Afinal Portugal não é o Lehman Brothers!
Cavaco admite "grave" crise política e Alegre fica "perplexo"
Professor de Economia, homem de números, Cavaco Silva fez as contas: já tinha falado 12 vezes numa "crise política, económica e social". Certo. Mas o que não tinha dito de forma tão directa e clara era admitir o cenário de "crise grave". Ainda que pela dupla negativa. A frase, dita ontem no almoço-comício na Guarda, é muito clara e serve de aviso ao Governo para os cenários pós-eleitorais, caso se mantenha em Belém. Cavaco prepara o terreno para o que der e vier.
Depois de, na véspera, em Castelo Branco, ter desafiado o Governo a explicar melhor as medidas de austeridade e de "sacrifícios" impostos aos portugueses, o candidato foi mais duro. "Não podemos excluir a possibilidade de ocorrer uma crise grave em Portugal, não apenas no plano económico e no plano social, mas também no plano político", considerou — Público, 13/01/2011.
Cavaco é um provinciano imprestável e potencialmente perigoso na actual conjuntura! O que ele sabe de economia já a mim me esqueceu (que nem sou economista). Se não serviu até agora para nada, a não ser para criar o tal monstro administrativo do Estado, também não servirá, no futuro, para coisa alguma, ou a quem quer que seja (pois até nos seus investimentos domésticos é uma desastre). Esta criatura sem olhar está rodeada (aliás prisioneira) dum bando de piratas ainda pior do que a Tríade de Macau. Esta, ao menos, parece ter entendido duas coisas óbvias: que a crise portuguesa é um dos muitos reflexos da crise energética e de endividamento mundial (1); e que em vez de ler religiosamente o Wall Steet Journal e o Economist, ou tremer sob a batuta das três agências de notação nova iorquinas, é melhor prestar mais atenção ao que se publica no Spiegel online, no Daily China, e no China View (da Xianhua News Agency), ao mesmo tempo que se comparam as notações das manas Fitch Ratings, Moody's e Standard & Poor's com as da chinesa Dagon.
A guerra não declarada que americanos e ingleses lançaram contra o euro, em defesa dos seus falidos impérios e moedas de vento, sofreu ontem uma derrota histórica, com a colocação surpreendente de dívida soberana portuguesa nos mercados internacionais (80% dos títulos foram comprados por outros europeus, chineses... ), que o leilão de dívida pública espanhola de 13 de Janeiro consolidou. Portugal era o bater de asa que poderia deitar o euro a perder. Mas a asa não bateu —e isto, por mais que odeie escrever o resto desta frase, foi mérito do Pinóquio.
(C) In an elaborate ceremony attended by President Martinelli and most of the Cabinet, the Panama Canal Authority (ACP) announced that the consortium led by Spanish firm Sacyr had won the $3.2 billion contract to build the third set of locks, centerpiece of the once-in-a-century Canal Expansion project. This award marks an increased tide of Spanish influence in Panama. President Torrijos had established very close ties with the Spanish Royals, attending a ceremony in Madrid in his honor during devastating floods last November, during which Spain announced a gift of two helos to Panama. The Spanish government also established a regional crisis response center in Panama. In early June, President Martinelli visited the King of Spain, and the Spanish delegation at President Martinelli's inauguration, led by Prince Felipe, was very well received (ref A). We strongly suspect that the financially troubled Sacyr was able to offer a surprisingly low price due to backing from the Spanish government. — in Wikileaks.Sócrates fez jogging nos quatro continentes, numa maratona teimosa em busca de compradores e futuros investidores no nosso país. Explicou certamente ao mundo que Portugal e Espanha iriam estar em breve, de novo, no centro geográfico das trocas mundiais, e que isso mesmo fora já bem compreendido por Lula, Putin e Hu Jintao. Se não, porque é que a China pensa financiar um novo canal marítimo entre o Pacífico e o Atlântico, pelo meio da Nicarágua? Se não, porque carga de água Washington ficou furioso e conspirou contra o consórcio espanhol-italiano, liderado pela Sacyr (2), que ganhou o concurso internacional e está neste momento a construir as novas enclusas do Canal do Panamá? Se não, porque foi Vladimir Putin a Berlim dizer à querida chanceler alemã que a Europa ia de Lisboa a Vladivostoque? Se não, porque quer a China ligar a sua rede ferroviária à Europa (3) Se não, porque vai a China financiar a conclusão do caminho de ferro entre o porto atlântico angolano de Benguela e os portos índicos, tanzaniano, de Dar-es-Salem, e moçambicano, de Nacala? (4) Dívida soberana da União Europeia? Peanuts!
