terça-feira, maio 31, 2011

A morte de Pinóquio

Quer ganhe, quer perca, José Sócrates tem o destino marcado: a expulsão do paraíso que julgava eterno...



O PSD volta a alargar a sua vantagem para o PS. Na oitava sondagem da Intercampus para o PÚBLICO e a TVI, os sociais-democratas somam agora 37,0% da preferência dos votos, contra 32,3% dos socialistas. O CDS sobe, a CDU mantém e o BE cai. Público (30-01-2011).
Neste momento tudo leva a crer que o PS perderá as eleições do próximo domingo. Os portugueses já não suportam mais a criatura. Eu, por exemplo, mudo imediatamente de canal sempre que o nariz espetado e descarado deste Pinóquio me assalta a casa por um dos canais do MEO. Sei que vai mentir com o descaramento típico de todo o vigarista que se preze, e assim sendo, mudo de programa, ou desligo a televisão. Prefiro manter-me a par dos seus compulsivos delírios de propaganda e manobras de intoxicação mediática, recorrendo aos canais da Net. É menos intrusivo.

As opções de José Sócrates no dia 6 de Junho são apenas estas:
  • no caso improvável de o PS ganhar as eleições, José Sócrates não terá parceiro com quem governar e será por isso forçado a ceder o lugar a alguém que possa e saiba fazer a ponte entre o PS e o PSD. Hoje uma voz amiga soprou-me que estaria tudo preparado para que o socialista ex-fundador da JSD, e actual presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d'Oliveira Martins (1), assumisse a espinhosa missão de formar um governo de maioria PS-PSD-CDS, caso o improvável cenário de uma derrota de Passos Coelho viesse a ocorrer;
  • no caso de o PSD ganhar as eleições, formando maioria absoluta com o CDS, ou mesmo precisando do PS para consagrar a estabilidade parlamentar necessária para aplicar rapidamente as medidas mais dolorosas e reformadoras do Memorando de Entendimento, a sorte de José Sócrates é a mesma: despedimento com justíssima causa! A sentença foi aliás decretada pelo consigliere Almeida Santos (primeiro está a família!)

Uma votação mais expressiva no PCP e no Bloco, que deverá, apesar das sondagens, ocorrer, tornaria as coisas ainda mais críticas para o ainda primeiro ministro que conduziu o pais à bancarrota. Se ao menos os ortodoxos do PCP e do BE percebessem quantos milhares de votos perderam pelo simples facto de terem rejeitado quaisquer conversações com a dita Troika, talvez fizessem ainda um esforço nos dias que restam da campanha para evitarem mais verborreia populista, e proporem uma ou duas ideias claras ao país. Louçã está neste momento a perder votos para o PCP, para o PS, para o PSD, para o CDS, para o Partido da Terra, e até para o partido vegetariano!

O PS precisa de uma boa derrota para acordar do estado de hipnose a que foi sujeito pela tríade de Macau e pelo ilusionista José Sócrates Pinto de Sousa. Sem um abalo até às raízes não será provável a clarificação urgente de que necessita para sobreviver ao longo da pesada década que temos pela frente.

A Esquerda está perdida no novelo do seu próprio oportunismo irresponsável. Mas só o PS tem condições de iniciar um processo de aggiornamento socialista capaz de contagiar o PCP e sobretudo o BE, ansiosos ambos por verem superados os atavismos marxistas, estalinistas e trotsquistas que os têm condenado à insignificância partidária e à incapacidade de assumirem o pragmatismo que as gerações mais jovens naturalmente reclamam.

A situação é complexa. Mas há algo cada vez mais evidente: um voto no PS é provavelmente o único voto inútil destas eleições.


NOTAS
  1. Os episódios em volta dos relatórios sobre as PPP rodoviárias podem ter algo que ver com isto. O actual presidente do T.C. aparece, em aparente sintonia com Cavaco, como protector de Sócrates, retendo o relatório que "arrasa" a gestão que a tríade de Macau fez do dossier das PPP rodoviárias do continente (um encargo escandaloso de 20 mil milhões de euros!) Por outro lado, hoje, 30 de Maio, o mesmo Guilherme d'Oliveira Martins deixou publicar, a menos de cinco dias das eleições, um relatório sobre as PPP de Alberto João Jardim na Madeira, onde o governo autónomo é severamente criticado. Link1. Link2. Link3. Link4.

segunda-feira, maio 30, 2011

BCP? What else!

