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sexta-feira, março 19, 2010

Portugal 173

Depois dos PECs



Ou fazemos da cura de emagrecimento que aí vem uma oportunidade de saneamento e correcção da nossa maneira de trabalhar, imaginar e conviver, ou não faltarão tumultos e aflição por toda a parte.

Barroso: ‘No country can be expelled from euro zone’

19 March 2010 - In an interview to be broadcast ahead of an EU summit next week, European Commission President José Manuel Barroso says expelling a country from the euro zone, as suggested by German Chancellor Merkel, would be against EU treaty rules. — in EurActiv.

A Eurolândia tem uma moeda forte. Chama-se Euro. Esta nova e revolucionária divisa financeira de sucesso —a primeira das futuras moedas regionais em germinação (haverá uma moeda asiática, e outra pan-americana, pelo menos)— é, por enquanto, um euro-marco, quer dizer, uma moeda cuja robustez depende sobretudo das exportações e da saúde económico-financeira da Alemanha.

Apesar da locomotiva industrial e técnico-científica alemã continuar a precisar de estabelecer o seu "espaço vital" (Lebensraum) a Leste, a verdade é que duas devastadoras e horríveis guerras mundiais com origem na Alemanha convenceram aquele país e o continente (o reino inglês ainda não aprendeu) a optar por uma via pacífica em direcção a uma espécie de Estados Unidos da Europa. Sendo a Alemanha quem mais perderá com uma sempre possível implosão do espaço vital alargado que é a União Europeia actualmente em construção, Berlim, ou melhor Frankfurt, decidiu abrir os cordões à bolsa para financiar os mais atrasados, de Dresden a Lisboa, passando por Atenas e Madrid. O preço foi gigantesco e pesa hoje de forma visível na degradação material do estilo de vida alemão, a começar pelas cicatrizes urbanas que não param de aumentar. Pior: boa parte da poupança europeia esvaiu-se, ao longo dos últimos vinte anos, no consumismo hedonista, no narcisismo burocrático e na corrupção. A crise aguda das chamadas dívidas soberanas em países como a Islândia, Irlanda, Grécia, Portugal, Itália e Espanha, não atingiu ainda a sua fase realmente crítica. Alguns analistas falam de Junho e em todo o caso deste próximo Verão como uma prova de fogo. Veremos até lá se os PIIGs ficam ou saem da Eurolândia!

É por isto que a chanceler Angela Merckel tem vindo a dar sinais sucessivos da sua preocupação perante a leviandade com que os políticos corruptos ou simplesmente irresponsáveis de Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha parecem querer prosseguir com os banquetes orçamentais. A Alemanha tem ela própria sérios problemas económico-financeiros e sociais, tal como a França e o Reino Unido. A situação é explosiva. E o que ninguém quer é que a Grécia ou Portugal, ou sobretudo a Espanha, se transformem de repente nas cavilhas soltas de uma bomba-relógio. O endividamento público e privado que o Ocidente democrático e rico deixou crescer no meio do seu frenético consumismo está mesmo prestes a rebentar!

German Politicians Want Greece to Sell Islands, Bild Reports

 March 4 (Bloomberg) -- German politicians say Greece must sell property, companies and uninhabited islands to raise money for debt payments, the newspaper Bild  reported.

“A bankrupt party must use everything he has to make money and serve his creditors,” said Josef Schlarmann, a member of Chancellor Angela Merkel’s Christian Democratic Union, who heads a lobby representing 40,000 business owners and managers allied to the party. “Greece owns buildings, companies and several uninhabited islands, which can now be used to repay debt.”

Greece must “radically part with company shares and also sell property, for example uninhabited islands,” said Frank Schaeffler, financial expert of Germany’s Free Democratic Party.

Mas o problema dos PIIGS é ainda mais sério no Reino Unido, no Japão ou sobretudo nos Estados Unidos.

Taking On China, by Paul Krugman

March 14, 2010 — Tensions are rising over Chinese economic policy, and rightly so: China’s policy of keeping its currency, the renminbi, undervalued has become a significant drag on global economic recovery. Something must be done.

To give you a sense of the problem: Widespread complaints that China was manipulating its currency — selling renminbi and buying foreign currencies, so as to keep the renminbi weak and China’s exports artificially competitive — began around 2003. At that point China was adding about $10 billion a month to its reserves, and in 2003 it ran an overall surplus on its current account — a broad measure of the trade balance — of $46 billion. — in New York Times.

Talvez por isso os economistas ocidentais, mesmo os mais prestigiados, procurem bodes expiatórios. Erram, porém, o alvo! Quem transformou a economia mundial num gigantesco casino Dona Branca não foram os chineses, mas sim os americanos, ingleses e japoneses, arrastando para esta pirâmide Ponzi boa parte da economia mundial, e certamente todos os especuladores financeiros deste mundo.

US Wants ONLY China To Stop Using FOREX Holdings As Currency Tool, by Elaine Meinel Supkis.

For years and years, I have pointed out the dangers of JAPAN doing this.  Japan invented doing this as a means for keeping the value of the yen cheap so they could infiltrate and destroy US native industries while keeping the US locked nearly totally out of Japan’s domestic markets.  The US struggled for years to force Japan to raise the value of the yen but once Japan began its ZIRP lending coupled with an immense FOREX hoard, all attempts at making the yen ceased.

This was wrecked by China in August, 2007.  After Japan joined the US and EU in demanding China cease holding US dollars and euros, China snapped back that Japan was doing this, how dare they order China to stop doing what Japan was doing!  Japan then sneered at China, saying, ‘We can do whatever we want because we are allies of NATO countries, HAHAHA.’  China then retaliated by forcing the Japanese to pay China in yen, not dollars.  Then, China began hoarding yen and this drove up the value of the yen against the dollar and this killed the Japanese carry trade which caused all that free ZIRP Japanese credit to suddenly vanish and this is the true trigger of the banking collapse, not US homeowners defaulting on loans. - in Culture of Life News.

