quarta-feira, outubro 10, 2007

Mobilidade

Shrek_donkey-Logo_estudo
Estudo espontâneo para o MOPTC.
Img: Donkey (Shrek) by DreamWorks Animation.


O asno do MOPTC


e a revolta de Venda das Raparigas
04-10-2007. "Não queremos prejudicar o país, nem as pessoas que não têm nada a ver com isto, queremos apenas chamar a atenção para este problema", afirmou Bruno Letra, acrescentando que o traçado proposto "mata uma zona industrial que criaria emprego e mata freguesias inteiras, para aproximar Lisboa e Porto de comboio".
-- Lusa/Fim, Expresso.

Esta manhã cedo, durante o jogging pela praia de Carcavelos, dei comigo a pensar no dromedário da Margem Sul. E comecei a filosofar: o camelo é um animal extraordinário, e bem poderia ser uma excelente metáfora para qualquer ministério dos transportes. Há milhares de anos que acompanha o homem na resolução dos seus problemas de mobilidade, e provavelmente continuará a fazê-lo depois de esta civilização tecnológica passar à história. Mas para logotipo do nosso MOPTC, tem um inconveniente: não é propriamente uma raça ibérica!

Foi então que me veio à memória o alinhamento extraordinário das turbinas eólicas na serra da Archeira, ao longo da A8, no concelho de Torres Vedras. As espectrais e intrusivas torres seguem a antiga linha dos moinhos saloios que durante centenas de anos ajudaram a alimentar o país. Nesse tempo, não tão longínquo como os mais jovens poderão crer, burros pacientes combinavam com os humanos a melhor maneira de levar o trigo até ao moleiro, e depois, a farinha até ao padeiro. Foi assim ao longo dos últimos seis mil anos. Continua a ser assim em muitas partes do planeta.

Quando o petróleo chegar aos 300 euros/barril (muito antes de 2015), camelos e burros voltarão a ser chamados a ajudar-nos um pouco por toda a parte. Até lá, este decidido e fiel quadrúpede deveria inspirar o nosso Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (MOPTC), tornando-o menos propagandista, menos vazio de ideias, menos preguiçoso, mais humilde e sobretudo mais inteligente e honesto nas decisões. Mas para que tal ocorresse o MOPTC deveria começar por estudar a história da parceria milenar entre homens e asnos na definição dos padrões de mobilidade e transporte que ainda marcam boa parte da organização do território e cidades portuguesas. Um dos princípios básicos de todo o antigo sistema, chama-se economia!

Os burros, para além de caminharem serra acima, serra abaixo, levavam a água, o leite, o vinho, as batatas, a lenha, o carvão e um sem fim de utilidades a nossas casas. E como se todo este trabalho ainda fosse pouco, o burro foi o nosso transporte individual e colectivo por excelência antes da chegada dos motores de explosão. O cavalo era uma espécie demasiado frágil e cara, reservada aos ricos.

Nos tempos que se avizinham, muito difíceis para todos, o uso da riqueza acumulada, que no caso português não existe ou se encontra hipotecada às escandalosas dívidas externa e pública, terá que dar lugar aos empréstimos que formos conseguindo e cuja aplicação transparente, inteligente e criteriosa, é absolutamente decisiva à sustentabilidade do nosso sistema e redes de mobilidade e transportes.

Aquilo que se sabe é que Mário Lino, ou melhor, o governo Sócrates, não tem a mais pequena ideia sobre o que fazer em matéria de transportes e mobilidade!


Aeroportos


O governo andou a dormir relativamente à alteração do paradigma do transporte aéreo na Europa, e o resultado foi este: comprou escandalosamente uma companhia falida (a PGA), tem nas mãos uma companhia de bandeira sem futuro nenhum à vista, e não soube dar resposta ao desafio das Low Cost, que dado o modo e rapidez da sua aparição e arrasador poder concorrencial, só poderia ter sido uma: a privatização atempada da TAP (agora já será tarde) e a adequação sem grandes custos da actual rede de infra-estruturas aeroportuárias ao novo fenómeno.

No aeroporto Sá Carneiro cuidou-se da gare, mas nada se fez do que falta fazer e é absolutamente necessário que se faça rapidamente na parte da segurança e navegação aérea: a introdução do ILS, e o prolongamento do Taxiway por forma a permitir aumentar a cadência das descolagens e aterragens, dando assim resposta ao aumento da procura que deverá continuar a crescer até 2012.

No Algarve, onde a possibilidade de um segundo aeroporto de apoio a Faro emergiu recentemente, é preciso dar resposta célere.

Finalmente, em Lisboa, a solução mais óbvia, mais barata, e de execução imediata, passa por duas coisas muito simples:
  1. Aeroporto da Portela: aumentar o Taxiway da pista principal, a 03/21; esticar esta mesma pista uns 300 a 400 metros na sua cabeceira Norte (por forma a minorar o ruído sobre as zonas de Alvalade e Campo Grande); ampliar a aerogare, aumentando o número de mangas de embarque/desembarque; libertar os Landing Slots ocupados por rotas sub-aproveitadas da TAP; e, finalmente, construir uma linha de metro entre a Gare do Oriente e este aeroporto.
  2. operacionalizar a Base Aérea do Montijo, no prazo máximo de dois anos, para complementar a Portela enquanto prosseguem os estudos e a captação de interessados para o lançamento previsível do célebre Novo Aeroporto de Lisboa, para o qual, de momento, não existem nem ideias claras, nem projecto, nem orçamento, nem investidores particularmente entusiasmados (sobretudo tendo em vista a ameaça de depressão económica mundial que paira e pairará sobre os Estados Unidos e a Europa durante os próximos dois anos.)

Ferrovia


No que respeita ao transporte ferroviário, o vazio conceptual é igualmente penoso. A ideia peregrina de consultar as populações do Oeste sobre um putativo corredor de 317Km de comprimento por 120m de largura, destinado a um TGV que não tem sequer nome, nem estudo de impacte ambiental, nem projecto de viabilidade económica, nem financiamentos minimamente assegurados, só para entreter os desmiolados média lusitanos e desviar a nossa atenção do colapso iminente da economia (e pior ainda, do insustentável sistema político actual), brada aos céus! Quem disse àquela gente do MOPTC (Mário Lino e Ana Paula Vitorino), e ao pessoal desembestado do Gabinete do Primeiro Ministro, que o país precisa de uma Linha de Alta Velocidade entre Lisboa e o Porto? Ainda por cima, arrasando, no lunático corredor proposto pelo MOPTC, toda uma estrutura territorial, económica e urbana construída ao longo de séculos?! Então esta gentinha não sabe que a Virgin está a bater aos pontos as ligações aéreas entre Manchester e Londres (distância idêntica à que medeia entre Lisboa e o Porto) com os seus comboios, por serem muito mais económicos, frequentes, isentos de CO2 e rentáveis? E não sabem que o patrão a Virgin veio a Portugal precisamente para estudar o sistema pendular usado entre as duas capitais portuguesas, tendo-o adoptado no Reino Unido? E não sabem que os Alfa Pendulares só não transportam em 2h30mn as pessoas de Gaia (General Torres) a Entre-Campos por absoluta incompetência do MOPTC? E para que precisamos nós, mais do que uma solução deste tipo, permitindo ligações entre as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto de meia em meia hora?

