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segunda-feira, agosto 10, 2009

Por Lisboa 28

Uma cidade com dois estuários

2 Estuarios-2030

Ampliar imagem Ver projecção no Google Earth.

Frente ribeirinha da Margem Sul – um projecto perigoso

O desprezo pela reabilitação urbana, é revelado pelos seguintes números extraídos de um trabalho de Rita Calvário: “Portugal é o país da Europa que menos reabilita e onde a nova construção tem mais peso (90,5% numa média europeia de 52,5%). O investimento em reabilitação urbana é de 5,66% do total dos investimentos em construção, enquanto a média europeia é de 33%”. — in Esquerda Desalinhada.


Xangai
18 distritos
220 cidades, vilas, aldeias e povoações
7 037 Km2
população: 18 884 600

Lisboa
18 concelhos
cidades, vilas, aldeias e povoações: alguém sabe?
2 802 Km2
população: 2 808 414

O ponto de partida é sempre o mesmo: nada de útil pode ser resolvido em Portugal sem avançarmos de vez com a regionalização. A Grande Lisboa e o Grande Porto precisam de libertar-se das perversas Comissões Coordenadoras Regionais (CCRs), que não passam de correias de transmissão da nomenclatura partidária, coladas a uma burguesia basicamente indolente — burocrática, clientelar, preguiçosa e ignorante. Sem verdadeiras regiões, com órgãos próprios eleitos democraticamente e poderes alargados, o que continuaremos a ter depois das próximas eleições será mais do mesmo, i.e., um Estado centralista, injusto, corrupto e incapaz de competir na Europa.

A discussão sobre o futuro da região de Lisboa, sobre o novo aeroporto, sobre os comboios de alta velocidade e velocidade elevada, sobre novas travessias do rio Tejo, ou sobre os portos que precisamos urgentemente de renovar, está encalhada no Bloco Central do Betão, que é também um monumental Bloco Central da Corrupção. Vai ser lindo observar mais um ex-maoista (Pacheco Pereira) a gesticular sobre este navio encalhado que é Portugal, no provável governo de Manuela Ferreira Leite.

Vou de férias amanhã e não tenciono escrever durante alguns dias, apesar de levar o Kanguru comigo. Deixo aos meus fieis leitores, até ao fim deste mês, uma pequena charada sobre Lisboa, com que acordei um dia destes.

Cenários:

  1. o porto de Roterdão poderá deixar de crescer antes de 2030;
  2. os portos de Londres, Roterdão, Havre e Hamburgo poderão colapsar perante a subida do nível dos mares e a instabilidade climática, antes de 2050;
  3. a desertificação ibérica (que já é um fenómeno gravíssimo!) poderá empurrar parte da população espanhola do Levante, Castela, Aragão e Catalunha para o litoral atlântico (Norte e Oeste) antes de 2050;
  4. um grande terramoto/ maremoto poderá destruir o centro de Lisboa antes de 2050;
  5. o controlo euro-americano do oceano Atlântico —nomeadamente por causa de África e da América do Sul— vai tornar-se uma questão diplomática e militar decisiva e a única resposta possível ao avanço imperial da nova China, que em breve terá hegemonia sobre toda a Ásia e boa parte do oceano Pacífico;
  6. as novas economias do mar e dos rios, a energia solar e a água farão de Portugal, dos seus estuários e portos, bem como da sua ZEE alargada, uma das mais apetecíveis regiões europeias, muito antes de 2030.
  7. os arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde são decisivos para o controlo do Atlântico, e para manter abertas as rotas marítimas e aéreas entre o Golfo da Guiné e a América, nomeadamente a Latina, daqui decorrendo que Portugal dificilmente poderá continuar de costas voltadas para os temas da diplomacia, da defesa e da paz — sob pena de o estandarte da soberania passar de vez para as mãos da monarquia espanhola.

Se algum destes cenários, ou uma combinação dos mesmos, vier a ocorrer, Lisboa estará no centro de um furacão diplomático, económico e social sem precedentes.

Por isso, talvez fosse bom discutir a necessidade de proteger publicamente os aquíferos, as linhas de água e canais dos estuários do Tejo e do Sado.

O reforço da capacidade portuária dos estuários do Tejo e Sado é, por outro lado, uma prioridade económica e política que exige previamente a criação de uma autoridade portuária única para toda a região de Lisboa. Esta ideia veio de boas mãos, pelo que subscrevo-a sem reservas.