Apesar da crise de fundo —que deriva da exportação continuada da capacidade produtiva dos países outrora ricos do Ocidente para a China e outros países de mão de obra e moeda baratas— os países endividados, em vez de arrepiarem caminho pelo único lado possível —que é o do regresso à produção de coisas úteis, da eficiência energética, da penalização dos consumos não essenciais, da eliminação do pseudo-emprego e da moralização do serviço público e da política— prosseguem alegremente no caminho da estalinização do Capitalismo especulativo, da manutenção e reforço dum funcionalismo público desorganizado e hipertrofiado, e na especulação desenfreada, desta vez com as dívidas soberanas dos povos!

Para isto especulam com as moedas nesse casino super aquecido chamado FOREX.

A última colocação de dívida pública portuguesa (soberana) a um ano, no mercado especulativo mundial, pagará uma taxa de juro de 1,73%. Mas a taxa directora actual do BCE é de 1%, e poderá baixar! Imagine-se agora que os compradores da nossa dívida se financiam em mercados ainda mais baratos do que o do BCE, por exemplo estes:

Taxas directoras de alguns bancos centrais que seguem a chamada política ZIRP:
  • Banco do Japão = 0,1%
  • Reserva Federal (E.U.A.) = 0,25%
  • Suécia = 0,25%
  • Suíça = 0,25%
  • Banco de Inglaterra = 0,5%
  • Banco do Chile = 0,5%

O negócio não poderia ser mais apetecível, sobretudo porque os reformados, os trabalhadores produtivos e as classes médias cá estarão para pagar. Negócio melhor do que este não há nas presentes circunstâncias.

A menos que surja por aí uma revolução que estrague tudo, os bancos, os grandes grupos económicos e os especuladores a tempo inteiro não querem outra coisa. Melhor do que isto só mesmo empresas públicas privatizadas ao desbarato por governos falidos, corruptos e traidores.


OAM 672—19 Mar 2010 19:39 (última actualização: 22:43)

sexta-feira, agosto 15, 2008

Eurasia adiada - 4

Guerra Fria?

15-08-2008. "Infelizmente, depois do que aconteceu, é improvável que os ossetianos e abecazes consigam viver dentro do mesmo Estado que os georgianos" -- Dmitry Medvedev (Estadao.com.br).

15-08-2008. "Esperamos que os responsáveis russos reconheçam que um futuro de cooperação e de paz será benéfico para todas as partes. A guerra fria terminou." -- George W. Bush (AFP).

15-08-2008. Poland has signed a preliminary deal with the US on plans to host part of its new missile defence shield. Under the agreement, the US will install 10 interceptor missiles at a base on the Baltic coast in return for help strengthening Polish air defences. -- BBC.
A probabilidade de um isolamento internacional da Rússia é quase nula (1) e tem uma explicação simples: o próximo maior mercado do mundo não se chamará Europa, nem Estados Unidos, mas Ásia -- e está a chegar!

O PIB da China, segundo Albert Keidel, ultrapassará o dos EUA em 2035 e duplicá-lo-á em 2050. Para atingir estas metas, Pequim conta naturalmente com o petróleo e o gás natural do Irão e do Mar Cáspio, para o que criou uma aliança alternativa à NATO, chamada The Shanghai Cooperation Organization (SCO), da qual fazem parte a China, a Rússia, o Cazaquistão, o Quirguistão, o Tajiquistão e o Uzbequistão. A Índia e o Irão são dois dos países observadores que em breve poderão juntar-se ao novo clube de milionários.

Entretanto, à hora que escrevo esta crónica, a orgulhosa China leva 12 medalhas de ouro olímpicas de vantagem sobre os Estados Unidos. Os símbolos contam!

Por sua vez, o preço do petróleo continuará a subir a uma média dificilmente inferior a 30% ao ano, apesar da queda pronunciada das últimas semanas (2). Isto significa que em Agosto de 2009 o barril de crude não deverá custar menos do que 144 USD, em Agosto de 2010, 187 USD, em Agosto de 2010, 243 USD, etc. Países como Portugal têm um futuro imediato bem difícil (3).

Até 2010, Estados Unidos e Europa andarão às voltas com as suas respectivas recessões, pouco dispostos a alimentar mais aventuras militares inconsequentes (4).

A probabilidade de uma paragem da globalização e subsequente divisão do mundo em dois hemisférios proteccionistas é pois mais alta do que estamos preparados para admitir neste momento. À medida que o casino dos chamados mercados de derivados começar a destruir a economia ocidental, a necessidade de um novo Tratado de Tordesilhas tornar-se-à evidente para todos.

Estados Unidos e Europa têm que mudar de vida quanto antes, tornando-se mais eficientes no uso da energia, menos consumistas e mais produtivos. Para aí chegar terão que abandonar alguns famosos instrumentos outrora cruciais ao seu exercício imperial, mas que já hoje são caros e irrelevantes, ou caminham para a falência: G8, FMI, Banco Mundial e Organização Mundial de Comércio. Para poder retomar a paridade estratégica que está a caminho de perder, Estados Unidos e Europa só dispõem de uma alternativa: voltar ao proteccionismo comercial, ainda que seguindo modelos selectivos, porventura originais.

A retórica americana e europeia sobre a Geórgia e a independência da Ossétia e da Abcácia não passa de uma terrível hipocrisia. Depois de tudo o que fizeram no Cosovo, no Afeganistão e no Iraque, e deixaram fazer na Palestina, depois do modo indecoroso como a União Europeia tolerou aos Estados Unidos toda a espécie de crimes (5), ou permitiu, sem um reparo, o acosso imperial permanente da Rússia pós-soviética, Washington e Bruxelas não têm qualquer autoridade para condenar a acção punitiva de Moscovo contra uma "democracia cor-de-rosa" que, na realidade, nada mais é do que um tentáculo dos Estados Unidos. Talvez por isto mesmo, Washington tenha tamanha dificuldade em engolir a ensaboadela que inesperadamente está a levar.

