|
Paulo Morais admite que Portugal precisa de “uma grande regeneração” a todos os níveis Fotografia: António Pedro Ferreira/ Expresso |
O candidato do PS chama-se Guterres, e o do PSD, Durão Barroso
Henrique Neto deu o tipo de partida, Sampaio da Nóvoa agitou as águas da esquerda e eis que as candidaturas presidenciais nascem como cogumelos. Paulo Morais, professor universitário e comentador do "Correio da Manhã", dá uma entrevista ao jornal que não deixa margem para dúvidas: "Sou candidato às presidenciais". E dá pormenores: a candidatura será apresentada no próximo dia 18, no Piolho, um café emblemático da cidade do Porto. "Depois de uma longa reflexão entendi que essa era a melhor forma de intervir na política", diz Paulo Morais.
— Abílio Ferreira | 9:37 Quinta, 9 de Abril de 2015 | Expresso
A proliferação de candidaturas presidenciais fora do sistema estreita a margem de manobra da nomenclatura que nos arruinou. Desde logo porque nenhum pré-candidato poderá ter a veleidade de passar à condição de candidato sem passar pelo crivo das redes sociais.
O tempo em que as tertúlias televisivas como a Quadratura do Círculo pontificavam e fabricavam candidatos para isto e aquilo passou à história. Assim se explica, pois, a morte antecipada de dois pré-candidatos cor-de-rosa —António Vitorino e Sampaio da Nóvoa— lançados na esteira desastrosa de António Costa.
António Vitorino é um oportunista que contrabandeia o 'socialismo' por uma rica vida de facilitador de negócios, incluindo a via verde que permitiu ao espanhol Santander negociar
swaps especulativos com o governo PS do Recluso 44. Sampaio da Nóvoa, por sua vez, é uma nódoa ideológica cujo
pedigree universitário nada acrescenta, inventada pela tríade que manda no PS e que anda desesperada com a falta de controlo sobre a Justiça portuguesa.
Por junto temos, desde que Henrique Neto se apresentou como pré-candidato às eleições presidenciais de 2016, duas tentativas de voo presidencial que borregaram, e o
striptease do novo secretário-geral do Partido Socialista.
A cada comício que faz, Costa fica mais parecido com o realejo de Jerónimo de Sousa:
precisamos de mudar de política, e para mudar de política temos que mudar de governo, etc. O PS que Mário Soares, Almeida Santos, José Sócrates e Jorge Coelho entregaram em regime de comodato a António Costa parece, pois, caminhar rapidamente para uma emulação do PCP, prevendo-se que na hipótese inverosímil de ganhar as próximas eleições, sem maioria, queira protagonizar a formação de uma nova Frente Popular, servida com canapés de caviar e espumante de Lamego. Onde estão os jovens turcos do PS? Talvez aguardem paulatinamente que o sargento-ajudante Costa se afogue na maré populista que vai segregando.
Neste contexto, o anúncio de uma nova candidatura presidencial estranha à nomenclatura do regime que arruinou o país, desta vez protagonizada por Paulo Morais, mostra até que ponto o caminho das alternativas oriundas do PS, do PSD e do CDS começa a estreitar-se.
Jaime Gama, Maria de Belém, Carlos César, Rui Vilar, ou Artur Santos Silva —nomes que têm circulado por aí— são hipóteses fracas, até porque seriam sempre candidatos partidários e com percursos de vida pouco convincentes para o cargo.
Na banda azul e laranja, depois da desistência de Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa é uma não hipótese, apesar da vontade mal disfarçada domingo a domingo deste intriguista-mor do reino.
Marcelo é um comentarista divertido, mas nunca foi um político, ou melhor, quando tentou sê-lo revelou-se um desastre total. Por outro lado, o modo leviano como, à semelhança de Cavaco Silva e de Carlos Costa, defendeu a excelência do sistema financeiro indígena, e a solidez de um banco,
o BES, onde por acaso a sua companheira era administradora, coloca-o entre as esponjas de um regime corrupto e falido até às entranhas. Ou seja, não serve.
Não é por acaso que os partidos andam tão calados sobre a questão presidencial. Por um lado, temem a hipersensibilidade popular, nomeadamente através da nascente democracia eletrónica das redes sociais que tanto aflige José Pacheco Pereira e Miguel Sousa Tavares, e por outro, sabem que sem conhecer os resultados das Legislativas de outono, Belém é uma incógnita completa.
Estou convencido de que António Guterres avançará para Belém no caso da atual coligação renovar a maioria com ou sem a ajuda de Marinho Pinto. E estou também convencido que Durão Barroso será o próximo presidente da república caso o vazio Costa acabe por ganhar as eleições por uma unha negra e embandeire em arco numa qualquer coligação populista com o PCP, o Bloco de Esquerda e o Livre.
Mas também poderá ocorrer o imprevisto de Paulo Morais e Henrique Neto baralharem por completo o jogo das próximas eleições presidenciais.
Até lá, ou muito me engano, ou António Costa ir-se-à afundando na vacuidade de uma retórica cada vez mais próxima do realejo comunista.
Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação