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sábado, junho 24, 2017

Remodelar António Costa, ou mudar o chip do regime?

A fotografia que desmascara o embuste montado pelo Governo sobre a origem da tragédia
Foto: Daniel Saúde (ver as suas declarações à SICN)

A austeridade das esquerdas está a revelar-se uma tragédia


António Costa, depois de atropelar o seu próprio partido, perdeu as eleições que prometera ganhar, tal era a convicção de que o governo de centro-direita estaria já completamente queimado pela austeridade imposta pelos credores externos e internos (não nos esqueçamos dos bancos e de outros detentores nacionais de dívida pública), e ainda pela guerrilha civil que lhe fora movida desde o primeiro minuto de vida pelas esquerdas concubinas do orçamento e do aparelho de estado: PS, PCP e Bloco de Esquerda.

O PSD, contra todas as sondagens, ganhou as eleições. Perdera, porém, a maioria parlamentar. E como a ocasião faz o ladrão, Costa aceitaria de imediato a bóia de salvação estendida pelas esquerdas comunista, maoista e trostquitsa. Em grande foi esta derrota feita vitória, mas com um preço cosido na bainha: reverter a austeridade da Troika a favor da manutenção do concubinato entre partidos numericamente irrelevantes, ideologicamente indigentes e historicamente desfasados, e o Estado, protegendo a todo o custo as suas quintas de poder: o proletariado docente, os sindicatos, algumas, cada vez menos, autarquias que há muito fogem da demagogia improdutiva, juízes que deixaram de ser órgãos de soberania, e muita mais função pública e atividades afins. Em suma, substituiu-se a austeridade da Troika por uma austeridade das esquerdas, pois, como sempre disse e escrevi, o cutelo do défice só não desfigurará mais o país que temos se respeitarmos as imposições dos principais credores. Como agora percebemos, as esquerdas, em matéria de défice, também foram além da Troika, e preparavam até os respetivos festejos para o solstício deste Verão.

Não foi pois obra do diabo o que aconteceu em Pedrógão Gande, mas consequência direta de cativações que, como sabemos, têm vindo a atingir setores vitais da nossa sociedade, como é há muito notório no setor da saúde, mas também nos investimentos em segurança florestal que ficaram no gabinete do excelso Mário Centeno (Expresso). No caso da caricata Autoridade Nacional de Proteção Civil, até consultar o seu sítio na Internet leva uma eternidade!

Duas perguntas fatais


I
Porque tardou António Costa mais de dez horas a chegar ao comando central da Autoridade Nacional de Proteção Civil? A mesma pergunta ao PR, no que se refere à sua primeira aparição televisiva. A mesma pergunta ao secretário de estado da administração interna, que só se deslocou a Pedrógão Grande seis hotas depois de os incêndios começarem. A mesma pergunta à inenarrável MAI, Constança Urbano de Sousa, que levaria onze horas a chegar ao teatro das operações.

Hipótese: estiveram a combinar uma estratégia de controlo de danos reputacionais.

Quando o par bonapartista surgiu nos vários canais de televisão a dar prova de vida, já havia 64 mortos civis e mais de uma centena de feridos inexplicáveis. Presume-se que conheciam bem, há mais de seis ou oito horas, a gravidade da situação.

II
Se, como reza agora a narrativa sobre o SIRESP (1), não falharam as comunicações, pois os sistemas complementares e redundantes suprimiram as falhas do sistema principal de comunicações do SIRESP, então haverá que responder a uma outra pergunta crítica: porque não foi encerrada a Estrada Nacional 236-1 a tempo de evitar a tragédia que ali ocorreu?

Está na hora de despedir António Costa, e de o afetuoso presidente Marcelo Rebelo de Sousa nomear outro primeiro ministro, ou, se não encontrar personalidade à altura e disponível, demitir mesmo o governo, e agendar eleições antecipadas.

Se Marcelo não retirar a tempo as devidas consequências desta degradação rápida do regime, o regime encarregar-se-à de mudar os principais chips do sistema. Em nome da sobrevivência da democracia, pois claro!

NOTAS

  1.  Jorge Lacão andou ontem à noite de um canal televisivo para outro dando explicações sobre o SIRESP. Basicamente, o que ele repetiu várias vezes foi que a PPP SIRESP, afinal, não tinha sofrido qualquer apagão de comunicações, não senhor! Seja porque funcionou um outro recurso ("estratégico") do mesmo SIRESP, seja porque não deixou de operar a rede de telecomunicações do Serviço Nacional de Bombeiros. De onde vem, porém, este empenho de esclarecimento por parte do deputado socialista? Teria sido uma resposta à revelação da clásula 17 do Contrato entre o MAI e o SIRESP, de 4 de julho de 2006, dedicado à chamada "força maior", a qual desresponsabiliza o SIRESP de qualquer incumprimetno imputável às mais diversas causas naturais e humanas, incluindo raios? Teria sido, tão só, o cumprimento de uma instrução de António Costa, no sentido de desviar todas as atenções do inimputável SIRESP, uma vez que o contrato existente, por si assinado, substitui um anterior declarado nulo por ter sido elaborado e assinado à pressa pelo governo Santana Lopes quando este já se econtrava demitido e em meras funções de gestão? Que diferenças existem entre as duas versões contratuais? António Costa, MAI de José Sócrates, assinou ou mandou assinar um contrato exorbitantemente caro para os resultados que se conhecem. Mas se esta foi a intenção, esconder as ligações do SIRESP ao atual primeiro ministro, sobre uma dúvida árdua de esclarecer: porque se manteve aberta a EN236-1 durante várias horas depois do incêndio ter deflagrado e assumido proporções alarmantes?
Atualizado em 24/6/2017, 16:47 WET

quarta-feira, outubro 14, 2015

Somos todos socialistas!

Do Estudo eleitoral português de 2011


A grande ilusão eleitoral


“Por estes dias, toda a gente sabe o que os eleitores de cada partido queriam e preferiam quando votaram, o que significa o voto e que preferências transmitiu. Eu não tenho a certeza sobre 2015. Mas posso recuar a 2011, com os dados do estudo eleitoral português.”
— in Pedro Magalhães, “O que os eleitores ‘querem’”.

Este é o mais delicioso desmentido da demagogia que sustenta a ideia peregrina de que os eleitores votaram em 4 de outubro contra o PàF, ou pior ainda, por uma Frente Popular chefiada por António Costa. Vale a pena observar cada um dos sete gráficos publicados.

sábado, setembro 19, 2015

O que resta da Esquerda

Yanis Varoufakis, Sydney, 1993

Como estará a esquerda europeia daqui a um ano?


Varoufakis anuncia apoio aos dissidentes do Syriza nas eleições
Lusa, 18 setembro 2015

O ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis anunciou hoje que apoia a Unidade Popular (LAE), o partido proveniente da cisão no Syriza em agosto e que se apresenta às legislativas antecipadas de domingo.


A apropriação oportunista do marxismo iniciada por Lenine criou um cisma insuperável na chamada esquerda intelectual. Esta, ou é infantil, ou autoritária. O seu erro fundamental reside no paternalismo com que sempre encarou a classe operária e, em geral, quem trabalha. O narcisismo vanguardista da esquerda marxista degenerada, traduzido na pressuposta superioridade intelectual e moral das elites socialistas e comunistas diante do Capital e das massas populares, não poderia ter melhor representante que Yanis Varoufakis. Depois da desagregação interna da União Soviética, parece ser agora a vez de assistirmos à implosão da esquerda pequeno-burguesa e chique europeia.

Talvez seja a condição necessária de uma nova utopia.

Varoufakis — finest media moments
By Cynthia Kroet
Politico, 7/6/15, 3:01 PM CET / Updated 7/6/15, 4:34 PM CET

Yanis Varoufakis, who resigned as finance minister Monday to facilitate any attempt by the left-wing government to keep Greece in the eurozone, cut a dash on the international stage with his casual dress and incendiary remarks that were seen as symptoms of a lack of seriousness by Greece’s international creditors and the often critical international media.

With his resignation, the Syriza-led coalition government loses one of its most controversial figures. Here are some of his most memorable moments on camera:

“I happen to be conservative”

RESPOSTA A UM AMIGO
Meu caro Armando Ramalho,

A metamorfose das democracias degeneradas que existem no mundo é um processo que já começou, mas vai atravessar ainda algumas fases cuja natureza e momento desconhecemos. Para já, o medo de regressarmos ao tempo dos piratas sem vergonha (do Loureiro ao Pinóquio) vai determinar a maioria de dia 4 de outubro. Pelo que vou vendo, lendo e estudando, o PaF é bem capaz de renovar a maioria. A esquerda populista e fandanga, que no caso do Bloco chegou a surpreender pela positiva, vai piorando dia a dia, sobretudo quando lhes perguntamos como faria se estivesse no lugar de Passos Coelho e Paulo Portas. Na frente da desgraça esquerdinofrénica, claro, o radicalismo crescente e suicida do sargento-ajudante Costa. Aceitei ser candidato em Lisboa pelo Nós, Cidadãos pois desejo ardentemente que algo mude naquela sacristia sórdida e bafienta a que chamam Assembleia da República.

Atualização: 19/9/2015 16:54 WET

sexta-feira, maio 08, 2015

Cameron arrasa sondagens

Infografia: BBC

Dois grandes vencedores: David Cameron e Escócia


O grande problema das 'esquerdas' é que, depois de verem o seu modelo invalidado pela História, se transformaram em forças políticas residuais, estagnadas e a transbordar de corrupção e autoritarismo.

Esperemos que o eleitorado português acorde para a realidade, e deixe de sonhar com o Euromilhões cor-de-rosa. É que não existe mesmo!

E quanto ao UKIP, aqui vai uma demonstração...





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segunda-feira, março 30, 2015

Henrique Neto pode chegar a Belém

Henrique Neto
FOTO MANUEL DE ALMEIDA/ LUSA in Expresso

O Ron Paul português?


