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sábado, fevereiro 28, 2015

Pax Americana? Niet! 不


China apoia Rússia no conflito ucraniano. Tordesilhas 2.0 dá mais um passo


Chinese diplomat tells West to consider Russia's security concerns over Ukraine
Reuters. BEIJING Fri Feb 27, 2015 3:48am EST

(Reuters) - Western powers should take into consideration Russia's legitimate security concerns over Ukraine, a top Chinese diplomat has said in an unusually frank and open display of support for Moscow's position in the crisis.

Qu Xing, China's ambassador to Belgium, was quoted by state news agency Xinhua late on Thursday as blaming competition between Russia and the West for the Ukraine crisis, urging Western powers to "abandon the zero-sum mentality" with Russia.

Há anos que vimos defendendo que o futuro do planeta oscila entre uma terceira guerra mundial em cenário MAD e uma espécie de um compromisso win-win semelhante ao famoso Tratado de Tordesilhas que, 1494, permitiu aos

“...mui poderosos príncipes os senhores D. Fernando e D. Isabel, pela graça de Deus rei e rainha de Castela, de Leão, de Aragão, de Sicília, de Granada, de Toledo, de Valência, de Galiza, de Mailhorca de Sevilha, de Cerdenha, de Córdova, de Córsega, de Murcia, de Jahem, do Algarve, de Algezira, de Gibraltar, das ilhas de Canárea, conde e condessa de Barcelona e senhores de Biscaia e de Molina, duques de Atenas e de Neopátria, Condes de Roselhão e de Cerdónia, marqueses de Oristão e de Goçiano.”
e ao
“...mui alto e mui excelente senhor o senhor D. João, pela graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém-mar em África e senhor de Guiné...”

dividir o mundo desconhecido entre si.

Enfim, depois vieram os holandeses, os ingleses e os franceses, mas no início foi assim: um meridiano elástico serviu de buffer à concorrência e conflitualidade sempre iminente entre Portugal e a ambição de hegemonia ibérica estabelecida pelos reis católicos Fernando de Castela e Isabel de Aragão—soberanos da região central da península para quem o acesso ao mar atlântico e mediterrânico e as passagens para França sempre foram críticas e vitais.

Os Descobrimentos Portugueses inseriram-se no primeiro verdadeiro movimento de globalização que se conhece, e foi, em grande medida, fruto de problemas semelhantes aos que voltamos a ter de forma aguda no Médio Oriente e na antiga Rota da Seda, ou seja na crucial Eurásia sobre a qual tanto tem escrito um dos principais estrategas norte-americanos, Zbigniew Brzezinski, ou ainda, com grande profundidade, o historiador britânico residente nos Estados Unidos, Paul Kennedy.

A Guerra dos 100 Anos foi igualmente um detonador importante da expansão ultramarina, sobretudo pelo lado inglês, depenado pela guerra, já sem ouro para pagar a colaboração holandesa na estratégia de tensão e guerra contra a França e os seus aliados: Escócia, Boêmia, Castela e Papado de Avinhão.

Os nossos historiadores, quase sempre mui atentos e obrigados, raramente objetivos, nunca estudaram convenientemente o casamento entre a inglesa de gema Phillipa of Lancaster e o nosso João I, nem o papel crucial que Filipa viria a ter na educação política e humanista dos seus filhos (Filipa fora educada por Geoffrey Chaucerthe Father of English literature, e autor dos famosos The Canterbury Tales), e sobretudo naquela que viria a ser a maior aventura do povo português desde que Afonso Henriques afirmou de espada na mão o nosso território vital.

A rainha portuguesa, com fortes ligações diplomáticas a Inglaterra e uma notória influência no seu país de origem, terá estado na origem da estratégia da conquista de Ceuta, a qual abriria as portas aos impérios ultramarinos europeus. Apanhada por uma epidemia de peste bubónica, morreira menos de um mês antes da Batalha de Ceuta, que teve lugar em 14 de agosto de 1415.