A ligação de Alta Velocidade entre Lisboa-Madrid é a única linha de AV que faz sentido equacionar para entrada em funcionamento antes de 2015. Por três razões fáceis de compreender:
  1. ligar as capitais dos dois únicos países ibéricos, sabendo-se que o plano espanhol de Alta Velocidade ligará até 2020 todas as principais cidades espanholas;
  2. o terreno e o território é particularmente propício a este tipo de infra-estrutura;
  3. o especial interesse espanhol em concretizar esta ligação a Lisboa (e a Sines) facilitará a emergência das condições financeiras do projecto, quer na sua fase de construção, quer na sua fase de exploração.
As demais ligações (Porto-Vigo e Aveiro-Salamanca) deverão fazer-se, não em Alta Velocidade, mas na chamada Velocidade Elevada, muito menos dispendiosa e ajustada às necessidades previsíveis.

Ainda sobre este capítulo, torna-se fundamental realçar a necessidade urgente de agir em duas direcções imediatamente estruturantes e inadiáveis do ponto de vista da adaptação do país à longa emergência energética que se aproxima a passos de gigante:
  1. substituir rapidamente a bitola ibérica (actualmente quase hegemónica na rede ferroviária nacional) pela bitola europeia, de modo a potenciar ao máximo a inter-modalidade ferroviária (metro, comboios suburbanos e interurbanos);
  2. reajustar drástica e racionalmente os sistemas de transportes das duas principais áreas metropolitanas do país, por forma a torná-los mais densos, integrados, eficientes, frequentes, rápidos e económicos.
Só a ferrovia urbana, sub-urbana e inter-urbana (subterrânea e de superfície) será capaz de responder à necessidade crescente de abandonar o automóvel. Este abandono tornar-se-à claramente visível ao longo da presente década, traduzindo-se, no início (que já começou!), por uma fase de diminuição progressiva, mas consistente, do uso quotidiano do transporte individual. Por causa do modo como as estruturas urbanas cresceram por aí, não há outra alternativa colectiva ao colapso invitável do transporte privado individual. Os políticos que não tiverem coragem para enfrentar esta metamorfose devem abandonar o barco quanto antes, e permitir que outros façam as reformas urgentes que se impõem!

Os parques eólicos nacionais seguem quase sem excepção as linhas de implantação dos antigos moinhos de cereais. Pouparam-se, ou deveriam ter-se poupado muitos milhões na avaliação da qualidade dos lugares para a nova indústria. Aprendamos com os moleiros e com os seus inseparáveis burros!

OAM 260, 11-10-2007, 02:42

terça-feira, outubro 09, 2007

Portugal 14

Sócratintas

Prometeu que não subiria os impostos, mas subiu-os e vai voltar a subi-los no orçamento de 2008, retirando nomeadamente mais direitos fiscais aos reformados e deficientes, podendo mesmo decidir subir de novo o IVA, para uns 23% ou 24%. Basta, para tal, que a Espanha suba este imposto, seguindo a tendência recém inaugurada pela Alemanha, que em Maio de 2006 decidiu aumentar o seu IVA de 16% para 19%!

Prometeu que iria criar 150 mil novos empregos, mas o que temos é a terceira maior taxa de desemprego da Europa a 25 e a mais alta taxa de desemprego em Portugal nos últimos nove anos.

Estes números seriam ainda mais escandalosos se fossem contabilizadas as centenas de milhar de novos emigrantes que saíram do país nos primeiros sete anos deste novo século, juntando-se ao contingente de 4,5 milhões de portugueses que não encontram no seu país as condições mínimas para nele viverem. Como se este panorama não fosse por si só uma vergonha, avizinham-se tempos ainda mais difíceis pela frente, pelo que são de esperar ainda maiores quebras na população activa nacional. Chegaremos ao fim deste século com um acréscimo populacional pouco superior a 280 mil almas, pelo que todas as previsões aéreas sobre crescimento urbano e económico não passam de onanismo político.

Prometeu uma reforma profunda na Administração Pública, mas o que vimos até agora foi espectáculo, jobs for the boys, nenhuma definição clara sobre aquilo que o Estado deve assegurar e o que pode e deve ser devolvido à esfera e à iniciativa privadas, ou comunitárias.

Não tendo uma visão integrada e racional do sistema, o governo de maioria absoluta, em vez de proceder a uma redução criteriosa dos efectivos da Função Pública, está a rebentar literalmente com a arquitectura organizativa do Estado, atacando inconscientemente dois dos seus pilares fundamentais: a sua distribuição territorial e a sua diversidade cultural. Através da implementação de uma partidarização inconstitucional dos processos de redução dos efectivos da Função Pública fragiliza-se de forma inaceitável a democracia. Fechando, sem mais, escolas, hospitais e delegações regionais da Administração Pública no interior do país, enfraquecem-se de forma criminosa todas as regiões transfronteiriças! Uma reforma do Estado, para além de dever ser uma reforma moral (o que a caricatura actual não tem sido), tem que ser uma reforma racional, isto é, com uma estratégia de eliminação do que é efectivamente supérfluo, mas com a criação simultânea do que há muito falta para termos um Estado eficiente, fiável, pagador, democrático, solidário e justo.

Prometeu crescimento económico, mas o que se aproxima é um tsunami financeiro com epicentro na nossa descomunal dívida externa: US$272.200 milhões (est. 2006) (1).

Portugal ocupa a posição 23 (numa lista de 200) entre os países mais devedores do mundo, sendo que os Estados Unidos ocupam a primeira posição (a maior dívida externa do planeta), o Reino Unido, a segunda e a Espanha, a sexta (o que só nos pode desassossegar.) A dívida externa de cada americano é de US$33.339 (para um PIB/capita de US$43.800), a dívida externa de cada português é de US$25.576 (para um PIB/capita de US$19.800). Ou seja, enquanto cada um dos 10.642.836 portugueses estimados em Julho de 2007, precisaria de contribuir com 470 dias de trabalho para ajudar a pagar instantaneamente a dívida externa portuguesa actual, os súbditos de Bush, Cheney e Cª precisam de 277 dias para atingirem o mesmo fim. Por outro lado, não indo a população trabalhadora portuguesa além dos 5,58 milhões de pessoas (est. 2006), a tal dívida média por pessoa activa foi em 2006, na realidade, de US$48.781, i.e. 36.975 euros (câmbio de 31-12-2006). Concluindo, estamos numa situação ainda mais crítica que a dos Estados Unidos e da Espanha.
Se somarmos a este dado arrepiante o facto de a dívida pública corresponder a 67,4% do PIB (2), ficamos com uma ideia muito aproximada das reais dificuldades do governo. Numa situação desta gravidade, não podemos ter maus governos, nem governos cabotinos. (3)

Prometeu justiça, mas proliferam os escândalos de manipulação da mesma.

O actual ministro da Administração Interna fez ou não parte de uma conspiração para derrubar o anterior Procurador Geral da República?

