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sábado, março 09, 2019

Uma borboleta chamada BE

Marisa Matias e Miguel Portas, um par que mudou o Bloco

Tenho a impressão que vou votar no Bloco. E não será só por gostar de mulheres


A abstenção dá-me azia. E votar em branco faz de mim um rato de sacristia. O Bloco ainda está a tempo de se tornar um partido de poder, certamente de esquerda, de causas tipicamente pós-modernas, mas também com realismo e sentido das proporções. A limpeza da casa ideológica está no bom caminho, mas fazem falta mais umas boas sessões psicanalíticas e teóricas de desconstrução marxista. A prioridade é estabilizar o PS naquilo que sempre foi e é, travando o oportunismo populista de António Costa, que pode causar estragos irreparáveis ao regime, mas também a emergência dum PS de esquerda, em vez de social-democrata, liderado por Pedro Nuno Santos. Um PS cavalgado pelo homem que faz (creio) a ligação do Bloco à Geringonça poderá realizar o sonho alquímico de Francisco Louçã, mas dará cabo do BE. Por sua vez, o centro-direita explodiu e continua à procura da sua identidade perdida. Vão precisar de mais uma ou duas legislaturas para se reencontrarem, tal como previ ao ver nascer a Geringonça. Isto, se a Aliança tiver algum sucesso!

Preferia ter uma democracia sem partidos, participativa, cognitiva, tecnologicamente avançada, culturalmente sofisticada. Mas enquanto lá não chegamos, o meu voto é oscilante, ou puramente tático. Não tenho partido desde 1976...

Não ignoro os perigos do oportunismo e do populismo que infelizmente contaminam todos os partidos. A recessão demográfica acompanhada do envelhecimento populacional é o principal problema português. Daqui decorrem todas as outras dificuldades, alguma delas insanáveis. O endividamento público insustentável, longe de ser apenas o efeito de más políticas governamentais e partidárias, é o resultado direto do custo desproporcional do estado social relativamente aos impostos exigidos ao trabalho e ao investimento produtivo. A fadiga fiscal resultante diminui inevitavelmente as poupanças pública e privada, atrasa os investimentos, reduz os rendimentos e a produtividade do trabalho, induz maior atrito laboral, social e cultural na sociedade, e tende, por fim, a transformar o aparelho do estado numa almofada corporativa, que todos os partidos e uma boa parte da sociedade disputam, mas que é muito prejudicial à saúde democrática do regime.

O olho da direita deixa-me ver uma realidade onde se percebe claramente que o empobrecimento associado ao crescimento das burocracias partidárias e corporativas assim como à crescente indigência social, tende a fazer resvalar democracias frágeis como a nossa para a emergência de regimes populistas e autoritários de esquerda. Por outro lado, o olho da esquerda mostra-me como, quem tem algo de seu, se for encostado às cordas da expropriação fiscal, acabará por exigir e conseguir o regresso de uma ditadura da propriedade. Estes são, porém, olhares estrábicos. E o estrabismo, como sabemos, tende a ignorar o que um dos dois olhos vê. A visão maniqueísta é, assim, uma visão estrábica.

A quadradura do círculo é esta: precisamos de um estado social financiado por quem trabalha, por quem investe e pelos rendimentos do capital. Mas o paradigma demográfico de que já fazemos parte impõe-nos, sob pena de matarmos, de uma maneira ou doutra, o próprio estado social e a democracia, uma racionalização e otimização sem precedentes do aparelho de estado, do perímetro da solidariedade intergeracional, e de cada euro fiscal gasto. Esta revolução exige revolucionários. Esta revolução exige uma mudança radical nos padrões éticos da nossa democracia. Os thesaurus das ideologias dominantes, à esquerda e à direita, estão demasiado exauridos para que das suas linguagens consigamos extrair novos discursos políticos que façam sentido e sirvam para orientar a ação coletiva. Precisamos de novas palavras e gestos para gerir as nossas vidas.

Uma parte crescente dos eleitores deixou de votar porque não se revê nas ofertas eleitorais disponíveis, em nenhum dos partidos do regime eleitos e por eleger. Lembro-me sempre, a este propósito, da anedota bocageana do homem que andava nu pelas ruas com uma peça de fazenda ao ombro... à espera da última moda! Andar nu ao frio não é solução. Há que votar onde a nossa a carteira pede, ou onde o nosso coração manda. Alternativa a isto é votar com os pés, emigrando. Infelizmente, é o que centenas de milhar de portugueses voltaram a fazer.

Votar no Bloco é um voto útil contra a maioria absoluta de António Costa. E isso me basta, por enquanto.

Post scriptum

Quase 24 horas depois de ter publicado este post encontrei esta pérola no Expresso, oriunda do Diário de Notícias:

Francisco Louçã: “O Bloco pode vir a ser o segundo maior partido”
Expresso, 09.03.2019 às 12h34 
Francisco Louçã acredita que o Bloco de Esquerda (BE) pode ultrapassar os sociais-democratas nas eleições. “O PSD é o segundo partido. Mas o Bloco de Esquerda pode vir a ser o segundo partido, é claro que pode”, garante numa entrevista ao “Diário de Notícias”. 
O histórico dirigente, que não faz parte de qualquer organismo do partido, defende que “o BE deve ambicionar que a alternância não seja sempre entre PS e PSD e portanto que passe a haver um polo à esquerda que seja um referencial.” E vai mais longe: “Se o PSD disputa 20% não há nenhuma razão para que o Bloco de Esquerda não queira, um dia, ultrapassar esse nível.”

Louçã até tem razão quando defende que “o BE deve ambicionar que a alternância não seja sempre entre PS e PSD e portanto que passe a haver um polo à esquerda que seja um referencial.” E vai mais longe: “Se o PSD disputa 20% não há nenhuma razão para que o Bloco de Esquerda não queira, um dia, ultrapassar esse nível.” Se o PSD se partir aos bocadinhos, como parece ser seu destino sob a batuta serôdia de Rui Rio, o chamado centro direita entrará numa década de agonia, uma vez mais à procura do Francisco Sá Carneiro que, como todos sabemos, morreu a 4 de dezembro de 1980. Num país de indigentes profissionais, e de classe, como o nosso, nunca houve uma direita que não fosse, ela também, estatista e subsidio-dependente, logo com algum tecido adiposo de esquerda e muita vontade de ‘trabalhar’ para o estado. Ora assim sendo este nosso pequeno Portugal, é bem provável que uma parte do eleitorado laranja emigre para o PS, na esperança que este se modere, e que o Bloco continue a crescer nos prados mais verdejantes do PCP e do PS.

Atualização 10/3/2019 19:17 WET

segunda-feira, julho 30, 2018

Louçã também deveria demitir-se

À fragata (NATO) NPR "Gago Coutinho", comandada pelo Comandante Seixas Louçã, foi dada ordem de fogo. Felizmente, os oficiais a bordo não cumpriram a ordem do instável militar.
Foto: Alfredo Cunha

Este Alves dos Robles infetou o Bloco de Esquerda até ao tutano!

Ricardo Robles renuncia ao cargo de vereador do BE em Lisboa
Eleito em 2017, representante do Bloco de Esquerda deixa a vereação após a polémica em torno dos investimentos imobiliários em Lisboa.
PÚBLICO 30 de Julho de 2018, 12:08
Em que posição ficam o beato Louçã, a serviçal Catarina e a ex-futura ministra Mariana? Ou muito me engano, ou a ala estalinista do Bloco (Fazenda, Rosas, etc.) vai regressar em força, o que não deixará de acelerar a caminhada deste saco de gatos pequeno-burgueses para a sua merecida irrelevância.

O sonho do degenerado trotskysta Francisco Louçã (será que ainda vegeta pela IV Internacional?) era ser vice-primeiro ministro de um Governo PS, cumprindo o desiderato revisionista que sempre o acompanhou na sua devoção marxista-leninista a Trotsky e ao senhor Mandel. Nunca percebeu a contradição em que viveu praticamente toda a sua vida. Em 25 de novembro de 1975 refugiou-se na clandestinidade em nome da segurança do partido, para logo depois expulsar os que ficaram na Rua da Palma e nos quarteis a aguentar o que então se percebia ser um perigoso, mas imparável descarrilamento da balbúrdia pré-revolucionária em curso. O país tornara-se um enorme furúnculo social, político e institucional, que consumia a velocidades estonteantes as reservas de ouro acumuladas por Salazar. A 'revolução', em suma, tomara o freio nos dentes, sendo por isso imparável. Na antiga Liga Comunista Internacionalista - LCI (uma das avós do Bloco de Esquerda) houve então quem preferisse continuar com as mãos na massa, nomeadamente dialogando com o PRP-BR, o PCP, o MDP, o MES, etc., para o que desse e viesse, mas sobretudo para impedir o pior. Louçã, filho do comandante que dera à fragata Gago Coutinho ordem de fogo contra os revoltosos na manhã de 25 de abril de 1974 quando esta se encontrava posicionada ao largo do Terreiro do Paço (1), preferiu sempre o conforto de uma subordinação estratégica a Mário Soares (e aos Estados Unidos), ainda que enfeitada com a retórica mandeliana, do que pensar honestamente nos interesses históricos do povo português. Um caso perdido.

Francisco Louçã deveria demitir-se do Conselho de Estado e do Banco de Portugal, em nome da coerência, mas também em nome da decência que tanto apregoa.

E o Partido Socialista deveria cuidar melhor da pública RTP, tomada de assalto, por dentro e por fora, por uma falsa esquerda radical, que mais não é que uma soma desmiolada de indigentes e pequenos aristocratas do regime.

Contratorpedeiro Huron das forças da NATO meteu-se entre a Gago Coutinho e a Praça.
NOTA

A ordem do “…Comandante ao chefe de Serviço de Artilharia para serem dados uns tiros para o ar, com munições de exercício” foi desobedecida, quando o oficial imediato “informou o Comandante de que os oficiais e ele próprio se recusavam a fazer fogo”. Esta atitude do oficial Imediato foi corroborada não só pelo chefe de Serviço de Artilharia, como também pelos restantes oficiais. De facto, não se verificou a execução da ordem, quer porque o Imediato teria informado, primeiro, o Comandante dessa recusa, quer porque o chefe de Serviço de Artilharia teria “inventado", depois, "problemas na artilharia", facto que, sem que o Comandante Louçã tivesse, sequer, procurado averiguar quais eram especificamente e que peças afectavam, o levou a informar o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada da existência de problemas na artilharia que impediriam o cumprimento das ordens recebidas, embora sem justificar a natureza dos mesmos. Na verdade, a execução da ordem de fogo, em sentido estrito, só se verificaria quando e se o chefe do Serviço de Artilharia mandasse dar fogo à peça, proferindo a expressão consagrada “Fogo”!

