domingo, novembro 14, 2010

Bancarrota-4

Expulsar Portugal da Eurolândia?

Masaccio, "Expulsão de Adão e Eva do Paraíso"

O charlatão que elegemos para primeiro ministro anunciou, em perfeito jet lag (1), mais uma boa notícia sobre a nossa excelente economia: estamos a crescer mais do que o previsto e mais do que a generalidade dos nossos parceiros europeus. Esqueceu-se "o engenheiro" de dizer que a boa performance das exportações se deve ao crescimento alemão, que houve compras antecipadas e por atacado de automóveis e outros bens e serviços na previsão de uma subida generalizada dos impostos, e que pese embora as quebras acentuadas das receitas turísticas, sobretudo hoteleiras, o fenómeno chamado Low Cost deu origem a uma verdadeira ponte aérea entre Porto, Lisboa, Faro e Funchal, de um lado, e dezenas de cidades europeias, originando uma nova e surpreendente classe de passageiros frequentes composta por emigrantes portugueses. Ouve-se falar inglês, italiano e francês no Porto e Matosinhos, como nunca se ouviu. Mas o que realmente tem feito a diferença, suspeito bem, é a frequência com que os nossos emigrantes se deslocam a Portugal, para ver familiares, tratar dos seus negócios e comer pataniscas, desde que a Ryanair, a easyJet, a Vueling e a Air Berlim, entre outras companhias aéreas de baixo custo, começaram a fazer o que a TAP (2) há muito deveria ter começado a fazer, mas não fez — subordinada que esteve nas últimas décadas aos negócios privados dos piratas do Bloco Central e da Tríade de Macau.

Das exportações atraídas pelo crescimento alemão e asiático, e dos fluxos de poupança que as mais recentes vagas de emigração aportam ao país, ninguém se pode queixar e todos temos que agradecer. São factores de resiliência que ajudam a compreender porque não nos estatelamos ainda ao comprido, mas que nenhum político pode exibir como mérito próprio. A corja partidária, sobretudo aquela corja que há três décadas coloniza a nossa democracia como se de uma coutada ou grande tacho se tratasse, continua a comportar-se, no meio da maior crise de endividamento de que há memória neste país, como uma insaciável ninhada de ratos mimados. O descalabro começou na fase terminal da dita era Cavaco. Daí a aliança descarada entre o incapaz e recandidato presidente, e o mitómano que dá pelo nome de Sócrates!

Mas se é verdade que as exportações têm vindo a crescer a bom ritmo, e que centenas de milhar de portugueses emigrados continuam a investir no seu país, não é menos verdade que o nosso endividamento colectivo, a dívida externa portuguesa, e sobretudo o escandaloso descalabro das finanças públicas geridas pelo Terreiro do Paço, ameaçam atirar Portugal para fora do Sistema Monetário Europeu, isto é, para fora do euro! Se em 2011 Portugal, como é cada vez mais provável, suspender o pagamento de dívidas ao exterior e declarar a bancarrota do Estado, a que se seguirá um processo formal de reestruturação da sua dívida soberana, não será o fim do mundo, mas será certamente o princípio do fim desta República.

É à luz da óbvia gravidade da situação em que nos encontramos que as palavras de Luís Amado ao Expresso e a agitação crescente nas hostes do PS devem ser compreendidas. O Partido Socialista, se não conseguir acantonar a horda de piratas que tomou de assalto o PS e o Estado, entrará num imparável e humilhante processo de suicídio político e desagregação. Para evitar esta possível morte prematura, só tem uma coisa a fazer: apear o vilão Sócrates do poleiro!

Como aqui se escreveu várias vezes, o actual ministro dos negócios estrangeiros seria uma boa alternativa ao imprestável Sócrates, na perspectiva da formação duma grande coligação governativa (PS, PSD, CDS). Esta coligação, apesar de problemática, é há muito a única geometria político-partidária, no actual quadro constitucional, capaz e reunir a autoridade democrática e traçar a bissectriz programática imprescindíveis ao estabelecimento dum acordo de regime para uma década, do qual venha a constar como prioridade única fundamental o emagrecimento do paquiderme estatal criado pela simbiose oportunista entre a nomenclatura partidária, a burguesia corporativa, a clientela económico-financeira e a burocracia (3). Um estado menos obeso será necessariamente mais transparente, mais ágil, e mais solidário.



As alternativas reduziram-se drasticamente nos últimos meses. Se nada se fizer no PS —i.e. se ninguém com a coragem suficiente exigir um congresso socialista antes mesmo das próximas presidenciais (marcando em larga medida o desfecho destas) para apear Sócrates e a canalha que o rodeia, e preparar o PS para forçar o inanimado Cavaco e o novel Passos de Coelho a sentarem-se à mesa de uma grande coligação, então seremos inexoravelmente expulsos do euro (4).