As acções do BCP estão quase ao preço das cápsulas: 0,457€. George...?



Será que a Caixa vai continuar a dar uma ajudinha? Com os senhores da tríade de Bruxelas, Frankfurt e Nova Iorque aqui tão perto, será difícil :(

domingo, maio 29, 2011

Travem os agiotas!

Em vez de juros usurários, porque não exigir à tríade uma taxa média de 0,01%?


Fed Gave Banks Crisis Gains on Secretive Loans Low as 0.01%Bloomberg, 26.05.2011.

May 26 (Bloomberg) -- Credit Suisse Group AG, Goldman Sachs Group Inc. and Royal Bank of Scotland Group Plc each borrowed at least $30 billion in 2008 from a Federal Reserve emergency lending program whose details weren’t revealed to shareholders, members of Congress or the public.

(...) New York-based Goldman Sachs’s borrowing peaked at about $30 billion, the records show, as did the program’s loans to RBS, based in Edinburgh. Deutsche Bank AG, Barclays Plc and UBS AG each borrowed at least $15 billion, according to the graphs, which reflect deals made by 12 of the 20 eligible banks during the last four months of 2008.

(...) Other banks listed in the Fed charts borrowed less than their peers. New York-based Morgan Stanley and Paris-based BNP Paribas, France’s biggest bank by assets, took no more than about $10 billion. Citigroup Inc., JPMorgan Chase & Co. and Merrill Lynch & Co., which is now part of Bank of America Corp., borrowed less than $5 billion each — Bloomberg, 26.05.2011.

O cálculo do resgate da dívida soberana portuguesa está de momento avaliada em 78mM€. As organizações que integram a tríade do resgate —Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF), Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e Fundo Monetário Internacional (FMI)—, pretendem cobrar juros por esta operação na ordem dos 5,9%! São juros agiotas, mas inferiores aos mais de 10% para onde actualmente caminham as operações de colocação comercial da dívida soberana portuguesa.

Enquanto esteve aberto o guichet do BCE, através do qual os bancos comerciais pediam dinheiro emprestado à taxa de 1%, dando como colateral títulos de dívida soberana com rendimentos garantidos acima dos 4% (hoje estes rendimentos já andam muito próximos dos 10%), foi o fartar vilanagem que o mitómano Sócrates saudou alegremente como prova da sua eficácia na condução de Portugal à bancarrota.

Quando qualquer coisa cresce a 7% ao ano, significa que duplica numa década. Quando cresce a 10%, significa que duplica em apenas sete anos!

Foi conhecendo esta lei matemática, e depois de constatar que o negócio das dívidas soberanas se tinha transformado em mais uma perigosa bolha especulativa, que o BCE decidiu fechar a sua peculiar portinhola de Quantitative Easing. O ataque especulativo à moeda única europeia, por via do ataque às dívidas soberanas dos PIGS, tornara-se uma ameaça real à própria integridade do euro. Bruxelas, Berlim e Paris não tiveram outra saída que não fosse enveredar por programas de resgate dos países membros aflitos, criando estratégias de endividamento em cascata capazes de travar a espiral de pilhagem especulativa em curso.

Assim, a União Europeia passa a financiar-se junto dos mercados a juros aceitáveis, e depois empresta aos PIGS a juros inaceitáveis e sob condições draconianas. Eu até estou de acordo com todas as condições draconianas da última versão do Memorando de Entendimento da Troika (pois são essenciais à reforma da nossa degenerada democracia), mas não estou de acordo, nem com os prazos, nem com o preço do dinheiro emprestado e a emprestar. O FMI, e sobretudo os FEEF e MEEF, estão a comportar-se como agiotas, e pior do que isso, poderão afogar-se na sua própria ganância. Se os juros e os empréstimos forem impagáveis, a cobrança dos ganhos poderá revelar-se impossível, forçando os credores a aceitar um perdão parcial da dívida (o já célebre hair cut) — ou seja, a sua renegociação.

