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quarta-feira, maio 18, 2011

Síndroma da China

A central nuclear de Fukushima está fora de controle.
3000 pessoas evacuadas



2011 preparava-se para ser o ano de partida para uma nova vaga de centrais nucleares, depois de uma batalha vencida pela liberalização deste negócio. Mas a central japonesa que actualmente derrete, explode e contaminará durante séculos (ou milénios) toda uma região cujo perímetro de radioactividade letal se alarga dia a dia, veio alterar radicalmente estas expectativas. O reactor nº 1 da central de Fukushima começou a derreter, sabe-se agora, não por causa do tsunami, mas tão só por causa da violência dos sismos que abalaram a principal ilha japonesa no passado dia 11 de março. Se pensarmos no número de centrais existentes no Japão, na Europa, na Rússia, na Índia, na China e nos Estados Unidos, e nas probabilidades de grandes terramotos causarem tragédias desta magnitude, percebe-se com facilidade que o renascimento do optimismo nuclear acaba de sofrer um duro golpe.

A central nuclear de Fukushima é privada, e também por esta circunstância se porá em causa, por causa desta tragédia que ainda não acabou nem tem fim à vista, o entusiasmo de muitos cientistas, especialistas e especuladores por uma nova geração de centrais nucleares mais produtivas, mas cuja segurança ninguém parece poder garantir.

O Japão já estava à beira do colapso financeiro antes da tragédia sísmica e nuclear, nomeadamente por causa da sua astronómica dívida pública. Agora, o inevitável colapso da sua economia em consequência do desastre nuclear que recomeçou, somado às graves crises financeiras americana e britânica, elevarão a crise sistémica que abala a economia mundial desde 2008 para um patamar potencialmente catastrófico.

Recomendações (sobretudo depois de saber que o BES, o BCP e a Caixa estão de cofres vazios): guarde o ouro e as pratas que tiver em sua casa, e compre mais se puder. Use os cartões de débito, e de preferência de crédito, e guarde liquidez (notas de euro) em casa, para dois meses pelo menos. Se tem quintas ou quintinhas, não se desfaça delas — visite-as e pense no seu potencial alimentar. Não compre mais carros, nem casas! Desfaça-se das acções quanto antes, sobretudo de bancos, empresas de construção, cimentos e telecomunicações. O que aí vem não é bom!

China Syndrome “might just have happened at Fukushima” — Molten fuel may have “melted through everything into the earth”.
May 16th, 2011 at 04:22 PM. TIME.com

Nearly 3,000 evacuees rushed to hospital by ambulance — From shelters in Fukushima, Iwate and Miyagi.
May 17th, 2011 at 03:22 AM. JAPAN TODAY

“There have been nuclear explosions” — “Ongoing nuclear reaction taking place now”.
May 17th, 2011 at 04:53 PM. ENENEWS

... the “nuclear power policy makers”, historical pillars of the development of this energy from the 1950s, just like their fierce rivals the environmentalists who emerged in the 1970s, will quickly see that their monopoly of the debate on this subject is coming to end. Fukushima, the Internet and the crisis are in the course of shattering the nuclear debate’s traditional expertise, limited to mode "pro" or "anti". The implications of such an upheaval for the various industry players and policy makers faced with choices for national energy are on an unprecedented scale since they involve a whole segment of global energy production. — Confidential letter - GlobalEurope Anticipation Bulletin Nr 55 - May 16, 2011.

Tokyo Electric Power Company shares dropped over 9 percent on the Tokyo Stock Exchange on Tuesday after its credit rating was cut by US rating firm Moody's.
May 17, 2011 17:29 +0900 (JST). ENENEWS.

TEPCO shares ended the day at 380 yen, or about 4.7 dollars, falling below 400 yen at closing for the first time in 40 days. Stock prices for other utilities also plunged.

Moody's Investors Service said it downgraded TEPCO's rating by 2 notches because it's unclear how the Japanese government will help the utility pay huge amounts of compensation to people affected by the Fukushima nuclear plant accident.

Market sources say a growing number of investors are concerned about the future of Japan's nuclear power industry.

Tepco Misleading Public Over Nuclear Crisis. By Tsuyoshi Inajima and Yuji Okada - May 18, 2011 6:41 AM GMT+0100 (Bloomberg)

Interview with Akira Tokuhiro, Nuclear Engineer: Fukushima and the Mass Media
Posted: 05/17/11 05:28 PM ET. The Huffington Post.

The most terrifying fact is that the Japanese power plants are using ‘dirty’ fuel, which most countries have rejected and banned. Needless to say that the Americans built them. Since the Earth is moving Counterclockwise most of the fall-out will drop on U.S., unless very strong winds take it somewhere else. [...]

Virtually any nuclear engineer connected with the industry he or she supports cannot be fully trusted right now to give us the full truth about Fukushima because the truth is simply too damaging to the nuclear industry and they know it. The attitude the industry has as well as the ugly reality that this same energy is tied to the economy which supports full on capitalism must be scaled back Tokuhiro advised. He tells me it is difficult to speak of this in the U.S., but adds that we need to go back to a time when shops were closed on Sundays and we spent time with our families, not using up more energy but actually staying home. I added that we still do this on Sunday and it is often very difficult to find shops open here in France on Sunday except for the local outdoor markets.

Última actualização: 19 maio 2011 00:15

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Crise Iraniana 3

President George W. Bush during a press conference at the White House
G.W. Bush anuncia que Irão não tem em curso nenhum programa nuclear militar.
Mandel Nagan/Agence France-Presse--Getty Images.

Dois Vietnames e meio

An Assessment Jars a Foreign Policy Debate About Iran
By STEVEN LEE MYERS
Published: December 4, 2007

"WASHINGTON, Dec. 3 -- Rarely, if ever, has a single intelligence report so completely, so suddenly, and so surprisingly altered a foreign policy debate here.