— in FRAGATA “GAGO COUTINHO”, Esclarecimentos necessários (pdf)

Um tiro no porta-aviões do Bloco

Francisco Louçã na Vi Convenção do Bloco de Esquerda (2009)
Foto: José Goulão/ Wikimedia


Francisco Louçã já não é, de facto, um trotskysta


Se este fim de semana não destruir o Bloco de populistas e especuladores capitaneado pelo beato Louçã, então é porque o país está definitivamente perdido. Já o efeito colateral deste escândalo é simples de imaginar: o fim da Geringonça e a maioria absoluta do PS nas próximas eleições.

Miguel Esteves Cardoso (MEC), na sua crónica no Público, escreve: “A pergunta que eu faria a Ricardo Robles é esta: a quem é que ele queria vender o imóvel? Quem é que ele acha que seria capaz de pagar os 5,7 milhões de euros que ele pedia?”

Ricardo Robles não pode obviamente responder a esta pergunta, sob pena de se auto-incriminar—ideologicamente, claro. Ocorre o mesmo, aliás, às criaturas perdidas que tomaram conta do dito Bloco de Esquerda: o conselheiro Acácio Louçã, a serviçal do conselheiro, Catarina Martins, o Alves dos Robles e a ex-futura ministra Mariana Mortágua.

Eu também tenho duas perguntas de algibeira:

1. Quanto vai custar a rescisão do contrato robliano com a Christie's?

2. Onde está o projeto e o alvará (obrigatórios) que permitiram a Ricardo Robles adicionar um piso (recuado) aos prédios que comprou?

MEC está, porém, enganado, num ponto: o Roblespierre do Bloco de Especulação despejou mesmo, pelo menos, um inquilino, mandou para o desemprego quatro funcionários dum café, e acossou ainda o dono dum prédio vizinho que reclamou contra as obras de ampliação que o dito trotskysta degenerado empreendeu com os favores da Câmara Muncipal de Lisboa e da Caixa Geral de Depósitos. Até prova em contrário estas deduções e suspeitas são mais do que legítimas. São flagrantes!

Não vejo, pois, como é que a malta do Bloco vai poder continuar a socorrer esta espécie chic de Capitão Roby fascinado pela Christie's. Se a criatura continuar na Câmara Municipal de Lisboa, e no Bloco, os fiéis do bloquismo não poderão mais abrir a boca sempre que alguém lhes fizer uma das três perguntas anteriores, sob pena de se transformarem em personagens anedóticos do Little Portugal.



Pobre Mariana. Pensei que ia mais longe...

Da imprensa deste fim de semana:
“Quem é rico e tem dinheiro fica com uns bons prédios em boas áreas”, criticou Mariana Mortágua na Assembleia Municipal de Lisboa em 2014. Robles estava ao lado e já tinha comprado o prédio.
“A cidade planeada à medida dos especuladores e o respeitinho pelo capital”.  
“O pequeno comércio expulso e os últimos residentes enxotados para a periferia” pelos grandes proprietários imobiliários.  
O sector privado “que desenha a cidade e a transforma ao seu gosto, decide quem fica e quem sai.”  
Estas três frases foram ditas a 14 de outubro de 2014 por Ricardo Robles, numa reunião da Assembleia Municipal de Lisboa para criticar a reabilitação que abria caminho a fins especulativos.  
Os que o ouviam ainda não sabiam, mas cinco meses antes o deputado municipal do Bloco de Esquerda tinha vencido um leilão para comprar à Segurança Social um prédio em Alfama por 347 mil euros, que anos mais tarde colocaria à venda no mercado por 5,7 milhões de euros. Ainda hoje recusa que se trate de especulação.  
A remodelação do imóvel de Ricardo Robles - vereador do BE na Câmara de Lisboa -, em Alfama, levou a que quatro funcionários de um café ficassem sem emprego.”Podiam ter sido cinco, mas eu optei por ir para a reforma, dado que já tinha 63 anos”, contou ete sábado ao CM o gerente do Pão com Manteiga, que pediu para o seu nome não ser publicado. Adiantou, ainda, que acabou por ser “despejado” por “decisão do tribunal”, porque “não aceitou vagar” o “primeiro esquerdo” do prédio que utilizava como “armazém” e “quarto de arrumos do pessoal”. “Era o local onde eu tinha duas arcas frigoríficas. Quis aumentar-me a renda de 270 euros para 400 euros, com a condição de eu sair do andar de cima. E como eu não aceitei, ele colocou-me uma ação de despejo, que foi concretizada em outubro de 2016.”
Esta é a definição, que o Bloco sempre usou, de um despejo
O arrendatário de duas frações do imóvel de Alfama - que Robles chegou a colocar à venda por 5,7 milhões de euros, tendo custado 347 mil euros ao político e à sua irmã Lígia - afirmou também ao CM que já avançou “para tribunal com um pedido de indemnização de 120 mil euros”. “Esta verba tem a ver com benfeitorias que fiz ao longo de 28 anos de arrendamento. Os últimos tempos que passei no café foram difíceis. Pela pressão de ter de sair e pelas obras de remodelação. Havia sempre muito ruído e muito pó. Fiquei muito desgastado e decidi ir para a reforma”, vincou. 

terça-feira, novembro 28, 2017

Da liberal Bélgica à socialista indigência



Não admira que nunca tenhamos emigrado tanto desde a guerra colonial


Regressi a Lisboa, de Bruxelas. Mal habituado a uma semana de transportes públicos na monárquica e liberal Bélgica, resolvi fazer o mesmo na capital da nossa indigente, irresponsável, populista e desmiolada república.

Tomei o Metro em direção ao Cais do Sodré. Na estação da Alameda, o único elevador existente na plataforma está avariado. "EQUIPAMENTO FORA DE SERVIÇO", dizia o letreiro mal despachado a 50 cm do dito elevador. Eu, turistas, uma velhinha com mais de oitenta anos e visíveis dificuldades de locomoção, e ainda uma jovem mãe com bebé e carrinho, todos a pé pelas escadas de calcário até ao piso superior.

Lá seguimos, depois desta estafa, até ao Cais do Sodré. Aí chegados, a mesma informação: "ACESSO ENCERRADO". Butes, e é se queres, pareceu-me ouvir o Jerónimo de Sousa, o Costa e o Louçã vociferarem em uníssono.

Bem-vindo ao novo terceiro mundo, onde ser europeu é uma espécie de castigo que as esquerdas só mortas aceitarão.

Depois admiram-se que os portugueses, ou pasmem 24/24 em frente ao futebol das nacionais-televisões indígenas, ou prefiram aumentar a intensidade energética da sua economia e, portanto, a dívida externa e o endividamento geral desta cada vez mais desgraçada comunidade, comprando automóveis a crédito e pizzas.

Claro que, para a minoria de que faço parte, mas de que não me orgulho, a melhor forma de não aturar esta piolheira é chamar um Uber, ou nunca mais pensar na boa ação de deixar o carro na garagem e ser por uma vez um cidadão sustentável.

Já o socialista Pedro Nuno Santos, esse ou vai de Maserati, ou de Porsche, não é?

domingo, julho 16, 2017

PCP quer entrar no Governo


Uma ideia lógica, mas tardia?


Jerónimo de Sousa: “O PCP sempre afirmou que fará parte de um Governo que corresponda a avanços, uma interrupção com a política de direita. Propomos uma política alternativa, patriótica e de esquerda, com grandes eixos centrais no plano económico, social, europeu. Insisto nesta ideia, o PCP será Governo se o povo português quiser”. DN, Lusa 16 DE JULHO DE 2017 09:00.

O padre Jerónimo tem o missal da Frente Popular cada vez mais à vista de todos. Álvaro Cunhal chamou-lhe Patriótica, na boa linha estalinista do socalismo num só país (1). Ao contrário dos outros padres, não segue a máxima que garantiu a reconhecida longevidade do Crisitianismo: a César o que é de César, a Deus o que é Deus.

Assim sendo, pela promiscuidade evidenciada entre o Padre Nosso marxista-leninisa-estalinista, as infiltrações no aparelho de estado (sobretudo nos braços judicial, educativo, e cultural), a força, embora declinante, nas burocracias sindicais e nas autarquias, somadas à não despicienda receita fiscal do Estado e da União Europeia de que vivem, sobra-lhes cada vez menos credibilidade e consistência. Ou seja, tal como o marxismo-leninismo em geral, o PCP foi um breve sonho de inverno. Até os santos pastorinhos e Nossa Senhora de Fátima os ultrapassaram, em audiência local, mas sobretudo no plano do internacionalismo militante!

As declarações de Jerónimo de Sousa à Lusa, em 16 deste mês, têm no entanto um significado na espuma dos dias que convém analisar. Desde logo, exprimem um desejo há muito reprimido da nova geração de dirigentes comunistas. Por outro lado, ultrapassaram uma vez mais o Bloco no que é a evidente estratégia desta frente de extrema-esquerda que Francisco Louçã (2) persegue desde que o conheço: converter os socialistas burgueses e pequeno-burgueses do Partido Socialista ao verdadeiro socialismo revolucionário de Léon Trotsky.

Desde que a Geringonça nasceu, apesar do seu oportunismo desesperado, que defendo a sua formalização numa verdadeira frente popular pós-moderna. Defendi e defendo, sim, a constituição de um governo de coligação entre o PS, o PCP e o Bloco, onde o PS seria claramente predominante, mas onde comunistas e socialistas revolucionários teriam pastas ministeriais de relevo em domínios como a educação, a cultura, o emprego, o ambiente, a agricultura e o poder local.

Só assim podemos fazer a prova do algodão das esquerdas!

E só assim, também, haverá lugar a uma refundação do corrompido, decadente, e incompetente sistema partidário que temos.


