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sexta-feira, novembro 15, 2024

Mercearia estatística e agenda climática

Albufeira, cheias, 2015
Foto: Carlos Santos
Lídia Pereira (PSD): “O grande instrumento que a União Europeia tem para o resto do mundo é mostrar que é possível descarbonizar e crescer, e é isso que tem acontecido”, afirmou, detalhando que “se olharmos para as normas nos últimos 20 anos, a União Europeia cresceu 27%, criou 26 milhões de postos de trabalho e, ao mesmo tempo, foi possível reduzir as emissões de CO₂ entre 25% e 30%”. TSF

A mercearia estatística dissimulada é a moda mais recente do populismo democrático. Nas ditaduras, como sabemos, os números são mesmo pura e simplesmente falsificados, como se soube recentemente a propósito da demografia russa: 90 milhões de residentes, em vez dos propalados 144 milhões.

Dito isto, a jovem eurodeputada Lídia Pereira (PSD), ao anunciar a magnífica performance ambiental da Europa ocidental esqueceu-se de dizer duas ou três coisas: que a Volkswagen e a Audi estão a caminho da irrelevância, que o governo alemão implodiu, que a economia alemã está a caminho de uma recessão profunda, e que boa parte da energia e do que usamos e consumimos na União Europeia vem (direta ou indiretamente) da China e de outros paísimplodiueus e euroasiáticos assentes nas energias fósseis. Ou seja, alguém continua a ter que fazer o trabalho sujo!

Já agora, senhores e senhoras do PSD: 

— que tal cuidar do ordenamento do território, nomeadamente florestal e urbano, em vez de cavalgarem soluções especulativas antes de tempo e por validar, de que são exemplos desastrosos os barcos elétricos da Transtejo, o Hidrogénio Verde de Sines, o Novo Aeroporto de Lisboa sobre um aquífero precioso que é ao mesmo tempo uma região inundável em caso de grandes precipitações e maremotos, ou as famigeradas novas linhas de Alta Velocidade ferroviária ao arrepio da tecnologia dominante, das diretivas europeias e dos acordos oficiais celebrados reiteradamente com Espanha?

Menos mal que o Trump ganhou as eleições americanas!


terça-feira, agosto 25, 2020

Energy flat rate

Swanson's Law (Wikipedia)
 

O paradigma energético mudou 

Novo leilão em Portugal bate novo recorde mundial com o mais baixo preço de energia solar

97% menos do que o atual preço grossista da eletricidade na Península Ibérica (!)

Portugal está definitivamente na história do desenvolvimento de projetos de energia solar. Ao que o Expresso apurou, o leilão que decorre entre esta segunda e terça-feira já alcançou um preço de 1,20 euros por megawatt hora (MWh) * em pelo menos dois lotes já fechados, batendo por larga margem a marca histórica de 14,76 euros por MWh de julho de 2019 e o recorde mundial registado em abril último em Abu Dhabi.

Expresso, 24.08.2020 às 16h12

Vamos tentar pensar o tema da energia no nosso país sem a canga de maniqueísmo habitual, mesmo conhecendo os figurões em causa. 

Eu sei que é difícil. Mas vamos fazer este exercício teórico: 

—num país onde desaguam 3 rios internacionais, que tem uma das maiores exposições solares anuais da Europa, mais de 2100 Km de costa, e uma ZEE marítima que corresponderá em breve a 97% do seu território (a 7ª maior do mundo, equivalente à superfície da Índia), numa conjuntura económica ímpar, nomeadamente por efeito de um financiamento europeu à convergência económica portuguesa com os países mais desenvolvidos da União Europeia, na ordem dos 130 mil milhões de euros, entre 1986 e 2019 (1), será realmente um erro apostar nas energias renováveis, nomeadamente hídrica, eólica e solar? 

A nossa dependência energética do exterior anda, em média, desde 2009, nos 77% (25 pontos acima da média europeia, que ronda os 55%), e assenta sobretudo na importação de petróleo, gás natural e carvão. 

Por outro lado, por causa da pressão climática, da poluição e do pico petrolífero, mas também por efeito da queda da procura agregada mundial, que torna inviável continuar a consumir grandes quantidades de petróleo e carvão cuja prospeção e produção são cada vez mais caras, dificilmente poderemos negar que as energias renováveis vieram para ficar (2). 

Substituirão boa parte da energia oriunda do carvão, petróleo e gás natural, e serão tendencialmente gratuitas, assim que nos livrarmos dos monopólios das infraestruturas físicas e financeiras pesadas que ainda regem o paradigma de produção e distribuição de energia à escala global. 

Os custos da produção fotovoltaica têm vindo a cair à razão de 75% em cada década (a chamada Lei de Swanson). Assim que as pessoas e empresas puderem produzir livremente energia sem obrigatoriedade de venda aos atuais monopólios a preços regulados, estes mudarão de natureza, e os preços da energia começarão a cair ainda mais depressa. 

Em Portugal, porém, para que esta mudança ocorra teremos que acabar de uma vez por todas com as rendas excessivas da EDP, renegociando os contratos existentes.


As redes tradicionais de distribuição de energia elétrica terão a mesma sorte que as redes telefónicas anteriores ao VoIP. Ou seja, teremos, em menos de uma ou duas décadas, plataformas de energia renovável (biomassa, eólica, solar, etc.) onde todos podem ser, ao mesmo tempo, produtores, armazenistas e consumidores, pagando um 'small fee' pela gestão das redes de distribuição e partilha. Será, porém, necessária uma super-concentração dos atuais monopólios de energia, nomeadamente através de fusões entre grandes empresas petrolíferas em transição (BP, Total, etc.) e os grandes grupos de produção e distribuição de energia elétrica. Por fim, para que os preços de consumo se aproximem dos custos reais de produção das energias renováveis (sobretudo da energia solar fotovoltaica) será também preciso eliminar a ineficiência física e financeira atual, ou seja, o excesso de grandes empresas como a EDP, e criar verdadeiros monopólios globais à semelhança do que hoje são no mundo das telecomunicações, da informação e da computação, a Apple, a Microsoft, a Amazon, a Google, a Alibaba e a Tencent.

A EDP talvez já saiba que a energia cara chegou ao fim, ou vai chegar em breve...


*— Segundo me foi explicado por especialistas, a informação do Expresso é imprecisa.

Assim o “preço de 1,20 euros por megawatt hora (MWh)” é, em primeiro lugar 1,20 euros por MW (e não MW/h) e, por outro lado, trata-se de uma oferta de um “preço de compensação”...

Transcrevo:

Há três modalidades:

1. CfD é um contrato as diferenças em que há uma conta corrente entre o promotor e o sistema. Saldada  a conta corrente o promotor recebe exactamente o preço fixado no leilão.

2. Compensação Fixa

O fornecedor vende no mercado a energia que produz e paga ao sistema um preço de compensação por conseguir ter um ponto de ligação à rede (recurso escasso). Então o preço de venda que se pode comparar com o preço do ponto 1 é o preço médio da venda da energia em mercado descontado do preço de compensação pela ligação à rede.