"An administration that had cited Iran's pursuit of nuclear weapons as the rationale for an aggressive foreign policy -- as an attempt to head off World War III, as President Bush himself put it only weeks ago -- now has in its hands a classified document that undercuts much of the foundation for that approach.

"The impact of the National Intelligence Estimate's conclusion -- that Iran had halted a military program in 2003, though it continues to enrich uranium, ostensibly for peaceful uses -- will be felt in endless ways at home and abroad.

... "There are still hawks in the administration, Vice President Dick Cheney chief among them, who view Iran with deep suspicion. But for now at least, the main argument for a military conflict with Iran -- widely rumored and feared, judging by antiwar protesters that often greet Mr. Bush during his travels -- is off the table for the foreseeable future." -- The New York Times.

Ao contrário do que se fartaram de escrever as araras que comentam as grandes questões internacionais, o Irão não está a desenvolver nenhum programa militar nuclear, pelo menos desde 2003. Reconheceram-no agora os serviços secretos que trabalham para G. W. Bush, mais de um mês depois de tal conclusão ter sido sublinhada por Mohamed ElBaradei, o Director-Geral da Agência Internacional de Energia Atómica.

O jogo do gato e do rato em que o cowboy do Texas caíu que nem um patinho, serviu às mil maravilhas a China, a Rússia, a Venezuela, os Emiratos Árabes, a Arábia Saudita e o próprio Irão. O petróleo disparou para além do que é devido ao Pico Petrolífero; a Rússia investiu no reforço do seu potencial militar (nuclear estratégico e convencional); a Arábia Saudita comprou dezenas de caças de última geração ao Sr. Blair (com luvas pelo meio e nada de investigações detalhadas sobre o assunto); o Iraque sabotou com sucesso a legislação que Bush queria fazer passar no parlamento do país ocupado, desenhada com o fito de hipotecar boa parte do petróleo iraquiano à sua própria família e amigos; a China acaba de emergir como actor estratégico de primeiro plano na diplomacia mundial; em suma, os Estados Unidos estão na mais completa falência, estourando mais de 50% das suas receitas fiscais numa cruzada para a qual já não têm, nem tomates, nem combustível. A Europa andou, como sempre, a pavonear a sua indigência estratégica. Quando é que o Solana se reforma?

E agora, em que ficamos? A China proibiu por duas vezes navios de guerra norte-americanos de visitarem os seus portos, ao mesmo tempo que aparece como pacificadora das grandes tensões diplomáticas mundiais (Coreia do Norte, Irão, ...). A Rússia voltou a patrulhar em força o Atlântico e o Mediterrâneo, tendo programado grandes exercícios aero-navais para o início de 2008. China e Japão acertam estratégias financeiras globais no que respeita ao lucrativo negócio do chamado carry trade. A Europa está borrada de medo com o que possa acontecer nos próximos dois anos em consequência do tsunami financeiro em curso.

Os Estados Unidos, único país que atacou (por duas vezes) um país com bombas atómicas, continua a investir milhares de milhões de dólares na sofisticação do seu arsenal nuclear, provocando assim a actual intensificação da corrida aos armamentos em todo o mundo, seja no sector das armas convencionais, das armas proibidas (nucleares, química e biológica), ou ainda do explosivo sector da guerra electrónica. Pela natureza do seu actual modelo económico especulativo e consumista, assente na expansão infinita de uma dívida que depois exporta para o resto do planeta, assim como pela ilusão imperial em que ainda vive, esta gigantesca e rica democracia tem vindo a transformar-se no mais perigoso perturbador da paz mundial. É um tigre ferido, e como tal muito perigoso. Precisa de ajuda e teremos que ajudá-la. Os tempos difíceis que aí vêm convidam, como nunca, à humildade, à inteligência e à cooperação.


OAM 290 06-12-2007, 01:54

sexta-feira, setembro 14, 2007

Portugal nuclear

Global Balkans
Ameaças ao desenho europeu. Os "Global Balkans" segundo Zbigniew Brzezinski.

EUA defendem que Portugal deve apostar na energia nuclear
O conselheiro da Casa Branca para o Ambiente, James Connaughton, defendeu hoje que Portugal deve apostar na energia nuclear, considerando que é um dos países com maiores capacidades para produzir energia totalmente limpa.

(...) De uma forma global, Connaughton defendeu que o nuclear deve ser usado por todos os países que tenham capacidade tecnológica e uma forma de a produzir de um modo seguro.

"A energia nuclear é a única fonte capaz de produzir energia a baixo custo e que consegue sustentar cidades inteiras sem emissões. Não conseguimos fazer progressos ao nível energético e ao nível das alterações climáticas se não usarmos muito mais energia nuclear ao nível global", sustentou.

Os dois responsáveis norte-americanos vão ter hoje encontros em Lisboa com representantes dos Ministérios do Ambiente e da Economia, a quem darão conta da conferência sobre alterações climáticas que a administração Bush está a organizar para os dias 27 e 28 de Setembro. in Jornal de Negócios Sexta, 14 Setembro 2007

A ideia faz muito pouco sentido tal como aparece, sobretudo vinda de onde vem: um governo que nunca ratificou o Protocolo de Quioto, corrupto, criminoso e em fim de mandato. Pode, porém, haver um cenário sinistro por detrás desta iniciativa: envolver Portugal na actual corrida nuclear. Este cenário aparentemente improvável passaria por dotar o nosso país de uma ou duas centrais nucleares, de tecnologia avançada no domínio do enriquecimento de urânio para produção de plutónio militar e... a militarização nuclear dos Açores!

Isto pode muito bem ser o início de uma resposta estratégica ao recuo inevitável dos EUA no Médio Oriente, depois do fiasco do Iraque, da incapacidade crescente de gerir o conflito israelo-árabe, e perante a irresistível influência do eixo Pequim-Moscovo (através da Shanghai Cooperation Organization) em toda a vasta área do que Brzezinsky começou por chamar The Eurasian Balkans (The Grand Chessboard, 1997) e que no seu último livro, The Second Chance (2007), designa por Global Balkans. Já para não falar dos efeitos do desastre iraquiano no reforço do islamismo radical em todo o Norte de África.

