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sexta-feira, abril 04, 2008

Emigrantes

O Cantinho de Portugal 


O filho de um amigo meu fez o curso de gestão do ISCTE. Fê-lo com brilho e depois de licenciar-se foi parar a um banco sediado no nosso país, onde trabalhou três anos. O dito banco é uma instituição antiga, tecnologicamente retardada, e pelos vistos em apuros desde que a crise do Subprime descambou, como há muito se sabia que iria descambar, na maior crise sistémica do Capitalismo desde o colapso de 1929. Entretanto o jovem economista que ambiciona trabalhar na área de consultoria financeira decidiu abandonar o emprego sem grandes horizontes que aceitara como primeira oportunidade pós-curso e foi até Madrid para estudar e concluir um master naquela que é uma das três business schools mais prestigiadas do mundo. O master é caríssimo. Mas tem uma vantagem para aqueles que conseguem chegar ao fim: os bons empregos começam a aparecer! Menos de seis meses depois de finalizar a pós-graduação, o Mário recebe em Lisboa o convite de uma prestigiada casa financeira da City de Londres para uma entrevista. A easyJet levou-o por bom preço à capital inglesa e a reunião teve lugar no sítio, hora e minuto previamente acordados. Gostaram do rapaz de 29 anos e ele lá foi de armas e bagagens para a capital do reino de sua majestade britânica. Façam as contas e pensem no dinheiro que Portugal deitou à rua para fornecer ao Reino Unido um jovem quadro talentoso e altamente qualificado como o Mário. Ou se preferirem pensem, como pensam os abutres que actualmente limpam a carne e os ossos deste país, no dinheirinho que o jovem português previsivelmente enviará para Portugal, ajudando a aliviar a nossa balança de transacções correntes. A história é recente e ilustra bem o artigo publicado no semanário Sol da semana passada.


Panorama desolador

O artigo do Sol que me chegou ao computador através do boletim A Verdade, desenvolve um dos sintomas mais evidentes da nossa decadência, que a classe política tem vindo a mascarar há anos sob o pretexto de querer parecer moderna e executiva. A emigração portuguesa já ultrapassa a da década de 60 e vai piorar! Para além da Europa, Angola e a Austrália são dois dos novos refúgios para um povo sem lei, abandonado à ignorância, à desorganização, ao desemprego, ao esbulho fiscal dos haveres próprios (por vezes penosamente acumulados ao longo de gerações), à exploração e à violência subterrânea por uma elite corrupta e sem vergonha. A SEDES tem razão! Portugal pode muito bem estar à beira de uma crise social sem precedentes. Basta esperar pelas ondas de choque do colapso da América, do fim do milagre espanhol (os sindicatos do país vizinho já começaram a denunciar o dumping social e laboral promovido na última cimeira ibérica a propósito da construção das linhas de Alta Velocidade), e do descalabro social para que a França caminha vertiginosamente (o próximo Outono será escaldante). Os números são estes:

1) Por cada 15 imigrantes (africanos, asiáticos, brasileiros, ucranianos, etc.) que entram no nosso país, saem 100 portugueses para o estrangeiro.

2) Desde 2003 que o INE não produz estatísticas sobre os movimentos migratórios.

3) Portugal é o 2º país do mundo com maior percentagem de população emigrada, com 13,75% da sua população no estrangeiro.

4) Estima-se em 500 000 o número de portugueses emigrantes no Reino Unido.

5) Os emigrantes estão a enviar para os bancos portugueses 7,3 milhões de euros/dia, ou seja, 2600 milhões de euros/ano. Mais do que uma linha TGV Lisboa-Madrid, ou Porto-Lisboa, e pouco menos do que um novo aeroporto intercontinental, por ano!

Desde 2003 que o Instituto Nacional de Estatística (INE) não tem dados oficiais sobre a emigração portuguesa! O objectivo é claro e já foi denunciado há mais de um ano nas páginas deste blog: os burocratas (funcionários públicos) que constituem a maioria da nossa classe político-partidária estão bem, recomendam-se e preferem continuar a chupar o suor do país, de óculos escuros -- para não verem nem deixar ver nada de realmente importante.


Pânico e tráfico de influências ao serviço duma burguesia betoneira desmiolada


Enquanto este fenómeno de enorme gravidade ocorre perante a passividade bovina dos nossos deputados e as gargalhadas gastronómicas dos nossos políticos bem instalados na vida ou a caminho disso, a crise económica mundial e o colapso do sector financeiro internacional continuarão a fazer enormes estragos sociais e políticos por esse mundo fora, incluindo, claro está, o cantinho lusitano. Os OCS estão a esconder tudo isto dos contribuintes e dos incautos subscritores de PPRs, acções em mercados de futuros e filatelias e donabranquices semelhantes, triturando a pertinência informativa com soundbytes e sequências estroboscópicas de flashes. No momento em que mais falta fazem políticos a sério, temos um governo, a que estupidamente demos uma maioria absoluta (nunca mais!), às ordens da banca e das construtoras imobiliárias. O PS, coitado, foi capturado por uma pandilha de falsos socialistas, capitaneada por um insidioso ex-adorador de Mao e por um brilhante ex-militante da Fraternidade Operária! O protagonista que agora leva o pau desta tríade cozinhada em Macau não passa, como já todos percebemos, dum papagaio sedutor e dum maratonista de pacotilha, incapaz de alinhar dois pensamentos seguidos, mas exímio na recitação e no teleponto! A crise, porém, que despediu o anterior Roberto da tríade (pobre Guterres!), irá atingir fatalmente o engenheiro-arquitecto suburbano que actualmente promove os fogos de artifício da Ota e do Barreiro. É só fumaça!


A tríade de Macau

Eu posso estar completamente equivocado, mas o organograma da tríade de Macau não deixa de me apoquentar. A hipótese em estudo é esta: a tríade de Macau deglutiu o PS e galopa sem freio pelo País fora! Montemos pacientemente o puzzle.....

José Sócrates - espécie de pinóquio da tríade

(os que passaram por Macau)

  • Stanley Ho -- o amigo chinês está a arder na Alta de Lisboa e não gosta de perder, nem a feijões!
  • António Vitorino -- presidente da assembleia geral da Brisa e estratega teórico da tríade.
  • Jorge Coelho -- obreiro do actual aparelho PS, Conselheiro de Estado, recém anunciado CEO da Mota-Engil e estratega operacional da tríade.
  • Alberto Costa -- actual ministro da justiça (não ouviremos mais falar de Fátima Felgueiras, nem da Casa Pia...) e operacional da tríade.
  • Francisco Murteira Nabo -- ex-CEO da Portugal Telecom e da GALP, actual bastonário da Ordem dos Economistas e Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, pode ser considerado um fiel jardineiro da tríade.
  • Carlos Santos Ferreira - presidente do BCP e operacional da tríade.
  • Vitalino Canas -- porta-voz canino da tríade e do governo (entidade subsidiária da tríade).
  • Maria Belém Roseira -- além de ser uma frequentadora de fim-de-ano do Casino do Estoril (Stanley Ho) e uma das simpáticas opinocratas da tríade, desconheço outras funções operacionais.

(os que não passaram por Macau, pelo menos na mesma altura)

  • Armando Vara -- administrador do BCP, alto funcionário da Caixa Geral de Depósitos e operacional da tríade.
  • José Penedos -- presidente da REN e precursor do "abandona a escada que te ajudou a subir".
  • Manuel Pinho -- delegado do Grupo BES no governo socratintas (desconhecem-se por enquanto se existem ou não alianças entre a tríade de Macau e os gabirus do BES. Mas vamos sabê-lo assim que os meandros da operação de aumento de capital do BCP aflorem à superfície.)
  • Edite Estrela -- baby-siter da tríade.
  • António Nunes -- inspector-geral da ASAE, fumador de charutos oferecidos e comensal dos casinos de Stanley Ho.

Uma interpretação possível dos recentes movimentos salva-vidas dos protagonistas desta tríade é a presciência que terão do fim do actual estado de coisas na arena partidária. Eles pressentem que, tanta exigência de transparência, tanta inquietação social, tanta irritação intelectual, e a universal falta de liquidez que acometeu os cofres bancários na sequência do maremoto financeiro em curso, não auguram nada de bom. E por conseguinte, o melhor é mesmo abandonaram o barco que os trouxe até aqui, mas onde não querem naufragar! Resta-lhes todavia um problema: não há almoços grátis para ninguém! E por conseguinte, onde estão ou querem estar, terão que saldar as dívidas pendentes como puderem. E ainda saber se quem ficou fora do Titanic e tirita na Jangada de Medusa, e são a maioria, não lhes cortará o passo do caminho escandaloso que elegeram.


Post scripta
(11-04-2008 20:21) -- Francisco Louçã levantou hoje à tarde no parlamento a questão do activismo político de Jorge Coelho nas vésperas da sua migração (pessoal ou estratégica, sabê-lo-emos no futuro) para a Mota-Engil. Ainda bem que o fez. Por outro lado, Jorge Coelho anunciou aos noticiários televisivos das 20:00 a sua saída do Conselho de Estado. Não há dúvida que a blogosfera está na ordem do dia!
(11-04-2008 00:01) -- O caso Jorge Coelho, anunciado CEO da Mota-Engil, continua a fazer ondas no Portugal dos Pequeninos. E que ondas! A defesa do indefensável tem-se resumido a um único argumento: o homem teria saído da política, coitado, há oito anos! Há oito anos?!! Mas não foi ele quem colocou o Socratintas onde agora está? Mas não foi ele (ver vídeo) quem organizou há semanas uma carneirada em prol do mesmo inenarrável Socratintas, no Porto, como se ainda estivesse no PREC?! Mas não é este homem um dos Conselheiros de Estado eleitos pelo PS?!!! Nenhum jornalista consegue reparar nisto?

Outro dos argumentos cínicos sobre a nova missão de Jorge Coelho refere-se à sua coragem. Isso mesmo, à sua coragem! Por fazer às claras o que outros fazem atrás dos biombos das salas clandestinas de consultoria, gabinetes de estudos e grandes escritórios de advogados. Esquecem-se, os cínicos, que não está em causa nesta saudada e súbita forma de exibicionismo político qualquer acto de coragem, mas a simples adaptação aos tempos que aí vêm, reflectindo os ventos que sopram da Comissão Europeia e da sua nova European Transparency Initiative. Sobre esta necessidade de regular o desenfreado lobbying que grassa nos prostíbulos de Bruxelas, convem ler, por oportuna, a carta dirigida pela Alliance for Lobbying Transparency and Ethics Regulation (ALTER-EU), no passado dia 13 de Fevereiro, ao nosso querido
José Manuel Durão Barroso, sob o título oportuno de Implementation of European Comission lobbying register. Registem-se os interesses, regulamente-se a cunha e criem-se observatórios electrónicos instantâneos sobre esta velha actividade quanto antes, e deixemos de fazer figuras tristes. Por uma questão de democracia!
OAM 342 04-04-2008, 21:39 (actualizações: 11-04-2008 00:01; 20:21)

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Portugal 63

Abriu a caça aos coelhos (e ao pobre Sócrates também!)