É evidente que os promotores vão oferecer preços de compensação baixos, e a confusão gerada foi terem comparado esse preço de compensação muito baixo com o preço de venda a rede! São coisas distintas

3. Prémio Fixo por flexibilidade

É para centrais que tenham acoplado um esquema de armazenamento de energia (...). Neste caso, o produtor vende à rede a preços de mercado e vai receber do Sistema um prémio de capacidade que remunera essa potência de armazenamento que ele oferece, e esse prémio é idêntico às Garantias de Potência que as centrais clássicas recebiam pelo facto de fazerem backup as intermitentes. 

Assim sendo a remuneração é em euros por MW (potência) e não em euros por MWH (energia) como alguns disseram. A dúvida que tenho (...) é esta: quem gere essa capacidade de armazenamento. Se for o promotor, ele ganha por dois carrinhos: recebe o prémio pela potência instalada, e vai vender a energia armazenada quando lhe convier ao preço de mercado elevadíssimo duma hora de maior valia da energia! Assim sendo, se ele recebe esse prémio, quem deveria comandar a entrada em funcionamento dessa potência disponível seria o Despacho, quando precisar desse backup, e não quando convier ao promotor...


NOTAS

  1. Apesar de gigantesco, este rio de dinheiro é metade da dívida pública atual, a qual teremos que pagar, em horas de trabalho, ou em espécie...
  2. "As Mark Lewis of BNP Paribas Asset Management wrote, 'We conclude that the economics of oil for gasoline and diesel vehicles versus wind-and-solar-powered EVs are now in relentless and irreversible decline, with far-reaching implications for both policymakers and the oil majors.' —in Jeff Booth, The Price of Tomorrow, Why Deflation Is the Key to an Abundant Future (2020). See also www.thepriceoftomorrow.com


REFERÊNCIAS

Swanson's Law

EIA—Annual Energy Outlook 2020

De onde vem a energia que move o país, Público (12/11/2019)


Atualizado: 25/8/2020, 23:41 WET

sábado, junho 16, 2018

Sem energia, nada feito!



Tenho duas más notícias:
  1. a energia nuclear é a única alternativa economicamente rentável ao declínio da energia elétrica oriunda do carvão, do petróleo (diesel) e do gás natural;
  2. a linha do crescimento económico é paralela à do consumo de energia, i.e.: sem energia, não há crescimento. E sem crescimento o mundo tal qual o conhecemos entrará num longo e prolongado declínio, povoado de enormes colapsos financeiros, convulsões sociais e guerras.
No nosso país, a aposta nas chamadas energias limpas e renováveis —hidroelétrica, eólica e solar— tornou a eletricidade mais cara. Este acréscimo de preço levou a grandes esforços de eficiência nalguns setores da nossa economia, mas não no principal: o setor dos transportes, onde, por exemplo, a descarbonização do transporte rodoviário, através de modernização e interligação da nossa rede ferroviária às redes europeias, foi criminosamente adiada, por motivos que ninguém entende, salvo se os interesses das tríades e a corrupção entrarem na análise. Por outro lado, o endividamento público exigido pela implementação das chamadas energias verdes pesará sobre todos nós durante, pelo menos, setenta e cinco anos. Como se isto não fosse já um desastre, o consumo de eletricidade caiu, e caiu ainda mais o consumo energético per capita. Porquê? Porque as pessoas tiveram que emigrar e/ou poupar na conta da EDP, e porque muitas empresas dependentes do consumo intensivo de energia fecharam, umas deslocalizando-se, outras não. Ora menos consumo de eletricidade significa menos faturação para o oligopólio formado pela EDP, REN, Endesa, Iberdrola e GALP, e menos receita fiscal, mesmo se ao consumo de eletricidade se veio a impor a tarifa máxima do IVA (“A subida da taxa de IVA de 6% para 23% entrou em vigor a 1 de outubro de 2011.” — Dinheiro Vivo, 26/7/2017). Mas mais importante ainda: significa menos produtividade e menos criação de riqueza!

É neste quadro que a guerra em volta do equilíbrios contratuais montou as suas barricadas. De um lado, os rendeiros cotados em bolsa, cujos escrúpulos deixam naturalmente muito a desejar. Ao lado destes, ainda que mascarados, está o regime devorista partidocrata instalado, e bem instalado, como se percebeu pela forma intempestiva como António Costa retirou o tapete a uma lei do parlamento que visava diminuir as rendas excessivas da EDP e quejandos. Do outro lado da barricada estão os consumidores, ricos e pobres, assediados simultaneamente pelo preço leonino da energia, e pelo saque fiscal dum insaciável estado partidário e burocrático, que, tal como o oligopólio da energia, se habituou a viver alegremente da extração de riqueza aos seus concidadãos.

A situação é tanto mais grave quanto se avizinham novas e mais graves crises financeiras e recessões. Meter a cabeça na areia, e persistir na propaganda e no circo mediático não vai resolver nenhum problema, mas poderá seguramente agravar irremediavelmente os que já existem. Será que alguém explicou isto mesmo ao presidente da república? É bem possível que sim. Doutro modo a sua mensagem enigmática sobre as cinzas do país permaneceria encriptada para sempre.

Junto a esta reflexão dois artigos, de leitura obrigatória, sobre o tema da energia. Sem percebermos bem este tema tudo o resto parecerá caótico e sem solução. 







100% renewable electricity at no extra cost, a piece of cake?
Jean-Marc Jancovici

Going to a low carbon economy is urgent. If we are serious about it, the good idea is not to waive nuclear for renewables, but to replace everywhere on the planet coal and gas-fired power plants by what has the lowest overall system cost: nuclear. Not doing it is, explicitly, suggesting that we take 10 times more time to phase out coal and gas from electricity generation (that represent together 28% of the overall greenhouse gases emissions in the world), which is equivalent to considering that climate change is a minor risk compared to the nuclear one. It is not because it is trendy that it is true.

+


Our Energy Problem Is a Quantity Problem
Posted on May 30, 2018, by Gail Tverberg

Once energy consumption growth flattens, as it did in the 1920-1940 period, the world economy is negatively affected. The Great Depression of the 1930s occurred during the 1920-1940 period. Problems, in fact, started even earlier. Coal production in the United Kingdom started to drop in 1914, the same year that World War I began. The Great Depression didn’t end until World War II, which was immediately after the 1920-1940 period.

[...]

Recently (2013-2017), the world economy seems to have again reached a period of flat energy consumption, on a per capita basis.

In fact, in many ways, the flattening looks like that of the 1920 to 1940 period. Increased wage disparity is again becoming a problem. Oil gluts are again becoming a problem, because those at the bottom of the wage hierarchy cannot afford goods using oil, such as motorcycles. Young people are finding their standards of living falling relative to the living standards of their parents. They cannot afford to buy a home and have a family. Governments are becoming less interested in cooperating with other governments.

[...]