Enquanto a Rússia ameaça funcionar como estado tampão entre a Europa Ocidental e a Eurásia, com argumentos tão poderosos como os da sua riqueza energética e os do seu renovado poder militar estratégico, podendo a qualquer momento desencadear uma placagem dramática à evolução prevista da União Europeia, induzindo por aí um regresso catastrófico ao bicefalismo de Versailles, os Estados Unidos de Bush parecem preferir, precisamente, este cenário! Se assim for, faz todo o sentido a iniciativa ecológica caricata do senhor James Connaughton.

Entretanto, José Sócrates anda com os olhos cada vez mais em bico. Não viu o Dalai Lama. Vai à China negociar contentores. Será que entenderá o recado americano? Para onde irá pender, no ping-pong entre Washington e Pequim? Não preside actualmente à União Europeia? Não acha que esta seria uma excelente oportunidade para fazer um pouco de história a sério, em vez de andar pelo país televisivo fora armado em caixeiro-viajante da indústria informática?

A questão energética não é, de facto, o assunto desta inusitada deslocação do protector americano a Lisboa, pelo que não voltarei a deter-me, para já, na questão do nuclear para fins pacíficos. Recomendo, no entanto e a propósito, a leitura integral da resposta dada por John Busby a um recente inquérito público inglês sobre a alternativa nuclear à actual e sobretudo futura crise energética.
Response to the Government's consultative document 'The Future of Nuclear Power'
By John Busby
Sandersresearch
Sep/11/2007

"Ever wondered if the clock was ticking regarding a secure electricity supply? Could new nuclear power stations actually increase carbon emissions? Could the looming shortage of uranium represent the biggest challenge to a nuclear renaissance? These are just a few of the questions answered by John Busby in his response to the Government’s consultative document 'The Future of Nuclear Energy'".

OAM #240 12:57, 14 SET 2007 (UTC)

sexta-feira, agosto 17, 2007

Nuclear 2

Yellowcake
Yellowcake - o precipitado sólido a partir do qual de processa o combustível nuclear.


O renascimento do nuclear?

O preço do urânio triplicou em apenas um ano.
Em 2040, 2050 como muito, este minério será uma raridade virtualmente inexplorável...

Apesar da bondade visionária de James Lovelock, a verdade é que o tão propalado renascimento do nuclear não tem pernas para andar. E não é por causa de questões de segurança, ou simples resistência dos povos que não querem re-edições revistas e ampliadas de Three Mile Islands, nem Chernobyl. O motivo porque a energia nuclear não será uma alternativa ao pico petrolífero mundial é muito mais simples e irredutível: não há urânio suficiente!

Ou melhor, o chamado EROEI (Energy Returned on Energy Invested) tornar-se-à desinteressante assim que a exploração das principais zonas mineiras de urânio (Austrália, Cazaquistão, Canada, África do Sul, Namíbia, Rússia, Brasil, EUA, Uzbequistão) se tornar demasiado cara e consumidora de água e de energia nos processos de escavação, processamento e enriquecimento do combustível nuclear.

As reservas conhecidas de urânio natural em 2006 somam 3.142.000 toneladas
O consumo anual de urânio é equivalente a 65.000 toneladas de urânio*
A extracção anual de urânio é 40 mil toneladas
Duração estimada das reservas: 48-50 anos

* -- 20 mil das quais têm origem no processamento de combustível a partir do arsenal abatido de 30 mil bombas nucleares da ex-URSS

Post scriptum: Recebi um comentário da Chantal Tremblay (e depois disso, referências oportunas sobre o assunto, compiladas pela Maria de Fátima Biscaia) chamando-me a atenção para a probabilidade de assistirmos a um prolongamento da era nuclear, seja por efeito de uma maior rentabilidade das futuras centrais (por exemplo, se utilizarem a tecnologia canadiana conhecida por CANDU), seja sobretudo pela entrada em cena das centrais alimentadas com tório (cuja tecnologia tem vindo a ser desenvolvida pela India) assim que o ciclo do urânio e do plutónio atingir o pico. As maiores reservas de tório encontram-se nos seguintes países: Brasil, Turquia, India, EUA, Noruega, Gronelândia, Canadá.

CANDU

(...) by avoiding the uranium enrichment process, overall utilization of mined uranium in CANDU reactors is significantly less than in light-water reactors (about 30-40% less, using current designs).

Compared with light water reactors, a heavy water design is "neutron rich". This makes the CANDU design suitable for "burning" a number of alternative nuclear fuels. To date, the fuel to gain the most attention is mixed oxide fuel (MOX). MOX is a mixture of natural uranium and plutonium, such as that extracted from former nuclear weapons. Currently there is a worldwide surplus of plutonium due to the various United States and Soviet agreements to dismantle many of their warheads, and the security of these supplies is a cause for concern. By burning this plutonium in a CANDU it is removed from use, turning it into energy. - in Wikipedia


THORIUM

Much development work is still required before the thorium fuel cycle can be commercialised, and the effort required seems unlikely while (or where) abundant uranium is available.

Nevertheless, the thorium fuel cycle, with its potential for breeding fuel without fast neutron reactors, holds considerable potential long-term benefits. Thorium is significantly more abundant than uranium, and is a key factor in sustainable nuclear energy. - in Wikipedia


Referências

Desperately seeking uranium
Article by Michael Petek
Wednesday 15th August 2007, 19:59

A little makes a lot?
By John Busby
Aug/07/2007

Introduction to CANDU systems and operation, Lecture Notes by Dr. George Bereznai (PDF)

Thorium fuel cycle - Potential
benefits and challenges IAEA-International Atomic Energy Agency (PDF)

Uranium Proved Reserves

17th IAEA Technical Meeting on Research Using Small Fusion Devices
22nd to 24th October 2007 Lisbon, Portugal
The 17th IAEA TM on "Research Using Small Fusion Devices" will be held in Lisbon, hosted by the Government of Portugal through the Centro de Fusão Nuclear of the Association EURATOM/Instituto Superior Técnico (EURATOM/IST).