"A coragem de não nos repetirmos. A coragem de abrir novos caminhos." — Manuel Alegre.

Quando se soube ou intuiu o que iria ocorrer na Aula Magna, e sobretudo depois de se conhecer o discurso de Manuel Alegre (ler mais abaixo), foi uma correria nos jardins de São Bento e no Largo do Rato. Os ratões do PS, aflitos, perceberam num ápice que a temporada da caça aos coelhos e o sacrifício do papagaio Sócrates tinham começado. A água fétida da banheira "socialista" engrossará em breve o rio negro do Cavaquistão, expondo as intermináveis entranhas corrompidas do Bloco Central. A tríade de Macau, que tomou de assalto o PS, ruirá estrondosamente nos próximos meses. E claro, quem puder safar-se do naufrágio e dos salpicos, é melhor que o faça já!
"Dante reservou os lugares mais quentes do Inferno para aqueles que em tempo de crise moral se mantivessem neutros. Suponho que há neste momento muitos lugares reservados. Para os neutros e para os cúmplices. E sobretudo para os que andaram a apregoar as delícias da mão invisível e da auto-regulação do mercado e agora recorrem à intervenção do Estado para socializar as perdas e preservar os seus bancos, as suas fortunas e os seus privilégios." — Manuel Alegre.

Foi isto mesmo —safarem-se do Inferno— que Jorge Sampaio, Mário Soares e o cenáculo de Vera Jardim ensaiaram como puderam desde Sábado passado, arrastando as asas em direcção ao coração dos militantes genuinamente socialistas do PS e em geral à Esquerda difusa do País, como se não fossem, também eles, responsáveis pelo caldo bacteriano que conduziu ao beco perigoso em que nos encontramos. Sem qualquer cerimónia nos arremessos retóricos, Sócrates foi e será de agora em diante o bombo da festa. Coitado, vai precisar de horas intermináveis ao espelho para ensaiar as próximas aparições.

Se não houvesse Manuel Alegre, se o vendedor de cobertores da Beira não fosse o mais odiado dos líderes que o PS já teve, se os passarões do partido não tivessem dito e escrito nos últimos dias, que praticamente desconhecem a criatura congeminada por Luís Patrão (o gajo que levou a TAP à falência!), Edite Estrela (a visionária dos subúrbios Sintrenses!) e Jorge Coelho (o gajo que indicou a dedo todos os presidentes em funções das actuais empresas públicas e hoje cavalga o Estado português a partir do quartel-general da Mota-Engil!), a tríade de Macau ainda poderia salivar por mais quatro anos de traição ideológica, manipulação, propaganda e corrupção. Porém, como estão as coisas, o melhor mesmo é deixar cair o ventríloquo e abrir as portas do Partido Socialista a uma renovação imediata, sem remendos indesejáveis. Paulo Pedroso, por exemplo, não convenceu ainda a opinião pública da sua inocência, nem por outro lado, como anotou a perspicaz Catalina Pestana, houve qualquer notícia sobre a famosa conspiração denunciada por alguns dos suspeitos de actos de pedofilia.

Saldanha Sanches defendeu hoje (Lusa) a demissão do governador do Banco de Portugal. Eu acho há muito que Victor Constâncio e uma ou duas dúzias de piratas do PS, PSD e PP merecem muito mais, e não são rosas — senhores!

O Partido Socialista actual não passa de uma casca vazia. As criaturas que o povoam são, por um lado, a tríade de piratas que dele se apropriou, e que a partir dali criou um Estado invisível, tentacular, sombrio, corrupto e traidor, sob a aparência intocável da normalidade democrática; por outro, os pequenos e grandes agentes de uma teia de poder partidário, ao serviço da dita tríade; finalmente, os militantes convictos do ideário socialista, que assistem apavorados ao desfazer por dentro de um grande sonho. Não parece pois difícil fazer uma de duas coisas: correr com Sócrates e refundar o PS, ou então, criar um novo PS atraindo para o seu seio, sem grande esforço, a esmagadora maioria dos militantes genuínos e simpatizantes que actualmente desesperam por uma alternativa de Esquerda efectiva ao cenário de implosão sistémica que ameaça não apenas a economia, mas o próprio edifício democrático da 3ª República.

Esperar pelas próximas Legislativas é muito esperar, como esta noite clarificou Manuel Alegre.

Está em curso uma luta feroz, apesar de apenas descortinarmos as suas sombras macias, entre o Estado Legítimo e esse outro Estado Fático que destruirá a Democracia se esta não reagir a tempo. A sociedade civil está ansiosa, mas sobretudo mobilizada para acolher e potenciar uma mudança clara dos actuais paradigmas da acção política. Os modelos partidários conhecidos faliram. Ainda que sob a aparência do mesmo —isto é, a formação de um novo partido de esquerda — é vital avançar para uma alternativa ao actual PS, ou então, promover uma coligação muito forte de vontades que em menos de três meses conduza à remoção radical da teia de corrupção e oportunismo neoliberal que vem reduzindo a pó a credibilidade do sonho socialista.

Mas se os antigos senhores do Partido Socialista derem mostras de incapacidade na operacionalização da tão necessária remoção cirúrgica do senhor José Sócrates —e obviamente do séquito que o segue sem crítica—, a Manuel Alegre não restará outra alternativa, sendo coerente com tudo o que tem vindo a proclamar, que não passe pela criação de um novo partido de liberdade, cooperação e democracia.

Portugal precisa, como de pão para a boca, de uma refundação sistémica da sua democracia. E para isso é fundamental romper os múltiplos círculos viciosos e ruinosos do actual sistema político-partidário. O PS, o PPD-PSD, o CDS-PP, o BE e o PCP devem, para bem de todos, passar por uma metamorfose que arranque as cascas e peles velhas, bem como os órgãos doentes e mau colesterol, de uns corpos já demasiado gastos para responder aos desafios sem precedentes que temos pela frente. A gente nova, muita dela bem preparada em múltiplos domínios hoje fundamentais à gestão das complexidades que caracterizam as sociedades tecnológicas, merece entrar como seiva fresca por estes partidos dentro. Rebentando com os seus modelos congelados, retóricas ridículas, conhecimentos fora de prazo e falta de imaginação, os novos riachos de esperança devem romper com o actual estado das coisas, reformando, refundando ou, quando necessário, inventando novas dinâmicas sociais e políticas capazes de acolher e potenciar os paradigmas que inexoravelmente regerão a vida humana e a humanidade no tempo que se avizinha a passos largos.

As cartas foram lançadas de forma clara pelo dirigente histórico do PS. Não creio que possa ou queira recuar nas ambições e urgências definidas. E neste sentido, podemos considerar que a primeira reacção em cadeia da metamorfose do actual tecido partidário acaba de ter início e dificilmente será estancada. Não tardará a suceder algo semelhante ao PPD-PSD e ao CDS-PP.


Post scriptum
— António Costa ficou mais só na Câmara Municipal de Lisboa depois deste fim-de-semana alucinante. Arrisca-se a perder as próximas eleições autárquicas e arrisca-se a naufragar com Sócrates. A menos que se decida por um acto de coragem, e descole afirmativamente da actual liderança neoliberal, candidatando-se a líder do Partido Socialista.

Sócrates e PCP apostam na antecipação das eleições legislativas.
Há quem insista que o crescendo de asneiras e conflitos provocados alternadamente pela maioria Sócrates e pelo PCP confluem num mesmo objectivo táctico: levar Cavaco Silva a demitir Sócrates (o que parece improvável), ou levar o próprio Sócrates a demitir-se no mês de Janeiro. Esta teoria postula que tanto a nova direcção do PPD-PSD, como Manuel Alegre e o Bloco de Esquerda, precisariam de tempo para acabar eleitoralmente com a actual maioria governamental, e impedir o crescimento do PCP. Inversamente, a agonia do actual governo Sócrates, se não for interrompida, acabará por matar a máfia que actualmente controla o PS e boa parte do Estado português. Ou seja, existe uma situação desesperada a empurrar o papagaio Sócrates para a antecipação do calendário eleitoral. Tenho, sobre este cenário, uma dúvida: e se Cavaco Silva exigir um outro primeiro ministro PS para liderar o governo de gestão que conduzirá o país até às eleições? E se Cavaco promover um governo de iniciativa presidencial, como forma de garantir a isenção dos próximos actos eleitorais? Hummmm.... Eu acho mesmo que começou a época de caça ao coelho!


Excertos da comunicação de Manuel Alegre ao Fórum das Esquerdas


Intervenção de Manuel Alegre na Aula Magna. A coragem de mudar. Encerramento do Fórum "Democracia e Serviços Públicos". 14.12.2008.


Tempo de decisão e coragem.

A coragem de Roosevelt quando, após a Grande Depressão, enfrentou os muito ricos com um política de fiscalidade redistributiva, com o reforço do papel dos sindicatos, com a elevação do nível geral dos salários, com a intervenção do Estado em sectores-chave da economia e com o estabelecimento de direitos sociais, como o serviço público de saúde. Que nomes não nos chamariam em Portugal se hoje disséssemos o mesmo.

A coragem do Governo da Frente Popular presidida por Léon Blum, quando, em 1936, tomou um conjunto de medidas fundadoras dos modernos direitos sociais. Entre eles as férias pagas e as imagens para sempre inapagáveis dos operários que partiam a cantar, de bicicleta ou de comboio, para pela primeira vez verem o mar e gozarem as praias que até então eram só de alguns.

Coragem para mudar a sociedade e a vida. Coragem para estar ao lado dos desempregados e desfavorecidos e não para, à custa dos dinheiros públicos, salvar um banco privado que administra grandes fortunas. Coragem para mudar. A começar por nós mesmos. Coragem para se saber de que lado se está do ponto de vista das lutas sociais. Coragem para dialogar onde até agora se monologava. Coragem para convergir onde até agora se divergia.
...

Inaceitável...

  • É preciso questionar e eliminar esta situação. A submissão dos serviços públicos às regras da concorrência priva o Estado de intervir em áreas essenciais para a satisfação das necessidades básicas dos cidadãos e distorce a avaliação dos serviços prestados.
  • É inaceitável que os serviços públicos sejam tratados como se fossem uma qualquer mercadoria.
  • É inaceitável que se defenda a perda de milhares de empregos no sector público como condição de progresso.
  • É inaceitável que se instituam regras de avaliação na educação cujo objectivo é “emagrecer” o número de professores na escola pública.
  • É inaceitável o encerramento de serviços públicos no interior do país, que contribui, às vezes por forma dramática, para a desertificação do território.
  • É inaceitável a entrega sistemática ao privado de sectores económicos rentáveis, nomeadamente na área da energia.

Saída da crise...