Tanto na Rússia, como na China, ou na Coreia, e não apenas, portanto, no vasto mundo muçulmano, cresce uma revolta surda contra os Estados Unidos. São sobretudo os mais jovens que protagonizam esta crescente hostilidade cultural. As suas acções de guerrilha electrónica revelam, aliás, o imenso potencial de crítica e agressividade em gestação.
Online grassroots communities have united and set up websites in Russian offering software available for download to initiate DDOS attacks. The Georgian government's website was hacked on Monday, with the front page replaced with images of Adolf Hitler. Georgian hackers have retaliated with their own cyber attacks on Russian websites, but as in the physical world they have been largely out-gunned and bloggers who have attempted to post photos of the advance of the Russian military machine have rapidly found their own websites under counter fire. -- Georgia under web fire. By Martin J Young, in Asia Times.
Numa palavra, a estratégia da supremacia imperial praticada pelos Estados Unidos faliu e só poderá dar desgostos a quem a seguir. A Europa de Leste foi entalada pela sua própria estupidez e pela falta de tino e capacidade de decisão da União Europeia. O cretinismo político dos polacos e dos checos conduziu ambos os países a um beco sem saída. Poderá Bruxelas fazer alguma coisa? Ou iremos, pelo contrário, assistir à implosão definitiva do Tratado de Lisboa? Durão Barroso, para já, está a banhos algures no Algarve. Eu também vou para lá, até ao fim do mês!

Deixo aos que me lêem, três leituras recomendáveis, a propósito da decadência irreversível dos paradigmas militares e diplomáticos da América.

Geopolitical Chess: Background to a Mini-war in the Caucasus. By Immanuel Wallerstein.

15-08-2008. It is perfectly true, as everyone observed at the time, that the Yalta rules were abrogated in 1989 and that the game between the United States and (as of 1991) Russia had changed radically. The major problem since then is that the United States misunderstood the new rules of the game. It proclaimed itself, and was proclaimed by many others, the lone superpower. In terms of chess rules, this was interpreted to mean that the United States was free to move about the chessboard as it saw fit, and in particular to transfer former Soviet pawns to its sphere of influence. Under Clinton, and even more spectacularly under George W. Bush, the United States proceeded to play the game this way.

There was only one problem with this: The United States was not the lone superpower; it was no longer even a superpower at all. The end of the Cold War meant that the United States had been demoted from being one of two superpowers to being one strong state in a truly multilateral distribution of real power in the interstate system. Many large countries were now able to play their own chess games without clearing their moves with one of the two erstwhile superpowers. And they began to do so. -- in Geopolitical Chess: Background to a Mini-war in the Caucasus, by Immanuel Wallerstein.

The Limits of Power: The End of American Exceptionalism. By Andrew Bacevich.

Iraq and Afghanistan remind us that war is not subject to reinvention, whatever Bush and Pentagon proponents of the so-called Revolution in Military Affairs may contend.

War's essential nature is fixed, permanent, intractable, and irrepressible. War's constant companions are uncertainty and risk. "War is the realm of chance," wrote the military theorist Carl von Clausewitz nearly two centuries ago. "No other human activity gives it greater scope: no other has such incessant and varied dealings with this intruder ... " - a judgment that the invention of the computer, the Internet, and precision-guided munitions has done nothing to overturn.

So the first lesson to be taken away from the Bush administration's two military adventures is simply this: War remains today what it has always been - elusive, untamed, costly, difficult to control, fraught with surprise, and sure to give rise to unexpected consequences. Only the truly demented will imagine otherwise.

The second lesson of Iraq and Afghanistan derives from the first. As has been the case throughout history, the utility of armed force remains finite. Even in the information age, to the extent that force "works", it does so with respect to a limited range of contingencies.

Although diehard supporters of the "war on terror" will insist otherwise, events in Iraq and Afghanistan have demonstrated definitively that further reliance on coercive methods will not enable the United States to achieve its objectives. Whether the actual aim is to democratize the Islamic world or subdue it, the military "option" is not the answer.

The Bush Doctrine itself provides the basis for a third lesson. For centuries, the Western moral tradition has categorically rejected the concept of preventive war. The events of 9/11 convinced some that this tradition no longer applied: old constraints had to give way. Yet our actual experience with preventive war suggests that, even setting moral considerations aside, to launch a war today to eliminate a danger that might pose a threat at some future date is just plain stupid. It doesn't work.

History has repeatedly demonstrated the irrationality of preventive war. If the world needed a further demonstration, Bush provided it. Iraq shows us why the Bush Doctrine was a bad idea in the first place and why its abrogation has become essential. For principled guidance in determining when the use of force is appropriate, the country should conform to the just war tradition - not only because that tradition is consistent with our professed moral values, but also because its provisions provide an eminently useful guide for sound statecraft.

Finally, there is a fourth lesson, relating to the formulation of strategy. The results of US policy in Iraq and Afghanistan suggest that in the upper echelons of the government and among the senior ranks of the officer corps, this has become a lost art.

Since the end of the Cold War, the tendency among civilians - with Bush a prime example - has been to confuse strategy with ideology. The president's freedom agenda, which supposedly provided a blueprint for how to prosecute the "war on terror", expressed grandiose aspirations without serious effort to assess the means required to achieve them. Meanwhile, ever since the Vietnam War ended, the tendency among military officers has been to confuse strategy with operations.