OAM #231 17 AGO 2007

quarta-feira, maio 09, 2007

The Nuclear Bunker Buster

Nuclear Bunker BusterTerrorismo nuclear

A Union of Concerned Scientists mostra de forma clara e arrepiante, com base numa simulação do próprio Pentágono, as consequências de um único ataque nuclear ao Irão com uma NBB de 1 Mega Tonelada (60x a potência da bomba de Hiroshima): 3 milhões de mortos no Irão, Afeganistão, Paquistão e India, em apenas 48 horas..., e 35 milhões de pessoas expostas a radiações cancerígenas progressivamente letais. Mesmo com uma das actuais mini bombas nucleares anti-bunker, que Bush e a pandilha de criminosos que o inspira pensa usar num ataque surpresa ao Irão, as B61-11, com 400 Kilo Toneladas, causaria centenas de milhar de mortos e as respectivas irradiações chegariam aos países vizinhos.

O pico petrolífero será atingido, segundo várias previsões, este ano de 2007. Isto significa que, ao ritmo actual, o petróleo remanescente será consumido até 2030-2050! Por volta de 2015-2017, o ouro negro estará reservado para os mais ricos, para os mais poderosos e para as funções básicas essenciais dos países com alguma robustez económica. Não custará, no ano em que os idiotas do actual governo querem inaugurar a Ota (1), menos de 300 euros o barril.

Em suma, começou, sem declaração formal, a grande guerra energética da actual civilização. Os Estados Unidos e a Europa recomendam agora a produção de biodiesel. Tarde demais e uma receita hipócrita, pois colocará os produtores de alimentos contra os produtores de combustíveis, além de permitir cativar o uso do petróleo por parte dos países ricos e emergentes (Estados Unidos, Europa, Japão, China e India), mitigando por mais algum tempo o inevitável colapso do actual paradigma energético global.

Os dilemas actuais, ainda que invisíveis, ou permanentemente mascarados pela fotogenia mediática do Capitalismo e pela histeria consumista colectiva, são terríveis (2). Cada um de nós pode e deve começar a pensar seriamente no que poderá fazer para travar a possibilidade real dos três holocaustos que se avistam no horizonte: o nuclear, o energético e o climático.

ver animação

Notas
1 - O Erro da Ota.
Segunda-feira, dia 14 de Maio, 2007, pelas 17 horas, será lançado no Palácio da Bolsa (no Porto), o livro O Erro da Ota e o Futuro de Portugal: a Posição da Sociedade Civil.
Autores: Krus Abecassis, António Barreto, Vitor Bento, António dos Reis Borges, António Brotas, Frederico Brotas de Carvalho, Galopim de Carvalho, Miguel Frasquilho, Teresa Gamito, Luís Gonçalves, Pedro Quartim Graça, Mendo Castro Henriques, José Carlos Morais, Rui Moreira, António Cerveira Pinto, António Diogo Pinto, Patrícia Pires, Rui Rodrigues, Carlos Sant'Ana, Loureiro dos Santos, Goçalo Ribeiro Telles.
Mais pormenores em Somos Portugueses.

2- E O Wilson Encyclopedia of Life
As conferencias/prémios TED são um excelente exemplo do nascente cosmopolitismo tecnológico, graças à evolução paradigma da Internet para a chamada Web 2.0, ou web semântica.
A comunicação de E O Wilson é um notável contributo para a compreensão da urgência dos problemas com que estamos confrontados enquanto espécie.

FW:

Dear TEDizens,

Those of us in Monterey this year watched in awe as E O Wilson unveiled his inspiring TED Prize wish to create an Encyclopedia of Life. (If you weren't there, you can see it here.)

In Washington DC this morning, the first big step in that dream came true. Five major scientific institutions, backed by a $50m funding commitment led by the MacArthur Foundation, announced the launch of a global effort to launch the Encyclopedia. Ed Wilson described today's announcement as a dream come true.

As Ed hinted in his speech back in March, a broad-based effort to plan the launch was already underway at the time he made his TED Prize wish. But he called on us to assist the effort, I am proud to tell you that members of the TED community played a key role in realizing what happened today.

In particular I'd like to salute the effort of Avenue A-Razorfish who in three short weeks were able to visualize a stunning design for the Encyclopedia and incorporate it in a video that is the centerpiece of the newly launched website. Please take two minutes (and it is literally two minutes) right now to watch this video. It does a spectacular job of explaining the purpose and vision behind the Encylopedia. It is here at www.eol.org. This work was done entirely pro bono, and is a wonderful example of the TED Prize at work. Everyone at the launch today was blown away by it.

The video includes spectacular photography, some of it contributed by TEDster Frans Lanting. And the website address itself was contributed by an individual inspired by Ed's wish. Programmer Ray Ratelis owned eol.org, a valuable web address which he freely contributed to the project.

Many more TEDsters are meeting next month to assist the project in brainstorming its architecture, technology and design. It's proving an exhilarating example of the power of collaboration.

There are already many stories up online about the Encylopedia. Here's the official announcement.

Huge kudos and thanks to Ed and to Avenue A-Razorfish and to everyone else embarking on this journey.

My best,

- Chris Anderson, TED Curator

E O Wilson video

OAM #200 09 MAI 07

domingo, abril 15, 2007

Corrida nuclear


União Médio Oriental?

"As regras mudaram", disse recentemente o Rei Abdullah II ao jornal israelita Haaretz. "Vamos todos para programas nucleares."

