quarta-feira, outubro 11, 2017

Santana: "Alea jacta est"


O rio que Santana acaba de atravessar é um mero fio de água em plena seca. O Rubicão chama-se Costa.

“Hoje é um dia de boas notícias, Portugal ganhou e eu sou candidato à liderança do PPD/PSD” - RTP

Mete cada vez mais dó a promiscuidade entre os partidos da governança e os meios de comunicação tradicionais. Dito isto, Santana é o populista que o populista Costa, e a populista Geringonça, merecem.

Com o bloco das esquerdas a esboroar-se, o PS bem pode começar a pensar num sucessor de António Costa, menos populista, e disposto a jogar ao centro, porque a bipolarização esquerda-direita introduzida no país pelo segundo primeiro ministro que não ganhou umas eleições (o primeiro foi, precisamente Santana Lopes), revelou-se, como sempre afirmei, uma ideia perigosa e um populismo que poderá sair muito caro às esquerdas de cujas cavernas ideológicas sairam as sombras animadas do estalinismo, do maoismo e do trotsquismo, na forma caricata de uma Frente popular pós-moderna.

Nas próximas eleições legislativas, que poderão chegar mais cedo do que o cada vez menos seguro presidente Marcelo quer, António Costa e Pedro Santana Lopes irão procurar a legitimidade democrática plena que o primeiro não tem, e que o segundo não teve. Vamos, portanto, assistir a uma espécie de relegitimação épica do regime constitucional que temos.

Se Santana ganhar as diretas do PPD-PSD, como espero e desejo, pois abomino líderes políticos que desprezam as artes, o tempo para mostrar uma alternativa à Geringonça será porventura escasso. Talvez por isso, quase apresentou ontem na SICN um programa de governo!

As últimas eleições mostraram, uma vez passada a poeira da manipulação partidária montada pelo PS e pelos os loosers proverbiais do PSD, com a ajuda terceiro-mundista das agências de comunicação e da imprensa indigente que temos, o que já sabíamos: Portugal não é sociologicamente de esquerda. E mesmo o eleitorado jovem do envelhecido PCP, assustado com o aventureirismo sindical dos velhos caciques estalinistas do Partido (evidenciado de forma gritante na greve que ditaram na Autoeuropa) guinaram em direção à razoabilidade e à prudência.

Resta saber como irão evoluir Lisboa e Porto na nova dinâmica eleitoral saída das eleições autárquicas, onde os independentes não só não se esfumaram, como ganharam força e futuro.

Assunção Cristas é uma game-changer, como finalmente se percebeu. O PS perdeu a maioria na capital, e não ganhou ao independente Rui Moreira, mesmo manipulando sondagens à boca das urnas. Continuo a não saber o que é que o PS ganhou nestas Autárquicas!

Pedro Santana Lopes não deveria, em minha opinião, desgastar-se numa qualquer luta com Assunção Cristas, porque perderá sempre para a jovem líder. Mas deve, em minha opinião, conquistar o coração do Norte, pois é a norte que o futuro deste país tem as principais bases de sustentação económica efetiva. Um país sobre-endividado como o nosso não poderá manter por muito mais tempo uma economia virtual e burocrática paga pelo BCE e por uma espécie de fascismo fiscal.

Os estímulos do BCE vão retirar-se de cena, mais dia menos dia, e os juros do BCE vão começar a subir paulatinamente até aos 4%. Só falta saber se estes dois fatores de reversão do keynesanismo financeiro vigente ocorrrá até às próximas legislativas, ou depois de 2019.

António Costa está, por fim, entalado, ou seja, guinar a sua política de alianças à direita deixou de ser um cenário credível. Estará, afinal, de ontem em diante, cada vez mais prisioneiro do PCP e do Bloco. O que não deixa de ser uma ironia, pois quem meteu comunistas, maoistas e trotsquistas no bolso, começa agora a entrar nos bolsos destas sombras do marxismo.

Sabem o que é uma Garrafa de Klein? Foi no que a Geringonça se transformou. Só partindo-a o enguiço se desfaz.

segunda-feira, outubro 09, 2017

A ilusão politicamente correta

Origem desta imagem

Atravessar uma tempestade exige preparação e sangue frio. As invocações ideológicas e o atavismo só atrapalham e tornam a viagem mais perigosa.


Sem energia barata o mundo começa a encolher. Na demografia—cuja taxa de aceleração parou em meados da década de 1960—, no crescimento do produto agregado mundial, na capacidade de endividamento, em suma, no poder mágico dos governos e bancos.

