quinta-feira, março 25, 2010

Portugal 174

Uma oportunidade para a Eurolândia

Anything that is too big to fail is too big to exist (Simon Johnson).

Vou começar por atacar Cavaco Silva. Ao contrário do que poderíamos pensar, nas actuais circunstâncias, nem a queda do actual governo e um cenário de eleições antecipadas poderão reforçar o anjo caído em que se transformou a velha estrela do PSD. Entre ataques de pânico e uma espécie de máscara de optimismo sedado, as aparições do actual presidente da república tornaram-se um sintoma mais da crise de regime que se precipitou —como previmos— e se prolongará ao longo de toda a presente década.

Vamos precisar de reorganizar a sociedade de alto a baixo, e de fazer algum sangue para o conseguir. Cavaco Silva, espécie de rainha de Inglaterra sem paraísos fiscais, não está à altura de liderar o desafio de mudança que temos pela frente. Daí que a invectiva que a ele dirijo seja esta: anuncie quanto antes, antes do Verão —amanhã!— se pretende ou não recandidatar-se ao lugar onde até agora não fez o que de si qualquer português inteligente esperava: impedir o descalabro, sem precedentes nos últimos setenta e quatro anos, em que estamos. Se anunciar a recandidatura, opor-lhe-hei os meus melhores argumentos. Se desistir já, como deveria, aplaudirei. O que não é tolerável é que continue nessa atitude de obstipação intelectual oportunista, como se o pais fosse uma aldeia de parvos. Decida-se!

Portugal substitui Grécia nos pesadelos dos investidores

O euro cai mais de 1%, a Europa fechou em queda ligeira e Wall Street também protagoniza perdas. Tudo por causa de Portugal.

Portugal substituiu hoje a Grécia no ‘top' das preocupações dos investidores quando, por volta das 10 horas, a Fitch comunicou ao mercado que reduziu a classificação da dívida portuguesa para ‘AA-'. Foi o primeiro ‘downgrade' em 12 anos. — in Económico.

O PEC, em toda sua violência, é ao mesmo tempo a primeira e principal —porventura única— oportunidade que se nos depara para limpar o regime do lixo institucional, corporativo e cultural acumulado ao longo de trinta e cinco anos de democracia populista e corrupção político-partidária. Os partidos parlamentares vagueiam, como o governo vagueia, ao sabor das notícias, incapazes de pensar, de acertar uma ideia que seja, enfim de falar verdade. Vamos ter que os remexer!

A crise não é apenas portuguesa (1). Pois não! Mas a crise mundial da globalização precipitou (facto da maior importância) uma crise histórica portuguesa própria que larva desde a independência do Brasil. O que agora desaba com estrondo é um longo ciclo de 600 anos de colonialismo, é o vício autoritário da exploração permanente e sem remorso do próprio povo (nomeadamente através da recorrente válvula migratória), são nomenclaturas endogâmicas, indolentes e ignaras, é, em suma, a hipertrofia burocrática de um Estado bronco. É por isto tudo que, ao contrário do que afirma o optimista moderado Luís Campos e Cunha, estamos mesmo falidos! E fodidos também!!

Vamos todos, menos os banqueiros e o bando de piratas que nos governa, apertar o cinto. É uma realidade que nenhum debate parlamentar, nem nenhum sindicalista obtuso, conseguirá travar. Mas ao contrário do que se alardeia, os portugueses estão preparados para o saque, até porque sentem ter também alguma culpa no cartório, quanto mais não seja, pela circunstância de terem aproveitado sem crítica a abundância inusitada de dinheiro forte e crédito quase ilimitado e a custo desprezível que lhes foi sendo oferecido após a entrada no euro. Mas atenção: depois de consumada a sangria de vampiros que se prepara contra os bolsos contribuintes, o país nunca mais será o mesmo. E mais de um político estouvado, manhoso ou corrupto, acreditem, será engolido pela enxurrada que nascerá do colapso fiscal em curso.

Precisamos, como de pão para boca, de deixar renascer a iniciativa privada produtiva e a criatividade. Temos que corrigir o Estado —tornando-o forte, fiável e transparente onde é preciso que esteja (energia, água, saúde, supervisão financeira e justiça), aliviando-o ao mesmo tempo dos sectores onde está a mais. É, por outro lado, fundamental quebrarmos a santa e corrupta aliança entre os aristocratas financeiros, os governantes de turno e os prostitutos que medram nos apartamentos clandestinos a que chamam gabinetes de estudo.

The Quiet Coup
May 2009 ATLANTIC MAGAZINE
By Simon Johnson

The crash has laid bare many unpleasant truths about the United States. One of the most alarming, says a former chief economist of the International Monetary Fund, is that the finance industry has effectively captured our government—a state of affairs that more typically describes emerging markets, and is at the center of many emerging-market crises. If the IMF’s staff could speak freely about the U.S., it would tell us what it tells all countries in this situation: recovery will fail unless we break the financial oligarchy that is blocking essential reform. And if we are to prevent a true depression, we’re running out of time.

...

Cleaning up the megabanks will be complex. And it will be expensive for the taxpayer; according to the latest IMF numbers, the cleanup of the banking system would probably cost close to $1.5 trillion (or 10 percent of our GDP) in the long term. But only decisive government action—exposing the full extent of the financial rot and restoring some set of banks to publicly verifiable health—can cure the financial sector as a whole.

This may seem like strong medicine. But in fact, while necessary, it is insufficient. The second problem the U.S. faces—the power of the oligarchy—is just as important as the immediate crisis of lending. And the advice from the IMF on this front would again be simple: break the oligarchy.

...

The conventional wisdom among the elite is still that the current slump “cannot be as bad as the Great Depression.” This view is wrong. What we face now could, in fact, be worse than the Great Depression—because the world is now so much more interconnected and because the banking sector is now so big. We face a synchronized downturn in almost all countries, a weakening of confidence among individuals and firms, and major problems for government finances. If our leadership wakes up to the potential consequences, we may yet see dramatic action on the banking system and a breaking of the old elite. Let us hope it is not then too late. 

Vale a pena ler todo este clarificador testemunho sobre a perversão financeira que tomou de assalto a economia capitalista mundial, à excepção, claro, da China. O que hoje estamos a assistir nos Estados Unidos e na Europa é à escandalosa tentativa de especular com as dívidas soberanas por parte dos mesmíssimos especuladores, da mesmíssima estirpe de Wall Street —Goldman Sachs, JP Morgan e afins— que engendrou a economia de casino dos últimos trinta anos, parindo a ilusão de que as empresas, os estados e as famílias podiam endividar-se à mesa de um interminável banquete. Percebemos agora aquilo que no fundo já sabíamos: não há almoços grátis!