Uma nova corrida nuclear teve início há já algum tempo entre os grandes. A Rússia de Putin, ao mesmo tempo que conseguiu travar a desestabilização provocada nas suas fronteiras e proximidades pelas chamadas revoluções "coloridas", ou "floridas" (Jugoslávia, 2000; Geórgia, 2003; Ucrânia, 2004; Líbano, 2005; Kirgistão, 2005), anunciou em 1998 o seu novo escudo nuclear defensivo intercontinental baseado nos mísseis Topol-M. Em 2003 é tornado público que os Estados Unidos avançaram com planos para a criação de uma nova geração de armas nucleares, incluindo as chamadas "mini nukes", "bunker busters" e bombas de neutrões (especialmente concebidas para operações de guerra assimétrica "contra o terrorismo", e que se prevê venha a ser testada em grande escala num eventual ataque surpresa ao Irão.) Há precisamente um mês atrás, Tony Blair obteve o apoio do Partido Conservador para a modernização dos submarinos nucleares ingleses que transportam os sistemas de mísseis balísticos Trident. No passado dia 12 deste mês de Abril a India testou com sucesso o seu novo míssil de longo alcance Agni-III. Incompreensivelmente, como se nada disto estivesse a ocorrer, a América de Bush escandaliza-se com o programa nuclear iraniano, o qual, como é sabido, está pelo menos a uma década de conseguir combustível nuclear bélico e sistemas de armas nucleares próprios.

O Irão, cercado por bases militares e esquadras aeronavais dos EUA e da NATO, além de ter apontado sobre o seu território armas nucleares israelitas, defende, compreensivelmente, o seu programa nuclear para fins energéticos, o qual obviamente implica, embora a prazo, um inegável potencial militar. Por sua vez, o Conselho de Segurança da ONU, unanimemente, acabou por condenar a atitude do Irão e propõe sanções. Porquê? Por se temer o Irão? Não creio. Por se temer que um ataque nuclear limitado ao Irão, por parte dos EUA, possa desencadear uma disputa global feroz em volta da principal fonte energética do planeta? É bem provável, sobretudo numa fase em que nem a China, nem a Rússia, se encontram ainda em posição confortável para um braço de ferro nuclear com a América, preferindo, por isso, esperar pela saída de Bush da Casa Branca.

Surpreendentemente, o encontro entre Putin e Abullah II acaba de introduzir uma nova dimensão ao problema. Aparentemente, os árabes perceberam que o melhor para a estabilidade regional será entrar no jogo do equilíbrio nuclear (1). Por um lado, porque o regresso em força da energia nuclear para fins pacíficos é uma perspectiva inevitável face ao esgotamento anunciado das principais energias fósseis (petróleo e gás natural), não se vendo como é que os países árabes iriam ficar fora dela, sabendo-se, como eles sabem melhor que ninguém, que o problema também lhes vai bater à porta. Depois, porque dispondo-se de equipamento e tecnologia nuclear pacífica, é praticamente impossível impedir o seu uso derivativo para fins militares. Por fim, se é verdade, e todos sabem que é, que a corrida armamentista nuclear está em pleno curso entre as grandes e médias potências, que argumento de ordem estratégica ou ética pode impedir o Médio Oriente de se apetrechar com tecnologias energéticas alternativas às energias fósseis, ou mesmo, de desenvolver sistemas de dissuasão nuclear?

Os ricos países árabes tem à sua frente uma janela de oportunidade de 10-20 anos, caracterizada por uma excepcional prosperiade económica, devida obviamente à subida contínua dos preços do ouro negro. Seriam burros se, uma vez mais, fossem incapazes de estabelecer entre si uma real comunidade de interesses, a partir da qual garantissem uma efectiva e duradoura paz na região, ao mesmo tempo que seriam capazes de estabelecer uma plataforma comercial equilibrada com o resto do mundo, que deles depende, pelo menos no curto e médio prazo, para a obtenção de recursos energéticos essenciais. Se o fizerem, conseguirão certamente esvaziar tanto o poder anárquico e obscuro das frentes terroristas, bem como as provocações que em nome do fundamentalismo islâmico têm vindo a ser montadas sabe-se lá por quem...

Portugal, país atlântico e com responsabilidades atlânticas inalienáveis, é e sempre foi um país europeu, ao mesmo tempo que conhece bem a África e a China, nutrindo ainda uma longa e desinteressada amizade pelos países do Médio Oriente. Não deve, por isso, pôr-se em bicos dos pés, pendendo para qualquer dos lados do problema. A sua missão histórica, se é que tem alguma a cumprir na perigosíssima charneira civilizacional em que a humanidade se encontra, é a de assumir a sua vocação diplomática, recorrendo a toda a sua experiência de diálogo intercultural, sem outro interesse que o de abrir e manter abertas vias de diálogo e cooperação permanente, mesmo em eventuais cenários de guerra generalizada que venham a ocorrer. Neste sentido, teremos que saber definir desde já uma doutrina diplomática com razoável espaço de manobra relativamente ao que venha a ser no futuro a diplomacia europeia comum.


Notas
1 - A formação de um eixo árabo-sunita com vértice em Rabat, apoiado pelos Estadods Unidos e por Israel, embora sirva o propósito de conter as ambições regionais do Irão, sobretudo no quadro de uma desagregação do Iraque, a mais longo prazo pode bem servir os interesses dos árabes no seu conjunto.


OAM #193 15 ABR 07

sábado, março 24, 2007

Petroleo 4

Um argumento mais contra os devaneios aeroportuários lusitanos




Matt Simmons (Simmons & Company) afirmou à CNBC, após o fecho de mais uma sessão de Wall Steet, que o pico da produção petrolífera será atingido este ano, mas que só nos daremos conta disto, muito provavelmente, em 2008. (07-03-2007)

Isto quer dizer que, se nenhum fenómeno fizer disparar os actuais preços do crude para os 80 dólares o barril ainda este ano --crise pós-eleitoral na Nigéria, insurreição iraquiana, descontrolo da crise iraniana (que hoje mesmo esteve a ponto de suceder!), desastres climáticos, ou uma queda abrupta do dólar (em declínio imparável há vários meses)-- já nada poderá impedir o encarecimento acelerado dos produtos petrolíferos nos anos que se aproximam. Em cinco anos, o petróleo poderá chegar aos 300 dólares o barril. Hoje está a 62 USD/b, muito longe, portanto, dos 12 a 25 dólares que serviram de referência para a maioria dos pseudo-estudos sobre o NAL (Novo Aeroporto de Lisboa).