NOTAS

  1. O chamado socialismo num só país resulta de uma teoria contra-intuitiva do marxismo-leninismo, desenvolvida por Nikolai Bukharin, em 1925, e adotada por Estaline na sequência das sucessivas derrotas das revoluções socialistas na Europa. A discussão teórica desta polémica levar-nos-ia muito longe, mas importa aqui reter que o revisionismo da revolução socialista mundial preconizada na consigna Proletários do Todo O Mundo, Uni-vos! gozou de alguma plausabilidade num país como a Rússia, dada a sua extensão territorial e autonomia energética. O socialismo num só país chamado Rússia exigiu, todavia, uma condição a priori: jamais ser uma democracia, mas tão só uma ditadura burocrática (propagandisticamente apelidada de ditadura do proletariado), onde o antigo czar fora substituído pelo presidente do comité executivo do comité central do partido único que comandava o estado e toda a sociedade russa. O velho despotismo asiático russo, dirigido por uma aristocracia rural e por um príncipe absoluto rodeado de cortesão e burocratas, tão bem caracterizado por Karl Marx, não deu lugar a qualquer forma de socialismo, mas apenas à transição forçada (na realidade, acelerada e brutal) de uma secular sociedade campesina para uma sociedade industrial. Ou seja, o que a burguesia fraca e essencialmente clientelar da Rússia não soube, não quis, não pôde fazer, isto é, introduzir o capitalismo na Rússia, fizeram-no Lenine, Trotsky e sobretudo Estaline, ainda que em nome de uma liturgia completamente degenerada. O resultado foi, sobretudo depois da derrota de Hitler, um arquipélago continental (a URSS) politicamente herdeiro do cesarismo autocrático que sempre predominou na Rússia, onde se fez a experiência, não do socialismo num só país, mas antes do capitalismo de estado num só país. Este começou por falhar desde o início da Revolução Russa (1917), isto é, desde o assassinato do czar e da família próxima, prolongando a miséria e o sofrimento de milhões de pessoas até ao colapso da União Sociética em 1991. O capitalismo de estado num só país procurou alternativas alargando o espaço vital da Rússia até às capitais do que viria a ser conhecido como Europa de Leste. A descida desta cortina de ferro estalinista, como lhe chamou Churchill (1946), foi ainda uma maneira de acelerar a entrada da revolução industrial em países atrasados sob todos os pontos de vista. A guerra e a indústria de guerra a isso ajudaram. Mais tarde, a mesma receita estendeu-se à Ásia (protagonizada pela China e pelo seu principal líder, Mao Tsé-Tung), e o mundo bipolarizou-se de vez, entre duas formas de capitalismo: uma democrática, caracterizada pela separação institucional de poderes (legislativo, executivo e judicial), pela liberdade de expressão, de organização e de iniciativa, e sobretudo pela afirmação dinâmica do Estado de Direito, outra, cesarista e burocrática, onde nunca houve qualquer expressão de democracia, nem de liberdade. Sabemos bem como o capitalismo de estado, cesarista, burocrático e despótico, num só país, ou mesmo estendido a mais de metade do mundo demográfico viria a fracassar redundou num estrondoso fracasso. A prova do nove viu-se no colapso da antiga União Soviática. A prova real será em breve observada na China, quando os picos do crescimento (demográfico, energético e financeiro) originarem o colapso do mandarinato sediado em Pequim. A tensões externas que realmente afetarão a China começaram onde menos se esperava: na Coreia do Norte. Regressando a Portugal, parece evidente que o querido Governo Patriótico de Esquerda desejado por Jerónimo de Sousa, por maioria de razão, se não é uma forma de puro oportunismo destinado a segurar a relação parasitária que o PCP mantem há décadas com o aparelho e os orçamentos de estado, então será uma de duas coisas: ou uma perigosa fuga em frente pressionada pela desagregação da classe média (o populismo tem várias máscaras), ou então, o início de uma lenta reconversão ideológica do partido que ainda hoje se confunde com Álvaro Cunhal. Perceberemos em breve, certamente depois da spróximas eleições autárquivas, o que poderemos esperar das palavras de Jerónimo de Sousa. 
  2. Como não renunciou publicamente a esta forma de fé, presumo que o Professor Francisco Louçã, além de conselheiro do estado burguês que temos, continue a ser um dos principais dirigentes da obscura IV Internacional.



sábado, março 11, 2017

“A Esquerda lava mais branco”—um aviso ao Presidente



Do populismo vermelho a um novo episódio de asfixia democrática

“A Esquerda lava mais branco” — Luis Mira Amaral.
José Gomes Ferreira é um dos mais respeitáveis e independentes jornalistas económicos portugueses (também porque tem opiniões próprias, claro!) Perante a tenaz que anda por aí a tentar estrangular a liberdade de opinião e publicitação de ideias, e que agora virou agulhas contra o jornalista da SIC (mas que começou a agir no dia seguinte ao da constituição da Geringonça, sobretudo através da mão invisível de António Costa), afirmo bem alto a minha solidariedade com o José Gomes Ferreira, e também afirmo que não tenho qualquer medo dos piratas medíocres, corruptos e culturalmente indigentes que arruinaram o país. O tempo da clarificação aproxima-se rapidamente, e por isso anda tanta gente tão nervosa.

A censura da opinião livre é uma pulsão estrutural das esquerdas leninistas—trotsquistas, estalinistas, ou maoistas. Assumem-na como uma consequência da sua crítica ao que chamam humanismo e liberdade burgueses.

Estes herdeiros da degenerescência do marxismo promovida por Lenine e Trotsky, no fundo, continuam coerentes com o que sempre defenderam e continuam a defender: a ditadura em nome do proletariado, em nome do povo, ou em nome do que, eufemisticamente, Francisco Louçã agora chama decência..

No contexto de uma democracia burguesa como a que temos, esta pulsão transforma-se, para melhor esconder as suas intenções, num polvo que atua silenciosamente sempre que pode e lhe dão espaço—com a colaboração dos submissos de sempre.

O que se está a passar neste momento em matéria de tentativa estúpida de transformação dos chamados órgãos comunicação social—virtualmente falidos, como sabemos— em órgãos de manipulação social, deve preocupar qualquer democrata que saiba que não existe democracia sem liberdades burguesas.

Marcelo Rebelo de Sousa tem, pois, poucas semanas ou meses para acordar do seu devaneio peripatético e narcisista. Se tal não ocorrer e continuar a representar o papel de meio César do cesarismo bicéfalo que paira por cima da Geringonça, ver-se-à mais cedo do que imaginava a contas com o povo que o elegeu.

Eu votei em Marcelo, mas começo a inquietar-me com a sua sobre-exposição mediática. Seria bom que lesse algo sobre a diferença entre a entropia na físisa e entropia na informação.

A repetição e a simetria na física dão origem à ordem, ou seja, a uma forma de neguentropia, mas na informação, a repetição e a simetria provocam o esvair progressivo da eficácia das mensagens, ou seja, entropia. Recomendo-lhe, pois, que substitua as selfies perenes do Instagram, pelo Snapchat!

quarta-feira, março 08, 2017

Populismo vermelho




Bastaram doze meses...


Não foram as ameaças a impedir a conferência de Jaime Nogueira Pinto. Foi o medo. Foi a conivência. Foi o reconhecimento da superioridade da extrema-esquerda. 
Helena Matos, Observador, 7/3/2017

Aguardo excitadíssimo uma reação dos professores e alunos da Universidade Nova que condenam esta censura inacreditável da liberdade de expressão. O sucedido é grave, sobretudo se o virmos no contexto de uma degradação económica e institucional das classes médias, e do ascenso do populismo por toda a Europa e Estados Unidos. Esta combinação é o fermento típico do fascismo, que aliás sempre nasceu no ventre dos partidos socialistas e comunistas patrióticos. Escrevo isto com o à-vontade de quem nunca prestou grande atenção à direita corrupta ou desmiolada que temos. E de quem nunca leu, nem tem especial apreço pelo taciturno Jaime Nogueira Pinto. O que me preocupa mesmo é a degenerescência, a corrupção e o fascismo que começa a medrar no útero das esquerdas.

E agora Marcelo?

Como se vê por este incidente, que o Presidente da República não comentou (e ele comenta tudo, não é?), Marcelo Rebelo de Sousa, afinal, nem fala de tudo, nem é equidistante. Tão poucos meses para tão grande arrependimento—o meu!

segunda-feira, outubro 05, 2015

O próximo presidente

Marcelo Rebelo de Sousa no Alentejo
Foto (pormenor): Manuel Isaac Correio/Jornal Alto Alentejo

O senhor que se segue no Palácio de Belém


A desastrosa situação em que se encontra o Partido Socialista catapultou o Bloco de Esquerda para o terceiro lugar do hemiciclo, à frente do CDS/PP, e do PCP, e promete estender uma passadeira vermelha a Marcelo Rebelo de Sousa em direção a Belém.

António Costa poderia ter-se demitido ontem, como deveria tê-lo feito se fosse o que não é —uma pessoa decente—, sem por isso deixar de assegurar a gestão corrente do partido até à realização dum congresso extraordinário que sarasse de vez o problema da transição geracional de que desesperadamente precisa para sobreviver. Ao obedecer, uma vez mais, aos pequenos imperadores que não desgrudam, prestou mais um péssimo serviço ao partido que Helena Roseta gostaria de ver numa Frente Popular com a duração dum fósforo aceso.

O Partido Socialista de António Costa simulou desesperadamente uma viragem à esquerda para evitar o que já se adivinhava, ou seja, um fuga maciça de eleitores moderados de esquerda para um Bloco inesperadamente mais realista e conciso.

O bluff cor-de-rosa falhou, pois as cartas de Costa são as cartas de José Sócrates Pinto de Sousa que, por sua vez, são as cartas de Jorge Coelho, Ferro Rodrigues, Almeida Santos, etc., etc., etc. que, enfim, são as cartas de Mário Soares. Ou seja, uma baralho viciado de traições ideológicas, populismo e processos judiciais por corrupção.

Nestas circunstâncias, quem irá o PS apoiar nas eleições presidenciais?

Será capaz sequer de apoiar um único candidato? Muito dificilmente. O Bloco de Esquerda tem um candidato natural razoavelmente credível: Francisco Louçã, capaz de se opor com autoridade e pedagogia a Marcelo Rebelo de Sousa, o agora óbvio candidato do PáF.