Antes de comentarmos a entrevista ao candidato presidencial Henrique Neto, por José Gomes Ferreira, no Negócios da Semana (SIC-N), convém anotar e refletir, a talhe de foice, os resultados das eleições legislativas intercalares regionais da Madeira (RTP-N): 50,28% dos eleitores abstiveram-se, votaram em branco (0,87%), e votaram nulo (3,40%), parte dos quais, presume-se, no PDR.

O PSD renovou a maioria absoluta e afastou o espetro de Jardim, a banhos no Porto Santo. O CDS continua a ser a segunda força partidária, mas em queda. No setor cor-de-rosa e vermelho, PCP e Bloco deram corpo a um desastre bem eloquente da falência política e sobretudo cultural desta esquerda oportunista, agarrada ao mel do regime. Nem com todos os dirigentes nacionais em campanha pelo arquipélago conseguiram o mais ténue sinal de que as coisas serão muito diferentes nas Legislativas de outono.

Nota final: um partido espontâneo de cidadãos, Juntos Pelo Povo, arrancou 10,34%. Por pouco não ultrapassou o Partido Socialista, que concorreu coligado com mais três siglas inócuas (11,41%). JPP ficou a um deputado do PS e a dois do CDS-PP.

Esta excursão ao arquipélago cor-de-laranja serve sobretudo para colocar algumas hipóteses relativamente às próximas duas eleições nacionais: as Legislativas de 2015 e as Presidenciais de 2016:
  1. os níveis de abstenção serão elevados (30-40%);
  2. a atual maioria poderá renovar a maioria se, até ao verão, conseguir mostrar ao país que estamos melhor do que quando Sócrates entregou o país aos credores;
  3. o PS dificilmente ganhará as Legislativas com maioria absoluta, e sem esta, António Costa dificilmente formará um governo, pois o Livre não existe, o Bloco, apesar de Mariana Mortágua, vai de mal a pior, o PCP não sai donde está, Marinho Pinto não arrancará votos suficientes para dar maioria ao PS, e acabará por coligar-se com o PSD e o CDS, negociando o imprescindível passaporte para crescer;
  4. não creio que António Guterres se candidate às presidenciais, António Vitorino é um facilitador maçónico sem condições para exercer qualquer cargo político-partidário relevante (ainda recentemente foi cooptado para administrador dos CTT), Sampaio da Nóvoa é uma enteléquia universitária desconhecida dos eleitores, o PCP apresentará, como sempre, o seu candidato, idem para o Bloco. Imagino que Santana Lopes avance com a sua candidatura dentro de algumas semanas, entalando de vez o comentador Marcelo, abrindo, por outro lado, as portas a Passos Coelho para este impor então o seu candidato, ultrapassando as manobras do aracnídeo de Belém.
  5. Tudo pesado, não vejo porque razão Henrique Neto não pode aspirar ao cargo de próximo presidente da república. Está na altura de os empresários, intelectuais, autarcas e cidadãos que jamais votarão na nomenclatura voraz e sem emenda que nos trouxe até aqui, de começarem a viabilizar e dar a força à candidatura verdadeiramente independente deste empresário socialista que não hesitou em criticar o então todo poderoso primeiro ministro José Sócrates.
  6. Sobre as objeções à idade avançada do candidato, diria apenas que é um ano mais novo que o célebre senador Ron Paul, candidato estrela das últimas eleições presidenciais americanas.
Henrique Neto é razoavelmente conhecido dos portugueses, em virtude das suas numerosas aparições na televisão, de que a entrevista dada ao Negócios da Semana (27.03.2015) foi um eloquente exemplo, onde sempre fala com franqueza, desassombro e contenção sobre os problemas do país e sobre as fraquezas e insuficiências da nossa classe político-partidária. É direto, claro e vai quase sempre ao essencial. A sua experiência de vida, e o conhecimento que tem dos partidos, mas sobretudo a sua ambição de melhorar a eficiência do país, fazem dele um candidato ideal para o tempo que atravessamos, um tempo de desilusões sucessivas, de descrédito completo da classe política, e de premonição de mudança. Disse, e bem, a José Gomes Ferreira, que o que é preciso fazer cabe em duas folhas de papel: em vez de opacidade, navegação à vista, improviso e naufrágio, precisamos de nos aviar em terra sobre três temas essenciais: recursos humanos, logística e informação. E precisamos ainda de trazer os cidadãos para o exercício concreto da democracia, pois a democracia, boa ou má, é coisa sua e não do caciquismo partidário vigente que nada de bom trouxe ao país.

As coisas não podem ficar como dantes — pensa Henrique Neto. Mas para que à esperança suceda a mudança é preciso, por exemplo, colocar em Belém um presidente que não seja mais um fantasma partidário do regime esgotado que hoje temos.

A encruzilhada em que se encontram os partidos do sistema —todos os partidos do sistema— é tal que este empresário socialista, filho de uma família operária da Marinha Grande que se fez a pulso, poderá bem protagonizar o paradigma de decência e frontalidade em que os portugueses quererão porventura reconhecer-se nos próximos cinco anos. Há uma metamorfose em curso, mas para que esta corra bem teremos que saber olhar em direção a novos horizontes.

O PS socratino, de que António Costa é o sargento-ajudante e putativo testa de ferro, lançou meia dúzia de canídeos às canelas de Henrique Neto. Desajeitados como são, não fizeram mais do que exibir as fraquezas crescentes dessa coisa informe em que se tornou o Partido Socialista depois do golpe de estado que afastou António José Seguro.

Para já, Henrique Neto é o meu candidato.


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quarta-feira, outubro 24, 2012

Não voto, a menos que...


Sem abanão, este regime não cai. E não caindo, apodrecemos todos!

O voto branco é, por assim dizer, um voto voluntarista e por conseguinte mais político do que a abstenção, e menos ambíguo do que o voto nulo, que pode ser voluntário, ou inadvertido.

Os votos brancos andam ligeiramente acima dos 2% e abaixo dos 3%. Logo, para dar expressão sociológica e política ao voto branco seria necessário organizar esta decisão de votar branco. Uma ideia: formar um PARTIDO BRANCO, destinado precisamente a promover o voto branco, exigindo, por exemplo, que estes votos se traduzam em lugares no parlamento. É uma ideia polémica, mas mobilizadora. E poderá atrair algumas centenas de milhar de abstencionistas, se houver mobilização, desde logo a partir das redes sociais....

No entanto, há que valorizar devidamente a abstenção. Mais de 50% dos eleitores deixaram de votar, e mais de 100 mil estão a emigrar anualmente, deixando o país entregue à sua irresponsabilidade.

Continuar a votar nos partidos do sistema deixou de ser um ato de cidadania democrática, para converter-se numa manifestação imperdoável de distração, ou então, pior: uma espécie de ato de contrição dominical pelos pecados da democracia que nos levaram à bancarrota.

Lavar a consciência desta forma é, nesta fase de colapso inexorável do regime saído do 25 de Novembro, perigoso. Portugal depende demasiado do Estado, e o Estado depende demasiado dos bancos, dos partidos e das corporações instaladas. É urgente interromper este círculo vicioso!

Enquanto não varrermos o lixo partidário dos partidos, os devoristas e os rendeiros que conduziram o país à falência, e que continuam a gastar alegremente o que não têm, indo aos nossos bolsos e aos bolsos dos nossos filhos e netos, sem vergonha alguma, não sairemos do buraco sem fundo à vista em que nos vamos precipitando todos.

É preciso dar um sinal claro e muito forte a esta corja sem vergonha já nas próximas eleições, autárquicas!

  • NÃO VOTANDO
  • VOTANDO BRANCO
  • ou... (vão passando por este blogue!)

segunda-feira, outubro 15, 2012

Fantasia eleitoral

Caldeira Grande, Furnas, São Miguel, Açores.
Foto @ OAM

Debaixo do paraíso há um vulcão!

As eleições de 14 de outubro não só desfizeram o CDS, o Bloco e o PCP, como revelaram uma realidade preocupante: mais de 54,2% dos eleitores inscritos deixaram de votar nos partidos do sistema. Ou não votam, ou votam em branco ou votam nulo.

O PS renovou no domingo a maioria absoluta nas eleições regionais dos Açores, conseguindo 31 deputados dos 57 mandatos totais, mais um do que há quatro anos, enquanto o PSD apesar de derrotado aumentou igualmente a sua votação em relação a 2008, com mais dois deputados.

O CDS perdeu eleitorado e passou de cinco para três deputados. Já Bloco de Esquerda perdeu também um deputado, ficando com apenas um representante no parlamento regional, enquanto a CDU manteve o seu deputado único, tal como o PPM.
A abstenção ficou nos 52,1 por cento, um pouco abaixo [não é verdade!] do recorde de 2008 (53,2 por cento).

O PS conseguiu 48,98% dos votos expressos (52.793 votos); o PSD obteve os 32,98% (35.550 votos); o CDS-PP ficou 5,67% (6.106 votos); o BE com 2,26; (2.437 votos); a CDU (PCP-PEV) com 1,89% (2.041 votos) e o PPM 0,09por cento (86 votos), conseguiu manter o seu deputado pelo círculo do Corvo.

in Público, 14 out 2012

Esta notícia, como todas as que foram publicada pela nossa imprensa indigente, limita-se a papaguear o que a Lusa e os condottieri de comunicação lhes impinge. É certo que a o portal da Comissão Nacional de Eleições é uma coisa deprimente —nem sequer os resultados provisórios das eleições publicou, já para não falar da falta completa de tino informativo e de usabilidade informática ali exposta— e que para sabermos alguma coisa das eleições de 14 de outubro, só mesmo consultando o portal do governo dos Açores.