Houve ou não uma manipulação grosseira na publicação do actual Código Penal, precisamente na vírgula e no "inciso final" do seu do Artigo 30º, cuja inclusão, não tendo sido aprovada pelo PS na sessão da comissão especializada que redigiu o texto do Código, acabou por aparecer impressa no Diário da República? E sendo, por oportuna coincidência, esta presumível manipulação, muito favorável aos presumíveis culpados de crimes de pedofilia e de participação em rede pedófila, actualmente em julgamento no âmbito do chamado processo "Casa Pia", não deve o país ficar profundamente indignado e exigir o esclarecimento de tão sinistra ocorrência? E o silêncio dos envolvidos nesta trapalhada? Não merecem os portugueses explicações cabais sobre tudo isto?!

E notícias dos presumíveis crimes de colarinho branco?

Como não pode cumprir...

Assistimos incrédulos à tentativa de controlar a comunicação social, com pressões editoriais (ver caso actualmente em curso contra José Rodrigues dos Santos) e chantagens várias (retirada de publicidade, mexidas no estatuto dos jornalistas, etc.).

Assistimos à emergência de práticas policiais pidescas, em nome, veja-se, da fotogenia do Senhor Sócrates, pois não quer aparecer na televisão, sobretudo agora que preside à Europa, rodeado de manifestantes e cartazes que lhe estraguem o semblante comercial. Não quer que lhe chamem mentiroso, ao que parece. Mas se não tem sido outra coisa...

Estes sinais são particularmente preocupantes quando vistos em perspectiva. E a perspectiva, neste caso, é a do agravamento da situação geral do país, com graves incidências na economia, e no crescente mal-estar dos portugueses.

O governo actual permitiu chamar "terroristas" a um bando de jovens que numa acção simbólica destruiu umas quantas maçarocas de milho num campo privado.

O governo actual assinou estupidamente um protocolo de colaboração com as autoridades espanholas, para lidar com um problema meramente interno do país vizinho, sobre o qual Portugal sempre manteve uma rigorosa neutralidade. Que farão amanhã estes aprendizes de feiticeiros se o governo espanhol de turno decidir que precisa de invadir o nosso território por uns dias para perseguir uns perigosos nacionalistas catalães, ou galegos? E que vão fazer agora, depois de a ETA (ou alguém por ela) ter respondido à provocação com outra provocação?

Este governo não presta e deve cair por mérito dos próprios socialistas, antes das próximas eleições. A renovação da maioria absoluta está definitivamente perdida. Com Menezes à frente do PPD-PSD, o Bloco Central já foi. Creio que é tempo de o PS se clarificar e de se subdividir, deixando os parasitas liberais fazerem o seu caminho, mas sem com isso esmagar os socialistas que esbracejam neste momento como náufragos nas suas águas estagnadas. O tempo escasseia e Menezes abriu, de facto, uma janela de oportunidade para a renovação do sistema político. Coragem! Vão ver que é muito mais simples e produtivo do que alimentar a corja de socratintas que tomou de assalto o Partido Socialista.


REFERÊNCIAS
  • O CIA World Factbook é um instrumento precioso para análises comparativas simples mas elucidativas do mundo actual.
  • Patologia Social é um excelente e corajoso blog do advogado e professor de direito José António Barreiros, onde se pode ler a sua excelente desmontagem do affair sobre o artigo 30º do Código Penal.

NOTAS
  1. Há alguma discrepância entre os números da CIA e os recentemente publicados no Relatório do Orçamento de Estado de 2008. Pelo que convém compará-los (tendo em conta que os primeiros são estabelecidos em USD de 2006 e os segundos em euros de 2007).
    Aqui vão, pois, as cifras do documento governamental, onde se anuncia a redução do défice para os 3%.

    Dívida Pública, ou Dívida Bruta Consolidada das Administrações Públicas
    (est. Dez 2007, em Euros) = 104.607.000.000 (~64,4% do PIB). A CIA refere uma percentagem superior: 67,4% (est. Dez 2006)

    Dinâmica da Dívida das Administrações Públicas (em % do PIB)

    2003 = 56,9
    2004 = 58,3
    2005 = 63,7
    2006 = 64,8
    2007 = 64,4

    Défice Público ou Défice Orçamental, correspondente ao saldo negativo das Contas Públicas, i.e. à diferença entre as despesas do Estado e as suas receitas ao longo de 1 ano

    2005 = -6,1
    2006 = -3,9
    2007 = -3,0

    O controlo do défice, no caso português, é uma medida indispensável (que graças a Bruxelas, lá nos vai sendo administrada como se de óleo de fígado de bacalhau se tratasse.) Mas os números verdadeiramente assustadores são os da dívida acumulada e sempre crescente das administrações públicas - central, regional e local. Ora aqui, só mesmo uma mudança radical de filosofia económica poderá trazer alguma mudança na trajectória imparável do nosso endividamento. Tal mudança passa forçosamente por separar politicamente as responsabilidades que devem competir ao Estado daquelas que podem e devem transitar para a economia privada das sociedades, das comunidades e dos indivíduos.

    Esta percentagem é contrariada pelo Relatório do Orçamento de 2008, que aponta o valor (est. 2006) de 64,8%.


  2. Há pergunta que me foi dirigida sobre quais são as actuais reservas de ouro portuguesas disponíveis no Banco de Portugal (ou em Fort Knox), a verdade é que não se sabe!

    O fenómeno ocorre em muitos bancos centrais deste mundo, nomeadamente nos EUA, onde se presume que boa parte do ouro de Fort Knox tenha "voado" a ritmo acelerado desde a presidência de Ronald Reagan.

    As reservas em ouro, gold swaps e divisas, declaradas pelo Banco de Portugal e relativas a Dezembro de 2006 somam US$9.880 milhões. Não se sabe pois quantas toneladas efectivamente possui o país, ou se as toneladas vendidas sob contrato de re-compra foram ou não recompradas, e portanto as nossas reservas de ouro oscilam entre 462,2 ton., 417,4 ton. e 166 ton.! E o respectivo valor (tomando a onça troy ao valor de hoje, 10-09-2007: US$ 740.4) oscilaria assim (se não me enganei nas contas) entre estas três possibilidades: US$11.002.399.577,400; US$9.935.961.885,779; US$3.951.532.518,062.

    Em 1974 Portugal dispunha efectivamente de 865,9 ton. de ouro.


OAM 259, 09-10-2007, 19:19 | 14-10-2007, 17:41

sábado, outubro 06, 2007

Portugal 12

Monarquia?
Unos 300 estudiantes se han concentrado en la plaza Cívica de la Universidad Autónoma de Barcelona (UAB) donde un joven, en medio de gritos como "yo también quemo la corona española" o "los catalanes no tenemos rey", ha prendido fuego a un gran retrato del monarca pintado a mano junto al que había otras dos fotografías del Rey. Además, dos jóvenes han desplegado desde el techo de un edificio de la universidad una gran pancarta en la que podía leerse "La UAB también quema la corona española" y han colgado un muñeco hecho a mano ataviado con una corona, una bandera española a modo de banda y la cara de don Juan Carlos. -- Libertad Digital, 04-10-2007
O meu último post provocou algumas reacções epidérmicas provenientes de uma "esquerda" acomodada ao actual pântano rotativista, mas sempre pronta a puxar do gatilho enferrujado da censura "marxista-leninista" quando alguém procura reflectir sobre realidades difíceis. Neste caso, trata-se de um episódio recalcado no inconsciente do republicanismo jacobino e maçónico que move boa parte da "esquerda" portuguesa: o regicídio. A reacção ao meu artigo sobre o assassínio do rei Carlos I de Portugal (e do seu filho primogénito), fruto de evidente preguiça mental e indesculpável desistência moral, apanhou-me desprevenido. Nunca me passaria pela cabeça que o tema da monarquia, ou do regicídio, em Portugal, pudesse ser um tabu. Mas é!

