domingo, maio 10, 2015

Novo Banco, Nova TAP


Se o Novo Banco não puder esperar até 2016, então a TAP também não


Os protagonistas da agonia da TAP, e já agora, da SATA, comportam-se como baratas tontas, procurando desesperadamente empurrar as culpas do desastre à vista uns para os outros. Todos coincidem, porém, na teimosia: ninguém arreda pé das posições entretanto ocupadas.

A arara do SPAC já não diz coisa com coisa, vociferando apenas que os pilotos que representa preferem uma vitória de Pirro a ceder no que todos os demais trabalhadores deste país cederam: cortes nos salários. O governo prefere perder trinta milhões de euros e ganhar uma crise governamental, a assumir compromissos passados que lhe custariam bem menos dinheiro e chatices. E por fim o novo caceteiro do PS, António Costa, rasga todos os documentos que o PS assinou com a TAP, com Bruxelas e com a Troika, desde 2009 até que o governo de que fez parte foi corrido deixando para trás um país na bancarrota que levará décadas a reerguer, ameaçando agora os possíveis interessados na reprivatização da empresa.

A situação da TAP é simples de descrever
  1. Custa em combustível 800 milhões de euros por ano (logo, precisa desesperadamente de renovar a sua frota envelhecida, com aviões mais económicos: A350 e A320).
  2. Custa em pessoal 580 milhões de euros por ano (um rácio desastroso face ao número de passageiros que transporta).
  3. Tem uma dívida de 1.062 milhões de euros (o equivalente a uma Ponte Vasco da Gama).
  4. Mas o seu passivo total registado é bem maior: 2.072 milhões de euros (ver Relatório Anual e Contas de 2014)
  5. Assumiu ainda compromissos firmes para aquisição de 12 Airbus A 350-900 num montante superior a 2.500 milhões de euros (vender estas posições equivaleria a um harakiri imediato da companhia).
  6. Os seus principais ativos são: o hub da Portela, pilotos, pessoal de manutenção, slots (reserva de pista para descolar e aterrar aviões), e ainda as encomendas e reservas de doze a quinze A350, e oito A320. A marca TAP e o famoso goodwill da empresa valem pouco mais que um caracol.
  7. Tem manifesto excesso de pessoal quando comparada com as companhias concorrentes.
  8. As mordomias de que ainda gozam administradores, pilotos e demais pessoal estão a desaparecer em toda a parte.
  9. As provisões ilegais da Parpública e os empréstimos por baixo da mesa, nomeadamente do ex-BES e da Caixa geral de Depósitos, que permitiram à gestão político-partidária da TAP empurrar os problemas com a barriga, e continuar a endividar-se, foram falsas soluções entretanto descontinuadas pelos grandes credores do país.
  10. Finalmente, sem capital fresco e uma reestruturação profunda, o modelo estratégico imaginado por Fernando Pinto ruirá como um baralho de cartas antes das próximas eleições, se entretanto não for encontrado um comprador credível que tome a maioria do capital social da TAP, reestruture a empresa e invista!

A TAP e o Novo Banco estão indissociavelmente ligados


O ex-BES e o ex-GES foram as principais alavancas financeiras da TAP, a par do Crédit Suisse. Por esta razão estas duas entidades foram as principais assessoras financeiras da primeira tentativa falhada de reprivatização. Seria bom sabermos em que posições estão neste momento o Crédit Suisse e o Novo Banco face a este processo. Saíram de cena? Continuam dentro?

As dívidas da TAP ao GES/BES não foram para o banco mau (não podia!), e portanto estão na carteira do Novo Banco. Qual é a exposição do Novo Banco à TAP? Alguém sabe? Eu presumo que seja muito elevada, e por isso presumo também que ninguém comprará o Novo Banco sem saber previamente o que vai acontecer à TAP.

Imaginem que os piratas do PS regressavam ao poder e recusavam pagar as dívidas. Alguém quererá correr semelhante risco?