A major reason for the flat world per capita energy consumption starting in 2013 is the fall in China’s coal production after 2013. Coal production is falling in quite a number of other countries as well, as the cost of production rises, and as users become aware of coal’s environmental issues. Other sources of energy have not been rising sufficiently to keep total per capita energy consumption rising. A person can see in the China chart that wind and solar production are not rising sufficiently to offset its loss of coal production. (Wind and solar are part of Other Renewables.) This situation occurs elsewhere, as well.

What role do wind and solar play in maintaining world energy supply? The truth is, very little. While a great deal of money has been spent building them, wind and solar together amounted to only about 1% of total world primary energy supply in 2015, according to the International Energy Association.

[...]

Globalization requires ever-expanding energy supplies to meet the needs of a rising world population. To maintain globalization, we need a growing supply of energy products that are very cheap and scalable. Unfortunately, wind and solar don’t seem to meet our needs. Fossil fuels are no longer cheap to extract because we extracted the resources that were least expensive to extract first. Our problem today is that we have not been able to find substitutes that are sufficiently cheap, non-polluting, and scalable.

+

terça-feira, fevereiro 07, 2017

Depois do crescimento

demografia mundial
Em todas as áreas azuis a população deixou de crescer e envelhece.


Estagnação demográfica, envelhecimento e o fim da energia barata.


Olhando para o gráfico da demografia mundial entre 1961 e 2015, verificamos que a taxa de crescimento começou a cair em 1969 (2,1%), estando em 2015 nos 1,18%. No entanto, a população continua a crescer, sobretudo no continente africano.

As regiões com maior rendimento per capita do planeta—Estados Unidos, Canadá, Europa ocidental, Austrália, Japão—estão em processo de envelhecimento acelerado e estagnação demográfica. Mas não só: China, Brasil e Rússia, por exemplo, encontram-se em situação semelhante. O crescimento demográfico em países como o México, ou na América do Sul à exceção do Chile e Brasil, em França, na Arábia Saudita e Turquia, no Casaquistão e na Mongólia, Índia, Paquistão, Malásia, Indonésia e Nova Zelândia, situa-se entre os 2 e os 3 filhos por mulher, havendo assim nalguns destes países renovação geracional efetiva. Só em África se verifica ainda aquilo a que poderíamos chamar uma explosão demográfica, sobretudo nas regiões subsarianas e no centro do continente.

África já é o segundo continente mais populoso do planeta, depois da Ásia central e do sul. Até 2030 terá mais 493 milhões de pessoas (passando dos atuais 1.186 milhões para 1.679 milhões), e em 2050 haverá mais 1.292 milhões do que hoje, ou seja, o continente africano terá então uns 2.478 milhões de almas. Se pensarmos apenas nos grandes países de língua portuguesa, em 2030 Brasil terá +20 milhões de pessoas (207.848 > 228.663), Angola, +14 milhões (25.022 > 39.351), e Moçambique, +13 milhões (27.978 > 41.437).

Olhando para o mapa acima percebe-se até que ponto os países que deixaram de crescer demograficamente (a Península Ibérica, se nada fizer, perderá 700 mil pessoas até 2030), ou acolhem população jovem de outros continentes, ou morrem de velhos, provavelmente no meio de grandes convulsões sociais. Falta, porém, saber como programar o inadiável rejuvenescimento destas sociedades demograficamente estagnadas, sem causar dramas como os que hoje afligem a Europa, lançando os países numa corrida populista em direção ao abismo. Precisamos de discutir sem complexos estes temas.

Uma das origens da estagnação demográfica e económica é o fim da energia barata, bem como de outras matérias primas que, tal como o petróleo e o gás natural, só são baratas se forem abundantes e de fácil acesso. Durante algumas décadas o endividamento público e privado escondeu a realidade dos preços, ou seja, que os recursos necessários à economia e à vida das pessoas se tornaram demasiado caros quando comparados com os rendimentos declinantes do trabalho. Hoje, com as bolhas financeiras a rebentarem por toda a parte, o crescimento real praticamente estagnado, desemprego e falta de novos empregos, percebe-se que a queda da procura agregada mundial veio para ficar (ainda que possa aumentar até 2030-40, moderadamente, pelo efeito induzido pelo crescimento da população mundial) e vai impor alterações radicais nas sociedades. Poderá mesmo interromper a globalização competitiva baseada no desenvolvimento assimétrico, provocando o regresso das soberanias nacionais. Também neste ponto há necessidade de abordar os temas com imaginação, nomeadamente no que toca à sempre possível fragmentação da União Europeia e do euro. A este propósito, o Brexit, por um lado, e a experiência alemã, por outro, serão provavelmente os melhores observatórios para acompanhar este problema e esta discussão. 

Algumas ilusões tecnológicas devem, entretanto, ser afastadas da nossa imaginação e sobretudo da nossa agenda política. Uma destas ilusões é a das energias renováveis. A outra é a de que o nosso maior problema são as alterações climáticas, as quais, por sua vez, legitimam a corrida ruinosa pelas energias eólica e fotovoltaica, ou a criação de novas bolhas especulativas, como o chamado mercado das emissões de carbono. Finalmente, a ideia de substituir tabalho humano por máquinas inteligentes não é nova e acelera há alguns anos na vertente informática, da inteligência computacional e da robótica. Esta aceleração poderá resolver alguns problemas associados ao envelhecimento e à estagnação demográfica, mas padece do mesmo mal que as indústrias tradicionais: precisa de muita energia, e se esta for cara, os produtos finais, sejam estes de natueza material ou imaterial, serão igualmente caros, mantendo-se assim a tendência já instalada e de longo prazo (60 a 100 anos) para a quebra acentuada da procura agregada mundial. No entanto, a combinação entre conhecimento e crise poderá ser a mistura necessária para uma transição pacífica das sociedades perdulárias, agonísticas e desiguais contemporâneas em direção a uma ordem social mais equilibrada. Veremos...


REFERÊNCIAS




Policy Makers, like Generals, Are Busy Fighting The Last War
Econimica, Saturday, January 21, 2017

1. The Global Population of Young (Future Consumer Base) Ceased Growing...30 Years Ago.

2. The Worlds Population is Still Growing Due to a Surge in the Elderly Living Longer and High African Birthrates Offsetting Global Depopulation of Young.


The “Wind and Solar Will Save Us” Delusion

The “Wind and Solar Will Save Us” story is based on a long list of misunderstandings and apples to oranges comparisons. Somehow, people seem to believe that our economy of 7.5 billion people can get along with a very short list of energy supplies. This short list will not include fossil fuels. Some would exclude nuclear, as well. Without these energy types, we find ourselves with a short list of types of energy — what BP calls Hydroelectric, Geobiomass (geothermal, wood, wood waste, and other miscellaneous types; also liquid fuels from plants), Wind, and Solar.

Unfortunately, a transition to such a short list of fuels can’t really work. These are a few of the problems we encounter:

[1] Wind and solar are making extremely slow progress in helping the world move away from fossil fuel dependence.

