TOYOTA: “Where there is a road, there is a Toyota.”
VW: “I’m not afraid of going anywhere in a Santana.”
Em 1992 a China produzia 1M de automóveis; em 2001, 2M, e em 2010: 18 Milhões!
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Xangai: a China comprou 999 Ferrari desde 2004. |
"China and Germany have never come face-to-face with conflict or dispute in history. Besides, Chinese think highly of German's sincere apology after World War II. That's why I say Germany has a natural advantage over Japan." — Yan Guangming in "European automakers cash in on China car boom" China Daily, 2011-01-14".
A China tornou-se em 2010 no maior construtor de automóveis do planeta, ultrapassando os EUA. E nesta corrida, convém dizer que o grande símbolo de identidade entre a nova China e o automóvel vem da Alemanha, mais precisamente da Volkswagen, e chama-se Santana.
Recordo a primeira vez que estive em Xangai, no ano de 1999, a impressão que então me causou o facto de nove em cada dez carros que me passavam pela frente, com especial destaque para os táxis, serem Santanas às cores, metalizados, com frisos e para-choques cromados, vidros negros atrás, estofos claros, e quando se tratava de um táxi, ao lado do motorista, a presença quase misteriosa, mas invariável, de um frasco de chá verde, entre os bancos da frente ou fixo em qualquer parte do
tablier.
Mais recentemente, em 2008, estive em Pequim, poucas semanas antes do Jogos Olímpicos. O panorama automóvel já era outro, mas nem por isso menos alemão. Em vez da predominância dos velhos Santanas, abundavam, entre os táxis, os Volkswagen Jetta, em concorrência evidente com os sul-coreanos Hyundai Elantra ou mesmo Sonata. Mas o mais impressionante foi a abundância de Audis 6 e 8, e de Mercedes topo de gama, que desfilavam à porta do hotel e pelas ruas. Na zona onde estive durante uma semana, relativamente perto da Cidade Proibida e da Praça de Tianamen, não vi nenhum Ferrari, mas sim um esplêndido Porche 911 amarelo, descapotável, com o qual me cruzei, eu a pé, e ela ao volante, pelo menos meia dúzia de vezes.
Luxury carmakers are gearing up for rich pickings in the Chinese market
“By the end of 2009, the Chinese mainland had 875,000 millionaires, up 6.1 percent year-on-year, according to the 2010 Hurun Wealth Report - and top-end cars are on top of shopping lists of wealthy Chinese.”
“…By the end of 2009, the Chinese mainland had 875,000 millionaires, up 6.1 percent year-on-year, according to the 2010 Hurun Wealth Report - and top-end cars are on top of shopping lists of wealthy Chinese.”
“…In the first 11 months of last year, Audi’s China’s sales topped 200,000 units, maintaining its two-decade reign in the country’s luxury car market. But rivals BMW and Mercedes-Benz are not far behind.
From January to November 2010, BMW sold 152,866 vehicles - a massive rise of more than 90 percent from a year earlier - and Mercedes-Benz moved 129,500 vehicles in the same period, swelling 119 percent.” — in Posh parade, China Daily, 2011-01-14.
Imagino que dois anos e meio depois, com a economia alemã a crescer 3,6% em 2010, as ruas de Pequim comecem a polvilhar-se com outras marcas, mais liberais e menos institucionais: os BMWs, os Porches, e um número crescente de exemplares vermelhos do sempre irresistível Ferrari. Os chineses adoram o vermelho, o desenho europeu, e sobretudo a qualidade, fiabilidade e honestidade alemãs. Não são muito diferentes dos portugueses. Na realidade, somos dois países do mesmo signo: Peixes!
O rendimento disponível médio dos habitantes de Pequim (ler
este elucidativo artigo do China Daily) rondava, em 1983, os 5,7 euros mensais. Em 2010, chegou aos 2228 Yuan, ou seja, 256 euros. A moral da história é clara: enquanto a China enriquece a olhos vistos, americanos e europeus, sobretudo os europeus menos organizados e menos competitivos, como é o nosso triste caso, estão a empobrecer.
Em Portugal, apesar de ser quase impossível saber qual é o rendimento disponível
per capita em Lisboa e no Porto, tal é a pobreza da informação económica disponível
online, podemos fazer uma conta simples: se ao salário médio, de 894 euros, retirarmos 30% para impostos, obtemos um rendimento disponível mensal na ordem dos 626 euros. Como o desemprego continua a aumentar, nomeadamente em consequência do colapso financeiro do país e dos seus insustentáveis níveis de endividamento, é de prever que este valor continue a degradar-se. Resumindo: entre Lisboa e Pequim, o custo do trabalho já é irrelevante para o sucesso dum negócio. As rendas comerciais e de habitação são mais elevadas na capital chinesa do que em Lisboa, os serviços andam ela por ela, os impostos são mais baixos na China do que em Portugal (obviamente!) e, por fim, oportunidade e mercado são coisas que não faltam a oriente, e parecem ter-se evaporado no Ocidente. A conclusão do raciocínio é irrecusável: há que aprender Mandarim, e depressa.
A marca de roupa barata sueca H&M vai encerrar em breve a sua produção em Portugal. O motivo é simples de entender: só conseguem produzir trapos a custo zero se o trabalho for de borla. Ora o trabalho no nosso país já não é de borla, felizmente. Mas também na China deixou de ser! De facto, as fábricas que da Europa e da América se deslocaram para a China nas décadas de 80 e 90 do século passado, estão já a deslocalizar-se para novas paragens: Vietname, Cambodja e... México!
Em Portugal, se não nos libertarmos a tempo da democracia burocrática, palaciana, partidocrata e corrupta que nos conduziu até ao actual atoleiro, ainda acabaremos por importar, com fanfarras sindicais atrás e tudo, as
maquiladoras de Tijuana e Ciudad Juarez para repovoar o Vale do Ave.
É preciso corrigir drasticamente o comportamento político das nossas elites burocráticas, ou a sua acção irresponsável e egoísta acabará por destruir o país. O maná acabou. Ajustar toda uma tradição colonial a novas regras de racionalidade, honestidade e inteligência colectiva, vai ser o nosso maior desafio, nesta e na próxima década.
ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 2011-01-14 17:39