É por isso que uma amiga minha canadiana, que o meu país não soube acolher como devia, me aconselhava: não se deixem enredar nos mecanismos perversos da inveja (se os pilotos da TAP ganham muito ou não, se os automóveis adquiridos pela Assembleia da República são de luxo ou não, etc.) O importante é atacar a rede que a aristocracia financeira lançou sobre a sociedade portuguesa no seu conjunto, auxiliada pelos lacaios político-partidários, com o objectivo de controlar de forma sanguínea todo o tecido produtivo, social e cultural do país. É esta aliança fatal que tem que ser rompida! E para isso haverá que expor publicamente os neoliberais caninos que falam indistintamente em nome do socialismo e da democracia. E haverá que reunir os profissionais sérios deste país, estejam onde estiverem, em nome de uma verdadeira restauração do regime democrático, onde a ética da transparência, da responsabilidade pública e da liberdade criativa substituam a canga autoritária do estalinismo capitalista dominante, a cobardia burocrática e a subsidio-dependência.

As administrações políticas e incompetentes da NAER, da Refer, da TAP, da CP, do Metro de Lisboa, etc., devem ser substituídas por gente séria, independente e liberta de imposições político-partidárias. As SCUT e as corrompidas parcerias público privadas devem pura e simplesmente acabar. O Serviço Nacional de Saúde deve ser mantido como um direito universal e gratuito ("tendencialmente" gratuito é um sofisma), assegurando-se ao mesmo tempo a eficiência e responsabilidade económica de todos e cada um dos seus sectores económicos e profissionais nele envolvidos (2). Os bancos têm que pagar impostos e ser vigiados, não apenas pelos governos nacionais, mas também pelo BCE e por um Fundo Monetário Europeu a criar. Têm que ser implementadas regras exigentes no domínio do tráfico de influências e das incompatibilidade deontológicas. Os cidadãos têm direito de exigir do Estado um banco público que não funcione como saco azul dos partidos no governo, nem se envolva em manobras de gangues político-financeiros, nem muito menos comprometa o dinheiro dos contribuintes e dos depositantes, em operações com produtos financeiros especulativos ou mesmo fraudulentos. Ou seja, temos que exigir a refundação da Caixa Geral de Depósitos nos termos da sua vocação original. Ao mesmo tempo, os portugueses deverão poder promover a constituição de novas cooperativas independentes de depósitos isentos de IRS e IRC, com o objectivo público bem delimitado de fazer regressar a poupança ao país.

Há toda uma agenda nova para discutir. Sobretudo depois da cimeira europeia deste fim-de-semana, de onde se espera que saia algum fumo vermelho capaz de sustar a ofensiva anglo-americana contra o euro (3), bem como a criação de uma instância de coordenação económica efectiva da zona euro. A janela de oportunidade da União Europeia pode encerrar temporariamente para obras. Mas isso significaria o colapso instantâneo da Grécia, e atrás de semelhante desastre seguir-se-iam inevitavelmente Portugal e Espanha.

Gaps in the eurozone 'football league'

By Wolfgang Münchau from the Financial Times
March 21 2010

At last we are heading towards a resolution, albeit a bad one. After weeks of pledges of political and financial support, Angela Merkel appears ready to send Greece crawling to the International Monetary Fund.

Germany cites legal reasons for its position. In past rulings, its constitutional court has interpreted the stability clauses in European law in the strictest possible sense. These rulings have left a deep impression among government officials. It is hard to say whether this argument is for real or is just an excuse not to sanction a bail-out that would be politically unpopular. It is probably a combination of the two.

I have heard suggestions that a deal may still be possible at this week's European summit, but only if everybody were to agree to Germany's gruesome agenda to reform the stability pact. That would have to include stricter rules and the dreaded exit clause, under which a country could be forced to leave the eurozone against its will. I am not holding my breath.

But either outcome will mark the beginning of the end of Europe's economic and monetary union as we know it. This is the true historical significance of Ms Merkel's decision.

While Greece faces the most acute difficulties, it is not the only member in trouble. There are at least four - Greece, Spain, Portugal and Ireland - that are probably not in a position to maintain a monetary union with Germany under current policies indefinitely. There may be several more, where the problems are not yet quite so evident. In the presence of extreme current account imbalances and a lack of bail-out or fiscal redistribution mechanisms, a monetary union among such a diverse group of countries is probably not sustainable.

A crise financeira actual decorre do rebentamento consecutivo de pelo menos quatro bolhas especulativas: a primeira delas, e a mais importante, resultou da especulação cambial promovida pelo Japão ao longo de décadas com vista a financiar as suas exportações (o chamado Yen Carry Trade), na senda da qual se montou a grande bolha imobiliária das hipotecas Subprime. Por sua vez a Goldman Sachs, com o objectivo de ultrapassar o crescimento medíocre das economias ocidentais, inventou um conjunto de produtos financeiros opacos destinados a escalar de forma piramidal o endividamento das pessoas, empresas e governos muito para além do imaginável, criando-se assim o maior buraco negro financeiro de sempre, conhecido por mercado de derivados financeiros (ou derivatives) cujo valor nocional de 684 biliões de USD (em Junho de 2008) corresponde a qualquer coisa como 10x o PIB mundial. Para este buraco se precipitaram bancos, fortunas pessoais, milhões de casas hipotecadas cujas hipotecas foram executadas pelos bancos, e agora estados inteiros, como a Islândia, e quem sabe, dentro em breve, a Irlanda, a Grécia, Espanha e Portugal. Mas os grandes colapsos que gigantescas forças tectónicas neste momento abalam ocorrerá muito provavelmente em Inglaterra e nos Estados Unidos da América. A Grécia e Portugal podem não passar, efectivamente, de manobras de diversão!

E aqui chegados volto uma vez mais a insistir no fundamental: tudo isto é resultado de uma mudança tectónica do principal eixo do poder estratégico mundial, o qual vem sofrendo uma irremediável deslocação do Ocidente para o Oriente.

In April 2009 China became Brazil’s largest trading partner, a position which, for centuries, has correctly anticipated major scissions in world leadership. Since, two hundred years ago, the United Kingdom brought an end to three centuries of Portuguese hegemony, it is only the second occasion that this has happened (the United States indeed replaced the United Kingdom at the beginning of the 1930’s as Brazil’s major trading partner) — in GEAB Nº43.

Depois do fracasso da Cimeira de Copenhaga, onde a Europa e os Estados Unidos tentaram meter todo o mundo e em particular os países emergentes dentro de uma bolha verde especulativa —manobra que foi expeditamente impedida pela China, Brasil e  Índia— era inevitável assistirmos ao rebentamento da bolha especulativa das chamadas dívidas soberanas. Tal como os cidadãos empobrecidos compraram casas sem terem condições para tal, também largas dezenas de governos em todo o mundo se entretiveram numa competição de obras públicas mais ou menos faraónicas, que agora têm que pagar, mas não podem... pois a pirâmide especulativa dos empréstimos em cadeia quebrou. Quem deve ir preso? Muita gente!

