segunda-feira, abril 14, 2008

Fome


Ampliar o mapa

Os motins da fome

Os cereais, quer dizer, o pão e o arroz, entre outros alimentos básicos, entraram numa espiral inflacionista extremamente perigosa. Estas são algumas das causas evidentes:
  • crescimento da população mundial (estima-se que a Terra terá que suportar 9,5 mil milhões de seres humanos em 2050);
  • melhoria das condições de vida e aumento exponencial do consumo de matérias primas, bases alimentares e alimentos derivados ricos em proteínas (aves, suínos e bovinos) nalguns países particularmente populosos (China, India, Indonésia, Brasil, Paquistão, Rússia, Nigéria, Filipinas, Vietnam...);
  • transferência do uso dos solos agrícolas e florestais e respectivas produções alimentares e cinegéticas, para a produção de biocombustíveis (os preços dos óleos de soja e milho estão cada vez mais perto dos preços do azeite!);
  • diminuição dramática dos solos disponíveis para a produção agrícola e florestal provocada pela sua prolongada sobre-utilização (que a produção de biocombustíveis não fará senão acelerar);
  • alterações climáticas e aquecimento global;
  • pico petrolífero e consequente encarecimento dos preços dos combustíveis, bem como dos derivados do petróleo e do gás natural: adubos sintéticos, remédios, plásticos, tintas e vernizes, etc...
  • globalização e consequente destruição das barreiras alfandegárias, assente num modelo de mobilidade intensiva de pessoas e mercadorias, a prazo insustentável;
  • especulação desenfreada dos preços da alimentação a partir dos mercados bolsistas, os quais procuram compensar nesta nova deriva criminosa o colapso catastrófico do grande casino de Wall Street e das dezenas de réplicas existentes pelo mundo.
É preciso confrontar urgentemente José Sócrates e o seu diletante ministro da agricultura sobre estas questões. Nada fizeram relativamente aos OGMs, como nada disseram sobre a legitimidade do cultivo de milho, da beterraba e de outras espécies vegetais para alimentar o nosso irracional e agora insustentável sistema de transportes. Pelo contrário, o irresponsável poder político que tomou as rédeas deste país, anuncia mais mil quilómetros de autoestradas, aeroportos intercontinentais e novas travessias do Tejo, sem se sequer se colocar a dúvida sobre o efectivo interesse e sustentabilidade de tais investimentos. Nem sequer pergunta quem irá pagar no futuro as dívidas que alegremente se predispõe a contrair. As Parcerias Público Privadas são (é o Tribunal de Contas que o diz) um embuste financeiro. Dele lucram apenas a simbiose oportunista e cada vez mais corrupta entre políticos indesejáveis e industriais preguiçosos, sem imaginação, egoístas e no fundamental subsídio-dependentes. E quem os alimenta, ou seja quem lhes pagas os subsídios (seja sob a forma de portagens, seja sob a forma de transferências forçadas do Orçamento de Estado, seja sob a forma de taxas e impostos municipais agravados -- que o digam as populações onde plantaram estádios de futebol hoje às moscas, mas com encargos financeiros para toda uma geração!) somos todos nós, quer dizer os pobres dos contribuintes. É preciso dizer basta a esta canalha!

OAM 345 15-04-2008, 19:20

sexta-feira, abril 11, 2008

China 3

For Those Who Love Tibet!

A perseguição histérica da tocha olímpica por parte de alguns hipócritas ofendidos com a repressão de estado chinesa contra separatistas tibetanos violentos, a que temos assistido diariamente nos noticiários televisivos, é bem o exemplo de duas coisas: a hipersensibilidade urbana face ao espectáculo mediático da morte, e a facilidade com que os conglomerados globais da informação manipulam e estimulam movimentos de opinião ideologicamente bem intencionados, mas invariavelmente desinformados. No caso, escasseiam os protestos contra a transformação da Palestina num campo de extermínio programado pela mão assassina do Sionismo internacional, mas sobra a ira hipócrita de quem não percebe que o incidente tibetano às portas dos Jogos Olímpicos apenas reflecte o icebergue da longa e complexa manobra divisionista estratégica levada a cabo pelos Estados Unidos no sentido de balcanizar a China, tal como o fizeram no passado, continuam a fazê-lo na antiga Jugoslávia (e na Europa em geral!), e pretendem repetir, sem a menor vergonha, na nova e orgulhosa República Popular da China. Mas como nem a contínua desvalorização do dólar impede o agravamento imparável do défice comercial americano, o mais provável é que a dita não surta os efeitos esperados e se volte contra os seus progenitores e padrinhos.

O anúncio publicado no México pela Absolut Vodka -- um mapa da América onde as regiões roubadas ao território da antiga colónia espanhola, na sequência da Guerra Hispano-Americana, regressam à pátria -- é seguramente uma boa ilustração da hipocrisia americana e anglo-saxónica em geral. O Tibete nunca foi independente e acolhe-se à protecção da China como região autónoma há muitas centenas de anos. O Sul dos EUA, pelo contrário, foi militarmente sequestrado em 1898, ou seja, há precisamente 110 anos! Que tal devolvê-lo ao México?! E que tal, para variar, deixar a ilha de Cuba, por fim, em paz? Sabem, por acaso, quem esteve detrás dos movimentos independentistas da Madeira e dos Açores? E sabem, por acaso, quem ainda anda por lá a meter pausinhos na engrenagem? Adivinhem enquanto eu vou dar um passeio pela praia de Carcavelos!

PS: Os recentes ataques de Sarkozy à China, depois de esta ter comprado 160 Airbus há uns meses atrás, teve entretanto uma inesperada e sibilina resposta durante o leilão da imagem nua da primeira dama francesa. A famosa fotografia referida no post anterior foi rematada por 91 mil dólares por um desconhecido coleccionador... chinês.