A saída da actual crise financeira, económica e social exige que a esquerda apresente políticas alternativas ao modelo neo-liberal e especulativo ainda dominante. Políticas que se baseiem na solidariedade, na sustentabilidade e na cooperação.
Defendo por isso como prioridades:
  • o abandono da agenda da “flexisegurança” por uma agenda do “bom emprego”. Isto implica que não se pode abdicar de promover o pleno emprego, com reconhecimento dos direitos dos trabalhadores, incluindo a protecção na saúde e a conciliação do tempo de trabalho com a vida privada e familiar
  • o combate à especulação financeira e o reforço dos poderes reguladores e intreventores do Estado
  • o investimento público em sectores produtivos e geradores de bem estar social, desenvolvimento e emprego sustentável
  • uma distribuição mais equitativa do rendimento e da riqueza como condição do desenvolvimento, através da garantia de salários e pensões mínimas mais elevados e da taxação fiscal de salários e pensões milionárias
  • a promoção de políticas contra a pobreza, nas áreas da formação, emprego, habitação, acção social e direitos dos imigrantes
  • o reconhecimento do direito à água como um direito humano
  • a defesa e reforço da escola pública, do serviço nacional de saúde e da segurança social pública, como garantia de direitos fundamentais dos cidadãos
  • a definição de políticas públicas para as cidades, que incluam o transporte, a habitação, o património, a cultura, o ambiente, o espaço público e a participação cívica
  • a defesa da qualidade de vida e o combate à especulação imobiliária
  • o incentivo a práticas de protecção do ambiente e de eficiência energética

As Esquerdas

É preciso que parte da força eleitoral da esquerda não se vire contra si mesma. E muito menos contra as outras esquerdas. Porque essa tem sido a fragilidade das esquerdas europeias e da esquerda portuguesa. Há, por um lado, a esquerda do governo, que quando o é deixa de ser praticante. E a outra, que frequentemente se acantona no contra-poder.
...

Permitam-me também que vos diga, com toda a franqueza e fraternidade, que a reconfiguração da esquerda portuguesa não se fará sem o concurso de eleitores, simpatizantes e militantes do Partido Socialista.

Permitam-me que daqui saúde os meus camaradas socialistas desempregados ou em trabalho precário. Os meus camaradas socialistas que se sentem inseguros com a crise e ameaçados por novas falências. Os meus camaradas socialistas professores que com muitos outros lutam pela suspensão de uma avaliação absurda. Os meus camaradas socialistas funcionários públicos que, apesar de todos os bloqueios, continuam honradamente a servir o Estado. Os meus camaradas que em condições difíceis, nos hospitais civis, trabalham para defender e dignificar o serviço nacional de saúde, grande bandeira e grande conquista da democracia portuguesa. Permitam-me, enfim, que saúde os meus camaradas socialistas que com outros milhares de trabalhadores se manifestam, resistem e protestam contra o novo Código do Trabalho, que representa, como disse Jorge Leita, um retrocesso civlizacional.

É para eles que vai neste momento o meu pensamento e a minha fidelidade de militante socialista.

Um grande português chamado Antero de Quental falou do socialismo como protesto moral contra a injustiça e a exploração. Foi há muito. Mas continua a ser uma boa inspiração para todos nós. Os explorados, os oprimidos, os deserdados da vida foram e são a razão de ser da esquerda. É por eles que estamos aqui, não pelas grandes fortunas, desculpem-me a insistência, do Banco Privado Português.


NOTAS
  1. Dias Loureiro e Jorge Coelho accionistas de gestora de um fundo financiado por fraude ao IVA

    05.12.2008 - 20h43 - (Público) Manuel José Dias Loureiro e Jorge Coelho são accionistas da Valor Alternativo, uma sociedade anónima gestora que administra e representa o Fundo de Investimento Imobiliário Valor Alcântara, que foi constituído com imóveis adquiridos com o produto de reembolsos ilícitos de IVA, no montante de 4,5 milhões de euros. A Valor Alternativo e o Fundo Valor Alcântara têm a mesma sede social, em Miraflores, Algés, e os bens deste último já foram apreendidos à ordem de um inquérito em que a Polícia Judiciária e a administração fiscal investigam uma fraude fiscal superior a cem milhões de euros.

    Denúncia acusa Dias Loureiro de branqueamento

    12 Dezembro 2008 - 21h00 (Correio da Manhã) — Uma denúncia envolvendo Dias Loureiro, ex-ministro e actual conselheiro de Estado, foi enviada a Maria José Morgado, coordenadora do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa. Um grupo de empresários conta pormenores da venda da Plêiade e a compra de acções da Sociedade Lusa de Negócios, através de Dias Loureiro, apontando, ainda, factos que podem indiciar o crime de branqueamento de capitais.

    Diz a denúncia que, com os negócios feitos com José Roquette em Marrocos, Dias Loureiro ganhou 250 milhões de euros. Mas, quando aqueles se zangaram e para 'não declarar' os lucros recebidos, o património da Plêiade, dado por Roquette a Dias Loureiro, foi integrado na SLN. 'Esta transacção valeu-lhe o direito de indicar três administradores da sua confiança para o grupo SLN/BPN', lê-se ainda no documento, no qual se dá conta de que parte do dinheiro acabou por ser mais tarde transferido para a UBS – União de Bancos Suíços.

    A mesma exposição descreve, ainda, com pormenor como funcionava o esquema de branqueamento de dinheiro que normalmente envolvia o BPN e o mesmo banco suíço, com transferências simultâneas para que não fosse encontrado o rasto do dinheiro./ ...

OAM 495 17-12-2008 03:55 (última actualização: 19:43)

quarta-feira, abril 12, 2006

Petroleo 2

Bingo Project

Enche na GALP!


Recebi um mail propondo mais um boicote em cadeia, desta vez por parte dos consumidores de gasolina e de gasóleo, ao cartel que monopoliza, entre nós, a refinação e distribuição destes preciosos líquidos, sem os quais não sabemos como fazer mover os automóveis privados, os autocarros escolares, as ambulâncias, os tractores agrícolas e algumas centrais eléctricas. A ideia seria deixar de nos abastecermos nas estações da GALP, Repsol e BP durante um certo período de tempo, optando em alternativa pelos operadores minoritários que operam no nosso país: Agip, Cepsa, Elf e Esso, entre outras. Segundo a proposta, a tríade seria levada a baixar ou pelo menos a diminuir os aumentos hoje impostos ao mercado.
Tenho dúvidas sobre a eficácia desta proposta, quer no imediato, quer sobretudo no médio e longo prazo. O problema principal e intransponível de trocar a tríade GALP-BP-Repsol pelas bombas minoritárias é o de saber onde é que estas últimas estão! Não consigo imaginar largas centenas de milhar de carros à procura, nos próximos dias, das marcas que ficaram pelo caminho na corrida concentracionária que determinou a formação da tríade petrolífera que coube ao nosso cabaz de compras. A ideia revela a indignação dos proponentes, certamente comungada pela generalidade dos Portugueses. Mas é, lamento dizê-lo, impraticável. A mantermo-nos no registo da guerra global de classes, então seria preferível boicotar simultaneamente duas das grandes irmãs do cartel que manipula as nossas actuais preocupações energéticas e será seguramente responsável por maiores sofrimentos antes mesmo de esta década terminar. Se conseguíssemos por de pé uma cadeia de cidadania activa, como conseguimos (embora com ajudas...) durante a causa por Timor, em torno desta questão, que será cada vez mais sensível para todos, ela poderia assumir, não a forma de um boicote (coisa feia), mas antes a forma (bem mais simpática!) de uma preferência. Por exemplo, pela gasolineira “nacional” — a GALP! E-mails, blogues e SMS convocando a cidadania ao uso exclusivo de produtos GALP durante o próximo mês de Maio provocaria seguramente uma enorme dor de cabeça à tríade, aos bancos e ao próprio Governo. Isto sim, seria uma bofetada de luva branca numa das piores corjas da globalização. Para reforçar a intensidade política da acção, a mesma deveria ainda conter um ingrediente futurista: reduzir em 20% o consumo de combustível previsto para o mesmo mês (basta dividir as despesas de um ano por 12 e depois multiplicar o resultado por 20, voltando a dividir o último resultado por 100), adiando certas decisões para os meses seguintes e cancelando mesmo pequenos projectos dispensáveis... Experimente, é um exercício de racionalidade económica divertido e muito rentável!
Enquanto esta acção decorresse, deveria elaborar-se um verdadeiro livro branco energético, no qual fosse esclarecido de uma vez por todas:
1 - que o petróleo barato acabou para todos, embora mais depressa para uns do que para outros...;
2 - que a disputa em volta do que resta deste recurso energético precioso, de que as duas guerras contra o Iraque foram testemunhas, será terrível;
3 - que a pandilha Bush-Cheney-Rumsfeld, em grande parte alavancada pelos grandes protagonistas anglo-saxónicos do dinheiro e do petróleo, já começou a tagarelar sobre guerras nucleares preventivas (para já contra o Irão), o que implica o dever de civilização de reclassificar política e eticamente a natureza actual dos poderes que operam a partir de Londres e de Washington;
4 - que precisamos urgentemente de energias alternativas; elas existem, mas não podem, em caso algum, vir a ser apropriadas pelos mesmos ladrões que ao longo de todo o século 20 manipularam criminosamente o seu mais decisivo recurso energético; podemos opor à globalização da ladroagem uma interminável rede de criatividade global e de solidariedade efectiva;
5 - que teremos que consumir menos e melhor, sobretudo muito menos lixo sólido, líquido e cultural;
6- que perante a iminente implosão dos subúrbios, é inadiável redesenhar o território e as cidades, abandonando radicalmente a centralidade que, desde o Senhor Ford, foi conferida ao automóvel privado — numa fase transitória, criando em todas as cidades zonas de circulação automóvel interdita, condicionada e comunitária (1);
7 - que perante as catástrofes económicas que se avizinham, é impreterível devolver o poder aos cidadãos, aumentando a transparência do Estado, conferindo maiores poderes e autonomia às autarquias locais, limitando de forma muito clara os poderes invisíveis mas virtualmente incontroláveis das grandes corporações globais, sobretudo energéticas e financeiras.

Este livro pensaria seriamente nestas questões e responderia com factos e modelos estratégicos que todos poderíamos discutir. A imagem que ilustra este comentário faz parte e um projecto em rede para desenvolvimento de motores de combustão alimentados por uma mistura de combustíveis carbónicos e ... água. Nalguns casos, a poupança de combustíveis fósseis chega aos 75%!

O mais provável é que este apelo, em resposta a uma inciativa ingénua, mas justa, também fique pelo caminho. Mas de uma coisa estou certo: vamos ter muitas oportunidades para retomar os grandes problemas que nos afligem e afligem grande parte da humanidade nesta perigosa hora de incerteza. A tese de que é preciso sacrificar um ou mesmo dois terços da humanidade, submetendo-a à privação de energia, à fome, à doença, ao crime e finalmente à eliminação pela guerra, convencional, assimétrica, nuclear, química e biológica, é um cenário dantesco contra o qual a dignidade humana tem que se erguer sem hesitações.


Notas
1 — Uma boa solução para reduzir o número de automóveis, sobretudo nas cidades, seria adoptar em certas zonas urbanas um sistema de transporte individual, ou particular, baseado no uso partilhado de automóveis comunitários não poluentes, de grande duração e altamente recicláveis. Estes veículos seriam adquiridos pela cidade, em número suficiente para cada zona onde fosse aplicado o sistema, e o seu uso seria regulado por cartões de utilizador electronicamente validados, aplicando-se aos seus utentes todos os dispositivos legais que actualmente regulam os detentores de cartas de condução.