The China Brazil food bridge
By Marcos Fava Neves (chinadaily.com.cn)
Updated: 2009-08-31 18:12

Brazil has become much more important to China in the last 10 years. The flows of trade between China and Latin American countries rose from US$10 billion in 2000 to US$140 billion in 2008. Fifteen percent of Brazil's exports goes to China in 2009, up from eight percent just a year ago.

… In the coming years Brazil has an opportunity to be the most important partner to supply food and biofuels. Soybeans exports from Brazil to China grew 27 percent in 2009 from a year ago.

Na China 7% da terra arável do planeta alimenta parcialmente 22% da população mundial, com todos os graves inconvenientes que desta desproporção insustentável resultam, nomeadamente no que respeita a dois fenómenos que preocupam em extremo os chineses: a contaminação ambiental por via das quantidades astronómicas de adubos utilizados, e a desertificação provocada pelo pastoreio intensivo que levou já ao avanço catastrófico do deserto de Gobi sobre a região de Pequim. Percebe-se, pois, o valor estratégico de países como o Brasil (o maior produtor potencial de alimentos do planeta), mas também do Médio Oriente (Arábia Saudita, Iraque e Irão) e África (nomeadamente o corredor entre Angola e Moçambique) para o abastecimento de energia, matérias primas e alimentos.

Enquanto os países ocidentais têm sobretudo que regressar à economia real, destruindo sem hesitação a letal aristocracia financeira que os colocou no aperto em que estão, a China e o Brasil, acompanhados pela OPEP, têm um problema bem mais interessante pela frente: começar a dar as cartas do novo jogo de estratégia mundial.


POST SCRIPTUM

Um leitor atento e crítico deste blogue chamou a minha atenção para o crony capitalism (uma espécie de capitalismo tradicional entre nós, essencialmente baseado nas relações familiares —endogamia—, na cunha e na opacidade burocrática dos processos de gestão). Este é um problema geral do capitalismo tardio, nomeadamente na área financeira, onde se reúnem hoje os aristocratas do estalinismo capitalista que desde 1974 predomina no Ocidente (Wall Street, Clube Bielderberg, G7, Reserva Federal, Goldman Sachs, J.P. Morgan, etc.) Na realidade, temos dois problemas por atacar: o do capitalismo endogâmico, que ameaça destruir suavemente as democracias ocidentais, sob o manto protector de regimes parlamentares populistas; e o da captura do capitalismo produtivo e da liberdade criativa pela mancha corrupta e insaciável do capitalismo financeiro fraudulento, assente em modelos Ponzi de especulação e roubo, complexos e de difícil detecção, solidamente protegidos pela meia centena de paraísos fiscais na posse, entre outros, da rainha de Inglaterra. Esta espécie de tenaz é hoje o principal inimigo da liberdade e a mais poderosa ameaça à sustentabilidade das sociedades humanas. O buraco negro dos chamados derivados financeiros é o resultado tenebroso desta forma decadente de capitalismo. Se a não travarmos agora poderemos caminhar rapidamente para o colapso geral das sociedades, à semelhança do qe ocorreu na ilha da Páscoa (ler a propósito o excepcional livro de Jared Diamond, Collapse).

Há, porém, outro problema igualmente geral, do qual somos todos —pelo menos no mundo Ocidental— parcialmente responsáveis, chamado consumismo. A receita keynesiana para resolver o problema social resultante do aumento da produtividade humana (que induz a queda tendencial da taxa de lucro, a inflação, o desemprego, as crises de sobre-produção, a deterioração dos termos de troca mundial, favorecendo a exportação da economia real para os países de mão-de-obra barata, e os colapsos financeiros resultantes da especulação nos mercados) falhou. Expandir o consumo interno das sociedades levou-nos a uma crise de recursos e ambiental sem precedentes!

A minha amiga canadiana, que deu origem a este escrito, recomendou-me a leitura de um economista americano de origem norueguesa e do século 19, que muito antes da crise de 29 (aliás viria a morrer nesse ano) denunciou os perigos do que ele chamou o consumo conspícuo. Esse economista foi Thortein Veblen, e o seu mais famoso livro —Theory of the Leisure Class (1899)— deveria ser efectivamente relido por quem tencionar escrever um verdadeiro programa para a saída da presente crise do capitalismo ocidental.



NOTAS

  1. Has Germany just killed the dream of a European superstate? 

    By Ambrose Evans-Pritchard from the Telegraph

    A Greek default would alone be twice the size of the combined defaults by Argentina and Russia. Contagion across Club Med would instantly set off a second banking crisis.



    So, it is not enough for the EU to impose a fiscal squeeze of 10pc of GDP on Greece, 8pc on Spain, and 6pc on Portugal, and 5pc on France over three years, we need a dose of 1930s monetary policy as well to make sure life is Hell for everybody.

    Be that as it may, Greece's George Papandreou says his country is in the worst of both worlds, suffering IMF-style austerity without receiving IMF money - which comes cheap at around 3.25pc. So why allow his country to be used as a "guinea pig" - as he put it - by EU factions pursuing conflicting agendas?

    The IMF option has its limits too. The maximum ever lent by the Fund is 12 times quota, or €15bn for Greece, not enough to nurse the country through to June. The standard IMF cure of devaluation is blocked by euro membership. So Greece will have to sweat it out with a public debt spiralling to 135pc of GDP next year, stuck in slump with no exit route.

    The deeper truth that few care to face is that under the current EMU structure Berlin will have to do for Greece and Club Med what it has done for East Germany, pay vast subsidies for decades. Events of the last week have made it clear that no such money will ever be forthcoming.

    Let me be clear. I do not blame Greece, Ireland, Italy, or Spain for what has happened. No central bank could have tried more heroically than the Banco d'España to counter the effects of negative real interest rates, but the macro-policy error of monetary union washed over its efforts.

    Nor do I blame Germany, which generously agreed to give up the D-Mark to keep the political peace. It was the price that France demanded in exchange for tolerating reunification after the Berlin Wall came down.

    I blame the EU elites that charged ahead with this project for the wrong reasons - some cynically, mostly out of Hegelian absolutism - ignoring the economic anthropology of Europe and the rules of basic common sense. They must answer for a depression.

  2. Não deixa de ser uma ironia que no preciso momento em que Barack Obama consegue fazer aprovar a implementação do Serviço Nacional de Saúde nos Estados Unidos, em Portugal, a turma de piratas e oportunistas capitaneada pelo "socialista" José Sócrates continue alegremente a destruir o SNS criado pelo próprio PS quando ainda havia socialistas na sua direcção.

  3. ... a global monetary war has started, with Washington and London trying to defend their currencies against the new kids on the block such as the Euro and the Yuan.

    … in the coming years the Eurozone needs to create a kind of 'Rapid Financial Deployment Force', such as a European Monetary Fund, dedicated to the sole Eurozone interests. One reason being that the Eurozone can no longer trust the IMF (in Washington's hands) to respect its own interests rather than those of the Dollar. — in Eurozone needs a Economic Governance: Let's transform the Greek tragedy into the first Eurozone epic, by Franck Biancheri, Marianne Ranke-Cormier, Veronique Swinkels, Margit Reiser-Schob Newropeans.