TIBETE, TIBETE! -- A MONTAGEM DE UMA CRISE

15-04-2008. BEIJING - Perhaps the Dalai Lama, king-god of Tibet, head of Lamaist Buddhism and icon of the present anti-Chinese protests, could have something to learn from Italy. Italy is the only country to have faced a problem similar to that of China with the Dalai Lama: of the occupation of a territory previously governed by a religious monarch. In the case of Italy, it was the pope, in the case of China, it is the Dalai Lama. --
Italian lesson for the Dalai Lama, By Francesco Sisci in Asia Times.

13-04-2008 13:46. Um milhão cento e noventa sete mil quatrocentos e sessenta nove mortos depois da invasão ilegal e assassina do Iraque por uma aliança militar liderada pelos Estados Unidos, e mais de três mil civis mortos depois da guerra e ocupação NATO do Afeganistão, assistimos impávidos e serenos a uma intolerável manobra de boicote dos Jogos Olímpicos por causa da repressão chinesa sobre uma acção de guerrilha urbana desencadeada por movimentos separatistas tibetanos, com o apoio camuflado e hipócrita dum tão sorridente quanto patético Dalai Lama. A verdade é que americanos, britânicos (e agora também o garnizé gaulês e a atarantada chanceler alemã) resolveram aproveitar a oportunidade mediática dos Jogos Olímpicos para desencadear uma imensa e complexa manobra de desestabilização da China, visando potenciar a sua "balcanização" e, em última análise, comprometer ou pelo menos atrasar o ritmo de crescimento da emergente potência económica mundial. Os Estados Unidos, a Europa e porventura o Japão (os famosos G7) estão à beira do colapso financeiro, sem capacidade de resposta industrial à altura da China e da India, perdendo dia a dia o controlo que há um século exercem sobre os principais recursos energéticos, minerais e alimentares mundiais, e sem qualquer autoridade moral para pretenderem continuar a dar ordens ao resto do mundo.

O trabalho barato, os recursos naturais, o ouro e o dinheiro fugiram ao controlo do G7, e este é o verdadeiro motivo para a provocação em larga escala montada contra a China, depois do que fizeram contra a Rússia. Estamos à beira de uma guerra mundial? E a espoleta da mesma chama-se Irão? Talvez não. Os Estados Unidos e a Europa, na realidade, mal podem com uma gata pelo rabo! Precisam ambos, isso sim, de ganhar tempo. Já perceberam que o Irão é a chave do Médio Oriente e que, portanto, haverá que contar com a sua força e sabedoria. O problema agora é outro e chama-se China! A provocação em volta dos Jogos Olímpicos é o primeiro sinal de histeria e grande incomodidade ocidental que aí vem. Saberemos lidar com a nova China, que acorda de um sono profundo de 600 anos, recorrendo às lições da História, ou vamos cair nas contradições grosseiras da sinofoba americana Nancy Pelosi?

"Pelosi, a California Democrat, was elected to the House of Representatives in 1987. Four years after the election, massive ethnic clashes broke out in Los Angeles and some other cities in California. At that time, the Federal and state governments moved in 10,000 security forces from the National Guard, the army and the navy to restore order. Thousands of people were arrested. However, She turned a blind eye to the violence in a state where she came from, without moving any motion on the Los Angeles riots. Where was her "moral authority"? -- China View, On hypocrisy of Pelosi's double standards.

Facts and Figures of Tibetan development.

10-04-2008 14:52. "O Parlamento Europeu defendeu hoje que a UE deve encontrar uma posição comum sobre a participação dos Chefes de Estado e de Governo e do Alto Representante da UE na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, prevendo a possibilidade de estes não participarem no caso de não ser reatado o diálogo entre as autoridades chinesas e o Dalai Lama. Na resolução comum aprovada em plenário, os eurodeputados apelam ainda ao Conselho para que nomeie um enviado especial para as questões tibetanas."

... "O Parlamento Europeu "louva o facto de Sua Santidade o Dalai Lama ter apelado ao povo tibetano para protestar de forma não violenta e rejeitado apelos à independência do Tibete", tendo, em vez disso, proposto uma "via intermédia de genuína autonomia cultural e política e de liberdade religiosa". Na resolução, o Parlamento reafirma também "o seu apego à integridade territorial da China"." -- Serviço de Imprensa do Parlamento Europeu.

10-04-2008 01:58:44. ... "Jiang also reiterated that the central government is ready to continue contacts and talks with the Dalai Lama on the condition that he sincerely renounces "Tibet independence" position and stops activities of splitting China, especially the inciting of violent crimes in Tibet and other places and the disruption of Beijing Olympics." -- European Parliament resolution "rudely" interferes into China's internal affairs, China View.

28-03-2008. The unravelling British campaign to break up China, as an opening shot in a Eurasian war, pitting Europe and the United States against China, India, and Russia, poses a grave danger--particularly as the Bush Administration, leading Congressional Democrats like Speaker of the House Nancy Pelosi (D-Calif.), and most European governments, fall in, lock-step, behind the British schemes, out of ignorance or worse. -- British Launch 'Great Eurasian War' Drive, by Jeffrey Steinberg.

OAM 344 11-04-2008, 17:46 (última actualização: 15-04-2008 12:47)

Carla Bruni



Michel Comte, "Carla Bruni", 1993. Esta fotografia da actual primeira dama
francesa foi vendida ontem, 10 de Abril, num leilão da Christie's em Nova Iorque por
91 mil dólares.


A rainha da França vai nua, e o reizinho também!