Escrevi claramente o que penso sobre as monarquias actuais: não fazem sentido e a sua sobrevivência, por exemplo na Europa, pouco mais é do que uma encenação forçada e puramente imaginária do poder, arcádica nos países nórdicos, e completamente kitsch no caso inglês (embora seja difícil imaginar o que resta do respectivo império colonial -- a Commonwealth -- sem a coroa britânica.) A monarquia negociada do pós-franquismo é, porém, um caso especial, na medida em que a integridade territorial da Espanha parece depender criticamente da própria sobrevivência do regime monárquico. Porque será?

O retorno das monarquias à Europa só faz sentido num cenário cataclísmico decorrente, por exemplo, de uma guerra nuclear devastadora, da qual viesse a resultar a emergência lenta de novas sociedades medievais, socialmente atomizadas, no limiar da subsistência económica, mas progressivamente organizadas em torno de uma qualquer rede cognitiva sobrevivente ao apagão tecnológico que inevitavelmente se seguiria a uma guerra nuclear global. Quer dizer, a monarquia não deixou de ser um tema atraente de reflexão, continuando a inspirar muita da imaginação literária e cinematográfica actual. Pergunta-se, pois, porque se tornou num tema tabu, tanto em Portugal, como em Espanha?

Vejamos o caso português.

O grau de penetração da banca espanhola em Portugal é tal que, se a actual crise do crédito mal-parado atingir duramente, como se prevê, o país vizinho, e em particular o seu mercado imobiliário, as ondas que daí chegarão ao nosso país podem ter o efeito de um autêntico tsunami económico-financeiro. Por outro lado, se virmos o modo pimpão e satisfeito como ex-ministros e secretários de estado portugueses representam hoje no nosso país os interesses das maiores empresas energéticas espanholas, com o propósito directo de virem a dar um abraço de urso à nossa autonomia energética, percebemos até que ponto o bloco central dos interesses, na sua desfaçatez e mediania intelectual, acredita (como Saramago de Lanzarote) ser inevitável a integração de Portugal numa Ibéria espanhola. Em suma, vimos hoje em Ílhavo, com o logo da Pescanova bem escancarado na cabeceira e no púlpito, o Senhor Sócrates, primeiro ministro de Portugal, anunciar, como se estivesse num comício publicitário, os efeitos benéficos de, depois de destruída a frota pesqueira nacional (nomeadamente a favor da expansão da frota espanhola... da Pesca Nova!), passarmos a produzir e comer peixe alimentado com soja transgénica produzido pela mesma Pescanova! A grande oferta dos jacobinos lusitanos de hoje parece pois resumir-se a isto: vender Portugal à Espanha por um prato de enguias. Mas então, neste caso, onde fica a República? Não passaremos todos a ser monárquicos, por força do beijo fatal entre Sócrates e Zapatero?

Vejamos agora o caso espanhol.

A Espanha tem as chamadas contas do Estado em dia, ao contrário de Portugal, onde os ministros ganham, como se sabe, mais do que em Espanha. No entanto, a dívida externa da Espanha, 145% do PIB, é a oitava maior dívida externa do mundo! Consegue ser ainda pior do que a nossa: 130% do PIB, i.e. a vigésima terceira maior dívida externa num planeta com mais de 200 países!! Bush desvaloriza o dólar todos os dias, entre outras razões, para passar a dever menos dinheiro ao resto do mundo (e em especial aos chineses, japoneses e árabes.) E nós, portugueses e espanhóis, como vamos fazer?

Se as taxas de juros e o preço do petróleo (já indexado ao euro, como se tem visto na sincronia das últimas subidas face aos movimentos inversos do dólar) continuarem a sua tendência de subida, como é provável, podemos imaginar facilmente a catástrofe que aí vem. A Espanha, para fazer face a este desequilíbrio da balança de pagamentos, vendeu mais de 25% das suas reservas de ouro entre Janeiro e Maio deste ano, ou seja, 108 toneladas do precioso metal, numa altura em que faria todo o sentido não vendê-lo, dada a rápida valorização do mesmo. A onça custava 400 USD em 2004, chegou aos 746,90 USD em 1 de Outubro de 2007, e os analistas estimam que poderá subir, à medida que a crise financeira do subprime se revelar como uma crise económica sistémica e global, até aos 1000-2000 USD! Pergunta óbvia: quanto mais ouro poderá Zapatero colocar no mercado antes que uma crise política monumental o varra da cena política?

Se a gigantesca economia virtual que tem sustentado os Estados Unidos e muitas economias europeias implodir, que ocorrerá na casa do nosso vizinho? Suportará ele então o redobrar das actuais tensões nacionalistas, que revelaram já o seu tremendo poder a propósito da gestão dos rios e o polémico projecto de transvase do Ebro? É neste ponto particular que a questão das recentes manifestações iconoclastas contra a monarquia espanhola devem ser lidas cuidadosamente.

A Espanha não recuperou ainda, apesar das aparências, da Guerra Hispano-Americana, isto é, da derrota sofrida contra uma potência então emergente, chamada Estados Unidos da América, a qual viria, no essencial, a destruir o império colonial espanhol. Depois desta catástrofe política, a Espanha voltou a ser basicamente um Estado peninsular, abraços com a abrupta redução do seu espaço vital, e progressivamente confrontada com o velho problema das suas nacionalidades históricas mais fortes: Catalunha, Galiza e País Basco. Enquanto durou a expansão imperial espanhola, as tensões centrífugas foram sendo contidas com sucesso, mas depois, depois de 98, tudo mudou.

A Espanha republicana ambicionada pelos anarquistas, socialistas e sindicalistas operários, se tivesse triunfado, teria dado lugar, mais cedo ou mais tarde, a uma república federal, ou mesmo a uma federação de estados independentes, à qual os iberistas portugueses se juntariam de bom grado. Mas não foi isto que sucedeu! A vitória de Franco, pelo contrário, impôs-se como uma espécie de reacção violenta e castradora dos sonhos libertários, que sem dó nem piedade esmagou. A guerra civil foi assim e acima de tudo uma vacina anti-autonómica destinada a ganhar tempo na necessária redefinição e acomodação da identidade espanhola depois de a Espanha se ter retirado da Europa transpirinaica, acossada pela França revolucionária e napoleónica, e depois do colapso colonial que se seguiu ao "desastre del 98".

