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terça-feira, março 07, 2017

O Triunfo dos Porcos

Kasimir Malevich, 'Homem Fugindo' (1933–34)

Nove anos depois do Parlamento Europeu, a nossa Assembleia da República condenou finalmente, a 3 de fevereiro, o holocausto pela fome provocado na ex-URSS, e sobretudo e mais pesadamente na Ucrânia, por José Estaline em 1932-33. Mas com os votos contra do PCP, Bloco de Esquerda, Verdes, e abstenção da maioria do PS, e o silêncio de chumbo da imprensa e do Senhor Presidente da República (que tanto fala sobre tudo e nada).


VOTOS
Favor — PSD, CDS-PP, PAN e 1 Deputado do PS
Contra — BE, PCP, PEV e 3 Deputados do PS
Abstenção — PS

Esta votação exibe bem a indigência intelectual e moral dos partidos portugueses da esquerda e dos seus deputados. Nada justifica a cobardia do PS, e tudo levaria a crer que as gentinhas do PCP e do Bloco já tinham aprendido alguma coisa com a História. Pelos vistos não. É pois perigoso deixá-las à solta pelos corredores do poder!

Não deixa de ser sintomático que tenha sido este genocídio pela fome que inspirou, não apenas o grande pintor russo Kasimir Malevich, mas também o célebre livro de George Orwell, O Triunfo dos Porcos.

E não deixa de ser sintomático que este extraordinário eventos parlamentar tenha sido literalmente escondido por todos os radares da comunicação social do regime. É caso para insistir que a mesma se está a transformar rapidamente num verdadeiro órgão de manipulação social. Cheira e soa a Novilíngua por todos os poros desta Geringonça, sem memória, nem vergonha.

2017
Voto de Condenação Nº 233/XIII 

Reconhecimento do “Holodomor” – Grande Fome de 1932 e 1933 ocorrida na Ucrânia 
Em 1932 e 1933 ocorreu na Ucrânia a Grande Fome, provocada pelo regime comunista totalitário de Estaline, que terá causado a morte a cerca de 7 milhões de cidadãos ucranianos. 
Tal como é destacado na Resolução do Parlamento Europeu de 23 de outubro de 2008, o Holodomor de 1932-1933, foi planeado de forma cínica e cruel pelo regime comunista soviético, tendo como objetivo impor a política da União Soviética de coletivização da agricultura. 
Em Março de 2006 deu entrada na Assembleia da República uma Petição que solicitava o reconhecimento oficial desta tragédia e que vinha no seguimento de diversas tomadas de posição de diferentes organismos internacionais sobre o Holodomor na Ucrânia, nomeadamente, a Declaração Conjunta aprovada na 58.ª Sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Setembro de 2003; a Resolução da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, de 25 de Janeiro de 2006, que condena os crimes praticados em nome da ideologia comunista e a Moção apresentada, em 25 de Janeiro de 2008, na mesma Assembleia Parlamentar sobre “a necessidade de uma condenação internacional do Holodomor ucraniano de 1932-1933”; a Resolução da Conferência-Geral da UNESCO, de 1 de Novembro de 2007, de "Homenagem às Vítimas da Grande Fome na Ucrânia" e, ainda, a Declaração Conjunta dos Estados-Membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE.), no 76.º Aniversário do Holodomor de 1932-1933 na Ucrânia, em 30 de Novembro de 2007. 
Importa também referir que os Parlamentos da Argentina, Áustria, Chile, Colômbia, Eslováquia, Equador, Espanha, Estónia, Geórgia, Hungria, Itália, Lituânia, México, Paraguai, Peru, Polónia, República Checa, Estados Unidos da América, e, ainda, os Senados da Austrália e do Canadá reconheceram já o Holodomor ucraniano como um dos genocídios do século XX. 
Assim, a Assembleia da República reunida em sessão Plenária decide: 
1. Expressar a solidariedade com o povo ucraniano e reconhecer o genocídio que terá vitimado cerca de 7 milhões de ucranianos nos anos de 1932 e 1933, na Ucrânia; e 
2. Condenar todas as formas de totalitarismo e todo o tipo de violações e crimes contra a humanidade, como aqueles que ocorreram na década de trinta na Ucrânia. 
Palácio de São Bento, 02 de março de 2017.