Olhando para imagem artística da modelo Carla Bruni não podemos deixar de pensar na magreza que actualmente aflige a economia francesa. Apesar do carácter histriónico do garnisé Sarkozy e das suas desconstrutivistas iniciativas estratégicas, que têm vindo a pôr os cabelos em pé dos principais tanques cognitivos franceses (ler nomeadamente o Laboratoire Européen d'Anticipation Politique LEAP/Europe 2020), a verdade é que a importância efectiva da França está a ser literalmente devorada pela sua dívida pública, e por conseguinte, a recente e catastrófica aproximação da França aos crápulas da Casa Branca e ao poodle inglês que dá pelo nome de Tony Blair, nada mais fazem do que levar-nos a esperar o pior. E o pior, segundo Franck Biancheri (colega de Pierre Gonod), cujo grupo de análise prospectiva, Global Europe Anticipation Bulletin, previu em Fevereiro de 2006 o colapso sistémico do Capitalismo, de facto em curso desde que rebentou a bolha do Subprime imobiliário, é a grave crise social que se aproxima e atingirá muito provavelmente o regime gaulês durante a próxima presidência europeia, entre Junho e o fim deste ano.

Nunca a V República francesa viu um seu presidente cair nas sondagens tão cedo e tão fundo como vem sucedendo com o mediático Sarkozy, sempre apimentado pelo fulgurante íman erótico que arrasta pela mão: a ex-modelo italiana Carla Bruni. O cocktail é explosivo. Por um lado, o garnisé meio-francês que comanda os destinos da França, anda perdido de amores pelos sionistas de Israel, pelos falcões de Washington e pelos cadáveres da monarquia inglesa, ameaçando de caminho o Irão e a China -- imagine-se! Depois, para disfarçar os grandes fiascos da banca francesa e a chaga do endividamento, nomeadamente da sua pesada e ineficiente burocracia, deixa-se cair na alcova da imprensa cor-de-rosa, procurando assim distrair-nos, e sobretudo distrair os franceses, das suas pesadas responsabilidades nacionais, europeias e internacionais.

A crise que incendiará de novo as principais cidades francesas será sobretudo uma crise do bloqueamento institucional do país, isto é, uma crise de regime, que no caso português deriva principalmente do bloqueamento do nosso sistema partidário, e em França decorre da impossibilidade de apear um presidente recém eleito, mas que perdeu, não apenas a confiança dos seus eleitores, não apenas o respeito institucional que os franceses naturalmente depositam num presidente democraticamente escolhido, mas sobretudo das forças político-partidárias que o colocaram onde está. Estas últimas, de facto, enganaram-se, e não sabem o que fazer! Daí o perigo iminente que espreita o futuro imediato de um dos pilares fundamentais da União Europeia. A imagem de Carla Bruni agora leiloada foi produzida na década de 90, num período em que a anorexia se tornara uma moda humilhante das sociedades afluentes. Trazê-la de novo à ribalta mediática, não pode deixar de ser interpretado como um verdadeiro exercício de humor negro!

Carla Bruni (página pessoal)


OAM 343 11-04-2008, 13:30

sexta-feira, abril 04, 2008

Emigrantes

O Cantinho de Portugal 


O filho de um amigo meu fez o curso de gestão do ISCTE. Fê-lo com brilho e depois de licenciar-se foi parar a um banco sediado no nosso país, onde trabalhou três anos. O dito banco é uma instituição antiga, tecnologicamente retardada, e pelos vistos em apuros desde que a crise do Subprime descambou, como há muito se sabia que iria descambar, na maior crise sistémica do Capitalismo desde o colapso de 1929. Entretanto o jovem economista que ambiciona trabalhar na área de consultoria financeira decidiu abandonar o emprego sem grandes horizontes que aceitara como primeira oportunidade pós-curso e foi até Madrid para estudar e concluir um master naquela que é uma das três business schools mais prestigiadas do mundo. O master é caríssimo. Mas tem uma vantagem para aqueles que conseguem chegar ao fim: os bons empregos começam a aparecer! Menos de seis meses depois de finalizar a pós-graduação, o Mário recebe em Lisboa o convite de uma prestigiada casa financeira da City de Londres para uma entrevista. A easyJet levou-o por bom preço à capital inglesa e a reunião teve lugar no sítio, hora e minuto previamente acordados. Gostaram do rapaz de 29 anos e ele lá foi de armas e bagagens para a capital do reino de sua majestade britânica. Façam as contas e pensem no dinheiro que Portugal deitou à rua para fornecer ao Reino Unido um jovem quadro talentoso e altamente qualificado como o Mário. Ou se preferirem pensem, como pensam os abutres que actualmente limpam a carne e os ossos deste país, no dinheirinho que o jovem português previsivelmente enviará para Portugal, ajudando a aliviar a nossa balança de transacções correntes. A história é recente e ilustra bem o artigo publicado no semanário Sol da semana passada.


Panorama desolador

O artigo do Sol que me chegou ao computador através do boletim A Verdade, desenvolve um dos sintomas mais evidentes da nossa decadência, que a classe política tem vindo a mascarar há anos sob o pretexto de querer parecer moderna e executiva. A emigração portuguesa já ultrapassa a da década de 60 e vai piorar! Para além da Europa, Angola e a Austrália são dois dos novos refúgios para um povo sem lei, abandonado à ignorância, à desorganização, ao desemprego, ao esbulho fiscal dos haveres próprios (por vezes penosamente acumulados ao longo de gerações), à exploração e à violência subterrânea por uma elite corrupta e sem vergonha. A SEDES tem razão! Portugal pode muito bem estar à beira de uma crise social sem precedentes. Basta esperar pelas ondas de choque do colapso da América, do fim do milagre espanhol (os sindicatos do país vizinho já começaram a denunciar o dumping social e laboral promovido na última cimeira ibérica a propósito da construção das linhas de Alta Velocidade), e do descalabro social para que a França caminha vertiginosamente (o próximo Outono será escaldante). Os números são estes:

1) Por cada 15 imigrantes (africanos, asiáticos, brasileiros, ucranianos, etc.) que entram no nosso país, saem 100 portugueses para o estrangeiro.

2) Desde 2003 que o INE não produz estatísticas sobre os movimentos migratórios.