Here we come face-to-face with the essential dilemma with which the United States has unsuccessfully wrestled since the Soviets deprived us of a stabilizing adversary. The political elite that ought to bear the chief responsibility for crafting grand strategy instead nurses fantasies of either achieving permanent global hegemony or remaking the world in America's image. Meanwhile, the military elite that could puncture those fantasies and help restore a modicum of realism to US policy fixates on campaigns and battles, with generalship largely a business of organizing and coordinating materiel.

The four lessons of Iraq and Afghanistan boil down to this: Events have exposed as illusory American pretensions to having mastered war. Even today, war is hardly more subject to human control than the tides or the weather. Simply trying harder - investing ever larger sums in even more advanced technology, devising novel techniques, or even improving the quality of American generalship - will not enable the United States to evade that reality.

As measured by results achieved, the performance of the military since the end of the Cold War and especially since 9/11 has been unimpressive. This indifferent record of success leads some observers to argue that we need a bigger army or a different army.

But the problem lies less with the army that we have - a very fine one, which every citizen should wish to preserve - than with the requirements that we have imposed on our soldiers. Rather than expanding or reconfiguring that army, we need to treat it with the respect that it deserves. That means protecting it from further abuse of the sort that it has endured since 2001.

America doesn't need a bigger army. It needs a smaller - that is, more modest - foreign policy, one that assigns soldiers missions that are consistent with their capabilities. Modesty implies giving up on the illusions of grandeur to which the end of the Cold War and then 9/11 gave rise. It also means reining in the imperial presidents who expect the army to make good on those illusions. When it comes to supporting the troops, here lies the essence of a citizen's obligation.

-- Andrew Bacevich, professor of history and international relations at Boston University, retired from the US Army with the rank of colonel. This piece is adapted from his new book, The Limits of Power: The End of American Exceptionalism (Metropolitan Books, 2008). He is also the author of The New American Militarism, among other books. In Asia Times.


Second Chance
. By Zbigniew Brzezinski (actual conselheiro de Barak Obama...)

Given America's growing global indebtedness (it now borrows some 80 percent of the world's savings) and huge trade deficits, a major finantial crisis, especially in an atmosphere of emotionally charged and globally anti-American feeling, could have dire consequences for America's well-being and security. The euro is becoming a serious rival to the dollar and there is talk of an Asian counterpart to both (6). A hostile Asia and a self-absorbed Europe could at some point become less inclined to continue financing the U.S. debt.

(...)

At the onset of the global era, a dominant power has therefore no choice but to pursue a foreign policy that is truly globalist in spirit, content, and scope. Nothing could be worse for America, end eventually the world, than if American policy were universally viewed as arrogantly imperial in a postimperial age, mired in a colonial relapse in a postcolonial time, selfishly indifferent in the face of umprecendented global interdependence, and culturally self-righteous in a religiously diverse world. The crisis of American superpower would then become terminal.

-- in Second Chance: Three Presidents and the Crisis of American Superpower, 2007.



NOTAS
  1. Ou será que a China também poderá estar interessada numa nova "cortina de ferro" entre a Rússia e a Europa (Alemanha)? - Ler China seeks Caucasian crisis windfall.
  2. A subida repentina do preço do crude para níveis bem superiores às previsões mais pessimistas, ao longo da primeira metade de 2008, conduziu a uma espiral inflacionista, que apressou a esperada recessão americana e europeia e provocou depois uma inevitável, embora pontual, destruição da procura dos produtos petrolíferos. Sabendo-se o peso que a especulação tem tido nesta fuga precipitada do casino imobiliário para as matérias primas industriais e alimentares, percebe-se melhor o dramatismo das oscilações. O mundo, sobretudo a Europa e os Estados Unidos, estão metidos numa camisa de sete varas: a chegada, cada vez mais evidente, do pico petrolífero, empurra os preços da energia para cima; mas a espiral inflacionista das "commodities", por sua vez, arruína a economia, levando à quebra dezenas de bancos, milhares de empresas e milhões os orçamentos familiares. Ou seja, a primeira consequência previsível do pico petrolífero é o regresso, porventura em doses nunca sofridas, da estagflação.
    August 16 2008. "...our future affair with oil may be within an overall trend of declining supply and rising demand, with volatility of prices from the anxiety of the market in which demand surges higher over supply. But the prices will be intermittently buffeted up and down by the fluctuations of economic growth and its levels of fluctuating demand for oil. As investors vie for advantage, they too will aggravate the gyrating price trends." -- James Leigh, Rollercoaster of oil prices: between a rock and a hard place", Energy Bulletin.

  3. O bloco central do betão, protagonizado ao mais alto nível por António Vitorino ("socialista") e Ângelo Correia ("social-democrata"), está em guerra antecipada contra Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva. Mas são estes que vão ganhar a partida, sobretudo se tiverem, no momento certo, os generais com a inteligência táctica e a voz grossa necessárias para colocar nos eixos a clientela anafada que ao longo das últimas décadas se encarregou de colocar Portugal numa trajectória de falência potencial.
  4. Este meu optimismo deve ser moderado por outros pontos de vista, nomeadamente sobre a articulação entre o actual colapso da economia americana e a solução bélica proposta por alguns estrategas dos EUA (Republicanos e Democratas!) O bloqueio do Estreito de Ormuz será, segundo esta perspectiva, a fuga militar perfeita da aliança EUA-Reino Unido-França-Israel às presentes dificuldades económicas, e a resposta antecipada ao ascenso da China. Nesta perspectiva, a fabricada crise da Geórgia, serve apenas como manobra de diversão, para isolar a Rússia e preparar psicologicamente o Ocidente para o ataque em larga escala, em preparação, contra o Irão. Recomendo, a propósito, a leitura de dois artigos: Putin Walks into a Trap, de Mike Whitney, e Wag the Dog: How to Conceal Massive Economic Collapse, assinado por Ellen Brown.