OAM #117 12 ABR 2006

segunda-feira, novembro 23, 2009

Portugal 141

Bloco Central II

O jogo entre o felino
Cavaco Silva e o rato José Sócrates pode não passar da antecâmara de uma nova simbiose entre o PS e o PSD. Os sinais multiplicam-se.

Sanguessuga
Sanguessuga: a aplicação pontual e por breves períodos de tempo pode ter efeitos terapêuticos. Deixando-a por tempo demasiado agarrada ao paciente acaba por debilitá-lo até à morte. A manada de sanguessugas que há décadas chupa o Orçamento de Estado prejudicou gravemente Portugal.


Para que o novo Bloco Central possa nascer, o velho tem que morrer. E não estará já moribundo?

A surpreendente simbiose — ou melhor dito, protocooperação— entre o PS e o PSD em volta da resolução expedita do problema da avaliação dos professores (que nasceu torta e torta seguirá) continua a dar que pensar.

Claro que as faíscas furiosas da Face Oculta do regime, acompanhadas do cortejo viscoso da Justiça que não temos, mais o pânico que lentamente começa a instalar-se na população, por causa do H1N1, atrasa a disposição para um raciocínio frio sobre o que realmente se está tecendo na sombra do folclore parlamentar e mediático. Mas ainda assim vou arriscar um vaticínio.

O actual governo da tríade de Macau, couraçado por uma tropa pretoriana de indecente e má figura (os três Silvas: Pedro, Augusto e José) revela-se a cada dia que passa como um acidente de percurso eleitoral. Não fora a ruptura de gerações que fez do PSD um partido de reformados, barões e caciques autárquicos, e muito provavelmente a queda brutal do PS nas últimas eleições teria conduzido à queda, que muitos socialistas esperavam, de Sócrates e da insaciável matilha que o promoveu e dele espera o passaporte diplomático para todo o tipo de tropelias.

Assim não aconteceu, sobretudo porque houve 42,51% dos eleitores que não votaram, ou votaram em branco, ou votaram nulo. Na realidade, dos 9.514.322 eleitores inscritos apenas 2.077.695 (21,8%) votaram no PS. Afirmar pois que José Sócrates chefia um governo democrático não passa de uma fantasia jornalística. Um governo em democracia, por definição, ou é maioritário, ou cai! É por causa desta lei que existem coligações em toda a Europa. Um governo minoritário nunca pode ser legitimamente aceite como um poder verdadeiramente democrático. A sua ocorrência espúria traz invariavelmente inscrita no seu regaço genético uma vida muito curta e agitada. E assim deve ser.

Para todos os efeitos a tríade de Macau perdeu a maioria parlamentar que detinha por interposta pessoa, e tal bastará para liquidá-la a curto prazo. Mas para isso será muito importante não nos resignarmos à falácia de considerar o actual governo como um produto legítimo de uma democracia adulta e plena, com direito a exercer o poder em nome de todos nós. Não é. E não tem esse direito. E não é e não tem tal direito pelas seguintes razões:
  1. não representa mais de 21,8% do eleitorado;
  2. vai-se sabendo em cada semana que passa, que agiu --governo e tríade de Macau (os piratas que tomaram por dentro o PS)-- de forma criminosa para conseguir transformar a última campanha eleitoral numa gigantesca provocação democrática e numa inqualificável operação de manipulação da opinião pública;
  3. tem a "chefiá-lo" um mentiroso compulsivo, sem carácter e disposto a enterrar todo um país, só para salvar a sua pele de escroque e proteger a máfia que o produziu e colocou onde está;
  4. está interiormente ferido de morte, pois apesar do núcleo duro de piratas que rodeia o primeiro ministro, alguns dos velhos e novos ministros já perceberam que a criatura que os chefia não vai durar muito.
Ou será que vai? Que dúvida mais interessante!

Há quem diga que Cavaco Silva está disposto a distanciar-se de todos os escândalos que envolvam Sócrates, sem porém provocar a sua queda, ou demiti-lo, tendo por único objectivo garantir a sua reeleição presidencial. Com o PS prisioneiro de uma governação cada vez mais difícil, protagonizada por uma criatura cada vez mais odiada, o bem educado presidente não poderia deixar de aparecer aos nossos olhos sempre carentes e crentes como a âncora de salvação no mar cada vez mais agitado de um regime político-partidário pejado de gente corrupta e sem a menor ideia do que fazer para encontrar de novo um Norte para a desamparada Lusitânia, que soçobra a olhos vistos — para desgraça de centenas de milhar de portugueses.

Ter José Sócrates preso à gamela do poder, embora com a rédea cada vez mais curta das circunstâncias objectivas de uma crise que está para durar, parece pois ser uma táctica eficaz para a reeleição de Aníbal Cavaco Silva. Reeleito, teria então tempo de sobra para enviar Sócrates às urtigas. Esta espera de caçador felino é, de facto, verosímil e exequível, desde que, até ao momento fatal, a sucata fique à porta do Palácio de Belém.

No entanto, independentemente do cenário acima descrito, Cavaco Silva sabe muito bem que é insustentável um governo minoritário (PS ou PSD) na conjuntura de agravamento da actual crise económica, financeira e social do regime, ainda por cima no quadro de um panorama internacional que se apresenta cada vez mais incerto e perigoso. E também sabe que de nada vale deixar emergir uma qualquer variante do rotativismo suicida que condenou a primeira República. É preciso, pelo contrário, promover activamente alguma forma de estabilidade governativa, a qual, por sua vez, não é possível sem uma coligação de facto —por exemplo, na forma de um acordo de incidência parlamentar sobre matérias chaves da governação.

A mais do que previsível situação de emergência nacional, que se aproxima a passos largos, seja pela ameaça de uma possível bancarrota do Estado, seja pela extrema conflitualidade social que pode deflagrar de um momento para outro como consequência da mancha de desemprego e de falências empresariais que não cessa de aumentar, exige uma visão estratégica aguda e muito atenta. Os sindicatos estão moribundos. À medida que os escândalos se acumulam e a impotência governativa se escancara, entre mentiras e omissões, a fúria por ora contida da multitude irá aumentando, e quando explodir, não haverá comportas que cheguem para sustar o sopro destruidor da indignação e da fome! Se alguma besta governamental julga que poderá então chamar os militares para conter a indignação democrática, desiluda-se. Será mais lógico, fácil e justo que os ditos militares virem, uma vez mais, as baionetas contra a corja indigente que alegremente levou o país à situação de pré-falência em que se encontra.

A situação é tão grave quanto parece. E por isso há gente no Partido Socialista que há já algum tempo decidiu pôr em marcha um plano de substituição da tríade de Macau, acabando por essa via com o Bloco Central I, ou seja, com o Bloco Central da Corrupção, que por sinal tem sido também o Bloco Central do Betão... e da Sucata! Se o novo Bloco Central, que uma coligação efectiva mas ainda invisível de forças pôs em marcha, vai ser liderado pelo PS, ou pelo PSD, é indiferente. O importante mesmo parece ser preparar desde já e garantir para breve a emergência de um bloco parlamentar maioritário, dotado de uma efectiva independência política face à corja banqueira e face aos indigentes empreiteiros que temos.

As actuais minorias (PCP, BE e CDS-PP) têm vindo a demonstrar uma utilidade escassa na conjuntura pós-eleitoral. Sem visão, nem coragem política, regressarão às respectivas insignificâncias partidárias no decurso dos próximos actos eleitorais. A terceira força terá que emergir do interior da multitude, como uma realidade nova e inesperada, fulminante. Ou não haverá terceira força.

Mas o importante para já é começarmos a ler os sinais da viragem em curso:
  • os novos ministros estão calados e seguramente a trabalhar em novos cenários que possam substituir o ilusionismo especulativo da tríade de Macau (1);
  • o Tribunal de Contas tem vindo a chumbar sucessivamente autoestradas inúteis e ruinosas para o erário público;
  • a União Europeia, sob pressão dos movimentos de cidadania, chumbou preventivamente o Plano Nacional de Barragens;
  • o PSD chumbou o negócio do novo Terminal de Alcântara;
  • a Associação Portuguesa de Operadores Logísticos desvaloriza o programa da plataformas logísticas, em particular a prevista para o Poceirão;
  • a União Europeia lança regime de penalização do transporte rodoviário, favorecendo o modo de transporte ferroviário;
  • a Brisa-Teixeira Duarte vence a Mota-Engil (chefiada por Jorge Coelho) na corrida à construção da linha ferroviária de alta velocidade entre o Poceirão e Caia.
  • ninguém tem ouvido falar de aeroportos, nem de novas travessias sobre o Tejo.

Ou muito me engano ou até que o próximo Orçamento de Estado comece a ser discutido ainda vai correr muita água por debaixo das pontes.


NOTAS
  1. E está muito coisa em causa: redefinir radicalmente os programas de obras públicas e transportes do país; rever drasticamente o plano nacional de barragens; resolver o inadiável problema da inviável TAP; preparar a privatização da CP (que não da Refer) para dar seguimento à orientação comunitária; manter participações accionistas de peso e controlos claros sobre a EDP, a Águas de Portugal, a REN e a Caixa Geral de Depósitos; privatizar completamente as OGMA e os estaleiros navais seguindo combinações accionistas estratégicas favoráveis ao país; aliviar o peso do Estado na Educação e na Saúde através de uma estratégia lógica, razoável e transparente de equilíbrio entre os sectores público, privado e cooperativo; estabelecer claramente um rendimento mínimo justo e universal, livre de impostos, como primeira frente de resistência ao colapso económico, social e demográfico do país; em suma, promover rapidamente um verdadeiro sistema fiscal verde capaz de corrigir muitas irracionalidades do actual sistema económico, ajudando ao mesmo as tendências evolutivas das novas economias sustentáveis, que já existem mas não poderão sair do seu actual estado embrionário se tiverem que continuar a competir com sistemas ineficientes protegidos pelo Estado. Haverá energia suficiente nos ministros silenciosos deste governo para enfrentar tamanho desafio? Eu creio que em todos os partidos da Assembleia da República há uma nova geração a despontar que fará a diferença — se não nesta, na próxima Legislatura. Dêem-lhes voz!


OAM 654 23-11-2009 02:42

sábado, abril 18, 2009

E se eu estiver enganado?

O grande jogo de que fala Brzezinski pode estar a passar pelo Freeport, sem que os portugueses se tenham apercebido disso.

E de repente o consenso sobre a necessidade de assassinar Júlio César, perdão, de eliminar politicamente José Sócrates, ganhou adeptos inesperados em volta de uma metáfora: combater o enriquecimento injustificado e a corrupção.

Fiquei chocado com o proselitismo meticuloso de António José Seguro ao debater a iguaria com Ângelo Correia. Este súbito mata-esfola foi na realidade desencadeado pelas hostes socialistas parlamentares capitaneadas por Vera Jardim, Alegre, etc., que se opõem aparentemente à tríade de Macau (Vitalino Canas, Jorge Coelho, Alberto Costa, António Vitorino, etc.), e que entenderam, porventura tarde demais, o alcance dos danos causados pela suspeita generalizada de que a criatura ao leme do partido e do actual governo esteve sucessivamente envolvido em situações e comportamentos incompatíveis com o exercício do cargo de primeiro ministro de Portugal.