Ora bem. Eu estive a ver os resultados e a coisa é bem pior do que parece, para os pequenos partidos, mas sobretudo para a democracia.
  • população residente (2011) = 246.746
  • menores de 15 anos (17,9%) = 44.167,534
  • população com mais de 15 anos = 202.578
  • eleitores: 225.109 (há obviamente muitos eleitores fantasma*)
  • votantes: 107.783 (47,88%)
  • abstenção: 117.326 (52,12%) — em 2008 abstiveram-se 102.913, logo, a abstenção subiu!
  • brancos: 3.460 (3,21%)
  • nulos: 1.388 (1,29%)
  • votos validamente expressos em partidos: 102.935 (45,72%)
  • abstenção + votos brancos + votos nulos = 122.174 (54,27%)
  • PS = 52.793 votos — 48,98% (% entre partidos concorrentes); 23,45% (% do eleitorado)
  • PSD = 35.550 votos — 32,98% (% entre partidos concorrentes); 15,79% (% do eleitorado)
  • CDS-PP = 6.106 votos — 5,57% (% entre partidos concorrentes);  2,71% (% do eleitorado)
  • B.E. = 2.437 votos — 2,26% (% entre partidos concorrentes) / 1,08% (% do eleitorado)
  • PCP/PEV = 2.041 votos — 1,89% (% entre partidos concorrentes); 0,90% (% do eleitorado)

Os milhares de eleitores fantasma, fenómeno que se verifica tanto nos arquipélagos como no Continente, ao que parece têm origem na vontade dos autarcas impedirem que os seus vencimentos desçam em função de dois fenómenos indisfarçáveis: a perda de população e a perda de eleitores. Seja como for, este empolamento da população eleitoral é mais uma prova da democracia degenerada que temos. A responsabilidade começa nos autarcas, mas acaba nos dirigentes partidários, que são conhecedores e cúmplices desta óbvia e indecorosa ilegalidade.

Por outro lado, a festa das percentagens em noite de eleições é outro embuste reiteradamente promovido pelos partidos em nome de uma democracia populista que, mesmo assim, se esvazia de eleição para eleição. O que importa não são as percentagens relativas entre os partidos, mas a percentagem de povo que vota nos ditos partidos, e aqui já são bem menos de metade dos eleitores dados oficialmente como vivos!

De 2008 para cá houve mais 14.870 pessoas que não votaram. A imprensa indigente, no entanto, assegura que a abstenção baixou um bocadinho! Como? Em percentagem? Pois, mas as pessoas não são %...

Chegados a este ponto é fácil perceber porque ganhou o PS nos Açores. Votaram neste partido, no essencial, os empregados e clientes do governo, os quais representarão algo mais do que 25% dos eleitores do arquipélago.

A maioria das pessoas não votou, ou seja, mais de 52% dos eleitores abstiveram-se. Isto significa que, para além de alguns empresários e proprietários residentes mal queridos pela administração de Carlos César (que serão poucos), a maioria dos que votaram reune, na realidade, empregados e clientes do governo regional.

Num ambiente de ameaça evidente ao emprego público a aos fornecedores do estado é natural que a continuidade governativa seja particularmente querida por quem dela depende. Ou seja, o medo de que um novo governo pudesse roubar algum emprego ou encargos "socialistas" para o PSD foi determinante na derrota deste partido e no desaparecimento fulminante dos pequenos partidos.

Por outro lado, não devemos confundir, nem os partidos, nem a governação nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, com as cenas do Continente. Há um mar de diferenças! Carlos César, por exemplo, não foi nem um despesista, nem um demagogo leviano.

E no Continente ?

Se houvesse hoje eleições no Continente, o PS ganharia folgado, deixando igualmente o PCP e o Bloco para trás. Paulo Portas e Passos Coelho já sabem a esta altura do campeonato o que lhes vai acontecer nas autárquicas em 2013. Por isso nada fizeram da reforma autárquica, estupidamente!

O preço desta hesitação fatal, e doutras, é o terrorismo fiscal em curso que, ao ameaçar destruir as classes médias —baixa, média e alta— já as virou brutalmente contra o governo do Memorando.

Duvido que a coligação chegue ao Natal... É que Paulo Portas já percebeu que se não deita o governo abaixo, desaparece!

O radicalismo recente dos estalinistas do PCP, e dos trostkistas e maoistas do Bloco, é uma tentativa desesperada de evitar o inevitável: uma enorme fuga de votos em direção ao PS. A nova vaga de esquerda do PS, protagonizada por atores como Pedro Nuno Santos e Isabel Moreira, vai ter um efeito demolidor sobre os cadáveres adiados do leninismo, do maoismo e do trotskismo.

Abstenção e voto útil são as realidades que me aparecem na bola de cristal...

Agenda para os próximos meses
  1. aprovação do Orçamento de Estado (OE)
  2. análise do documento em Bruxelas
  3. se tudo estiver conforme, envio do cheque de 4,3 mil milhões €
  4. se houver recuos ou batota visível no OE, a Troika fará recomendações de cujo cumprimento dependerá o envio do cheque (humilhação redobrada da casta que manda no país)
  5. admitindo que 3) ou 4) são ultrapassados, e cobrado o cheque de Bruxelas, Paulo Portas abandona a coligação e precipita a queda do governo
  6. Cavaco nomeia governo de iniciativa presidencial (PSD-PS-independentes próximos de Cavaco), que durará até às próximas eleições, que serão convocadas para o fim de 2013.

IMPORTANTE: se o CDS não abandonar a coligação depois de chegar o cheque de Bruxelas, desaparecerá nas eleições autárquicas, o que até seria excelente, para espevitar uma reforma e recomposição do miserável panorama partidário que temos.

* Eleitores fantasma: a população total do Açores cresceu entre 2001 e 2011, de 4.983 almas, passando de 241.763 para 246.746. No entanto, o número de eleitores pulou entre 2008 e 2012 de 192.943 para 225.109, ou seja, um acréscimo de 32.166 votantes potenciais. Alguém me consegue explicar este fenómeno?

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Novo Partido Democrata

Pekka Haavisto, candidato presidencial finlandês, uma grande e agradável surpresa eleitoral

E foram mesmo os dois candidatos europeístas que passaram à segunda volta ;)

Helsínquia, Finlândia, 22 jan (Lusa) - Os candidatos pró-europeus Sauli Niinisto (conservador) e Pekka Haavisto (ecologista) vão defrontar-se na segunda volta das eleições presidenciais na Finlândia, anunciou o ministro da Justiça, após a contagem da totalidade dos votos da eleição de hoje.

Niinisto, o grande favorito do escrutínio, obteve 37 por cento dos votos, enquanto Haavisto alcançou 18,8 por cento. Os candidatos eurocéticos Paavo Vayrynen (centro) e Timo Soimi (nacionalista) foram afastados, com 17,5 por cento e 9,4 por cento dos votos, respetivamente, indicou o ministério. SIC Notícias.

Finlândia/ eleições: para quem a moeda única europeia já era, deve fazer alguma confusão o facto de os partidos que lideraram as intenções de voto na primeira volta das eleições presidenciais finlandesas serem claros defensores do euro!

Não foram só os mercados que leram bem o teatro de operações da guerra financeira movida pelo dólar/libra contra o euro, ao passarem ao lado das mais recentes notações das agências de rating (Standard & Poor's, etc.) Os eleitores também já começaram a perceber o embuste. Em breve começarão a pedir as cabeças... dos banqueiros que trocaram a sua função de credores de boa fé pela de croupiers corruptos e gananciosos do Grande Casino dos Derivados!

“O candidato do Partido Verde e amigável à União Europeia, Pekka Haavist, subiu para o segundo lugar nas últimas semanas, saindo da obscuridade para 13% dos votos na última pesquisa.” Diário do Grande ABC.

Na realidade Pekka Haavisto, o candidato presidencial da Liga Verde, chegou aos 18,8% — o que é um facto notável, sobretudo se for o sinal de uma grande viragem eleitoral na Europa. Também em Portugal precisamos dum Novo Partido Democrata (com um coração verde, claro!), defensor do que resta dos nossos genuínos recursos naturais e humanos — e da decência. O PS não voltará ao poder sem coligar-se com um partido credível, que nem o PCP, nem o Bloco, são ou poderão ser.

Um cenário governativo estável e alternativo à coligação PSD-CDS —que acabará por naufragar sob a evidência das suas fraquezas congénitas— parece-me impossível sem o surgimento dum novo partido, mais próximo de todos aqueles que hoje abominam a demagogia e o populismo oriundos das cansadas dicotomias do século passado.

A corrupção partidária e a submissão canina do PSD e do CDS à burguesia rendeira que tem vindo a chupar o sangue e a seiva de um país que merece melhor sorte acabará por destruir o espírito e a ação do atual governo, abrindo as portas a um novo ciclo eleitoral.

A EDP e as suas barragens criminosas, tal como as PPPs rodoviárias, escolares e hospitalares, já para não mencionar o regresso pé ante pé dos embusteiros da Ota em Alcochete, têm vindo a tomar paulatinamente conta da cabecinha fraca de Passos de Coelho, e da agenda governamental.

Quando será que este governo cairá na lama? No fim da legislatura? Antes mesmo? Tudo irá depender do tempo que Álvaro Santos Pereira aguentar. A sua saída ditará simbolicamente o fim da própria presunção de inocência do senhor Passos de Coelho e do cada vez mais irritante Gasparinho. Depois deste cabo dobrado, a corrida eleitoral recomeçará! Porque pensam que anda Sócrates e a corja que deixou plantada no parlamento tão agitados?

O cada vez mais débil António José Seguro precisará em breve de recorrer a uma Unidade de Cuidados Intensivos (estratégica e táctica). Esperemos que saiba encontrar o conselheiro certo. Mas, como venho insistindo, já não chega. Aquela roseira velha não recupera sem uma grande poda!

E nós, ou seja, os que hesitam entre deixar de votar de vez, e a ténue esperança de uma renovação do jogo democrático, precisamos doutro partido para mudar este estafado rotativismo em que estamos metidos há mais de três décadas e cujo triste balanço é a bancarrota. Já não acontecia há 120 anos!

segunda-feira, setembro 21, 2009

Portugal 126

Um voto inteligente contra Sócrates

Acabo de receber um oportuno artigo sobre o que é preciso fazer para derrotar de vez a caricatura socialista que fizeram do PS. O artigo leva o título Voto Útil Contra O ps De sócrates, foi escrito por Fafe, com a colaboração (presumo) de Juvenal Paio, e está publicado no blogue PrimeiroFAX.