[2] Grid electricity is probably the least sustainable form of energy we have.

[3] Our big need for energy is in the winter, when the sun doesn’t shine as much, and we can’t count on the wind blowing.

[4] If a family burns coal or natural gas directly for winter heat, but then switches to electric heat that is produced using the same fuel, the cost is likely to be higher. If there is a second change to a higher-cost type of electricity, the cost of heat will be even greater. 

[5] Low energy prices for the consumer are very important. Unfortunately, many analyses of the benefit of wind or of solar give a misleading impression of their true cost, when added to the electric grid. 

[6] If we want heat in the winter, and we are trying to use solar and wind, we need to somehow figure out a way to store electricity from summer to winter. Otherwise, we need to operate a double system at high cost.

[7] There are a few countries that use an unusually large share of electricity in their energy mixes today. These countries seem to be special cases that would be hard for other countries to emulate.

[8] Hydroelectric power is great for balancing wind and solar, but it is available in limited quantities. It too has intermittency problems, limiting how much it can be counted on. 

[9] If we need to get along without fossil fuels for electricity generation, we would have to depend greatly on hydroelectric power. Hydro tends to have considerable variability from year to year, making it hard to depend on.

[10] There has been a misunderstanding regarding the nature of our energy problem. Many people believe that we will “run out” of fossil fuels, or that the price of oil and other fuels will rise very high. In fact, our problem seems to be one of affordability: energy prices don’t rise high enough to cover the rising cost of producing electricity and other energy products. Adding wind and solar tends to make the problem of low commodity prices worse.   

[...]

If we want to operate a double system, using wind and solar when it is available, and using fossil fuels at other times, the cost will be very high. The problem arises because the fossil fuel system has many fixed costs. For example, coal mines and natural gas companies need to continue to pay interest on their loans, or they will default. Pipelines need to operate 365 days per year, regardless of whether they are actually full. The question is how to get enough funding for this double system.

[...]

A different pricing system that works much better in our current situation is the utility pricing system, or “cost plus” pricing. In this system, prices are determined by regulators, based on a review of all necessary costs, including appropriate profit margins for producers. In the case of a double system, it allows prices to be high enough to cover all the needed costs, including the extra long distance transmission lines, plus all of the high fixed costs of fossil fuel and nuclear power plants, operating for fewer hours per year.

Of course, these much higher electricity rates eventually will become unaffordable for the consumer, leading to a cutback in purchases. If enough of these cutbacks in purchases occur, the result will be recession. But at least the electricity system doesn’t fail at an early date because of inadequate profits for its producers.

Conclusion

The possibility of making a transition to an all-renewables system seems virtually impossible, for the reasons I have outlined above.


Exposed: How world leaders were duped into investing billions over manipulated global warming data 

PUBLISHED: 22:57 GMT, 4 February 2017 | UPDATED: 15:12 GMT, 5 February 2017

The Mail on Sunday today reveals astonishing evidence that the organisation that is the world’s leading source of climate data rushed to publish a landmark paper that exaggerated global warming and was timed to influence the historic Paris Agreement on climate change.
A high-level whistleblower has told this newspaper that America’s National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) breached its own rules on scientific integrity when it published the sensational but flawed report, aimed at making the maximum possible impact on world leaders including Barack Obama and David Cameron at the UN climate conference in Paris in 2015.

[...]

In an exclusive interview, Dr Bates accused the lead author of the paper, Thomas Karl, who was until last year director of the NOAA section that produces climate data – the National Centers for Environmental Information (NCEI) – of ‘insisting on decisions and scientific choices that maximised warming and minimised documentation… in an effort to discredit the notion of a global warming pause, rushed so that he could time publication to influence national and international deliberations on climate policy’.

[...]

Dr. Bates revealed that the failure to archive and make available fully documented data not only violated NOAA rules, but also those set down by Science. Before he retired last year, he continued to raise the issue internally. Then came the final bombshell. Dr Bates said: ‘I learned that the computer used to process the software had suffered a complete failure.’
The reason for the failure is unknown, but it means the Pausebuster paper can never be replicated or verified by other scientists.


Harnessing automation for a future that works
By James Manyika, Michael Chui, Mehdi Miremadi, Jacques Bughin, Katy George, Paul Willmott, and Martin Dewhurst
McKinsey report

The automation of activities can enable businesses to improve performance by reducing errors and improving quality and speed, and in some cases achieving outcomes that go beyond human capabilities. Automation also contributes to productivity, as it has done historically. At a time of lackluster productivity growth, this would give a needed boost to economic growth and prosperity. It would also help offset the impact of a declining share of the working-age population in many countries. Based on our scenario modeling, we estimate automation could raise productivity growth globally by 0.8 to 1.4 percent annually.


Atualização: 24 fevereiro 2017, 12:02 wet

domingo, maio 31, 2015

O embuste energético lusitano

Turbinas eólicas usadas em revenda - Vestas

O grande roubo da energia continua, com o apoio do PSD, CDS/PP, PS e PCP


Já ouviram o António Costa pronunciar-se sobre este assalto à economia e aos bolsos dos contribuintes? Vejo por aí artistas e desportistas fazendo alegremente propaganda de borla à EDP. Será que sabem quem lhes paga as exposições e as T-shirts vermelhas? Somos nós!

Renováveis já custaram 10 mil milhões de euros aos consumidores
Económico,  29 Mai 2015 Ana Maria Gonçalves

Os subsídios pagos às energias renováveis, e reflectidos nas tarifas da electricidade, já custaram mais de 10 mil milhões de euros às famílias e às empresas portuguesas.
As contas, que têm por base os relatórios da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, no período entre 2002 e 2015, constam de um relatório de um grupo de peritos do sector energético de vários quadrantes políticos, elaborado para a Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa.

Henrique Gomes, ex-secretário de estado deste governo, quando o Álvaro barrava o caminho à corja rentista, escreve:

Duas perguntas simples ao nosso Primeiro-Ministro:

1) Se nos mercados dos EUA e Espanha, os mais importantes em investimento para a EDPR (Renováveis), esta pode vender a sua produção abaixo dos 50€ por MWh, porque aceita o Governo que em Portugal nos cobrem acima de 100€ por MWH?

2) Nestas circunstâncias, porquê o objectivo de querermos ser campeões e querer que, em 2030, 40% de toda a energia que consumirmos  seja renovável se a Europa dos 28 assume uns prudentes 27% (em média) e os EUA (lideres tecnológicos mundiais) prevêem ter 18% em 2040?

Para já, enquanto aguardo ser esclarecido, só tenho uma explicação: em Portugal, o interesse publico que deve ser o leit-motiv e é a legitimidade dos políticos, está subordinado aos interesses económicos e pessoais e isso, pelo menos sob o ponto de vista ético, é corrupção!

domingo, agosto 12, 2012

O Pico da Ponte 25A

Fertagus, empresa privada de comboios liga com sucesso as duas margens da Grande Lisboa
Foto ©Andre Ferreira, Comboios.org

Com o petróleo definitivamente acima dos 100 dólares, e a caminho do patamar dos 120, e depois 150, 200..., acabou-se a festa automóvel e rodoviária. Tempo para o transporte público elétrico inteligente, sustentável e de “altas prestações”!