2008
Resolução do Parlamento Europeu, de 23 de Outubro de 2008, sobre a comemoração da Holodomor, a fome artificial na Ucrânia (1932 -1933) 
[...]
  a) reconhece a Holodomor (a fome artificial de 1932-1933 na Ucrânia) como um crime horrendo contra o povo ucraniano e contra a humanidade; 
  b) condena veementemente esses actos dirigidos contra os camponeses ucranianos, caracterizados pelo extermínio em massa e pela violação dos direitos do Homem e das liberdades; 
  c) manifesta a sua solidariedade com o povo ucraniano, vítima dessa tragédia, e presta homenagem aos ucranianos que morreram em consequência da fome artificial de 1932-1933; 
   d) solicita aos países que se tornaram independentes na sequência da dissolução da União Soviética que abram os seus arquivos sobre a Holodomor de 1932-1933 na Ucrânia a fim de possibilitar uma análise exaustiva dos mesmos que permita a revelação e a investigação integral das suas causas e consequências; (LINK)

2003
Estados Unidos, Rússia, Ucrânia, União Europeia e mais 27 países assinaram esta declaração conjunta: 
In the former Soviet Union millions of men, women and children fell victims to the cruel actions and policies of the totalitarian regime. The Great Famine of 1932–1933 in Ukraine (Holodomor), took from 7 million to 10 million innocent lives and became a national tragedy for the Ukrainian people. In this regard we note activities in observance of the seventieth anniversary of this Famine, in particular organized by the Government of Ukraine. 
Honouring the seventieth anniversary of the Ukrainian tragedy, we also commemorate the memory of millions of Russians, Kazakhs and representatives of other nationalities who died of starvation in the Volga River region, Northern Caucasus, Kazakhstan and in other parts of the former Soviet Union, as a result of civil war and forced collectivisation, leaving deep scars in the consciousness of future generations. (LINK)



REFERÊNCIAS

  • Holodomor (Wikipedia)
  • Soviet famine of 1932–33 (Wikipedia)
  • Partido Socialista/ Voto de Homenagem Nº 235/XIII (IMG

PROPAGANDA E FOTOGRAFIAS SOBRE A MORTE PELA FOME (HOLODOMOR)

Capa da revista soviética Kolhospnytsia Ukrayiny ("Mulher Kolkhoziana da Ucrânia") de Dezembro de 1932. (in Wikipédia)

Fotos da Fome de 1933, Cracóvia, Ucrânia. Do livro de 1935, Muss Russland Hungren? (Têm os Russos que morrer à fome?), do Dr. Ewald Ammende.
"Die Anteilnahme schwindet." (“A compaixão desaparece”)
Foto: atribuída a Alexander Wienerberger, 1933 (LINK)
Fotos da Fome de 1933, Cracóvia, Ucrânia. Do livro de 1935, Muss Russland Hungren? (Têm os Russos que morrer à fome?), do Dr. Ewald Ammende.
“Auch diese Leiche erregt noch Aufsehen.” (“Também este cadáver desperta ainda as atenções”)
Foto: atribuída a Alexander Wienerberger, 1933 (LINK)

domingo, maio 11, 2014

Os Pobres são um bom negócio

Sopa dos Pobres, outrora conhecida também como Sopa de Sidónio. Anjos, Lisboa

Há dirigentes de IPSS's a ganhar mais do que Passos

Um relatório a que o i teve acesso revela que um quinto das fundações de solidariedade social existentes em Portugal (num total de 178) não tem beneficiários e que metade dos apoios públicos é absorvida por 16 entidades. Além disso, há dois dirigentes a receber mais do que o próprio primeiro-ministro.