Mas o que me traz de volta ao tema do garrote mediático e judicial que se vai apertando em volta de José Sócrates é uma dúvida terrível, a que aliás aludi em escritos anteriores:
— e se estivermos, de facto, a ser vítimas de uma conspiração orquestrada pelos serviços secretos ingleses e americanos?
E se o braço de ferro em curso entre a China e os Estados Unidos passar também por Portugal?

Se a conspiração que imagino, além de lógica, corresponder à realidade, onde fica então a soberania lusitana no meio do pandemónio económico, financeiro, político e judicial que ameaça conduzir Portugal para um ciclo de paragens cardíacas potencialmente fatal?

Eu não tenho, como a maioria dos portugueses não tem, dúvidas sobre o percurso atribulado do homem que hoje nos governa. Pelo que foi vindo a lume, defendi há muito que a pessoa deveria ter-se afastado do cargo, dando lugar a um camarada de partido. Saber se as trapalhadas, os deslizes, as más práticas e a presumível corrupção tiveram origem no simples egoísmo, ou numa proverbial ambição partidária a que se juntam costumes partidários intoleráveis (como sejam os sacos azuis do financiamento oculto e corrupto dos partidos políticos portugueses), só não é irrelevante porque a segunda hipótese compromete e explica muita da reserva exibida pela generalidade dos partidos parlamentares face ao caso.

A corda do financiamento partidário é demasiado sensível para que em volta do tema se montem guerrilhas partidárias prolongadas... Todos aparentam ter telhados de vidro!

Bastaria, apesar da corrupção endémica que nos aflige, esta ordem de causas e efeitos para tornar inaceitável a ideia de manter no cargo de primeiro ministro a personagem que actualmente o desempenha. E no entanto, o affair Freeport pode ser muito mais do que um escandaloso caso de polícia.

Na realidade, estou cada vez mais convencido de que estamos em presença do teatro de sombras de uma guerra diplomática secreta da maior importância, que os principais protagonistas preferem, por razões compreensíveis mas inaceitáveis, manter em segredo, e que a esmagadora dos políticos de serviço nem suspeita. Só assim se percebe que eu, mas também Francisco Louçã, Manuela Moura Guedes, Mário Crespo e o Público, entre muitos outros, tenhamos estado até agora a lançar freneticamente achas para a fogueira inquisitorial que vem queimando em lume espevitado o actual primeiro ministro, sem sequer nos passar pela cabeça que a hipótese de uma grande conspiração poder estar mesmo à beira de alcançar os seus objectivos. A verdade é que esta simples possibilidade me tem tirado o sono!

Do G20 ao Freeport - o que não sabemos...

Face à falência económico-financeira dos Estados Unidos e da Inglaterra, e ao veto que ambos os países, que controlaram a desmiolada cimeira londrina do G20, opuseram ao fim da era dólar e à criação de uma nova ordem monetária internacional, a China não tem outra alternativa que não seja apressar o seu plano de substituição da hegemonia americana no mundo.

A China, que tem o que mais ninguém tem — recursos financeiros extraordinários, capacidade produtiva disciplinada e vontade de regressar ao primeiro plano da história — decidiu deixar de alimentar a dívida americana, aplicando parte crescente das suas imensas reservas monetárias denominadas em dólares em aquisições de longo prazo —centradas nos recursos energéticos e em matérias primas de primeira importância— a um número apreciável de países, na Ásia, no Médio Oriente, na Austrália, em África e na América do Sul. Esta simples decisão levará a América de Obama ao colapso económico, financeiro, social e político, se entretanto o messiânico presidente não perceber que a banca do grande jogo da estratégia global se mudou para Xangai, e que a burocracia de Pequim se prepara para substituir as corruptas elites ocidentais na direcção do mundo.

Seiscentos anos depois do grande fechamento asiático (1415-2015) a China prepara-se para liderar o mundo na sequência da imparável implosão americana e da insignificância política crescente da Europa. As consequências previsíveis deste terramoto estão longe de ser intuídas pela generalidade dos líderes e povos ocidentais — europeus e americanos.

O único resultado palpável da cimeira londrina do G20 foi a decisão chinesa, não anunciada mas efectiva, de substituir paulatinamente o dólar americano como única moeda de reserva internacional. Ora esta decisão prenuncia não apenas o fim definitivo de Bretton Woods, como a aceleração da deslocação do centro de gravidade imperial, do Ocidente para o Oriente. É aqui que a questão atlântica e dos flancos ocidentais europeu e africano, bem como do protagonismo próximo da América do Sul ganha mais cedo do que se previa uma importância vital no grande jogo estratégico que visa, pelo lado chinês, garantir o fim pacífico da hegemonia americana e inglesa no mundo.

Portugal, se lhe faltar lucidez e coragem, será apenas um dos muitos peões maltratados no perigoso movimento desta espécie peculiar de placas tectónicas actualmente em rota de colisão. Pelo contrário, se souber abrir as suas portas à China, como outrora a China nos presenteou com a concessão de Macau, e se souber ainda triangular eficazmente com o Brasil, Angola, Venezuela, Guiné-Bissau e Cabo Verde, no sentido de fazer do Atlântico um mar aberto ao novo ciclo de expansão civilizacional que se avizinha, Portugal poderá readquirir uma importância europeia e mundial como não tem desde as invasões napoleónicas. O que está em jogo é pois da maior importância!

Apesar de os meios utilizados serem criticáveis, a verdade é que devo reconhecer o acerto estratégico da tríade de Macau quando comparada com a inércia cobarde de quem vem consciente ou inconscientemente alimentando as manobras dos serviços secretos ingleses e americanos, porventura responsáveis pela actual desestabilização do nosso país, única e exclusivamente em nome da estratégia conjunta de dois aliados nossos que não olham a meios para preservar um status quo insustentável. O objectivo claro da manobra Freeport é impedir que Portugal possa vir a tornar-se para a China o que a China (Macau) foi para Portugal. Alucino? Veremos, se sim ou não, muito em breve.

O caso Freeport pode ser olhado segundo, pelo menos, três perspectivas distintas:
  1. Alguém vendeu um produto de má qualidade (o Freeport está tecnicamente falido) aos ingleses, família real incluída, cujos prejuízos esta última não desiste de colmatar, tendo para tal, por decoro próprio —está claro—, encomendado à Carlyle, uma famosa empresa estratégica americana, a recuperação da massa perdida, incluindo, já agora, o dinheiro usado para corromper as autoridades políticas portuguesas que intervieram no negócio.

    A Carlyle tenta (?) sem êxito recuperar a massa. Os ingleses, face ao impasse, desencadeiam uma investigação policial que não pode deixar de ter contornos políticos, dados os protagonistas supostamente envolvidos. Assim como o pagamento de luvas à família real saudita pelo governo de Tony Blair, para garantir a aquisição de umas dezenas de aviões militares ingleses de última geração, foi abafado em nome dos superiores interesses do Reino Unido, o caso Freeport foi aberto em nome desses mesmos interesses. Falta saber quais, exactamente.
  2. A Carlyle concerta com a diplomacia inglesa usar o processo Freeport para proceder a uma penetração em profundidade no sistema financeiro português, cuja fragilidade evidente o torna presa fácil de interesses potencialmente hostis à Inglaterra e aos Estados Unidos, com origem na China, Angola, Rússia e Brasil. O financiamento dos grandes projectos anunciados —novo aeroporto intercontinental de Lisboa, rede ferroviária de alta velocidade e expansão da rede de autoestradas do país (que poderão elevar rapidamente Portugal e o seu vasto território marítimo à condição de importante placa giratória entre a Ásia, a África, a Europa e a América Central e do Sul— é um aspecto crucial para o futuro das relações geo-estratégicas de Portugal. Se a Inglaterra e os Estados Unidos ficarem para trás no leilão das parcerias que viabilizarão as grandes obras públicas anunciadas pelo governo de Sócrates, nada impedirá a progressão estratégica da China no Atlântico, através da ajuda preciosa de um país civilizado europeu chamado Portugal! Explosivo, não é?

    Nesta perspectiva, a aparente recusa de Sócrates em viabilizar a pretendida entrada da Carlyle no BPN, que permitiria desde logo recuperar a massa perdida no Freeport, mas sobretudo colocar os aliados Anglo-saxões na linha da frente da alavancagem financeira do grande dispositivo estratégico gizado pelos socialistas, sofreu um sério contratempo, mas confirmou a presença efectiva de um novo desígnio estratégico na diplomacia portuguesa: triangular com as potências emergentes da lusofonia e aceitar a China como um novo aliado para o século 21. Mais uma acha para fogueira do Freeport, não acham?
  3. O caso BPN faz parte do imbróglio Freeport, e na realidade trata-se do travão de segurança activado pela tríade de Macau com o objectivo de placar os principais beneficiários do colapso praticamente irreversível da actual maioria governamental.

    Este colapso levará ao inevitável recuo da estratégia diplomática que tem vindo a ser pacientemente montada pela tríade de Macau, caso o PSD de Manuela Ferreira Leite, i.e. de Cavaco Silva, venha a triunfar nas sucessivas eleições que se avizinham. Se tal ocorrer, a perseguição à tríade de Macau será implacável. Daqui a perigosidade da actual conjuntura política. E é por isso mesmo que há muito venho recomendando a remoção cirúrgica de José Sócrates, em nome da sobrevivência de um projecto estratégico cuja oportunidade me parece óbvia e que deve ser levado a cabo, independentemente dos protagonistas políticos de momento. Mas para lá chegar é preciso abrir esta caixa de Pandora dialéctica quanto antes. O secretismo actual e o teatro de sombras não servem a ninguém.

    Portugal tem potencialmente um lugar privilegiado no ajustamento tectónico dos impérios actualmente em curso. Sem trair as suas velhas alianças, deve exigir completa autonomia de acção diplomática nos múltiplos processos de mediação necessários a uma transição pacífica para os novos equilíbrios mundiais. O novo Tratado de Tordesilhas a que a China e os EUA não escaparão vai ter uma geometria tipicamente fractal. Portugal não quer ser o pião das nicas neste grande jogo, mas antes, um confiável honest broker. E para isso nada melhor do que transformar o país numa verdadeira Suíça diplomática do Atlântico.


Post Scriptum — Se a minha hipótese de conspiração for mais do que uma fantasia, ficaremos a saber em breve quem tem andado a comprar os milhões de acções do BCP que diariamente são postos à venda na Bolsa; ficaremos a saber quem irá salvar a TAP, e ficaremos a saber de onde virá o grosso do dinheiro para as grandes obras públicas anunciadas e reiteradas por este governo.

Se nada disto soubermos até às eleições europeias, ou como muito até ao fim Verão, no caso de o PS ganhar este primeiro round eleitoral, será porque o actual primeiro ministro deixou de estar em condições de poder contribuir para a redefinição estratégica promovida pela tríade de Macau. Neste caso, o ataque final a José Sócrates por causa do denunciado envolvimento da sua pessoa no caso Freeport será desencadeado sem dó nem piedade, por todos: a opinião pública, os adversários do PS, os adversários socialistas de José Sócrates, e até aqueles mesmos que o educaram e colocaram onde está, produzindo-se então uma derrota estrondosa do PS nas eleições autárquicas e legislativas.