Um longo canal navegável (com propósitos variados) entre os dois estuários teria qualquer coisa como 40 Km de extensão, podendo facilmente chegar, com ramificações, aos 60Km. Para termos uma ideia do que isto significa, basta pensar que o porto de Roterdão mede uns 40 Km de extensão, e o Canal do Panamá (1), 80Km. Pergunta: para que serviria um tal canal? A minha intuição diz-me que poderia ser um projecto para duas ou três gerações, capaz de salvar e recuperar todo o potencial do maior aquífero da Europa, actualmente ameaçado, como muitos outros importantes estuários do planeta, pelo assoreamento urbano e suburbano. Se permitirmos que a cobiça humana prossiga a sua cega tarefa de destruição dos dois grandes estuários portugueses, toda a região de Lisboa sofrerá um colapso muito antes do final deste século.

Finalmente, a questão do dinheiro.

Quando a oportunidade chegar, se chegar, chegará com muita força. E nessa medida, será uma aventura à qual não faltarão grandes interessados!

O importante agora é lançar a discussão e vigiar as patifarias em curso, nomeadamente aquelas que nascem das cavidades cranianas inquinados dos ministros "socialistas" das obras públicas, transportes e comunicações, da agricultura e do dito ambiente.

O governo PS tem vindo, no entanto, ainda que de forma arrastada e trapalhona, a entender as motivações estratégicas que orientaram a reflexão que em 2005 promovi sobre o Grande Estuário do Tejo. O seu mais recente anúncio eleitoralista sobre a cidade das duas margens, e sobre a recuperação da frente ribeirinha entre a Trafaria e Alcochete, não são em si mesmas más notícias — desde que o assunto seja propriamente discutido em público. Para já, o que Grazia Tanta percebeu das intenções governamentais é suficiente para deixar qualquer um preocupado. Os políticos desta falida República não aprendem!


NOTAS
  1. Big Panama Canal plan to cost half Metro North contract
    By Brendan Keenan
    Saturday July 11 2009 (Independent)

    A construction team led by Spanish contractor Sacyr Vallehermoso is the preferred bidder to design and build a third set of locks on the Panama Canal, with a bid of $3.1bn (€2.2bn).

    The bid is the biggest ever contract on the 80km (50 mile) canal which links the Atlantic and Pacific oceans, but is around half the reported cost of Dublin's Metro North line from the city centre to the airport.

    The final cost of the canal work is put at $5bn, although other bids were significantly higher. Bechtel Group, whose partners included the Japanese Mitsubishi, bid $4.2bn; while another Spanish group, working with the German Hochtief, put a cost of $6bn on the work.

    Panama Canal Awards Locks Contract
    Peter T. Leach | Jul 16, 2009 1:43PM GMT
    The Journal of Commerce Online - News Story

    Consortium Grupo Unidos por el Canal bid comes in under canal authority's target price

    The Panama Canal Authority formally awarded the contract to design and build a third set of locks to the Consortium Grupo Unidos por el Canal, which had submitted the lowest bid.

    The multinational consortium, which is composed of Sacyr Vallehermoso of Spain, Impregilo of Italy, Jan De Nul of Luxembourg, and Constructora Urbana of Panama, was one of three global engineering consortia that competed for the largest and most important contract under the canal’s expansion.

    The base price of US$3.12 billion submitted by Grupo Unidos was lower than the canal authority’s target price of $3.48 billion. (...)

    When completed in 2014, the project will allow 12,600-TEU vessels –– nearly three times the size that can fit through existing locks –– to steam through the canal providing all-water trans-Pacific services to all three U.S. coasts.

    Expanding the Panama Canal: A Wider Canal or More Governmental Payola?

OAM 615 10-08-2009 20:43

sábado, julho 18, 2009

Por Lisboa 27

Região Autónoma de Lisboa, já!
Transformar uma manta de retalhos na porta ocidental da Europa.


Obras na minha rua — Carcavelos. Foto: OAM.

O desenho não está ainda bem definido, mas andará numa geometria a meio caminho entre a antiga Região de Lisboa e Vale do Tejo (cerca de 3,5 milhões de habitantes) e a actual Região de Lisboa (2,8 milhões de habitantes). O importante mesmo é exigi-la quanto antes. E sabem que mais? António Capucho daria um bom presidente da nova região!

Fui ontem de manhã, 18 de Julho, passear pelo rio Tejo num Galeão do Sal do início do século 20, entretanto reconvertido para viagens de recreio. Tem o sugestivo nome Estou para Ver.