Ainda que o exercício de funções numa fundação de solidariedade social deva ser, em regra, não remunerada, de acordo com o mais recente relatório da Inspeção-Geral das Finanças, existem em Portugal 100 dirigentes a auferirem uma remuneração.

Notícias ao Minuto, 9 de maio de 2014.





Há muito que chamámos a atenção para os latifundiários da fome e da miséria alheia. 

(abril 13, 2014 - A bolha da fome; novembro 15, 2012: Os rendeiros da fome)

As IPSS não são controladas por ninguém e beneficiam, pelo menos as principais, da proteção da corja devorista unida (CDS, PS e PSD), traduzida em milhares de milhões de euros do Orçamento de Estado, arrancados à poupança nacional, nomeadamente através da agressividade fiscal, ou acumulados na imparável dívida pública, corroendo os fundamentos básicos da democracia. O orçamento do ministério da segurança social é um poço de mistérios que, desde logo, deveria ser investigado.

Será que o pascácio do PS sabe do que estou a escrever? Se não sabe, pergunte à misericordiosa irmã Belém Roseira. 

PCP e Bloco, entretidos nas suas pequenas quintas partidárias, são uma espécie de idiotas de serviço nesta matéria. Adoram a espuma dos dias, e jamais percebem o que acontece ao país. Acreditam mesmo que poderão sobreviver ao seu oportunismo, se isto der para o torto?

As unidades básicas onde todo o sistema de solidariedade social deveria assentar chamam-se Freguesias e Paróquias. Ao parlamento caberia fiscalizar periodicamente a transparências dos processos e a rentabilidade social dos dinheiros gastos. O que existe não passa dum lodaçal inconfessável.

domingo, abril 13, 2014

Os rendeiros da fome

Propaganda do Banco Alimentar Contra a Fome

Risco de pobreza: o limiar em Portugal diminuiu para 421 euros
A taxa de risco de pobreza antes e após as transferências sociais em Portugal tem vindo a diminuir desde 2001, embora de forma não linear. Observatório das Desigualdades, 2010
O alarmismo sobre a pobreza e a fome em Portugal serve sobretudo os interesses da corja devorista que não sabe fazer nada sem o dinheiro dos contribuintes. As mais de 5000 IPSS deste país cresceram como cogumelos nos anos da crise e, no entanto, o risco de pobreza no nosso país anda pela média europeia —ligeiramente abaixo dessa média antes das transferências sociais, e ligeiramente acima depois das transferências. Mas o mais surpreendente é que não há praticamente variação destas estatísticas entre 2001 e 2010, por muito que os populistas do PS, do PCP e do Bloco gritem. Ou muito me engano, ou os números não só não pioraram, como melhoraram em 2012 e 2013 — nomeadamente pelo efeito induzido da emigração. A quem serve, pois, o alarido sobre a fome? A resposta é simples: a quem mais beneficia do dinheiro público distribuído para mitigar as carências sociais do país, e que não são certamente os beneficiários do Rendimento Social de Inserção; e ainda aos partidos políticos que compram votos vendendo ilusões sobre improváveis lotarias futuras.

Eurostat, 2011

Em 2012 escrevemos:
...as transferências correntes, subsídios e transferências de capital para as instituições sem fins lucrativos (IPSS) que o Orçamento de Estado para 2013 prevê é da ordem dos dois mil milhões de euros. Se somarmos a este valor as verbas previstas para o RSI (303.900.000€) teremos um resultado de despesa orçamental de natureza social na ordem dos 2.303.900.000€ — ou seja, mais do que a totalidade das transferências do orçamento de 2013 para o poder local!

Se o valor apurado for distribuído pelas 280 mil pessoas que supostamente passam fome, o seu rendimento mensal instantâneo seria de 685,68€. Alguém me explica como pode esta gente passar fome?!