Se quer derrotar o actual PS, traído e esventrado pela Tríade de Macau e suas marionetas e papagaios amestrados, tem que conservar a cabeça fria e prestar alguma atenção ao método de Hondt, escolhido, imposto e aplicado para favorecer os grandes partidos e os distritos mais populosos, contra os partidos pequenos e médios, e contra as regiões, zonas e localidades menos povoadas do país. É um sistema injusto, mas que temos que perceber como funciona, para assim podermos votar de acordo com os nossos objectivos finais. Se queremos derrotar este governo de cretinos e vigaristas, se queremos viabilizar uma reforma profunda do nosso caduco sistema partidário, então teremos que começar por derrotar a pandilha de José Sócrates e o próprio José Sócrates com um voto inteligente!

E para isso, aqui vai uma tabela bem mais útil que os decibéis cada vez mais agressivos e enganadores da campanha eleitoral.

Para derrotar o "PS" de Sócrates, se vive nalgum dos distritos abaixo indicados, vote nas únicas opções capazes de contribuir objectivamente para nos livramos do engenheiro de aviário que nos tocou há quatro anos e meio na rifa.

  • Beja: votar na CDU
  • Bragança: votar PSD
  • Castelo Branco: votar PSD
  • Évora: votar CDU ou PSD
  • Faro: votar PSD ou Bloco
  • Guarda: votar PSD
  • Portalegre: votar PSD
  • Viana do Castelo: votar PSD ou CDS-PP
  • Vila Real: votar PSD
  • Açores: votar PSD
  • Madeira: votar PSD
Se vive nos grandes distritos e cidades, pode seguir mais de perto as suas inclinações, interesses ou inspiração. Neste caso recomendo ainda assim, muito fortemente, a preferência pelo partidos emergentes: o Bloco e o CDS-PP, pois só uma forte subida eleitoral destes dois partidos mudará de facto o corrompido, estafado e perigoso Bloco Central.

É este o tipo de contas que os estados-maiores dos partidos não se cansam nem cansarão de fazer e refazer, dia a dia, hora a hora, e em cada minuto que passa, até ao próximo e decisivo dia 27 de Setembro. Nós também!


Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro; em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 624 20-09-2009 18:42

quinta-feira, agosto 06, 2009

Portugal 119

Partido Nulo
Novo movimento defende voto nulo nas eleições

A pista está no zero e no que representa na filosofia mística. "Não é o nada. É a possibilidade de outra coisa", diz ao PÚBLICO o antropólogo Manuel João Ramos, que há dois meses era vereador da Câmara de Lisboa e hoje é um dos promotores de um novo movimento em defesa do voto nulo nos próximos actos eleitorais.

O que ele, o escritor Rui Zink e o responsável pelo Fórum Cidadania Lisboa, Pedro Policarpo, entre outros, têm a propor não é a criação de mais um partido, embora o seu movimento se chame Partido Nulo, mas sim dar voz a um voto que está a crescer e fazê-lo crescer mais. — in Público, 06.08.2009 - 09h27 Clara Viana.

Eu defini uma geometria variável para o meu comportamento democrático durante o presente ciclo eleitoral: nas eleições legislativas de Setembro, voto no Bloco de Esquerda (para ver se o Louçã perde as borbulhas de adolescente — que já não é!); nas autárquicas, voto em Carcavelos, no actual autarca do PSD, António Capucho, e por fim, candidato-me (com a garantia de que não serei eleito!) na coligação disfarçada entre o PS de António Costa, Helena Roseta e mais uma turma bem disposta de democratas independentes e desinteressados, de que faço parte.

Esta geometria variável, que venho defendendo há dois ou três anos, tem um único e claro objectivo estratégico: acabar com o Bloco Central da Corrupção.

Como também venho reiterando, das duas uma: ou esta Terceira República e a actual Constituição (versão 6.7) colapsam dramaticamente a favor de um presidencialismo forte —a la Française—, ou, pelo contrário, mantém o figurino de 1976 , mas para isso terá que ocorrer uma profunda transformação no decadente xadrez partidário de todos conhecido.

O regime político actual está corrompido até ao tutano e rebenta visivelmente pelas costuras da incompetência extrema, irresponsabilidade total, vigarice exibicionista e endividamento estrutural insustentável. Não pode, pura e simplesmente, continuar como está!

Daí que a próxima legislatura esteja condenada a ser uma inadiável passagem para o desconhecido. A maioria relativa que sair das Legislativas de Setembro, rosa ou laranja, estará inevitavelmente implicada na reforma, ou então no colapso, da Terceira República.

A ideia de um movimento pelo voto nulo parece-me, pois, não só oportunista, como claramente populista. É certo que muitos eleitores quererão votar, mas não sabem em quem, sabendo, por outro lado, que não querem votar, nem no Bloco Central, que conduziu Portugal ao beco triste em que se encontra, nem nos anões políticos que há anos também decoram o hemiciclo de São Bento e contribuem, do alto das respectivas mordomias e imunidades parlamentares, para o insuportável quisto burocrático que tem vindo a destruir paulatinamente a democracia portuguesa.

Não basta assustar os ladrões do Bloco Central! Já vimos que eles não fogem com ameaças. É preciso escorraçá-los e depressa. E para isso são precisos uns bons pontapés eleitorais naquelas bundas sebentas de tanto mentir e roubar. Precisamos, de facto, de novos partidos, ou melhor de provocar a cisão do PS e a cisão do PSD, por forma a que nasçam novas oportunidades político-partidárias.

Do que não precisamos é de confiar o nosso protesto e as nossas angústias a quem, a troco de uma pose apartidária fácil, e alguns números de circo, descobre novas fórmulas de manter alegremente a mão estendida em direcção ao orçamento da democracia.

Mas em desespero de causa, fica a recomendação: nas próximas eleições legislativas, tudo é preferível a um voto perdido no PS ou no PSD — até mesmo um voto nulo, com a frase "ESTOU FARTO!"


OAM 612 06-08-2009 11:58

quinta-feira, julho 23, 2009

Portugal 116

Quanto maior for o Bloco de Esquerda, menor será o Bloco Central!

Depois de ouvir esta noite Francisco Louçã responder ao interrogatório de Judite de Sousa, fiquei com a impressão de que o discurso bloquista começa a ganhar uma modulação mais fina.

Os partidos do chamado "arco da governação" estão corrompidos até à medula, perderam a vergonha toda, mas —eis a novidade— já começaram e vão continuar a perder votos em catadupa. Daí que votar no Bloco de Esquerda, independentemente de acreditarmos a pés juntos no que dizem, ou no que dizem que vão fazer, seja o que eu chamo um voto inteligente.

Querem reverter e castigar a ladroeira que é a expansão do terminal de Alcântara? Querem impedir o Bloco Central de enterrar o país no Novo Aeroporto da Ota em Alcochete? Querem estancar as barragens assassinas da hiper-endividada EDP (do cabotino Mexia rosa-laranja)? Querem manter o aeroporto da Portela onde está? Querem mais regulação financeira, e um cerco mais apertado aos paraísos fiscais? Querem maior equilíbrio na distribuição da riqueza? Querem mais transparência e decência no exercício do poder? Querem ver o Ministério Público com as mãos livres para meter na prisão alguns dos mais notórios vigaristas do país? Pois então, votem em Francisco Louçã e no Bloco!

Só na resposta à eterna questão da NATO, Francisco Louçã coxeou. De facto, não há praticamente países europeus fora da NATO. As ausências da Suécia, da Suíça, da Sérvia e da Áustria no actual formato alargado da aliança, não chegam para manter uma posição rígida, sem dialéctica, nada diplomática sobre a principal aliança militar ocidental. Pode-se estar dentro da NATO sem cair imediatamente no belicismo.

No caso português, a simples ideia de uma saída precipitada da NATO é um delírio ideológico inconsequente. Daí que um pouco mais de subtileza e pragmatismo não fizesse nenhum mal aos excelentes horizontes eleitorais do Bloco de Esquerda.


Post scriptum: por falta de espaço na caixa de comentários, aqui fica a minha resposta à recomendação que me foi feita para ler o camarada Tomé.

O coronel Tomé, que segundo creio não renunciou ainda ao amadorismo maoísta que o levou durante o PREC até aos braços da UDP, e depois do Bloco, é o que em linguagem militar se chama um básico. Ou seja, pensa com as orelhas. No caso em apreço neste post —a saída ou não de Portugal da NATO—, sempre gostaria de saber que opinião tem o aposentado coronel sobre a magnífica Revolução Cultural Chinesa e o ido Camarada Mao Zedong. Antes de esclarecer estas dúvidas prévias, tenho muita dificuldade em levá-lo a sério.

Respondo pois ao José M. Sousa, e não ao condecorado com a Cruz de Guerra, coronel Mário Tomé, ex-dirigente da UDP e putativo autor da política de defesa do Bloco de Esquerda.

Aquilo que Mário Tomé defende no seu mais recente manifesto pode resumir-se nas suas próprias palavras:

Defesa Nacional, a mudança de paradigma, por Mário Tomé, coronel.
25-Fev-2009

(...)
3. Portugal, deve sair da NATO, bater-se pela extinção da NATO e, como membro de pleno direito da União Europeia, deve recusar a constituição de uma força armada europeia e propor o fim das bases militares estrangeiras na Europa, começando pelo fim da cedência da Base das Lajes aos EUA.

4. Em conformidade, a Defesa Nacional terá como eixo prioritário o desenvolvimento das atribuições e capacidades da actual Protecção Civil que poderá designar-se Defesa Civil.

... As FA's portuguesas devem ser reestruturadas, redimensionadas e reequipadas de acordo com estes pressupostos gerais por forma a - a) assegurarem aos seus membros as condições de dignidade cívica e militar no respeito pelos direitos adquiridos,... — in Projecto de Programa Eleitoral do Bloco de Esquerda, Debate Público.