Os combustíveis em Portugal, de 2005 para 2011, tiveram um aumento médio de 35% para a gasolina, e de 46% para o gasóleo.

No mesmo período, o tráfego na Ponte 25 de Abril caiu 8,3% — 156 mil veículos/dia no ano de 2005, 155 mil em 2006, 155 mil em 2007, 153 mil em 2008, 143 mil em 2011. Esta queda deu-se já depois do sucesso verificado na travessia ferroviária proporcionada pela Fertagus, que quase duplicou entre 2000 e 2006.

Estas e outras conclusões resultam de mais um dos incisivos artigos de Rui Rodrigues sobre as alternativas inteligentes ao bordel da despesa pública excessiva e irracional que alimenta a burguesia rendeira do regime — praticamente a mesma que serviu o Salazarismo (1), embora muito mais pesada desde que corrompe o insaciável e tragicamente incompetente sistema partidário montado sobre os destroços da ditadura.
“Segundo um estudo sobre a terceira travessia rodoviária do rio Tejo, encomendado pela própria Lusoponte, no ano de 2005, a situação sobre o tráfego na Ponte 25 de Abril era a seguinte:

- Os utilizadores desperdiçavam 320 milhões de Euros, por ano, em combustíveis, para além do que ocorreria numa situação normalizada de tráfego;

- Cada utilizador gastava diariamente uma a duas horas a atravessar a Ponte, dependendo do número de acidentes, que já se aproximava da média de três por dia, o que correspondia a 160 mil horas/dia, ou a 58,4 milhões de horas/ano para o total dos utilizadores da Ponte.

- Em média e anualmente, eram lançadas na atmosfera 350 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) para além do que ocorreria numa situação normalizada de tráfego.

No mesmo estudo, concluía-se que na hora de ponta da manhã, no sentido Sul-Norte, a relação Volume de tráfego/Capacidade era, no ano de 2000, VT/C = 140% (1 hora de espera diária). Previa-se no referido estudo que, em 2007, VT/C = 159% (1,5 horas de esperas diárias). Em 2017, VT/C = 190% (2,3 horas de esperas diárias).

O estudo concluía que a resolução do problema passaria pela construção de uma terceira travessia rodoviária Algés-Trafaria. Estes dados estimados pela Lusoponte, em 2005, são muito interessantes e permitem avaliar com mais precisão o que mais tarde veio realmente a ocorrer.”
A prova do "erro" dos entusiastas da Terceira Travessia Rodoviária. Crise económica e Fertagus estagnam tráfegos nas duas pontes sobre o Estuário do Tejo

Entretanto…
“Em 1999, entrou em funcionamento o comboio na Ponte 25 de Abril, que permitiu criar uma nova ligação ferroviária entre as duas margens do rio Tejo, efectuando actualmente a conexão desde Setúbal (margem sul de Lisboa) até ao Areeiro (margem Norte), tendo o tráfego quase duplicado de 11,6 milhões de passageiros, no ano 2000, para 21,4 milhões em 2006 (mais 84,4%).”

“O projecto da circulação ferroviária na Ponte 25 de Abril melhorou a mobilidade entre as duas margens do Rio Tejo, criou centenas de postos de trabalho, directos e indirectos e beneficiou o ambiente por ter retirado 20 mil veículos na Ponte tendo permitido, além disso, economizar tempo e dinheiro aos 80 mil passageiros/dia deste novo meio de transporte, com uma pontualidade de 99,2%. Provavelmente, foi um dos melhores investimentos efectuados em Lisboa em termos de acessibilidades.

(…)

Se fossem comprados mais comboios, seria possível aumentar o número de passageiros de 80 mil para 120 mil, por dia. Tendo em conta que, na região de Lisboa, em média, cada viatura transporta 1,2 passageiros, o aumento de pessoas transportadas por via-férrea, na ponte, poderia diminuir o número de carros em muitos milhares. Esta opção seria muito mais barata, simples e eficaz do que construir uma nova travessia rodoviária.”

in Filas na Ponte 25 de Abril consomem 320 milhões de Euros em combustível, Rui Rodrigues, Público, 11.08.12 - 07:20

Energy Return on Energy Invested (ERoEI), in The Ultimate Pyramid.

Não se creia, porém, que o otimismo idiota sobre o futuro radioso do crescimento, alimentado nas duas últimas décadas pela especulação financeira e pelo aumento populista da massa monetária global, os quais conduziram a um endividamento exponencial das nações e, desde 2008, ao colapso do crédito nos EUA, no Japão e na Europa, nada tem que ver com a inépcia e a corrupção no nosso burgo lusitano, ou nos PIIGS. Na realidade, como neste lúcido artigo de Pater Tenebrarum se escreve:
“In the euro area, this method of overnight rate targeting has produced roughly a 130% expansion of the true money supply in the first decade of the euro’s existence – about twice the money supply expansion that occurred in the US during the ‘roaring twenties’ (Murray Rothbard notes in ‘America’s Great Depression’ that the US true money supply expanded by about 65% in the allegedly ‘non-inflationary’ boom of the 1920’s).

This expansion of money and credit is the root cause of the financial and economic crisis the euro area is in now. This point cannot be stressed often enough: the crisis has nothing to do with the ‘different state of economic development’ or the ‘different work ethic’ of the countries concerned. It is solely a result of the preceding credit expansion.”

in Pater Tenebrarum, The ‘Maturity Crunch’ (Acting Man, August 9, 2012)
O pico do petróleo, isto é, o fim do petróleo barato e de boa qualidade, que por sua vez induz o encarecimento inexorável de quase tudo — do petróleo pesado ao gás natural, passando pelo preço da água, das matérias primas e alimentares, até chegar finalmente ao preço do.... dinheiro— está na origem da iminente e catastrófica crise sistémica do Capitalismo!

É também por este motivo que as imparáveis doses de metadona financeira são cada vez menos eficazes, e o motor do crescimento afoga a cada subida do Brent, ou a cada desvalorização do dólar... e agora também do euro, frutos da expansão inflacionista da massa monetária destinada a impedir a cada vez mais provável rotura das redes de segurança social instaladas pelo Welfare State. Se estas ruírem, o colapso puro e duro de todo o sistema financeiro, económico, social e político do Ocidente será inevitável.

Os gráficos não mentem...

Bridgewater: os estímulos monetários produzem cada menos efeito no crescimento

De facto, como se lê no estudo da Bridgewater comentado pela ZeroHedge, os grandes especuladores e sobretudo os bancos têm sido protegidos da crise e até, nalguns casos, beneficiados com a mesma, mas não a economia, que parece ter entrado num lago de estagnação cujos limites estão cada vez mais longe.
The three contractions in global growth that have occurred since the financial crisis were offset by heavy blasts of fiscal and monetary stimulation by global governments and central banks. But each wave of support has also had less impact on global conditions than the previous wave. We remain concerned that the ability of those policy responses to stabilize the situation is diminishing. The third wave stabilized global growth after last summer’s dip and allowed for the bounce in global conditions and markets over the early part of this year – but its impact on global conditions was more modest than that of earlier waves of stimulation. As the third wave has ended, global growth has again rolled over.