Penso que não, e daí a pressa em atacar a bolha cheia de pus em que a TAP se transformou, de uma vez por todas. Enquanto não for esclarecido o futuro da TAP —reprivatização, ou TAPezinha—, a compra do Novo Banco não arrancará, e se não arrancar nos prazos previstos, isto é, até ao fim de junho, o BCE fará o que fez aos Espírito Santo: resolve a TAP num fim-de-semana!


As baratas tontas
“Conseguimos infligir um dano de €30 milhões na TAP”  — Hélder Santinhos, SPAC. Expresso, 08.05.2015

Hélder Santinhos, dirigente daquela estrutura sindical, realçou que os custos da greve, que teve início a 1 de maio e se prolonga até ao dia 10, são na casa dos 30 milhões de euros e as exigências feitas pelo sindicato ao Governo o e à TAP representam 6,5 milhões de euros por ano.

Pires de Lima desafia António Costa a explicar como vai salvar a TAP

O secretário-geral do PS não se limitou a defender que os privados não devem controlar a TAP, como fez um aviso: “Espero que ninguém pense em comprar mais de 49%.”

[...]

As declarações de Costa sobre a TAP (e também a Carris e o Metro) levaram também o líder parlamentar do PSD a acusar o secretário-geral do PS de “condicionar o mercado”. Luís Montenegro lembra que foi “o PS que lançou a privatização e que a incluiu no PEC I, II, III e IV”, estranhando que seja o líder socialista que “agora vem condicionar o mercado levantando problemas sobre a privatização...”

Diário de Notícias, 10/05/2015

ÚLTIMA HORA

TAP quis dar mais ajudas de custo e horas extra. Pilotos rejeitaramDinheiro Vivo, 11/05/2015

Afinal o Governo andou a negociar de gatas, em vez de avançar para um Requisição Civil, como deveria ter feito. Como é possível querer vender uma empresa e entupi-la de compromissos insustentáveis para quem quer que se disponha a pegar nos cacos e reestruturar a TAP?
Atualização: 11/05/2015, 10:16

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sexta-feira, maio 08, 2015

Cameron arrasa sondagens

Infografia: BBC

Dois grandes vencedores: David Cameron e Escócia


O grande problema das 'esquerdas' é que, depois de verem o seu modelo invalidado pela História, se transformaram em forças políticas residuais, estagnadas e a transbordar de corrupção e autoritarismo.

Esperemos que o eleitorado português acorde para a realidade, e deixe de sonhar com o Euromilhões cor-de-rosa. É que não existe mesmo!

E quanto ao UKIP, aqui vai uma demonstração...





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quinta-feira, maio 07, 2015

SATAzinha


Depois da TAPzinha, a SATAzinha—cortesia das alucinações estratégicas do PS


Mais uma empresa 'estratégica' que os 'socialistas' incharam até rebentar. E rebentou.
Qual é, já agora, a dívida do governo açoriano à SATA, senhor Carlos César?

A SATA vai deixar de voar para a Europa já depois de junho. Continuará a voar para o Continente, até ver. E é bem possível que os canadianos, mais cedo do que tarde, preparem uma surpresa para as ligações Açores-Canadá e Açores-Estados Unidos. A oportunidade é de ouro para quem, como os canadianos, querem ensaiar voos intercontinentais low cost. Há uma companhia na calha. Chama-se Rouge.

Quando ao resto e é conhecido o que nos vale é que a easyJet e a Ryanair já começaram a salvar as ilhas dos seus donos cor-de-rosa.

Diz-me fonte geralmente bem informada que a Air Nostrum é capaz de em breve começar a sonhar com pilotos açorianos para iniciar o serviço entre ilhas. Na realidade, a Macaronésia até merecia uma empresa dedicada.

A culpa do colapso do setor dos transportes em Portugal é obviamente dos 'socialistas' e dos 'comunistas' que temos, mas o rapaz dos finos e o moço das PPP, e a coligação que deixou correr o marfim até chegarmos a isto, vão sair chamuscados de tudo isto. Ai vão, vão!

