quinta-feira, abril 05, 2007

Aeroportos 20


Europa e Espanha, a prioridade ferroviária


Com as limitações que num futuro muito próximo recairão sobre o transporte aéreo de passageiros na Europa, por efeito do preço do combustível (40% dos custos operacionais, com tendência para aumentar...) e das penalizações de preço e limitações de sobrevoo de territórios por causa dos novos e apertados controlos das emissões de gases com efeito de estufa, quer a Comissão Europeia, quer o governo espanhol, já decidiram reorientar drasticamente as suas prioridades no que se refere ao transporte público, dando total prioridade à ferrovia e nomeadamente a uma vasta rede europeia de Alta Velocidade e Velocidade Elevada. O teste de ontem do novo TGV, atingindo a melhor marca mundial de velocidade em transporte sobre carris (574 Km/h!), não é se não um claro indicador disto mesmo.

Num estudo promovido pelo Ministério do Fomento espanhol sobre os efeitos da entrada em operação do AVE Málaga-Madrid (em 2007) constatou-se, muito sintomaticamente, que este simples facto, por si só, irá retardar a saturação do aeroporto de Málaga em quase 9 anos, prejudicando de forma especial as ligações aéreas Málaga-Madrid e Málaga-Barcelona.

No caso português, assim que o Transiberiano chegue a Lisboa e o Alfa Pendular possa andar à velocidade para que foi feito, as ligações mais prejudicadas serão, obviamente, Lisboa-Madrid (resto de Espanha) e Lisboa-Porto.

A Alta Velocidade ferroviária entre Lisboa e Madrid (o AVE chega a Badajoz em 2010) e o aumento de velocidade de circulação do Alfa Pendular (ligando Porto a Lisboa em 02:30) poderá atrasar a tão badalada, mas nunca demonstrada saturação da Portela, em mais de 10 anos! Até lá (ou melhor, se muito antes disso), se não deslocarem as Low Cost para o Montijo, a TAP resvalará sem apelo nem agravo para a falência. Duvido aliás que, neste momento, haja ainda quem esteja interessado na sua anunciada (mas de que não se tem falado ultimamente) privatização. Se a TAP for obrigada, por este sombrio governo, a engolir a Portugália e os seus prejuízos, afundar-se-à ainda mais depressa.

Alguém terá que agir rapidamente para evitar o desastre. Já vimos como o actual governo de zombies em que se transformou o gabinete chefiado por José Sócrates está demasiado enredado na teia de mentiras, dívidas e meias-verdades que criou à sua volta sem que a esmagadora maioria dos seus eleitores (entre os quais me encontro) disso suspeitasse. Venha de lá outro primeiro ministro!

OAM #187 04 ABR 07

4 comentários:

Anónimo disse...

Seria, de facto, muito interessante saber que percentagem de voos da Portela poderiam, em princípio, ser razoavelmente substituídos por ligações de comboio - do Porto, Faro, Madrid e do que fica pelo caminho. É capaz de ser muito e ter um efeito significativo na data prevista de saturação da Portela, mantendo o critério de previsão. Talvez não tanto como em Málaga. É que o TGV é competitivo para percursos de algumas centenas de quilómetros. Quando se fala em milhares, a questão é outra!
As redes transeuropeias de transporte ferroviário fazem sentido como um todo. Não se espere que quem quer ir de Lisboa para Berlim tome o comboio. Também convém não esquecer que, se a França tem uma rede muito desenvolvida, isso tem por base a produção de energia eléctrica com origem nuclear. É que para por um comboio circular a 574km/h, ou mesmo a 300, é precisa uma potência que já faria inveja a alguns aviões. Os aviões mais eficazes gastam cerca de 4l/100km por passageiro. Como seria se a electricidade que os comboios utilizam fosse produzida a partir do petróleo ou derivados? A partir de que velocidade é que o comboio deixa de ser competitivo com o avião? A manutenção de uma linha de alta velocidade não é propriamente barata e o cuidado a ter sobe exponencialmente com o aumento da velocidade de circulação...

Diogo disse...

Ota - O «debate sério» na SIC Notícias

Dada a controvérsia que tem surgido em todos os quadrantes sobre a construção do aeroporto da Ota, tão acarinhado pelo Governo, a SIC Notícias (20/3/2007) decidiu convocar quatro técnicos (não políticos) de alto gabarito para um debate aceso sobre o assunto. Dois a favor e dois contra. No calor da disputa ouviram-se frases tempestuosas como estas:

Paula Alves (a favor) : Do meu ponto de vista o aeroporto da Ota é absolutamente irreversível.

António Pessoa (contra) : Se não existir, e creio que não existe alternativa, a Ota é a melhor solução. Porque é a única.

Artur Rabeira (a favor) : [Sobre se faria sentido fazer estudos sobre outras localidades?] - Não há tempo! Não dá!

Nunes da Silva (contra) : Parece que estamos todos de acordo!

Vídeo - 5:30m

Diogo disse...

Também defendo a continuação da Portela e as Low Cost no Montijo. Contudo defendo a Velocidade Elevada e não a Alta Velocidade tanto para o Porto como para Madrid (e para Faro). A Alta Velocidade na Penínsua Ibérica é errada sob qualquer ponto de vista (custos, mercadorias, etc.).

António Maria disse...

As observações que mitigam a espécie de entusiasmo do meu post s/ a solução rodoviária são muito oportunas e levantam questões pertinentes. Seria bom obtermos mais achegas sérias sobre o assunto.
No entanto, eu reafirmaria que a prioridade das prioridades em matéria de transportes no nosso país são três: avançar imediatamente com o Transiberiano Badajoz-Lisboa (Pinhal Novo, para já), pôr o Alfa Pendular a andar na sua máxima velocidade e substituir progressivamente a actual rede ferroviária por uma rede em bitola europeia.
Como estas medidas irão atrasar a suposta saturação da Portela (nunca vi aviões em verdadeira linha de espera sobrevoando o estuário do Tejo), e porque a TAP não resistirá mais de dois anos à competição das Low Cost, se estas não deixarem (pelo menos parcialmente) a Portela, avançar imediatamente para a operacionalização do aeródromo do Montijo.