sábado, março 28, 2009

G20-London 2

Lula é menos racista do que parece
O presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva disse que a crise económica foi causada por "brancos de olhos azuis" e que é errado pensar que negros pobres ou povos indígenas devam pagar pelos seus erros. — BBC.



Lula da Silva, presidente do emergente Brasil, arrasa a diligência oportunista de Gordon Brown para levar a Cimeira de Londres do G20 a deixar tudo na mesma — isto é, a facturar às classes médias e sobretudo a milhares de milhões de pobres em todo o planeta 64 anos de capitalismo de casino (desde Bretton Woods), à conta do qual a maior nação do mundo —os EUA—, mas também o Reino Unido e uma boa fatia da Europa, se endividaram alegremente à conta do saque colonial e neo-colonial dos países com recursos energéticos e matérias primas essenciais, como se a sorte da humanidade fosse um Jogo do Monópolio onde os bancos centrais se entretêm a imprimir papel de cada vez que precisam de mais dinheiro, os vampiros da especulação se divertem a destruir empresas e a fabricar quimeras bolsistas, e os governos e nomenclaturas partidárias se deixam avidamente corromper até à medula.

O ponto a que chegámos é este: há uma inimaginável dívida acumulada no buraco negro dos mercados de derivados que é impossível pagar! Mas como o que caracteriza uma dívida é que ela sempre se paga —ou por quem deve, ou por quem emprestou— estamos metidos num sarilho de proporções trágicas. Centenas de milhar de empresas, centenas de bancos e fundos de pensões, milhões de famílias e dezenas de estados irão à falência na sequência do grande crash bolsista que ainda não ocorreu mas irá ocorrer, este ano ou até 2012. A cimeira de Londres é uma tentativa desesperada, sobretudo das elites americanas e inglesas (os tais brancos de olhos azuis), de evitar ir para onde a sua irresponsável e criminosa pirataria os levou: à falência! Querem como sempre continuar a beber os mais caros Champagne (Dom Perignon, Diadema Diamante e Heidsieck ), a snifar coca Colombiana em notas de 500 euros, a degustar ovas de Beluga em salvas de prata, a conduzir Bugattis forrados a couro de vitela, e a dispor de carne adolescente em bacanais exclusivos. Ou seja, querem, como sempre, que sejam os outros, nomeadamente os pobres, pretos, asiáticos e índios a sofrer e pagar!

Eu sou branco, mas como boa parte dos portugueses tenho sangue de várias cores. Do Brasil veio um bisavô alemão, loiro e de olhos muito azuis, e uma bisavó princesa índia — de Belém do Pará. De Portugal veio seguramente muito sangue celta, judeu e algum negro dos idos tempos da escravatura, quando muito escravo se miscigenou com a já então antiga miscelânea galaico-lusitana. Lula não fez uma afirmação racista. Falou sim através de uma poderosa metáfora, em defesa da esmagadora maioria da população mundial, que não é de facto responsável —mas está a pagar as favas— pela luxúria e pirataria assassina que nos conduziu a todos para esta dramática e perigosa situação.

Ou metemos na ordem o sistema internacional e regressamos ao padrão confiável do ouro e da prata, abandonando definitivamente a especulação cambial (FOREX) e a falsificação monetária legalizada (fiat money, money out of thin air) que vigoram desde 1914 e são literalmente responsáveis pela destruição em curso do planeta e da civilização, ou caminharemos muito rapidamente para o colapso. É preciso explicar isto às pessoas. E de caminho, é preciso meter isto nas cabeças obtusas dos economistas e das nomenclaturas político-partidárias deste mundo.

A estes últimos recomendo a leitura urgente de um livro: Gold Wars, de Fernidand Lips.

OAM 564 28-03-2009 11:34

5 comentários:

Cfe disse...

Caro Antonio C. Pinto,

Desculpe, mas pondo de parte o desenvolvimento do tema de economia, onde concordo em parte com o senhor, sou forçado a dizer que não percebe nada do Lula.

Tenho forçosamente admitir a possibilidade de se tratar de um lapso linguae, mas não me parece que seja o caso. O presidente brasileiro tem um constante focar na questão de igualdade racial e o episódio, para mim, foi mais uma demonstração de sua maneira de pensar.

Respeitosamente,

António Maria disse...