Durante a crise que levou ao colapso do Lehman Brothers, em 2008, a Reserva Federal (FED), o grande cartel bancário que nos EUA equivale aos bancos centrais de outros países, emprestou secretamente mais de 80 mil milhões de dólares a um grupo de bancos americanos e europeus, a prazos de 28 dias, cobrando juros de 0,01%, com o pretexto de evitar uma corrida aos bancos. Mais tarde, Henry Paulson, Ben Bernanke e Timothy Geithner, convenceram o Senado a realizar uma punção fiscal sem precedentes, de 700 mil milhões de dólares, para resgatar a banca de potenciais faltas de liquidez, cobrando-lhes juros de favor cada vez mais próximos do zero. Esta política de empréstimos sem juros, reservada apenas aos bancos (ZIRP), começou no Japão, mas tem feito o seu caminho. No entanto, o contraste com os juros cobrados às empresas, aos cidadãos, e agora, aos governos, é de tal modo escandaloso, que não poderá deixar de causar conflitos sociais e políticos num futuro bem próximo.

Os mais de 42 milhões de americanos que recorrem hoje às senhas alimentares (food stamps) querem saber as razões desta discriminação, e querem deixar de alimentar um sistema financeiro tão evidentemente injusto e corrupto. Os europeus, à medida que as senhas de alimentação forem entrando na sua rotina, para complementar as suas degradadas pensões de reforma, o custo crescente do seus serviços públicos de saúde e o desemprego sistémico, cada vez menos subsidiado, também!


POST SCRIPTUM (30.05.2011 9:11)

O trauma da reestruturação entrou definitivamente na ordem do dia das dívidas soberanas europeias, a começar pela Grécia, seguindo-se-lhe depois, inevitavelmente, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, etc.

Hipóteses em cima da mesa:
  1. estender os prazos de pagamentos;
  2. diminuir as taxas de juro abusivas;
  3. aparar a dívida (hair cut), i.e. deixar os credores (mas sobretudo os especuladores) com uma parte dos lucros esperados no tinteiro;
  4. não pagar de todo e mandar o euro às urtigas (uma hipótese radical que, na realidade, significa transformar um pesadelo de 10-20 anos, num definhamento até ao fim deste século, no mínimo!)
 Mas pode haver um passe mágico, ou seja, uma quinta hipótese que contorne estas soluções demasiado espinhosas: fazer um acerto de contas prévio entre os países que são simultaneamente devedores e credores. Esta é, pelo menos, a proposta criativa de dois professores associados da Europe Business School: Anthony J. Evans (Economics) e Terence Tse (Finance).
The idea

The idea is very simple - if Portugal owes Ireland €0.34bn of short term debt, and Ireland owes Portugal €0.17bn, we can write off Ireland's obligations and leave Portugal with a reduced debt of €0.17bn.

If you are both a debtor and a creditor you do not need money to settle claims. Rather than require additional funds to deal with choking debt, why not write it off?
The diagrams above show the before and after situation, based on analysis done by students. The simulation itself took place on May 17th 2011 and involved three separate trading rounds — inThe great EU debt write off”.

Parece um jogo vídeo. Mas não estamos todos, de facto, imersos numa economia virtual?

sábado, maio 28, 2011

Um presidente de sal

A dimensão do próximo governo será um indicador fundamental das intenções de Passos Coelho. Cavaco não existe!

Cavaco Silva continua a projectar uma sombra ambígua sobre o país
Passos admite ter que negociar dimensão do Governo
Se tiver maioria absoluta mantém os 10 ministros e insiste que será "eficaz". Se não a tiver, Passos admite "ter que negociar" a dimensão de um executivo. Portas quer 12 — Expresso.

Desde quando é que uma estátua de sal pode imiscuir-se no formato do próximo governo de Portugal? A rainha de Boliqueime fala quando devia estar calada, e não diz nada quando devia falar. Não temos presidente, temos um traste presidencial, aliás com um orçamento muito exagerado para os tempos de austeridade que aí vêm. Primeira medida do próximo governo: diminuir o peso e o custo do governo, do parlamento e... da presidência da república!