Desta realidade decorrem algumas conclusões importantes:

-- só resistirão as companhias aéreas que forem capazes de reduzir drasticamente os seus custos operacionais, através da substituição das actuais frotas ruidosas e ineficientes em termos energéticos, do aumento radical da produtividade, do uso de instalações aeroportuárias baratas e da subcontratação de tudo o que estiver fora do coração do negócio (transportar passageiros pelo ar e oferecer-lhes uma rede barata, confortável e criativa de soluções de viagem);

-- mesmo assim, nada garante que uma recessão mundial provocada pela subida em flecha dos preços dos combustíveis não venha a induzir um arrefecimento acentuado no eufórico fenómeno das Low Cost (que entretanto tenderão a alargar a sua área de negócios para os transportes ferroviário, marítimo e fluvial);

-- a decisão estratégica europeia (e espanhola) de intensificar a construção de uma densa rede ferroviária em bitola europeia de Alta Velocidade e de Velocidade Elevada irá concorrer directamente com o transporte aéreo nas distâncias até 900 Km;

-- sendo obviamente uma quimera pensar que Portugal possa ser uma porta de entrada aérea na Europa, resta-lhe tão só participar da forma mais inteligente que souber nas redes de transporte aéreo e ferroviário actualmente em rápida constituição na Europa: companhias de Baixo Custo (Low Cost) e redes de Alta Velocidade e Velocidade Elevada. E aqui, a prioridade deve ir claramente para a ferrovia e não para o transporte aéreo, pois sendo impossível integrarmo-nos nas novas redes ferroviárias sem vultuosos investimentos estratégicos, o mesmo não sucede com o transporte aéreo, para o que bastará saber recuperar rapidamente e com custos mínimos os aeroportos que temos, em função das solicitações das novas companhias, secundarizando liminarmente os problemas derivados da decadência inevitável das companhias de bandeira;

-- destas novas evidências decorre que não há nenhuma pressa técnica, logística ou económica de fundo que leve a pensar ser necessário construir um novo grande aeroporto na região de Lisboa, bastando, para já, modernizar a Portela e reforçá-la com o apoio de mais dois aeroportos: Montijo (para as Low Cost) e Tires ou Sintra (para os "Corporate Jets");

-- no que se refere à ferrovia, a solução também é simples: ligar imediatamente Lisboa a Madrid via Alta Velocidade, terminar a adaptação da Linha do Norte ao Alfa Pendular e definir um plano ferroviário de emergência destinado a traçar uma rede mínima de linhas em bitola europeia capaz de agilizar a mobilidade de pessoas e mercadorias entre Portugal e o resto da Europa;

-- entretanto, sem preconceitos, mas com as maiores cautelas, devemos lançar a discussão sobre a alternativa nuclear pacífica ao declínio da economia do petróleo.

Tudo o resto, sobretudo a patética teimosia do actual governo no dossiê da Ota, tem que ser devidamente minimizado.

Conselho gratuito a José Sócrates: faça um "reset" no dossiê do NAL (Novo Aeroporto de Lisboa) antes de começar a presidência portuguesa da UE, dê um prazo curto para re-análise independente do problema, convoque uma conferência europeia sobre energia e mobilidade na Europa, apoie-se nos argumentos da Oposição e tome por fim um decisão lúcida no ano novo de 2008. Já sabe o que penso: prioridade à ferrovia e custos mínimos na adaptação das nossas infra-estruturas aeronáuticas.

22-03-2007. Evidence is mounting that oil prices will soon climb to new, perhaps unaffordable for many, highs. Some think "soon" is three, four, or five years away. Others think "soon" may be as close as three, four, five, or six months. It is this latter scenario in which oil and gasoline prices reach new highs before the year is out that we look at today. -- Tom Whipple, Falls Church news-Press



OAM #180 23 MAR 07

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Aquecimento global

Jakarta, diluvio
Jakarta, Fevereiro 2007: mais de 340 mil desalojados pelo dilúvio

A vingança de Gaia

James Lovelock propõe a expansão massiva da energia nuclear!

Há alguns dias atrás, Stephen Hawking anunciou que o painel de cientistas responsável pelo chamado Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock), decidiu, no passado dia 17 de Fevereiro, adiantá-lo 2mn! O motivo desta decisão teve origem na avaliação dos perigos devastadores das alterações climáticas provocadas pelo homem, os quais igualam hoje, na opinião do painel, os de uma guerra nuclear. (video)

A resposta de James Lovelock foi: Hawking está a subestimar o perigo do aquecimento global!

James Lovelock, o cientista que provou a existência de um buraco na camada de ozono causado pelos fluoclorohidrocarbonetos (FCHC), e desenvolveu a chamada "Hipótese de Gaia", que assegura ser o planeta (que nomeou a partir da deusa grega da Terra, Gaia) uma espécie de organismo vivo capaz de controlar constantemente todos os seus sistemas em terra, na água e no ar, por forma a preservar a vida, acaba de anunciar que apenas a expansão massiva da energia nuclear poderá retardar a os efeitos catastróficos do aquecimento global.

Segundo o cientista de 87 anos, nem uma guerra nuclear causará maior devastação na Terra do que o aquecimento global no decorrer deste século. Nada poderá, segundo ele, deter os efeitos catastróficos do aquecimento global. Nenhum poder mundial, nenhum cientista, nenhum político, nenhum movimento de fuga em direcção ao conforto familiar, nem sequer o mercado das emissões de carbono, nem sequer a energia eólica, nem sequer os bio-combustíveis serão capazes de impedir o esvaimento da Terra. Segundo Lovelock, apenas conseguiremos retardar a catástrofe durante algum tempo. E a energia nuclear é a única alternativa disponível.