Não acha estranho o facto de não haver um único negro, índio ou mestiço à frente de qualquer estado brasileiro? São 27 governadores, todos brancos! Se quer a minha opinião, é simples: o Brazil não superou ainda o racismo que nós, Portugueses, aí deixámos. E em Portugal estamos na mesma, apesar de toda a retórica multicultural. Há quem diga que o actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, não chegou ainda a primeiro ministro por causa, precisamente, da sua cor levemente achocolatada. Espero que o exemplo dos Estados Unidos frutifique, e o racismo entranhado em ambos os países um dia desapareça de facto. Para bem da decência, do humanismo, da democracia, da liberdade e do progresso civilizacional. Não conheço Lula da Silva, mas creio que tendes um homem bravo à frente do vosso grande e adorável país.

Cfe disse...

Está a puxar a brasa a sua sardinha e tentando distanciar-se do post.

Mas ok. Em primeiro poderá considerar o Lula um "branco" na verdadeira assepção do termo? Olhe bem na lista que aponta e veja se não há ali ao menos um representante dos cablocos da amazônia e vários outros com as características físicas nordestinas, o que indica miscigenação. Há até um de sobrenome alemão mas já bem moreninho com ao formato da cabeça que indica clara tb miscigenção.

Na atual lista de governadores não há nenhum negro mas já houve, inclusive num dos estados mais europeus do Brasil: o Rio Grande do Sul.

Esse apontar do distanciamento entre o povo e classe dirigente não é apenas uma característica do Brasil, mas de vários povos. Isso chama-se, como sabe, oligarquia. Nesse sistema nem preciso dizer que a introdução de novo membro dá-se por casamento ou compadrio, e ainda que o protagonismo de nova geração só acontece com a morte ou afastamento dos mais velhos. Em Portugal há a família Soares, os Candal, etc ( até poderia dizer o caso de oligarquias transnacionais como o caso de ..... entre Portugal e Angola mas iriam me acusar de racismo e é melhor estar quieto).

Na lista fornecida há nomes de descendentes de italianos de 1ª geração, como é o caso do provável futuro presidente da República José Serra. Eu só queria que explicassem como brasileiros de 1ª geração, filhos de gente pobre e muitas vezes analfabeta, conseguem subir sem nenhum tipo de favorecimento e "políticas afirmativas" por parte do estado. e se isso resolve alguma coisa ou cria outros tipos de problemas.

Mas já que leva a questão para esse lado: pense se seria desejável instituir uma percentagem de vagas cativas ao acesso a universidade portuguesa para a população cigana, "tão discriminada". Estou aplicando, in extremis, seu pensamento a terras lusas para que veja que a complexidade da questão não se resume a racismo.

Respeitosamente

Cfe disse...

Peço desculpe por alguns erros, escrevo durante o trabalho...

António Maria disse...

Caro Cfe,

Tem razão quando afirma que o assunto é complexo e que não vai lá com juízos apressados e potencialmente demagógicos. Eu sei que Lula é mestiço, e admito que as coisas estejam a mudar lentamente no Brasil, como em Portugal! Um matemático disse-me um dia que a probabilidade de haver algum português sem sangue negro ou judeu a correr-lhe nas veias era muito baixa. E que portanto a cor da pela não passa frequentemente de uma ilusão cultural. Como escrevi, tenho, com muito orgulho, sangue da Amazónia a correr-me nas veias. E também tenho sangue alemão e celtibero no meu cocktail filogenético. A probabilidade de nas gerações que me antecederam ter havido parentes com sangue negro é de facto muito alta. Como é certo que a descendência Cerveira Pinto contará desta geração em diante com mais genes provenientes do Brasil (claramente mestiços) e da África negra. Se é assim ao fim de 30 anos de descolonização africana (ou mesmo de 200 anos de descolonização americana), imagine o que não foi ao longo de 500 anos de colonização portuguesa pelos quatro cantos do planeta, sabendo-se que essa colonização foi, por necessidade e por decreto (Afonso Albuquerque), uma verdadeira biocolonização!

O meu ponto é só este: não se trata de proteger as minorias étnicas com programas paternalistas, como ocorre nos EUA. Mas sim de educar as comunidades na tolerância cultural, e as leis no sentido de uma efectiva justiça — sem distinções de raça, poder aquisitivo ou religião. Por último, o mais importante é garantir mesmo a igualdade de oportunidades a todos os cidadãos, e ajudar os mais fracos a superar os seus handicaps. Se pensarmos nas relações entre os grupos dominantes e as classes e grupos subordinados num dado país, como pensamos as relações entre estados dominantes e estados subordinados, ser-nos-à mais fácil caminhar para uma visão equilibradas dos problemas e das soluções.

Saudações cordiais :-)