terça-feira, maio 17, 2011

FMI-BCE: dois porta-aviões ao fundo!

Strauss-Kahn substituído pelo cérebro do FMI que trabalhou com Pinochet
Judeu, financeiro, socialista, arrogante e predador sexual, anunciou, como chefe do FMI, que queria substituir o dólar por uma moeda mundial. O resultado está à vista. DSK era, afinal, um alvo fácil de abater.

Tristane Banon, escritora e jornalista foi também uma das vítimas de DSK

Dinheiro, poder e sexo selvagem sempre andaram juntos ao longo da história. Os predadores sexuais abundam nas classes e corporações poderosas: dos campos, fábricas e prisões, às casas reais, aos recém-chegados ao festim —os governos democraticamente eleitos—, às corporações de juízes e médicos, e às igrejas e ordens religiosas.

Mas não abundam só nestas esferas quase intocáveis do poder. Também nos círculos mais pequenos da vila provinciana, da aldeia, e das famílias, é fértil o terreno dos interditos e da caça sexual. O historial é interminável e foi bem tratado por autores tão eloquentes quanto Sade e Foucault. No fundo, à espreita de um corpo física ou economicamente frágil há sempre um bando invisível de faunos e vampiros sedentos, prontos a atacar. No fundo, à espreita de uma alma frágil, há sempre um predador espiritual com o texto da sedução mais apropriado ao desencadear da captura erótica e, finalmente, da submissão carnal, cuja necessidade de ocultação induz não raras vezes o crime.

Nas sociedades ocidentais modernas, abastadas e educadas, a lei e os costumes evoluíram felizmente em direcção à protecção da integridade da pessoa e da vontade humana face ao desejo alheio e às acções não-consentidas que este possa desencadear. Nenhuma violência, nem ludibrio, são consentidos, por configurarem uma violência física ou psicológica inaceitável. A crescente participação das mulheres na sociedade veio equilibrar decisivamente a balança para o lado dos mais fracos e fracas, penalizando cada vez mais fortemente a violência sexual e a violência familiar contra crianças e mulheres. Pelo que se vai sabendo de Dominique Strauss-Kahn, a justiça só peca por tardia.



E no entanto, a prisão do ainda director-executivo do FMI parece servir como uma luva aos interesses imediatos dos Estados Unidos e da Inglaterra, dois países à beira de um novo colapso financeiro. 

Há uma guerra financeira em curso movida pelo dólar-libra contra o resto do mundo, tendo a Eurolândia como principal teatro de operações. Começaram por atacar a Irlanda, a Grécia e Portugal, e agora querem apressar a ofensiva, indo directamente ao coração do sistema financeiro que ultimamente tem escapado às garras de Wall Street: o FMI e o BCE. Curiosamente, acabam de colocar esta semana no comando interino do FMI o homem que dirigiu o programa de resgate do Chile na era Pinochet. E conseguiram na semana passada assegurar, na próxima presidência do BCE, um sucessor de Jean-Claude Trichet 100% sintonizado com os money-changers desesperados de Wall Street e da City: Mario Draghi, ex-vicepresidente e director executivo da Goldman Sachs. Há só um problema: nem Washington, nem Londres, têm fôlego financeiro suficiente para impedir o maremoto das economias emergentes!

É possível que a DSK tenha sido apanhado por uma armadilha sabiamente montada pelos serviços secretos americanos. Mas para as duas problemáticas aqui abordadas, é indiferente. Se a criatura é, como transparece de vários relatos, um predador sexual, deve ser detido e castrado quimicamente, independentemente dos custos estratégicos que isso possa ter. Se havia suspeitas sobre a sua conduta, não deveria ter chegado onde chegou. Se não é culpado do que é acusado, deve ser absolvido.

Temos que separar os tabuleiros de análise, para não confundir tudo. Mas uma coisa é certa, as mudanças no FMI e no BCE vão aumentar a turbulência financeira mundial, sobretudo se os chineses e brasileiros decidirem que chegou o momento de exigir o peso que lhes é devido na instituição.