Maria de Belém, ou o fantasma proposto pela esquerda desorientada —Sampaio da Nóvoa—, têm ambos o mesmo problema: não sabem o que pensa o PS, nem sabem, por isto mesmo, de onde lhes virá o dinheiro para a campanha eleitoral. Ora sem dinheiro, nem apoio partidário, não há candidato que resista. Que o diga Henrique Neto!

Esta previsão é contra-intuitiva, na medida em que continua a haver aparentemente uma maioria de esquerda no país. No entanto, estou convencido de que algumas realidades acabarão por eleger Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta:
  • não haverá candidato único da esquerda, 
  • haverá candidato único do centro-direita (pois não creio que Passos Coelho e Portas venham a apoiar Rui Rio), 
  • a situação económica, financeira e política mundial continuará a dar muitas dores de cabeça ao mundo, à Europa e a Portugal até ao fim desta década, 
  • a gestão da nossa descomunal dívida pública e privada vai acabar por exigir uma diminuição do peso e preço da máquina do estado, exigindo assim uma negociação permanente entre a repressão fiscal e financeira dos contribuintes (pessoas e empresas—sobretudo as grandes empresas que vivem de rendas e em regime de quase monopólio), e a inovação, eficiência e transparência cada vez mais necessárias à sobrevivência do estado social.

terça-feira, setembro 08, 2015

A reestruturação da dívida ucraniana

Anarquistas russos na guerra civil da Ucrânia (Autonomous Action, Moscow)

Será que Louçã recomenda o desastre, já não grego, mas ucraniano, como atalho para a reestruturação da dívida portuguesa? O homem perdeu a cabeça!


Sim, é possivel: a reestruturação da dívida da Ucrânia
8 de Setembro de 2015, 09:18
Por Francisco Louçã, Público

Creio que só o Jornal de Negócios se referiu em Portugal à notícia: depois de cinco meses de negociações, o governo de Ucrânia chegou a acordo com os seus credores, excepto a Rússia, para uma reestruturação da sua dívida pública que levará ao corte de 20% do seu valor nominal (de 18 mil milhões de dólares, cerca de 4 serão apagados).

O trotsquista Francisco Louçã é um velho político quadrado. E 'burro velho não ganha andadadura'.

Como todos sabemos, a reestruturação da dívida portuguesa, pela via da destruição das taxas de juro, da troca de dívida cara por dívida menos cara, e ainda pela via do aumento dos prazos das maturidades, tem vindo a ser realizada. Louçã, porém, omite a verdade, ou recalca-a no seu recôndito e ortodoxo crânio, como um dos muitos lapsos conceptuais de que necessita para manter a sua inabalável fé marxista.

O melhor mesmo é deixarmos de entregar a gestão do país a um ARCO PARLAMENTAR que, em quarenta anos apenas, conseguiu três pré-bancarrotas e a maior vaga de emigração desde os anos 60 do século passado.

Para esta gente, 'reestruturar' só significa uma coisa: não pagar, para assim manter a democracia neocorporativista e populista que temos, e o regabofe! Acontece que este status quo morreu. Ou superamos a crise e substituímos a democracia populista, corrupta e falida, que temos, por uma democracia adulta, responsável e participada, ou a sombra de uma nova ditadura provinciana acabará por ressuscitar os velhos demónios do atavismo autoritário indígena.

Já agora, a pergunta milionária a que todos os políticos e candidatos às eleições de 4 de outubro deveriam responder: como iremos pagar 10 mil milhões de euros/ano (serviço da dívida pública + rendas das PPP), durante a próxima Legislatura?

Resposta:
  1. renegociando de alto abaixo as rendas das 120 PPP
  2. fundindo os governos e assembleias municipais das regiões metropolitanas de Lisboa e Porto
  3. eliminando 50% das isenções fiscais a que têm direito inúmeras entidades e pessoas, publicitando todas as isenções que vierem a ser cabalmente justificadas
  4. estabelecendo um limite de 2000 euros para todas as pensões de reforma, sem exceção, suportadas pela Segurança Social
  5. diminuindo drasticamente o peso fiscal das IPSS no Orçamento de Estado
  6. implementando um Rendimento Básico Garantido universal
  7. restringindo drasticamente as mordomias dos políticos e altos cargos da Função Pública
  8. acabando com o negócio dos manuais escolares (na escola obrigatória, os livros e manuais serão obrigatoriamente gratuitos, e sempre que possível desmaterializados)
  9. introduzindo em toda a Administração Pública a gestão por objetivos
  10. responsabilizando os agentes políticos pelas instituições que tutelam, aumentando concomitantemente a transparência de todos os processos administrativos.
  11. Acabando de vez com a promiscuidade entre política e negócios, nomeadamente através da eliminação automática dos conflitos de interesses económicos, profissionais e intelectuais.

É disto que o senhor Costa, o senhor Jerónimo e a senhora Catarina, deveriam falar, e não das mil e uma maneiras de não pagar o que devemos.

Já agora, que tal dedicar menos tempo de antena ao 'reality show' do senhor Pinóquio Pinto de Sousa?

sexta-feira, agosto 08, 2014

Será a resolução bancária sistémica uma alternativa?

Queimar as dívidas? Não é fácil, mas está a suceder!

Bail-out—Bail-in à moda de Louçã e do Instituto de Políticas Públicas Thomas Jefferson-Correia da Serra 


“...esta é a minha proposta”, escreve o antigo líder do Bloco de Esquerda, não se sabe bem se na qualidade de co-autor, ou se reclamando para si a exclusividade da ideia de uma ‘resolução bancária sistémica’ alternativa ao Mecanismo Único de Resolução (SRM) aprovado pelo parlamento europeu em maio-julho de 2014, e posto claramente à prova no resgate punitivo do BES levado a cabo pelo BCE e pelo Banco de Portugal, em evidente articulação com a Comissão Europeia e o governo português, e que, como se sabe, levou ao repúdio parcial das responsabilidades do terceiro maior banco português para com os seus acionistas, clientes, credores e especuladores, em nome da salvação dos depósitos, da carteira de clientes não financeiros, e da estabilidade do sistema financeiro em Portugal e na Eurolândia.

O artigo publicado hoje (8/8/2014) por Francisco Louçã na sua habitual coluna no Público, não deixa de ser um desafio oportuno, até por nos ter conduzido ao documento do IPP, “Um programa sustentável para a reestruturação da dívida portuguesa”. Do artigo citado destaco dois momentos extraordinários, um pela flagrante contradição do ideário do trotsquita-bloquista com o seu pensamento mais recente, e o outro, pelo escusado narcisismo autoral.

Escreve Louçã:

“...a nossa proposta cumpre a lei sem artifícios (ao contrário do que se estará a passar agora com o BES) e evita o custo de uma nacionalização directa (que é sempre o último recurso legal, mas que tem o inconveniente de passar todo o passivo para o Estado). Essa resolução bancária sistémica [que Louçã e o IPP propõem...] segue o modelo utilizado nos Estados Unidos pela instituição responsável, o FDIC, que o aplicou entre 2007 e 2013 em 505 bancos.”

E conclui:

“Precisamos mesmo de uma solução. O controlo público do sistema financeiro é a alternativa que dá o poder e a responsabilidade à democracia. Como é preciso correr o risco da resposta concreta no debate nacional, aqui está, esta é a minha proposta.” 

in Francisco Louçã, “Faltam respostas no debate sobre a crise bancária. A solução alternativa concreta é o controlo público”. Público, 8 de Agosto de 2014, 10:05 WET.

“Um programa sustentável para a reestruturação da dívida portuguesa” (8 Jul 2014) é um importante documento estratégico da autoria coletiva de Ricardo Cabral, Francisco Louçã, Eugénia Pires e Pedro Nuno Santos, cuja publicação esteve a cargo do Instituto de Políticas Públicas Thomas Jefferson-Correia da Serra (IPP), um think-tank presidido por Paulo Trigo Pereira.

Apenas tivemos tempo de o ler na diagonal. O bastante, porém, para recomendá-lo como um contributo relevante e oportuno no preciso momento em que uma proposta diferente, mas nem por isso menos restruturacionista, passou da teoria à prática. Refiro-me, claro está, ao golpe de coelho dado ao BES com o sado-masoquista Mecanismo Único de Resolução.

A demonstração da insustentabilidade da dívida portuguesa, que é como todos sabemos, pública e privada, interna e sobretudo externa, é elegante e vale a pena segui-la. No entanto, falta sublinhar que a realidade não é apenas indígena, mas praticamente universal, ainda que com maior gravidade nos países maduros e sobreendividados do Ocidente — aqueles que há décadas consomem mais do que produzem, e geram mais dívida, economia virtual e especulação do que poupança e bons hábitos.

A medida do sobreendividamento dos Estados Unidos, do Reino Unido e da União Europeia, por exemplo, pode ser imaginada apenas a partir de um dado: a exposição da Goldman Sachs aos derivados financeiros OTC, onde boa parte dos contratos de especulação com as dívidas privadas e públicas residem: $44.192.000.000.000 (44,192 biliões de dólares). O PIB mundial anda nos 73 biliões... Mas o valor nocional global destes contratos era, no fim de 2013, de acordo com o BIS, qualquer coisa como 693 biliões de dólares, ou seja, mais de 9x o PIB mundial.

Não há alternativa a um Jubileu assimétrico e brutal do sobreendividamento do Ocidente. Resta saber quem irá ficar na situação dos acionsitas do BES, dos obrigacionistas do BES, dos hospitais do BES, dos incautos do BES, dos especuladores do BES.

Pensar que é a riqueza pública que está ou que vai resgatar o BES é um embuste teórico. O que vai resolver o BES será tão só mais uma dose de liquidez gerada pelo Banco Central Europeu, a qual estacionará durante algum tempo na dívida soberana portuguesa, até que o empréstimo desta dívida ao Fundo e Resolução que financiará o Novo Banco seja cobrado com juros suficientes para os credores públicos e privados que intervierem na operação.

É desta forma que o mecanismo de reestruturação da dívida pública e privada vai fazendo o caminho das pedras, forçando os bancos a processos de reestruturação implícitos, que conduzem a menos financiamento da economia que, por sua vez, provoca mais falências de empresas e pessoas, mais desemprego, menos procura, menos salários, em suma, mais dívidas incobráveis, imparidades e a extinção forçada das mesmas. No éter das transações digitais serão então perdidos alguns milhares de milhões de euros dessa mesma dívida pública que alimentou o BES, os donos do BES e a especulação bolsista em geral naquilo que tem sido a ilusão do crescimento diariamente vendida pelas bolsas mundiais. Na realidade, o que o colapso do BES nos revela é que o capitalismo está de novo sob a pata da economia-política, de que os bancos centrais são a ferramenta técnica.