3) Portugal é o 2º país do mundo com maior percentagem de população emigrada, com 13,75% da sua população no estrangeiro.

4) Estima-se em 500 000 o número de portugueses emigrantes no Reino Unido.

5) Os emigrantes estão a enviar para os bancos portugueses 7,3 milhões de euros/dia, ou seja, 2600 milhões de euros/ano. Mais do que uma linha TGV Lisboa-Madrid, ou Porto-Lisboa, e pouco menos do que um novo aeroporto intercontinental, por ano!

Desde 2003 que o Instituto Nacional de Estatística (INE) não tem dados oficiais sobre a emigração portuguesa! O objectivo é claro e já foi denunciado há mais de um ano nas páginas deste blog: os burocratas (funcionários públicos) que constituem a maioria da nossa classe político-partidária estão bem, recomendam-se e preferem continuar a chupar o suor do país, de óculos escuros -- para não verem nem deixar ver nada de realmente importante.


Pânico e tráfico de influências ao serviço duma burguesia betoneira desmiolada


Enquanto este fenómeno de enorme gravidade ocorre perante a passividade bovina dos nossos deputados e as gargalhadas gastronómicas dos nossos políticos bem instalados na vida ou a caminho disso, a crise económica mundial e o colapso do sector financeiro internacional continuarão a fazer enormes estragos sociais e políticos por esse mundo fora, incluindo, claro está, o cantinho lusitano. Os OCS estão a esconder tudo isto dos contribuintes e dos incautos subscritores de PPRs, acções em mercados de futuros e filatelias e donabranquices semelhantes, triturando a pertinência informativa com soundbytes e sequências estroboscópicas de flashes. No momento em que mais falta fazem políticos a sério, temos um governo, a que estupidamente demos uma maioria absoluta (nunca mais!), às ordens da banca e das construtoras imobiliárias. O PS, coitado, foi capturado por uma pandilha de falsos socialistas, capitaneada por um insidioso ex-adorador de Mao e por um brilhante ex-militante da Fraternidade Operária! O protagonista que agora leva o pau desta tríade cozinhada em Macau não passa, como já todos percebemos, dum papagaio sedutor e dum maratonista de pacotilha, incapaz de alinhar dois pensamentos seguidos, mas exímio na recitação e no teleponto! A crise, porém, que despediu o anterior Roberto da tríade (pobre Guterres!), irá atingir fatalmente o engenheiro-arquitecto suburbano que actualmente promove os fogos de artifício da Ota e do Barreiro. É só fumaça!


A tríade de Macau

Eu posso estar completamente equivocado, mas o organograma da tríade de Macau não deixa de me apoquentar. A hipótese em estudo é esta: a tríade de Macau deglutiu o PS e galopa sem freio pelo País fora! Montemos pacientemente o puzzle.....

José Sócrates - espécie de pinóquio da tríade

(os que passaram por Macau)

  • Stanley Ho -- o amigo chinês está a arder na Alta de Lisboa e não gosta de perder, nem a feijões!
  • António Vitorino -- presidente da assembleia geral da Brisa e estratega teórico da tríade.
  • Jorge Coelho -- obreiro do actual aparelho PS, Conselheiro de Estado, recém anunciado CEO da Mota-Engil e estratega operacional da tríade.
  • Alberto Costa -- actual ministro da justiça (não ouviremos mais falar de Fátima Felgueiras, nem da Casa Pia...) e operacional da tríade.
  • Francisco Murteira Nabo -- ex-CEO da Portugal Telecom e da GALP, actual bastonário da Ordem dos Economistas e Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, pode ser considerado um fiel jardineiro da tríade.
  • Carlos Santos Ferreira - presidente do BCP e operacional da tríade.
  • Vitalino Canas -- porta-voz canino da tríade e do governo (entidade subsidiária da tríade).
  • Maria Belém Roseira -- além de ser uma frequentadora de fim-de-ano do Casino do Estoril (Stanley Ho) e uma das simpáticas opinocratas da tríade, desconheço outras funções operacionais.

(os que não passaram por Macau, pelo menos na mesma altura)

  • Armando Vara -- administrador do BCP, alto funcionário da Caixa Geral de Depósitos e operacional da tríade.
  • José Penedos -- presidente da REN e precursor do "abandona a escada que te ajudou a subir".
  • Manuel Pinho -- delegado do Grupo BES no governo socratintas (desconhecem-se por enquanto se existem ou não alianças entre a tríade de Macau e os gabirus do BES. Mas vamos sabê-lo assim que os meandros da operação de aumento de capital do BCP aflorem à superfície.)
  • Edite Estrela -- baby-siter da tríade.
  • António Nunes -- inspector-geral da ASAE, fumador de charutos oferecidos e comensal dos casinos de Stanley Ho.

Uma interpretação possível dos recentes movimentos salva-vidas dos protagonistas desta tríade é a presciência que terão do fim do actual estado de coisas na arena partidária. Eles pressentem que, tanta exigência de transparência, tanta inquietação social, tanta irritação intelectual, e a universal falta de liquidez que acometeu os cofres bancários na sequência do maremoto financeiro em curso, não auguram nada de bom. E por conseguinte, o melhor é mesmo abandonaram o barco que os trouxe até aqui, mas onde não querem naufragar! Resta-lhes todavia um problema: não há almoços grátis para ninguém! E por conseguinte, onde estão ou querem estar, terão que saldar as dívidas pendentes como puderem. E ainda saber se quem ficou fora do Titanic e tirita na Jangada de Medusa, e são a maioria, não lhes cortará o passo do caminho escandaloso que elegeram.