Ou seja, aquilo que a eminência militar do Bloco propõe ao país são basicamente três coisas:

1) o fim das Forças Armadas Portuguesas e a transformação das que existem numa força de Defesa Civil — i.e., uma espécie de dissolução das actuais Forças Armadas na GNR e nas várias polícias existentes. Ou seja, em vez de termos uma força militar de defesa estratégica do país, passaríamos a ter um corpo militarizado, pronto para apagar incêndios em tempo de paz, e, não vá o diabo tecê-las, suficientemente numeroso e armado para quaisquer necessidades maiores de reposição da ordem interna!

2) Retirada de Portugal da NATO, oposição à constituição de qualquer Força Militar Europeia e assumpção de uma postura de hostilidade ideológica militante face aos Estados Unidos.

3) Dar grande prioridade aos direitos económicos e sociais adquiridos depois do 25 de Abri; ou seja, todo um programa sindicalista, no lugar onde esperávamos ver uma política de defesa!

O edifício é no mínimo delirante.

A quem competirá no futuro defender o país de uma qualquer ameaça às suas fronteiras terrestres, e sobretudo marítimas? Com uma Zona Económica Exclusiva maior do que a superfície de Angola, qualquer coisa como 1,25% de toda área oceânica sob jurisdição de países (ver Wikipédia), como iremos defender tamanho território? Com a GNR?! Com a Protecção Civil?! Com a pequenez das nossas Forças Armadas, incluindo a pobre Marinha Portuguesa?

É pois óbvio que, a menos que desistamos do país, ou queiramos entregá-lo de mão beijada ao primeiro pirata que der à costa, estamos condenados a procurar alianças militares defensivas, no quadro das quais haja lugar para a efectiva manutenção dos limites territoriais de Portugal. Eu não conheço, de momento, nenhuma alternativa ao quadro de alianças existente entre os Estados Unidos e a Europa desde o fim da última guerra mundial — para semelhante fim.

Os Estados Unidos, a Inglaterra, a Espanha e Portugal têm-se portado muito mal ultimamente? Longe de mim negá-lo. Mas para corrigir os tiros mal dados e as ilegalidades, do que precisamos é de crítica e diplomacia paciente, sem perda de objectivos. Do que não precisamos é de deitar fora o bebé com a água da banho.

O pacifismo por ingenuidade é infelizmente tão fatal como o célebre "derrotismo revolucionário" inventado por Lenine quando precisou de aliviar a pressão alemã durante a Primeira Guerra Mundial, a fim de levar por diante a Revolução Bolchevique.

O pacifismo militante não é nada do que o básico Tomé, ou o Francisco Louçã, ou o Luís Fazenda imaginam no mar de ignorância profunda e dogmatismo serôdio por onde continuam a navegar. Este calcanhar de Aquiles ainda lhes poderá custar a progressão eleitoral.



OAM 608 23-07-2009 22:38

sexta-feira, julho 17, 2009

Por Lisboa 26

Cidade morta e corrupta

Lisboa é magnífica a 500 metros de distância, mas quando chegamos aos 5 metros, é suja, corrompida e frequentada por gente paralisada numa espécie de arrogância iletrada. O mundo, ao contrário de pertencer-lhes, como chegam a acreditar, segue infelizmente noutro lugar. Lisboa afunda-se na ignorância, na corrupção e numa extraordinária falta de sensibilidade cultural. Como me dizia ontem um amigo: Portugal e a sua capital morreram, mas ninguém se deu conta!

O endividamento catastrófico do país, numa Europa que ameaça rasgar em breve o Tratado de Lisboa, ou enfiar o dito numa espécie de caixão de boas intenções, vai levar-nos inevitavelmente à tragédia.

Há 500 anos que não sabemos viver sem uma árvore das patacas à mão. Há séculos que os desgraçados lusitanos e galegos deste país fogem espavoridos da miséria e da subserviência, deixando as terras e as aldeias ao Deus dará, e deixando também entregues ao vício das rendas e do soldo público as eternas manchas gentílicas que formam esta indecorosa sociedade clientelar. Provinciana, arrogante e sempre dependente de uma qualquer brisa de felicidade imerecida, a caricata sociedade portuguesa não tem desta vez a mais pequena ideia de como safar-se. O circo de corrupção e descaramento exibicionista do bloco das rosas e das laranjas, actualmente engalfinhado numa desesperada corrida pelos restos da despensa comunitária, é a mais confrangedora prova do que escrevo. Esta país morreu e ainda ninguém nos telefonou a comunicar o óbito, nem a hora do funeral!

Tudo leva a crer que os próximos resultados eleitorais conduzirão o país a um impasse total, prelúdio de uma crise de regime para a qual não existe ainda nem discurso crítico coerente, nem utopia. Ou muito me engano, pois, ou as bombas-relógio que irão provocar o colapso do regime já estão colocadas nos sítios: Funchal, Lisboa e Porto. Resta-nos ainda alguma saída, ou esperança? Temo bem que não. Pelo menos, sem antes passarmos por uma convulsão constitucional.

Se não formos capazes nos próximos seis meses de meter na prisão uma boa dúzia de notórios ladrões e piratas do regime, este colapsará necessariamente. A dimensão do drama dependerá tão só da forma como a Europa se comportar perante a actual crise mundial — que é de natureza simultaneamente energética, ambiental, económica, financeira, estratégica e institucional. Se vingar a decisão constitucional da Alemanha de não permitir mais endividamento público nos Estados da União, das duas uma, ou a Europa desaparece (e somos invadidos pela Espanha), ou todos ganhamos juízo e pomos na prisão os especuladores e ladrões que capturaram as democracias europeias, dando início a um período de adaptação estrutural aos novos constrangimentos e paradigmas da convivência mundial.

O que eu, nem ninguém de bom senso, deve fazer, é continuar a alimentar os simulacros de democracia representativa actualmente em curso, a pretexto das próximas eleições legislativa e autárquicas. Ou o senhor Cavaco e a gente honesta dos partidos resolvem em uníssono dar um murro na mesa e endireitar a situação, ou nada melhor nos espera em 2010 do que um colapso económico-social seguido de uma mais do que provável implosão da Terceira República.

As desistências de Manuel Alegre, e agora de Helena Roseta, no que toca à gestação de uma alternativa ao degenerado Partido Socialista — de Jorge Coelho, António Vitorino, Paulo Pedroso, Vera Jardim, Vitalino Canas, Edite Estrela ou Fátima Felgueiras —, fazem-me temer o pior. E pelas bandas do partido laranja, a saída de cena de Paulo Rangel deixa Manuela Ferreira Leite entregue à mediocridade e ganância da corja de piratas que capturou e perverteu o partido fundado por Francisco Sá Carneiro.


OAM 603 17-07-2009 23:25

Por Lisboa 25

Costa prepara-se para harakiri político

Lisboa precisa de um autarca visionário, corajoso e independente. Não de um cabotino doidivanas (Santana Lopes), nem de um aparatchic tacticista (António Costa)

Com que então pode-se destruir uma das principais valias da capital — o aeroporto da Portela —, numa época em que se avizinham anos de penúria (1), e em que por isso toda e qualquer pequena vantagem competitiva numa indústria decisiva para o país, como é o turismo, pode ditar a diferença entre o seu colapso e a sua sobrevivência —com o argumento de que uma nova cidade aeroportuária a 48 Km do Campo Pequeno continua a ser uma infraestrutura da capital—, mas já não é tolerável deslocalizar o Instituto Português de Oncologia (IPO) para Oeiras, porque isso equivaleria a desfalcar Lisboa de um importante equipamento hospitalar, propondo-se pois levar o IPO para o descampado de Chelas, onde não existe vivalma, nem existirá em mais de uma década qualquer rede de transportes colectivos decentes e acessíveis. Em que ficamos, António Costa?

Falar de um novo pulmão verde na Portela é pura demagogia! Toda a gente sabe que as novas, projectadas ou em construção, estações do Metro de Lisboa, do Aeroporto e da Alta de Lisboa, foram concebidas para servir o senhor Stanley Ho e a sua Chinatown. Não é pelo facto de o empreendimento imobiliário da Alta de Lisboa e o senhor dos casinos estarem hoje meios falidos, que é menos verdade o que alguns destinaram para a Portela: eliminar o aeroporto e especular/construir um novo aeroporto na Ota. Em boa hora as redes sociais de cidadania fizeram abortar esta verdadeira conspiração de interesses.

Pelos vistos, António Costa não consegue ver as evidências, e deixa-se ir nas pregações interesseiras e obtusas do arquitecto Salgado, sobre as quais aliás, boa parte dos arquitectos da corda cor-de-rosa e alfacinha revela uma expectativa atávica.

A aeroporto da Portela vai continuar onde está até, pelo menos, 2020. Irá certamente passar por mais obras de adaptação, quer nas pistas, quer nas placas de estacionamento, quer nas mangas, estruturas técnicas e zonas de acolhimento. As redes sociais, por sua vez, encarregar-se-ão de contrariar qualquer nova tentativa de entregar aqueles preciosos terrenos à especulação imobiliária, como fonte de receita fundamental para o financiamento do chamado novo aeroporto de Lisboa (NAL). Para já, a TAP, tecnicamente falida, perde passageiros todos os dias e encerra rotas à medida que as Low Cost oferecem rotas irrecusáveis: Porto-Milão, Lisboa-Funchal, Faro-Paris, etc. Dentro em breve a TAP terá que cancelar, ou pelo menos renegociar, algumas encomendas de aeronaves, alguns leasings e mesmo devolver aviões. Dentro de meses, a TAP terá muito provavelmente que arrumar a sucata da PGA no aeromoscas de Beja! Ninguém imagina pois, e muito menos quem defende o turismo deste país, a easyJet, a Ryanair e as restantes companhias Low Cost a trocarem Lisboa por uma cidade aeroportuária em Alcochete no decurso da próxima década.

