sexta-feira, outubro 05, 2007

Portugal 11

Rei D. Carlos I de Portugal, assassinado pela Carbonária em 1908.

5 de Outubro

"I sincerely believe that banking institutions are more dangerous to our liberties than standing armies. Already they have raised up a money aristocracy that has set the government at defiance. The issuing power should be taken from the banks and restored to the people to whom it properly belongs". -- Thomas Jefferson

As monarquias europeias morreram do agravamento depressivo de uma fragilidade genética chamada endogamia (os ingleses chamam-lhe imbreeding), e dos efeitos sistémicos, deletérios para as monarquias feudais, da acumulação burguesa do capital.

Esta acumulação foi sobretudo consequência do incremento da circulação de pessoas e bens no continente europeu, e entre este continente e o resto do mundo, do reaparecimento em força dos cambistas e ourives-banqueiros, do desenvolvimento rápido das cidades europeias, dos primeiros despertares anti-coloniais, e finalmente do encadeamento das revoluções anti-feudais, contra monarquias corruptas, falidas e autoritárias. Esta revolução em cadeia foi ideologicamente escorada em nome da "liberdade", da "igualdade" e da "fraternidade". Durou até que a implementação dos novos regimes "democráticos" (na realidade regimes capitalistas demo-populistas) permitisse a efectiva consolidação de uma plutocracia verdadeiramente planetária.

Neste momento, a depressão económica mundial que se adivinha no horizonte, a qual poderá ou não ser catastroficamente agravada pelo desencadeamento de uma III Guerra Mundial (varrendo do mapa mais de 50 milhões de pessoas e algumas centenas de cidades), significa basicamente que começámos a assistir à transferência tectónica do centro de gravidade da acumulação, emissão e distribuição do capital mundial, da placa euro-atlântica (comandada pela aliança anglo-americana) para a placa asiática. Bush, Blair-Brown, Cheney e Sarkozi defendem que é preciso interromper este desfavorável curso da história à força de bombas nucleares e fazendo um reset ao dólar; a Alemanha, e porventura a Rússia, acreditam nas virtualidades de um multi-lateralismo euro-asiático e opõem-se, por isso, a uma escalada bélica que, no caso de a Síria e o Irão serem atacados (em Novembro?) --, dificilmente evitará uma tragédia termo-nuclear de proporções dantescas. E no entanto, é precisamente isto que uma parte dos usurários deste mundo quer!

Vem esta pequena reflexão a propósito da comemoração do dia da implantação da República em Portugal. Por alguma razão tal data nunca foi comemorada com grande entusiasmo pelos portugueses, à excepção das elites maçónicas que sucederam à Carbonária que planeou e assassinou o então rei português, D. Carlos I, um tipo simpático, culto, agricultor, pintor, fotógrafo, amante das novas tecnologias (instalou a luz eléctrica no Palácio das Necessidades e fez planos para a electrificação das ruas de Lisboa), ornitólogo e apaixonado pela oceanografia. Criou o Aquário Vasco da Gama e não consta que tenha alguma vez violentado o "seu" povo. O seu maior erro foi ter confiado o país ao Rotativismo enquanto procurava remediar diplomaticamente o desastre do Ultimato Inglês. A monarquia portuguesa estava condenada, e se tivesse sobrevivido seria como as actuais caricaturas monárquicas que ainda sobrevivem na Europa: cara, inútil e pirosa. No entanto, o modo como foi removida das nossas preocupações continua a ser uma nódoa negra cultural da qual, no fundo, existe uma espécie de remorso nacional mal disfarçado.

Sobretudo agora que os políticos, devidamente aconchegados pela propaganda mediática, passam a vida a falar de terrorismo, não se percebe como o atentado que vitimou o rei português e o seu filho primogénito possa ser ainda hoje motivo de orgulho de alguns, ao ponto de terem enterrado um escritor pretensioso no Panteão Nacional, quando se conhece perfeitamente a conivência fanfarrona de Aquilino Ribeiro no indecoroso e traiçoeiro acto.

Elogiar Aquilino Ribeiro e a República, ao mesmo tempo que se assinam acordos anti-terroristas com a Espanha, sem um acto de contrição relativamente ao regicídio, continua a comprovar quão boçais são e perdidas estão as nossas elites políticas e culturais. Não lhes auguro nada de bom, e isso é mau para todos nós.

OAM 257, 05-10-2007, 20:00

Post-scriptum

08-10-2007. Lei das Sesmarias. Nuno Cardoso da Silva é um radical de esquerda e publica um blog oportuno sobre o país e o mundo que temos, vistos pelo óculo imprevisto de um monárquico revolucionário!
Em 5 de Outubro de 1910 uma pseudo-revolução derrotou uma pseudo-monarquia para implantar uma pseudo-democracia sob forma pseudo-republicana. O que não ficou na mesma ficou pior, com talvez a excepção da área da educação. Noventa e sete anos depois não há nada para comemorar, mas talvez valha a pena reflectir sobre o tema da Revolução.
OAM 257, 08-10-2007, 18:28

5 comentários:

Diogo disse...

Excelente post meu caro!

Quanto às «nossas» elites políticas continuam a trabalhar diligentemente para os seus donos. Afinal, são estes que as sustentam.

Diogo disse...

No site do Banco de Portugal:

http://www.bportugal.pt/

Breve História

O Banco de Portugal foi criado por decreto régio em 19 de Novembro de 1846, tendo a função de banco comercial e de banco emissor. Surgiu da fusão do Banco de Lisboa e da Companhia Confiança Nacional, uma sociedade de investimento especializada no financiamento da dívida pública.

Até 1887, o Banco de Portugal partilhou com outras instituições o direito de emissão de notas. Com a publicação do Decreto de 9 de Julho de 1891, o Banco de Portugal passou efectivamente a deter o exclusivo da emissão para o Continente, Açores e Madeira.

Foi fundado com o estatuto de sociedade anónima e, até à sua nacionalização, em 1974, era maioritariamente privado.

Jose Silva disse...

António,

Sei que anda meio mundo a antecipar a WWIII, porém acho um exagero os 50 milhões. O que vai acontecer é uma falseflag nos EUA ou «Midwest» (middle east em ingles socrático) um ataque apenas aereo para debilitar o Irão, para surgir o Baluxistão e impedir a Índia de se «unir» ao Irão. Isto já vai render o suficiente ao status quo em contratos militares e viabilização de energias alternativas com o preço de petroleo mais caro.

Já leu no Globalresearch.ca o quase golpe de estado da USAF relativamente ao transporte de armas nucleares ? Existe muito realismo dentro dos EUA e não chegaremos felizmente a 1% desses milhões, mesmo contando com iranianos.

mch disse...

O tabu de defesa de Hizbolino Riobeiro mostra estado de desculturação dos nossos pensantes.Pura e simplemente nunca leram BAkunine, não sabem quem É Kropotkine e conhecem Proudhoin da wikipedia. Não admitem que um jovem desembaraçado de 20 vinte anos e xseminarista e com necessoadade de afirmar o seu valor fabricasse bombas e desse tiros na policia como Netchaev e mais uns m ilhares de jovens europeus sem outro ideal.
Obigado cerveira Pinto por ter lembrado verdades , doa a quem doer"

Anónimo disse...

O Site Evocativo do Centenário do Regicídio está já disponível ao Público, em:

http://www.regicidio.org

Espaço útil, explica um bom número de temas.

Cumprimentos