OAM 674—25 Mar 2010 1:39

domingo, março 21, 2010

Eurocidades

Que falta para a eurocidade do Caia? O TGV?


Ver Eurocidade do Caia num mapa maior


El estudio del tramo Badajoz-Portugal del AVE sitúa la estación en suelo extremeño

La estación internacional que incluye la línea del AVE Madrid-Lisboa en la frontera lusa estará en suelo extremeño. Será así de aprobarse el estudio informativo del tramo Badajoz-Frontera Portuguesa, que se encuentra ya en exposición pública, y que incluye la propuesta de una estación internacional junto a la frontera portuguesa, en suelo español.

En el estudio informativo se concreta que la estación internacional, que también dará servicio a Badajoz y su comarca, "se propone esté situada junto a la frontera portuguesa (río Caia)", contemplándose "una conexión con el lado portugués, que podría materializarse con la ubicación al otro lado de la frontera de algunas instalaciones, como un aparcamiento, enlazadas mediante una pasarela de conexión". — El Periodico de Extremadura (18-12-2008)

 A União Europeia atravessa neste momento uma prova de fogo por causa das profundas assimetrias de desenvolvimento entre os estados e regiões que a compõem, e ainda por causa da tremenda crise de endividamento empresarial, público e familiar que acabou por desembocar num colapso sistémico do Capitalismo à escala global, o qual vem sacudindo com mais veemência as economias viciadas no consumo e nas importações baratas, afectando menos as que vivem sobretudo da produção e da exportação de produtos. Há, por mais incrível que pareça, a possibilidade de países como a Grécia, Espanha e Portugal serem postos fora do euro, ainda que parcialmente e por um período limitado de tempo! Tudo vai depender da capacidade da Alemanha poder suportar os custos colossais do saneamento financeiro da União Europeia.

Enquanto as crises financeiras dos PIIGS afligem a Alemanha pelo seu potencial desestabilizador relativamente ao euro, há outros países bem maiores, em situações financeiras bem piores, e cujas ameaças à tranquilidade mundial são bem mais preocupantes. Refiro-me naturalmente ao Japão, aos Estados Unidos e ao Reino Unido.

Numa palavra: o programa de transportes ferroviários de alta velocidade na península ibérica vai ter que abrandar necessariamente a sua marcha. Os futuros AVEs, LAVs, ou TGVs, vão ter que correr a velocidades inferiores às anunciadas, baixando as velocidades de ponta dos 350Km para 300Km/h, e apontando para velocidades médias na ordem dos 250Km — pois só assim poderão controlar os custos exponenciais associados à velocidade, seja na concepção-construção das infraestruturas e material circulante, seja na caríssima manutenção deste tipo de transporte. Por outro lado, o endividamento excessivo dos governos, das empresas e das famílias, associado a um desemprego estrutural e conjuntural sem precedentes, conduzirá necessariamente a um abrandamento das actividades económicas e de diversão, a uma vigilância mais apertada dos custos escondidos dos bens públicos e de consumo (até agora subsidiados sem limites, sem transparência e sem controlo), e à consequente análise mais criteriosa do custo-benefício dos grande investimentos públicos. Os Estados europeus vão deixar de estar autorizados a parir elefantes brancos invendáveis (nomeadamente quando os ditos acabam por ir parar aos leilões das privatizações!) Como já é patente, a rede de alta velocidade ferroviária em toda a península ibérica começou a diferir datas e a travar alguns dos investimentos, lançando uma neblina de indefinição (ver mapa) sobre o optimismo oficial dos governantes do PSOE e do PS.

Mesmo a ligação Madrid-Lisboa, cujo interesse estratégico para ambos os países é óbvia, parece estar envolta numa bruma cada vez mais densa de indefinições. Onde estão os projectos de execução? E os prazos reais? 2013, 2014, 2015? Quando será, alguém sabe de ciência certa? Duvido!

Por outro lado, basta olhar para o mapa de realizações e projecções da Alta Velocidad Ferroviaria Española publicado na Wikipédia, para se perceber que as ligações entre Aveiro e Vilar Formoso, e entre Porto e Vigo, caso fossem realizadas nos prazos outrora anunciados, de nada serviriam pois nem Vigo tem previsão fiável para a sua ligação a Orense, Zamora (para chegar a Madrid ou Irún), nem há qualquer previsão para a conclusão da ligação entre Salamanca e Ávila (para chegar a Madrid) ou Valladolid (para chegar a Irún). Ou seja, para já, a prioridade da Moncloa é apenas uma: chegar a Lisboa e ao porto de Sines o mais depressa possível. O resto logo se vê.

Mais cedo ou mais tarde haverá uma nova rede ferroviária ibérica em bitola europeia. O mais importante, salvo nas ligações entre as principais cidades, não é a alta velocidade, mas a adequação das linhas (isto é a bitola das vias) e sistemas de apoio ao transporte de pessoas e mercadorias. O importante é construir uma rede apertada de mobilidade ferroviária que sirva pessoas e empresas, alimentada com energia eléctrica (e não diesel!) O contrário, portanto, do que os corruptos governantes portugueses têm congeminado a este propósito, nomeadamente para continuar a alimentar uma incompetente clientela de especuladores e candidatos a monopólios privados, incapazes de correr em mar aberto.

Em 2013, 2014 ou 2015 haverá um transiberiano a ligar Barcelona, Saragoça, Valência, Córdova, Sevilha e Madrid a Lisboa, e no sentido inverso, Lisboa a Madrid, Sevilha, Córdova, Saragoça, Valência e Barcelona, entre outros grandes e pequenos destinos ibéricos. Nestas ligações haverá, no entanto, uma única estação internacional, e não será em nenhuma das grandes cidades, mas na fronteira entre Portugal e Espanha, mais perto de Badajoz do que de Elvas, mais precisamente no Caia.

Por um entendimento que não entendo, ou por má negociação da parte portuguesa, a estação do Caia encontra-se apenas do lado espanhol, quando deveria estar literalmente encavalitada na fronteira do Caia, e além do mais, servida por metro de superfície ligando em rede Badajoz, Elvas, Campo Maior, Olivença e Talavera la Real. É preciso ambição, pensar em grande, se quisermos obter resultados que se vejam. Neste caso, lançar a primeira verdadeira eurocidade ibérica!

E é por isso que proponho a deslocação da estação do Transibéria (nome unificado que proponho para o AVE/LAV/TGV) 500 ou 600 metros para Ocidente, por forma a termos uma estação de comboios verdadeiramente internacional, onde cesse por tratado a fronteira entre Portugal e Espanha, havendo em seu lugar um território bi-nacional, bilingue, com a mesma moeda, mas também com a mesma fiscalidade e uniformidade competitiva de preços. Se soubermos resolver a esta escala todos os problemas jurídicos, económico-financeiros, políticos e culturais que naturalmente se colocam, teremos resolvido o problema teórico-prático da criação de uma eurocidade alargada, envolvendo uma comunidade de municípios, onde desde logo estariam incluídas Elvas, Badajoz, Campo Maior, Olivença e Talavera la Real. O nome dessa cidade nova? Caia!