Post scripta
(11-04-2008 20:21) -- Francisco Louçã levantou hoje à tarde no parlamento a questão do activismo político de Jorge Coelho nas vésperas da sua migração (pessoal ou estratégica, sabê-lo-emos no futuro) para a Mota-Engil. Ainda bem que o fez. Por outro lado, Jorge Coelho anunciou aos noticiários televisivos das 20:00 a sua saída do Conselho de Estado. Não há dúvida que a blogosfera está na ordem do dia!
(11-04-2008 00:01) -- O caso Jorge Coelho, anunciado CEO da Mota-Engil, continua a fazer ondas no Portugal dos Pequeninos. E que ondas! A defesa do indefensável tem-se resumido a um único argumento: o homem teria saído da política, coitado, há oito anos! Há oito anos?!! Mas não foi ele quem colocou o Socratintas onde agora está? Mas não foi ele (ver vídeo) quem organizou há semanas uma carneirada em prol do mesmo inenarrável Socratintas, no Porto, como se ainda estivesse no PREC?! Mas não é este homem um dos Conselheiros de Estado eleitos pelo PS?!!! Nenhum jornalista consegue reparar nisto?

Outro dos argumentos cínicos sobre a nova missão de Jorge Coelho refere-se à sua coragem. Isso mesmo, à sua coragem! Por fazer às claras o que outros fazem atrás dos biombos das salas clandestinas de consultoria, gabinetes de estudos e grandes escritórios de advogados. Esquecem-se, os cínicos, que não está em causa nesta saudada e súbita forma de exibicionismo político qualquer acto de coragem, mas a simples adaptação aos tempos que aí vêm, reflectindo os ventos que sopram da Comissão Europeia e da sua nova European Transparency Initiative. Sobre esta necessidade de regular o desenfreado lobbying que grassa nos prostíbulos de Bruxelas, convem ler, por oportuna, a carta dirigida pela Alliance for Lobbying Transparency and Ethics Regulation (ALTER-EU), no passado dia 13 de Fevereiro, ao nosso querido
José Manuel Durão Barroso, sob o título oportuno de Implementation of European Comission lobbying register. Registem-se os interesses, regulamente-se a cunha e criem-se observatórios electrónicos instantâneos sobre esta velha actividade quanto antes, e deixemos de fazer figuras tristes. Por uma questão de democracia!
OAM 342 04-04-2008, 21:39 (actualizações: 11-04-2008 00:01; 20:21)

segunda-feira, março 31, 2008

Zeitgeist

Horus versus Jesus
Hórus versus Jesus, um conto astrológico muito antigo, que se repete ao longo
da história das religiões.


Zeitgeist (versão legendada em português)
Duas horas alucinantes sobre mitos e especulações

Um vídeo produzido por Peter Joseph (2007/2008)

Antes de voltar aos temas actuais do país (Portugal) e do mundo (crise sistémica do capitalismo e implosão da economia americana em particular) recomendo vivamente este excepcional documento de agit-prop sobre alguns mitos antigos e recentes da boa consciência ocidental.

O primeiro mito desmontado no vídeo de Peter Joseph, é o da narrativa bíblica que estrutura a ideologia cristã, mostrando como uma ficção insistentemente repetida ao longo dos séculos acabou por ser imbuída nos níveis mais profundos da pseudo-consciência ocidental cristianizada.

Esta primeira parte da desmontagem ideológica organizada por Zeitgeist (versão legendada em português) deixa-nos uma impressão duradoura sobre como e até que ponto se pode fabricar e inocular socialmente uma fantasia narrativa -- a adaptação do mito de Hórus à pseudo-história de Jesus -- ao longo de séculos, e sobre tal manifesta mistificação erguer sociedades, impor submissões humilhantes, infligir os maiores sofrimentos humanos e eleger o recurso à guerra como ultima ratio da perpetuação e expansão do poder e da exploração do homem pelo homem.

Na segunda parte do vídeo é uma vez mais passada em revista a grande conspiração que conduziu a América e o mundo ao embuste do 11 de Setembro, mostrando-se como, sobre uma mentira matraqueada até à exaustão, se tem vindo a limitar as liberdades democráticas em todo o planeta, sob o pretexto de uma guerra global contra o terrorismo. O único terrorismo que efectivamente tem existido é o terrorismo de Estado, de que o terrorismo islâmico mais não é do que uma manifestação orquestrada. Nas Operações Especiais e na Guerra Assimétrica em curso, de que o terrorismo é a aparência psicológica instrumental, é cada vez mais aparente o papel sórdido desempenhado por países como os EUA, Israel e o Reino Unido. Basta contar as vítimas causadas pelos serviços secretos e forças militares destes países no Afeganistão, no Iraque, no Líbamo e na Palestina, nos últimos dez anos, para percebermos até onde vai o embuste do perigo terrorista oriundo da fantasmática Al Qaeda, e como esta criminosa cortina de fumo tem servido sobretudo para preparar psicologicamente o Ocidente para a probabilidade elevada de uma III Guerra Mundial antes do final da primeira década do século 21, no fundamental dirigida contra a China e a Rússia, e tendo por objectivo prioritário o controlo hegemónico dos recursos energéticos e biológicos mundiais.

Na terceira parte de Zeitgeist (versão legendada em português), Peter Joseph mostra como um grupo reduzido de grupos financeiros controlam e manipulam completamente as economias nacionais e acabam por impôr a guerra como o mais lucrativo dos negócios até hoje inventado.

Cada um é livre de verificar os dados invocados na denúncia das conspirações deste documentário activista. Mas de uma coisa estou certo: a percepção que temos de alguns mitos e do que os corrompidos meios de comunicação social dominantes nos impingem diariamente irá mudar de uma vez por todas.

Seja para aceitar como boas, ou para criticar, as teorias da conspiração apresentadas em Zeitgeist (versão legendada em português), vale bem a pena ver este vídeo durante duas horas de alucinantes alegações.