Rotas da SATA para Europa dão prejuízos anuais de quatro a seis milhões de euros

As rotas para a Europa da SATA representam quatro a seis milhões de prejuízos anuais, revelou hoje o presidente da administração da empresa, tendo os partidos da oposição nos Açores sublinhado que foram mantidas por indicação do executivo açoriano.

 Os deputados da oposição lembraram que estas rotas começaram a ser feitas e se mantiveram por indicação do Governo dos Açores, único acionista da SATA, como aliás já foi assumido pelo executivo, que argumentou com a sua importância para o turismo do arquipélago.

O PSD reforçou hoje que o executivo "obrigou" a companhia a manter uma opção danosa financeiramente, enquanto o deputado do PCP, Aníbal Pires, considerou mesmo que a situação de degradação financeira da SATA se deve "às opções" que o Governo dos Açores lhe impôs sem lhe pagar os serviços que pede.

SIC/Lusa

«A SATA deixa de voar para a Europa»
Executive Digest, Fevereiro 12, 2015

A SATA tem, e isso está vertido expressamente no plano, duas dificuldades de natureza diferente.
Tem uma dificuldade financeira, que decorre de ter um crédito bastante elevado sobre várias entidades, e de ter ao mesmo tempo, e em parte por causa disso, um financiamento bancário de curto prazo também de montante muito elevado. Isso leva a que seja uma empresa com dificuldades de financiamento, que é muito importante no sector da aviação, e a uma empresa com uma função financeira muito pesada, ou seja, com custos de capital muito altos porque mais de dois terços da sua dívida é dívida de curto prazo. A par disso, a SATA tem algumas dificuldades não menos importantes de natureza operacional.


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Lucros caem

A inversão da tendência demográfica expansionista é evidente
(clique para aumentar)

Temos que aprender a ser felizes com menos consumo, menos capital e menos trabalho


Basta escrever na janela de pesquisa do Google, como hoje, 7 de maio de 2015, fiz:

— lucros caem,

para ver como está a economia...

E basta olhar para o gráfico acima —previsão da ONU sobre a taxa de crescimento demográfico mundial— para esquecermos toda a demagogia partidária e das instituições governamentais sobre o regresso ao crescimento nas economias, no emprego, nos rendimentos do trabalho e de capital, nos lucros das empresas, e sobretudo no consumo conspícuo suportado pelo endividamento crescente das pessoas, das empresas e dos governos.

O período de crescimento rápido iniciado por volta de 1897 chegou ao fim. Entrou em crise no início da década de 70 do século passado, mas a conclusão natural do ciclo foi sendo sucessivamente adiada por via da expansão do crescimento assente no consumo e no endividamento, e ainda pela globalização.

  • Lucros da Samsung caem 39% nos primeiros três meses de ...
  • Lucros da REN caem 7% com taxa sobre o sector 
  • Lucros da Sonangol caem 77%
  • Lucros da Jerónimo Martins caem mais de 20% num ano ...
  • Lucros da Allianz Portugal caem 33 em 2014 para cerca de ...
  • Lucros das seguradoras caem para 28 milhões em 2014
  • EDP: lucros caem 6,2%, mas mantêm-se acima de mil ... 
  • BlackBerry afunda: lucros caem 58% no trimestre ...
  • A Research in Motion afundou 22% na bolsa de Frankfurt ...
  • Lucros da sands china caem 54,2% devido à queda das ...
  • Lucros da McDonald's caem 33% no primeiro trimestre de ...
  • Lucros das seguradoras caem para 28 milhões em 2014 ...
  • OJE | Lucros do Barclays caem 52% no primeiro trimestre
  • Receitas públicas caem 32% e espelham quebra nos lucros ...
  • Exame Angola – Lucros da banca caem para metade
  • Lucros da Novabase caem 4,4 milhões de euros em 2014 ...
  • Lucros da Sonae caem 61% até Setembro - Sol
  • Lucros do Barclays caem 52% no primeiro trimestre ...
  • ...