A crise financeira não é o resultado apenas da ganância dos especuladores e dos banqueiros, mas a consequência de um modelo social de acumulação e distribuição capitalistas de valor cujos pressupostos energéticos, materiais e demográficos desapareceram, ou estão em vias de extinção.

Poderá haver uma resolução bancária sistémica em Portugal?
Não.
Porquê?
Porque Portugal não tem a dimensão dos Estados Unidos, da China, da Índia, ou da Rússia.
Porque já não tem dimensão, nem economia que lhe permitam ser autónomo.
Porque faz parte de um sistema monetário com mais dezassete estados.
Porque não tem nem pode ter moeda própria sem afogar-se de vez na sua dependência face aos demais países, a começar pela Espanha.
Porque não pode impor ao resto da Europa o que acabou de impor ao BES. E neste particular é preciso dizer que o Banco de Portugal e o governo português apenas puderam impor ao BES a solução que já todos conhecemos porque a mesma foi desenhada e em última instância aplicada pelo BCE e demais instâncias comunitárias.

Seja como for, vale a pensa ler com tempo a proposta elaborada por Ricardo Cabral, Francisco Louçã, Eugénia Pires e Pedro Nuno Santos, sobre uma possível, mas improvável, estratégia de repúdio ordenado e parcial da nossa descomunal dívida. Até porque o tema será cada vez mais atual e premente!

Aqui ficam alguns extratos para abrir o apetite ;)
[...]

7. Para o concretizar, atuando nas duas componentes mais importantes, propomos a reestruturação da dívida bruta não consolidada das administrações públicas e um processo de resolução bancária, que resultarão na redução de dívida necessária para assegurar a auto-sustentabilidade (financeira) do país.

8. Um programa desta natureza pode recorrer a vários tipos de instrumentos para alcançar o mesmo objetivo: nomeadamente, pode incluir um corte elevado no stock da dívida e uma redução menor dos juros, ou uma combinação de um adiamento da amortização da dívida com uma redução mais substancial dos juros. Neste exercício é apresentada a simulação do segundo processo. Note-se que para assegurar que o país seja capaz de se autofinanciar autonomamente o fundamental é reduzir a despesa com juros e alongar as maturidades da dívida existente.

9. As principais medidas deste programa são então: (i) a negociação para a redução do valor presente da dívida (reestruturação de dívida), através da alteração de juros e prazos; (ii) o saneamento dos passivos bancários, para garantir a solvabilidade e estabilidade da banca; e (iii) a modernização fiscal para pôr as contas do Estado em ordem e tornar sustentável, numa perspetiva macroeconómica, a recuperação económica e o crescimento económico futuro.

10. Através da redução de juros e da extensão de prazos da dívida das Administrações Públicas e da reestruturação do passivo do sector bancário, seria possível conseguir uma diminuição anual do défice da balança de rendimentos que se estima em cerca de 4,7 mM€, traduzindo-se num efeito equivalente a uma redução do valor presente da dívida externa líquida de 103% no final de 2013 para cerca de 24% do PIB. De facto, o nível de dívida externa do país é tal que uma reestruturação de dívida de dimensão inferior não conseguiria assegurar que a dívida externa de Portugal se tornaria sustentável.

11. A proposta apresenta as seguintes condições para a troca da dívida bruta não consolidada das Administrações Públicas e do Sector Empresarial do Estado por Novas Obrigações do Tesouro (NOT) com o mesmo valor facial: (1) esses títulos terão um cupão de 1%, e (2) vencerão, em parcelas idênticas, entre 2045 e 2054, havendo um período de carência de juros em 2015. Com estas condições, o valor presente da dívida pública na óptica de Maastricht passaria a ser de 74% do PIB (63% do PIB, líquida de depósitos),3 já após a recapitalização da Segurança Social e de diversos fundos do Estado. O valor presente da dívida bruta não consolidada das Administrações Públicas passaria a representar 82% do PIB (face aos atuais 173% do PIB).

12. Garante-se assim uma margem de manobra suficiente para relançar o investimento e a criação de emprego, bem como para estimular a procura interna fazendo funcionar os estabilizadores automáticos e assegurando a proteção dos salários, pensões e prestações sociais contra a pobreza.

13. A sustentabilidade da dívida externa portuguesa exigirá ainda um processo de resolução bancária especial, que deve proteger a estabilidade do sistema bancário, salvaguardando os seus rácios de capital e solvabilidade, seguindo as melhores práticas internacionais (e.g., FDIC). Esse processo conduzirá a uma redução da dívida bancária de cerca de 24% dos passivos bancários (excluindo capitais próprios) no final de 2013, de que resultará uma redução da dívida externa líquida do sector (direta) estimada em cerca de 30% do PIB.

14. A negociação da reestruturação da dívida externa portuguesa deveria ser conduzida de modo a que a Lei do Orçamento de Estado para 2015 consagrasse todos os instrumentos jurídicos necessários para a viabilidade destas medidas.

segunda-feira, junho 02, 2014

Bloco de tresmalhados

 

Só Ana Drago parece ter algum tino


Os eleitores do oportunista Bloco fugiram para o Livre e para Marinho Pinto, não para Bruxelas, nem para a Austrália, onde podem votar nas eleições portuguesas, como é sabido.

A desculpa esfarrapada do senhor ex-PCP Semedo,
do trotsquista quadrado e dos demais estalinistas encobertos que mandam e manipulam o Bloco (de professores) de Esquerda não cola.

Como bons herdeiros do marxismo autoritário e degenerado, que o ex-comunista Mário Soares, pelos vistos, também segue, os resultados eleitorais não lhes dizem nada. Até podiam ter ficado sem qualquer deputado em Bruxelas, que nenhuma destas criaturas messiânicas se lembraria de deixar o cargo a outro. 


Sofrem, quem diria, do célebre síndroma conhecido por Cadeira de Salazar: só abandonam o poder quando caiem da cadeira e lhes desligam as máquinas.
 

Ana Drago parece ser a única mulher com bom senso naquele sacos de gatos tresmalhados.

BE chumbou início de diálogos com 3D, Livre e PAN

A Mesa Nacional do Bloco de Esquerda chumbou hoje, por dez votos, uma proposta de Ana Drago para o início de diálogos com o movimento 3D, o Livre e o PAN no sentido de uma convergência à esquerda.

Segundo as mesmas fontes, na reunião de hoje da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, em Lisboa, foram também chumbadas duas propostas de antecipação da próxima Convenção Nacional do partido apresentadas com o objetivo de acelerar a tomada de decisões internas.

DN, 1/6/2014


Bloco está contra redução de deputados

João Semedo, um dos coordenadores do Bloco de Esquerda (BE), afirmou hoje que o partido está contra a redução do número de deputados de 230 para 180, tal como foi proposto este sábado pelo secretário-geral do PS, António José Seguro. Numa conferência de imprensa para analisar os resultados das eleições europeias, João Semedo classificou-os como "maus".

Porém, João Semedo afirmou que vários fatores concorreram para que o Bloco apenas elegesse Marisa Matias para o Parlamento Europeu, ficando atrás da lista do Movimento Partido da Terra encabeçada por António Marinho Pinto. A "elevada emigração", que nos últimos anos terá afetado mais os jovens, foi uma das causas apresentadas, "já que o Bloco tem muita influência nos jovens", disse Semedo.

DN, 1/6/2014

terça-feira, março 11, 2014

Manifesto de 70 personalidades apela à reestruturação da dívida

Criaram a dívida, e agora não querem pagar, ou seja, querem que o povo morra à fome para que os seus privilégios de casta burocrática se mantenham intactos.

Não deixa de ser caricato ver um antigo ministro estratégico de Salazar, Adriano Moreira, ao lado do quadrado Louçã assinando o mesmo papelucho indigente.

Numa reestruturação de dívidas públicas há sempre a imposição de uma hierarquia entre os credores (‘seniority’), o que no caso indígena significará, por exemplo, que se paga ao BCE em primeiro lugar, mas só se pagará à Caixa Geral de Aposentações, que foi obrigada pela corja partidária (último despacho de Vitor Gaspar) a empenhar 90% das suas reservas financeiras na compra de dívida pública, se ainda houver com quê. Ou seja, o perdão da dívida tem muito que se lhe diga, sobretudo num país de gente corrupta e rendeiros agarrados ao Orçamento...

Expresso:

O manifesto, hoje noticiado pelo jornal Público, é assinado por figuras da política de esquerda e de direita, como os ex-ministros das Finanças Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix, Francisco Louçã, António Saraiva, Carvalho da Silva, Gomes Canotilho, Sampaio da Nóvoa, além de empresários e economistas, e pretende ser "um apelo de cidadãos para cidadãos", explicou João Cravinho.

"Trata-se de um apelo que se dirige a uma questão absolutamente decisiva para o nosso futuro que é preparar a reestruturação responsável da dívida para crescer sustentadamente com respeito pelas normas constitucionais com responsabilidade social e com democracia", avançou.

Manifesto de 70 personalidades apela à reestruturação da dívida - Expresso.pt

domingo, março 17, 2013

Louçã, um falso Trotsky

León Trotsky (1879-1940)

Da Revolução que não passou de uma miragem intelectual pequeno-burguesa

Vista à distância de quase um século a Revolução Russa de 1917 pode hoje ser percebida, não como a realização de uma utopia socialista, que nunca foi, mas como o acerto forçado e violento dos relógios de um grande império medieval autocrático para a hora industrial.

Sem burguesia empreendedora digna desse nome, sem as liberdades burguesas essenciais à boa instrução liberal e ao desenvolvimento criativo das ciências e das tecnologias, ancorada profundamente em instituições extrativas seculares num território imenso, e movida sobretudo pela energia dos bois, das mulas, dos rios e das mãos e pernas de milhões de camponeses presos à terra, a Rússia dos czares, após sucessivas campanhas militares desastrosas a oriente e ocidente do seu território, acabaria por sucumbir à revolução bolchevique, liderada então por Lenine e Trotsky, entre outros. Como um dia Lenine proclamou, o Comunismo é o resultado da fusão produtiva entre Conselhos Operários (Sovietes) e eletricidade — em suma, um capitalismo de estado, sem burguesia, sem liberdade, e submetida à gestão de uma imensa burocracia política, administrativa e militar.