Sócrates foi logo atrás das hienas presidenciais, seguido de Portas. Todos acham, em coro, que Passos Coelho é imaturo por exigir um governo mais leve, mais eficiente e menos caro. O silêncio do PCP e do Bloco são a este propósito sintomáticos dos males de que padecem — no fundo, vivem acomodados nos respectivos nichos partidários e parlamentares, comendo lentilhas e debitando orações que já ninguém escuta.

Mas há factos que arrumam qualquer polémica num ápice. Aqui vai:
Ora digam-me lá se a estátua Cavaco Silva, o mentiroso compulsivo Sócrates e o Paulinho das feiras não perderam uma boa oportunidade para estarem calados.


ÚLTIMA HORA (28.05.2011 20:50)

Cavaco desmente crítica a Governo com 10 ministrosTVi24 (28.05.2011 19:41). Ora bem! Ainda bem!! Está na altura de Cavaco Silva por alguma ordem no seu falanstério.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 30.05.2011 10:11

Debitocracia

Devemos exigir uma auditoria popular à nossa dívida externa

Para além de ser imperioso, nas eleições de 5 de Junho, correr com Sócrates e a tríade que tomou de assalto o PS, o governo e o país, também deveremos exigir do próximo governo, parlamento e presidência da república, uma auditoria imediata à nossa dívida externa, com todas as consequências que daí possam advir — por exemplo, a eventual acusação e julgamento dos piratas que levaram Portugal à bancarrota, ou mesmo, a imposição de uma renegociação euro-a-euro da própria dívida, separando o trigo do joio. Se forem detectadas dívidas odiosas, deveremos estar preparados para as repudiar.

O nosso caso será certamente diverso do da Argentina, Equador, ou Grécia. Mas será assim tão diferente? Ora vejam este excepcional documentário sobre o caso, muito mal explicado, da crise soberana da Grécia.


Debtocracy International Version por BitsnBytes

OUTRO VÍDEO — mostrando um ponto de vista bem diferente, no que respeita à natureza do Capitalismo, a recém difundida (23.05.2011) produção da HBO: To Big to Fail, defende que a salvação dos bancos (cujos pormenores até agora clandestinos, uma decisão do tribunal supremo dos EUA obrigou o FED a revelar recentemente), ou melhor, o mais recente e extraordinário processo de concentração ainda curso foi a única forma de evitar um colapso financeiro mundial de proporções nunca vistas, e uma corrida aos bancos que teria provavelmente destruído a moeda americana em poucas semanas. Esperemos pela chegada deste documentário, com o toque de Midas da HBO, chegue em breve a Portugal.



ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 29.05.2011 16:57

sexta-feira, maio 27, 2011

Ao virar da esquina

O pacifismo da Geração à Rasca e do Movimento 15M pode mudar num ápice para algo mais criativo e revolucionário!



O mundo ocidental está cada vez mais endividado. Na realidade tem uma dupla dívida: aquela que contraiu consigo mesmo, nos últimos quarenta anos, substituindo progressivamente o trabalho criativo e a produção dos bens essenciais pelo consumo conspícuo, pelo hedonismo pueril, pelo egoísmo atroz, pelo esvaziamento da sensibilidade, e por uma crescente tendência para o suicídio demográfico; e aquela enorme dívida, de mais de dez gerações de europeus, ao resto do mundo, que colonizaram, parcialmente destruíram e de onde hoje os últimos herdeiros (nós!) começam, finalmente, a ouvir a voz, o clamor e a resposta. Não é só Portugal que está enredado no buraco da sua inconsciência colectiva, mas também a Espanha, a Grécia, a Itália, a Bélgica, o Reino Unido, os Estados Unidos e o Canadá, e em breve a França e a Alemanha. Pois nem a China, nem a China e todas as ditaduras do petróleo juntas poderão, mesmo que quisessem, por precisarem muito, salvar-nos do buraco infinito da nossa dívida entranhada e acumulada ao longo dos últimos seiscentos anos. Vamos empobrecer. Vamos sofrer. Mas saberemos aceitar com dignidade este destino inexorável?