— Bridgewater, in It's A Centrally-Planned World After All, With Ever Diminishing Returns, ZeroHedge, 08/11/2012 11:54.

Mesmo que a energia baseada na fissão dos núcleos atómicos do Tório fosse uma alternativa à energia nuclear baseada no Urânio, temos dois problemas eventualmente irreparáveis: as primeiras centrais nucleares de Tório integradas nas redes elétricas existentes nunca estariam operacionais antes de 2027-2030, e mesmo que estivessem, até lá, a probabilidade de resolver o problema da preponderância dos combustíveis líquidos no paradigma energético dominante desde 1930 parece muito baixa.

Quanto às ditas energias renováveis, além de caras e de se aproximarem rapidamente do seu pico de sustentabilidade, representam uma percentagem quase ridícula das necessidades diárias de energia à escala mundial.

Só há, assim, um caminho: reduzir os consumos! 

A eficiência energética será uma oportunidade de negócio irrecusável. Mas ainda assim, insuficiente. O mundo depois de 2015, 2020, ou no limite 2030, não passará sem racionamento de energia, o quer dizer, sem racionamento alimentar, sem uma dramática destruição do poder de compra das populações e mais do que provável destruição da classe média tal como a conhecemos ao longo do último meio século, o empobrecimento geral das populações e fome em larga escala — com o seu cortejo de pandemias e guerras.

Na pior das hipóteses haverá uma quebra súbita e brutal na curva de crescimento demográfico mundial, como previu Thomas Malthus em 1798, ao publicar An Essay on the Principle of Population. Falta saber qual será a causa eficiente de tal colapso demográfico. Uma III Guerra Mundial? Há que afirme a pés juntos que já está em marcha.


NOTAS
  1. Enquanto o IVA subiu para os 23% em muitos produtos essenciais, nomeadamente alimentares, ou ainda nas portagens das autoestradas, já nas portagens da Ponte 25A e Vasco da Gama, ambas administradas pela Mota-Engil/Lusoponte, permanecem a 6%. O motivo é óbvio: não prejudicar os lucros estimados deste escandaloso e intolerável monopólio. O génio da coisa, Joaquim Ferreira do Amaral, foi várias vezes ministro laranja neste regime, e depois administrador da Lusoponte. A empresa passou entretanto de mãos, para a Mota-Engil, comandado por outro génio deste regime e grande timoneiro do partido hoje chefiado pelo Jota Tó Zé Seguro, Jorge Coelho — "Quem se mete com o PS, leva!"

POST SCRIPTUM

Um vídeo conhecido mas oportuno  sobre o Peak Oil

sábado, agosto 04, 2012

Depois da EDP

Esquema de reator nuclear de tório arrefecido com flúor líquido (LFTR)

M. King Hubbert — a linha do tempo da energia fóssil (1956)

Nuclear ou nada?

As energias fósseis tornaram-se demasiado caras, poluentes e escassas. Os painéis solares ocupam demasiado espaço e são pouco eficientes. As ventoinhas eólicas dependem do capricho dos ventos. Mais barragens é o mesmo que assassinar os rios e os essenciais ecossistemas estuarinos e entregar a água à especulação das máfias financeiras. As soluções nucleares conhecidas são demasiado perigosas. Mas haverá alguma maneira de produzir energia nuclear segura, barata e abundante, sem colocar em causa a sustentabilidade ecológica do planeta?

Parece que sim — e desde que a energia nuclear foi descoberta!

Segundo os defensores de uma alternativa nuclear segura ao colapso induzido pelo Pico do Petróleo, as centrais nucleares do futuro, muito antes de chegarmos à fusão nuclear, deverão enveredar pela fissão dos núcleos atómicos do tório. Esta alternativa baseia-se numa interação estável entre tório, urânio-233 e flúor líquido, a qual não serve, ao contrário das reatores nucleares convencionais, para enriquecer urânio com vista à fabricação de armas de destruição maciça. Esta é tristemente, a razão pela qual os reatores baseados na fissão de tório foram preteridos relativamente aos reatores de fissão alimentados com urânio-238.

“As we have for most of human history, we stand at the edge of an energy crisis. The methods by which we have powered our society have come to a limit, and a change is necessary. Seven hundred years ago in England, the energy crisis was caused by massive deforestation and a lack of firewood. It was solved by turning to coal, a filthy, inexpensive, and abundant fuel. But as the skies darkened over the cities of England and the United States, people turned to gas and oil to improve the situation. Now all of these fossil fuels will have to be replaced due to the environmental damage they cause and the social, political, and financial instability they engender.

In one of the great historical tragedies of human history, this marvelous new energy source was discovered during a time of war, and was immediately put to work for destructive means. This colored and affected forever how world leaders and the public would view this incredible discovery, and is a legacy that we find ourselves, even seventy years later, still trying to move past.”

A Plan to Power the World with Thorium. Energy From Thorium.




A crise energética que tem vindo a perturbar o crescimento e a estabilidade da economia mundial desde 1973 é uma crise real e um problema de fundo. Confundi-la com um mero efeito da especulação e da ganância dos produtores de petróleo, gás natural e carvão, é uma ilusão perigosa.

A virulência dos movimentos especulativos existem precisamente por causa de dois fenómenos combinados: o aumento da procura, resultante do crescimento demográfico e económico mundiais, e o declínio cada vez mais evidente do petróleo de boa qualidade, fácil acesso e barato.

A nossa civilização não sobreviverá como a conhecemos se não encontrar rapidamente, isto é, no prazo de uma década (2020) ou duas (2030), novas fontes de energia abundante, relativamente segura e barata.

As energias renováveis mais conhecidas e em uso são intrusivas, instáveis, caras e insuficientes. Por outro lado, a necessária eficiência energética que as economias, os governos e as pessoas terão que interiorizar como absolutamente imprescindível à sustentabilidade global da vida neste planeta é parte da solução, mas não resolve o problema do paradigma que está na base da melhoria da qualidade de vida dos seres humanos nos últimos duzentos e cinquenta anos: o acesso, desenvolvimento, e produção de formas condensadas de energia facilmente acessíveis, abundantes, transportáveis e baratas. Se este paradigma se romper, o retrocesso civilizacional, precedido de um rápido período de colapsos económicos, financeiros e sociais, será inevitável.