Este colapso evidente dos lucros ocorre num ambiente de empregabilidade onde abundam as empresas de trabalho negreiro ('temporário') e os estágios sem remuneração a que, por exemplo em Portugal, o PSI 20 recorre profusamente.

No caso das empresas de trabalho temporário, há vínculos que amarram as pessoas economicamente mais frágeis a bancos de horas de salário mínimo, 40h/semana, sem fins-de-semana, nem feriados, nem férias...

Não estamos longe da escravidão do Qatar.

Até que um dia a revolta parta a loiça toda e a perseguição aos políticos corruptos tome as ruas de Lisboa, Porto, etc. Como vem acontecendo num número crescente de cidades: Londres, São Paulo, Baltimore, Milão...

Onde estão as denúncias fundamentadas por parte dos realejos do PCP e do Bloco?


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação A sociedade civil precisa de assumir a gestão democrática para lá dos enquadramentos institucionais tradicionais. Temos que reinventar a democracia!

segunda-feira, maio 04, 2015

Fim de festa


Esta era nasceu de guerras e revoluções. A próxima, não sabemos.


Uma reflexão simultaneamente melancólica e realista de Bill Gross, um dos grandes gestores financeiros americanos dos últimos quarenta anos, sobre uma era que está a chegar ao fim.

Envelhecimento demográfico, elevados níveis de endividamento/PIB, e destruição tecnológica de emprego, são uma combinação letal. Todos morremos, como morrem todas as eras de crescimento assentes em 'revoluções de preços' (inflação). Esta, que vem de 1887 (Fischer, D. H.), chegou ao fim. Segue-se uma nova era de deflação, regressão demográfica (Portugal poderá chegar a 2050 com menos 750 a 800 mil residentes que hoje), elevados níveis de desemprego estrutural, envelhecimento da população (a sustentabilidade do estado social tenderá a degradar-se), quebra dos rendimentos do trabalho e do capital, instabilidade social, política e diplomática recorrente, e finalmente, adaptação.

Possivelmente assistiremos a um novo renascimento cultural, por mais paradoxal que este vaticínio pareça. Será, com certeza, noutro paradigma energético, noutro paradigma de consumo, e noutro paradigma de felicidade.

A Sense of an Ending
By Bill Gross
Janus Capital / Investment Outlook, May 4, 2015

Having turned the corner on my 70th year, like prize winning author Julian Barnes, I have a sense of an ending. Death frightens me and causes what Barnes calls great unrest, but for me it is not death but the dying that does so. After all, we each fade into unconsciousness every night, do we not? Where was “I” between 9 and 5 last night? Nowhere that I can remember, with the exception of my infrequent dreams. Where was “I” for the 13 billion years following the Big Bang? I can’t remember, but assume it will be the same after I depart – going back to where I came from, unknown, unremembered, and unconscious after billions of future eons. I’ll miss though, not knowing what becomes of “you” and humanity’s torturous path – how it will all turn out in the end. I’ll miss that sense of an ending, but it seems more of an uneasiness, not a great unrest. What I fear most is the dying – the “Tuesdays with Morrie” that for Morrie became unbearable each and every day in our modern world of medicine and extended living; the suffering that accompanied him and will accompany most of us along that downward sloping glide path filled with cancer, stroke, and associated surgeries which make life less bearable than it was a day, a month, a decade before.

Turning 70 is something that all of us should hope to do but fear at the same time. At 70, parents have died long ago, but now siblings, best friends, even contemporary celebrities and sports heroes pass away, serving as a reminder that any day you could be next. A 70-year-old reads the obituaries with a self-awareness as opposed to an item of interest. Some point out that this heightened intensity should make the moment all the more precious and therein lies the challenge: make it so; make it precious; savor what you have done – family, career, giving back – the “accumulation” that Julian Barnes speaks to. Nevertheless, the “responsibility” for a life’s work grows heavier as we age and the “unrest” less restful by the year. All too soon for each of us, there will be “great unrest” and a journey’s ending from which we came and to where we are going.