Esta breve excursão histórica é importante, pois completam-se este ano seis séculos de uma rotação da história mundial, hoje prestes a sofrer uma oscilação em sentido oposto, com o desembarque financeiro da China em Portugal. Quando a Europa do século XV saía da Idade Média, a China mergulhava no isolacionismo imperial que lhe daria cinco séculos de regressão tecnológica, económica, social e cultural.

Nasci em Macau e sei o suficnete da sensibilidade chinesa para poder afirmar que este é um ano de grande simbolismo para a China. Que grande oportunidade perdida por António Costa! Podia ter lido um discurso à altura deste momento simbólico, redigido por algum intelectual digno do nome, com grandeza e sabedoria. O que ocorreu foi uma farsa deprimente que em breve acabará com a imprestável carreira política de um alcaide que nem o cargo respeita.

Defendi e defendo que Lisboa seja para a China o que as Portas do Cerco sempre foram para Pequim ao longo de quatrocentos e quarenta e seis anos: um caminho de acesso à Europa, e um entreposto comercial privilegiado com a China.

Quando passeava pelo Bund de Xangai, numa noite de 1999, polvilhada de humidade e mistério, olhei para Pudong, então com menos de uma década de transformação naquilo que hoje é: uma impressionante metrópole. Não resisti anos mais tarde (2005) a imaginar a extensão do centro de Lisboa para a Margem Sul—uma cidade com duas margens como hoje Xangai é. Mais pequenina, sem perdermos a graça barroca da nossa história, mas ainda assim virada corajosamente e com imaginação para o futuro. Poderia a China ajudar-nos a tornar realidade esta visão? A guia que me acompanhava naquele passeio após um jantar memorável perguntou: em que pensas? Respondi: que o mundo é pequeno e que somos todos muito parecidos.

A China sabe que o inferno que hoje se vive no Médio Oriente e nas fronteiras naturais da Rússia resultam da estratégia de antecipação imperial americana, que pretende deste modo travar a expansão chinesa no mundo. Para que tal estratégia resulte será necessário aos americanos fazerem o contrário do que os europeus fizeram depois da queda de Constantinopla e da Batalha de Ceuta: fechar o ex-império ocidental ao exterior, ao Outro, numa espécie de Nova Idade Média, burocrática, autoritária, ressuscitando a caça às bruxas e o medo—matando a liberdade, claro.

Se é esta a ideia americana, tal implicará duas grandes guerras, uma contra a Rússia, na qual boa parte da Europa poderá ser destruída, e uma guerra contra a China, que começará, pelo norte, com uma confrontação liderada pelo Japão, e a sul, com a destruição da nova Rota da China em acelerada construção, através do bloqueio do Estreito de Malaca. O Pacífico será de novo um Inferno.


Talvez por compreender que os relógios desta aparente inevitabilidade aceleraram subitamente, a China tenha decidido esta semana tomar a decisão histórica de se colocar oficialmente ao lado da Rússia no conflito que a esta foi imposto pelo Ocidente, através de sucessivas provocações, de que a tentativa de integrar a Ucrânia na União Europeia e na NATO foi a gota de água que transbordou de um copo já demasiado cheio.

Se esta análise aderir à realidade, como penso que adere, Portugal está metido num grande sarilho.

A menos que acorde e resolva lançar-se na missão histórica de propor e intermediar a negociação dum novo Tratado de Tordesilhas, em nome da paz, mas sobretudo em nome de uma estratégia win-win, como aquela que no longínquo dia 7 de junho de 1494 os reis na Ibéria souberam pactar, seremos sujeitos a enormes pressões vindas do Oriente e do Ocidente. A minha cabeça está em Portugal, mas uma parte do meu coração vive em Pequim, Xangai e os olfactos primordiais nasceram em Macau.

China Just Sided With Russia Over The Ukraine Conflict
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/27/2015 22:25 -0500

When it comes to the Ukraine proxy war, which started in earnest just about one year ago with the violent coup that overthrew then president Yanukovich and replaced him with a local pro-US oligarch, there has been no ambiguity who the key actors were: on the left, we had the west, personified by the US, the European Union, and NATO in general; while on the right we had Russia. In fact, if there was any confusion, it was about the role of that other "elephant in the room" - China.