No intervalo franquista, a monarquia exilou-se no Estoril. Por alguma razão Franco e as elites espanholas decidiram conservá-la. Eu creio que foi única e exclusivamente para manter o fio histórico da continuidade da Espanha como uma herança legítima dos reis católicos. Se o regime de excepção franquista tivesse acabado com a monarquia, substituindo-a por uma ditadura republicana, o fio da legitimidade histórica teria sido quebrado e jamais voltaria a ser refeito. A morte do ditador teria então aberto uma crise de transição possivelmente explosiva, marcada por uma inevitável balcanização da Espanha, à semelhança da que ainda está ocorrendo na ex-Jugoslávia. Creio ter sido a antevisão deste cenário que levou as forças políticas que orientaram a transição democrática espanhola a optarem por conservar a monarquia. No entanto, à medida que as tensões nacionalistas progredirem, e tenderão a progredir à medida que se forem percebendo as dificuldades económicas de um país altamente endividado como actualmente é o caso da Espanha, a questão da monarquia voltará a colocar-se. Para que serve afinal? Deverá ser abandonada em nome de uma ainda por desenhar Federação de Estados Ibéricos? Poderá servir, em tão dramático transe, como um verdadeiro honest broker, pairando acima de uma tal federação como mero regime de ligação, até que um dia, porventura depois de Portugal aderir à novel Federação Ibérica, se decida encerrar festivamente o ciclo monárquico da península? Para já são só conjecturas. Mas os recentes incidentes anti-monárquicos ocorridos em vários pontos de Espanha, recheados de pesadas metáforas jacobinas, mostram que a nora da história pode estar a mover-se mais depressa do que se pensa.

Ibéria: Monarquia ou República?

A Espanha terá dificuldades crescentes em sustentar o actual sistema autonómico. Em primeiro lugar, porque é caríssimo: a dívida externa deste país passou de 716.455.000.000 euros, em 2003, para 1.450.000.000.000 euros, em 2007, ao mesmo tempo que as reservas de ouro do banco de Espanha, que valiam em 1992, 72.368.000.000 euros, valem hoje pouco mais de 9 mil milhões de euros. E em segundo, porque o grau alcançado pelas actuais autonomias, sobretudo no País Basco e na Catalunha, conduzirá inevitavelmente a um crescendo da pressão política e popular na direcção de um estado federal, ou mesmo de uma federação de estados ibéricos, da qual Portugal poderia vir a fazer parte integrante. O travão mais poderoso a esta evolução histórica natural e coerente com o espírito profundo da União Europeia, é precisamente a monarquia espanhola. Resta saber até quando os poderes fáticos daquele país estarão interessados em manter o staus quo, e que estratégia prosseguirão quando decidirem mudar de regime. Uma coisa é certa: por enquanto, lá como cá, a questão monárquica é, por razões distintas, um tabu.

OAM 258, 07-10-2007, 01:23

sexta-feira, outubro 05, 2007

Portugal 11

Rei D. Carlos I de Portugal, assassinado pela Carbonária em 1908.

5 de Outubro

"I sincerely believe that banking institutions are more dangerous to our liberties than standing armies. Already they have raised up a money aristocracy that has set the government at defiance. The issuing power should be taken from the banks and restored to the people to whom it properly belongs". -- Thomas Jefferson

As monarquias europeias morreram do agravamento depressivo de uma fragilidade genética chamada endogamia (os ingleses chamam-lhe imbreeding), e dos efeitos sistémicos, deletérios para as monarquias feudais, da acumulação burguesa do capital.

Esta acumulação foi sobretudo consequência do incremento da circulação de pessoas e bens no continente europeu, e entre este continente e o resto do mundo, do reaparecimento em força dos cambistas e ourives-banqueiros, do desenvolvimento rápido das cidades europeias, dos primeiros despertares anti-coloniais, e finalmente do encadeamento das revoluções anti-feudais, contra monarquias corruptas, falidas e autoritárias. Esta revolução em cadeia foi ideologicamente escorada em nome da "liberdade", da "igualdade" e da "fraternidade". Durou até que a implementação dos novos regimes "democráticos" (na realidade regimes capitalistas demo-populistas) permitisse a efectiva consolidação de uma plutocracia verdadeiramente planetária.

Neste momento, a depressão económica mundial que se adivinha no horizonte, a qual poderá ou não ser catastroficamente agravada pelo desencadeamento de uma III Guerra Mundial (varrendo do mapa mais de 50 milhões de pessoas e algumas centenas de cidades), significa basicamente que começámos a assistir à transferência tectónica do centro de gravidade da acumulação, emissão e distribuição do capital mundial, da placa euro-atlântica (comandada pela aliança anglo-americana) para a placa asiática. Bush, Blair-Brown, Cheney e Sarkozi defendem que é preciso interromper este desfavorável curso da história à força de bombas nucleares e fazendo um reset ao dólar; a Alemanha, e porventura a Rússia, acreditam nas virtualidades de um multi-lateralismo euro-asiático e opõem-se, por isso, a uma escalada bélica que, no caso de a Síria e o Irão serem atacados (em Novembro?) --, dificilmente evitará uma tragédia termo-nuclear de proporções dantescas. E no entanto, é precisamente isto que uma parte dos usurários deste mundo quer!

Vem esta pequena reflexão a propósito da comemoração do dia da implantação da República em Portugal. Por alguma razão tal data nunca foi comemorada com grande entusiasmo pelos portugueses, à excepção das elites maçónicas que sucederam à Carbonária que planeou e assassinou o então rei português, D. Carlos I, um tipo simpático, culto, agricultor, pintor, fotógrafo, amante das novas tecnologias (instalou a luz eléctrica no Palácio das Necessidades e fez planos para a electrificação das ruas de Lisboa), ornitólogo e apaixonado pela oceanografia. Criou o Aquário Vasco da Gama e não consta que tenha alguma vez violentado o "seu" povo. O seu maior erro foi ter confiado o país ao Rotativismo enquanto procurava remediar diplomaticamente o desastre do Ultimato Inglês. A monarquia portuguesa estava condenada, e se tivesse sobrevivido seria como as actuais caricaturas monárquicas que ainda sobrevivem na Europa: cara, inútil e pirosa. No entanto, o modo como foi removida das nossas preocupações continua a ser uma nódoa negra cultural da qual, no fundo, existe uma espécie de remorso nacional mal disfarçado.

Sobretudo agora que os políticos, devidamente aconchegados pela propaganda mediática, passam a vida a falar de terrorismo, não se percebe como o atentado que vitimou o rei português e o seu filho primogénito possa ser ainda hoje motivo de orgulho de alguns, ao ponto de terem enterrado um escritor pretensioso no Panteão Nacional, quando se conhece perfeitamente a conivência fanfarrona de Aquilino Ribeiro no indecoroso e traiçoeiro acto.

Elogiar Aquilino Ribeiro e a República, ao mesmo tempo que se assinam acordos anti-terroristas com a Espanha, sem um acto de contrição relativamente ao regicídio, continua a comprovar quão boçais são e perdidas estão as nossas elites políticas e culturais. Não lhes auguro nada de bom, e isso é mau para todos nós.

OAM 257, 05-10-2007, 20:00

Post-scriptum

08-10-2007. Lei das Sesmarias. Nuno Cardoso da Silva é um radical de esquerda e publica um blog oportuno sobre o país e o mundo que temos, vistos pelo óculo imprevisto de um monárquico revolucionário!
Em 5 de Outubro de 1910 uma pseudo-revolução derrotou uma pseudo-monarquia para implantar uma pseudo-democracia sob forma pseudo-republicana. O que não ficou na mesma ficou pior, com talvez a excepção da área da educação. Noventa e sete anos depois não há nada para comemorar, mas talvez valha a pena reflectir sobre o tema da Revolução.
OAM 257, 08-10-2007, 18:28

quinta-feira, outubro 04, 2007

Portugal 10

Absolut Corruption
Corrupção Absoluta: substitua a pandilha de Bush por vilões locais.