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A formiga branca partidária




Em Espanha há 445 mil políticos. O dobro dos que há em Itália, e trezentos mil mais que na Alemanha. E em Portugal?


Vale a pena passar os olhos por este exemplo paradigmático do parasitismo partidário que consome as democracias europeias, como se fosse uma formiga branca. Não há nenhum Wikiblues lusitano que apure o tamanho da nossa corte partidária? Seria melhor que adormecer a ouvir os economistas de serviço e os seus cenários macroeconómicos pueris.

http://wikiblues.net/node/9456



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domingo, maio 03, 2015

TAP—FOSUN

Um cenário possível
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Depois da tempestade...


Os partidos gritam por causa do IVA da restauração. O PS faz contas ao número de potenciais eleitores ligados aos tascos e tasquinhas do país, e promete baixar dos atuais 23% para 13%, afirmando que assim irá salvar um setor onde continua a predominar a informalidade e a fuga aos impostos (o PS sempre gostou da aldrabice).

Nesta gritaria, a coligação que defende a taxa de 23%, prisioneira de um quadro constitucional que reprime a diminuição da despesa do estado, afirma que a alternativa é recorrer a mais receita fiscal. Neste caso, o resultado traduz-se numa arrecadação suplementar de 230 milhões de euros.

Vejam agora, por comparação, o que o subsídio público à TAP nos custou, só em 2014: 367 milhões de euros! Esta fatura foi passada à vaca leiteira Parpública, a qual, no mesmo exercício, registou 461,9 milhões de euros de prejuízos.

Em 2015 a fatura será ainda maior se o mal não for cortado pela raiz (leia-se privatização).

A nossa análise da situação da TAP é obviamente desinteressada, ao contrário das adivinhações da administração da TAP, do Governo, da banca exposta ao buraco de dívidas da empresa, do SPAC e dos pilotos não sindicalizados, da generalidade dos trabalhadores da empresa, dos fornecedores e do turismo.

O António Maria e os seus amigos preocupam-se com os erros e com a corrupção pandémica que nos atingiu, e escrevem a favor do que julgam ser as melhores estratégias para o país. A centena de artigos escritos sobre a TAP e a estratégia aeroportuária e ferroviária de que precisamos provam a bondade das nossas intenções. Temos acertados nas previsões e felizmente algumas das decisões estratégicas mais catastróficas (Ota e Alcochete, nomeadamente) caíram sob o peso da realidade.

A TAP, como está, é um cancro. Só a sua progressiva privatização a poderá salvar do pior.

A TAP precisa de capital, ou seja, de um acionista privado maioritário (61%), da participação dos seus trabalhadores no capital da empresa (5%), da dispersão de 30% do capital por outros interessados (por exemplo, as câmaras de comércio portuguesas espalhadas pelo mundo), e da retenção nas mãos do estado de uma pequena percentagem do capital da companhia: 4%.

A TAP precisa de parar a estratégia ruinosa que tem seguido até aqui, nomeadamente ao subestimar o paradigma Low Cost (que veio para durar).

A TAP precisa de uma reestruturação profunda e de uma nova gestão, livre dos condicionamentos da cleptocracia indígena que a manipulou, conduzindo a empresa pública à ruína.

A União Europeia, que neste momento está perfeitamente informada sobre a insolvência da TAP, terá já dado instruções a Passos Coelho sobre o que estará disposta a fazer. Tal como no caso do BES, o ponto de não retorno foi atingido: é preciso resolver imediatamente o problema da TAP!

Acontece que o ex-Grupo BES é provavelmente a instituição financeira mais exposta ao buraco financeiro da TAP (a par da Caixa Geral de Depósitos). Quantas centenas de milhões de euros em crédito à TAP estão registados nas múltiplas operações em que o BES, o GES e a TAP estiveram envolvidos? Só a operação Airbus A350 representa uma exposição superior a 2,5 mil milhões de euros!