Os Limites ao Crescimento chegaram, como previsto por Donella Meadows. Em breve saberemos se toda a nossa capacidade de pensamento, reforçada pela inteligência artificial, será capaz de dar conta do recado. Até lá, os ânimos individuais e coletivos agitam-se perigosamente. As pessoas passam-se (Las Vegas, outubro de 2017). Mas quando são as coletividades a passarem-se, a coisa agrava-se rapidamente. Os catalães, por exemplo, não querem ser mais espoliados fiscalmente para acudir à crise de rendimentos que afeta o resto da Espanha (exceto Madrid e as Baleares). O racional é simples, se a Catalunha empobrecer por causa do empobrecimento da Andaluzia, Galiza, Extremadura, etc., a prazo, todos empobrecerão de modo irremediável, destruindo-se deste modo, e ao mesmo tempo, capital, capacidade produtiva e poupança, ou seja, a própria esperança de gerir bem uma inevitável metamorfose civilizacional.


Why political correctness fails – Why what we know ‘for sure’ is wrong (Ex Religion)Posted on October 1, 2017, by Gail Tverberg in Our Finite World 

Most of us are familiar with the Politically Correct (PC) World View. William Deresiewicz describes the view, which he calls the “religion of success,” as follows: 
There is a right way to think and a right way to talk, and also a right set of things to think and talk about. Secularism is taken for granted. Environmentalism is a sacred cause. Issues of identity—principally the holy trinity of race, gender, and sexuality—occupy the center of concern. 
There are other beliefs that go with this religion of success: 
  • Wind and solar will save us. 
  • Electric cars will make transportation possible indefinitely. 
  • Our world leaders are all powerful. 
  • Science has all of the answers. 
To me, this story is pretty much equivalent to the article, “Earth Is Flat and Infinite, According to Paid Experts,” by Chris Hume in Funny Times. While the story is popular, it is just plain silly.

Portugal continua a arder!



Partidos, ocupados com o jogo das cadeiras, não querem saber do país. Apenas caçam e contam votos.


Quando o populismo triunfa, o mais certo é estarmos a caminho dum processo de extinção, no mínimo, cultural. Para já, estamos na fase mista do jogo de cadeiras económico, financeiro e social, onde todos jogam contra todos. O simples facto de os incêndios em Portugal se terem transformado num negócio que aproveita a tantos, menos a quem fica sem as árvores, casas e vidas, dá bem ideia do grau de alienação política a que já chegámos.

Em 1954 um relatório da FAO realça o quase perfeito dispositivo de prevenção e combate a incêndios, gerido pelos Serviços Florestais (SF), que defendia a floresta pública e comunitária portuguesa. O relatório chamava a atenção para o facto da defesa das matas privadas (a larga maioria) ser executada pelos proprietários e populares, sem equipamentos adequados, técnica ou coordenação. A desorganização agravava-se em incêndios de maior dimensão, a que podiam ocorrer unidades militares, alguns corpos de bombeiros e os SF. Dada “a riqueza e importância estratégica para o país” (estávamos em 1954!) recomendava-se que se investisse na gestão das matas privadas e se executassem medidas preventivas, expandindo a este património privado o dispositivo que protegia as matas sob gestão pública. 
Tiago Oliveira/ João Pinho in Observador, 8/10/2017

sexta-feira, outubro 06, 2017

A morte do PCP

Há uma vertente obviamente religiosa no PCP

Passos Coelho soube gerir a favor do PSD a derrota eleitoral em Lisboa. Jerónimo e a gerontocracia comunista ainda não acordaram.


Na realidade, estas eleições autárquicas assinalam o primeiro dia do resto da vida do PCP, que nunca mais será a mesma.

O declínio sindical e autárquico dos herdeiros de Cunhal é visível há já alguns anos. Basta reparar nas percentagens eleitorais que deslizam de forma consistente, basta observar a perda de sindicalizados na CGTP, basta analisar a ilegitimidade e mesmo legalidade duvidosa crescentes das suas lutas e sobretudo provocações de rua. Basta avaliar, agora, as razões de desespero que em 2015 levaram Jerónimo de Sousa a entregar o partido a António Costa, acreditando ingenuamente que o líder do PS era um homem de esquerda.

A Geringonça vai durar enquanto houver crédito externo, mas passará a caminhar manca de comunistas e aos ziguezagues. Houve um verdadeiro assalto aos bastiões do PCP, e quem o corporizou foi António Costa. Depois de meter o PCP parlamentar no bolso, não resistiu a papar-lhe as autarquias históricas—Almada, Barreiro, Alcochete e Évora—, aumentando também a maioria que já obtivera em Beja, e diminuindo ainda drasticamente a diferença que separa o PS do PCP nas restantes autarquias comunistas. Pior era impossível. Foi aliás esta hecatombe que levou António Costa a inventar a farsa da grande derrota do PSD, que o líder laranja aproveitou, para sair de cena, deixando espaço ao seu partido para se recompor.

Ou seja, António Costa deu, como já escrevi, uma verdadeiro abraço de urso a Jerónimo de Sousa. Mas o pior é os comunistas não terem saída fácil do buraco onde cairam. Para já, terão que aprovar o Orçamento, contenha este o que contiver, pois caso não o façam, e como Costa quer, lá se vão os pelouros em dezenas de câmaras onde o PS domina. Ou seja, se não engolirem todos os sapos do Orçamento de 2018, a derrota autárquica será ainda maior! E se ocuparem as ruas, para esconder o óbvio, as próximas legislativas serão uma espécie de golpe de misericórdia numa agremiação pré-histórica e sem emenda.

quinta-feira, outubro 05, 2017

A vitória da farsa


Parar para pensar...