A Cavaco Silva, mas também aos serviços secretos ingleses e americanos, interessa assar José Sócrates em lume brando, para que sue as estopinhas a caminho da sua anunciada desgraça. O PS tem pois apenas uma possibilidade de não deitar tudo a perder: forçar a demissão de José Sócrates quanto antes, antes mesmo das eleições europeias, provocando assim uma reviravolta completa na actual situação política. Se o fizer, colocando António Costa onde hoje se encontra José Sócrates, terá grandes possibilidades de derrotar Manuela Ferreira Leite. Doutro modo, resta-lhe uma longa agonia. Para a China o resultado desta encruzilhada não é indiferente. Mas pode esperar...


REFERÊNCIAS

  • China’s $1.7 Trillion Bet: China’s External Portfolio and Dollar Reserves
    A CGS Working Paper - Council of Foreign Relations

    Authors: Brad W. Setser, Fellow for Geoeconomics

    China reported $1.95 trillion in foreign exchange reserves at the end of 2008. This is by far the largest stockpile of foreign exchange in the world: China holds roughly two times more reserves than Japan, and four times more than either Russia or Saudi Arabia. Moreover, China’s true foreign portfolio exceeds its disclosed foreign exchange reserves. At the end of December, the State Administration of Foreign Exchange (SAFE)—part of the People’s Bank of China (PBoC) managed close to $2.1 trillion: $1.95 trillion in formal reserves and between $108 and $158 billion in “other foreign assets.” China’s state banks and the China Investment Corporation (CIC), China’s sovereign wealth fund, together manage another $250 billion or so. This puts China’s total holdings of foreign assets at over $2.3 trillion. That is over 50 percent of China’s gross domestic product (GDP), or roughly $2,000 per Chinese inhabitant.

    If 70 percent of this has been invested in dollar-denominated financial assets, China’s dollar portfolio tops $1.7 trillion—a bit under 40 percent of China’s GDP. The authors estimate that China held close to $900 billion of Treasury bonds (including short-term bills) at the end of the fourth quarter, another $550 billion to $600 billion of agency (Fannie Mae, Freddie Mac, and Ginnie Mae) bonds, $150 billion of U.S. corporate bonds, and $40 billion of U.S. equities, as well as $40 billion in shortterm deposits. These estimates are significantly larger than the numbers reported in the U.S. Treasury data, as those data tend to understate recent Chinese purchases and thus total holdings of U.S. assets.

    The pace of growth of China’s foreign assets clearly slowed in the fourth quarter of 2008. But it slowed after a period of unprecedented foreign asset growth. From the fourth quarter of 2007 to the third quarter of 2008, China likely added over $700 billion to its foreign portfolio (more than implied by the increase in its formal reserves). One fact illustrates just how rapid the growth in China’s foreign assets exceeded the rise in combined foreign assets of the world’s oil-exporting countries. As a result, China’s government is now by far the largest creditor of the United States: during the period of its peak growth, it likely lent about $475 billion (roughly $40 billion a month) to the United States. Never before has a relatively poor country lent out so much money to a relatively rich country. And never before has the United States relied on a single country’s government for so much financing.
  • Summer 2009: The international monetary system’s breakdown is underway
    The next stage of the crisis will result from a Chinese dream. Indeed, what on earth can China be dreaming of, caught – if we listen to Washington – in the “dollar trap” of its 1,400-billion worth of USD- denominated debt1? If we believe US leaders and their scores of media experts, China is only dreaming of remaining a prisoner, and even of intensifying the severity of its prison conditions by buying always more US T-Bonds and Dollars.

    In fact, everyone knows what prisoners dream of? They dream of escaping of course, of getting out of prison. LEAP/E2020 has therefore no doubt that Beijing is now3 constantly striving to find the means of disposing of, as early as possible, the mountain of « toxic » assets which US Treasuries and Dollars have become, keeping the wealth of 1,300 billion Chinese citizens4 prisoner. In this issue of the GEAB (N°34), our team describes the “tunnels and galleries” Beijing has secretively begun to dig in the global financial and economic system in order to escape the « dollar trap » by the end of summer 2009. Once the US has defaulted on its debt, it will be time for the « everyman for himself » rule to prevail in the international system, in line with the final statement of the London G20 Summit which reads as a « chronicle of a geopolitical dislocation », as explained by LEAP/E2020 in this issue of the Global Europe Anticipation Bulletin. ...

    ... Very logically, Beijing is now disposing of these huge surplus exchange reserves which keep Chinese leaders prisoners of US decisions with no further advantage for their country, as remarkably described by Rachel Zembia in an article published by RGE Monitor on 02/21/2009: loan credits to ASEAN countries28, swap agreements, green light for 400 Chinese enterprises to trade in Yuan with Asian countries29, loan credits to African states and Russia, long-term special oil rates negotiated with Persian Gulf states, loan credits to oil companies in Brazil and Abu Dhabi, purchase of European and Japanese company shares (no US shares, strangely...), etc. The author emphasizes the fact that these agreements would include guarantees for Chinese companies to have access to these resources. Contrary to appearances, what is really at stake in these deals is Beijing’s discreet disposal of its US Treasuries and Dollars in exchange for assets that the country needs, moreover available at record-low prices at a time when US Treasuries and Dollars still have some value.

    With regard to US Treasuries, China has largely stopped buying them (purchases decreased by USD 146 billion in the first quarter of 2009 compared to the same period last year, representing an increase of only USD 7.7 billion30!) and only then purchasing short term (three month) Treasuries!

    Between the fact that it has nearly put a complete end to its purchase of US Treasuries and that it is accelerating the pace of its« global shopping » for more than USD 50 billion per month (swap agreements included), it appears that, between the end of 2008 and the end of summer 2009, China will have disposed of nearly 600 billion worth of USD-denominated assets, and it will have failed to purchase between USD 500 and USD 1,000 billion worth of US Treasuries that the Obama administration has begun to issue to finance its extravagant borrowings. LEAP/E2020 estimates that these two amounts added together give a clear idea of Beijing’s impact on the « Dollar-era » at the end of summer 2009, at the end of the US fiscal year. China’s disposals and failed purchases of US Treasuries alone will then represent a shortfall of between USD 1,100 billion and USD 1,600 billion in the United States’ financial needs. Ben Bernanke will be compelled to print Dollars in a (vain) effort to prevent his country from defaulting on its debt.

    In the knowledge that each time Bernanke declares that the Fed will purchase its own US Treasuries, they lose 10 percent in one day, i.e. USD 140 billion compared to other international currencies, Chinese leaders will certainly find it acceptable to sacrifice USD 400 or 500 billion.

    LEAP/E2020 believes that, at this stage, they will consider that they made the best « possible » use of their USD-denominated assets. Then, they would better be among those who push the « button » - or who do not try to prevent it. The second phase of China’s “Great Escape” out of the Dollar will then begin, depending on the behavior of the other key players. Either the Yuan takes its place as international reserve currency along with the Euro, Yen, Ruble, Real, or a process creating a new international reserve currency based on a basket of these currencies will begin. The Dollar will then be out of the race and the G20 reduced to a G18 (without the United States and the United Kingdom, but with Japan no longer able to escape the Chinese sphere of influence). Otherwise, the process of global geopolitical dislocation, described in GEAB N°32, will be underway, based on economic blocks, each of them trading in their own specific reserve currency. -- in GEAB #34, May 2009.

  • HK's RMB pilot plan covers 400 mainland enterprises
    (Xinhua) Updated: 2009-04-12 15:21

    HONG KONG - About 400 enterprises in the Chinese mainland have been selected to participate in the Renminbi cross-border trade settlement pilot program, Under Secretary for Financial Services and the Treasury of Hong Kong Julia Leung said here Saturday.

    Speaking on a radio talk show here Saturday, Leung said enterprises in Hong Kong will soon be able to settle trades in Renminbi through the banks with the selected companies in the Chinese mainland.

    Noting the program can reduce the risks and cost arising from fluctuations in exchange rates, she said Hong Kong banks can expand extensively their Renminbi services from individual clients to enterprises.

    When asked whether the scheme includes trade financing, Leung said authorities in the Chinese mainland will announce the details soon.

  • China’s resource buys
    Rachel Ziemba | Feb 21, 2009 (RGE Monitor)

    China development bank must be busy.... Over the last few weeks deals worth over $50 billion have been confirmed with the oil companies of Russia, Brazil and the Australian mining company Rio Tinto, all of which have found themselves with financing issues in light of the collapse in commodity prices and credit crunch. While $50 billion is a relatively small in terms of China’s foreign exchange liquidity, this is a significant investment on China’s part in the resource sector, and shows that it is trying to get higher returns on its capital – while coming to the rescue of those who cannot tap the still relatively frozen international capital markets. And given some of the dire predictions for energy sector investment (including warnings from the IEA) might avoid a severe drop off in investment, allowing some of these countries and China to get more bang for the buck as global deflationary trends lower costs. Most significantly, it increases the share of oil supplies that are pre-contracted, perhaps a desire from both China and its suppliers to have a somewhat more predictable price environment for at least some of its supplies. ...

    ... Most of the Chinese oil production abroad was sold on global markets with the profits used to cross subsidize losses on domestic refining segments given fixed prices. In fact only about 10% of Chinese oil imports are supplied through the equity stakes that China has in oil projects abroad. Instead China imported oil from a range of countries in Africa which supplies 1/4th of China’s oil (especially Angola) and the middle east, which supplies 50% (mostly Saudi Arabia, Iran and to a lesser extent Oman.)

  • India and China want IMF to sell its $100b gold
    Apr 15 2009, New Delhi (mydigitalfc.com)
    By KA Badarinath

    India and China may press for the sale of the entire gold reserves of the International Monetary Fund (IMF) to raise money for the least developed countries.

    The IMF holds 103.4 million ounces (3,217 tonnes) of gold that, if sold, can fetch about $100 billion. A draft paper exchanged between New Delhi and Beijing proposes that the gold be sold in bullion markets over a period of two to three years. The money thus raised must be used in tackling poverty in the poorest nations.

    “We have been discussing with China a common position on the subject,” a senior finance ministry official told Financial Chronicle.

    Both prime minister Manmohan Singh and Chinese president Hu Jintao will have to clear the proposal before the representatives of the two countries can take it up at the IMF spring meeting in June in Washington.

    The G20 heads of state meeting in London earlier this month agreed to sell a part of the IMF gold to raise $6 billion for poor countries during 2009-11. This was a component of a $1.1 trillion package worked out by G20. The World Bank has estimated that over 90 million people may be pushed into poverty in the global economic turmoil.

    “We are working on a more ambitious proposal of selling the entire gold as it is an idle asset with the IMF,” said the official.

    India and China are looking at three ways of using the money so raised. 1) The $100 billion be invested to improve IMF’s liquidity. 2) The money be committed to improving incomes of the poorest countries. 3) A mix of the first two options be considered.