Há 36 anos que vim parar a Carcavelos. Sem querer, fui-me tornando num "menino da Linha", pendulando entre o areal se São Julião da Barra e o Bairro Alto, Alvalade, Alfama, Cinfães do Douro, Porto, Matosinhos, Pico, Corunha, Badajoz, Madrid, Barcelona, Paris, Florença, Nova Iorque, Tóquio, Xangai, Pequim... Cascais! Até hoje, depois de cada escapadela, acabei sempre por retornar à minha praia de todo o ano, a uma das mais belas linhas de comboio do planeta, à irresistível Marginal de curvas rápidas e sensuais, aos melhores gelados do mundo (velho Santini, que já partiste, obrigado!), e aos inesquecíveis besugos do Cantinho da Belinha. No elBulli, de Adrian Ferrá, poderão fazê-los tão bem, pingando-os com azeite estereficado e decorando cada um destes peixes frescos com batata liofilizada e espuma de boletos, mas nunca melhor do que os pescadores que ainda pescam ao largo da Baía de Cascais e assam pimentos verdes como ninguém. Não será fácil tirarem-me daqui!

A China, porque vim de lá, porque de lá herdei o meu cosmopolitismo indestrutível e porque gosto de lá voltar quando posso; o estuário do Tejo, do labirinto que o Eléctrico 28 percorre, ao Miradouro de Nossa Senhora do Monte, do Cais do Ginjal ao Cabo da Roca; e o Douro a perder de vista que me oferece a Quinta da Vinha Velha, em Cinfães do Douro, fazem parte de um eco-sistema alargado pessoal que amo e me faz amar o resto deste planeta ameaçado.

Voltando à região dos grandes estuários, de onde nasceram as cidades de Lisboa, Santarém, Setúbal, Montijo, Almada e Barreiro, entre muitos outros povoados ribeirinhos, activamente frequentados e trabalhados ao longo dos séculos por Fenícios, Romanos, Mouros, Lusitanos, Galegos, Judeus e Africanos, a questão política da sua escala e organização volta a estar na ordem do dia. Faz sentido, e a União Europeia não quer outra coisa. A malha densa de interdependências várias que de há duas décadas para cá se vem intensificando entre a Lisboa antiga e as cidades e vilas que a rodeiam, desde Sintra, Mafra, Torres Vedras e Santarém, por um lado, a Setúbal, Montijo, Seixal, Barreiro e Almada, por outro, urge que elevemos esta cidade-região e esta grande comunidade humana, ao estatuto de região autónoma, tal como são os Açores e a Madeira, ou a Comunidade de Madrid. Menos do que isto é desconversar sobre os verdadeiros desafios estratégicos que temos pela frente, se quisermos, como deveremos querer, fazer a região dos grandes estuários uma das primeiras e grandes cidades verdes da Europa, e a sua principal e magnífica porta ocidental.

A Lisboa da Baixa Pombalina e do Largo do Município está encalhada, e mesmo em risco de soçobrar perante a mediocridade partidária local e o peso paquidérmico da burocracia municipal. Nem Santana, nem Costa, estão à altura de promover uma visão ampla da cidade metropolitana de Lisboa que todos precisamos. O primeiro é cabotino, e o segundo quer ser Primeiro Ministro, e não o alcaide lúcido e respeitado de que a região precisa para ter finalmente um verdadeiro ordenamento do território, uma lógica de governança democraticamente ancorada e um autoridade política realmente metropolitana. Mas a cidadania não pode parar diante deste escolho. Pelo contrário, deve procurar activamente alternativas e exigir a criação imediata da Região Autónoma de Lisboa. Mobilizemos pois a blogosfera para tal!

Ontem visitei a exposição sobre a obra feita e os projectos de Cascais. Fiquei muito bem impressionado, confirmando o acerto do meu voto autárquico em António Capucho, um político laranja, mas antes de mais, um homem que sempre me pareceu honesto, e sobretudo demonstra saber que a política hoje necessita absolutamente de transparência, qualidade técnica e criatividade. Porque não começar a pensar neste homem para governar toda uma região?

Votar de forma inteligente, não é votar em partidos, mas em pessoas e soluções.

Para os meus exigentes leitores do Norte do país, um conselho que há muito venho dando: o Porto deve ser a cabeça de uma cidade-região metropolitana, que deve ser uma Região Autónoma, mantendo ligações fortes com Lisboa, mas criando e desenvolvendo as suas próprias ligações estratégicas à Europa e ao resto do mundo, ultrapassando para tal e previamente as pequenas divisões provincianas e caciqueiras que os centralistas de São Bento e Belém sistematicamente alimentam.


OAM 604 19-07-2009 13:06