Tenho falado com bons amigos de Elvas e de Badajoz sobre estes temas. É para todos nós claro que a futura estação do transiberiano no Caia, associada à plataforma logística que ali será igualmente instalada, e ao requalificado aeroporto de Badajoz (em Talavera la Real) compõem um mosaico de desenvolvimento a meio caminho de Lisboa, Madrid e Sevilha, com um enorme potencial.

Mas para que esta rêverie se torne realidade teremos que atacar de frente os fantasmas da iberização, nomeadamente aqueles que assustam Portugal — isto é, a iberização como Cavalo de Tróia do sonho de uma grande Espanha com capital em Madrid. Oitocentos e sessenta e sete anos de história portuguesa demonstram à saciedade que esse será sempre um pesadelo sem futuro. Madrid e Castela terão o seu acesso ao Atlântico, por cortesia de Portugal e interesse mútuo. O futuro da Europa passa e passará mais do que se pensa pelo Atlântico, e por isso passa e passará mais do que se pensa pelo renascimento das velhas potências atlânticas, ainda que desta vez para conter e negociar com novos actores mundiais, com que nos damos, aliás, há séculos!


OAM 673—21 Mar 2010 21:00

sexta-feira, março 19, 2010

Portugal 173

Depois dos PECs



Ou fazemos da cura de emagrecimento que aí vem uma oportunidade de saneamento e correcção da nossa maneira de trabalhar, imaginar e conviver, ou não faltarão tumultos e aflição por toda a parte.

Barroso: ‘No country can be expelled from euro zone’

19 March 2010 - In an interview to be broadcast ahead of an EU summit next week, European Commission President José Manuel Barroso says expelling a country from the euro zone, as suggested by German Chancellor Merkel, would be against EU treaty rules. — in EurActiv.

A Eurolândia tem uma moeda forte. Chama-se Euro. Esta nova e revolucionária divisa financeira de sucesso —a primeira das futuras moedas regionais em germinação (haverá uma moeda asiática, e outra pan-americana, pelo menos)— é, por enquanto, um euro-marco, quer dizer, uma moeda cuja robustez depende sobretudo das exportações e da saúde económico-financeira da Alemanha.

Apesar da locomotiva industrial e técnico-científica alemã continuar a precisar de estabelecer o seu "espaço vital" (Lebensraum) a Leste, a verdade é que duas devastadoras e horríveis guerras mundiais com origem na Alemanha convenceram aquele país e o continente (o reino inglês ainda não aprendeu) a optar por uma via pacífica em direcção a uma espécie de Estados Unidos da Europa. Sendo a Alemanha quem mais perderá com uma sempre possível implosão do espaço vital alargado que é a União Europeia actualmente em construção, Berlim, ou melhor Frankfurt, decidiu abrir os cordões à bolsa para financiar os mais atrasados, de Dresden a Lisboa, passando por Atenas e Madrid. O preço foi gigantesco e pesa hoje de forma visível na degradação material do estilo de vida alemão, a começar pelas cicatrizes urbanas que não param de aumentar. Pior: boa parte da poupança europeia esvaiu-se, ao longo dos últimos vinte anos, no consumismo hedonista, no narcisismo burocrático e na corrupção. A crise aguda das chamadas dívidas soberanas em países como a Islândia, Irlanda, Grécia, Portugal, Itália e Espanha, não atingiu ainda a sua fase realmente crítica. Alguns analistas falam de Junho e em todo o caso deste próximo Verão como uma prova de fogo. Veremos até lá se os PIIGs ficam ou saem da Eurolândia!

É por isto que a chanceler Angela Merckel tem vindo a dar sinais sucessivos da sua preocupação perante a leviandade com que os políticos corruptos ou simplesmente irresponsáveis de Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha parecem querer prosseguir com os banquetes orçamentais. A Alemanha tem ela própria sérios problemas económico-financeiros e sociais, tal como a França e o Reino Unido. A situação é explosiva. E o que ninguém quer é que a Grécia ou Portugal, ou sobretudo a Espanha, se transformem de repente nas cavilhas soltas de uma bomba-relógio. O endividamento público e privado que o Ocidente democrático e rico deixou crescer no meio do seu frenético consumismo está mesmo prestes a rebentar!

German Politicians Want Greece to Sell Islands, Bild Reports

 March 4 (Bloomberg) -- German politicians say Greece must sell property, companies and uninhabited islands to raise money for debt payments, the newspaper Bild  reported.

“A bankrupt party must use everything he has to make money and serve his creditors,” said Josef Schlarmann, a member of Chancellor Angela Merkel’s Christian Democratic Union, who heads a lobby representing 40,000 business owners and managers allied to the party. “Greece owns buildings, companies and several uninhabited islands, which can now be used to repay debt.”

Greece must “radically part with company shares and also sell property, for example uninhabited islands,” said Frank Schaeffler, financial expert of Germany’s Free Democratic Party.

Mas o problema dos PIIGS é ainda mais sério no Reino Unido, no Japão ou sobretudo nos Estados Unidos.

Taking On China, by Paul Krugman

March 14, 2010 — Tensions are rising over Chinese economic policy, and rightly so: China’s policy of keeping its currency, the renminbi, undervalued has become a significant drag on global economic recovery. Something must be done.

To give you a sense of the problem: Widespread complaints that China was manipulating its currency — selling renminbi and buying foreign currencies, so as to keep the renminbi weak and China’s exports artificially competitive — began around 2003. At that point China was adding about $10 billion a month to its reserves, and in 2003 it ran an overall surplus on its current account — a broad measure of the trade balance — of $46 billion. — in New York Times.

Talvez por isso os economistas ocidentais, mesmo os mais prestigiados, procurem bodes expiatórios. Erram, porém, o alvo! Quem transformou a economia mundial num gigantesco casino Dona Branca não foram os chineses, mas sim os americanos, ingleses e japoneses, arrastando para esta pirâmide Ponzi boa parte da economia mundial, e certamente todos os especuladores financeiros deste mundo.

US Wants ONLY China To Stop Using FOREX Holdings As Currency Tool, by Elaine Meinel Supkis.

For years and years, I have pointed out the dangers of JAPAN doing this.  Japan invented doing this as a means for keeping the value of the yen cheap so they could infiltrate and destroy US native industries while keeping the US locked nearly totally out of Japan’s domestic markets.  The US struggled for years to force Japan to raise the value of the yen but once Japan began its ZIRP lending coupled with an immense FOREX hoard, all attempts at making the yen ceased.