Quem está no poder na Europa perde as eleições, independentemente do quadrante partidário. Foi assim na Grécia, na Irlanda, em Espanha, na Alemanha, e será assim em Portugal no próximo dia 5. O populismo rotativista, interesseiro, sem ideologia, demagogo, mediático, domina a Europa há pelo menos duas décadas. Resta saber se vai continuar a ser assim, tão pacífico e envernizado, quando cresce por todo o continente o número daqueles que não suportam mais os resultados desta hipocrisia aparentemente eterna e desta mentira diária. Um novo populismo, inorgânico, por enquanto sem líder, já despontou no horizonte do desespero colectivo.

As manifestações instantâneas que responderam ao apelo lançado pela Geração à Rasca, os acampamentos urbanos que como um enxame frenético responderam, também através das redes sociais, ao apelo do Movimento 15M, são a face pacífica de uma rejeição monumental dos actuais regimes democráticos, ou, para ser mais preciso, das suas práticas desastrosas e contaminadas por uma verdadeira pandemia de incompetência e corrupção. Passado o ciclo eleitoral, que terminará em 2013, ou mesmo em 2012, na Alemanha, veremos onde irá parar na Europa o pacifismo e a indecisão destes fluxos de inquietação e agitação sociais — pós-democráticas, se os tomarmos na perspectiva dos formatos institucionais da política; pós-contemporâneos, se os analisarmos numa perspectiva cultural mais ampla.

Há um ponto de ruptura que podemos antever com alguma precisão no pacifismo algo patético dos acampamentos de jovens e desempregados que crescem na Ibéria. Esse ponto verificar-se-à na intersecção entre um limiar de desemprego estrutural na ordem dos 15-25%, a estagnação económica, a inevitável e objectiva desvalorização fiscal, e o colapso dos sistemas de segurança social na sequência da praticamente inevitável reestruturação das dívidas soberanas actualmente alinhadas por essa Europa fora. Sem casa, as pessoas vão para a rua. Sem pão, nem leite, as pessoas revoltam-se. A violência anda por aí, contida, segregada no espaço concentracionário das subclasses sem identidade nem horizonte. Mas se a revolta colectiva explodir num voo orientado de vontades, então a violência desesperada dos egos ofendidos e humilhados dessa multitude crescentemente avisada terá encontrado um caminho de libertação psicológica e sobretudo cultural. O que será, ninguém sabe. Mas que será algo, será. Todos começámos já a pressenti-lo.

“subcomandante insurgente Marcos”, do Ejército Zapatista de Liberación Nacional
Esta manhã, quando percorria a avenida Jorge V a caminho da praia, indagava: de onde raio vieram estes novos enxames sociais carregados de energia, para já contida? Serão um mero reflexo educado do grande levantamento cultural que varre a margem sul do Mediterrâneo? E se assim for, tendo em conta o envelhecimento da Europa, conseguirão estes enxames forçar efectivamente alterações profundas nas execráveis partidocracias que temos? Que futuro se pode esperar? Que futuro podemos desejar?

Lembrei-me então do Exército Zapatista de Libertação Nacional, um movimento extraordinário de autodefesa dos índios mexicanos de Chiapas, que em 2005 decidiu renunciar à luta armada, mas que se tornou conhecido mundialmente pelos seus famosos acampamentos, nomeadamente electrónicos, e pelo seu lendário “subcomandante insurgente Marcos” — um filósofo, um esteta e um guerrilheiro que, à falta de melhor, chamaria pós-dadaísta. As semelhanças iniciáticas, sobretudo do M15M, com o mundo onírico-revolucionário dos novos Zapatistas, parecem-me óbvias.

As soluções eleitorais que teremos ou não teremos pela frente serão, não tenhamos ilusões, estádios de uma grande crise em desenvolvimento. A violência privada dos adolescentes do asfalto, e o pacifismo patético da Geração à Rasca são, também, momentos efémeros de um processo cultural que em breve sofrerá alterações bruscas, imprevisíveis e radicais. Uma recomendação aos inquietos: leiam e ouçam a prosódia humanista do “subcomandante insurgente Marcos”. É preciso reinventar e treinar uma nova narrativa sobre a metamorfose.