A ideia de que podemos esperar pela liquefação dos gelos polares para chegarmos a novos depósitos de hidrocarbonetos é simplesmente risível, para não dizer suicida. Por outro lado, à medida que os petróleos pesados, ou que se encontram a profundidades marítimas cada vez mais difíceis de aceder e controlar com segurança, aumentam em percentagem nos barris de crude colocados nos mercados, o preço da energia, de toda a energia, dispara. E se abaixo dos 60 dólares por barril os países que vivem preguiçosamente da mono extração de crude e gás natural colapsam, acima dos 100 dólares é a vez de a economia mundial abrandar, ver crescer as suas dívidas e acabar por entrar em recessão, ou mesmo em depressão — como a que ameaça mergulhar neste momento os EUA, o Japão e a Europa.

Não tenhamos dúvidas, por mais grave e escandalosa que seja a corrupção instalada nas sociedades contemporâneas, a começar pela que beneficia os mais ricos dos mais ricos, e os mais poderosos dos mais poderosos, e os mais oportunistas dos oportunistas, a verdade nua e crua é que sem uma transição do atual paradigma energético para outro mais sustentável mas igualmente abundante e barato, não veremos luz ao fundo do túnel.

Para os mais ricos e poderosos fica também um aviso: se pensam que poderão sobreviver sem classes médias, ou reconduzir a esmagadora maioria das populações à miséria, o vosso engano é redondo e terrível. Nada do que hoje rodeia o vosso conforto poderia existir se não houvesse uma redistribuição aceitável da riqueza produzida. Pensem apenas em termos de economia de escala. O que é rentável para sete mil milhões de almas, não é rentável para setecentos milhões, menos ainda para setenta milhões, e impensável sequer para os sete milhões dos pornograficamente ricos deste mundo.

Talvez seja, pois, o momento de discutir sem preconceitos a possibilidade de desenvolver uma energia nuclear abundante, pacífica, barata e segura. O futuro da EDP está à vista, e não é brilhante!

quarta-feira, maio 02, 2012

Sete pontes Vasco da Gama

A exploração do petróleo de xisto é uma trajetória desesperada e muito perigosa. Além do mais economicamente inviável. Artigo/foto: Green Prophet.

Enquanto os piratas sonham com novos aeroportos e autoestradas, a fatura das importações de energia revela bem o beco sem saída onde nos encontramos :(

JdN: “É o valor mais alto dos últimos três anos: 7,1 mil milhões de euros foi o preço pago por Portugal em 2011 pela necessidade de importar energia do exterior. Uma factura que representa um agravamento de 27,7% face ao ano anterior, segundo os mais recentes números da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG).”

Quando baixarmos a nossa circulação automóvel individual para metade ou menos de metade da atual, que farão as concessionárias das autoestradas e das SCUT? Continuarão a exigir indemnizações compensatórias aos contribuintes? Em nome de que contratos leoninos? Em nome de que negócios ruinosos para o Estado? Está na altura de levar esta gente e os seus gabinetes de advogados a tribunal.

Não há soluções milagrosas para um problema tão grave quanto o Pico do Petróleo e o sobre endividamento público e privado (que já é uma consequência invisível do dito pico) da maioria dos países não produtores líquidos de energia e de matérias primas fundamentais.

Pico do Petróleo: os cenários são todos desastrosos (The Oil Drum)

Temos que começar por algum lado a promover a transição!

Pontos cruciais:
  1. substituir o transporte privado individual pelo transporte coletivo;
  2. substituir os sistemas de transporte assentes no petróleo/gasolina por sistemas de transporte elétricos e em todo o caso menos dependentes de hidrocarbonetos;
  3. apostar na ferrovia e no transporte por mar e rio;
  4. associar a desmaterialização de uma parte dos sistemas produtivos a tecnologias avançadas de telepresença e teletrabalho, com a penalização das deslocações físicas desnecessárias (desde logo acabando com os subsídios às viagens dos executivos pagos pelo erário público);
  5. promover a transição das cidades sobreaquecidas e ineficientes do ponto de vista energético (a começar pelos edifícios e instalações públicas) para cidades mais ecológicas e libertas da captura especulativa de que foram alvo pelas lógicas de especulação e pirataria capitalistas;
  6. desconstruir o subúrbio urbano, seja recuperando os centros urbanos e as cidades, seja transformando os subúrbios em unidades urbanas auto-sustentáveis (quer dizer, com atividades produtivas próprias, e reagrupamentos democráticos de governança local)
  7. retirar o Estado de onde a sua presença não é estratégica, nem essencial (no caso português, o número de funcionários públicos terá que ser reduzido para não mais do que 1% da população, ou seja, para cerca de 110 mil funcionários, em vez dos atuais 512 mil...)
O tempo para evitar uma enorme catástrofe está a esgotar-se :(

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Mais barragens?

As Redes Inteligentes e o Mercado Único Europeu da Energia apostam na eficiência!

Redes Inteligentes e o Mercado Único Europeu da Energia — uma solução à vista. © Hoje Macau.

Poll reveals wide support for EU grid action
EurActiv
Published 06 February 2012

A survey of European stakeholders has found overwhelming support for giving priority, funds and planning waivers to allow the speedy construction of European grid infrastructure.

In a survey of businesses, industrial associations, NGOs and think tanks, 81% of respondents said that creating a single European electricity market, and the needed grid infrastructure, should be an EU policy priority.

“We couldn’t agree more,” said Susanne Nies of Eurelectric, an association representing major European power generators.

Rede Inteligente de Energia Pode Ser Hipótese para Macau
Hoje Macau
15 Dez 2011

Está implementada em diversos locais do planeta. A China e os EUA, os principais adeptos do conceito, já desembolsaram muitos milhões de patacas em projectos pilotos. Macau pode ser a “cidade ideal” para a sua implementação. Estamos a falar de Smart Grid, a rede inteligente de energia