This was wrecked by China in August, 2007.  After Japan joined the US and EU in demanding China cease holding US dollars and euros, China snapped back that Japan was doing this, how dare they order China to stop doing what Japan was doing!  Japan then sneered at China, saying, ‘We can do whatever we want because we are allies of NATO countries, HAHAHA.’  China then retaliated by forcing the Japanese to pay China in yen, not dollars.  Then, China began hoarding yen and this drove up the value of the yen against the dollar and this killed the Japanese carry trade which caused all that free ZIRP Japanese credit to suddenly vanish and this is the true trigger of the banking collapse, not US homeowners defaulting on loans. - in Culture of Life News.

Apesar da crise de fundo —que deriva da exportação continuada da capacidade produtiva dos países outrora ricos do Ocidente para a China e outros países de mão de obra e moeda baratas— os países endividados, em vez de arrepiarem caminho pelo único lado possível —que é o do regresso à produção de coisas úteis, da eficiência energética, da penalização dos consumos não essenciais, da eliminação do pseudo-emprego e da moralização do serviço público e da política— prosseguem alegremente no caminho da estalinização do Capitalismo especulativo, da manutenção e reforço dum funcionalismo público desorganizado e hipertrofiado, e na especulação desenfreada, desta vez com as dívidas soberanas dos povos!

Para isto especulam com as moedas nesse casino super aquecido chamado FOREX.

A última colocação de dívida pública portuguesa (soberana) a um ano, no mercado especulativo mundial, pagará uma taxa de juro de 1,73%. Mas a taxa directora actual do BCE é de 1%, e poderá baixar! Imagine-se agora que os compradores da nossa dívida se financiam em mercados ainda mais baratos do que o do BCE, por exemplo estes:

Taxas directoras de alguns bancos centrais que seguem a chamada política ZIRP:
  • Banco do Japão = 0,1%
  • Reserva Federal (E.U.A.) = 0,25%
  • Suécia = 0,25%
  • Suíça = 0,25%
  • Banco de Inglaterra = 0,5%
  • Banco do Chile = 0,5%

O negócio não poderia ser mais apetecível, sobretudo porque os reformados, os trabalhadores produtivos e as classes médias cá estarão para pagar. Negócio melhor do que este não há nas presentes circunstâncias.

A menos que surja por aí uma revolução que estrague tudo, os bancos, os grandes grupos económicos e os especuladores a tempo inteiro não querem outra coisa. Melhor do que isto só mesmo empresas públicas privatizadas ao desbarato por governos falidos, corruptos e traidores.


OAM 672—19 Mar 2010 19:39 (última actualização: 22:43)

quinta-feira, março 18, 2010

Vaticana

Deixai vir a mim os pedófilos!

Abuso de crianças: em cinco anos, dez padres indiciados em Portugal

Seis dos dez casos de abuso sexual de crianças cometidos por padres investigados aconteceram em 2007, revela estudo de inspector da PJ

Por toda a Europa sucedem-se as denúncias de padres pedófilos na Igreja Católica e Portugal não fica fora do leque de suspeitas. De 2003 a 2007, dez padres foram indiciados pelo Ministério Público por abuso sexual de crianças, indica um estudo do investigador da Polícia Judiciária (PJ) Pedro Pombo, a que o i teve acesso. Desses dez casos (num total de 5128), seis ocorreram em 2007. O i contactou o Ministério Público para perceber o desfecho destes casos - arquivamento ou acusação -, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição. … in i online.

O Vaticano é a sede de uma seita criminosa, e o actual Papa uma perigosa criatura, ao contrário do que inicialmente me passou pela cabeça. Além dos serviços prestados às SS, na sua qualidade de antigo membro da Juventude Hitleriana, Ratzinger, soube-se entretanto, foi autor em 1962 de um agora desvendado e criminoso decreto chamado Crimen sollicitationis, segundo o qual o Vaticano tem vindo a encobrir centenas, se não mesmo milhares de abusos sexuais por parte de padres da sua congregação, nomeadamente contra crianças. Os casos brasileiro e português são os mais recentemente denunciados.

In his capacity as Prefect, Ratzinger's [1962] letter “Crimen Sollicitationis” which clarified the confidentiality of internal Church investigations into accusations made against priests of certain crimes, including sexual abuse, became a target of controversy during the sex abuse scandal. While bishops hold the secrecy pertained only internally, and did not preclude investigation by civil law enforcement, the letter was often seen as promoting a coverup.[20]  The Pope was accused in a lawsuit of conspiring to cover up the molestation of three boys in Texas, but sought and obtained diplomatic immunity from prosecution. — in Wikipedia.

Além do problema em si, que é quase sempre o da exploração dos mais fracos e a chantagem, soma-se a contradição insanável no interior da teologia e do discurso moral que fundamentam o catolicismo romano. O silêncio dos bispos, cardeais e sumo pontífices é ensurdecedor.

Diz-se que o fim do celibato resolveria, ou atenuaria o problema. Pois é. Mas esse foi o caminho da Reforma luterana, que Roma nunca quis seguir. A corja de batinas carmesim lá saberá porquê!

Surpreendido? De nenhuma maneira. Basta ler o Marquês de Sade e pensar um bocadinho. Se eu fosse pedófilo, ou um insaciável sexual, frio e calculista, teria escolhido a "vocação" de padre católico!

Joseph Ratzinger joined the Hitler Youth in 1941 when, according to him and his supporters, it became compulsory for all German boys. Millions of Germans were in a position similar to that of Joseph Ratzinger and his family, so why spend so much time focusing on him? Because he is no longer merely Joseph Ratzinger, or even a Catholic Cardinal — he is now Pope Benedict XVI. None of the other Germans who joined the Hitler Youth, were part of the military in Nazi Germany, lived near a concentration camp, and watched Jews being rounded up for death camps has ever become pope. — About.com .

Nas vésperas da visita de Ratzinger ao Santuário de Fátima, na sua qualidade de Papa, pergunto à muito desatenta Conferência Episcopal Portuguesa, ao cardeal patriarca de Lisboa e a Frei Bento, que têm a dizer sobre tudo isto? Não sabiam? Ignoram? Só se pronunciarão se a coisa um dia for julgada e vier a transitar em julgado? Poderá esta espécie de anti-Cristo disfarçado de Papa merecer o vosso acolhimento e saudação carinhosa? Deverá ser bem recebido em Portugal?

Merkel wants nazi pope to stop being a nazi.

The Pope is probably the creepiest looking man in robes on this planet.  He is also a clothes horse with delusions of grandeur.  He does love ermine and wine red robes!  And he keeps trying various ways of burying his Nazi past.  Once again, he goofs.  His rehabilitation of a ‘Holocaust denier’ is typical of this guy.  Incidentally, he claims that an encounter in Tübingen, Germany, in the spring of 1968 when a crazy girl hassled him about being a former Nazi is the sole reason he decided to be a hyper-conservative screaming queen.  It was, in other words, all my fault.  Me and my big mouth. — in Culture of Life News.