Última questão: onde ficam os portugueses no meio desta guerra financeira?

REFERÊNCIAS
Strauss-Kahn Case Bolsters Push for Change in IMF Selection (Bloomberg)

The arrest of International Monetary Fund Managing Director Dominique Strauss-Kahn may bolster a drive by Brazil and other emerging markets for a greater voice in the selection of the IMF and World Bank chiefs. [...]

The IMF’s No. 2 official, John Lipsky, last week said he would leave when his term expires Aug. 31. Lipsky is acting managing director during Strauss-Kahn’s absence from Washington. [...]

Emerging markets have also seen their clout grow under Strauss-Kahn. Last year, IMF nations agreed to rule changes that will give China the third-largest percentage of votes. In 2010, the U.S., as the largest contributor to the IMF’s resources, had 16.7 percent of the votes, followed by Japan and Germany with about 6 percent each.

Yi Gang, deputy governor of the People’s Bank of China, last month urged the fund to “continue to make substantive progress in reforming other parts of its governance, including the merit-based selection of the management.” [...]

Germany prefers having a European as head of the IMF if Strauss-Kahn quits, Chancellor Angela Merkel said today. There are “good reasons” for Europe to keep the post amid the euro area’s debt crisis, even as the role of developing nations grows, Merkel told reporters in Berlin.

[but...] Another possible candidate to replace Strauss-Kahn is Zhu Min, 59, a special adviser to the IMF and a former deputy governor at China’s central bank, said Shen Jianguang, a former IMF economist now at Mizuho Securities Asia Ltd. in Hong Kong.


John Lipsky (bios/ IMF)

Before coming to the Fund, Mr. Lipsky was Vice Chairman of the JPMorgan Investment Bank. [...]

Previously, Mr. Lipsky served as JPMorgan's Chief Economist, and as Chase Manhattan Bank's Chief Economist and Director of Research. He served as Chief Economist of Salomon Brothers, Inc. from 1992 until 1997. From 1989 to 1992, Mr. Lipsky was based in London, where he directed Salomon Brothers' European Economic and Market Analysis Group [...]

He also participated in negotiations with several member countries and served as the Fund's Resident Representative in Chile during 1978-80.

International Monetary Fund director Dominique Strauss-Kahn calls for new world currency (Telegraph)

Dominique Strauss-Kahn, managing director of the International Monetary Fund, has called for a new world currency that would challenge the dominance of the dollar and protect against future financial instability.

DSK ou l’archétype du “Sexus politicus” (Courrier International)

Le récit le plus détaillé est celui de Tristane Banon, une journaliste et romancière qui a rencontré DSK il y a plusieurs années pour une interview. Le lieu du rendez-vous était insolite : une garçonnière proche de l’Assemblée nationale, avec pour tout mobilier un grand lit et une télévision. “La partie interview a duré cinq minutes et demie”, précise Tristane Banon ; le temps que l’ancien ministre de l’Economie pose sa main sur elle et lui propose de transformer l’entretien en ce que la terminologie du FMI appellerait une physical affair. “J’ai déjà croisé des dragueurs un peu lourds, dit-elle. Mais là, c’était effrayant. Il n’était plus lui-même.”

IMF forgives its Director's Amourous Affairs (Mediavigil)

International Monetary Fund said Saturday that it would stand by its managing director, Dominique Strauss-Kahn, despite concluding that he had shown poor judgment in a sexual affair with a subordinate.

After receiving a report from an outside law firm, the executive board of the fund said there was no evidence Strauss-Kahn had abused his power or shown favoritism in his brief relationship with a senior official at the fund, who later resigned to take a job in London.

Still, the longest-serving member of the board, A. Shakour Shaalan, described the affair as a "serious error of judgment" on the part of Strauss-Kahn, 59, a former French finance minister who took charge a year ago and is now steering the fund through the most serious global financial crisis in decades.