Vozes socialistas
João Cravinho acusa o PS de "absoluta incompreensão" do fenómeno da corrupção. 04.10.2007 - 09h50 Lusa
Apesar de estar em completo desacordo com a teimosia de Cravinho pela Ota, apoio-o na sua vontade de lutar contra a corrupção. Ver em tal combate mais um perigoso sintoma de populismo seria um erro fatal.

A posição publicitada ontem por Carlos César, presidente da Região Autónoma dos Açores -- a já célebre "união de facto" com Alberto João Jardim --, a propósito do amadorismo do "subsistema" governamental criado por Sócrates, em temas tão sensíveis como o da cedência de soberania marítima portuguesa (ver reacção de António Brotas ao projecto de Tratado Constitucional Europeu), ou o da falta de uma política de transportes adequada às regiões autónomas, e sobre a qual estas deveriam ter uma palavra bem mais activa, também não é uma manifestação de populismo, mas apenas um sinal de partida para a necessária transparência, simplificação, descentralização e responsabilização do nosso sistema político.

A TAP voa cada vez menos para Faro e Porto, e vai voar cada vez menos para o Funchal. Em 2008 poderá perder mais de 500 mil passageiros para as ligações ponto-a-ponto. O seu crescimento efectivo actual, na ordem dos 3% (e não 6%, como demagogicamente anunciou a sua obscura administração), irá continuar a ser erodido pela tenaz montada pelas principais Low Cost que vêm atacando o mercado português: easyJet e Ryanair. Se não agir depressa e bem, a transportadora aérea do Estado português ficará muito brevemente na mesma situação da Alitália, i.e. à venda, mas sem comprador!

A SATA, por sua vez, corre igualmente o risco de desaparecer, ou de reduzir drasticamente o âmbito das suas actividades, já que a sua situação financeira e perspectivas não devem andar longe das da Portugália Airlines pouco antes de o Ricardo Salgado a ter impingido a José Sócrates. A SATA precisa de atenção urgente. Uma possibilidade seria transformá-la numa espécie de mini Low Cost voando sobre as ilhas da Macaronésia, beneficiando para tal de apoios europeus especiais. Quando decidir aliviar o seu actual lastro de prejuízos, poderá colocar as ligações ponto a ponto com a Europa e a América no mercado. Faz sentido? Seja como for, quanto mais tarde se pensar no problema, mais caro custará aos contribuintes do continente e sobretudo das ilhas a solução deste problema.

O país precisa de acautelar frontal e rapidamente cinco problemas cruciais para o seu futuro:
  1. segurança energética e hídrica (atenção ao controlo nacional dos recursos!)
  2. segurança alimentar e biológica em terra, nos rios e no mar
  3. sistema de transportes (ferroviário, aéreo, automóvel e marítimo-fluvial)
  4. soberania marítima (territorial, energética, biológica, alimentar)
  5. sustentabilidade dos seus principais tecidos urbanos
Se exceptuarmos a questão energética e das águas, onde têm sido dados passos certos, nas demais áreas críticas está tudo por fazer. Não vale a pena pensar na prioridade da educação e da qualificação dos recursos humanos, na competitividade, no emprego ou na saúde, se não tivermos um horizonte claro de prioridades estratégicas. É em função destas que tudo o mais se organiza e prepara, e não pondo a realidade de pernas para o ar, como fazem os partidos de direita e os empresários subsídio-dependentes ao exigirem obras públicas sem mais (aeroportos, barragens, tanto faz!), e como fazem os partidos de esquerda ao exigirem menos despedimentos e mais emprego, sem pensarem um minuto porquê? e para quê? A ausência de uma visão clara é o que precisamente nos conduz para os becos sem saída do populismo... e da corrupção.

No que se refere a corrupção, em cerca de 194 países, Portugal encontra-se na posição 29, com 6,5 pontos, numa tabela de 0 a 10, de acordo com os critérios da Transparency International. Algumas outras pontuações de referência: Espanha = 6,7; EUA = 7,2; Dinamarca (melhor classificada) = 9,4; Angola = 2,2: Somália = 1,4. Em termos europeus, porém, a posição portuguesa é preocupante, na medida em que temos 17 países melhor classificados que nós. O segredo para a superação desta medíocre situação passa por quatro vectores essenciais: fim da promiscuidade entre poder económico e poder político, maior transparência, simplificação e publicitação dos processos, definição clara das regras de incompatibilidades e celeridade nos processos judiciais. Será preciso uma monitorização parlamentar do combate à corrupção? Muito provavelmente, sim.

No que ao fenómeno do populismo se refere, é preciso dizer que está entre nós há muitos anos, como uma espécie de gripe, que ataca mais fortemente quando baixam as defesas naturais do organismo social.

OAM 256, 04-10-2007, 16:38

Post scriptum -- Corrupção e Bonapartismo - o caso que se segue

O grupo parlamentar do PS ficou escandalizado com as acusações de Cravinho e veio a terreiro defender-se, falando de inversão do ónus da prova e de outras iguarias demagógicas.
Mas não foi precisamente o pacto entre o PS e o PSD (pelo qual o PP de Portas certamente anseia) que acaba de restringir drasticamente a possibilidade de realização e divulgação de escutas telefónicas?
Mas não foi este governo, apoiado pela sua maioria parlamentar
(como sempre) de cócoras, reforçada pelo sim angélico de Marques Mendes, que desenhou de facto as novas leis contra a liberdade de imprensa, precisamente na zona onde a liberdade deveria ser completa, i.e. a divulgação de crimes públicos de abuso de poder, corrupção económica, pedofilia, raptos e assassínios?
E não é verdade haver suspeitas razoáveis de que o actual chefe do governo não só prestou informação contraditória sobre as suas habilitações literárias, como usou indevidamente o título de engenheiro, tendo-se abatido sobre este escandaloso caso um manto de silêncio fabricado?
E não é verdade que ninguém explicou até hoje como foi possível a dita Autoridade da Concorrência ter autorizado a extraordinária compra
de uma empresa privada inviável (a PGA) por uma empresa pública igualmente em dificuldades e sem rumo estratégico (a TAP)?
E não é óbvio que os chamados PIN (Projectos de Potencial Interesse Nacional) subvertem de forma grosseira o princípio da generalidade e universalidade das leis, em nome de decisões discricionárias da competência exclusiva do governo?
E não cheiram mal as manobras de esvaziamento dos processos de pedofilia, de branqueamento de capitais e de tráfico de influências em curso?
Será preciso que tudo o que não deve acontecer nas relações entre interesses económicos e política comece por ser analisado pela blogosfera, para depois, face à acumulação de indícios e perplexidades, o país tradicional comece a reagir?
Já agora: que aconteceu ao Zé? Desde que o ex-ministro da Administração Interna se deslocou para a Câmara Municipal de Lisboa que não lhe ouvimos uma lamúria. Diz a tudo que sim! Estará bem para ele, e para o Bloco de Esquerda, a trapalhada do Sporting? Estará bem para ele, e para o Bloco de Esquerda, enviar os doentes de cancro para o corredor de aterragem/descolagem dos aviões da Portela, que, como é sabido, vai estar a funcionar, pelo menos, até 2015-2020?
Há quem defenda insistentemente que Cavaco um dia destes poderia mesmo invocar o não regular funcionamento das instituições, para chutar a actual maioria sócratintas para o caixote do lixo da história. Pelo caminho que as coisas estão a tomar, nada melhor do que a actual degradação da Justiça Portuguesa, a par da tentativa de captura do Estado por um bloco "mexicano" de poder tendencialmente incompetente, discricionário, prepotente e corrupto, para justificar a mais do que provável evolução do actual sistema político para um verdadeiro presidencialismo. O povo, o tal que os anti-populistas temem, agradecerá. O novo presidencialismo português não será porém semelhante ao bonapartismo da Primeira República. Os modelos serão outros e estão à vista de todos, na Europa e nos Estados Unidos (para não citar o Brasil, que pode ofender os mais sensíveis.) Por mim, seria melhor que o Bloco Central se escaqueirasse e desse lugar a quatro partidos programáticos decentes, em vez de continuarmos nesta pepineira terceiro-mundista, fazendo sonhar mais de um "sebastianista" pós-moderno!