António Costa fugiu ao tema escaldante da ponte Chelas-Barreiro (Helena Roseta está contra, não está?), e disse disparates sobre o terminal de Alcântara, num lamentável exercício de subserviência ao camarada Jorge Coelho e à Mota-Engil (Helena Roseta está contra, não está?) O ex-número 2 do PS foi vago nos temas do compromisso com Helena Roseta (reabilitação urbana, transportes colectivos e mobilidade, e governança local). Não teve sequer um único rasgo de utopia, nem mesmo de realismo construtivo. Coisas simples, como limpar a cidade, rebocar e pintar os prédios degradados, tirar os carros de cima dos passeios, ou fazer renascer as colectividades de bairro, passaram-lhe completamente ao lado, vítimas de um tacticismo temeroso que irá terminar necessariamente mal para a sua candidatura. Ao contrário do que alguns pensam, uma vitória eventual de Manuela Ferreira Leite não prejudicará em nada Pedro Santana Lopes. Pelo contrário, será o tapete vermelho para o seu regresso à capital.


NOTAS
  1. After the era of excess. By Stephen S. Roach

    26 February 2009 — The world stopped in 2008—and it was a full stop for the era of excess. Belatedly, the authorities have been extraordinarily aggressive in coming to the rescue of a system in crisis. But as in the case of Humpty Dumpty, they will not be able to put all the pieces back together again. The next era will be very different from the one we have just left behind.

    ... Yes, the United States now accounts for only about 20 percent of total Chinese exports. Shipments to Europe and Japan collectively account for another 30 percent, while the bulk of the remainder shows up in the form of sharply growing intraregional Asian trade. But there is a serious problem with the notion that China or any other major economy has successfully weaned itself—or decoupled—from overreliance on US markets. Whether it is Europe, Japan, or developing countries of Asia other than China, all have one critical characteristic in common: insufficient internal private consumption and an overreliance on exports as a major and increasing source of growth. Intraregional trade has expanded sharply in developing Asia, but with internal consumption as a share of GDP continuing to fall, these economies remain hugely dependent on end-market demand in the developed world.

    As a result, there can be no mistaking the bottom line of this global recession. When the world’s dominant consumer—the United States—enjoys an extraordinary boom, so do the world’s major exporters. But when the US boom goes bust, export-led economies around the world are in serious trouble. That’s precisely the nature of the adjustment now bearing down so acutely on Japan; developing Asia; Germany; and America’s NAFTA partners, Canada and Mexico. All of these export-led economies are either decelerating sharply or in outright recession. — in McKinsey's What Matters.


    Mobius Says Derivatives, Stimulus to Spark New Crisis


    July 15 (Bloomberg) -- A new financial crisis will develop from the failure to effectively regulate derivatives and the extra global liquidity from stimulus spending, Templeton Asset Management Ltd.’s Mark Mobius said.

    “Political pressure from investment banks and all the people that make money in derivatives” will prevent adequate regulation, said Mobius, who oversees $25 billion as executive chairman of Templeton in Singapore. “Definitely we’re going to have another crisis coming down,” he said in a phone interview from Istanbul on July 13.

    Derivatives contributed to almost $1.5 trillion in writedowns and losses at the world’s biggest banks, brokers and insurers since the start of 2007, according to data compiled by Bloomberg. Global share markets lost almost half their value last year, shedding $28.7 trillion as investors became risk averse amid a global recession.

    The U.S. Justice Department is investigating the market for credit-default swaps, Markit Group Ltd., the data provider majority-owned by Wall Street’s largest banks, said July 13.

    Mobius didn’t explain what he thought was needed for effective regulation of derivatives, which are contracts used to hedge against changes in stocks, bonds, currencies, commodities, interest rates and weather. The Bank for International Settlements estimates outstanding derivatives total $592 trillion, about 10 times global gross domestic product.

    Looming Crisis

    “Banks make so much money with these things that they don’t want transparency because the spreads are so generous when there’s no transparency,” he said.

    A “very bad” crisis may emerge within five to seven years as stimulus money adds to financial volatility, Mobius said. Governments have pledged about $2 trillion in stimulus spending. — in Bloomberg.


OAM 602 17-07-2009 00:48

domingo, maio 24, 2009

Portugal 105

Corrija o seu voto!

Depois de interagir com o Eu-Profiler, descobri que continuo a situar-me entre socialistas e algumas novas estirpes de democratas e liberais de esquerda. Não sou populista. Não sou conservador. E sou definitivamente europeísta. Os partidos portugueses de que estou mais próximo são o Partido Socialista (75,5%), o Partido Humanista (72,9%), o Movimento Esperança Portugal (67,1%) e o Movimento Mérito e Sociedade - 50,7%. O Bloco de Esquerda, cujo voto continuo a recomendar, apenas para retirar a maioria absoluta ao PS, não coincide em mais do que 46,3% com as minhas efectivas prioridades políticas.

Mas a descoberta mais surpreendente do perfil obtido depois de percorrer a trintena de perguntas colocadas pelo Eu-Profiler é que os partidos do meu coração não existem ainda em Portugal, mas já mexem e bem noutros países europeus: o Parti Démocratique do Luxemburgo, o Socialdemokratiska arbetarepartiet da Suécia, o Partij van de Arbeid holandês, o Social Democratic and Labour Party da Irlanda do Norte, o Socialdemokraterne da Dinamarca, o Demokratik Sol Parti e o Milliyetçi Hareket Partisi da Turquia. Todos estes partidos, e ainda o Hrvatska socijalno liberalna stranka da Croácia, o Eestimaa Rohelised e o Eestimaa Rahvaliit da Estónia, estão mais próximos do meu pensamento do que qualquer partido português! Façam o teste e surpreendam-se.

Votar é um hábito democrático. E como todos os hábitos tende a sofrer dos males da inércia que afecta tanto os sistemas físicos, como os intelectuais. Um dia votámos no PS, no PSD ou no CDS, e assim ficamos para toda a vida. Errando e dando tiros no pé, por preguiça e inconsciência pura, mas vendo bem, sem desculpa!

Se alguém nos disser, ou descobrirmos subitamente, que o nosso pensamento evoluiu, ou simplesmente mudou, e por conseguinte aquele partido em que nos habituámos a votar já nada tem que ver connosco, ou até contraria os nossos renovados interesses, convicções e desejos, que deveremos fazer? Persistir num hábito que perdeu forma e sentido? Ou experimentar novos caminhos?

Pois bem, a tempo das próximas eleições europeias surgiu uma Aplicação de Aconselhamento Eleitoral — Voting Advice Application (VAA) — desenvolvida por um consórcio independente formado pela Robert Schuman Centre for Advanced Studies (RCAS), integrado no European University Institute (EUI); Kieskompas e NCCR Democracy (University of Zurich/Zentrum für Demokratie Aarau)/Politools network. Chama-se Eu-Profiler. Esta divertida aplicação é seguramente pioneira no caminho que todos começamos a percorrer em direcção às democracias virtuais.

É tempo de corrigir o sentido de voto, e de começarmos a pensar em novos partidos!


OAM 587 24-05-2009 13:50

quarta-feira, novembro 05, 2008

Portugal 49

Legislativas, já!

Não sei se o Estado português tem dinheiro para pagar o décimo terceiro mês e os meses que se lhe seguirão. Mas sei que este Governo, a Banca e as principais empresas do país, boa parte delas recentemente privatizadas, têm andado a mentir descaradamente aos portugueses e atolaram o país num verdadeiro buraco de dívidas, ameaçando torná-lo insolvente, na linha do que recentemente ocorreu na Islândia.

Perante a gravidade da situação não vejo como poderá o actual Presidente da República permanecer numa posição meramente expectante. Este Governo deve ser imediatamente demitido. A incompetente Assembleia da República deve ser dissolvida. E as eleições legislativas devem ser antecipadas para a Primavera que vem. Até lá, deverá ser constituído um Governo de Emergência Nacional, de iniciativa presidencial, com plenos poderes executivos, obviamente dentro dos limites constitucionais, e assistido de forma permanente pelo actual Conselho de Estado.

As tropelias dos grupos financeiros e grandes empresas nacionais (EDP, PT, Mota-Engil, etc.), na sua desesperada corrida ao Estado, para que este injecte liquidez de qualquer maneira nos seus cofres vazios, por conta das verbas do QREN e do exponencial endividamento do país -- que todos nós pagaremos sob a forma de falências em massa, desemprego brutal, aumento criminoso dos impostos e perseguições fiscais de todo o tipo -- atingiu o paroxismo do mais íntimo e corrupto conúbio entre quem manda no Governo e quem manda no Dinheiro. Basta!

Como os partidos com assento parlamentar não têm juízo e persistem na balbúrdia, existe uma figura eleita por todos os portugueses, entre outras razões, para desempenhar a função de "última razão" do actual regime político. Chama-se Presidente da República. O normal funcionamento das instituições está irremediavelmente afectado. Daqui para a frente a situação só poderá apodrecer. Impõe-se uma intervenção decidida da primeira figura do Estado Português!

Os exemplos que se seguem chegaram à minha caixa de correio entre a tarde de ontem e esta manhã, mas são suficientemente catastróficos para que não se perca mais tempo. Está em causa a independência económica do país e a credibilidade de todo um povo!

15 mil milhões de dólares em CDS
Portugal na lista dos derivados tóxicos

05-11-2009 (Expresso online). O Governo português, dois bancos (BES e BCP) e duas empresas (PT e EDP) estão entre as mil entidades com mais seguros de crédito (CDS-credit default swaps) baseados na sua dívida. No total são cerca de 15 mil milhões de dólares. Portugal é o 9.º do 'top 10' mundial e o 6.º no conjunto da União Europeia.

Estado Português = 6,2 mil milhões USD
BES = 3,1 mil milhões USD
PT International Finance BV = 2,4 mil milhões USD
EDP = 1,7 mil milhões USD
BCP = 1,6 mil milhões USD


Banco de Portugal depositou, sem nenhum controlo democrático, em bancos privados, até Junho de 2008, 2.516 milhões de euros


Este número consta de um relatório do próprio BdP. No entanto, nenhum órgão de comunicação até agora divulgou, nem sobretudo denunciou este evidente abuso de poder, congeminado e executado na sombra estatística duma entidade irresponsável, cujo governador há muito deveria ter sido objecto de investigação séria por parte da Assembleia da República, e mesmo por parte do Ministério Público.