In a statement, Strauss-Kahn said, "I am grateful that the board has confirmed that there was no abuse of authority on my part, but I accept that this incident represents a serious error of judgment."

segunda-feira, maio 16, 2011

Os fariseus desta democracia

Rembrandt, pormenor da pintura sobre a expulsão dos cambistas do templo
“A minha casa será chamada casa de oração, mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”

O capitalismo de Estado lusitano chegou ao fim

Se repararmos bem, a democracia portuguesa é a coisa mais parecida que há com o templo de onde Jesus, um dia, expulsou a corja de fariseus e de cambistas (especuladores) que o tinham transformado numa praça financeira, numa repartição de tráfico de influências e numa casa de putas.

O povo, ou pelo menos uma parte maioritária do mesmo, acreditava então e continua a acreditar hoje que os templos e as casas da democracia são lugares de fé, e não corredores e gabinetes sob protecção policial onde operam sem freio, sorridentes, bem vestidos e perfumados nas melhores casas (1), e comendo à noite, fora do olhar plebeu, as melhores iguarias (2), os coveiros da prosperidade, da saúde e da honra de quem distraidamente os elege ou aceita como pastores.

O descaramento dos piratas que tomaram de assalto o PS e vociferam em nome do socialismo e do contrato social brada aos céus. É, de facto, a coisa mais parecida com a propaganda fascista clássica, só que numa variante pós-moderna. Está na altura de percebermos todos que os partidos do centro-direita são, por incrível que pareça, a última barreira democrática interna à destruição do templo democrático e sua transformação no mero biombo farisaico de uma nova forma de ditadura — neo-corporativa, a soldo da pirataria financeira mundial e sob protecção legal de grandes e mafiosos escritórios de advogados. A outra barreira a esta degenerescência e iminente redução de Portugal à categoria de estado falhado é, por incrível que pareça também, o Memorando da Troika —cuja leitura atenta, já possível em português, não me canso de recomendar, por oposição à canalha que faz tudo para o esconder.

A máquina de propaganda que se apoderou do Partido Socialista e do Estado, paga pelos nossos impostos e em clara subversão da lei constitucional e da boa-fé democrática, substitui e espezinha o programa, a inteligência e a cultura genuinamente socialistas.

A cegueira ou cobardia de quem no PS sabe disto e teme agir com coragem poderá revelar-se fatal para toda uma geração de portugueses, sobretudo se a crise sistémica mundial do capitalismo evoluir para uma nova guerra mundial e subsequentes nacionalismos desesperados. A alusão de Eduardo Catroga às relações de pragmática política entre Sócrates e Hitler é menos disparatada do que parece. Ele não comparou os dois políticos sob o prisma do anti-semitismo, mas sublinhou, e bem, o paralelismo da teatralidade das encenações, do histrionismo das criaturas, e das retóricas. Para ser mais exacto, a versão adoptada por Sócrates deve mais ao sobrinho de Freud, Edward L. Bernays, do que a Joseph Goebbels. Digamos que o primeiro é a versão americana e pós-moderna (avant la lettre) do segundo. Ambos, curiosamente, escreveram textos fundamentais sobre o tema da Propaganda, em 1928.

There is really little point to discussing propaganda. It is a matter of practice, not of theory. One cannot determine theoretically whether one propaganda is better than another. Rather, that propaganda is good that has the desired results, and that propaganda is bad that does not lead to the desired results. It does not matter how clever it is, for the task of propaganda is not to be clever, its task is to lead to success. Joseph Goebbels, “Knowledge and Propaganda” (1928), in German Propaganda Archive.

THE conscious and intelligent manipulation of the organized habits and opinions of the masses is an important element in democratic society. Those who manipulate this unseen mechanism of society constitute an invisible government which is the true ruling power of our country. Edward L. Bernays, Propaganda (1928).