NOTAS
  1.  Sócrates estava em Macau quando se congratulou com o crescimento inesperado do PIB, numa viagem desesperada para convencer o primeiro ministro chinês (Wen Jiabao) a convencer o presidente chinês (Hu Jintao) de que os piratas lusitanos que levaram Portugal à bancarrota precisam desesperadamente que a China compre um, dois, ou três mil milhões de euros da nossa dívida soberana, e que entrem também no capital dos sobre endividados BCP e EDP. Só que até agora, para além das palavras protocolares, népias! É provável que a China ajude Portugal, mas para que tal aconteça, creio que Hu Jinato e Wen Jiabao esperarão pela saída do imprestável Sócrates. É esta a conclusão que retiro das movimentações desesperadas da Tríade de Macau.
  2. Há muito que Bruxelas decidiu liberalizar os céus da Europa e privatizar o transporte aéreo, proibindo os estados nacionais de injectar dinheiro nas suas obesas e ineficientes companhias de bandeira. Países como Portugal, Espanha e outros inventaram no entanto mil e um subterfúgios para continuarem a alimentar o endividamento imparável destas companhias à custa dos contribuintes adormecidos — mantendo assim porcas orçamentais invisíveis com que têm vindo a amamentar as respectivas nomenclaturas, cada vez menos democráticas: partidos e deputados (recordemos o caso extraordinário da deputada Inês Medeiros, mas também os milhões em descontos destinados aos passageiros frequentes da nossa classe partidária), legiões de administradores fictícios e comissários políticos, e as empresas clientelares do regime (recorde-se o caso da falida PGA impingida politicamente pelo BES à falida TAP). A companhia administrada pelo gaúcho Fernando Pinto conta apenas com três activos de monta: a posição dominante nos voos entre o Brasil, Angola e Europa; os seus pilotos e o pessoal de manutenção de aeronaves. Tudo o resto é prejuízo ou leasings por pagar. Ou muito me engano, ou o governo português vai ser obrigado, por quem lhe empresta o dinheiro para pagar aos funcionários públicos, reformados e pensionistas, a privatizar a TAP em 2011. O governo "socialista" quererá fazê-lo, mas colocando o ónus do despedimento de alguns milhares de trabalhadores (336 da Groundforce já marcharam) aos ombros do comprador. Acontece, porém, que Sócrates e os capachos Vieira da Silva e Teixeira dos Santos, já perderam toda a margem de negociação. Resta-lhes tão só obedecer ao BCE e a Bruxelas. Ou então, um golpe de génio: vender a TAP, o BCP e uma fatia estratégica da EDP (10%) aos chineses! Sempre evitávamos a entrada de Madrid no Terreiro do Paço, e colocávamos Portugal num novo plano de diplomacia estratégica.
  3. Para além do emagrecimento do Estado e de boa parte das instituições democráticas (alteração da lei eleitoral e diminuição do número de deputados, câmaras municipais e freguesias urbanas), devemos exigir de quem nos levou à falência mais estas prioridades estratégicas:
    • revisão imediata de todas as Parcerias Público-Privadas, incluindo rescisão de boa parte das mesmas e incriminação eventual dos seus autores;
    • revisão imediata da política de gestão dos recursos hídricos nacionais, abolindo de imediato o sórdido processo de privatização das águas públicas;
    • revisão imediata da política energética nacional, trocando a actual estratégia de exaustão e assalto oligopólico aos recursos energéticos efectivos e potenciais do país, por uma estratégia pública rigorosa e drástica de eficiência energética;
    • actualização instantânea dos valores mínimos exigíveis das rendas urbanas, indexando os valores por metro quadrado a uma regra de cálculo transparente e justa, indexada ao efectivo poder de compra de cada cidade e aglomerado urbano, calculado pelos municípios e freguesias;
    • criação de um Plano Nacional de Mobilidade Sustentável, com gestão descentralizada até ao nível das freguesias, onde o transporte colectivo, público, empresarial e comunitário deverá contar com claros incentivos e benefícios, relativamente ao transporte individual motorizado;
    • simplificação da administração da justiça e efectivo controlo democrático sobre o poder judicial;
    • criação de legislação clara sobre a defesa legítima de interesses, conflitos de interesses, incompatibilidades e tráfico de influências;
    • liberalização do contrato de trabalho individual, tendo em vista a sua competitividade relativamente à legislação europeia predominante, regras de transparência e justiça relativa para ambas as partes contratantes.
  4. A saída de Portugal do Sistema Monetário Europeu seria sempre uma medida extrema que a Comissão Europeia procurará evitar a todo o custo. Até porque colocaria imediatamente na mesa os problemas da Irlanda e da Grécia — já para não falar de Espanha, a quarta economia da União. Prevejo, pois, que Bruxelas e o BCE prefiram manobrar no sentido da remoção do entulho socratino da nossa governança, e da formação de uma coligação governamental de grande maioria, com um primeiro ministro do PS e um vice-primeiro ministro do PSD, capaz de simultaneamente levar a legislatura até ao fim, e de introduzir as correcção drásticas de que Portugal precisa para reganhar a confiança dos mercados financeiros, destroçada pelas sistemáticas mentiras e manobras evasivas dos piratas que tomaram de assalto o PS e o País.

Última actualização: 14 novembro 2010; 10:49

terça-feira, novembro 09, 2010

Bancarrota-3

7,01% !

“Portugal continua a bater recordes na sua dívida a dez anos. Neste momento, estamos nos 7,01%, a taxa que o Estado iria pagar se se tivesse endividado hoje. Amanhã iremos fazer um leilão desta mesma dívida. Por isso, a não ser que haja uma recuperação forte, será à volta desta taxa que o Estado irá pagar”, indica Filipe Silva, gestor do mercado e dívida do Banco Carregosa. — Renascença.

Para termos uma ideia do que significa um juro de 7%, basta dizer que por cada mil milhões de endividamento teremos que pagar dois mil milhões daqui a dez anos, quando o empréstimo e respectivos juros estiverem finalmente saldados. Por cada euro, pagaremos dois, e assim sucessivamente.

Como as necessidades de endividamento anual do Estado estão na ordem dos 24 mil milhões de euros por ano, tal significa que daqui a 10 anos teremos que pagar o dobro destas quantias se os juros se mantiveram na casa dos 7%. É por causa deste simples cálculo, que na prática significa uma espiral de endividamento exponencial, que Portugal entrou inexoravelmente no precipício da bancarrota.

Nada nos salvará de uma intervenção drástica do Fundo de Estabilização Financeira Europeu e do FMI. Ou melhor, que venham o mais depressa possível, para evitar que os piratas que assaltaram o país continuem a roubar desalmadamente tudo o que podem e encontram pelo caminho!

O senhor constitucionalista Jorge de Miranda deveria reformar-se e deixar de dizer baboseiras. Os políticos que levam um país à bancarrota devem ser investigados, sim! E devem ser presos, se cometeram crimes, ainda que sob protecção de cargos ministeriais e públicos de diversa ordem, sim!!

Entretanto, recomendo a leitura de mais este artigo oportuno e bem meditado de Rui Rodrigues:
As infra-estruturas numa economia nova

Os únicos investimentos em infra-estruturas, em que se deveria apostar, seriam aqueles que poderiam tornar a economia mais competitiva e que possibilitassem o aumento das exportações, tais como numa nova rede ferroviária de bitola europeia e nos portos de mar. (Público)

sexta-feira, novembro 05, 2010

III guerra mundial

EUA presos no elevador do endividamento



Stuck In A Falling Elevator

There is this very interesting NOVA video called ‘Trapped in an Elevator‘ where this poor office worker goes out for a brief smoke, goes back inside and is then trapped for 48 hours stuck on the 13th floor, of all things.  He presses the panic button, calls for help on the telephone, yells like crazy but no one answers.  Even though there is a camera monitor that sees him and records his struggles to survive, the people supervising the building never bother to look at the monitors and rescue him.

(…) The Democratic Party stabbed Obama in the face when they sided with a foreign leader, Netanyahu, against their own leader and this led to a total loss of prestige and power and Obama is now perceived as a servant, a doorman or doormat rather than a leader and this perception has grown across the board.  Those Americans stuck in the elevator try to contact their concierge at the front desk but he isn’t bothering much anymore.  He is sick and tired of his job and indifferent to the status of the people dying in the stuck elevators.

— Elaine Meinel Supkis in "Culture of Life News" 

Os Estados Unidos estão a criar dinheiro virtual (ou seja, meramente escriturado) como doidos. A ideia de descer os juros do banco central até zero (uma ideia peregrina inventada pelos japoneses, e responsável pela depressão da sua economia, que dura há já 20 anos!), foi copiada pela América de Bush, e também do desgraçado Obama. O senhor Trichet tem resistido, mas a verdade é que já empresta a 1% aos bancos comerciais, para estes cobrarem quase 7% por algumas das dívidas soberanas europeias! Aliás, o custo total de alguns créditos pessoais já ultrapassa os 30% —basta fazer uma simulação nalguma das calculadoras disponíveis nos sítios web da banca portuguesa!!

Mas o grande perigo está mesmo na contrafação imparável de dinheiro virtual através do sofisma financeiro chamado Quantitative Easing. Os Estados Unidos são os campeões desta economia de casino, sem cuidar que foi assim que a Alemanha de Weimar implodiu, ou mais recentemente, que o Zimbabué se transformou num estado falhado. Angela Merkel, pressionada pelo eleitorado alemão, que ainda não se esqueceu das consequências trágicas de confundir dinheiro com notas de Monopóio, meteu travão às quatro rodas em matéria de controlo dos endividamentos europeus, exigindo novas regras de penalização dos infractores nacionais da União, e sobretudo apoiando o BCE na sua anunciada política de garrote relativamente aos improdutivos e perdulários governos europeus.

O grande problema das economias ocidentais foi terem exportado, ao abrigo da livre circulação e liberdade dos mercados financeiros, boa parte da sua capacidade produtiva real para o Oriente, crendo que uma economia de serviços e de consumo poderia substituir o pão que comemos diariamente, e o telemóvel que trazemos no bolso. Não pode! Que tem o trigo, os metais raros, e as fábricas; quem tem as matérias primas e a mão de obra barata disponível a produzir os bens transaccionáveis, é que, no fim do dia, dará as cartas da economia mundial. Ou seja....