O plano de construção de novas barragens hidroeléctricas foi engendrado para melhorar a intermitente produtividade dos geradores eólicos, e pelo caminho aumentar também os ativos não virtuais de empresas sobre endividadas como a EDP. No entanto, as dúvidas técnicas e ambientais sobre o acerto da decisão crescem dia a dia. Os motivos são de vária ordem:
  • O Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) sofre da ausência ou de graves erros de avaliação, quer dos impactes ambientais e patrimoniais negativos das obras e barragens previstas, quer da rentabilidade a curto e médio prazo das mesmas. Esta, segundo alguns especialistas, não poderá deixar de ser nula, ou até negativa!
  • Findo o regime de monopólio partilhado pela EDP, Iberdrola e Endesa, e em particular depois de estabelecido o Mercado Comum Europeu da Energia, assente no conceito de redes energéticas inteligentes e democráticas (na medida em que a micro-geração, nomeadamente off-grid, se liberta das limitações legais conseguidas pelos cartéis energéticos), a falta de rentabilidade das barragens previstas no PNBEPH, sobretudo as dos rios Sabor, Tua e Tâmega, tornar-se-à um peso negativo no balanço geral das respetivas explorações, e uma perda de valor, nomeadamente em bolsa, para as empresas detentoras (Three Gorges, etc.) destes projetados elefantes brancos;
  • As empoladas reservas de gás natural, em África, Canadá e Estados Unidos, e as ainda mais empoladas reservas potenciais de petróleo e de gás de xisto, poderão no curto prazo tornar ruinosa, ou pouco rentável, boa parte dos investimentos em energias eólica e solar;
  • O Mercado Comum Energético Europeu, que acompanhará porventura o nascimento de uma União Europeia Fiscal e Orçamental mais equilibrada e competitiva, é uma ameaça óbvia ao cartel que hoje fornece energia cara ao país —às cidades, às empresas e às pessoas.
  • Sendo praticamente inevitável a renegociação das leoninas Parcerias Público Privadas (PPPs) que vêm arruinando de modo acelerado e catastrófico o país (1), cessará também, pelo menos em parte, a simbiose oportunista entre o cartel energético e o poder partidário instalado e, por esta via, o interesse empresarial e financeiro nas novas barragens.
  • Por fim, que fazer das renováveis já instaladas? À medida que a ilusão na imaginária abundância de gás natural e de gás de xisto se esbater contra a realidade de uma inflação crescente dos preços da energia e das matérias primas em geral, o que hoje dá prejuízo, talvez em 2015, ou 2020, comece a revelar-se uma fonte indispensável de produção própria de recursos.
Entretanto, a prioridade irá, mais cedo ou mais tarde, quer queiramos, quer não, para a adopção de políticas europeias comuns focadas na eficiência energética e na produção em rede, e fora dela, de velhas e novas formas de energia renovável que não destruam no seu caminho equilíbrios ecológicos e paisagísticos com milhões ou milhares de anos.


ÚLTIMA HORA

 6 Fev 2012, 16:15


NOTAS
  1. O grau de endividamento público de Portugal (DN, 6 fev 2012) é o segundo pior da União, logo depois da Grécia, se tivermos presente que aos 110% de dívida oficial, teremos que somar (para deixarmos de aldrabar a contabilidade) o endividamento programado e ou já contratado nas cento e vinte PPPs, cujo valor ascende a uns astronómicos 60 mil milhões de euros. Ou seja, a nossa dívida pública real é de, pelo menos, 145% do PIB! Pelo andar da bancarrota grega, a seguir seremos nós a entrar oficialmente em quarentena. Esta implicará, nomeadamente, uma dieta prolongada dos mercados de dívida soberana e o recurso condicionado ao BCE. Entre as condições que nos serão inevitavelmente impostas, e que constam aliás do Memorando da Troika, está, precisamente, a renegociação das PPPs, ou seja, a paragem e o adiamento inevitáveis de alguns projetos públicos lançados pelo anterior governo: novas autoestradas, novos aeroportos e novas barragens. Não por vontade da Troika, mas porventura por sabotagem dos piratas já infiltrados no governo do senhor Passos de Coelho, a ligação ferroviária em bitola europeia entre Lisboa e Madrid, que conta com 800 milhões de euros provenientes dos fundos comunitários, também poderá ficar no tinteiro, até novas núpcias :(

quarta-feira, outubro 26, 2011

Pagamos com Sol

Acabou-se a mama!
É preciso pegar no tema energético com uma garra implacavelmente estratégica

Amareleja, maior central solar do mundo ligada à rede (45,8MWp) pode alimentar 30 mil casas.
Solar recession signals end of 'Wild West' gold rush
“A clean-energy recession caused by massive over-capacity in the solar panel market could have unexpected benefits for the nascent renewable industry, industry insiders say.” Euractiv.
A bolha solar rebentou! Tal como a bolha dos créditos de CO2 equivalente não chegou a inchar, por oposição da China, Índia, Brasil, etc. (na Cimeira de Copenhaga, 2009), é agora a vez de uma correcção forçada do mercado especulativo e altamente subsidiado das energias renováveis. Depois da correcção em curso nas eólicas é agora a vez da fotovoltaica. E também já é tempo de acabar com os subsídios às fósseis. Leu bem sr. Sec. da Energia?

A compra em Janeiro de 2007 de 100% da central solar da Amareleja pela espanhola ACCIONA fora já um indicador do que se iria passar (Portugal então já estava de tanga). Em 2009 foi a vez da ACCIONA vender 34% da maior central solar do mundo ligada à rede aos japoneses da Mitsubishi. E agora é a vez de Portugal começar a pensar no vento, no Sol e nas ondas como activos preciosos e capazes de desempenhar um papel decisivo no pagamento das nossas dívidas. Mas para irmos por aqui, o Estado tem que tomar em mãos, sem cerimónias, a estratégia energética e mesmo boa parte do negócio energético nacional.
Brussels discusses Greek solar payback
“EU’s energy commissioner Gunther Oettinger, the director general for energy Philip Lowe, and the head of the EU’s Athens task force Horst Reichenbach have discussed the idea of enabling Greece to repay some of its debts to EU member states, such as Germany, by providing them with solar energy.” Euractiv
Toca a pagar aos espanhóis, franceses e alemães (os nossos principais credores) com transferências de energia! Por cá, as eólicas sempre poderiam começar a carregar baterias durante a noite, nomeadamente baterias de automóveis eléctricos a produzir futuramente no nosso país, em vez de continuarem a insistir na patranha das novas barragens. As barragens que existem (sobretudo depois dos reforços de potência de algumas delas) chegam perfeitamente para ocuparem durante a noite o parque eólico nacional, e este poderá mesmo, em breve, se houver imaginação, trabalho e menos ladroagem, interagir com a nova indústria de baterias solares que aí vem.
IEA top economist calls for bonfire of the fossil fuel subsidies
“The chief economist of the International Energy Agency (IEA) has urged the world to slash hundreds of billions of dollars of fossil fuel subsidies or face the prospect of a catastrophic 3.5 degrees Centigrade rise in global temperatures.” Euractiv.
E de caminho abandonemos de vez com a idiotia nuclear do senhor Patrick Monteiro de Barros, bem como com os escondidos subsídios às energias fósseis que enchem de dividendos ilegítimos a GALP e a EDP!

NOTA: dois oportunos artigos de Luís Mira Amaral, antigo ministro da energia, sobre o beco energético nacional, e ainda um gráfico em tempo real do preço da energia no mercado ibérico:
  • Luís Mira Amaral, “A sustentabilidade do défice tarifário” — DN, 22Oct2011 (pdf)
  • Luís Mira Amaral, “Os CMEC e a sustentabilidade do sistema energético” — DN, 26Set2011 (pdf)
  • Sempre que há vento, a energia eólica tem prioridade sobre as demais, ou seja, não só obriga a parar, por exemplo, as centrais de ciclo combinado (com os custos inerentes do pára-arranque), como o preço por nós pago pela energia eólica (~93,7€ por MW/h) é sempre superior ao preço mais caro da energia obtida no mercado ibérico (ver QUADRO DINÂMICO da OMIE), raramente acima dos 70€ por MW/h. Resultado: só as eólicas sobrecarregam em 750 milhões de euros a factura que pagaremos à EDP em 2011!

act.: 26-10-2011, 14:22