Ministério da Segurança Social injectou ilegalmente liquidez em bancos corruptos e aflitos


Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS), dependente do Ministério da Segurança Social, e que gere as pensões da esmagadora maioria dos portugueses, tem contas abertas nos principais bancos do país, supondo-se que tenha "investido" 500 milhões de euros no BPN (que já em Março de 2008 obtinha miseráveis notações de credibilidade financeira por parte das duas principais agências "rating" internacionais, a Fitch Ratings e a Moody's, respectivamente de BBB e Baa3).


Caixa Geral de Depósitos injectou 300 milhões de euros no Banco Português de Negócio à medida que uma inexorável corrida ao banco reduzia a sua liquidez a pó


03-11-2008 (Sapo Notícias). Para tentar evitar o colapso do BPN a Caixa Geral de Depósitos chegou a realizar um empréstimo de 200 milhões de euros mas a injecção não foi suficiente. Esta verba foi aumentando mas, ao final do dia, já não havia dinheiro. Muitos clientes levantavam o dinheiro das suas contas, e a administração acabou por não resolver o problema estrutural comprometendo também o aumento de capital previsto, de 300 milhões de euros.


Jardim pede dinheiro à banca para pagar ordenados


05.11.2008 - 09h35 Tolentino de Nóbrega (Público). O governo regional da Madeira decidiu contrair um empréstimo bancário de curto prazo, no valor de 50 milhões de euros, para pagar ordenados e subsídio de Natal dos funcionários públicos.

Na resolução 1221/2008, tomada pelo executivo regional a 23 de Outubro e publicada no Jornal Oficial de 3 de Novembro, o governo de Alberto João Jardim justifica o empréstimo para "fazer face às necessidades de tesouraria" no corrente ano económico, mas o PÚBLICO apurou que a verba se destina a responder a compromissos salariais. O montante corresponde ao duplo vencimento (ordenado mais o 13.º mês) a pagar, este mês, aos funcionários da administração pública regional - que representam uma despesa de 357 milhões de euros em 2008, cerca de 24 por cento do orçamento madeirense.


Estado português quer vender dívida pública aos chineses


05-11-2008 (Diário Económico) O Estado português está a desenvolver contactos com a SAFE, a agência oficial chinesa que administra as reservas monetárias do país, as maiores do mundo, avaliadas em um bilião de euros. O objectivo do Ministério das Finanças é simples: conseguir uma sessão de promoção com a autoridade monetária chinesa e atrair um investidor de peso para comprar títulos de dívida pública portuguesa.

“No contexto das actividades de promoção de dívida pública portuguesa, regularmente conduzidas pelo Instituto de Gestão do Crédito Público, está a procurar incluir-se a SAFE num próximo ‘road show’ a realizar na Ásia”, avançou fonte oficial do Ministério das Finanças ao Diário Económico.

Até agora, Portugal tem estado de fora do horizonte da autoridade monetária chinesa, uma vez que esta, “à semelhança de agências congéneres, só recentemente começou a alargar os seus critérios de investimento para ‘ratings’ inferiores [a triplo A]”, explica o Ministério. O ‘rating’ da dívida portuguesa – indicador que mede a capacidade de cumprimento das obrigações financeiras – é de AA- , de acordo com a avaliação da agência Standard&Poor’s.


OAM 471 05-11-2008 11:55 (última actualização: 06-11-2008 12:23)

Sonho Americano

Good morning Mr. President!



A expectativa nunca foi tão grande, e o tempo para lhe corresponder tão curto!

Acabo de ouvir o discurso de vencido de John McCain. A comoção de que a primeira e grande referência das democracias ocidentais continua a morar na América foi instantânea e eloquente. De algum modo, o discurso deste homem -- que certamente irá provocar grandes alterações no corrupto Partido Republicano --, era fundamental para conferir à vitória de Barack Obama toda a dimensão histórica que efectivamente tem, não só para o seu país, mas também para o resto do mundo, e em particular para os continentes e países que bordejam o Oceano Atlântico, já que o Pacífico e o Índico deixarão em breve de ser mares americanos.

Os Estados Unidos vivem aquela que é a sua maior crise de sempre. Não se trata apenas de uma gigantesca crise financeira e económica, muito mais profunda e desestruturante do que a crise de 1929, mas também de uma crise de hegemonia, ou melhor dito, de cedência e partilha imperial. Conjuga-se, pois, o fim de uma certa economia com o fim de uma certa política.

Sendo há pelo menos uma década o país mais endividado do mundo, ao mesmo tempo que continua a ser o mais consumista e maior devorador mundial de recursos energéticos, a pátria das oportunidades ao longo de mais de um século tem vindo a transformar-se num pesadelo para mais de 250 milhões de pessoas. Os Estados Unidos andam hoje de chapéu na mão pelas chancelarias asiáticas e do Médio Oriente em busca de dinheiro e perdões de dívida, como se fossem um qualquer pária da comunidade internacional. Foi para mudar este estado de coisas que uma ampla maioria dos americanos elegeram Barack Obama.

O principal problema da América (como da Europa) são dois: viver acima das suas possibilidades, endividando-se em cascata por causa desta filosofia de vida; e exportar temerariamente boa parte das suas capacidades produtivas para os países de mão de obra barata e sem direitos sociais, deteriorando pelo caminho de forma perigosa os termos de troca internacional, as liberdades, os direitos sociais e o emprego nas democracias ocidentais.

O colapso da indústria automóvel nos Estados Unidos e na Alemanha, depois da implosão do sistema financeiro que prossegue o seu rasto de destruição, é a prova provada do curso suicida das principais democracias mundiais. Estas democracias -- que foram sequestradas pela ganância das máfias e tríades que paulatinamente se infiltraram em todos os interstícios vitais dos seus sistemas de poder --, ou aproveitam a gravidade da actual crise, e a eleição de Barack Obama, para redesenhar a ética da redistribuição mundial, em nome de novos equilíbrios dinâmicos, e justificáveis partilhas de soberania regional, ou caminharão inexoravelmente para uma triste e duradoura subalternidade económica, política e cultural.

Como é evidente, esta hipótese de declínio duradouro convoca todos os demónios escondidos de uma sempre possível depuração nuclear e bioquímica da humanidade. A mais importante missão das almas civilizadas deste planeta é evitar que o relógio do eclipse termonuclear e bioquímico continue o seu macabro tique-taque. A única forma de travar os demónios de Marte passa pelo uso radicalmente livre do pensamento e da criatividade. As ideologias do século 19, que perduraram durante todo o século 20, e ainda infestam boa parte dos neurónios partidários que ocupam as instâncias legitimadas do exercício do poder, não servirão para resolver coisa nenhuma. Basta ouvir uma única discussão entre José Sócrates e os parlamentares da Assembleia da República para percebermos que, não havendo porventura tempo útil para reformar drasticamente, no curto prazo, o actual regime, caberá forçosamente à cidadania electrónica participativa o dever de pressionar os decisores políticos, económicos, sociais e institucionais, na direcção que melhor convenha ao bem comum, e sobretudo ilumine de forma credível uma saída para a dramática encruzilhada civilizacional em que nos encontramos todos.

Até ao fim de 2008 Barack Obama irá definir o seu plano de ataque aos problemas que afligem a América e o mundo. No dia 20 de Janeiro de 2009 saberemos se Barack Obama terá ou não coragem para fazer o que tem que ser feito, ou seja, recuperar a economia americana pela única via possível: pelo trabalho e pela produção, trocando o consumismo desmiolado pelo fortalecimento cognitivo e cultural de todo um povo.

Mas para aqui chegar será inevitável criar uma nova moeda americana, porventura uma moeda regional, semelhante ao euro. Será inevitável alterar radicalmente as regras do comércio mundial, regressando a formas inteligentes e justas de proteccionismo económico e financeiro. Será inevitável estabelecer uma linha divisória entre o ascenso fulgurante do poder asiático, protagonizado pela China, e a conservação estratégica do potencial económico, político e cultural da Euro-América. Mais cedo ou mais tarde, e quanto mais cedo melhor, Estados Unidos e Europa terão que negociar com a China um novo Tratado de Tordesilhas que estabeleça o quadro de concorrência criativa e estabilidade civilizacional para todo o século 21. Menos do que isto será uma desilusão, e a extraordinária eleição de Barack Obama terá sido em vão.

OAM 470 05-11-2008 11:37

sábado, setembro 06, 2008

Angola 3

Democracia adiada?

O momento crítico das eleições angolanas começa verdadeiramente agora, ou seja, com a contagem dos votos. Se a tensão criada pelos atrasos verificados na abertura das 320 assembleias de voto de Luanda prosseguir e aumentar de tom, estarão criadas as condições para o regresso dos generais! Espero que a Oposição tenha juízo e demonstre a necessária maturidade para lidar com a casca de banana que lhe lançaram aos pés.

A derrapagem do processo eleitoral angolano, segundo testemunho directo de um dos muitos actores no terreno, que conheço bem e teve a amabilidade de me informar, teve origem nos seguintes contratempos e problemas:
  1. a credenciação dos 600 mil "agentes eleitorais", que decorreu sem problemas nas 17 províncias fora da capital angolana, foi trabalhosa e difícil em quatro dos nove municípios da província de Luanda, com especial destaque para o Cazengue, o município com maior densidade populacional do país;
  2. estes constrangimentos aumentaram exponencialmente com o volume de eleitores em Luanda (mais ou menos um terço dos eleitores do país), contribuindo para um certa confusão nas horas iniciais de funcionamento das assembleias de voto;
  3. o grande atraso na abertura das assembleias de voto parece ter sido consequência de alguns erros na distribuição dos boletins de voto;
  4. o Tribunal Constitucional não deverá, apesar do grau de desorganização verificado, considerar haver matéria suficientemente grave para impugnar as eleições, ou sequer marcar novo acto eleitoral nas assembleias de votos onde se registaram os atrasos e consequente diminuição do tempo previsto para decurso do acto eleitoral;
  5. a situação parece ter sido normalizada atempadamente, pois apenas 320 das mais de 13.000 assembleias de voto abriram hoje a fim de que os eleitores que ontem não puderam votar possam exercer em pleno o seu direito de voto;
  6. embora a UNITA tenha avançado com um pedido de repetição das eleições, os demais partidos da Oposição foram mais moderados nas suas reclamações e, em particular a Igreja manifestou uma posição de extrema moderação sobre a dimensão afinal reduzida dos problemas técnicos verificados;
  7. os erros, compreensíveis até certo ponto, não deixaram porém a melhor impressão nos observadores internacionais, pelo que Luanda poderá ser objecto de críticas e recomendações que não deixarão de pesar sobre o passeio eleitoral esperado por José Eduardo dos Santos, e pelos generais que ele, curiosamente, admoestou no principal comício eleitoral da campanha para estas eleições.