O facto de não existir ainda um ciclo fatal de hiperinflação nos Estados Unidos, ou mesmo na Europa, reside precisamente na circunstância de as quantidades inimagináveis de dinheiro virtual criado pelo Ocidente (o buraco negro dos derivados financeiros equivale já a 12 vezes o PIB mundial!) estar, no fundo, a ser absorvido pelos países produtores de energia fóssil, matérias primas, alimentos e produtos acabados, que têm vindo a engolir o papel higiénico que lhes enviamos em troca dos bens que importamos massivamente. Daqui ao estalar de uma guerra cambial, e desta a um conflito militar de proporções inimagináveis, é um passo, ou tropeção, que pode ocorrer a qualquer momento.

Uma III Guerra Mundial poderá de facto vir a ser precedida por uma guerra cambial à escala planetária. Lula vai reunir os países emergentes para responder a esta loucura. O Japão, a quem Obama já prometeu intermediação, pode declarar guerra à Rússia e à China, por causa do excesso das reservas em dólares que acumulou, porque já não pode lucrar com yen carry trade (i.e. combinar uma moeda fraca com empréstimos interbancários a taxas zero ou próximas do zero) e porque o pico petrolífero vai lançar as economias mundiais num remoinho muito perigoso.

EDP no vermelho

EDP entrou no túnel sem saída do endividamento



A EDP, tal como o Governo, anuncia lucros onde a ruína ameaça de forma cada vez mais evidente. Mexia e Sócrates são feitos da mesma massa de vendedores de banha da cobra. Um dia destes descobrimos que, afinal, a EDP está falida, tal como a Caixa, o BCP, o BES, e o País!

Os dados objectivos da EDP, em 30 de Junho de 2010 (constam do Relatório de Contas acessível no respectivo sítio web) são estes:

Dívida Líquida = 16.107.900.000 €
Total dos Passivos Não Correntes = 21.799.817.000 €
Total Passivo = 29.882.974.000 €

Mexia faz conferências de imprensa como Teixeira dos Santos, para dizer que tem lucros, e que por isso, consegue financiamento nos mercados. Mau sinal! O ritmo das conferências irá certamente aumentar, para disfarçar o embaraço crescente, mas os resultados das safras irão rapidamente começar a empalidecer, tal como vem acontecendo com a dívida soberana portuguesa.

Há muito que venho chamando a atenção para o endividamento do país: Estado, bancos, empresas públicas (TAP, CP, RTP, Carris, Metro) e EDP. Os nossos economistas políticos andaram a dormir na forma quando lhes gritava aos ouvidos para olharem para a dívida pública e para a dívida externa. Agora ainda não acordaram para o endividamento das empresas estratégicas do país. Tal como os carros com mais de 4 anos, os economistas deveriam ser obrigados a fazer revisões anuais das suas faculdades de juízo.


POST SCRIPTUM
8-11-2010 — "BCP e EDP têm muito a ganhar com accionistas chineses".
Não foi preciso esperar mais do que uns dias para confirmar o que acima se escreveu, reiterando o que temos vindo a escrever sobre a EDP desde Março de 2009. A compra de 2% da EDP pela China é a confirmação de que a EDP, com o seu altíssimo grau de endividamento, não passa dum gigante com pés de barro, muito apetecível para uma país como a China.

terça-feira, novembro 02, 2010

Mr Hu Jin Tao

Retribuir a concessão de Macau

Deveríamos negociar uma concessão territorial à China, por 100 anos (porque não, nos arredores de Sines ou Beja, ou mesmo da Costa da Caparica), em troca do financiamento parcial da dívida externa portuguesa e de investimentos localizados no nosso país — sobretudo no sector portuário e ferroviário.

Os chineses poderiam financiar e explorar por um período de 50 anos o novo porto de águas profundas no "Fecho da Golada" (Trafaria), provavelmente o mais estratégico dos investimentos que Portugal poderá fazer nas próximas décadas, a par da ligação prioritária da sua rede ferroviária de transporte de passageiros e mercadorias ao projecto de interoperabilidade da rede ferroviária europeia de Alta Velocidade e Velocidade Elevada em bitola internacional, actualmente numa fase adiantada de concretização.

A China precisa do Atlântico como do pão para a boca. E quer ter na Europa um aliado estratégico na sua cavalgada para se posicionar entre 2015 e 2020 como primeira potência económica e financeira mundial, com uma capacidade de defesa militar estratégica e táctica à prova de provocações. Ora se precisa da Europa e do Atlântico, precisa de Portugal!