OAM 256, 04-10-2007, 23:55

quarta-feira, outubro 03, 2007

Portugal 9

Açores, São Miguel - plantação de chá Gorreana
Açores, São Miguel - plantação de chá Gorreana (23-06-2006)

Coisas importantes (e vão cinco...)
Presidente açoriano acusa Governo de descurar o país devido à presidência da UE
03.10.2007 - 09h02 PUBLICO.PT

O Governo da república estará demasiado ocupado com a presidência da UE e a descurar a governação do país, na opinião do presidente do Governo Regional dos Açores, o socialista Carlos César.

O presidente do executivo açoriano, citado pela rádio TSF, considera ainda que o país está a ser governado por um subsistema de ministros sem peso político e de directores-gerais que não representam necessariamente a linha política do Governo nacional, nomeadamente no que respeita às regiões autónomas dos Açores e da Madeira.

Carlos César fez estas afirmações ontem à noite no Funchal, onde se encontra para participar na XIII Conferência dos Presidentes das Regiões Ultraperiféricas da União Europeia. E justificou-as com o forte envolvimento do primeiro-ministro, José Sócrates, e dos seus principais ministros na presidência portuguesa da UE, que se iniciou em Julho e vai até ao fim de Dezembro.

Na ocasião, César estava reunido com o presidente da Região Autónoma da Madeira, Alberto João Jardim, que disse que as duas reigiões estão agora em união de facto. "Foi um namoro de doze anos, doze anos a namorar, a mandar pérolas um ao outro", disse Jardim. "E agora passou-se, não propriamente a um casamento, [mas a uma] união de facto política", rematou o presidente açoriano.

Creio que Alberto João Jardim começou finalmente a fazer escola quanto à interpretação dos poderes locais e regionais. Primeiro, foi a guerra de Rui Rio contra os capangas do futebol e a subserviência canina dos políticos portugueses à imbecilidade do esférico, a que se seguiria o distanciamento do autarca face aos queques-cortesãos; depois, seguiu-se a maratona de Luís Filipe Menezes contra os pés-ligeiros do seu partido; por sua vez, António Costa, que deve estar horrorizado com o que até agora viu na Câmara Municipal de Lisboa, e sabe que não pode reduzir o seu mandato a cosméticas ridículas -- Terreiro do Paço sem carros, pintura das passadeiras, ou a fantochada da tolerância zero ao estacionamento ilegal (continua tudo na mesma) --, acaba por comprar uma guerra contra Sócrates por causa da urbanização discricionária do porto de Lisboa, preparando-se para voos futuros; entretanto, Manuel Maria Carrilho avisa os seus correlegionários sobre o perigo da liquefacção partidária; em suma, e para culminar, Carlos César abraça Alberto João Jardim e ambos anunciam uma "união de facto" contra o cabotinismo de quem redige o tele-ponto de Sócrates. Populismo? Pois sim, populismo q.b., para aplacar a ignorância, a irresponsabilidade, a leviandade e o sórdido patuá ("tio Jorge", "patrão", "gato constipado") que as elites urbanas e sub-urbanas do Bloco Central e apêndice desenvolveram ao longo das últimas duas décadas para se haverem com os negócios do país. Como do futuro da nossa integração europeia já só se adivinha o fim dos fundos, a divergência, a defecção e facadas traiçoeiras, o melhor mesmo é promover e garantir uma saudável descentralização democrática dos orçamentos e das decisões.

O país resolve-se com uma regionalização clara e assumida por todos, assente em seis vértices de peso -- as cidades-região de Lisboa e Porto, as regiões autónomas dos Açores e da Madeira, o Algarve e o cordão das regiões transfronteiriças --, a par da intensificação requalificada do poder local. Ao estado central deverá caber sobretudo a obrigação de produzir uma visão inteligível do país, a regulação dos equilíbrios entre os vários centros de poder e regiões, a integração nacional, a soberania, a solidariedade e a justiça. Tudo o resto pode e deve ser descentralizado e ou regionalizado, potenciado-se desta forma a criatividade, a emulação e a responsabilidade portuguesas.

Creio que conheço o país todo, e por isso tenho a convicção plena de que em Portugal não existe qualquer género de ameaça interna à coesão nacional, uma só quebra de solidariedade nacional que seja. Somos todos portugueses e isso sente-se por toda a parte. É um bem inestimável nos dias que correm e devemos honrá-lo com exigência. Daí que o nervosismo dos inside traders pacóvios do país já não convença ninguém. A brutalidade da afirmação de Pacheco Pereira, comparando os vencedores das eleições directas do PSD ao Gang do Multibanco (1), testemunha até que ponto a sarna partidária que este medíocre intelectual representa está desesperada com a evolução do mundo e do país. Eu se fosse o Menezes, punha-o hoje mesmo na rua do PSD. Para não empatar mais a vida do PPD-PSD, que bem precisa de mudar de rumo.


Notas
1 - Assisti entretanto à Quadratura do Círculo desta noite. As afirmações de Pacheco Pereira foram mesmo provocatórias. Comparou a gente que trabalhou para a vitória de Luís Filipe Menezes nas eleições directas da passada Sexta-Feira ao famoso Gang do Multibanco, explicando que se tratava de uma espécie de tropa de choque sem escrúpulos, ávida de poder e disposta a decapitar as inteligências brilhantes do partido (como a dele.) Talvez tenha razão, mas não pode tê-la mantendo-se como militante do partido que tão radicalmente ataca, usufruindo, precisamente por essa condição, de uma representatividade mediática que lhe é conferida informalmente pelos indigentes média que temos, mas a que em rigor não tem nenhum direito. Só num país onde a pequena corrupção se tornou um estado natural, é que ele, o Marcelo Rebelo de Sousa, o Jorge Coelho ou o Paulo Portas podem entrar pelas nossas casas dentro, tranquilamente, como comentadores políticos. Ora esta gente não faz parte da classe dos moldadores de opinião (ou por outra, faz, mas indevidamente!) Eles são, pura e simplesmente, agentes de propaganda ao serviço de interesses puramente partidários. Como tal podem e devem ser ouvidos pelos média. Como observadores independentes, nunca! -- 4-10-2007, 00:50


OAM 255, 03-10-2007, 07:15

Madeleine McCann 2

A fantástica polícia inglesa

A morte de Diana

Telegraph, 03-10-2007. "I'm hoping for justice, I'm a father who lost his son. I have been fighting for 10 years, at last I want to have justice. I'm certain of what happened, I know they have been murdered.

