Marinho Pinto: se for mais um epifenómeno populista, morrerá pela boca. |
A maioria absoluta aguarda para ver, e não quer mais rotativismo
O pascácio do PS já era, como sempre avisámos. O Bloco já era, para bem da inteligência. Portas tem razão quando diz que a maioria não quis apear este governo — queremos, isso sim, que esta falsa maioria devorista e rendeira se afogue na própria indigência e corrupção nas próximas eleições legislativas e nas próximas eleições presidenciais. O PCP tem pela frente o enorme desafio de se tornar um partido de vocação governamental. Quer, ou não quer? Já viu o que aconteceu aos estalinistas e trotsquistas do Bloco por andarem a brincar às escondidas com o poder. O PCP é um partido pragmático, mas precisa de libertar-se do catecismo estalinista, assumindo claramente uma vocação social aberta aos tempos novos e difíceis que teremos pela frente durante décadas. Porque não dissolver-se na Aliança Povo Unido e assumir um discurso próprio do século 21? Tem gente jovem suficiente para operar de forma inteligente esta necessária metamorfose. Os velhos comunistas devem pensar mais nos seus descendentes e menos nos pregaminhos da linguagem.
E António Marinho Pinto?
A surpresa destas eleições, António Marinho Pinto e o MPT que acolheu a sua candidatura, se for mais um epifenómeno populista, morrerá pela boca. Se, pelo contrário, perceber que o futuro deste episódio está no crescimento rápido de uma nova força partidária com características distintas da sarna partidocrata que tem vindo a consumir a energia democrática do país, então deve estabelecer as próximas eleições legislativas como um obstáculo a transpor com objetivos claros: tornar-se a terceira força eleitoral do país, depois do PS e do PSD-CDSPP, e ser protagonista decisivo na escolha do próximo candidato presidencial.
Mas para aqui chegar, Marinho Pinto e o MPT vão ter que desbravar terreno virgem e trabalhar muito, com hábitos novos, largueza de vistas e pragmatismo. O anúncio que Marinho Pinto fez, do seu apoio a Martin Shultz, candidato social-democrata alemão à presidência da Comissão Europeia, é um bom prenúncio e afasta desde já a nuvem de populismo que paira sobre o conhecido e verborreico advogado que desfez (para sempre?) a coutada indecorosa e corrupta que durante décadas a Ordem dos Advogados foi.
Vamos ter alguns meses pela frente para discutir o futuro do MPT. Uma parte dos abstencionistas ativos e vigilantes nutrem certamente esperança por mais esta demonstração inequívoca de que estamos fartos da partidocracia vigente, e por mais esta prova de que é possível mudar.
O futuro está cheio de escolhos, cadáveres adiados e dificuldades profundas. É fundamental pensarmos coletivamente e de forma inteligente, sem preconceitos, embora fieis a alguns princípios democráticos e de liberdade irrenunciáveis: o estado português de direito é um nó inalienável da União Europeia; a nação portuguesa é uma realidade individual, familiar, social, histórica e política indivisível; o direito de propriedade e a liberdade económica são aquisições históricas antigas, enraizadas e sobretudo compatíveis com a solidariedade social e intergeracional da nação portuguesa que nenhuma ilusão totalitária, por definição irracional e fanática, poderá substituir.
Seria totalmente despropositado permitir que a nomenclatura e os bonzos mediáticos começassem desde já a desenhar geometrias variáveis para o fenómeno ontem manifesto. A prioridade das prioridades é ajudar o MPT e Marinho Pinto a transformarem esta pequena chama de esperança numa tocha capaz de levar Portugal a uma mudança ponderada, mas firme, de percurso.