segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Yanis Varoufakis, a esperança do momento

Gustave Moreau. Europa e o touro (c. 1869).

A Grécia é o centro da Europa!


Vivemos tempos simultaneamente épicos e medonhos. Há uma crise mundial, e certamente europeia, das dívidas—das dívidas soberanas, mas também das dívidas empresariais e familiares.

Estamos todos endividados até aos cabelos, mesmo quando não pecebemos que uma parte deste endividamento é invisível, e não parece, assim, ser coisa que nos diga respeito.

O grande buraco da dívida não seria um grande problema se as perspetivas de crescimento mundial, no modelo que conhecemos de há uns 200 ans para cá —muita energia e barata—, continuassem a ser expectáveis. Mas o problema é que o futuro reserva-nos uma era de menos energia, e de energia mais cara. Ora é este cenário —até hoje rejeitado pelos cegos da macro-economia— que tudo muda e exige uma nova abordagem dos problemas.

A crise grega, que tomou uma nova e radical direção depois da chegada do Syriza ao poder, veio confrontar a Europa inteira com as suas responsabilidades. O problema não é da Grécia, nem de Espanha, ou de Portugal, mas de todo o continente, mais precisamente, é um problema global, cuja negação apenas tornará os desenlaces locais, regionais e globais, muito mais ameaçadores e potencialmente catastróficos.

Nada melhor para começarmos a mudar a nossa percepção dos problemas de fundo, do que esta viragem radical na crise grega. E nada melhor do que ir escutando e lendo o que Yanis Varoufakis pensa sobre o seu país e sobre a Europa.

Yanis Varoufakis: No Time for Games in Europe
THE NEW YORK TIMES

By YANIS VAROUFAKISFEB. 16, 2015

ATHENS — I am writing this piece on the margins of a crucial negotiation with my country’s creditors — a negotiation the result of which may mark a generation, and even prove a turning point for Europe’s unfolding experiment with monetary union.

Game theorists analyze negotiations as if they were split-a-pie games involving selfish players. Because I spent many years during my previous life as an academic researching game theory, some commentators rushed to presume that as Greece’s new finance minister I was busily devising bluffs, stratagems and outside options, struggling to improve upon a weak hand.

Nothing could be further from the truth.

[...]

As finance minister of a small, fiscally stressed nation lacking its own central bank and seen by many of our partners as a problem debtor, I am convinced that we have one option only: to shun any temptation to treat this pivotal moment as an experiment in strategizing and, instead, to present honestly the facts concerning Greece’s social economy, table our proposals for regrowing Greece, explain why these are in Europe’s interest, and reveal the red lines beyond which logic and duty prevent us from going.

[...]

One may think that this retreat from game theory is motivated by some radical-left agenda. Not so. The major influence here is Immanuel Kant, the German philosopher who taught us that the rational and the free escape the empire of expediency by doing what is right.

4 comentários:

pvnam disse...

Grécia: um 'meeting point' de referência!


Por onde é que andam as ideias que permitam um aumento da produtividade... e as ideias que permitam uma melhor gestão/rentabilização dos recursos disponíveis...
---> Bom, uma das primeiras medidas do novo governo grego foi a (re) contratação das 595 empregadas de limpeza do ministério das finanças!?!?!?!?!?
{http://31daarmada.blogs.sapo.pt/}
.
.
.
P.S.
As pessoas interrogam-se:
- como é que uma 'chuva' de empregadas de limpeza... contribui para o aumento da produtividade e para uma economia mais sustentável?...
.
P.S.2.
Por muitos mestres-em-economia que existam por aí... quem paga não deixar de ter uma palavra a dizer!!!
Ora, de facto, foram mestres anti-austeridade [com o silêncio cúmplice de (muitos outros) mestres/elite-em-economia] que enfiaram ao contribuinte autoestradas 'olha lá vem um', estádios de futebol vazios, nacionalização do BPN, etc, etc, etc...
{'http://fimcidadaniainfantil.blogspot.com/'}

Humberto disse...

O título que deu ao seu texto só pode ser uma piada de mau gosto... ou então eu não percebi o seu sentido de humor.

Yanis Varoufakis, a esperança do momento?! Para um adulto aparentemente inteligente e culto acreditar nisso é tão trágico como ainda acreditar que o Pai Natal existe, que os contos de fadas são histórias reais ou que a caça aos gambozinos é outra coisa que não uma brincadeira com o intuito de zombar com alguém armado em esperto!

Como é que alguém que pertence a uma pandilha que está prestes a semear o caos no seu próprio país pode ser a esperança de seja o que for?


Talvez fosse melhor recordar uns pormenorzinhos acerca das eleições, do Syriza e de outras coisas que tais :

- o partido do ex-primeiro ministro lá do sítio ainda conseguiu 27,81%, ou seja, um pouco mais de um quarto DOS QUE FORAM VOTAR;;

- o Syriza obteve 36,34% dos votos, ou seja, um pouco mais de um terço DOS QUE FORAM VOTAR;

- com estes 36,34% obteve 149 (já incluídos os 50 assentos de bónus por ter sido o partido mais votado) das 300 cadeiras do parlamento, ou seja, PRATICAMENTE METADE das cadeiras com pouco mais de um terço dos votos;
(Simplesmente EXTRAORDINÁRIO)

- a abstenção foi de 35,13%,
em branco 0,55%
e nulos 1,81%
o que somado dá 37,49%,

ou seja,
100% (total dos possíveis votantes) - 37,49% (que não deram votos a ninguém) = 62,51% votantes que realmente deram o seu voto;


Considerando que os 36,34% obtidos pelo Syriza se referem ao universo de 62,51% de cidadãos que realmente deram o seu voto temos que o Syriza obteve o voto de cerca de 22,716% do universo total de votantes

Ter o apoio, ou melhor, o voto de 22,716% do total de eleitores não é nada de extraordinário principalmente quando os gregos, todos os gregos, começarem a ver no que se meteram e começarem a expressar a sua indignação.

O descarado jogo do Syriza em que desrespeita os restantes líderes europeus E RESTANTES CIDADÃOS EUROPEUS ao mesmo tempo que acena com uma mão com o apoio de Putin e com a outra mão pretende rasgar os compromissos assumidos anteriormente pelo seu país nunca poderá dar bom resultado e se os gregos virem bem a miséria em que a Rússia se meteu com os governos autoritários de Putin... a coisa, infelizmente, só pode vir a aquecer em tumultos pelas ruas das Grécia.

vazelios disse...

A Europa (e o mundo) precisam de uma mudança radical mas não é esta que pretende o Syriza...

O António neste caso acerta no diagnóstico mas aposta no cavalo errado.

Mais liberdade e menos estado é o que precisamos e não de uns meninos irresponsáveis que nos querem vender sonhos irrealistas e irresponsáveis.

Vão cair que nem tordos.

António Maria disse...

O sentido da metáfora sobre o Syriza limita-se a precisar que este evento —a vitória eleitoral do Syriza num país desfeito— acabou por precipitar a crise da Eurolândia que os lémures do Eurogrupo têm andado a esconder há anos da opinião pública. A Caixa de Pandora está aberta!