consumo energético de origem carbónica por parte dos chamados "sectores difusos" (transportes, edifícios e sector terciário). Paineis solares térmicos e fotovoltaicos serão generalizados de forma apoiada, mas imperativa, ao longo desta e da próxima década em todas as cidades espanholas.

Maria Isabel Guerra deu conta do Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC, 2006), destacando não apenas alguns aspectos essenciais do diagnóstico e das medidas a implementar, mas ainda, o que não deixa de ser particularmente relevante, a sua característica inter-ministerial e ainda o facto de ter sido implementada uma metodologia de controlo e verificação de resultados.

Finalmente no plano das visões mais acutilantes, críticas e propositivas deste encontro destacaria a notabilíssima intervenção do Prof. Eduardo Oliveira Fernandes (Responsável da Unidade de Estudos Avançados de Energia no Ambiente Construído, da Universidade do Porto), e a militância quase colérica de Carlos Pimenta. O primeiro, não apenas mostrou até que ponto a nossa extrema dependência energética do exterior e das energias de origem fóssil é um factor de grande insegurança nacional, como sublinhou ainda o muito que há fazer no campo da eficiência energética (os chamados negawatts), antes de nos deixarmos levar pelo canto das sereias nucleares e das OPAs. 60% da energia transportada perde-se no labirinto da ineficiência energética, da falta de visão económica e da incompetência política (as palavras são minhas)... O segundo, foi sobretudo corajoso na defesa da necessidade de construir a barragem do Sabor como medida de precaução extrema absolutamente defensável na perspectiva da defesa estratégica da bacia do Douro (objectivamente ameaçada pelas medidas de salvaguarda hidrológica implementadas e em fase de implementação pelos espanhóis na parte que lhes pertence do rio comum).

Não ouvi as primeiras intervenções da tarde. Mas ouvi as que encerraram o encontro. Nota triste: a lenga-lenga dos deputados que ali aterraram para exibirem os respectivos leques partidários, sem que nada de substancial saísse daquelas mentes de eleição (talvez na próxima vez tragam a lição estudada e nos dêem a conhecer quais são efectivamente as posições dos partidos sobre questões tão importantes como as que neste primeiro encontro foram discutidas). Nota feliz: não esperava de Jaime Gama, o presidente da Assembleia da República, uma intervenção tão lúcida sobre o mérito da conferência, e em particular a sua plena consciência dos efeitos devastadores que as alterações climáticas, se não forem mitigadas, poderão ter sobre a nossa própria sobrevivência como país, nação e estado. Subestimei-o.

Resumindo: há uma boa percepção técnica dos problemas; sabe-se que os interesses cegos, egoístas e irresponsáveis do sector estão em pleno movimento browniano, mas desconhece-se se há pensamento económico sobre o assunto; ou se os políticos (nomeadamente este governo) terão a coragem de agir atempadamente e defendendo em primeiro lugar o interesse nacional. O sucesso da União Europeia depende e muito de três tipos de dialécticas: a que vai de cima para baixo (do geral para o particular); a que vai de baixo para cima (do particular, i.e. do estado-nação, da cidade, da freguesia, para o geral) e a que se desenvolve segundo a topologia das redes rizomáticas. Muito em breve a lógica "top down" actualmente hegemónica (e estúpida) do sector energético dará lugar a uma rebelião sem precedentes das novas matrizes de produção e partilha energética à semelhança do que ocorreu na tecnosfera da redes informáticas. Em 1994 tentei avisar um dos patrões lusitanos da comunicação social sobre o tremendo abalo que a sua indústria iria sofrer. Disse-lhe que a webcast iria comer literalmente o broadcast. Ele não me ligou nenhuma. Os resultados estão à vista e ainda vão piorar, para ele, claro! Basta meditar nos 1300 milhões de euros desembolsados anteontem pela Google para adquirir a You Tube , uma empresa web criada em 2005 para partilhar vídeos à escala global. Pois bem, o aviso aos distraídos do sector energético é este: esqueçam a ideia de controlo e comecem rapidamente a pensar em rizomas energéticos livres e cooperantes. Se não o fizerem, acreditem, serão comidos, literalmente, pelos rizomas mini, micro e nanotecnológicos em gestação... em menos de década e meia!

OAM #145 11 OUT 2006 [originalmelmente publicado no blog de O Grande Estuário