  • A 'Copper Standard' for the world's currency system?
    By Ambrose Evans-Pritchard
    Last Updated: 2:41PM BST 16 Apr 2009 (Telegraph.co.uk)

    Hard money enthusiasts have long watched for signs that China is switching its foreign reserves from US Treasury bonds into gold bullion. They may have been eyeing the wrong metal.

    China's State Reserves Bureau (SRB) has instead been buying copper and other industrial metals over recent months on a scale that appears to go beyond the usual rebuilding of stocks for commercial reasons.

    Nobu Su, head of Taiwan's TMT group, which ships commodities to China, said Beijing is trying to extricate itself from dollar dependency as fast as it can.

    "China has woken up. The West is a black hole with all this money being printed. The Chinese are buying raw materials because it is a much better way to use their $1.9 trillion of reserves. They get ten times the impact, and can cover their infrastructure for 50 years."

    "The next industrial revolution is going to be led by hybrid cars, and that needs copper. You can see the subtle way that China is moving into 30 or 40 countries with resources," he said.

    The SRB has also been accumulating aluminium, zinc, nickel, and rarer metals such as titanium, indium (thin-film technology), rhodium (catalytic converters) and praseodymium (glass).

    While it makes sense for China to take advantage of last year's commodity crash to restock cheaply, there is clearly more behind the move. "They are definitely buying metals to diversify out of US Treasuries and dollar holdings," said Jim Lennon, head of commodities at Macquarie Bank.

    John Reade, metals chief at UBS, said Beijing may have a made strategic decision to stockpile metal as an alternative to foreign bonds. "We're very surprised by Chinese demand. They are buying much more copper than they will need this year. If this is strategic, there may be no effective limit on the purchases as China's pockets are deep."

    Zhou Xiaochuan, the central bank governor, piqued the interest of metal buffs last month by calling for a world currency modelled on the "Bancor", floated by John Maynard Keynes at Bretton Woods in 1944.

OAM 575 18-04-2009 03:25 (última actualização: 19-04-2009 01:48)

sábado, setembro 05, 2009

Portugal 122

Prisa? Rua!

O PS de Sócrates é contra a liberdade

Público, 04.09.2009 - 15h15 Eduardo Cintra Torres

A decisão de censurar o Jornal Nacional de 6ª (JN6ª) foi tudo menos estúpida. O núcleo político do PS-governo mediu friamente as vantagens e os custos de tomar esta medida protofascista. E terá concluído que era pior para o PS-governo a manutenção do JN6ª do que o ónus de o ter mandado censurar. Trata-se de mais um gravíssimo atentado do PS de Sócrates contra a liberdade de informar e opinar. Talvez o mais grave. O PS já ultrapassou de longe a acção de Santana Lopes, Luís Delgado e Gomes da Silva quando afastaram a direcção do DN e Marcelo da TVI.

... Intervindo na TVI, o PS-Governo atingiu objectivos fundamentais. Como disse Mário Crespo (SICN, 03.09), o essencial resume-se a isto: J.E. Moniz e M. Moura Guedes foram eliminados —e com eles as direcções de Informação e Redacção e um comentador independente como V. Pulido Valente.

O senhor Sócrates tinha um grande dilema: deixar a Manuela Moura Guedes apresentar novos dados sobre o seu envolvimento e o envolvimento da sua família no affair Freeport, voltando ainda à carga com outros temas reveladores da instrumentalização da actual maioria "socialista" por interesses económicos inconfessáveis (como seria, por exemplo, o caso do aeromoscas de Beja, pronto a inaugurar, mas sem clientes à vista, apesar de ter custado 33 milhões de euros ao bolso dos contribuintes); ou então impedi-la de o fazer, pedindo com urgência a Juan Luis Cebrián, o Maquiavel madrileno do falido Grupo Prisa, que mandasse calar Manuela Moura Guedes, encerrando o programa informativo com maior audiência em todo o panorama audiovisual português, apesar das previsíveis consequências nos resultados do PS nas eleições das próximas semanas.

O que aconteceu é público, e muito provavelmente custará ao PS um pesado e porventura longo isolamento político. Porque motivo decidiu então a tríade de piratas que manobra José Sócrates assassinar o PS? Certamente para evitar um mal maior. Resta perguntar: que mal maior é esse, e mal maior para quem?

Jose Luis Zapatero quer penetrar profundamente no território português através de uma espécie de garra de caminhos de ferro chamada TGV, Alta Velocidade, ou AVE (como preferirem). Segundo as suas próprias palavras (1), esta é a melhor forma de unificar a Espanha!

O PS da tríade de Macau é o instrumento imbecil e oportunista desta manobra. Não porque devamos rejeitar liminarmente a ligação da nossa rede ferroviária a Espanha e ao resto da Europa, mas porque devemos discutir de igual para igual os termos e o desenho dessa ligação, rejeitando desde logo a visão unilateral, centrífuga e ridiculamente imperial de Madrid sobre a configuração da nova rede ibérica de bitola europeia. Madrid quer que tudo passe por Madrid, antes de chegar a qualquer outro lugar, e quer, por outro lado, construir a nova rede ferroviária como uma teia de aranha cujo centro é a capital de um ex-império cheio de prosápia, pouca eficiência, maus modos e muita corrupção. Ora Manuela Ferreira Leite e Aníbal Cavaco Silva perceberam o alcance estratégico negativo da manobra de envolvimento lançada a partir dos palácios de La Moncloa e del Oriente, e têm vindo a dar insistentes sinais de que a mesma não passará tão cedo do papel ao teatro de operações.

Ora isto é muito preocupante para Madrid, sobretudo no enquadramento cada vez mais explosivo das reivindicações nacionalistas do País Basco e da Catalunha (2).

Chegar a Lisboa e ao Atlântico tornou-se uma obsessão espanhola desde a célebre Cimeira das Lajes, acolhida pelo actual presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que então o príncipe da Prisa, e administrador do El País, Juan Luis Cebrián, mandou apagar da fotografia. O passado Franquista deste senhor e do seu querido progenitor (3) poderão explicar a pulsão autoritária que agora desagua em Lisboa da pior maneira.

O Grupo Prisa está à beira do colapso financeiro (4). A decisão de vender o Grupo Media Capital foi um recurso para salvar a jóia da manipulação jornalística espanhola. José Sócrates viu nesta ocasião, como anteriormente vira nas dificuldades do BCP, uma boa oportunidade para incluir no portefólio da máfia que tomou conta do Partido Socialista, mais um importante instrumento de controlo do poder. Meteu a Portugal Telecom ao barulho, mas Cavaco e Manuela Ferreira Leite travaram o assalto (de novo eles...) Ainda assim Cebrián está agradecido a José Sócrates. Quer dizer, disposto a ajudá-lo quando for preciso. E foi preciso! Resta apurar porquê...

Ao contrário do que a contra-informação governamental quis fazer crer, Cebrián não está em rota de colisão com a Zapatero (5), mas antes exigindo que este despeça o seu ministro da indústria, por prejudicar os negócios da Prisa. Ou seja, está a negociar! Daí que, à sua vontade de colocar a TVI ao colo da tríade de Macau, em troca, claro está, dumas preciosas centenas de milhões de euros (de preferência públicos), Zapatero acuda com mais Améns, em nome, desta vez, da sua manobra de penetração ferroviária, portuária e aeroportuária em território galaico-lusitano. Cebrián precisa de despachar a TVI, e Zapatero precisa de fazer chegar o AVE a Lisboa quanto antes. Para isso têm que impedir a vitória de Manuela Ferreira Leite e a subida do Bloco de Esquerda nos próximos actos eleitorais — nem que para tal seja preciso montar uma monumental provocação, digna das idas décadas de 1920-1930!

É por estas e por outras que é urgente impedir a continuação do senhor Sócrates e da tríade de Macau aos comandos deste país. Nem que para isso seja necessário votar em Manuela Ferreira Leite, em Paulo Portas ou em Francisco Louçã. A vitória previsível do PSD, porém, não chega. É fundamental enterrar as bases infecciosas do Bloco Central, para que o mesmo não possa ressuscitar nas próximas décadas. Mas para isso precisamos de ajudar os pequenos partidos (CDS e Bloco de Esquerda) a duplicarem (PP), ou mesmo triplicarem (BE) a sua força eleitoral já nas próximas eleições.

A Assembleia da República que resultar da eleição do próximo dia 27 de Setembro poderá e deverá legislar um conjunto de restrições à presença do capital estrangeiro nalguns sectores estratégicos da nossa economia e da nossa matriz cultural. O incidente com Cebrián serve de lição. Comunicação social; estradas, portos e aeroportos; defesa e segurança; mar; água; energia; telecomunicações e redes informáticas nacionais, por exemplo, devem passar a ser consideradas áreas de investimento protegido, onde nenhuma empresa estrangeira poderá, sob nenhum pretexto, deter maiorias de capital, nem poderes maioritários de administração.

Não sou, nem iberista, nem anti-iberista. Defendo, isso sim, uma Plataforma Ibérica de Cidadania, ou seja, uma rede ideológica alargada que, não se confundindo com o Iberismo, é porém capaz de promover a coesão estratégica, económica, social e cultural da Península Ibérica, no respeito absoluto das nações, territórios e independências políticas que a constituem, e ainda no quadro de uma União Europeia menos burocrática e mais solidária. Já é tempo de explicar aos nacionalistas madrilenos, franquistas e pós-franquistas, que o mundo mudou.


POST SCRIPTUM

Email enviado à redacção do El País, em resposta ao seu inqualificável artigo sobre a censura da Prisa ao Jornal Nacional de Manuela Moura Guedes.

Bom dia,

O vosso artigo sobre as eleições em Portugal é um exemplo triste de manipulação jornalística, bem ao estilo paternalista e arrogante que o Grupo Prisa habituou os portugueses sempre que aborda questões importantes dizendo respeito aos dois países — como foi o caso da inqualificável censura cometida pelo El País durante a Cimeira das Lajes que deu origem ao início da Guerra contra o Iraque (omitindo então, sistematicamente, em palavras e em imagens, a presença de Durão Barroso), e agora é o caso, de contar com o governo português de José Sócrates para salvar a falida Prisa, ou ainda negociar com o desprestigiado primeiro ministro português uma ajudar trapalhona ao governo espanholista de Zapatero na concretização do desenho tentacular da rede de Alta Velocidade ibérica, a qual, segundo o próprio Zapatero, é uma boa estratégia para garantir a unidade de Espanha!

Já vimos que não é, nem está a ser!!

A Prisa cometeu um acto de inqualificável censura no nosso país. Por esse acto deve ser penalizada sem hesitação. Espero bem que o novo governo de Portugal passe a tratar a Moncloa com mais firmeza, e crie legislação nacional que impeça a tentativa de assalto em curso, por parte dos estrategas madrilenos, aos sectores estratégicos do meu país. Desde logo, Portugal não é uma República das Bananas!

Aproveito ainda para recomendar ao El País a leitura do que esta madrugada escrevi no António Maria sobre o intolerável episódio de intromissão de uma empresa estratégica do socialismo espanholista nos assuntos internos de Portugal.