    O de Mike Whitney começa assim:
    August 14, 2008. The American-armed and trained Georgian army swarmed into South Ossetia last Thursday, killing an estimated 2,000 civilians, sending 40,000 South Ossetians fleeing over the Russian border, and destroying much of the capital, Tskhinvali. The attack was unprovoked and took place a full 24 hours before even ONE Russian soldier set foot in South Ossetia. Nevertheless, the vast majority of Americans still believe that the Russian army invaded Georgian territory first. The BBC, AP, NPR, the New York Times and the rest of the establishment media has consistently and deliberately misled its readers into believing that the violence in South Ossetia was initiated by the Kremlin. Let's be clear, it wasn't. In truth, there is NO dispute about the facts except among the people who rely the western press for their information. Despite its steady loss of credibility, the corporate media continues to operate as the propaganda-arm of the Pentagon. -- in Global Research.

    Por sua vez, Ellen Brown escreve:
    The underlying problem is little discussed but impossible to repair – a one quadrillion dollar derivatives scheme that is now imploding. Banks everywhere are facing massive writeoffs, putting the whole banking system on the brink of collapse. Only public bailouts will save it, but they could bankrupt the nation. -- in Global Research.

  5. O Tribunal Penal Internacional (que os EUA não reconhecem, obviamente!) deveria ter colocado os Estados Unidos e meia Europa no banco dos réus a partir do momento em que o Iraque foi militarmente atacado, invadido e ocupado sem nenhum pretexto válido. Deveria ter emitido mandatos de captura contra o senhores Bush, Cheney e Rumsfeld, no momento em que o mundo teve conhecimento das torturas e humilhações infligidas na prisão militar americana de Abu Ghraib, no campo de concentração de Guantanamo (Cuba) ou nos recentemente divulgados campos de concentração americanos para jovens e crianças, em pleno Iraque (vídeo). No entanto, parece que o TPI não passa de mais uma instância impotente da justiça internacional, forte com os fracos, e fraca com os fortes.
  6. 17-08-2008. Mais cedo do que se esperava, aí está a internacionalização do Yuan. É a consequência directa da falência dos dois gigantes semi-estatais que seguravam os riscos bancários no casino imobiliário americano: Fannie Mae e Freddie Mac. Estes mamutes financeiros colapsaram (enquanto outros --Lehman Brothers, etc.-- vão na mesma direcção) e estão agora na unidade de cuidados intensivos da Casa Branca. Uma das maneiras de impedir a falência declarada é passar a factura aos consumidores americanos sob a forma de inflação, outra, é imprimir mais umas toneladas de dólares sem valor. Mas a que terá alguma credibilidade junto dos países ricos (China, Singapura, Rússia ou Emiratos Árabes Unidos) é a troca de uma parte da imensa dívida americana por pedaços de terra que se vejam: a Formosa, o Irão, ou o Tibete, por exemplo! Apesar do latir de Sarkozy, os europeus terão que abandonar de vez as suas revoluções cor-de-rosa falidas na antiga Europa de Leste, sob pena de mergulharem numa depressão sem fim. Ler estes 3 artigos: U.S. likely to recapitalize Fannie, Freddie (Reuters); Analysts expecting large loss from Lehman (Herald Tribune), e China mulls first offshore currency market The Finantial Express).

OAM 421 15-08-2008 19:02 (última actualização: 18-08-2008 13:40)

quinta-feira, agosto 14, 2008

Eurasia adiada - 3

Afinal, um Irão nuclear até dava jeito!
Jul 30, 2008
Russia takes control of Turkmen (world?) gas
By M K Bhadrakumar

From the details coming out of Ashgabat in Turkmenistan and Moscow over the weekend, it is apparent that the great game over Caspian energy has taken a dramatic turn. In the geopolitics of energy security, nothing like this has happened before. The United States has suffered a huge defeat in the race for Caspian gas. The question now is how much longer Washington could afford to keep Iran out of the energy market.

Gazprom, Russia's energy leviathan, signed two major agreements in Ashgabat on Friday outlining a new scheme for purchase of Turkmen gas. The first one elaborates the price formation principles that will be guiding the Russian gas purchase from Turkmenistan during the next 20-year period. -- in Asia Times.

Este artigo é particularmente oportuno para entender a crise militar, ou melhor, a guerra em curso na Geórgia e na Ossétia do Sul. Eu escrevera já que o braço de ferro no Médio Oriente e no Mar Cáspio, tal como as guerras no Afeganistão e no Iraque, ou a ameaça ao Irão, têm única e exclusivamente que ver com as reservas estratégicas de petróleo e gás natural existentes naquela vasta região.

Ao contrário do que pensam Nuno Rogeiro e muitos outros comentadores de televisão mal preparados, os jogos de estratégia não são passatempos para jornalistas e jogadores de Playstation, mas instrumentos complexos destinados a obter resultados práticos de política nacional. No caso, e pelo menos desde o princípio do século 20, a definição dos poderes dominantes mundiais fez-se essencialmente à custa do domínio militar das principais zonas petrolíferas do planeta e respectivas rotas de acesso. O Grande Jogo, há muito proposto por Brzezinski, não fala de outra coisa, ainda que sob a capa da integração pacífica da Rússia numa Eurásia pró-atlântica e pró-americana com o seu centro de gravidade na Europa Ocidental.

Perante o ascenso da China e da Ásia em geral, a visão do polaco-americano faz sentido.

Só que a realização efectiva de um tal desiderato pressupõe a existência de uma verdadeira Europa, cujo vórtice não poderá deixar de estar no eixo Paris-Berlim, ainda que secundado por um reforçada aliança atlântica, protagonizada, do lado europeu, por países como o Reino Unido, Espanha e Portugal. Os neo-cons, por julgarem poder operar toda a estratégia a partir e no interesse exclusivo de Washington, dispensaram e sabotaram mesmo a União Europeia, usando o Reino Unido como seu cão de fila, e Javier Solana, espécie de cadáver adiado do Tratado de Lisboa, como proxy dissimulado das suas intenções.