Se há zonas de penumbra na sociedade portuguesa são as fundações mendicantes, as fundações que ajudam os seus beneméritos a fugir ao fisco, e a Caridade!

46% das receitas das IPSS provêm de transferências do estado: ou seja, este terceiro sector já vale no nosso país mais de 4.000 milhões de euros, e praticamente não paga impostos, nomeadamente em sede de IMI, IMT, IRS e IVA.

in Qual fome?

Menos de €1,50 é o preço por refeição praticado por muitas empresas que fornecem escolas e IPSS.

No entanto, sabe-se que algumas destas empresas são 'convidadas' a comprar parte da matéria prima das refeições às próprias IPSS que fornecem, matéria prima essa que foi entregue gratuitamente às mesmas IPSS por grandes superfícies comerciais e pelos ditos bancos alimentares contra a fome. Este é um caso óbvio de corrupção descarada. Resta conhecer a extensão do fenómeno.

As operações dos bancos alimentares junto das grandes superfícies traduzem-se em receitas extraordinárias para estas últimas, as quais já fornecem gratuitamente alimentos (cujos prazos de validade se aproximam do termo) às IPSS, ao abrigo de isenções fiscais associadas.

Façamos, por fim, uma conta simples, para contestar de uma vez por todas o alarido sobre a fome em Portugal: admitamos que existem neste momento 330 mil beneficiários do RSI (em 2012, segundo números oficiais, eram 329.274), e que cada um toma três refeições por dia, fornecidas pelas mesmas empresas comerciais que hoje praticam preços na ordem dos €1,50 por refeição.

O custo para o contribuinte que subsidia o RSI com impostos saídos do seu bolso seria então este:

330.000 beneficiários do RSI x €1,50 x 3 refeições x 365 dias = €542.025.000,00

Se acrescermos a esta transferência, que deveria ser adjudicada exclusivamente a fornecedores profissionais certificados, o valor do RSI previsto no OE2013 (303.900.000€), teríamos uma despesa pública total com as 330 mil pessoas mais desfavorecidas do país na ordem dos €845.925.000, ou seja, menos de mil milhões de euros.

No entanto, os subsídios e outras transferências do estado previstos para as organizações sem fins lucrativos em 2013 custarão aos contribuintes €2.008.768.424,00. Dirão que não computei as verbas que vão para os lares de idosos e acamados. É verdade, mas lá iremos assim que a informação escondida vier ao de cima.

Só nas faturas da eletricidade pagámos em 2013, para além do custo da energia, em rendas excessivas à EDP, RTP, autarquias e regiões autónomas, três vezes mais —2.500 milhões de euros (1)— do que a verba necessária para acabar com a demagogia sobre a fome e o risco de pobreza em Portugal.


NOTAS
  1.  Como escreveu recentemente no Expresso Luís Mira Amaral:
“Segundo a ERSE, em 2013, Portugal consumiu a mesma eletricidade que em 2006, enquanto que nesse ano os famosos Custos de Interesse Económico Geral (CIEG) eram apenas de 500 milhões de euros e em 2013 foram de 2500 milhões de euros! Eis o monstro elétrico em todo o seu esplendor! Contra factos não há argumentos!”

quinta-feira, novembro 15, 2012

A bolha da fome

Quem ganha afinal com a dita fome?

O alarido sobre a fome portuguesa cheira-me a fartura!

Bispos católicos preocupados com fome em Portugal

por Lusa, publicado por Luís Manuel Cabral, DN 10 novembro 2012.

Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP): "Já não se trata de nível de vida com dignidade, mas de questões de subsistência, de matar a fome", salientou o padre, sublinhando que a Igreja Católica "está no terreno para evitar ou reatar ruturas, sobretudo através dos seus múltiplos centros sociais, das Conferências de São Vicente Paulo, das Cáritas, das Misericórdias, que têm uma enorme capacidade de serviço social".