... PS não só perdeu a maioria na Câmara como teve menos 10% dos votos, metade dos quais terão ido para o BE enquanto o PCP ficou praticamente igual. No concelho de Lisboa, a «esquerda» junta teve 57% em 2017 quando tinha tido 61% em 2013.... 
in Manuel Villaverde Cabral, Observador, 5/10/2017)

PPC deixou a corja do seu partido e as esquerdas alegres a falarem sozinhas. É bem feita!
As esquerdas, endogâmicas e oportunistas, convém alertar os mais distraídos, ou mais medrosos, atingiram o seu pico eleitoral. Não conseguem mais, nem com trombetas e toda a imprensa indigente no bolso. Ou seja, a partir daqui, a prova dos nove do que afinal as esquerdas são capazes, e é quase nada, vai traduzir-se negativamente nos seus próximos resultados eleitorais. Basta olhar para o buraco onde o PCP já caiu, e a inexistência local dos bloquistas. Em breve, se os populistas quiserem continuar a endividar o país, já não terão, nem Draghi, nem Totta! A sua esperança de vida começa a encurtar-se rapidamente.

Vai ser preciso uma abordagem da Política radicalmente nova. Se tivermos sorte, uma parte do atual espetro partidário e sobretudo novas energias sociais acabarão por mudar um regime que já só vive para manter a sua burocracia e os cleptómanos que dele se apoderaram.

Confederação Ibérica



O problema já não é se..., mas quando...


...e se, para lá chegar, os espanhóis irão passar por mais uma tragédia, com as profundas cicatrizes que sempre deixam, ao longo de várias gerações, no subconsciente dos povos.

Uma União Espanhola, uma união voluntária das nações espanholas, como existiu desde os Reis Católicos até à invasão napoleónica, que impôs a primeira constituição aos espanhois estabelecendo o princípio de um só estado, uma só soberania, uma só nação, seria uma maneira perfeitamente pacífica e produtiva de sair do funil histórico para onde os dois principais partidos do país (populares e socialistas), por absoluta inabilidade, estão a levar milhões de pessoas, para quem a Espanha negra nunca existiu, ou era já uma recordação ténue.

Uma União Espanhola seria melhor do que uma federação, pois definiria o perfil soberano de  cada autonomnia que optasse pela independência.

Por fim, quando o processo espanhol estabelizasse, poderíamos pensar numa Confederação Ibérica, incluindo Portugal, ou seja, poderíamos caminhar paulatinamente para uma parceria de estados soberanos em nome de uma convergência regional e ultramarina com pergaminhos históricos evidentes.

Os tempos que se aproximam serão muito exigentes. Seja por efeito das alterações climáticas, seja por efeito dos picos demográfico e energético, as tensões sociais, económico-financeiras e políticas tenderão a avolumar-se exponencialmente. As crises migratórias, mas também as tendências nacionalistas e populistas (de direita e de esquerda) evidenciam por toda a parte a sua imparável emergência. Só o bom senso, e sobretudo o conhecimento efetivo das causas que realmente nos afligem, poderão evitar o pior.

Pelo que conheço da história europeia e pelos meus amigos espanhóis, formulo aqui um desejo sincero e veemente: que a crise catalã deixe de ser uma coisa má para todos, e se transforme numa coisa boa para todos!

Monarch falida


Numa economia virtual as Low Cost não teriam fim. Na economia real  têm!


Os aviões são um negócio que perde ou ganha pouco dinheiro. O negócio principal está nos aeroportos.

Por causa desta debilidade estrutural, o transporte aéreo de passageiros tem sido altamente subsidiado pelos governos, direta e indiretamente. Ou seja, os governos, e portanto os países, endividam-se por conta das suas ditas companhias de bandeira. Por outro lado, os governos praticamente isentaram as companhias aéreas de impostos sobre os consumos astronómicos de petróelo fino de que necessitam para voar.

A isto acrescem agora três novas causas da inviabilidade a prazo do transporte aéreo para todos:
  • o fim anunciado da expansão monetária promovida desde 2008 pelos bancos centrais americano, europeu e japonês, 
  • a mortalidade natural dos turistas reformados, que não são integralmente substituídos por novos idosos, porque estes últimos estão a ver as suas pensões a desaparecer. 
  • e, por fim, a destruição das classes médias, atualmente em curso.
O futuro pertencerá mais ao Skype, ao Facebook, e à Amazon, do que propriamente às companhias aéreas.

Já agora, acrescente-se: a TAP voltou a ter grandes prejuízos que se vão somar à sua tão gigantesca quanto dissimulada dívida (pública) acumulada.

Não é por acaso que se vislumbra uma nova guerra social no horizonte.