A China é do signo Peixes, tal como Portugal! Ou seja, é um povo de formigas, mas de formigas tão ao mais individualistas que as formigas lusitanas — daí que, sem governos fortes, tendam para a dispersão e a perda de rumo. Têm o gosto pela aventura e pela emigração. Gostam de trabalhar, têm espírito de iniciativa, são evasivos e subtis ao mesmo tempo, são excelentes comerciantes, como qualquer galaico-lusitano de gema. A única coisa importante que nos diferencia é a mudança do ciclo histórico. Mas se soubemos conviver e traficar com eles durante 446 anos, porque não saberemos agora renovar o pacto de cooperação por mais uns séculos?!

Eu nasci em Macau e tenho um apelido que só há pouco anos os portugueses começaram a soletrar e escrever sem erros (Cerveira). Talvez por estes dois episódios sempre me senti mais como um cidadão do mundo, do que como português do Norte, ou mouro de Lisboa. Talvez por este cosmopolitismo quase genético, me atrevo a propor ao meu país um acto de ousadia estratégica e imaginação: renovar o pacto de amizade e cooperação com a China por mais 400 anos!


POST SCRIPTUM

Estava errado: afinal China e Portugal não são do mesmo signo zodiacal, como em tempos escrevi. Portugal aparece reiteradamente anunciado como Peixes, mas a China moderna parece pertencer à constelação Caranguejo com ascendente em Balança... (30 jul 2012)

segunda-feira, novembro 01, 2010

Um caso de estudo

Tit for tat vence dilema do prisioneiro Sócrates



Portugal está na bancarrota. Pergunta: quem foi responsável por semelhante desastre e pelas pilhagens que contribuíram para este desfecho? Foi apenas o PS e quem o tomou de assalto, ou há que assacar também responsabilidades ao PSD, nomeadamente ao PSD de Cavaco Silva, de onde surgiram figuras tão pouco recomendáveis quanto Oliveira Costa e Dias Loureiro, possíveis cúmplices do maior assalto a uma instituição financeira (SLN/BPN) alguma vez praticado no nosso país?

A convicção popular reparte, ainda que de modo desigual, as responsabilidades do colapso em curso, pelos dois principais protagonistas do chamado Bloco Central que nos tem governado desde 1983.

Sendo embora evidente as especiais responsabilidades do PS e do mentiroso compulsivo José Sócrates na década de escondida estagnação e sobre endividamento que Portugal atravessou desde o início deste século, é também verdade que o decrescimento tendencial da nossa economia e a divergência relativamente à média europeia começou no início dos anos 90, ainda com o governo de Aníbal Cavaco Silva, que acabaria aliás por perder as eleições de 1995, no rescaldo da recessão de 1993 (1).

Foi esta percepção, e ainda a noção generalizada de que os demais partidos com assento parlamentar (CDS-PP, PCP e Bloco de Esquerda) não passam de contra-pesos do regime, incapazes, individualmente ou em qualquer coligação imaginável, de fazer qualquer coisa de útil pelo país, que acabou por induzir na consciência colectiva, e nas sondagens, duas convicções complementares, apesar de terríveis:
  1. que o equilíbrio de uma solução de emergência nacional para a crise aguda em que estamos teria que ter um larguíssimo apoio parlamentar;
  2. e que assim sendo, seria fatal como o destino um entendimento entre os dois maiores partidos, significando tal entendimento na prática uma óbvia concessão de maiores e mais decisivos poderes ao PSD —certamente antes do fim ou interrupção do actual ciclo legislativo.
Mas transformar este sentimento popular numa efectiva alteração do cenário político não é coisa fácil, sobretudo tendo presente a natureza burlona e golpista dos piratas que tomaram de assalto o PS e o Estado, e os foram esvaziando de conteúdo, autonomia e fundos.

Desde que António Guterres perdeu o controlo do seu próprio governo a favor da tríade de Macau, e com total descaramento, desde que o senhor Sócrates Pinto de Sousa foi colocado onde está, que a partidocracia vigente caminha de forma acelerada para uma cleptocracia, com tudo o que de suicida tal descarrilamento democrático significa. Estancar a hemorragia orçamental populista que alimentou e é propícia a favorecer rapidamente o colapso de qualquer regime democrático exige, antes de mais, expor, denunciar publicamente, e derrotar o verdadeiro exército de corrupção instalado em boa parte dos vértices do poder e que se espalhou como metástases de um cancro por toda a sociedade que depende da apropriação dos fundos comunitários e da pilhagem fiscal.

Ora, como não podia deixar de ser, os piratas resistem com tudo o que têm à mão a ceder as posições que ocuparam sob a capa do processo democrático. A cooperação entre os dois principais partidos com assento parlamentar é mais do que nunca necessária, mas o poder mafioso existente fez e fará tudo para torpedeá-la.

Passos Coelho apercebeu-se, felizmente a tempo, desta fatalidade do comportamento adversário, o qual queria impor ao PSD uma submissão pura e simples aos seus desígnios, em troca de uma partilha subreptícia dos negócios ruinosos em curso, e do banquete orçamental. Para tal manobra, Sócrates e a tríade de Macau contaram aliás com vários apoios laranjas, do intriguista-mor do reino, Marcelo Rebelo de Sousa, até aos mais chegados, e felizmente exonerados, conselheiros do actual líder do PSD: Ângelo Correia e António Nogueira Leite.