O relatório Stern, e o mais recente relatório do IPCC, que conseguiram finalmente colocar na agenda política dos governos europeus e americano o problema gravíssimo das alterações climáticas, correm o risco de radicalizar o discurso de todos aqueles que há anos vêm estudando o tema da degradação da Terra e alertando para os perigos incontroláveis dela decorrentes. No momento em que Stern propõe a incorporação desta crise na lógica do "business as usual", sugerindo a existência de lucros fabulosos a retirar com a especulação em volta do mercado de emissões de CO2, da produção de biodiesel, etc., é natural que os evangelistas da ecologia se vejam forçados a aumentar a parada dos seus avisos, por forma a contrariar os oportunismos emergentes. Pergunta-se, assim, o seguinte: deveremos dar um desconto às afirmações de Lovelock, ou considerá-las seriamente?



OAM #171 06 FEV 2007

sábado, novembro 04, 2006

Stern Report

Global Warming 2100
img: Global Warming Art


Conseguiremos declarar o Estado de Emergência Ecológica?


O relatório elaborado pelo antigo economista do Banco Mundial, Sir Nicholas Stern, por encargo do governo inglês e sob os auspícios de Gordon Brown, veio a público a 30/10/2006, tornando-se instantaneamente assunto prioritário das principais agências noticiosas internacionais. O relatório não aporta nada que não suspeitassemos, grosso modo, desde Limits to Growth (1972), ou que não soubessemos desde a publicação de Plan B (2003-2006), de Lester R. Brown, de The Long Emergency (2005), de James Howard Kunstler e de Uma Verdade Inconveniente (2006), de Al Gore. Mas ainda assim, e apesar ser por vezes algo optimista nas soluções, tem a significativa vantagem de ser um documento criterioso, relativamente actualizado, substancial, prudente e oficial.

Algumas conclusões (retiradas pelo Herald Tribune e de uma leitura resumida do documento):

  • os países pobres e em desenvolvimento serão os mais prejudicados pelas alterações climáticas;

  • o sector energético mundial terá de se descarbonizar em 60% até 2050 (na realidade, talvez precise de uma redução bem maior e mais rápida nos países industralizados: 90% até 2030...);

  • os mercados dos produtos de baixa intensidade carbónica valerão qualquer coisa como 374 mil milhões de euros anuais em 2050;

  • a desflorestação será responsável por mais de 18% das emissões globais de gases com efeito de estufa (ultrapassando o sector de transportes);

  • os incentivos ao desenvolvimento de tecnologias de baixa intensidade carbónica deverão multiplicar por 2 a 5 vezes o montante anual actualmente dispendido, devendo chegar aos 26,9 mil milhões de euros/ano em 2050;

  • a União Europeia, a China e o Estado da Califórnia são os primeiros grandes espaços económicos e demográficos mundiais a agir face à presente Emergência Ecológica Global, prevendo-se que venham a introduzir, ao longo desta e da próxima décadas, taxas ecológicas crescentes sobre a produção, comercialização e uso de combustíveis carbónicos e sistemas destes dependentes ou acoplados:
    — transportes rodoviários, aéreos, marítimos e fluviais movidos a combustíveis fósseis (taxas s/ os combustíveis fósseis, s/ a mobilidade pendular, s/ o estacionamento, s/ a renovação dos equipamentos e veículos, etc.)
    — energia doméstica, sobretudo sistemas de ar condicionado e electrodomésticos ineficientes;
    — tratamento de resíduos (lixos domésticos e resíduos perigosos);
    — embalagens anti-ecológicas, com incorporação intensiva de energia e de materiais críticos, etc.

Tudo isto, bem entendido, se o planeta for capaz de declarar até ao fim da presente década um verdadeiro Estado de Emergência Ecológica (EEE). Se não agirmos sem demora, avisa o Relatório Stern, o planeta poderá ter que consumir 5 a 20% do PNB global para acudir à deterioração sem precedentes das condições de vida na Terra.



Notas
Para uma visita rápida ao conteúdo deste relatório, vale desde logo a pena ler a tradução portuguesa do respectivo Resumo.
A versão original e integral do Stern Report será objecto de comentário crítico assim que acabe de lê-lo.
O artigo de George Monbiot publicado pelo Guardian de 31/11/2006, Drastic action on climate change is needed now - and here's the plan adverte-nos para uma leitura crítica do Relatório Stern.
Sobre este tema, vale também a pena ler o estudo igualmente recente de Andrew J. Hoffman, Getting Ahead of the Curve: Corporate Strategies That Address Climate Change (2006), publicado pelo Pew Center on Global Change. (PDF 2.3Mb)
O Council of Foreign Relations, por sua vez, publicou este sintomático estudo sobre a situação americana: National Security Consequences of U.S. Oil Dependency

[Este artigo foi originalmente publicado no blog de O Grande Estuário]

OAM #150 04 NOV 2006

sábado, outubro 14, 2006

Clima no Parlamento


Sistema Europeu de Informação s/ Fogos Florestais. Dia: 2006-10-14 (previsão p/ 3 dias)

Assembleia da República convida a sociedade civil a debater alterações climáticas e estratégias de mitigação


Passei a manhã e parte da tarde de 10 de Outubro de 2006 enfiado no novo auditório do parlamento português. As leis que ali se discutem são cada vez mais subsidiárias da produção seminal do Parlamento Europeu. Da transposição "in extremis" para o nosso edifício legislativo das leis de Estrasburgo tem dependido a melhoria de um país indisciplinado, onde o maior obstáculo à contemporaneidade continua a ser o elevado grau de analfabetismo funcional (fraca escolaridade básica e secundária), o péssimo hábito de depender de miraculosas mesadas externas (coisa que vem pelo menos desde o século XV e ainda não terminou...) e a persistência de um sistema de poder endogâmico irresponsável, muito dado às mordomias e à falta de ética. A ausência generalizada de civismo e o flagelo burocrático são alguns dos corolários inevitáveis destes males. Já não escarramos tanto na via pública como dantes, mas continuamos a estacionar em cima dos passeios, a obstruir as garagens e a estacionar alegremente em todas as esquinas que nos aparecem pela frente.

