Espanha, Arteixo, Porto Exterior da Corunha, concluído em 2012. |
Portos de águas profundas, precisam-se!
Sines andou mais depressa depois do Terminal XXI ter sido entregue à Autoridade Portuária de Singapura, mas falta espevitar todo o potencial que este porto de águas profundas e a sua área de actividades complementares oferece, a tempo de evitar que algum tráfego essencial de grandes navios, nomeadamente da classe Post-Panamax e Suezmax, ou ainda da classe Mærsk E e Maersk Triple E, todos eles exigindo profundidades de acostagem acima dos 15 metros, acabe por eleger a Galiza como preferida porta de entrada na Europa, ou fugir para os portos do Mediterrâneo.
É que em Ferrol, onde se construiu o único porta-aviões que a Espanha tem, já existe desde 2005 (Acciona) um novo porto de águas profundas, o chamado Porto Exterior de Ferrol, cujas ligações à rede ferroviária espanhola foram recentemente anunciadas pela ministra galega Ana Pastor. E a Corunha deverá inaugurar ainda este ano o seu Porto Exterior, de águas profundas, situado na Punta Langosteira, na mesma localidade que alberga o quartel-general da Zara (Inditex), e que passará a processar todas as cargas sujas e perigosas que hoje colocam em risco a saúde dos habitantes da bela e sempre muito animada cidade galega.
Na realidade, o Porto de Sines tem dimensão, gestão e potencial de crescimento para continuar a ser a principal porta de entrada atlântica de mercadorias contentorizadas na Europa, mas não pode andar a dormir na forma, em compassos de espera partidários para favorecer os rendeiros, as corporações e as clientelas do costume. Se crescer como deve, e se for capaz de criar uma infraestrutura de transhipment adequada, a par de se tornar também um porto de exportação a sério (pois nenhum navio gosta de regressar a casa vazio...), então os novos portos de mar batido da Galiza, para além de servirem sobretudo a região, poderão tornar-se parte dessa frente atlântica economicamente forte de que a península ibérica precisa para ser Europa.
Até o Economist percebe estas coisas, e opina sobre o que falta fazer para tornar os portos portugueses competitivos, tendo sobretudo presente que Roterdão está praticamente saturado, e que um dia destes, quando menos esperarmos, os russos podem pregar uma partida à Alemanha, ou a estupidez americana e israelita poderão conduzir ao fecho do Canal do Suez, ou mesmo do Golfo Pérsico!
Ports in the storm
Portugal needs to privatise its ports to reap the full benefits of its location. The latest in our series on reforming Europe’s economies
The bulkiest vessels can carry 14,000 twenty-foot containers—a cargo that would require a train 85km (53 miles) long if transported by rail. The result is huge economies of scale: the cost per container on an Asia-to-Europe trip has fallen from around $1,000 to below $300, according to one study.
Big ships will stop at only four or five destinations in Europe, raising the stakes for ports trying to win their custom, according to Neil Davidson of Drewry Shipping Consultants. To lure them, ports need deeper harbours and bigger cranes to unload the cargo. They also need to offer an attractive onward route to final customers. This can be overland using trucks, or by sea if the port offers connections with lots of smaller ships. For Portugal, this means competing to serve the cities of Seville and Malaga by lorry or train, or acting as a shipping hub by battling with rival ports in Spain and Morocco.
in Economist, Mar 24th 2012 | Sines | from the print edition
Visto o panorama, até um idiota percebe que a frente portuária da Portugaliza só terá pleno e estratégico êxito se for capaz de ligar o transhipment, não só a uma moderna e versátil navegação de cabotagem pelas costas europeias, por forma a chegar ao maior de número de portos preparados para contentores, como também a boas redes de estradas (já temos!), e à rede ferroviária de bitola europeia que, sem roturas de carga, chegue rapidamente e a preço competitivo aos quatros cantos de Ibéria e aos quatro cantos do resto da Europa!
É assim tão difícil compreender? Quando é que os políticos aprendem a tratar do que é importante?
COMENTÁRIO
Adapto para esta publicação a observação oportuna e clarificadora de Luís Cabral da Silva:
Cabe aqui um comentário à referência feita no texto do Economist sobre a descarga completa de um porta-contentores de 14.000 TEUs (em Portugal, só possível em Sines), a qual careceria de um comboio de cerca de 90 km de comprimento para o seu transporte! Não existem comboios com tal comprimento. Na Europa, a referência são composições com um comprimento máximo de 750m, o que significaria no caso apontado pelo Economist algo como 127 comboios para um super porta-contentores. No entanto, se o transporte optasse pela via rodoviária, seriam necessários de 10.000 a 14.000 camiões, dependendo da sua capacidade e dos limites das vias rodoviárias percorridas!
Claro que só num porto terminal poderá ocorrer a descarga da totalidade de um navio das dimensões referidas, mas, no limite, teria então também que se equacionar um movimento equivalente e de sentido contrário para a sua carga, ou o negócio seria pouco menos do que ruinoso.
No caso de Sines, a acessibilidade ferroviária de que dispõe nada tem que ver com estes números, pelo que urge conferir-lhe novos acessos ferroviários "profissionais", que não poderão ignorar as redes transeuropeias já desenhadas e decididas por Bruxelas e, consequentemente, a bitola europeia. A velha e limitada bitola ibérica não serve! Apesar de contar ainda com fortes apoios em membros do actual Governo.
ATUALIZAÇÃO
Pastor califica de “espectacular” el comportamiento de los tráficos portuarios en los últimos meses
“…Pastor se refirió a la necesidad de conectar España con Europa a través del ancho ferroviario UIC como una de las principales prioridades y al mismo tiempo, retos a alcanzar, ya que ello permitirá la conexión de los puertos y en definitiva, la intermodalidad, elemento “clave” en el modelo de eficiencia y rentabilidad que persigue el ministerio.”
in Diario del Puerto, 6 set 2012.
Última atualização: 6 set 2012 13:35
1 comentário:
É óbvio, há muito tempo, que para os nossos vizinhos espanhóis a "bitola europeia" -com ligação a Sines- é um dilema.
A conversinha ridícula "TGV Madrid", -que apaixonou tanto políticos e empresários financiados pelo contribuinte- serve para aquilatar a classe, de certa classe política.
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