Como aqui se recomendou sempre, a melhor estratégia para lidar com esta verdadeira conspiração seria manter bem alta a perspectiva de uma rejeição do orçamento do PS por parte do PSD, deixando Sócrates, a tríade e o próprio Cavaco entregues ao bluff anunciado de uma demissão do governo.

O PSD, apesar de ter culpas no cartório, não é responsável pelo agravamento extremo da situação económica e financeira a que a pirataria e a mentira do governo Sócrates conduziram o país. E por isso, só um tolo, suicida, ou vendido, aceitaria comungar com o PS as responsabilidades pela dita bancarrota. O dilema do prisioneiro estava assim criado, e o jogo da mais extraordinária negociação política dos últimos tempos iria ter finalmente lugar.

Eduardo Catroga, que o anti-ético conselheiro de estado e intriguista-mor do reino "professor Marcelo" apelidou este Domingo, em tom pejorativo, de "avozinho" e "Avô Cantigas", liderou de forma absolutamente brilhante uma equipa de negociadores que acabaria por derrotar por KO humilhante o capacho Teixeira dos Santos, e por via deste capacho, esse quisto do regime que é necessário lancetar quanto antes: José Sócrates Pinto de Sousa. Não vou descrever a cronologia deste Tit for tat, mas foi tão extraordinário e emocionante que espero venha a ser objecto de uma tese de mestrado ou doutoramento sobre como a arte de negociar pode salvar um regime à beira do colapso de um suicídio mais do que plausível.

O dilema do prisioneiro ainda não chegou ao fim, mas tudo indica que quem verdadeiramente assaltou o pomar é já conhecido de todos. Só falta mesmo que as autoridades policiais tomem conta do caso, e antes disso, que os socialistas recuperem as rédeas do PS. A desautorização flagrante das palavras do capacho Teixeira dos Santos, isto é, a desautorização flagrante do chefe do governo e ainda secretário-geral do PS, José Sócrates, por parte de Francisco Assis, assinalam não apenas a dimensão quase esmagadora da vitória de Eduardo Catroga e Passos Coelho, mas também o início da limpeza doméstica que o Partido Socialista terá que fazer rapidamente se quiser estar à altura das circunstâncias extremas que aí vêm — e que também dele exigirão cooperação e responsabilidade.

A realidade é o que é. E no que se refere às próximas eleições presidenciais, os dados estão lançados, e os resultados antecipados já são conhecidos: Cavaco Silva, apesar de provavelmente sofrer de doença grave, será reconduzido eleitoralmente no cargo, deixando para trás uma colecção de candidatos impossíveis de levar a sério. Mas assim como os partidos precisam todos de uma grande limpeza interna e de arejar as respectivas ideias, éticas, metodologias e programas, também a presidência da república terá que aproveitar as próximas eleições para estancar as tendências cesaristas que crescem na sua Casa Civil. A situação do país não se compadece com menos.

Prevejo há muito a necessidade de formação dum governo de grande coligação (PS-PSD-PP) antes ou depois da reeleição de Cavaco Silva, antes ou depois de terminar a actual legislatura. Embora não seja de excluir uma vitória por maioria absoluta do PSD nas próximas eleições legislativas, antecipadas, ou no prazo regular, a instabilidade política inerente ao declínio económico-financeiro de Portugal que se prevê que venha a ocorrer até, pelo menos, ao fim da próxima década, exigirá uma adaptação do regime a tão dramática emergência nacional, a qual deverá passar, na minha opinião, por uma arquitectura de alianças estável, baseada numa plataforma de responsabilidade política, de ética institucional e de solidariedade social consensual entre uma boa maioria da população.

Pelo que se conhece de Cavaco Silva e das tendências cesaristas em desenvolvimento no interior da sua Casa Civil, pouco poderemos esperar de bom do Palácio de Belém. Compete aos partidos, após a sua urgente e radical renovação (do Bloco ao PP), impedir que a democracia portuguesa se transforme num inferno, acalentando na bicharada de Belém o sonho imoral de uma democracia tutelada.


NOTAS
  1. "Em 2010 termina uma década de crise e estagnação da economia portuguesa, usando os índices tradicionais dos capitalistas vejamos um pouco esta realidade: na década de 80 (1981-1990) o crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) português foi de 3,8% com picos de 7,6% e 7,9%, respectivamente em 1987 e 1990, e um ano de recessão em 1984, numa evolução do PIB de -1%; na década de 90, encontramos já uma descida do crescimento médio para 3% com picos de 4,2% e 4,9%, em 1997 e 1998, e também um ano de recessão em 1993, numa evolução negativa de -0,7%; na década que agora termina, constatamos um crescimento médio de 0,5%, com pequenos picos de 2% e 1,9%, em 2001 e 2007, mas desta vez com dois anos de recessão em 2003 e 2009 com decréscimos respectivos de -0,8% e -2,7% a -3%, dependendo das diferentes projeções do Banco de Portugal ou do FMI, assinalando ainda que o crescimento em 2008 fosse de 0%. " — in "Portugal: uma década de decadência económica" (Diário Liberdade.)

sábado, outubro 30, 2010

Acordo nado morto

Como remover Sócrates do poleiro?