POST SCRIPTUM
Bavarian bishops pray for abuse victims

A prominent archbishop called Thursday for justice for sexual abuse victims in Germany's Roman Catholic Church, saying they need to feel they can finally speak openly about their suffering.

Reinhard Marx, the archbishop of Munich and Freising, said Catholic bishops in the southern German state of Bavaria — the homeland of Pope Benedict XVI — felt "deep consternation and shame" over the reports of abuse of children in church-run schools and institutions in past weeks. in George Frey And Melissa Eddy, Associated Press Writers – Thu Mar 18, 1:57 pm ET
BAD STAFFELSTEIN, Germany. Yahoo! News.

Sobre as cumplicidades das igrejas cristãs com as ditaduras europeias do século 20, ver também: "Igreja cúmplice do nazismo, fascismo e outras ditaduras" (vídeo)


OAM 671—17 Mar 2010 23:54 (última actualização: 19 Mar 2010 0:50)

terça-feira, março 16, 2010

MC Snake

Quem quer incendiar a cidade?!



A morte em circunstâncias ainda desconhecidas (ler Público) do rapper Mc Snake, na sequência duma perseguição policial automóvel na madrugada desta Segunda Feira é uma tragédia pessoal, familiar e para a tribo urbana do jovem músico que, em 2006, colaborou na produção do álbum "Negociantes" de Sam The Kid — um dos mais criativos e politicamente conscientes músicos urbanos portugueses da actualidade. Estou revoltado!

A notícia é um mau augúrio. Mas o mais preocupante é ler os comentários online sobre o sucedido :-(

O primeiro texto deste blogue foi dedicado à Cova da Moura. Publiquei-o em 24 de Julho de 2003. Nele escrevia sobre o jovem Ângelo baleado mortalmente pelas costas, aos 17 anos, pela PSP, no ido ano de 2001, e da importância de olhar para os guetos deste país com um olhar político e responsável. Organizei então um passeio filosófico à Cova da Moura, com a colaboração da Lieve —uma das impulsionadoras da associação cultural e cívica Moinho da Juventude, e grande defensora dos direitos do bairro. A condução do passeio ficou a cargo dum jovem chamado Joãozinho. Era um rapaz bonito, que prezava o corpo e o traje como qualquer africano genuíno. Sorria como sorri o Sol esplêndido de Lisboa, que dá à Cova da Moura a cor, o som, o cheiro e o pó de África. O grupo de excursionistas (e jantaristas!) percorreu e falou com os mais de quarenta cabeleireiros ali residentes, e que foram desde logo o grande leitmotiv na iniciativa. Terminámos o dia numa longa mesa em volta de uma cachupa, sob o olhar de Lisboa no horizonte. Pouco tempo depois Joaozinho era assassinado, não por polícias, mas por inimigos que a miséria faz.

O West Side Story, agora com rappers pacifistas, mas acordados, voltou a repetir-se. Os tiros pelas costas não têm desculpa!


OAM 670—16 Mar 2010 2:47

sábado, março 13, 2010

Portugal 172

Quando se revoltará a classe média?

O enviado especial das Nações Unidas para a Luta Contra a Tuberculose, Jorge Sampaio, afirmou hoje, no Porto, que "faltam quatro milhões de profissionais de saúde no mundo", principalmente nos países que mais necessitam deles.

…Jorge Sampaio disse ainda que os portugueses devem "relativizar" os problemas que estão a viver com a actual crise, porque muitos outros povos estão a enfrentar situações bastante piores. — in Público (12.03.2010)

Só faltou ao antigo presidente da república acrescentar que os actuais e futuros desempregados do Serviço Nacional de Saúde português têm um emprego à sua espera no Malawi, na Etiópia, no Ruanda, no Zimbabwe, no Haiti, e noutras paragens semelhantes. O devaneio do "enviado especial" não poderia ser mais inoportuno e sujeito às piores interpretações. Se o "enviado" acredita que a receita de sempre —expulsar os portugueses da sua terra e dos seus empregos, pondo-os a render no ultramar ou nos aviários da Irlanda— voltará a dar patacas que cheguem para alimentar o bordel lusitano, desengane-se! A nomenclatura indecorosa que depois de 35 anos de democracia populista levou Portugal à ruína, colocando-o de novo à beira de um colapso de regime, tem que começar a contar pelos dedos —já que há muito perdeu a faculdade de usar o intelecto.

Aquilo a que estamos neste momento a assistir, com a colaboração dissimulada de todas as seitas do actual sistema partidário, é a um endividamento sem precedentes do Estado, ao roubo sem limites do património nacional, e à sangria assassina da escassa poupança acumulada de milhões de portugueses, pela via fiscal directa e indirecta. As receitas da emigração fazem ainda parte desta expropriação sem precedentes da riqueza produzida por muitos de nós.

"Porque é que o Banco de Portugal vende o ouro da República?" — pergunta Jorge J. Landeiro de Vaz, Professor do ISEG/UTL, num artigo publicado pelo Expresso em 5 de Junho de 2009.

Em 1971 as reservas de ouro do Banco de Portugal ascendiam a 818,3 toneladas; em 2001, ou seja 30 anos depois, ainda eram 606,7 tons. mas em Março de 2009 já só existem à guarda do Banco de Portugal 382,5 tons. Porquê?

Será que alguém explica aos Portugueses porque é que em 38 anos a democracia fez voar 435,8 tons de ouro, herdadas do "fascismo" e do "colonialismo", ou seja  53%  daquelas  reservas.

Alguém explica aos Portugueses porque é que nos últimos 8 anos foram vendidas 224,2 tons de ouro; ou seja nos últimos 8 anos, o Portugal da zona euro vende alegremente, em média 28 tons de ouro por ano. A  este ritmo, dentro de 14 anos não haverá ouro no Banco de Portugal.

... Num contexto de empobrecimento económico e endividamento público e privado, o ouro do Banco de Portugal não pode ser visto como activo de liquidação, mas como reserva de soberania. Há uma responsabilidade intergeracional que o exige. Deixemos esse património aos nossos filhos e teremos feito alguma coisa por eles, pelo menos como penhor dos passivos que airosamente lhes vamos legar.

Ainda que admitamos que valor total das reservas de ouro sejam ligeiramente mais elevadas —407,5 toneladas— o resultado assustador não deixa de ser este: aos preços de hoje (805,72 euros a onça troy), uma tal reserva de ouro, que valerá qualquer coisa como 10 556 082 233 euros, não chega a 7% da nossa dívida pública: 164 879 600 000 (OE2010).