Os Bancos Alimentares em actividade recolhem e distribuem várias dezenas de milhares de toneladas de produtos e apoiam ao longo de todo o ano, a acção de mais de 1.800 instituições em Portugal. Por sua vez, estas distribuem refeições confeccionadas e cabazes de alimentos a pessoas comprovadamente carenciadas, abrangendo já a distribuição total mais de 275.000 pessoas —  in sítio do Banco Alimentar.

Aponta-se o número redondo de 280 mil pessoas que em Portugal passarão fome. Fome não passam, pois são estas mesmas pessoas carenciadas que o Banco Alimentar, as Misericórdias e outras Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), já para não falar das câmaras municipais, supostamente cuidam com os víveres e apoios de vária natureza, incluindo pecuniários, que recebem, quer por via de subsídios do estado, quer por doações e dádivas particulares, nomeadamente de empresas, bem como de reconhecidas receitas próprias.

Mas vamos por partes...

Em março deste ano, 2012, a situação relativa ao programa conhecido por Rendimento Social de Inserção (RSI), oficialmente comunicado pelo governo, através do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do Ministério da Solidariedade e Segurança Social (MSSS), era a seguinte:
  • Beneficiários individuais: 329.274
  • Valor médio mensal do rendimento por beneficiário: 91,7 euros
  • Famílias beneficiárias: 123.948
  • Valor médio mensal do rendimento por família: 245,4 euros
  • Estimativa do dispêndio anual de acordo com este dados: 362.333.109 euros
Existem neste momento mais de 5.079 IPSS segundo a listagem da Segurança Social. Estes números conferem com algumas contas que fizemos para um post anterior:
  • As transferências do estado previstas para a administração local em 2013 são de: 2.121.207.562€
  • Os encargos do estado previstos com o RSI em 2013 são de: 303.900.000€
  • Os subsídios e outras transferências do estado previstos para as organizações sem fins lucrativos em 2013 são de: 2.008.768.424€
  • Cada IPSS deverá abarcar em media 55 pessoas (estimativa)
  • As pessoas atendidas pelas IPSS rondarão os 279.345 (estimativa)
  • O apoio médio do estado por IPSS andará pelos 395.504,7€/ano (atenção: esta média é meramente teórica, pois há IPSS que recebem milhões, e outras nicles!)
Resumindo: as transferências correntes, subsídios e transferências de capital para as instituições sem fins lucrativos (IPSS) que o Orçamento de Estado para 2013 prevê é da ordem dos dois mil milhões de euros. Se somarmos a este valor as verbas previstas para o RSI (303.900.000€) teremos um resultado de despesa orçamental de natureza social na ordem dos 2.303.900.000€ — ou seja, mais do que a totalidade das transferências do orçamento de 2013 para o poder local!

Se o valor apurado for distribuído pelas 280 mil pessoas que supostamente passam fome, o seu rendimento mensal instantâneo seria de 685,68€. Alguém me explica como pode esta gente passar fome?!

Se há zonas de penumbra na sociedade portuguesa são as fundações mendicantes, as fundações que ajudam os seus beneméritos a fugir ao fisco, e a Caridade!

46% das receitas das IPSS provêm de transferências do estado: ou seja, este terceiro sector já vale no nosso país mais de 4.000 milhões de euros, e praticamente não paga impostos, nomeadamente em sede de IMI, IMT, IRS e IVA.

A enorme falta de transparência na ação do Banco Alimentar e da generalidade das IPSS, que recebem uma fatia muito apreciável do orçamento de estado, paga pelos nossos impostos e pelo défice público que anualmente cresce em volume e juros, é porventura responsável pela indignação geral face às palavras televisivas de Isabel Jonet.

Procurei, mas não encontrei, em parte nenhuma, algo que deveria ser de lei: relatórios de contas públicos de quem sendo entidade pública recebe dinheiros públicos e de empresas.