Quem ouviu atentamente as declarações de Eduardo Catroga e de Teixeira dos Santos terá percebido que o sucessivamente anunciado fumo branco do acordo orçamental não passou dum exercício de narcisismo por parte de José Sócrates, que abandonou por alguns minutos o Conselho de Estado para ir dar ordens à sua central de contra-informação e propaganda, e depois, por parte de Cavaco Silva, que não resistiu ao oportunismo de poder vender eleitoralmente a sua mediação presidencial, dando a entender que encostara Sócrates às cordas com aprovação generalizada dos conselheiros que entretanto reunira.

Ou alinhas num acordo com o PSD, ou vais parar ao charco de uma demissão antecipada — deverá ter sido o tom grave do Conselho de Estado de ontem.

O comportamento vigarista do primeiro ministro em mais este episódio do penoso enterro do seu consulado irritou uma vez mais Passos de Coelho, levando-o a declarar à entrada de uma reunião partidária, ontem, por volta das 22:00, que não havia acordo. Catroga, na longa e acutilante conferência de imprensa dada hoje de manhã na Assembleia da República, depois de anunciar a hora exacta (23:19) do acordo para a aprovação na generalidade no próximo orçamento de estado desancou literalmente o governo e o PS, deixando a nu as causas do colapso financeiro provocado pela incompetência e comportamentos altamente censuráveis daqueles dois protagonistas ao longo dos últimos 15 anos. Depois de ouvir as justas mas virulentas declarações do antigo ministro de Cavaco Silva, disse de mim para mim: a resposta do Teixeira dos Santos só poderá relançar o caminho da ruptura entre Sócrates e Passos de Coelho. E assim foi:

Às 23h19 minutos de sexta-feira, Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga selaram o acordo. Agora, diz Teixeira dos Santos, o “Orçamento do Estado para 2011 vai ser aprovado na generalidade”. No entanto, o ministro das Finanças acusa o PSD de “dourar a pílula” com as suas propostas, que vão custar ao país 500 milhões de euros.

“Vai ser necessário adoptar medida adicionais para atenuar o custo de 500 milhões deste acordo”, avisa Teixeira dos Santos, porque, a tentativa do PSD de “dourar a pílula”, “esconde a necessidade de medidas exigente”.

No entanto, Teixeira dos Santos recusa-se a explicar que medidas adicionais são essas, esclarecendo que o Orçamento será “OE “aprovado na generalidade” e servirá de “base de trabalho” e que será depois “ajustado aos desafios do país” — in RR Renascença.

Conhecendo, todo o país, como conhece, o mitómano que elegeu para primeiro ministro, e a fidelidade canina dos seus acólitos ministeriais e deputados de confiança (Teixeira dos Santos, Pedro Silva Pereira, Vieira da Silva, Santos Silva, e o canídeo de fila parlamentar Jorge Lacão), podemos desde já fazer apostas sobre quantas semanas levará a esfumar-se o putativo acordo orçamental hoje anunciado.

Pedro Passos de Coelho, cuja liderança tem melhorado a olhos vistos, graças às vozes avisadas dos seus novos e experientes conselheiros (nomeadamente Diogo Leite de Campos e Eduardo Catroga), já percebeu que Sócrates não tem palavra, e que além de não ter palavra, é um perigoso mitómano encurralado na incompetência gritante das suas políticas, e enredado nas teias tenebrosas da tríade pirata de Macau, ou até, quem sabe, de alguma seita dianética com origem nos Estados Unidos. O BPN é uma bomba relógio que escalda nas mãos de Cavaco Silva, mas poderá revelar-se também uma castanha quente para Sócrates. Alguém já perguntou a esta criatura se tem dinheiro seu em contas bancárias no estrangeiro? Alguém já perguntou ao primeiro ministro se tem dinheiro seu em  paraísos fiscais? São duas perguntas inocentes que merecem resposta, creio.

Na presente situação é do interesse de Sócrates demitir-se, para não ser assado em lume brando pelo colapso em curso da economia e das finanças do país. Mas há um perigo que lhe deve causar suores frios todas as noites: e se a Maçonaria lhe lança de novo a matilha do Ministério Público às canelas? Que poderá fazer para evitar uma queda definitiva no abismo? E se o inenarrável ex-sargento do PCP, e ex-ministro da Ota e do Deserto da Margem Sul, Mário Lino, denunciado por Ana Paula Vitorino no processo "Face Oculta", apontar os holofotes para o seu antigo chefe? Quem salvará Sócrates Pinto de Sousa dum imediato e interminável calvário judicial, se abandonar o cargo de primeiro ministro? Diz-me a intuição, pois os factos estão no segredo da Justiça, que alguns dos casos já encerrados poderão voltar a ser reabertos, e que novos casos poderão surgir de um dia para o outro, sobretudo se houver uma corrida aflita de ratazanas em direcção aos botes de salvação do abalroado navio governamental — que já mete água por todos os lados.