Sabe-se hoje que, tendo recursos energéticos concentrados, abundantes e de acesso rápido e barato, qualquer país, mesmo atrasado ou vivendo em ditadura, pode crescer muito rapidamente e apanhar o comboio, o barco a motor, o submarino, o automóvel, o avião e o foguetão do desenvolvimento, desde que para tal alguém lhe venda o conhecimento necessário.

Foi o que sucedeu na União Soviética de Lenine, Trostsky e Estaline, no Japão da Restauração Meiji (1), na Arábia Saudita e nos Emiratos, ou na China depois do início da exploração regular do vasto campo petrolífero de Daqing, descoberto em 1959, um ano depois do fracassado Grande Salto em Frente de Mao (1958-1961), e posto a produzir regularmente em 1963, três anos antes do início da chamada Revolução Cultural, a qual traria de novo Mao Zedong à plenitude dos seus poderes ditatoriais, e lançaria a China no caminho do verdadeiro salto em frente que hoje todos conhecemos.

Mas o que a energia fóssil abundante e barata, como o carvão, o petróleo e o gás natural, dá —i.e. crescimento rápido— também tira, quando o acesso a estas formas de energia condensada e portátil passa a depender da importação, e de uma produção em geral mais cara e menos abundante, por sua vez prisioneira inevitável da especulação mercantil, política e financeira crescente.

As importações líquidas (importações menos exportações) de petróleo nos Estados Unidos em 1973 já eram de 6 milhões de barris/dia, 7,524 barris/dia em 2012, e o pico ocorreu em 2005: 12,549 milhões de barris/dia. Entre 1970 e 1992 a China foi auto-suficiente em abastecimento de petróleo, mas desde 2006 que importa mais de metade das suas necessidades de crude, ou seja, acima de 5 milhões de barris/dia, logo atrás da União Europeia e dos Estados Unidos, e ligeiramente à frente do Japão e da Índia. Porque será que a economia chinesa começou a abrandar, e não voltará a crescer a dois dígitos?

As ideologias revolucionárias (e a verborreia vazia do zero à esquerda do PS) morrem, como se vê, na praia dos recursos!

Do populista demagogo Louçã, herdeiro desgraçado de nada

É lamentável vermos o herdeiro clandestino de Trotsky em Lisboa, senhor economista desonesto e mente rasa, Francisco Louçã, manipular a sua audiência ingénua com gráficos enganadores sobre a situação financeira portuguesa. Diz o demagogo do Bloco de Esquerda, agora disfarçado de comentador televisivo, que havia dinheiro para pagar vencimentos e pensões aos funcionários públicos em 2011. Não havia problema nenhum em 2011, disse categoricamente o cartomante vermelho diante de um gráfico com moedinhas. E em 2012, como seria? E em 2013, como seria? E em 2014, como seria?

Se os credores deixarem de emprestar, e os bancos portugueses fecharem um depois do outro, onde irá parar a coluna de moedinhas dos pensionistas e dos funcionários públicos? Tamanha falta de honestidade intelectual é difícil de conceber, a menos que venha dum populista, claro!

Francisco Louçã, disfarçado de comentador político (que não é!), tem agora uma janela de massas para promover a sua agenda escondida de sempre: a do oportunismo aninhado numa memória falsa de Trotsky e da Revolução Russa (ver vídeo no Facebook).

Não deixa assim de ser sintomático o seu incómodo com o surgimento do Manifesto pela Democratização do Regime.

NOTAS
  1. A grande vantagem que o Japão adquiriu sobre a Rússia e a China, Coreia, etc., no início da revolução industrial, resulta em grande parte da transição do último Shogunato (Tokugawa), medieval e militar, para o Império do Japão, consumada na chamada Carta do Juramento, tornada pública por ocasião da tomada de posse do Imperador Meiji do Japão, em 7 de abril de 1868, e onde apenas cinco princípios viriam a mudar rapidamente a face e o poder do Japão:

    1. Estabelecimento de assembleias deliberativas.
    2. Envolvimento de todas as classes na condução dos negócios do estado.
    3. A revogação das leis suntuárias e restrições de classes em empregos.
    4. Substituição dos "maus costumes" pelas "leis da natureza".
    5. Uma busca internacional por conhecimento para fortalecer as fundações do domínio imperial.

quinta-feira, outubro 04, 2012

Austeridade II

Francisco Louçã não mudou: continua a pensar que vai crescer à custa do PS

Menos burocracia, menos partidocracia, menos cleptocracia e menos Estado!

Na realidade, quem lê a imprensa económica internacional com alguma regularidade notará que Portugal saiu dos radares da desgraça — seja porque melhorou rapidamente a sua balança de pagamentos, ou porque conseguiu fazer crescer as suas exportações em plena recessão europeia e crise financeira mundial, ou porque o Banco de Portugal tem sabido gerir com discrição e resultados a difícil situação dos bancos nacionais, ou ainda porque conseguiu hoje mesmo trocar uma pesada dívida que vencia em 2013 por novas obrigações a custos razoáveis com maturidades mais estendidas.

A mobilidade profissional dos portugueses (1), buscando rapidamente trabalho fora do país, nomeadamente através das ligações familiares que têm em todo o mundo, a par da paz social que durou até aqui, têm sido ainda argumentos fortes a favor da confiança que lentamente regressa ao país. Mas também a determinação com que este governo e o anterior (é verdade, já vem do tempo de Sócrates) têm procurado estabelecer pontes diplomáticas e comerciais com a China, Angola e Brasil, e as respostas que não se têm feito esperar, é algo que deve ser pesado a nosso favor.

Nada disto quer dizer que estejamos bem — muito pelo contrário! Na verdade, vamos continuar a ganir até 2015, pelo menos. No entanto, quanto mais depressa encolhermos a burocracia, a partidocracia, a cleptocracia e o Estado, menos violento e duradouro será o terrorismo fiscal em curso.

As pessoas vão ficar, em breve, muito mais sensíveis ao gasto público, às mordomias, às tríades e às máfias que destruíram o país e querem continuar a sugá-lo. Mas também serão cada vez mais sensíveis às greves burocráticas das empresas públicas que prejudicam milhões de portugueses —apenas para garantir privilégios salariais, sociais, sindicais e partidários de que a esmagadora maioria de quem trabalha não usufrui— e que são financiados desde sempre e quase exclusivamente pelos impostos pagos por todos nós.

O ponto nodal do equilíbrio precário até agora conseguido é a atual equipa de governo, apesar do PM de plástico!

Parece-me fundamental barrar o caminho aos piratas que todos os dias clamam contra os ministros e pedem remodelações de governo. Só contendo os padrinhos do regime, nomeadamente Cavaco e Almeida Santos, haverá espaço suficiente para reformar o estado antes que a hipertrofia deste destrua por completo o país.

As lideranças miseráveis do PS, PCP e Bloco não oferecem quaisquer alternativas concretas aos planos do governo. Limitam-se a gritar frases inconsequentes, oportunistas e populistas, com o único fito de prosseguirem os seus pequenos jogos partidários e eleitoralistas. Já só pensam nas autárquicas. Querem lá saber do país e das pessoas!

Jerónimo de Sousa é um fóssil estalinista da era frente populista. Louçã é um fóssil trotskista oriundo de uma seita dos anos sessenta do século passado. Só Arménio Carlos parece ter aprendido a falar num português político mais inovador à sua base sindical e partidária de apoio. Pena é que continue fechado no armário das relíquias comunistas, e não tenha ainda percebido que o seu querido proletariado morreu, que a sua base de apoio é essencialmente formada por trabalhadores e burocratas do Estado, e que o mundo que hoje conta e pode forçar a mudança é essencialmente composto por classes médias profissionais e por um imenso precariado!

A esquerda populista quer tudo: quer pleno emprego, quer mais regalias sociais, quer mais dinheiro, quer mais escolas e universidades, quer mais hospitais e centros de saúde, quer mais tribunais, quer mais câmaras e mais freguesias, em suma, quer mais Estado. E acima de tudo não quer saber de contas. Os ricos, como dizem, que paguem!

No entanto, os efeitos inevitáveis da Austeridade II vão fazer pensar os portugueses sobre o preço da RTP, sobre o preço da TAP, sobre o preço da CP, sobre o preço dos barcos que atravessam o Tejo, sobre o preço de tantos deputados inúteis, sobre o preço de tantos governos municipais que nos casos evidentes das cidades-região de Lisboa e Porto há muito deveriam ter sido concentrados, sobre o preço dos juízes e procuradores improdutivos que temos, sobre o preço da corrupção, sobre o preço de uma constituição que já só serve os beneficiários especiais do regime — em suma, sobre o preço da nossa pobreza. E vão querer mudar!

Quando esta tensão subir, a esquerda deverá olhar para trás e meter a mão na consciência. Que papel tenciona desempenhar à medida que a contestação do monstro estatal subir de tom?


GREVES CORPORATIVAS
A propósito da campanha de greves promovida pelo PCP e pela CGTP

Nesta altura do campeonato as greves da CP (2) e em geral no setor público são intoleráveis.

O pessoal da CP, da Carris, Metro, etc, ganha em geral mais do que os usuários dos serviços que deveriam prestar com qualidade, eficiência e rentabilidade, e não prestam.

Os sindicatos portugueses do setor público começam a parecer-se cada vez mais com máfias extrativas.

Defendo que as greves no setor público devem ser objeto de medidas restritivas temporárias e em todo o caso de requisição civil sistemática em todos os casos em que o oportunismo sindical e partidário prejudique visivelmente os portugueses que pagam, quase sempre através de passes mensais, os insubstituíveis meios de transporte que utilizam para trabalhar.

Os senhores deputados se começassem a usar regularmente os transportes públicos, e pagassem o estacionamento dos seus automóveis na AR, como os lisboetas pagam para estacionar no espaço público que é a sua cidade, talvez passassem a ter uma maior sensibilidade relativamente aos milhões de portugueses que são prejudicados por este tipo de greves corporativas e partidárias. O PCP tem que aprender a ganhar eleições, e não a prejudicar o povo em nome das suas tropas de choque sindicais!