Eu fiz umas continhas de somar e cheguei à seguinte conclusão: a dívida externa do Reino Unido, mais de 9 biliões de dólares, é superior à dívida externa somada dos PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), pouco mais de oito biliões de USD. Sobre que realidade escrevem então os escritores fantasma do Economist?! A dívida externa dos EUA, por sua vez, supera os 13 biliões de USD. Em que pesadelo estava ontem o senhor Paul Krugman quando espirrou no seu blogue este comentário lacónico e estúpido:
I’m with Calculated Risk here: it says something about the sheer desperation of the European situation that Portugal’s ability to sell 10-year bonds at an interest rate of “only” 6.7 percent is considered a success. If you think about the debt dynamics here — the burden of growing interest payments on an economy that is likely to face years of grinding debt deflation — an interest rate that high is little short of ruinous. But it is, indeed, not as bad as people were expecting last week; hence, success.
A few more successes and the European periphery will be destroyed. — Paul Krugman. "Pyrrhic Bond Auctions", January 12, 2011.
O crescimento na Alemanha disparou. Em breve poderão fabricar BMWs a hidrogéneo em Portugal (I'm kidding ;) A economia mundial vai crescer a uma média superior a 3%, ou seja, o preço do petróleo vai disparar até aos 100USD/barril. Portugal tem imensos problemas pela frente. Cito cinco :
- endividamento excessivo
- presença castradora do Estado e dos governos na economia e na vida dos cidadãos
- excesso de impostos (5)
- corrupção, sobretudo induzida pelo actual sistema partidário
- afunilamento do sistema partidário
NOTAS
- O que não desculpa os pecados graves do capitalismo burocrático e da nomenclatura que se apoderaram do país em nome de um regime democrático desfigurado.
- De que a antiga empresa portuguesa especialista em barragens, Somague, faz parte.
- "China To Connect Its High Speed Rail All The Way To Europe" — Inhabitat.
- For over a century, various Western colonial powers have tried to link the two African coasts. De Angola a contra costa (from Angola to the other coast) dreamed the Portuguese. Upon independence, civil war and chronic instability prevented any progress and that dream was all but forgotten. Now a new power from the East believes that this is the right moment to invest in that old dream. This is not without precedent. In the 1970s China built, at the request of Tanzania and Zambia, the Tanzan Railway, a massive 1,800 kilometer line linking landlocked copper-rich Zambia to the coast of China's long time ally Tanzania. Beijing built the railway at great cost to the PRC and after every Western country rejected the two African states. The Tanzan Railway would allow the PRC to move important commodities to the coast in a much faster and cheaper way substantially cutting down costs. The rail link would also benefit African nations and contribute to foster regional trade.
Three decades later, China may reap some rewards for it continued relations Tanzania. Along with this gesture, China would only have to upgrade the existing line and connect it to the Bengela railway, which it already rehabilitated for the Angolan government. For the first time the continent may be linked from coast to coast, which may pave the way for potential economic benefits. — "China Building Africa's Economic Infrastructure: SEZs and Railroads". By Loro Horta. The Jamestown Foundation. - O argumento de que em Portugal há uma economia informal que não paga impostos, para justificar o terrorismo fiscal em curso, é um mau argumento. O dinheiro negro do mundo representa 2 a 5% do PIB mundial; a riqueza alojada em paraísos fiscais, regulamentados e piratas, representa qualquer coisa como 26% da riqueza existente no mundo, ou seja, uns 15,3 biliões de USD. Por sua vez, as economias informais no mundo não chegam aos 14% do PIB mundial. No Sul da Europa (Grécia, Itália, Espanha e Portugal), a economia que escapa aos impostos andará entre 20% e os 25%. Não é aqui, por conseguinte, que a porca do sobre endividamento das nações torce o rabo! Mas num monstro muito mais assustador, chamado mercado dos derivados financeiros —cujo potencial de desastre poderá andar à volta dos 600 milhões de milhões de dólares, isto 10 vezes mais do que a riqueza total criada anualmente no mundo inteiro! Vamos pois evitar dar atenção ao disco partido da demagogia populista dos partidos.
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