Assim sendo, isto é, se José Sócrates não se demite por medo das consequências pessoais, que alternativas restam para evitar as consequências mais gravosas da presente bancarrota do país?

Especulemos:
  1. Sócrates tenta manter-se no poder cedendo às exigências crescentes do PSD, nomeadamente no capítulo do desmantelamento da guarda neo-pretoriana criada pela tríade de Macau ao longo dos últimos quinze anos, apunhalando uma a uma as milhares de divisões que suportam o poder tentacular da actual cleptocracia camuflada de socialismo — o perigo para Sócrates de tamanha traição é talvez mais assustador do que cair nas malhas da Justiça maçónica!
  2. Sócrates tenta manter-se no cargo sem ceder ao PSD, apesar do acordo anunciado esta manhã (foi isto mesmo que Teixeira dos Santos veio dizer em tom provocatório depois da comunicação de Eduardo Catroga), provocando nova ruptura e a deserção de Pedro Passos de Coelho do acordo, por motivo obviamente compreensível. Neste caso, o Presidente da República, com o apoio já garantido pelo Conselho de Estado, mesmo antes de ser reeleito, demite o chefe de governo, José Sócrates Pinto de Sousa, e chama o secretário-geral do PS, José Sócrates, para indicar outra personalidade do PS, ou da confiança do PS, para substitui-lo no cargo e formar novo governo. O estigma da demissão poderia ser tentador para um Sócrates transvestido de vítima, se não fosse tarde demais para semelhante farsa. Os danos e a pirataria estão demasiado escancarados! A demissão de José Sócrates por Cavaco Silva ainda este ano seria uma espécie de circuncisão no governo, bem-vinda por todos e destinada a acalmar Bruxelas, afastando os especuladores que há meses ganham rios de dinheiro com as dívidas soberanas. A celebração dum congresso extraordinário do PS e a remoção da criatura seria mais do que aconselhável neste caso.
  3. Sócrates, por pressão partidária crescente, e sobretudo pela enorme pressão policial de que a Maçonaria pode fazer prova neste momento de verdadeiro aperto nacional, seria levado a tomar a iniciativa de se demitir, garantida que fosse previamente uma espécie de amnistia a priori dos seus hipotéticos crimes. Cavaco chamaria o partido mais votado —o PS— a indicar nova personalidade para desempenhar o cargo de primeiro ministro e formar novo governo. 
  4. A paz podre entre PS e PSD dura os próximos seis meses, tempo necessário à reeleição de Cavaco, depois da qual este estará mais seguro para desencadear a demissão do actual governo, a dissolução do parlamento, a convocatória de eleições legislativas antecipadas, e a promoção de um governo de coligação patriótica em nome dos interesses vitais do país. Se este cenário ocorrer teremos um novo cesarismo em Portugal, com prejuízo evidente para a actual partidocracia (o clima popular para esta inflexão já está criado), esmagando então as pretensões de Passos de Coelho.
Do ponto de vista rosa a terceira hipótese é claramente a mais conveniente. Remove de forma cirúrgica o empecilho do regime como se fosse um acto de vontade do próprio, evitando desta forma a humilhação pública de uma demissão por acção presidencial. Abre possibilidade a um governo de coligação liderado pelo PS, incluindo um vice-primeiro ministro do PSD e um ministro de estado do CDS-PP, com uma repartição idónea de pastas ministeriais, num governo mais sintético do que todos os que tivemos desde 1974, austero e com uma política de comunicação e transparência administrativa à prova de censura. Um tal governo poderia ser perfeitamente liderado por Luís Amado e ter Eduardo Catroga como vice-primeiro ministro, Diogo Leite de Campos, na pasta da Economia e Finanças, Paulo Portas, nos Negócios Estrangeiros, Assunção Cristas, na Educação, Desporto, Cultura e Credos Religiosos, Correia de Campos, na Saúde, Alberto Martins continuando onde está, etc. Este governo deveria durar até ao fim da presente legislatura, evitando-se, assim, as tão propaladas eleições legislativas antecipadas.

Estes tempos difíceis seriam também propícios ao amadurecimento da nova liderança do PSD, ao surgimento de uma nova liderança no PS, para a qual vejo Manuel Maria Carrilho como uma das personalidades melhor talhadas, e sobretudo para uma profunda mudança de atitudes e estilos no comportamento partidário. O PCP e o Bloco precisam de fazer um honesto exame de consciência — mudando radicalmente as suas gastas e desastrosas narrativas populistas. Outros partidos e novas plataformas de poder pós-corporativo deverão nascer e em parte substituir ou ajudar a modificar as indigentes corporações patronais e sindicais que temos, tão responsáveis quanto as demais instâncias de poder pelo colapso que abateu o regime democrático saído do 25 de Abril de 1974.


ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 30-10-2010, 23:43.