A nossa intuição diz-nos que a operação de privatização do Novo Banco precipitou a clarificação do processo de privatização da TAP, precisamente por causa da exposição da nova instituição financeira à companhia aérea portuguesa.

No dia 10 de maio, se não for antes, termina a greve da TAP. No dia 15 de maio termina o prazo da entrega de propostas vinculativas para a aquisição de 61% do capital da TAP (os restantes 5% da fatia em processo de privatização são destinados aos trabalhadores do Grupo TAP). Por sua vez, até ao fim do mês de junho, os cinco candidatos à compra do Novo Banco, entretanto escolhidos pelo Banco de Portugal, terão que apresentar as suas propostas vinculativas de compra.

Sem reestruturação prévia da TAP, com as restrições conhecidas do caderno de encargos, e sem se saber a verdadeira dimensão do endividamento e conhecer todos os credores, só um louco (ou um inside trader muito aventureiro) arriscaria oferecer um euro que fosse pela companhia.

A privatização da TAP está, em certa medida, dependente da venda do Novo Banco, e esta está provavelmente dependente do desfecho da privatização da companhia aérea.

O grupo privado chinês FOSUN, que já comprou o Hospital da Luz e a companhia de seguros Fidelidade, e detém cerca de 5% da REN, é um dos candidatos à compra do Novo Banco. Se vencer a concorrência espanhola (espero que vença) a TAP será naturalmente um ativo muito apetecível. Na realidade, as dívidas da TAP ao Novo Banco devem superar os famosos 300 milhões de euros que o Governo espera arrecadar da privatização. Se assim for, e a FOSUN, como sucessora do Grupo BES, poderá comprar a TAP pelos famosos 60 milhões de contos (o valor que Cravinho pedia, em 1999, pela companhia), transformando as dívidas da TAP em capital.

O aparecimento de um grande grupo económico-financeiro chinês em Portugal é uma opção estrategicamente boa para Portugal. Equilibra a pujança das presenças espanhola e angolana num quadro de ruína e extinção dos rendeiros do regime que não souberam ler a tempo o futuro.

Se esta for a floresta, as pequenas árvores retorcidas que se agitam nos média não farão grande diferença.


Nota final: a FOSUN é o maior acionista do Club Med. Ou seja, aviões, aeroportos, barcos e portos, comboios e ferrovia, estão certamente no radar dos seus investimentos futuros. O comércio marítimo e ferroviário, o turismo e as prestação de serviços de saúde de alto valor acrescentado são fileiras a conquistar no curto prazo. Haverá cada vez mais africanos e asiáticos ricos a demandar a Europa. Portugal é uma das principais portas de entrada, não só de petróleo, gás natural e outros recursos estratégicos (sobretudo se as nuvens negras continuarem a crescer na Ucrânia e no Médio Oriente), mas também de pessoas. Que precisa a FOSUN para crescer rapidamente em Portugal? De um banco... e da TAP!


POS SCRIPTUM—A Catarina do Bloco é contra a privatização. Defende, pois, que os pensionistas continuem a levar cortes e mais cortes para alimentar corvos a pérolas, e que as empresas continuem a fechar portas para que a TAP continue a voar alegremente, às costas dos contribuintes. Por outro lado, a Catarina defende que Portugal não deve pagar o que deve. Matematicamente faz sentido. Gasta-se o que não se tem, pede-se emprestado, e depois não se paga. O problema é que o mano Mário, a prima Lagarde, e a tia Merkel já perceberam que esta matemática é um pouco estranha. E como perceberam, decidiram fechar a torneira do crédito, e só a abrem para deixar correr umas pinguinhas de vez em quando, desde que saibam muito bem para onde vai a massa. Para TAP, tão cedo, não haverá um cêntimo mais. Capiche, Margarida Martins do Bloco sem emenda, nem remédio?

Atualização: 9/5/2015 15:12

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