Há quem lute ainda pela Agenda de Lisboa. Mas a lentidão do processo é tal, que corre o risco de implodir perante o relógio da História. Paradoxalmente, o artigo de Bhadrakumar permite extrair uma ilação imprevista: seria agora do interesse da Europa Ocidental e dos próprios Estados Unidos recuperar o Irão para sua órbita de simpatia. Aliás, é do interesse europeu e americano, não apenas permitir, como mesmo estimular a rápida transformação do Irão numa potência nuclear, desde que, ao mesmo tempo, claro, a Europa se decida de uma vez por todas a desenvolver um sistema de forças adequado ao século 21!

Este debate foi aberto no grupo Democracia Virtual por JMS. Se estiver interessado em aprofundar a discussão, bata à porta do grupo de discussão. Se vem por bem, será bem-vindo ;-)


OAM 419 14-08-2008 12:55

quinta-feira, agosto 07, 2008

Defesa brasileira

Brasil deve criar um "escudo de defesa"

7-08-2008. Rio de Janeiro, 07 Ago (Lusa) - O ministro dos Assuntos Estratégicos da Presidência do Brasil, Roberto Mangabeira Unger, defendeu quarta-feira que o país deve fortalecer as suas forças armadas e criar "um escudo de defesa" para enfrentar as ameaças internacionais e defender a sua soberania. -- RTP/Lusa.

COMENTÁRIO

Tal como o Brasil, Portugal deveria criar um ministério do futuro, com a missão de estudar e prever os cenários mais prováveis deste século. A nova importância estratégica do Atlântico está a causar movimentos e decisões rápidas dos principais protagonistas da zona, respondendo nomeadamente ao avanço estratégico da China nestas paragens. Para já, a Europa continua a dormir, embora Portugal parece ter acordado para o problema este Verão, a pretexto do sobressalto constitucional provocado pela revisão do estatuto autonómico dos Açores.

Até à queda do muro de Berlim e até à falhada tentativa americana de controlar a Rússia, a estratégia do mundo jogava-se sobretudo no Atlântico Norte, o qual, segundo a doutrina Brzezinski, deveria estender-se pela Eurásia fora. No entanto, a crise mundial de recursos energéticos, de matérias-primas e alimentar, no quadro do crescimento a dois dígitos dos BRIC, fez emergir um novo epicentro para as disputas globais: o Atlântico, da Passagem do Noroeste ao Estreito de Magalhães, com especial enfoque, para já, na banda entre o Golfo da Guiné e Cabinda e a costa brasileira.

Sobre este mesmo tema, leia os meus artigos (1, 2) sobre a questão açoriana, que tirou o sono a Cavaco Silva.

OAM 405 07-08-2008 10:45

domingo, outubro 28, 2007

Portugal 15

Navio hidro-oceanográfico N.R.P. D. Carlos I
Navio hidro-oceanográfico N.R.P. "D. Carlos I". Na Marinha Portuguesa desde 1997.

Regresso ao mar alto

"By 2010, China's submarine force will be nearly double the size of the U.S. submarine fleet. The entire Chinese naval fleet is projected to surpass the size of the U.S. fleet by 2015." -- USA Congressional Research Service, March, 2007.

A leitura de um artigo de J.M. Freire Nogueira, Presidente do Centro Português de Geopolítica, no caderno de Economia do Expresso de 27-10-2007, no qual chama a atenção para a necessidade de revitalizar a aliança atlântica, levou-me a cruzar uma série de sinais recentes sobre a necessidade de uma nova e estratégica religação entre Portugal e o mar. Nogueira crê, como muitos, que é necessário revitalizar a aliança atlântica. Propõe, para lá chegar, e uma vez que a NATO se deslocou para a Eurásia, a criação de uma ATO (ou OTA - Organização do Tratado do Atlântico), em nome de uma futura "pan-região" estratégica abrangendo a União Europeia, as Américas e a África Ocidental. Que significa esta ideia? O fim da NATO e a sua substituição por uma nova aliança?

A Heartland Theory, de Halford John MacKinder, sob cuja inspiração ingleses e americanos mantiveram uma vantagem estratégica mundial ao longo de todo o século 20, criando uma formidável supremacia naval destinada a sustar a expansão potencial do tal Coração da Terra, foi reforçada, depois da queda do Muro de Berlim, pela adopção de uma visão provocadora do
pan-regionalismo de Karl Haushofer. A idealização estratégica da insularidade dos grandes territórios continentais, derivada da visão de MacKinder sobre o Pivot Geográfico da História, que a Alemanha perseguiu sem êxito desde Bismarck, seria inesperadamente adoptada pelos Estados Unidos, na sequência da implosão da União Soviética, com o fito de dominar o tal Pivot Geográfico da História, também conhecido por Eurásia. Esta actualização de MacKinder, desenvolvida por Zbigniew Brzezinski em The Grand Chessboard, teria permitido aos Estados Unidos conquistar finalmente o Coração do Mundo, não fora o desenvolvimento explosivo da China e o aparecimento de um senhor chamado Vladimir Putin. Seja como for, apesar do desastre iraquiano e do isolamento completo da administração Bush-Cheney, a verdade é que a NATO continua desnorteada para Oriente, cada vez mais enfiada na Europa central, no Mediterrâneo, no Médio Oriente e a caminho do Pacífico (Coreia do Sul e Japão.) O regresso ao Atlântico, retirando-se dos atoleiros do Iraque e do Afeganistão, abandonando ao mesmo tempo a tentativa de dominar as repúblicas do Mar Cáspio, levou Brzezinski a escrever o seguinte em Second Chance, o seu mais recente livro:
"America and Europe together could be the decisive force for the good in the world. Separately, and especially if feuding, they guarantee stalemate and greater disorder."