Atentamente,

António Cerveira Pinto

Anexo

V/ referência:

La campaña de Portugal arranca con un aluvión de debates

En esta "batalla preelectoral", una decisión empresarial se ha convertido en el tema que acapara la atención de políticos y los medios. La noticia se produjo cuando la cadena de televisión TVI, cuyo accionista mayoritario es el grupo PRISA -editor de EL PAÍS-, comunicó el cambio de formato del telediario de los viernes para homogeneizarlo con los informativos del resto de la semana. La decisión implicaba la salida de Manuela Moura Guedes como directora del Jornal Nacional de Sexta (telediario del viernes). Varios directivos del área de informativos de TVI dimitieron en solidaridad con la periodista. Se da la circunstancia de que el Jornal de Sexta se ha caracterizado por su crítica feroz al Gobierno socialista y, especialmente, a la figura del primer ministro, que llegó a calificar dicho telediario de periodismo travestido. Las reacciones de políticos, candidatos y comentaristas se produjeron en cadena y, en cuestión de horas, no sólo TVI y PRISA, sino "España" y "los españoles" se convirtieron en protagonistas involuntarios de la campaña electoral y del fuego cruzado entre los candidatos.

La utilización electoralista de un tema tan recurrente como la relación con España ha desplazado a los grandes temas de fondo de la campaña, que giran en torno a la crisis económica y a las iniciativas para salir de ella. Los programas de todos los partidos ponen el énfasis en la lucha contra el paro que, según las últimas cifras, llega al 9,3% (medio millón de portugueses). -- in El País.


ÚLTIMA HORA!

A empresa liderada pelo censor e ex-franquista Juan Luis Cebrián, PRISA, publica os manuais escolares portugueses para o ano lectivo 2009/2010, 1º ciclo, 1º ano, através da sua editora escolar Santillana!

NOTAS
  1. Zapatero dice que los AVE refuerzan la cohesión territorial al inaugurar la línea Córdoba-Antequera (Ler esta pérola do El País)

  2. El alcalde de Arenys de Munt defiende la consulta independentista y la mantiene
    Barcelona. (Agencias).-El alcalde de Arenys de Munt (Barcelona), Carles Móra explicó que la consulta, propuesta por el Moviment Arenyenc per l'Autodeterminació y aprobada en un pleno municipal con los votos favorables de AM2000, CiU, ERC y CUP y la oposición de PSC, se mantiene pese a la presentación del recurso por parte de los abogados del Estado para impedir su celebración. "Estamos dentro del marco legal. Es imposible contemplar la posibilidad de que el referéndum sea ilegal, y lo digo con todas las garantías", afirmó. "Los abogados se lo han mirado bien" y es "imposible" que no consideren válido el referéndum", agregó Móra. — La Vanguardia (03/09/2009).

  3. Su padre Vicente Cebrián fue un alto cargo de la prensa del régimen franquista y director del diario Arriba, órgano de comunicación de la Falange Española.
    (...) Con 19 años (...) entró a trabajar como redactor jefe en Pueblo, el diario vespertino del Movimiento (...)
    En 1974 fue nombrado jefe de los servicios informativos de RTVE por el último Gobierno de la dictadura, siendo Arias Navarro el jefe del gobierno, quien dio su aprobación. — in Wikipedia.

  4. Dívidas da Prisa poderão exigir venda de activos
    O grupo espanhol Prisa necessita de uma injecção de capital de pelo menos 300 milhões de euros até Outubro, para responder à pressão financeira dos bancos que concederam à empresa um adiamento nos empréstimos actuais, segundo a imprensa espanhola. Em causa poderá estar a venda de parte das empresas Digital Plus, Santillana e Media Capital (esta última, em Portugal). -- SIC.

  5. Cebrián ataca al Gobierno por la aprobación de la TDT de pago
    El consejero delegado del Grupo Prisa, Juan Luis Cebrián, ha calificado el comportamiento del Gobierno, con la reciente aprobación del decreto-ley de la TDT de Pago, de propio de una "república bananera", informa Efe. — Terra.

OAM 619 05-09-2009 02:38 (última actualização: 07-09-2009 16:45)

segunda-feira, novembro 16, 2009

Portugal 139

"Face Oculta": o xeque-mate?

Cavaco Silva deve dar a Sócrates o mesmo destino que Sampaio deu a Santana Lopes. Nem mais, nem menos. Com cortesia, mas sem hesitar, pois já hesitou demais!


Kill Bill, Queen Of The Crime Counsil (audio legendado)
Q. Tarantino/ U.Thurma



Se as cinco mais recentes gravações de telefonemas entre Armando Vara e José Sócrates envolverem também, e porventura sem margem para dúvidas, o actual primeiro ministro num ou mais presumíveis crimes graves, que farão o Procurador-Geral da República e o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça? Voltarão a mandar destruir os registos — i.e. as provas?!

E se os responsáveis titulares do processo "Face Oculta" recusarem fazê-lo, em nome da razão, da lei e da justiça —como é seu dever e acredito que façam—, que acontecerá depois?

Bom, se tal vier a ocorrer, estaremos envolvidos numa grave crise constitucional, de consequências imprevisíveis. Estou pois certo que o senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça não deixará de explicar isto mesmo ao senhor Presidente da República, para que este proceda preventivamente e assegure, como lhe compete, o normal funcionamento das instituições e a estabilidade do regime constitucional.

Atitude diversa da lógica do direito, que aqui e agora se impõe, com urgência, comprometeria estes dois pilares estruturais da democracia portuguesa —presidência da república e presidência do supremo tribunal de justiça— num impasse constitucional gravíssimo, tornando-os antes de mais suspeitos de compactuar com uma possível subversão e corrupção inaceitáveis do actual sistema político.

O Presidente do Supremo Tribunal de Justiça não é patrão dos juízes, tal como o Procurador-Geral da República não é patrão dos procuradores. O primeiro ajuíza o que lhe é levado às mãos em última instância por quem apela aos seus bons serviços; o segundo, distribui a tarefa de acusar por agentes do Estado que devem pautar a sua acção exclusivamente pela lei e pela própria ética profissional. Os dois altos responsáveis mencionados não mandam mais do que isto! E sobretudo não têm autoridade para ajuizar a qualidade de certidões emitidas por entidades de direito competentes, independentes e autónomas, como agora pretendem ilegitimamente, levantando-se por isso as maiores suspeitas relativamente aos sucessivos comportamentos de Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento.

A única coisa que o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça pode proibir ou mandar destruir são apenas escutas que contenham matéria sensível para a segurança do Estado. Não lhe cabe pois, nesta competência, ponderar ou deixar de ponderar sobre a eventual natureza criminosa do comportamento de um primeiro ministro se tal comportamento não for justificável por superior interesse do Estado. Ou seja, no limite, a ordem de Noronha do Nascimento, secundada por Pinto Monteiro, de mandar destruir as gravações comprometedoras de José Sócrates no caso "Face Oculta", são inconstitucionais e por conseguinte devem ser rejeitadas por quem tem a responsabilidade de uma investigação criminal como a que já obviamente correlaciona Armando Vara e José Sócrates numa sucessão de telefonemas que presumivelmente indiciam a prática de crimes puníveis com pena de prisão até oito anos!

Tudo o resto, nomeadamente as fugas de informação organizadas a partir de Lisboa, por quem quer que seja (e neste caso só se me afigura ter ocorrido ao mais alto nível), é irrelevante do ponto de vista da forma e substância de um processo que só poderá levar à destituição de José Sócrates do cargo que inopinadamente ocupa.

Ninguém, salvo meia dúzia de almas penadas arregimentadas dentro do PS por Jorge Coelho, votou nesta criatura indecorosa. Poucos votaram, aliás, uma segunda vez, neste PS. E o que temos agora é um desgoverno nado-morto, cada vez mais semelhante ao abortado desgoverno de Santana Lopes e Paulo Portas. Não vejo como se possa atrasar o inevitável golpe de misericórdia que mais cedo ou mais tarde abreviará a estuporada semivida desta falsa maioria.

José Sócrates é um boneco criado por Edite Estrela e Jorge Coelho, tendo servido lindamente para impedir que o inesperado vazio criado por António Guterres (apavorado com a dimensão do polvo parido pela tríade de Macau que o levara ao poder) fosse inadvertidamente preenchido por Ferro Rodrigues, entretanto (oportunamente?) envolvido no processo judicial sobre a rede de pedofilia tecida em volta da Casa Pia.

Com o Pinóquio que nos tem levado triunfalmente à ruína, a tríade de Macau pensou que o PS se tornaria, enfim, um partido orgânico da nova democracia liberal, embrenhado-se nas principais estruturas da nossa eterna burguesia indigente e palaciana: construção civil e obras públicas, rendas de monopólios, sector financeiro e sistemas de comunicação. Daí até lançar um plano de assalto aos principais concursos públicos (estradas, pontes, ferrovia, barragens e aeroportos), sector das comunicações (Portugal Telecom, Diário de Notícias, TSF, TVI, SIC/Expresso, etc.) e banca (Caixa Geral de Depósitos, primeiro; BCP, depois), foi um ápice.

Visando supostamente impedir a entrega da banca nacional às garras de Madrid ou de Barcelona (argumento que à época venceu junto de vários patriotas sinceros), formou-se um verdadeiro sindicato clandestino de interesses com o objectivo de tomar de assalto o incapaz BCP. A Caixa Geral de Depósitos, directamente e por interpostos agentes (Manuel Fino, Joe Berardo, Teixeira Duarte, etc.) foi o principal actor desta operação, estando então aos comandos da mesma os hoje presidente e vice-presidente (suspenso, mas bem pago) do BCP, Carlos Santos Ferreira e Armando Vara! Palavras para quê?! São artistas portugueses e adoram caviar! Não esperem, todavia, que angolanos e chineses, depois de tanta merda, vos acudam!!

De tudo isto fomos escrevendo neste blogue inúmeras vezes. O dique onde toda esta porcaria se acumulou acaba de rebentar e não vejo como remediar os estragos sem ir ao miolo do problema, isto é, à tríade de Macau, cuja cabeça é preciso cortar rente, antes que todo o organismo constitucional da frágil democracia portuguesa apodreça atacado pelas finas metástases do cancro da corrupção instalada.

Só vejo uma saída expedita e publicamente aceitável para esta crise: Cavaco Silva deve dar a Sócrates o mesmo destino que Sampaio deu a Santana Lopes. Nem mais, nem menos. Com cortesia, mas sem hesitar, pois já hesitou demais!

Prolongar a agonia do socratintismo deixou de ser uma originalidade lusitana! A partir do processo "Face Oculta", pactuar com o monstro criado pela tríade de Macau será o mesmo que entregar a democracia à imprevisibilidade de uma guerra civil constitucional que o prolongado declínio económico em que estamos e iremos continuar por mais três, cinco, dez anos..., poderá a qualquer momento (e não faltarão oportunidades propiciadas pela profunda crise mundial que não cessa de revelar sinais preocupantes) fazer degenerar num colapso total do regime. É isto que V. Ex.ª, Senhor Presidente da República, quer?


OAM 650 16-11-2009 23:43