Resumindo a grosso modo, a situação portuguesa, que nos aproxima efectivamente da Grécia, apesar dos protestos de quem quer sacudir a água do capote (Teixeira dos Santos, Sócrates, Cavaco Silva...), é esta:
  • PIB previsto para 2010 (OE2010) = 167 367 100 000
  • endividamento das famílias em % do rendimento disponível (2001) = ~96
  • défice externo (anual) em % do PIB (2008) = -10,6
  • divida externa líquida em % do PIB = >100
  • dívida externa bruta em % do PIB (2008) = >200
  • dívida pública em % do PIB (2008) = >108
  • divida pública + divida privada em % do PIB (2007) = ~300
  • dívida externa em % das exportações = ~700
  • taxa de crescimento do PIB (previsão para 2010-2013) = <1%
  • taxa de desemprego oficial (dez. 2009) = 10,2% (567,7 mil desempregados/ procura de emprego)
  • taxa efectiva de desemprego (dez. 2009) = 12,7% (716,9 mil desempregados/ procura de emprego)
  • emigração (1992-2003) = 330 741
Entretanto, o PEC prevê alienar bens públicos —TAP, ANA, CTT, REN, seguradora da CGD, e participações accionistas minoritárias na EDP, Galp e Cahora Bassa— no valor de 6 mil milhões de euros. Se a privatização de certas actividades de exploração (CTT, TAP, CP e Metro) são no limite toleráveis, o mesmo não sucede com a privatização de monopólios e quase monopólios estratégicos, como sejam a ANA, EDP e REN. Alienar o único banco de Estado, ainda que apenas e para já o seu ramo de seguros, é de uma irresponsabilidade bestial! O que está em curso, e não vai parar, a menos que a classe média resolva revoltar-se (e tem meios para tal), é o saque sistemático e inglório da riqueza nacional pública e privada — pela via das privatizações, pela via da punção fiscal, e ainda por via da inflação que não tardará a chegar. Que seja o Partido Socialista a dar este derradeiro passo no longo e fracassado programa neoliberal de privatização do Estado, inaugurado por Reagan e Thatcher, não deixa de ser um epílogo no mínimo obsceno.

O país está falido, é certo. Mas então façamos uma desvalorização criativa da moeda! Como? É simples: reduzamos em 10% os vencimentos da Função Pública e do sector empresarial do Estado, acima dos 1000 euros, até 2013. Os salários do sector empresarial seguiriam naturalmente uma tal medida. Aliás, se tivéssemos moeda própria, a alternativa seria inevitavelmente proceder à sua desvalorização, o que teria os mesmos resultados práticos. Porém, se nada fizermos, corremos o risco de passar por uma quarentena fora do euro, o que provavelmente implicaria uma queda abrupta instantânea do nosso poder de compra na ordem dos 30%. O problema é pois mais de linguagem e de persuasão criativa, do que de substância. Até porque as duvidosas receitas de privatizações inscritas no PEC —6 mil milhões de euros— apenas taparão, se forem integralmente obtidas (o que duvido muitíssimo), quatro meses do nosso endividamento público galopante, ao mesmo tempo que reduzem a nada os poucos anéis que ainda temos no dedo mindinho.

O Capitalismo falido do Ocidente, que desde meados da década de 70 resolveu apostar na destruição das suas capacidades produtivas, exportando os respectivos negócios para as antigas colónias, e inventando ao mesmo tempo uma fórmula de crescimento económico baseada no endividamento dos estados, das empresas e das pessoas, começou agora a roer as unhas, ou pior ainda, a comer os seus próprios filhos, como Urano! Em contraponto, o capitalismo de estado de países como a China, Japão, Rússia, Arábia Saudita, etc., faz exactamente o contrário: protege as riquezas nacionais da voragem ruinosa e assassina dos especuladores individuais.

O problema de Portugal é pois muito grave, ao contrário do que a propaganda do sistema pretende fazer crer. A nossa dívida global cresce a um ritmo exponencial, correndo o sério risco de se tornar incontrolável. Vender os anéis e os dedos é como ir a uma casa de penhores dirigida por sádicos, sabendo que não recuperaremos as jóias de família. Confiar na emigração, como o discurso inconsciente de Jorge Sampaio claramente induz a pensar, é uma ilusão pura, que não compreende um facto histórico essencial: as mesadas coloniais que começaram em 1415, com a conquista de Ceuta, morreram definitivamente!

A partir de agora teremos que começar a trabalhar. Mas para isso teremos primeiro que correr com a corja que se governa em nosso nome.


OAM 699—13 Mar 2010 4:03 (última actualização 17:30)

sexta-feira, março 12, 2010

Internet

Não ao ACTA!

Parliament threatens court action on anti-piracy treaty
Published: 10 March 2010 | Updated: 12 March 2010

The European Parliament defied the EU executive today (10 March), casting a vote against an agreement between the EU, the US and other major powers on combating online piracy and threatening to take legal action at the European Court of Justice.

An overwhelming majority of MEPs (663 in favour and 13 against) today voted a resolution criticising the Anti-Counterfeiting Trade Agreement (ACTA), arguing that it flouts agreed EU laws on piracy online.

The Parliament's resolution states that MEPs will go to the EU Court of Justice if the European Commission, which is leading the negotiation on behalf of the European Union, does not reject ACTA rules that would allow cutting off users from the Internet if caught downloading copyrighted content. — Ler mais.

O ACTA (Anti-Counterfeiting Trade Agreement) é um atentado à liberdade de comunicação, circulação de ideias e de mercadorias no ciber-espaço, e é uma tentativa de os monopólios da comunicação (redes físicas, redes electrónicas e conteúdos) se apropriarem da propriedade virtual que é a Internet. Sob o pretexto da defesa dos direitos de autor alguns americanos, europeus e asiáticos, conspiram há muito para transformar o ciberespaço numa coutada global. A isto teremos que dizer não.

Devemos ainda e desde já exigir aos deputados da Assembleia da República, aos partidos políticos portugueses e aos anunciados, e confirmados, candidatos presidenciais, que tomem posição imediata sobre este assunto.

A crise económico-financeira é um assunto prioritário. Mas não podemos esquecer que é precisamente durante estas crises, em que a atenção pública se encontra demasiado focada num só tema, que as negociatas e por vezes atentados às liberdades públicas se insinuam e por vezes conseguem impor-se.

Speak out against ACTA

ACTA, the Anti-Counterfeiting Trade Agreement, is a proposed enforcement treaty between United States, the European Community, Switzerland, Japan, Australia, the Republic of Korea, New Zealand and Mexico, with Canada set to join any day now.

Although the proposed treaty’s title might suggest that the agreement deals only with counterfeit physical goods (such as medicines), what little information has been made available publicly by negotiating governments about the content of the treaty makes it clear that it will have a far broader scope, and in particular, will deal with new tools targeting “Internet distribution and information technology”. — in Free Software Foundation.

EU Parliament votes 663-13 against ACTA's enforcement measures
Cory Doctorow at 7:40 AM March 10, 2010

The European Parliament resoundingly voted against the secret Anti-Counterfeiting Trade Agreement (ACTA), in a resounding 663 to 13 tally. The parliamentarians defied the EU executive and threatened to take the issue to the European Court of Justice if the EU doesn't reject ACTA's provisions on disconnection for infringement and other enforcement provisions.  — in Boing Boing.

OAM 698—12 Mar 2010 11:39