ÚLTIMA HORA: Barcelona: 120 feridos após confrontos entre “indignados” e polícia na Praça Catalunha. Público, 27-05-2011 15:45 



Comentário: as polícias europeias têm que aprender rapidamente novas tácticas de confronto urbano com manifestantes desarmados. O que este vídeo mostra é uma triste sobrevivência de comportamentos policiais próprios de ditaduras imbecis. O gozo sádico das bastonadas policiais tem que ser substituído por regras de contacto físico próprias de democracias adultas.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 27.05.2011 20:05

quarta-feira, maio 25, 2011

O devaneio de Lars von Trier

A arte também escreve direito por linhas tortas


Lars von Trier e Hitler por afpportugues

O devaneio de Lars von Trier foi bem mais oportuno do que a superficialidade patética dos organizadores de Cannes conseguiram entender. Temo bem que a próxima onda anti-judaica comece nos EUA, causada por dois fenómenos interligados:
  • o poder asfixiante e ruinoso para os EUA da mais poderosa organização sionista do mundo — a AIPAC—, sustentáculo crucial do cada vez mais ilegal e criminoso estado de Israel;
  • e o facto dos principais bancos de investimento especulativo e agências de notação financeira envolvidos no descalabro financeiro mundial estarem nas mãos, outra vez, de famílias judaicas que não aprenderam nada com a História!
Não sei bem o que se passa. Mas passa-se alguma coisa e é preocupante.

O caso Strauss-Kahn, um socialista judeu, meio Sefardita, meio Ashkenazi, que por acaso anunciara em fevereiro passado a necessidade de substituir a moeda americana por uma moeda mundial, sugere uma divisão no seio das elites financeiras judaicas mundiais cujos contornos são ainda confusos.

A decisão de Obama de exigir a Israel que regresse às suas fronteiras originais, isto é de 1948, seguida da viagem a uma das suas origens, a irlandesa, e por via desta, ao Reino Unido, sabendo-se que estes três países estão no mesmo estado de falência, crise social e cerco agiota que nós, deixa-me a cogitar.

Os episódios sintomáticos de uma nova crise anti-sionista, mas que poderá transformar-se, como sempre aconteceu ao longo da história humana dos últimos dois milénios e meio, numa nova vaga anti-judaica, sucedem-se. E a causa é, no fundo, a de sempre: povos e nações endividaram-se para além do razoável, socorrendo-se para tal dos famosos money changers. Estes não resistiram à miragem do lucro infinito, ajudando para tal os seus clientes, pobres, remediados, ricos e soberanos, a viverem muito para além das suas possibilidades, numa bolha de liquidez virtual. Acontece, porém, que as balanças desequilibradas terão um dia que regressar ao ponto inicial, de uma forma ou doutra. E aqui, para mal dos inocentes, começam os problemas!



Lembro apenas mais um caso relativamente recente, que passou incógnito entre nós, mas que é sumamente revelador. Refiro-me à demissão forçada de Helen Thomas, a mais prestigiada correspondente da Casa Branca, depois de uma conversa casual com um jovem jornalista e músico da RabbiLive.com —
Thomas retired following negative reaction to comments she had made about Israel, Jews, and Palestine during a brief interview with Rabbi David Nesenoff of RabbiLive.com.[1][41][42][43][44][45] Nesenoff was on the White House grounds for an American Jewish Heritage Celebration Day, and he questioned Thomas as she was leaving the White House via the North Lawn driveway:

    Nesenoff: Any comments on Israel? We're asking everybody today, any comments on Israel?

    Thomas: Tell them to get the hell out of Palestine.

    Nesenoff: Ooh. Any better comments on Israel?

    Thomas: Hahaha. Remember, these people are occupied and it's their land. It's not German, it's not Poland...

    Nesenoff: So where should they go, what should they do?

    Thomas: They can go home.

    Nesenoff: Where's the home?

    Thomas: Poland, Germany...

    Nesenoff: So you're saying the Jews go back to Poland and Germany?

    Thomas: And America and everywhere else. Why push people out of there who have lived there for centuries? See?

    Nesenoff: Are you familiar with the history of that region?

    Thomas: Very much. I'm of Arab background.

    Nesenoff: I see. Do you speak Arabic?

    Thomas: Very little. We were too busy Americanizing our parents... All the best to you.
   
    —May 27, 2010, RabbiLive.com