Não há nada que impeça o governo de ter mão dura com os sindicatos corporativos do setor público. Deixar apodrecer a situação só pode conduzir ao desastre. Os democratas não podem ficar prisioneiros de silogismos oportunistas sobre o direito à greve. Pois o preço de semelhante cobardia é normalmente o aparecimento e alastramento rápido de forças de extrema direita.

Olhem para a Grécia !!!


ÚLTIMA HORA

E é bom que se perceba que isto não vai ficar por aqui!

“O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, avisou esta quinta-feira que o BCE só voltará a realizar compras de obrigações portuguesas depois de o país ter reconquistado o acesso total ao mercado, algo que ainda não aconteceu.” Público, 4 out 2013.

Gaspar falou de um aumento brutal de impostos. Eu chamo-lhe terrorismo fiscal. No entanto, a coisa não vai ficar por aqui, sobretudo se a corja instalada continuar a boicotar o saneamento estrutural das finanças públicas.

2014 será ainda pior...
  • a menos que se reduzam drasticamente as rendas leoninas dos monopólios naturais e das PPPs, ou mesmo, em caso extremo, se recuperem para a órbita pública as autoestradas, hospitais, barragens, redes elétricas e redes de águas e saneamento negociados contra o interesse público, podendo mais tarde estas grandes obras regressar ao mercado das privatizações;
  • a menos que se acabem com todas as fundações e empresas pública municipais e regionais, fazendo regressar estes centros de má despesa aos perímetros orçamentais de onde nunca deveriam ter saído;
  • a menos que se privatizem a 100% a RTP, a Caixa Geral de Depósitos, os CTT, a CP, a ANA e a TAP;
  • a menos que se concentrem os municípios e freguesias das cidades-região de Lisboa e Porto, substituindo o Carnaval atual por verdadeiros governos metropolitanos, como existem em Madrid, Londres, Xangai, Pequim, etc;
  • a menos que se estabeleça um ensino 100% gratuito, do pré-escolar até ao último ano do secundário, mas ao mesmo tempo se privatizem todas as universidades e se atribuam bolsas de estudo para os 10 melhores alunos em cada 100 e ainda aos estudantes com médias acima dos 75% manifestamente sem recursos económicos próprios ou familiares;
  • a menos que se imponha um teto às reformas e pensões pagas pelo Estado, por exemplo de 1700 euros (caso Suíço), cabendo às pessoas procurar pelos seus próprios meios e hábitos formas de poupança complementares;
  • a menos que se reduza substancialmente a proporção de funcionários públicos e equiparados relativamente à população ativa nacional;
  • a menos que se despartidarize a administração pública com a introdução de um regime de admissão por concurso nacional obrigatório, cuja elegibilidade deverá passar pela frequência de cursos de administração pública a cargo de uma Escola Nacional de Administração e Trabalhos Públicos;
  • a menos que as nomeações políticas, obrigatoriamente temporárias, fiquem restringidas, sem exceção, aos gabinetes dos ministros e secretários de estado;
  • a menos que se reforme e reduza a Assembleia da Republica;
  • e a menos que se escreva uma Nova Constituição, breve, simples, não partidária, discutida e votada por uma nova assembleia constituinte alargada à cidadania não partidária e, por fim, ratificada em referendo.

NOTAS
  1. 100 mil portugueses em Angola
    Segundo a Monocle deste mês, a população portuguesa residente em Angola passou de cerca de 30 mil, em 2003, para mais de 100 mil em 2012.
  2. Recebi este comentário de alguém bem informado sobre a aristocracia sindical, que transmito na íntegra:

    As corporações que dão pelo nome de "sindicatos" já há muito perceberam que o seu poder advém da capacidade de prejudicar os outros trabalhadores e todos os demais que precisam de fazer a sua vida diária.

    Dito de outro modo, só as greves nos transportes têm impacto e dimensão para prejudicar os outros (não a entidade patronal, que até beneficia com a breve) em escala suficientemente visível para terem direito de acesso à lamentável comunicação social que temos.

    Especialista nestas artes, o PCP desde sempre dominou a FESTRU, mas, que se saiba, e felizmente, não controla o Sindicato dos Maquinistas da CP (SNAQ), que defende os seus interesses corporativos autonomamente (é a FESTRU que costuma colar-se ao SNAQ e não ao contrário).

    De qualquer forma, as empresas que prestam serviço público estão obrigadas a garantir os serviços mínimos, sejam eles quais forem, não sendo, pois, admissível o seu encerramento "por motivos de greve". Se as respectivas Administrações não são capazes de defender o interesse público, deveriam abandonar os cargos e respectivas mordomias.

    Acresce que, embora não pareça, existe um Secretário de Estado dos Transportes que deveria meter na ordem as Administrações que dele dependem. Por onde é que ele anda? Não tem tempo para acautelar os interesses dos utentes, nomeadamente dos que já pagaram no início do mês por um serviço que não lhes está a ser prestado na íntegra e que não irão ser reembolsados por esta falta? O desconto nos salários dos grevistas deveria servir para isto, não? Para onde é que ele vai?

    Repare-se que a Fertagus não é empresa pública nem depende de subsídios estatais e nunca fez uma greve. Por que será?

    O estado comatoso do País obriga a que o esforço financeiro tem de ser de todos, independentemente das armas reivindicativas de cada grupo de pressão, pelo que todos, sem excepções, terão mesmo de ter alguma redução salarial e ou de privilégios.

    No caso dos maquinistas da CP, que reclamam quanto à redução do valor pago pelas horas extraordinárias, a solução parece-me simples:

    — a CP reorganiza as escalas de serviço para não haver horas extraordinárias nenhumas, mesmo que tenha que ajustar alguns horários dos comboios ou até admitir maquinistas, e acaba-se com o problema (para não dizer com a mama).

    De que é que está à espera ? 


Última atualização: 5 out 2012 11:43

domingo, agosto 26, 2012

Bloco de Taifas

Catarina Martins por Nelson Garrido, in Público (07-05-2012)

Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas conseguirá o Bloco de Esquerda deixar de ser uma frente de tontos (perdão, "de massas"), da UDP e do PSR?

Ninguém pode esperar que a UDP se demita do núcleo dirigente mais importante do Bloco de Esquerda. Qualquer solução de liderança que garanta a matriz deste projecto terá de englobar no centro pessoas afectas à UDP. Essa é a nossa responsabilidade — Joana Mortágua, UDP, Encerramento da VII Conferência, 07-Jun-2012.

Foi porventura Miguel Portas quem preparou, a tempo e horas, a metamorfose do Bloco de Esquerda, pedindo, na sequência do desaire eleitoral das últimas Legislativas, que os velhos dirigentes dessem lugar aos mais novos. 

Na realidade, o que o Miguel propôs ao "povo do Bloco" (designação ridícula e pouco inspirada do álgido Louçã), foi algo bem mais estratégico, e que agora, depois da iniciativa do ainda grande Coordenador do Bloco, estará criticamente à prova: libertar o Bloco das suas sombras marxistas-leninistas. Será ou não o Bloco de Esquerda, pós-Louçã e pós-Fazenda, capaz de libertar-se da ortodoxia que criou esta frente partidária como uma clássica marioneta eleitoral de quem pensa ainda ter consigo as chaves da revolução socialista?

Ao contrário de Louçã e de Fazenda, o Miguel não era um partido dentro de um "bloco", mas um dissidente entre dissidentes do cadáver hirto que ainda é o estalinista PCP. Como deputado europeu aprendeu rapidamente a ver o mundo da política e do poder com outros olhos. Percebeu então que, ou o Bloco de Esquerda caminhava rapidamente para uma força política com peso eleitoral específico, e para isso teria que abandonar o cadavérico lastro esquizofrénico do modelo autoritário de Estado e de Praxis a que Lenine chamou centralismo democrático, mas que nunca passou da imagem vermelha no espelho do absolutismo czarista, ou estaria condenado a breve trecho à nulidade eleitoral, histórica, política e cultural.

Conheci Miguel Portas, e conheci melhor, muito melhor mesmo, Francisco Louçã. Como ex-trotskysta que sou, dos idos anos 70 do século passado, sempre olhei para os sociais-democratas do PS como um rebanho de Mário Soares, para os "comunistas" do PCP como um  remake impossível de José Estaline, mas acima de tudo, sempre tive as maiores desconfianças de toda a genética maoísta. Ou seja, o senhor Fazenda da UDP sempre me foi indiferente e me pareceu ser um grande pedregulho destinado a entorpecer qualquer viabilidade mais do que conjuntural à nuvem de esperança que rodeou o nascimento do Bloco de Esquerda. Como se pode comprovar pelas palavras ditas por Joana Mortágua em junho passado, o Bloco é um filho da UDP e assim deverá continuar!

O apoio dado por Louçã e Pureza a João Semedo e a Catarina Martins na corrida à substituição da esgotada liderança histórica do Bloco é uma solução de compromisso, podre e que ruirá sob o impacto das próximas eleições autárquicas, se não antes.  Por sua vez, o bloqueio imposto pela UDP à hipótese de Ana Drago suceder a Luís Fazenda na chefia do grupo parlamentar do Bloco é a prova provada de que esta força eleitoral está condenada a regressar às catacumbas do maoísmo e do trotsquismo se, entretanto, ninguém ousar o óbvio: convocar o eleitorado do Bloco a pronunciar-se livremente e por voto secreto sobre o seu futuro e sobre quem prefere ver a liderar o partido depois de Francisco Louçã.

O processo seria simples e expedito: os futuros eleitores da próxima mesa eleitoral do Bloco teriam que declarar sob palavra de honra que eram eleitores do Bloco, que acreditavam neste partido e que desejavam que o mesmo se transformasse num grande protagonista político, cívico e cultural da vida portuguesa, em disputa leal e livre com os demais partidos que aceitam as regras básicas da democracia.

Os diversos candidatos deveriam apresentar-se, pois, não perante um colégio eleitoral manipulado (como os que existiam no tempo de Salazar e Caetano), mas diante de todos os militantes, simpatizantes e eleitores do Bloco de Esquerda, defendendo as suas ideias e pedindo o apoio eleitoral necessário à eleição.