Agradeço, pois, ao Banco Alimentar que me indique onde poderei obter respostas às seguintes perguntas:

Que recebeu, desde 1999, o Banco Alimentar,  nomeadamente em:

Dádivas de materiais e equipamentos (valores estimados): ? 
Donativos:  ?
Subsídios:  ?
Quotas de associados:  ?
Toneladas de alimentos (valor económico estimado): ?

O esclarecimento destas cifras, certamente apreciáveis, deixar-nos-ia muito mais tranquilos.

E quanto ao desnorteado governo em funções, uma recomendação: porque não negoceia com a UNICRE a emissão de um cartão eletrónico de solidariedade destinado a facultar aos 280 mil portugueses carenciados um crédito para aquisição de alimentação na ordem dos 200 euros mensais? Em vez de uma sopa dos pobres humilhante teríamos a liberdade de escolha individual e familiar, acomodando-se à crise, mas estimulando também de forma saudável a produção e o comércio alimentares. Teríamos talvez menos caridade interessada, e menos escândalo (um pecado, creio), mas mais dignidade e uma enorme poupança orçamental.

Este cartão custaria ao orçamento entre 672.000.000€  e 772.800.000€ (neste caso, contando já com mais 15% de custos de implementação), sabendo-se exatamente de onde vem e para onde vai o dinheiro, ao invés dos 2.303.900.000€ inscritos no OE2013, que, salvo o RSI, não sabemos como se gasta.

Os intermediários, ou seja as IPSS, encharcam os média indigentes que temos com soundbytes sobre a fome. É caso para lhes exigir, desde já, que dêem explicações públicas detalhadas sobre o que fazem ao muito dinheiro que recebem dos bolsos dos contribuintes.


POST SCRIPTUM

Por 200 euros/mês

Bananas africanas do meu jardim - Carcavelos, Portugal.

Eu gasto pouco mais de 200 euros por mês em alimentação e bebidas, e como diariamente em casa.

A minha dieta é rica em vitaminas, hidratos de carbono e muito variada, sobretudo na construção intuitiva das ementas. Os alimentos são geralmente confeccionados por mim. Raramente ingiro pizzas ou hamburguers, e não toco em comida pré-cozinhada. Os únicos enlatados que consumo são: atum, tomate, coco, grão e feijão. Quanto a alimentos congelados, compro-os raramente e são quase sempre, ou espinafres, ou gelados. Das gorduras disponíveis, uso sobretudo azeite virgem extra, manteiga e banha de porco biológico. Não me lembro da última vez que ingeri refrigerantes. Prefiro sempre água, vinho, café, leite e uma grande variedade de chás e infusões.

Procuro sempre consumir produtos frescos da época, e tanto quanto possível locais. Faço regularmente as minhas compras na feira semanal de Carcavelos, na loja da herdade do Freixo do Meio situada no Mercado da Ribeira, no Celeiro de Rossio, no Centro Comercial da Mouraria, no Pingo Doce de Carcavelos e no Pão de Açúcar de Cascais.

Se pensar no que mais consumo ao longo do ano, a lista seria esta: leite fresco, iogurte feito em casa a partir de leite Vigor e um iogurte Activa da Danone, pão branco e escuro de vários cereais, fruta (com predominância de maçãs, laranjas, bananas e abacaxis), carne biológica, peixe fresco variado (com predominância de pescada, atum, raia, carapau e safio), queijos variados, fiambre de perna de porco e presunto, ovos, arroz branco e integral de qualidade superior (Basmati, etc.), massas variadas, couscous, batata, batata doce, farinha de pau (mandioca), cebola, alho, alho porro, abóbora, courgette, beringela, nabo, nabiça, cenoura, tomate, grelos, couve portuguesa, bróculos, cogumelos variados, algas, alface, gengibre, coco, vagens de piri-piri, curcuma, caril, salsa&coentros, frutos secos (nozes, caju, amendoim, amêndoas, avelãs, pinhões).