A promoção de uma discussão pública sobre as alterações climáticas no auditório da Assembleia da República é pois uma boa notícia. Fará parte da nova estratégia de transparência e abertura dos órgãos do poder à sociedade? Se sim, não poderei deixar de saudá-la. O tema inagural ? que fazer perante as alterações climáticas em curso? ? não poderia ser mais oportuno. O auditório encheu...

Das seis intervenções da manhã, destacaria apenas duas, pela sua concisão e relevância: a de Arturo Gonzalo Aizpiri, Secretário-Geral para a Prevenção da Contaminação e das Alterações Climáticas do ministério espanhol do ambiente, e a de Isabel Guerra, auditora de ambiente do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.

O primeiro fez uma exposição muito clara sobre a estratégia espanhola para o ambiente. Retive duas ideias: que não comprometerão as suas metas económicas essenciais aos limites de emissões de CO2 decorrentes do Protoclo de Quioto (tendo já constituído uma reserva financeira para aquisição de direitos de emissão a países terceiros), mas que nem por isso deixarão de diminuir rápida e drasticamente a sua extrema dependência energética dos combustíveis fósseis importados (85%). Para tal, a Espanha levará a cabo uma profunda revolução no sistema de transportes, tendo em vista diminuir a importância dos transportes rodoviários e aéreos relativamente à ferrovia e aos transportes marítimos, promovendo, por outro lado, um conjunto de medidas destinadas a mitigar decididamente a dependência do consumo energético de origem carbónica por parte dos chamados "sectores difusos" (transportes, edifícios e sector terciário). Paineis solares térmicos e fotovoltaicos serão generalizados de forma apoiada, mas imperativa, ao longo desta e da próxima década em todas as cidades espanholas.

Maria Isabel Guerra deu conta do Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC, 2006), destacando não apenas alguns aspectos essenciais do diagnóstico e das medidas a implementar, mas ainda, o que não deixa de ser particularmente relevante, a sua característica inter-ministerial e ainda o facto de ter sido implementada uma metodologia de controlo e verificação de resultados.

Finalmente no plano das visões mais acutilantes, críticas e propositivas deste encontro destacaria a notabilíssima intervenção do Prof. Eduardo Oliveira Fernandes (Responsável da Unidade de Estudos Avançados de Energia no Ambiente Construído, da Universidade do Porto), e a militância quase colérica de Carlos Pimenta. O primeiro, não apenas mostrou até que ponto a nossa extrema dependência energética do exterior e das energias de origem fóssil é um factor de grande insegurança nacional, como sublinhou ainda o muito que há fazer no campo da eficiência energética (os chamados negawatts), antes de nos deixarmos levar pelo canto das sereias nucleares e das OPAs. 60% da energia transportada perde-se no labirinto da ineficiência energética, da falta de visão económica e da incompetência política (as palavras são minhas)... O segundo, foi sobretudo corajoso na defesa da necessidade de construir a barragem do Sabor como medida de precaução extrema absolutamente defensável na perspectiva da defesa estratégica da bacia do Douro (objectivamente ameaçada pelas medidas de salvaguarda hidrológica implementadas e em fase de implementação pelos espanhóis na parte que lhes pertence do rio comum).

Não ouvi as primeiras intervenções da tarde. Mas ouvi as que encerraram o encontro. Nota triste: a lenga-lenga dos deputados que ali aterraram para exibirem os respectivos leques partidários, sem que nada de substancial saísse daquelas mentes de eleição (talvez na próxima vez tragam a lição estudada e nos dêem a conhecer quais são efectivamente as posições dos partidos sobre questões tão importantes como as que neste primeiro encontro foram discutidas). Nota feliz: não esperava de Jaime Gama, o presidente da Assembleia da República, uma intervenção tão lúcida sobre o mérito da conferência, e em particular a sua plena consciência dos efeitos devastadores que as alterações climáticas, se não forem mitigadas, poderão ter sobre a nossa própria sobrevivência como país, nação e estado. Subestimei-o.

Resumindo: há uma boa percepção técnica dos problemas; sabe-se que os interesses cegos, egoístas e irresponsáveis do sector estão em pleno movimento browniano, mas desconhece-se se há pensamento económico sobre o assunto; ou se os políticos (nomeadamente este governo) terão a coragem de agir atempadamente e defendendo em primeiro lugar o interesse nacional. O sucesso da União Europeia depende e muito de três tipos de dialécticas: a que vai de cima para baixo (do geral para o particular); a que vai de baixo para cima (do particular, i.e. do estado-nação, da cidade, da freguesia, para o geral) e a que se desenvolve segundo a topologia das redes rizomáticas. Muito em breve a lógica "top down" actualmente hegemónica (e estúpida) do sector energético dará lugar a uma rebelião sem precedentes das novas matrizes de produção e partilha energética à semelhança do que ocorreu na tecnosfera da redes informáticas. Em 1994 tentei avisar um dos patrões lusitanos da comunicação social sobre o tremendo abalo que a sua indústria iria sofrer. Disse-lhe que a webcast iria comer literalmente o broadcast. Ele não me ligou nenhuma. Os resultados estão à vista e ainda vão piorar, para ele, claro! Basta meditar nos 1300 milhões de euros desembolsados anteontem pela Google para adquirir a You Tube , uma empresa web criada em 2005 para partilhar vídeos à escala global. Pois bem, o aviso aos distraídos do sector energético é este: esqueçam a ideia de controlo e comecem rapidamente a pensar em rizomas energéticos livres e cooperantes. Se não o fizerem, acreditem, serão comidos, literalmente, pelos rizomas mini, micro e nanotecnológicos em gestação... em menos de década e meia!

OAM #145 11 OUT 2006 [originalmelmente publicado no blog de O Grande Estuário