Em defesa de 'Zeitgeist, the Movie', nomeadamente respondendo às críticas de que tem sido alvo (ver artigo na Wikipedia), aqui vai a defesa de Peter Joseph:

Welcome to the Official Site for 'Zeitgeist, the Movie.' Since the emergence of the work in late June, 2007, many other websites, organizations and posts have fallaciously claimed connections to the work. Please note that 'Zeitgeist', along with this site, has no direct affiliation with anything else online.

Zeitgeist, produced by Peter Joseph, was created as a nonprofit filmic expression to inspire people to start looking at the world from a more critical perspective and to understand that very often things are not what the population at large think they are. The information in Zeitgeist was established over a year long period of research and the current Source page on this site lists the basic sources used / referenced and the developing Interactive Transcript includes exact source references and further information. A Q & A page is also being developed.

Now, it's important to point out that there is a tendency to simply disbelieve things that are counter to our understanding, without the necessary research performed. For example, some information contained in Part 1 and Part 3, specifically, is not obtained by simple keyword searches on the Internet. You have to dig deeper. For instance, very often people who look up "Horus" or "The Federal Reserve" on the Internet draw their conclusions from very general or biased sources. Online encyclopedias or text book Encyclopedias often do not contain the information contained in Zeitgeist. However, if one takes the time to read the sources provided, they will find that what is being presented is based on documented evidence. Non-Profit DVDs / Free Video Downloads are available through the Downloads page.

That being said, It is my hope that people will not take what is said in the film as the truth, but find out for themselves, for truth is not told, it is realized.


OAM 341 31-03-2008, 02:49

domingo, março 23, 2008

China 2

Bjork canta Declare Independence, em Xangai
Bjork canta Declare Independence, em Xangai.

Tibete! Tibete! pode comprometer estreia chinesa nas Olimpíadas deste verão

Björk: "I have been asked by many for a statement after dedicating my song 'Declare Independence' to both Kosovo and Tibet on different occasions. I would like to put importance on that I am not a politician, I am first and last a musician and as such I feel my duty to try to express the whole range of human emotions. The urge for declaring independence is just one of them but an important one we all feel at some times in our lives. This song was written more with the personal in mind but the fact that it has translated to its broadest meaning, the struggle of a suppressed nation, gives me much pleasure. I would like to wish all individuals and nations good luck in their battle for independence. Justice!" -- in Pitchfork.


Uma semana antes dos acontecimentos violentos que voltaram a colocar na ordem do dia e das preocupações chinesas a questão da independência do Tibete, a cantora islandesa Björk encerrou o seu espectáculo em Xangai com a canção Declare Independence, originalmente dedicada à Gronelândia e às Ilhas Faroé, mas que em espectáculos subsequentes Björk viria a dedicar ao Kosovo e, agora, ao Tibete.

Apesar de o sentido declarado da canção corresponder ao sentimento independentista em sentido lato, a verdade é que as circunstâncias políticas actuais têm permitido localizar esta particular performance artística em terrenos imediatamente explosivos da política mundial. Björk não tem obviamente consciência das implicações geo-estratégicas das suas declarações. Mas a verdade é que toca num ponto sensível do problema ideológico e político das independências nacionais.

Certos povos, regiões e nações adquirem por vezes sentimentos de pertença territorial e comunidade ao longo de séculos de maturação psíquica e sociológica cujo horizonte de realização tende inevitavelmente para o desejo de independência. Se a oportunidade surge, geralmente aproveitam-na para se libertarem de tutelas e domínios que aprenderam historicamente a repudiar. As derrotas de tais ambições no campo da batalha política, por mais trágicas que sejam, não são geralmente suficientes para matar os sonhos longamente amadurecidos. Mas, por outro lado, questões territoriais objectivas acabam frequentemente por reconduzir tais sentimentos profundos a uniões políticas, de jure e de facto, fora das quais a sobrevivência dos povos se vê constantemente ameaçada -- seja pela pequenez do território, seja pela frágil demografia, seja pela escassez de recursos, seja ainda pelas ameaças externas de outros povos cuja vitalidade e necessidades de expansão frequentemente põem em causa aquilo que no dia a dia dos povos frequentemente parece ser uma imutabilidade histórica e cultural.

Num certo sentido podemos dizer que a União Europeia, ao procurar ser uma Europa das regiões, pretende atingir esse difícil ponto de equilíbrio entre o sentimento de pertença nacional e a necessidade absoluta de integrar tais sentimentos em unidades cosmopolitas com uma amplitude territorial, económica e cultural duradouras e sustentáveis. A experiência terrível das guerras europeias nacionalistas é um aviso que não devemos subestimar, mesmo ouvindo com atenção e entusiasmo a voz dos poetas cantando as insondáveis contradições da alma humana.

Post scriptum -- 23-03-2008. Escutei ontem na CNN um argumento bastante cínico sobre a improbabilidade de um boicote ocidental, ou mesmo de actos simbólicos inesperados por parte dos atletas. As cláusulas minuciosas dos contratos celebrados entre os patrocinadores das várias delegações e atletas incluem invariavelmente interdições explícitas relativamente a actos extra-desportivos que possam ofender o anfitrião, ou simplesmente desviar o "ideal olímpico" para temas estranhos e inoportunos como, por exemplo, as várias querelas políticas mundiais actualmente em curso. Assim se vê a força de quem realmente manda!



REFERÊNCIAS

Declare Independence! (video clip original)

Olympics Boycott Chatter Grows as Tibet Unravels: William Pesek

March 21 (Bloomberg) -- It has been a rough year so far for conventional wisdom on China.

One supposedly irrefutable truth was that China wouldn't allow stocks to plunge. Tell that to investors watching shares slump to eight-month lows. The CSI 300 index is down 25 percent this year, and it's only March.

Another is that China won't overheat. Tell that to economists analyzing what the biggest inflation increases in 11 years mean for stability in a nation of 1.3 billion people.

The latest bit of conventional wisdom to be challenged is that the Aug. 8-24 Olympics would proceed with the precision of a referee's stopwatch. Tell that to a world getting antsy about events in Tibet, which are compounding China's already festering wound from its support of the regime in Sudan, where the government is accused of aiding genocide in the Darfur region.