"The economic and military strength of the Atlantic community makes it the gravitational center of world affairs. While only 13 percent of the world's people are in NATO and/or EU nations, together they may account for 63 percent of the world's GDP, producing over $27 trillion worth goods and services in 2005, and over 77 percent of global military spending, allocating over $780 billion to their militaries in 2005 alone."

"The United States needs a politically purposeful Europe as a global partner. But while Armerica needs Europe's help in formulating a globally responsible policy, Europe needs America even more. Otherwise it could lapse into self-centered and divisive nationalism, devoid of a larger global mission."

A reiteração do atlantismo estratégico português, encalhado durante mais de vinte anos no parêntesis europeísta promovido pelo Partido Socialista e pelo Partido Comunista Português (ainda que por motivos diversos), só começou a fazer o seu caminho depois da Cimeira dos Açores, que conduziria à invasão "aliada" do Iraque. Apesar das contradições então evidentes entre a necessidade de manter uma aliança estratégica inalienável e o imperativo jurídico de não quebrar as regras da convivência pacífica entre estados soberanos, a escolha das Lages tornou-se um evento de primeira grandeza na história recente da diplomacia portuguesa. A presença do primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, nos Açores, e as palavras de Durão Barroso, marcaram o início dum novo protagonismo euro-atlântico, cuja oportunidade e premência acabariam por vir ao de cima na sequência dos impasses gerados pelas invasões do Afeganistão e do Iraque, do recuo de Israel na sua guerra aérea contra o Líbano, e sobretudo do crescente protagonismo retórico, mas também estratégico, tanto da Rússia, como da China:
"First of all, let me say, welcome, George Bush, to Europe. I think it's important that we meet here, in a European country, in Portugal, but in this territory of Azores that is halfway between the continent of Europe and the continent of America. I think it's not only logistically convenient, it has a special political meaning -- the beautiful meaning of our friendship and our commitment to our shared values."
De entre os sinais recentes do início de uma correcção das prioridades estratégicas de Portugal, em direcção ao mar, destaco os seguintes:
  • as aquisições dos submarinos de guerra (que irão precisar de docas para manutenção...);
  • o apetrechamento dos navios hidro-oceanográficos "D. Carlos I" e "Gago Coutinho" para a realização dos estudos sobre o alargamento até às 350 milhas das plataformas continentais submarinas sob soberania portuguesa, abrangendo o continente e os arquipélagos da Madeira e dos Açores (que sendo aprovadas pela ONU, farão da nossa plataforma continental uma das maiores do mundo);
  • a instalação em Lisboa da Agência Europeia de Segurança Marítima, cuja importância na vigilância e controlo do tráfego marítimo no Atlântico Norte só tem paralelo no Centro de Controlo Oceânico de Santa Maria (Açores), encarregado de regular o tráfego aéreo que cruza o Atlântico Norte;
  • o estudo a apresentar no final de 2008 por Hernani Lopes sobre o hypercluster do mar, destinado a transformar a economia marítima numa grande porta de saída para a actual crise de desenvolvimento do país;
  • as anunciadas auto-estradas do mar entre Sines e La Spezia, e entre Leixões e Roterdão;
  • o Triângulo das Oportunidades anunciado pelo economista-chefe do BES/BESI, que aponta para a optimização das relações económicas entre Portugal, Brasil e Angola, passando naturalmente por Cabo-Verde, Guiné e São Tomé e Príncipe,
  • a instalação de um vasto complexo de piscicultura em Mira, dedicado à criação de pregado, por parte da multinacional galega Pescanova.
São certamente sinais a que a dramática conjuntura internacional confere especial significado.

Por um lado, Angola, Golfo da Guiné, Norte de África e Venezuela configuram-se como alternativas emergentes a possíveis estrangulamentos geo-políticos nos fornecimentos de petróleo e gás natural do Médio Oriente e da Rússia.

Por outro, os Estados Unidos, o Brasil, a Argentina e o Chile continuam a ser fornecedores estratégicos de alimentos essenciais ao mundo e em particular à Europa (trigo, milho, soja, peixe, carne), sendo que alguns destes são ainda enormemente ricos em minérios essenciais à civilização actual e grandes produtores de bioetanol e biodiesel de origem não alimentar.

Finalmente, as plataformas marítimas têm hoje uma importância estratégica extrema, não só por causa dos hidrocarbonetos que podem esconder, mas sobretudo porque detêm um lugar ímpar na produção e regeneração da biosfera. Num país como Portugal, com um território escasso e ameaçado de erosão, sofrendo uma grave crise demográfica (nomeadamente de origem migratória), descapitalizado, com uma das suas principais actividades económicas -- o turismo-- possivelmente ameaçada pela crise energética, e longe da Eurásia (não tanto pela distância, mas mais pela economia), é absolutamente necessário dar um golpe de rins estratégico. A oportunidade encontra-se, uma vez mais, no mar!



Referências

"China has been looking to match US military technology and launched an anti-satellite missile as part of this process."

"The United States is heavily dependent upon satellites for all matters of communications, especially the military, which would be crippled and completely ineffectual without any sort of satellite coverage either for imaging, navigation or for communications." -- Joseph Lin, military affairs analyst with the Jamestown Foundation in Washington.

"At the same time, China's naval build-up has alerted American military officials to the previously unthinkable possibility that they might face competition in the Pacific Ocean, where the US has enjoyed naval dominance since the World War Two."

"A country that depends on sea-trading faces the greatest threat to its survival in areas outside its own borders. Because of this, we need to have a stronger navy to protect our trading interests." -- Prof Nie Youli, of East China Normal University.
"In the very first decades of the 15th century, the great Chinese admiral Cheng Ho led a series of amazing maritime expeditions to the outer world, through the Straits of Malacca, into the Indian Ocean, across even to the eastern shores of Africa. Nothing at that time compared with China's surface navy.