"I'm hoping to God to find the murderer or the gangster that took the life of two innocent people. I will not rest until that's done." -- Mohamed Fayed.

A morte de Charles de Menezes

UOL, 02-10-2007. A Polícia Metropolitana britânica, no banco dos réus por causa da morte de Jean Charles de Menezes, assegurou nesta terça-feira que o julgamento a que é submetida se baseia numa "incompreensão do trabalho policial" e que seus integrantes vivem sob grande pressão.


A morte do Dr. David Kelly

BBC, 25-02-2007. Kelly death not suicide, says MP

An MP investigating the death of Dr David Kelly says he is convinced the weapons scientist did not kill himself.

Norman Baker tells BBC Two's The Conspiracy Files he has reached the conclusion Dr Kelly's life was "deliberately taken by others".

Mr Baker has also obtained letters suggesting the coroner had doubts about the 2003 Hutton inquiry's ability to establish the cause of death.

Hutton reached a verdict of suicide but a public inquest was never completed.

Dr Kelly, whose body was found in July 2003, had been under intense pressure after being named as the suspected source of a BBC report claiming the government "sexed up" a dossier on the threat posed by Iraq.

The Murder of David Kelly, by Jim Rarey

From Part 1 - On Thursday, July 17th sometime between 3 and 3:30pm, Dr. David Kelly started out on his usual afternoon walk. About 18 hours later, searchers found his body, left wrist slit, in a secluded lane on Harrowdown Hill. Kelly, the U.K.'s premier microbiologist, was in the center of a political maelstrom having been identified as the "leak" in information about the "dossier" Prime Minister Tony Blair had used to justify the war against Iraq.

While the Hutton inquiry appears set to declare Kelly's death a suicide and the national media are already treating it as a given, there are numerous red flags raised in the testimony and evidence at the inquiry itself.

From Part 2 - In the months before his death, Dr. Kelly became embroiled in a shouting match between the British government and BBC. Andrew Gilligan, a reporter for BBC claimed that Kelly had given him and other reporters information that proved the government had exaggerated the Iraqi danger in its 'dossier' justifying the war against Iraq and that Kelly had not been completely honest in telling his MoD superiors what he had disclosed to them. Writer Tom Mangold (it's not clear when he left the employ of BBC) used this to reason that Kelly's loss of integrity at being exposed as a 'liar' was what led him to suicide.

(...)

Kelly had voluntarily disclosed to MoD his contacts with the media. To his dying day, he maintained that he had not provided all the information Gilligan attributed to him. Nevertheless, Kelly was hauled before the Joint Intelligence Committee for a grilling.

The final affront came in a mandated one-on-one session with MoD Personnel Director Richard Hatfield. MoD, with the approval of Tony Blair, had devised an orchestrated charade to 'out' Kelly as the source of the 'leak'. Hatfield, head of the department that had been jerking Kelly around for three years, was supposed to get Kelly's acquiescence in the plan. Somehow, he never got around to the subject.

Subsequently, at an MoD press conference, through a series of disclosures to the press, the MoD confirmed Kelly as the leak (as previously planned) when a reporter asked if Kelly was the one.

Understandably, this treatment would have made Kelly a resentful employee. In intelligence circles, resentful employees are considered 'unstable' and security risks. Kelly had for years maintained his silence about his extensive knowledge of the bio-warfare weapons of at least four countries. Had it become imperative that the silence be made permanent?


O desaparecimento de Madeleine McCann
Sol, 03-10-2007. O presidente da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC) da PJ afirmou hoje concordar com a saída de Gonçalo Amaral «se isto for para o resguardar enquanto ser humano dos ataques de que tem sido alvo» pelos media britânicos no caso Madeleine McCann.

Sol, 03-10-2007. A imprensa inglesa noticia hoje o afastamento de Gonçalo Amaral da coordenação da investigação ao desaparecimento de Madeleine McCann como consequência directa dos «ataques bombásticos, surpreendentes e inesperados» à polícia inglesa.

Comentário:

It's Mugabe stupid!
  1. A demissão de Gonçalo Amaral era inevitável depois das suas declarações sobre a óbvia interferência dos McCann e dos órgãos de propaganda (vulgo, média) ingleses no andamento das investigações do desaparecimento da pequena Maddy;
  2. A interferência da polícia e dos serviços secretos ingleses no affair McCann é patente e escandalosa;
  3. A demissão de Gonçalo Amaral foi um efeito calculado do próprio Gonçalo Amaral ou da equipa responsável pela investigação que dirigia, no óbvio jogo de Poker a que a polícia portuguesa foi forçada pelo descarado envolvimento das autoridades políticas britânicas (ao mais alto nível!) na difusão do misterioso desaparecimento de Maddy McCann;
  4. O Reino Unido é um país pródigo em casos de pedofilia, raptos, assassinatos, escandalosa incompetência policial e jurídica, mas também na execução das chamadas Low Intensity Operations (assunto sobre o qual vale a pena ler o elucidativo livro do General Frank Kitson). Basta citar os casos ainda por esclarecer das mortes misteriosas da Princesa Diana (sabe-se desde o primeiro momento que estaria grávida de Dodi Al fayed), Charles de Menezes (abater um imigrante brasileiro como um cão, sem nenhuma justificação e passar o tempo a fugir com o rabo às suas responsabilidades é o triste retrato da decadente potência imperial herdada pelos liberal-trabalhistas que actualmente a governam) e de David Kelly (o microbiologista especialista em guerra biológica, ao serviço do governo inglês, "suicidado" poucos dias depois de ter revelado que as afirmações de Tony Blair sobre a possibilidade de o Iraque atingir o Reino Unido, em 45mn, com bombas nucleares, ter sido o resultado de dossiê apimentado expressamente para o efeito belicista do trio Bush-Blair-Aznar.)
  5. Uma hipótese plausível, é que o MI6 esteja ainda a trabalhar por todos os meios para boicotar a Conferência Europa-África, sendo que uma mini-crise diplomática entre Portugal e o Reino Unido, causado pelo affair Maddy, poderia ser parte de uma escalada visando garantir o sucesso do boicote decidido pela velha e decadente potência colonial.
  6. O tom provocatório crescente com que os órgãos de propaganda britânicos têm tratado este assunto, a par do estreito envolvimento do governo inglês no mesmo, tem merecido, por parte do governo português, uma resposta até gora habilíssima, deixando que toda a merda acumulada pela pressão britânica possa vir a transformar-se num inesperado boomerang que apanhe desprevenido o pescoço no não-eleito Gordon Brown.
  7. Uma coisa é certa: a realização da Cimeira Europa-África, se se realizar, será uma pesada derrota para as estratégias divisionistas britânicas, e Gordon Brown poderá não sobreviver a tal desaire, sendo forçado a ir para eleições gerais, dando passo aos Conservadores.

OAM 254, 03-10-2007, 02:04, 12:49