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sábado, abril 26, 2014

A armadilha ucraniana

Vladimir Putin. AP

Uma nova tragédia em nome de Halford Mackinder?


Há uma teoria do mundo que tem conduzido a enormes desastres humanos. É a chamada Heartland Theory de Halford Mackinder, dogma adotado por Hitler, e mais tarde pelos Estados Unidos.

A mente cinzenta desta visão que há décadas influencia a diplomacia norte-americana é Zbigniew Brzezinski, para quem o império americano morrerá no dia em que Lisboa se ligar económica, diplomática e culturalmente a Vladivostok. Para Brzezinski um tal cenário correria o risco de colocar os caucasianos alemães e russos ao leme do mundo, sobretudo se estes conseguirem estabelecer uma aliança forte com a China, que absorveria entretanto o Japão na sua esfera de influência, e forem capazes de acomodar o Médio Oriente e o norte de África, atrair Israel, e travar os radicais islâmicos onde estejam.

A ladainha de Brzezinski retomada de Mackinder é esta:
“Who rules East Europe commands the Heartland;
who rules the Heartland commands the World-Island;
who rules the World-Island controls the world.”
(Mackinder, Democratic Ideals and Reality, p. 194)/ Wikipedia

O mapa estratégico do mundo segundo Halford Mackinder

Um Zona de Comércio Livre de Vladivostok a Lisboa?

É pelo menos isto que ingleses e americanos, ou pelo os americanos, há muito querem impedir. Mário Soares está do lado desta visão, apesar de ter sido ajudado consistentemente pela França e pela Alemanha desde que a ditadura de Salazar começou a ruir. Talvez seja esta a explicação para as manobras insistentes que tem vindo a desenvolver no sentido de reclamar o derrube violento da atual ordem constitucional. Convém a este propósito lembrar que a direita latifundiária e rendeira que suportou o Salazarismo está intacta e reclama entre dentes a saída do euro. Esta, porém, seria a via direta para a expropriação fiscal violenta e em massa dos portugueses. Mas a Mário Soares tal cenário é-lhe indiferente. Ao personagem interessa-lhe sobretudo o poder da tribo que julga todavia comandar, ainda que em nome do prolongamento, cada vez mais problemático, da Pax Americana.

As manobras de Mário Soares, nomeadamente ao envolver alguns restos indigentes do MFA, são mais finas do que parecem, na medida em que o que está em formação sob as suas declarações aparentemente desmioladas é um verdadeiro bloco de interesses de natureza nacionalista e autoritária, pronto a aproveitar qualquer deslize grave na situação financeira, económica e social do país e, ou, o colapso do euro, para desencadear uma Revolução Cor-de-Rosa amplamente financiada pelo Tesouro americano. Até agora o PCP demarcou-se desta armadilha. Vamos observar com minúcia os próximos passos do “animal político” Mário Soares.

Importante: esta dinâmica, já em curso, levará inevitavelmente a uma cisão no PSD, cuja precária unidade interna será intensamente desafiada pelo CDS de Paulo Portas, e pelo PS de Mário Soares, intelectualmente secundados por Adriano Moreira e pela filha deste, Isabel Moreira.

Russian Prime Minister Vladimir Putin would like to see a free trade agreement between the European Union and Russia. In a Thursday editorial for a German newspaper, he describes his vision of "a unified continental market with a capacity worth trillions of euros."

No more tariffs. No more visas. Vastly more economic cooperation between Russia and the European Union. That's the vision presented by Russian Prime Minister Vladimir Putin in an editorial contribution to the German daily Süddeutsche Zeitung on Thursday.

"We propose the creation of a harmonious economic community stretching from Lisbon to Vladivostok," Putin writes. "In the future, we could even consider a free trade zone or even more advanced forms of economic integration. The result would be a unified continental market with a capacity worth trillions of euros."

Spiegel online, November 25, 2010 – 11:44 AM