Só assim o Bloco poderá transformar-se rapidamente num aliado natural do PS com capacidade de empurrar este volúvel e corrompido partido para a margem esquerda do espectro eleitoral. Só assim, também, o PP de Portas definirá melhor a sua posição face ao PSD, formando com este partido, de uma vez por todas, um bloco eleitoral estável, em vez de continuar a piscar o olho à "esquerda" e à "direita", como uma puta vulgar.

Eu se fosse a Joana Amaral Dias juntava-me à Ana Drago e punha-me ao caminho, sem pestanejar, falando abertamente com o eleitorado do Bloco. A UDP e o PSR já não existem!

quarta-feira, junho 22, 2011

Bloco à deriva

Louçã e Fazenda: ortodoxos, autoritários e sem imaginação. Que fazer?

Miguel Portas, Marisa Matias e Rui Tavares: novo Bloco ou cisão?

Rui Tavares rompe com o Bloco de Esquerda

“Rui Tavares decidiu romper politicamente com o Bloco de Esquerda, depois de Francisco Louçã não lhe ter respondido a um pedido de desculpas público exigido pelo deputado europeu eleito como independente pelo Bloco de Esquerda.

O historiador exigira um pedido de desculpas público ao líder do BE, Francisco Louçã, depois de este o apontar como tendo estado na origem de informações enganosas sobre os fundadores desta força política.

A exigência de Rui Tavares consta numa nota de imprensa do seu gabinete no Parlamento Europeu e visava responder a um texto publicado por Francisco Louçã, às 23h18 de sexta-feira passada, na página do facebook do líder do Bloco de Esquerda (BE).” — Expresso, 21-06-2011.

A derrota eleitoral do Bloco de Esquerda foi demasiado grande e grave para que dela se não tirem as devidas consequências. Recusar arrogantemente falar com a Troika deveria, no mínimo, custar os postos de direcção a Francisco Louçã e a Luís Fazenda. Mas perder metade dos votos numa única eleição merece outro desfecho bem mais radical, mas também mais ambicioso, do que um simples acto de contrição jesuíta, como aquele que Louçã fez depois de se ter visto cercado de críticas e de olhares públicos reprovadores. Merece uma cisão!

Num partido menos cheio de presunção democrática, e mais sério e pragmático, o desaire em cadeia causado pelas decisões dos fundadores mais activos do Bloco, Franciso Louçã e Luís Fazenda, deveria já ter levado este movimento partidário a uma séria reflexão ideológica e programática, da qual não poderia deixar de sair um rompimento claro com os dois cadáveres ideológicos que actualmente impedem o crescimento do projecto, e até fazem perigar a sua existência. Refiro-me ao cadáver do maoísmo, protagonizado pelo quadrado Luís Fazenda, e refiro-me ao cadáver do trotskismo revisionista, oportunista e pueril, protagonizado pelo linear Louçã.

Estes dois fósseis ideológicos podem merecer a nossa curiosidade histórica e cultural, mas não qualquer tipo de atenção, e muito menos devoção. Se as duas viúvas negras que transportam estas enteléquias ao peito fossem mais jovens, ainda se poderia esperar um arrependimento, ou uma auto-crítica consequentes — e o Bloco lá mudaria de vida e de ideias, adaptando-se aos tempos. Há tanto por onde escolher. Mas como está a coisa, parece-me improvável.

Não há mesa que resista ao leninismo organizativo de Fazenda e de Louçã. Logo, só resta uma alternativa para salvar o que resta de um projecto cuja ambição é captar um eleitorado urbano instruído: afastar Louçã e Fazenda, ou partir para outra aventura política e cultural, mais actual, séria e promissora.

A decisão de Rui Tavares não poderia ser mais clara a este respeito. Creio que aponta e bem para a necessidade de se fundar um verdadeiro partido ecológico em Portugal, centrado na crise energética, no colapso ambiental e na mudança do paradigma da felicidade. Os modelos convencionais do progresso, do crescimento económico e do trabalho não só deixaram de fazer sentido, como a simples sobrevivência dos mesmos ameaça de morte a humanidade e a própria vida na Terra. Uma nova filosofia holística sobre a sustentabilidade de Gaia precisa de inspirar rapidamente as instâncias políticas da sociedade. Para já, não se conhece método mais eficaz, limpo e instrutivo, para lá chegar, que não seja a formação de um partido político.

Oxalá a saída de Rui Tavares possa em breve ser acompanhada de ruptura na mesma direcção no grupo de deputados que o Bloco elegeu para a Assembleia da República. Há hoje dicotomias muito mais urgentes e fundamentais do que a velha dicotomia Esquerda-Direita.

POST SCRIPTUM (22-06-2011 11:20)

Nem de propósito! A entrevista a Miguel Portas —que saúdo— foi publicada esta manhã pelo i, mais de oito horas depois desta postagem. Premonição pura.
Miguel Portas “A renovação do Bloco tem de passar pela saída dos quatro fundadores”i, 22-06-2011 08:21

domingo, fevereiro 13, 2011

O fim do Bloco

O BE é uma aberração partidária desde início, com prazo de validade à vista!

Se a direita a chumbar, termina a guerra de alecrim e manjerona entre PSD e PS: quem viabilizou o PECs e o orçamento, mantém o apoio ao governo, configura a sua maioria parlamentar e deve responder por isso.

Se a direita votar a moção, vamos a eleições. E então que paguem o PS e o PSD pelas políticas nocivas que são de ambos. Que as submetam à democracia do voto, coisa que não fizeram nas eleições de 2009. E que se levante uma nova maioria social e política, à esquerda, capaz de governar para um rumo novo no país, capaz de romper com Merkel e de enfrentar a crise partindo das necessidades populares. É para essa mudança que o Bloco existe — in Porquê agora? Jorge Costa, Esquerda Net.
A jogada desesperada de Francisco Louçã pode muito bem ter sido o canto do cisne do líder vazio dum saco de gatos insuflado por uma base eleitoral maioritariamente assente em funcionários públicos (sobretudo professores) e um programa político fatalmente contaminado por uma sangria de ideologias mortas e enterradas.

A sofisticação ideológica do Bloco de Esquerda é nula, e a sua verborreia lembra um repertório de filmes antigos que fazem sorrir de nostalgia os mais velhos. Pais dogmáticos e filhos sem imaginação da UDP, do MRPP e do PSR, os dirigentes eternos deste albergue partidário vivem literalmente na primeira metade do século passado, continuam a odiar-se como dantes, e posam para o presente sob o disfarce de uma "mesa" que controlam sofregamente como se do pão para a vida se tratasse. Que tal introduzirem o saudável princípio da limitação de mandatos? Sempre arejavam a coisa, e permitiam alguma esperança de vida à "mesa"! Assim, como estão, nem crescem, nem melhoram. E a propensão para asneira tende a aumentar exponencialmente.

Francisco Louçã, o homem com menos imaginação que conheci em toda a minha vida, resolveu apresentar uma moção de censura ao governo de José Sócrates uns dias depois de ter desvalorizado a intenção do PCP, pela voz de Jerónimo de Sousa, de fazer o mesmo. Aos olhos da opinião pública, este simples volte-face revelou em toda a sua desgraça a natureza instável do personagem e o oportunismo intolerável do pequeno político que nunca deixou de ser.

Mas para piorar o episódio, este acto aparentemente irreflectido e repentista mergulhou o albergue bloquista numa indescritível balbúrdia. Fazenda explicou que não queria o voto do PSD, e outra voz ainda acrescentou que a moção também era contra o PSD, como que implorando a Passos de Coelho uma reacção rápida rejeitando liminarmente a iniciativa que também o visava. Rapidez foi coisa que não houve da parte do actual líder laranja, como seria previsível. Ou seja, Louçã conseguiu instalar a confusão na nomenclatura partidária, deixando a porta aberta a José Sócrates para este se recompor do susto e contra-atacar.

E no entanto, objectivamente, a Caixa de Pandora que levará a tríade de Macau e o Mubarak das Beiras ao tapete foi mesmo aberta.

Uma moção de censura não é um jogo floral, nem uma admoestação moral, nem uma agenda de retórica parlamentar, mas um instrumento regimental criado para derrubar governos. Ou seja, quando se propõe à Assembleia da República uma moção de censura a um determinado governo, o objectivo é mesmo derrubar esse governo — para recomeçar em melhores condições o jogo democrático. Como tal, a redacção e fundamentação da moção devem garantir pela sua forma e conteúdo a eficácia da acção parlamentar assim desencadeada.

O objectivo legítimo e democraticamente regulador da moção de censura é permitir a emergência de um novo governo, por efeito de um novo acordo entre partidos, ou da dissolução da assembleia legislativa e a convocação de novas eleições. Não é provar a temperatura das alianças tácitas existentes, nem muito menos diminuir a eficácia constitutiva do acto com manobras de demagogia barata.

Uma moção de censura é pois um acto grave em democracia, que só deve ser desencadeado em consequência de uma crise governativa, ou no caso de um patente impasse parlamentar — por exemplo, na falta sistemática de maioria para aprovação de leis. Promover a sua apresentação com meros objectivos tácticos de guerrilha partidária é um acto não só censurável, como condenável. Uma moção de censura deve, pois, ser negociada previamente entre os partidos da Oposição!

Será com base neste tipo de argumentos que, certamente, o PSD se recusará a votar favoravelmente a moção do BE. Uma eventual moção do PCP terá seguramente o mesmo destino. E no entanto, Passos de Coelho, ao recusar alinhar com os comunistas e os esquerdistas do Bloco no derrube do governo Sócrates, irá ficar de mãos mais atadas do que já estão, ao mesmo tempo que deixará o terreno praticamente livre a Cavaco Silva.

Passos de Coelho não poderá aprovar o orçamento de Estado de 2011, sob pena de se suicidar como alternativa de governo, e como direcção partidária. Mas a tríade de Macau está disposta a tudo, e governar sem orçamento não é algo que a assuste. Logo, tudo ficará nas mãos de Cavaco Silva a partir do momento em que Passos de Coelho rejeite a desajeitada iniciativa do trotskista Louçã.

Mas será que a tomada de consciência destes factos poderá ainda levar Passos de Coelho a dizer ao grupo parlamentar do PSD para votar favoravelmente a moção de censura do Bloco, ou do PCP, ao lado do CDS-PP, do PCP e do BE? Eu não sei.