Admitindo que as pessoas carenciadas poderiam ter acesso a esta mesma dieta, e admitindo que são 280 mil, o custo anual para os cofres do estado seria aproximadamente de 672 milhões de euros, pouco mais do dobro do que a desnecessária RTP custa aos contribuintes que pagam impostos. Não me venham, pois, falar de fome em Portugal. Alguém mama os nossos impostos, aumenta a dívida e encharca a comunicação social com homilias sobre a pobreza e a fome!

Última atualização: 17 nov 2012, 16:49

segunda-feira, abril 14, 2008

Fome


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Os motins da fome

Os cereais, quer dizer, o pão e o arroz, entre outros alimentos básicos, entraram numa espiral inflacionista extremamente perigosa. Estas são algumas das causas evidentes:
  • crescimento da população mundial (estima-se que a Terra terá que suportar 9,5 mil milhões de seres humanos em 2050);
  • melhoria das condições de vida e aumento exponencial do consumo de matérias primas, bases alimentares e alimentos derivados ricos em proteínas (aves, suínos e bovinos) nalguns países particularmente populosos (China, India, Indonésia, Brasil, Paquistão, Rússia, Nigéria, Filipinas, Vietnam...);
  • transferência do uso dos solos agrícolas e florestais e respectivas produções alimentares e cinegéticas, para a produção de biocombustíveis (os preços dos óleos de soja e milho estão cada vez mais perto dos preços do azeite!);
  • diminuição dramática dos solos disponíveis para a produção agrícola e florestal provocada pela sua prolongada sobre-utilização (que a produção de biocombustíveis não fará senão acelerar);
  • alterações climáticas e aquecimento global;
  • pico petrolífero e consequente encarecimento dos preços dos combustíveis, bem como dos derivados do petróleo e do gás natural: adubos sintéticos, remédios, plásticos, tintas e vernizes, etc...
  • globalização e consequente destruição das barreiras alfandegárias, assente num modelo de mobilidade intensiva de pessoas e mercadorias, a prazo insustentável;
  • especulação desenfreada dos preços da alimentação a partir dos mercados bolsistas, os quais procuram compensar nesta nova deriva criminosa o colapso catastrófico do grande casino de Wall Street e das dezenas de réplicas existentes pelo mundo.
É preciso confrontar urgentemente José Sócrates e o seu diletante ministro da agricultura sobre estas questões. Nada fizeram relativamente aos OGMs, como nada disseram sobre a legitimidade do cultivo de milho, da beterraba e de outras espécies vegetais para alimentar o nosso irracional e agora insustentável sistema de transportes. Pelo contrário, o irresponsável poder político que tomou as rédeas deste país, anuncia mais mil quilómetros de autoestradas, aeroportos intercontinentais e novas travessias do Tejo, sem se sequer se colocar a dúvida sobre o efectivo interesse e sustentabilidade de tais investimentos. Nem sequer pergunta quem irá pagar no futuro as dívidas que alegremente se predispõe a contrair. As Parcerias Público Privadas são (é o Tribunal de Contas que o diz) um embuste financeiro. Dele lucram apenas a simbiose oportunista e cada vez mais corrupta entre políticos indesejáveis e industriais preguiçosos, sem imaginação, egoístas e no fundamental subsídio-dependentes. E quem os alimenta, ou seja quem lhes pagas os subsídios (seja sob a forma de portagens, seja sob a forma de transferências forçadas do Orçamento de Estado, seja sob a forma de taxas e impostos municipais agravados -- que o digam as populações onde plantaram estádios de futebol hoje às moscas, mas com encargos financeiros para toda uma geração!) somos todos nós, quer dizer os pobres dos contribuintes. É preciso dizer basta a esta canalha!

OAM 345 15-04-2008, 19:20