Björk's "Tibet, Tibet" caught on Youtube

We've been looking around all day for a video of Björk's final song Declare Independence at her Shanghai concert and here it is! [Click here for another alternative video] Björk chanted "Tibet, Tibet" not once, but thrice, before yelling out "Raise your flag" again and again in a crescendo that made the crowd completely ecstatic (presumably because half of them didn't understand what she was saying?) -- Shanghaiist.


The fallout from Björk's "Tibet" call


It looks like the news embargo on Bjork's "Tibet" incident has finally been lifted and the fallout has begun. We have not found many traces of it, however, in the Chinese mainstream media. -- Shanghaiist.


Bjork's Shanghai surprise: a cry of 'Tibet!'

Singer under fire after shouting 'Tibet! Tibet!' after performing her song Declare Independence at Shanghai concert.

The Icelandic singer initially dedicated Declare independence to Greenland
and the Faroe Islands, which still have formal links to Denmark. The video for the song shows her in clothing bearing their flags. Its lyrics include: "Don't let them do that to you. Raise your flag!"

While performing in Japan last month, she dedicated the song to Kosovo. Bjork also played at several fundraising concerts supporting Tibetan independence in the US in the 1990s. -- Guardian.


China posts wanted list for Tibet

Chinese authorities have issued a list of 21 people wanted for their alleged role in anti-China riots in the Tibetan city of Lhasa last week. -- BBC News.



OAM 340 23-03-2008, 02:59

sábado, março 22, 2008

Portugal 26



A ruína de um paradigma escolar

21-03-2008. O bullying, a violência na escola que atingia crianças e jovens, está agora a aterrorizar os professores, afirmou hoje Maria Beatriz Pereira, investigadora e autora de várias obras sobre a violência escolar.

"Os professores são as novas vítimas do bullying", sustentou, em declarações à Lusa, a investigadora que é docente da Universidade do Minho (UM) e presidente da Comissão Directiva e Cientifica de Doutoramento em Estudos da Crianças. Embora sem números oficiais, Maria Beatriz mostra-se "muito preocupada" com a forma como o bullying, a agressão continuada e sem motivo, está a atingir os professores. -- Expresso.

Uma professora de francês da Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto, foi brutalizada, em plena aula, quando tentava tirar o telemóvel a uma aluna.
... Enquanto a professora a tentava tirar o telemóvel à estudante, os restantes alunos assistiam e riam-se da situação. Nos comentários ao vídeo no YouTube a atitude é criticada por outros alunos da escola. -- Expresso.

O vídeo da escola secundária Carolina Michaelis difundido pelo YouTube, e depois retransmitido pelas cadeias televisivas e jornais em linha, como o Expresso e o Público electrónicos entre outros, tem despertado uma enorme atenção pública, nomeadamente na blogosfera, tendo-se registado milhares de comentários em linha sobre o escandalosa reportagem do acontecimento. No rescaldo do protesto massivo dos professores portugueses contra a política educativa do actual governo "socialista", este incidente entre uma professora e uma aluna, em volta de um telemóvel, veio subitamente revelar, em formato voyeuriste, a profunda crise do sistema escolar actual.

Não é normal nem recomendável que uma professora se envolva numa disputa física com uma estudante, quando poderia e deveria dispor de recursos imateriais mais apropriados, expeditos e eficazes para atingir o desejado fim -- no caso, impedir o uso indevido do telemóvel no decorrer de uma aula. Numa palavra, não compete ao corpo docente de uma instituição de ensino policiar os seus alunos na forma que compete às polícias, mas antes aplicar e fazer cumprir comportamentos cívicos instituídos e regras disciplinares aplicáveis na instituição em concreto, segundo os procedimentos de informação, persuasão, ordenação e punição constantes dos regulamentos. Em caso de recusa, por parte da estudante, de cumprimento do pacto escolar, os professores devem recorrer aos apropriados instrumentos de denúncia, endereçando às instâncias competentes a responsabilidade de fazer cumprir as normas estabelecidas e conhecidas, ou, na sua impossibilidade, penalizar o infractor de acordo com o que esteja previsto nos regulamentos. Em suma, um professor não pode nem deve fazer justiça pelas suas próprias mãos, nem sobretudo pode confundir a sua acção pedagógica com a sua acção disciplinar. Cada uma tem as suas regras, a sua própria democracia e procedimentos regulamentares específicos. Confundir estes dois planos pode originar facilmente o desastre. Como se viu neste caso.

A sala de aula é um laboratório de democracia, e nisto é hoje diferente do que foi noutros tempos, nomeadamente quando a regra era a da ditadura, a do paternalismo discricionário e a do obscurantismo. Significa isto, por exemplo, que os professores têm que adquirir conhecimentos especializados, não apenas das disciplinas que ensinam, não apenas de cultura política democrática, não apenas das dinâmicas frenéticas urbanas pós-contemporâneas (âmbitos onde o défice é infelizmente elevadíssimo), mas também e com carácter de urgência, nos domínios cada vez mais prementes e exigentes da pedagogia comportamental, da produção sócio-cultural e da mediação de conflitos. É certamente algo mais do que se tem oferecido aos professores nos diversos estádios de preparação para as duras tarefas que enfrentam. E para deles podermos exigir uma tão grande metamorfose pedagógica, cultural e profissional, preciso será forçosamente, não apenas introduzir mecanismos de avaliação e escalonamento das competências e desempenhos, mas também proporcionar-lhes muito melhores condições económicas, sociais e institucionais de vida e trabalho.