Este é o terceiro postal que escrevo sobre Angola. No primeiro, chamei a atenção para a cleptocracia instalada na antiga colónia portuguesa, sobre cujas irregularidades Portugal mantém um silêncio oportunista e cúmplice. No segundo, chamei a atenção para a necessidade de olhar para Angola numa perspectiva de longo prazo, tendo em conta a infância do novo país e os previsíveis custos da sua consolidação como uma das principais potências económicas e políticas africanas, desejando de caminho ao povo angolano que o seu segundo processo eleitoral corresse pelo melhor. Neste terceiro postal, registo as dificuldades e os perigos contidos no actual processo político, o qual poderá, se não for bem gerido por todos os actores interessados na futura democracia angolana, degenerar rapidamente em novos acertos violentos de território. O tempo internacional é, aliás, propício a este género de perversões!

O Estado angolano é demasiado novo, e portanto aquilo que essencialmente continua a estar em jogo é a formação das suas classes dominantes e das correspondentes acumulações primitivas de riqueza, poder e tradição institucional. Eu sei que dito assim, tão cruamente, pareço estar a defender a ganância insensível da família dos Santos e a voracidade cruel, por vezes sanguinária, da tropa pretoriana que o protege e à sua sombra enriquece para lá da nossa imaginação. Mas analisando friamente o problema, como se Angola fosse um mero paciente num teatro anatómico repleto de historiadores, etnólogos, sociólogos e políticos, que outro diagnóstico poderíamos fazer? Significa esta observação "científica" que não devemos criticar os estádios necessariamente duros do nascimento de uma nação? Não. Significa que temos que ser capazes de manter um olhar bifocal sobre a realidade angolana. Por um lado, devemos perceber que a constituição das classes dominantes do novo país não se deu ainda e será sempre um processo duro e prolongado. Por outro, devemos exercer uma pressão democrática firme, bem doseada, e sobretudo bem informada, sobre o regime, por forma a prestar uma ajuda solidária e responsável a uma realidade que tem muito de nós. A responsabilidade ética de Portugal nos processos de emancipação nacional das suas antigas colónias é uma herança civilizacional que deve ser cumprida com diligência, sabedoria e humildade. Teremos sempre uma vantagem comparativa sobre todos os novos amigos de Angola.

ÚLTIMA HORA

08-09-2008 00:16. Depois das excitações paternalistas do grupo Impresa e da pequena histeria matinal da deputada maoista Ana Gomes em volta das eleições angolanas, o bom-senso veio ao de cima, sobretudo depois de constatada a esmagadora vitória do MPLA e a pesadíssima derrota da UNITA (fruto mais do que provável da sua convivência governamental com o MPLA ao longo de tantos anos.)

Não creio que a UNITA acabe por impugnar as eleições, como ameaçou no calor dos incidentes logísticos nalgumas centenas de assembleias de voto na capital. O MPLA não pode fazer o trabalho dos demais partidos políticos, que terão aliás muito que trabalhar para disputar um dia o terreno ocupado pelo MPLA. Mas o MPLA poderá começar, cumprindo as promessas de José Eduardo dos Santos no principal comício da campanha eleitoral, por despartidarizar o poder e a comunicação social, dando espaço ao crescimento conveniente do peso eleitoral dos seus adversários, e sobretudo estimulando o nascimento de uma sociedade civil activa, patriótica e empenhada no desenvolvimento sustentável do país. O petróleo não durará mais de 20 a 25 anos, e quando este recurso começar a decair, Angola será ainda um país muito jovem, com uma demografia escassa e um território imenso por organizar (e apetecível), que ou poderá contar com uma sociedade economicamente articulada e dinâmica, socialmente equilibrada, politicamente adulta e culturalmente forte, ou então... ou então terá muito com que se preocupar, a sério!

O artigo do Nicolau Santos (Director-Adjunto do semanário Expresso) poderia ter sido escrito por mim, que sou um bloguista independente, que não precisa do BES, nem do MillenniumBCP, nem do Governo, para sobreviver, mas não pelo Expresso! Compreendo que todo o grupo Impresa esteja indignado por não ter sido autorizado a cobrir as eleições angolanas in situ, e que proteste veementemente. Já me parece ridículo que se entretenha com prosas moralistas sobre a filha do Edu e a corrupção angolana, citando exemplos tão fora de propósito como o caso da banca falida e mendicante portuguesa que espera desesperadamente pelos petrodólares angolanos, mas quer continuar a ser senhora da situação! O Expresso tem que começar por compreender que uma coisa é investigar casos de corrupção, para o que tem toda a legitimidade jornalística do mundo. Outra muito diferente, e inaceitável, é lançar anátemas sobre protagonistas de primeiro plano de uma ex-colónia, como se ainda estivéssemos no tempo em que dávamos lambadas nos pretos, por dá cá aquela palha. O estilo, meu caro Nicolau, é tudo. Num mundo em que a maior potência mundial é dominada por três patrões da indústria petrolífera (George W. Bush, Dick Cheney e Condoleezza Rice) que, em nome dos seus exclusivos interesses privados, dizimaram mais de 100 mil iraquianos e alguns milhares de afegãos, e acabam de colocar a Europa perante uma crise político-militar gravíssima; ou num país (Portugal) onde a corrupção, a pedofilia de Estado e a endogamia dominam a economia, a política, e fazem lei, como é que você se atreve a escrever como um bloguista, nas respeitáveis páginas do Expresso, deixando passar em claro (pior ainda, sem a devida investigação) a imensa podridão e impunidade das nossas intocáveis democracias ocidentais? Estilo! Estilo, meu caro Nicolau!

OAM 428 06-09-2008 18:57 (última actualização: 08-09-2008 00:16)

quarta-feira, agosto 20, 2008

Angola 2

A caminho da democracia

Trinta e três anos de independência e oito de paz (embora com altíssimas taxas de criminalidade de origem sobretudo social) são dados que nos devem ajudar a pensar no futuro de um imenso país, sub-povoado, praticamente destruído por vinte sete anos de guerra civil, crescendo a uma taxa meteórica de 16% ao ano (ainda que o seu actual PIB não chegue a 40% do PIB português), mas presa inevitável da cobiça universal.

As riquezas naturais de Angola são o petróleo, o gás natural, os diamantes, o ferro, o ouro, o café, o algodão e um imenso território apto a receber no futuro as multinacionais agro-energéticas da era pós-petrolífera. A sua maior desvantagem reside na demografia e nas assimetrias antropológicas. A população é escassa para tamanho território e encontra-se profundamente dividida por linhas étnicas, culturais e sócio-económicas que a qualquer momento poderão voltar a submergir o país em dificuldades extremas.

Angola tem 1600 Km de costa atlântica e cinco bons portos que serão certamente ampliados ao longo deste século, por forma a dar escoamento ao caudal de matérias primas e biocombustíveis líquidos de que o resto do mundo precisa. Diria, portanto, que o maior problema deste jovem país a caminho da democracia, deriva menos do nepotismo e da corrupção de que tanto se fala nas "insuspeitas" democracias europeias, do que da ausência de uma percepção clarividente do futuro, no quadro potencialmente cismático da globalização.

O primeiro pensamento que me ocorre sobre o futuro de Angola é este: como estarão a sua economia e as suas populações daqui a 20-25 anos? Quando o mundo caminhar sobre novas plataformas energéticas, não petrolíferas, qual será a principal exportação de Angola? Estarão os angolanos a prever desde já os efeitos do pico petrolífero no seu país? Qual será o lugar da antiga colónia portuguesa na era pós-carbónica que se aproxima?

O mundo dependerá cada vez mais de energias renováveis baseadas em fórmulas avançadas de utilização do vento, do Sol, das ondas do mar, do Pinhão Manso (Jatropha curcas) e outras plantas não comestíveis, bem como do urânio e do tório que alimentará a próxima geração de reactores nucleares. Boa parte da produção eléctrica na segunda metade deste século terá origem, muito provavelmente, em tecnologias nucleares limpas e seguras.

Que lugar estratégico ocupará assim Angola no renovado contexto produtivo mundial? Quais serão as suas alianças dominantes? Ter-se-à deixado colonizar pela China, ou terá decidido, a determinado ponto da sua trajectória democrática, optar por uma estratégia claramente atlântica, privilegiando as suas ligações históricas ao Brasil, a Portugal e ao Golfo da Guiné? Quanto tempo demorará Angola a perceber que a sua posição é de facto central na definição de uma verdadeira potência lusófona? Norton de Matos havia sonhado, em 1912, com um novo império português com capital no Huambo. O mundo entretanto mudou, mas a geografia humana, felizmente, ainda não.

José Eduardo dos Santos, que não conheço, tem no decurso das eleições dos próximos dias 5 e 6 de Setembro uma oportunidade de ouro para lançar as bases institucionais e culturais da democracia angolana do século 21, peça chave de uma das zonas mais influentes do planeta -- o Atlântico --, e condição, não duvide o senhor Presidente, da sobrevivência e estabilidade a prazo do seu imenso país.

A unidade de Angola é um bem insofismável para si própria, para a África e para a prosperidade e segurança atlânticas, de que os povos irmãos de Portugal, Brasil, Guiné, Cabo-Verde e São Tomé e Príncipe (para não falar de Moçambique e até de Timor) saberão tirar o melhor partido, retribuindo pelo lado da cooperação e da solidariedade indefectíveis.

Nas vossas primeiras eleições verdadeiramente democráticas desejo-vos, como se diz por cá, uma boa hora !

OAM 423 20-08-2008 17:08