Yet, within another decade, the overseas ventures had been scrapped by high officials in Beijing, anxious not to divert resources away from meeting the Manchu landward threat in the north and about how a seaward-bound open-market society might undermine their authority.

Coincidentally, on the other side of the globe, explorers and fishermen from Portugal, Galicia, Brittany and southwest England were pushing out, across to Newfoundland, the Azores, the western shores of Africa.

While China's great fleets were being dismantled by imperial order, Western Europe was beginning to move into "new" worlds, full of ancient peoples and cultures in the Americas, Africa, Asia and the Pacific. Any place vulnerable to Western naval and military power was at risk. Above all, as the American naval captain A. T. Mahan taught us over a century ago in his classic book, "The Influence of Sea Power Upon History" (1890), the West valued navies as the key to global influence."
Documentário televisivo chinês, difundido pela CCTV-2 em Novembro de 2006

The documentary "endorses the idea that China should study the experiences of nations and empires it once condemned as aggressors bent on exploitation" and analyzes the reasons why the nine nations rose to become great powers, from the Portuguese Empire to current United States hegemony. The series was produced by an "elite team of Chinese historians" who also briefed the Politburo on the subject." In the West the airing of Rise of the Great Powers has been seen as a sign that China is becoming increasingly open to discussing its growing international power and influence—referred to by the Chinese government as "China's peaceful rise."

OAM 271, 29-10-2007, 01:32

sexta-feira, setembro 14, 2007

Portugal nuclear

Global Balkans
Ameaças ao desenho europeu. Os "Global Balkans" segundo Zbigniew Brzezinski.

EUA defendem que Portugal deve apostar na energia nuclear
O conselheiro da Casa Branca para o Ambiente, James Connaughton, defendeu hoje que Portugal deve apostar na energia nuclear, considerando que é um dos países com maiores capacidades para produzir energia totalmente limpa.

(...) De uma forma global, Connaughton defendeu que o nuclear deve ser usado por todos os países que tenham capacidade tecnológica e uma forma de a produzir de um modo seguro.

"A energia nuclear é a única fonte capaz de produzir energia a baixo custo e que consegue sustentar cidades inteiras sem emissões. Não conseguimos fazer progressos ao nível energético e ao nível das alterações climáticas se não usarmos muito mais energia nuclear ao nível global", sustentou.

Os dois responsáveis norte-americanos vão ter hoje encontros em Lisboa com representantes dos Ministérios do Ambiente e da Economia, a quem darão conta da conferência sobre alterações climáticas que a administração Bush está a organizar para os dias 27 e 28 de Setembro. in Jornal de Negócios Sexta, 14 Setembro 2007

A ideia faz muito pouco sentido tal como aparece, sobretudo vinda de onde vem: um governo que nunca ratificou o Protocolo de Quioto, corrupto, criminoso e em fim de mandato. Pode, porém, haver um cenário sinistro por detrás desta iniciativa: envolver Portugal na actual corrida nuclear. Este cenário aparentemente improvável passaria por dotar o nosso país de uma ou duas centrais nucleares, de tecnologia avançada no domínio do enriquecimento de urânio para produção de plutónio militar e... a militarização nuclear dos Açores!

Isto pode muito bem ser o início de uma resposta estratégica ao recuo inevitável dos EUA no Médio Oriente, depois do fiasco do Iraque, da incapacidade crescente de gerir o conflito israelo-árabe, e perante a irresistível influência do eixo Pequim-Moscovo (através da Shanghai Cooperation Organization) em toda a vasta área do que Brzezinsky começou por chamar The Eurasian Balkans (The Grand Chessboard, 1997) e que no seu último livro, The Second Chance (2007), designa por Global Balkans. Já para não falar dos efeitos do desastre iraquiano no reforço do islamismo radical em todo o Norte de África.

Enquanto a Rússia ameaça funcionar como estado tampão entre a Europa Ocidental e a Eurásia, com argumentos tão poderosos como os da sua riqueza energética e os do seu renovado poder militar estratégico, podendo a qualquer momento desencadear uma placagem dramática à evolução prevista da União Europeia, induzindo por aí um regresso catastrófico ao bicefalismo de Versailles, os Estados Unidos de Bush parecem preferir, precisamente, este cenário! Se assim for, faz todo o sentido a iniciativa ecológica caricata do senhor James Connaughton.

Entretanto, José Sócrates anda com os olhos cada vez mais em bico. Não viu o Dalai Lama. Vai à China negociar contentores. Será que entenderá o recado americano? Para onde irá pender, no ping-pong entre Washington e Pequim? Não preside actualmente à União Europeia? Não acha que esta seria uma excelente oportunidade para fazer um pouco de história a sério, em vez de andar pelo país televisivo fora armado em caixeiro-viajante da indústria informática?

A questão energética não é, de facto, o assunto desta inusitada deslocação do protector americano a Lisboa, pelo que não voltarei a deter-me, para já, na questão do nuclear para fins pacíficos. Recomendo, no entanto e a propósito, a leitura integral da resposta dada por John Busby a um recente inquérito público inglês sobre a alternativa nuclear à actual e sobretudo futura crise energética.
Response to the Government's consultative document 'The Future of Nuclear Power'
By John Busby
Sandersresearch
Sep/11/2007

"Ever wondered if the clock was ticking regarding a secure electricity supply? Could new nuclear power stations actually increase carbon emissions? Could the looming shortage of uranium represent the biggest challenge to a nuclear renaissance? These are just a few of the questions answered by John Busby in his response to the Government’s consultative document 'The Future of Nuclear Energy'".

OAM #240 12:57, 14 SET 2007 (UTC)