Os modelos de aprendizagem e os conteúdos da aprendizagem terão que passar por uma mudança radical de paradigma face às emergências explosivas e simultâneas das tecnologias de informação e sobretudo das realidades aumentadas e virtuais. Sem uma conjugação de tudo isto, que é muito e não pode resolver-se com mezinhas burocráticas, nem com a perpetuação da geografia e regime dos poderes educativos dominantes, é o próprio conceito de sistema educativo que tenderá a caminhar rapidamente para o caos e a implosão. Os quase campos de concentração em que as escolas e universidades americanas se têm vindo a transformar são a este propósito um eloquente e ao mesmo tempo dramático aviso!


Post scriptum
-- 22-03-2008 12:14. O VALOR DE UM TELEMÓVEL -- Quando revejo uma e outra vez o drama capturado pelo telemóvel de um dos alunos da turma, pergunto-me: que terá levado a professora a ter perdido a paciência e o auto-controlo? Que sentido de propriedade e sobretudo de identidade une uma adolescente ao seu telemóvel, a tal ponto de a mesma perder completamente as estribeiras e entrar num transe de manifesta histeria?

É preciso conhecer três fenómenos que correm actualmente em paralelo para começar a entender o fenómeno: 1) a pulverização social incrementada pelo estado desregulado, especulativo e obsessivo do Capitalismo pós-contemporâneo; 2) a difracção da realidade vivencial causada pela explosão das famílias; 3) o aumento da realidade vivencial potenciada pela evolução muito rápida das tecnologias de comunicação hiperrealista.

O Capitalismo na sua fase declinante torna-se cada vez mais egoísta, desumano e provocador da desintegração social. Nada na sua agenda prevê a existência do humano, quanto mais a felicidade do homem! O Capitalismo declinante quer apenas uma coisa: escravos. O resto da humanidade, no que aos paraísos da riqueza diz respeito, que se dane! Ou seja, as disfunções da família, da escola, das cidades, dos governos e dos Estados, pouco lhe importa. A sua única preocupação é reunir as condições ideais para um dia destes ver-se livre, de forma expedita e relativamente indolor, de uma parte substancial da humanidade.

As famílias urbanas de hoje são cada vez mais ocorrências instáveis e anacrónicas, sendo frequentemente fruto de oportunismos de vária ordem, sem qualquer compromisso efectivo com o futuro, nem responsabilidades seriamente assumidas. Nenhum constrangimento ideológico as protege, e tudo parece conspirar contra a sua duração. Em tais circunstâncias é praticamente impossível impedir a explosão em curso dos núcleos familiares. Das famílias mono-nucleares passámos às famílias polinucleares e destas à sua imparável pulverização funcional e desligamento afectivo. A tendência imparável para chutar os filhos para a órbita da sociedade e das suas instituições educativas, extra-familiares, públicas ou privadas, revela uma dramática desresponsabilização maternal e paternal, em nome do direito ao trabalho, em nome do direito à felicidade pessoal e em nome da produtividade, i.e. da exploração capitalista! Com o empobrecimento acelerado do Estado social, induzido pela exportação de boa parte das actividades económicas produtivas do Ocidente para os novos paraísos da escravatura laboral, verifica-se uma tendência cada vez mais nítida no Capitalismo declinante para a rejeição dos custos inerentes à reprodução demográfica saudável das sociedades "desenvolvidas". Estas tornaram-se aglomerados humanos des-familiarizados, entregues a uma economia de serviços, ao consumo, e a caminho de uma precoce e fatal senilidade sociológica. As crias que pela força do imperativo biológico apesar tudo nascem e se desenvolvem encontram pela frente um mundo fragmentado de realidades e aparências, materiais e imateriais, onde muito dificilmente conseguem aprender a distinguir o bem do mal, ou simplesmente até, os graus de realidade e de liberdade da bolha antropotecnológica onde estão imersos.

Um telemóvel, para uma criança, para uma adolescente, ou para um jovem com menos de 30 anos, não é um mero telefone. Muito mais do que isso, é uma interface tecno-social agarrada ao corpo. Não se pode arrancar das suas mãos uma tal interface pela mesma razão que se lhes não pode arrancar um braço! O telemóvel é um feitiço total. Que faculta a quem o possui e criou, ao longo dos dias e das noites, o dom da ubiquidade e da telepresença, a autoconfiança, a liberdade, a amizade e a própria estruturação de uma identidade reflectida e instanciada. O telelé organiza a comunidade social do indivíduo como já não o faz a família, nem a escola, nem essa entidade longínqua e ideológica a que chamamos sociedade. No interior de um telemóvel guardam-se os segredos mais íntimos de cada um, e nele habitam pessoas virtuais e avatares, cuja sobrevivência frágil depende em primeiro lugar de uma instintiva dedicação tecnológica ao novo midia. O telemóvel é uma extensão social do corpo e como tal deve ser protegida pela mesma ordem jurídica que defende o resto do corpo biológico natural. Esta realidade emergente não pode deixar de gerar confusão e conflito. Precisamos de um tempo de aprendizagem e adaptação, tanto no plano comportamental, como no das leis e regras dos edifícios jurídicos pré-tecnológicos. No Japão, a conversação telefónica no espaço público, via telemóvel, está socialmente interdita, por ser considerada um prática intrusiva. O acordo quanto a isto foi conseguido, sobretudo por razões culturais antigas, e é hoje respeitado por todos. Mas como o telelé é muito mais do que um telefone, rapazes e sobretudo raparigas decoram os seus aparelhos das maneiras mais inusitadas e divertidas, tratam-nos como brinquedos de estimação, e usam-nos durante as suas longas viagens de metro, não para aumentar a cacafonia das conversas triviais, mas antes para imergirem no labirinto interminável, lúdico, agonistico ou puramente instrumental, das suas vidas virtuais. É esta fronteira sensível da hiperrealidade que a nervosa e incauta professora profanou sem se dar conta do verdadeiro terramoto emocional que iria provocar, na sua sala de aula e na comunidade mediática que hoje discute o incidente.


OAM 339 22-03-2008, 02:30