Pensemos no batalhão de criaturas incógnitas que escrevem os telepontos diários de Sócrates e alimentam minuto-a-minuto os tickers televisisvos. O resultado é sempre o mesmo: insistir de cada vez, sempre que possível, numa ideia simples, maniqueísta e de enunciação breve (o que hoje se chama sound bite). Por exemplo: não contem com Sócrates para governar com o FMI (criação e diabolização de um inimigo externo, e ocultação da bancarrota óbvia do Estado conduzida pelo PS; ou: o Memorando do FMI, ou da Troika (consoante as audiências para quem fala), é o PEC4 (transformando assim o invasor num derrotado: vieram comer a minha mão...), sim, é o PEC4! sim, é o PEC4!! (insistência minuto-a-minuto); ou sobre o PSD e o CDS: a Direita quer destruir o estado social; a Direita quer privatizar a saúde; a Direita quer privatizar as reformas; a Direita quer despedir os funcionários públicos; a Direita quer subir os impostos! Ou seja, tudo o que Sócrates e o PS têm vindo a fazer ao longo dos últimos seis anos, em nome, diz a propaganda minuto-a-minuto de Sócrates, da salvação do estado social, é agora imputado como agenda secreta demoníaca da Direita. Se tivermos presente que Sócrates utiliza diariamente todos os canais televisivos em horário prime, primeiro como governante, e depois como falso descamisado, podemos calcular o formidável poder de manipulação empregue diariamente por esta máquina de propaganda contra toda a Oposição — mas pior ainda, contra todo um povo aflito e com péssimas perspectivas de futuro.

No entanto, a realidade é esta: ao mesmo tempo que Sócrates manipula o eleitorado, fixando-o no medo da Direita (não nos esqueçamos de que a propaganda nazi, tal como a propaganda americana, da publicidade, ao business coaching, ao marketing em rede e à cientologia, são ferramentas de controlo pacífico das mentes), aquilo que este ditador disfarçado pela moda realmente faz é comprometer-se com a Troika na suspensão do contrato social em todas as vertentes previstas: saúde, reformas, educação e redistribuição fiscal da riqueza.

Fá-lo, porém, negando publicamente o que assinou, sem qualquer receio da contradição e da mentira descarada. A fórmula típica da propaganda eficaz é uma vez mais simples: atribuir minuto-a-minuto esta capitulação e este programa de destruição do estado social à Direita! E ao mesmo tempo que acusa o PSD e o CDS de quererem destruir o estado social, e o PCP e Bloco de Esquerda de serem responsáveis por esta mesma destruição, na qualidade de aliados e muletas da Direita, os piratas da tríade de Macau, em aliança ou não com a Maçonaria, procuram desesperadamente nos corredores obscuros da corrupção salvar desta mesma destruição a incapaz burguesia rentista que ainda temos e a recém chegada turma de novos-ricos e financeiros paridos pela partidocracia. Como? Invocando os direitos adquiridos das PPP e os direitos adquiridos dos monopólios que atrofiam o nosso potencial de crescimento!
Os contratos entre o Estado e as empresas são os novos direitos adquiridos. Parecem gravados na pedra.

Enquanto for bastante mais barato reduzir os direitos dos cidadãos e aumentar impostos do que rever contratos entre o Estado e o sector privado, a história a que temos assistido nas democracias ocidentais e em Portugal continuará a ser a mesma: o Estado capturado pelos partidos e interesses privados, a tirar a quem tem apenas a Lei e a Constituição do seu lado para dar a quem tem contratos.

Eis uma abordagem a roçar o esquerdismo, dirão alguns. Pois não é. A democracia capitalista de mercado tem na liberdade, igualdade e no Estado de direito - e não dos contratos - os seus pilares fundamentais. O que temos hoje é tudo menos mercado. Porque uns são manifestamente mais iguais que outros, porque uns têm manifestamente mais poder sobre o Estado que outros. Terá a troika o poder de curar esta ferida do capitalismo? Helena Garrido in “Direitos, contratos e desigualdades”, negócios online, 13 maio 2011.

Desconfiança a Alta Velocidade

“O Estado também tem compromissos, por exemplo, com os reformados que durante uma vida confiaram nessa instituição entregando-lhe, por outro lado, mensalmente uma parte do seu ordenado e prescindindo, por outro lado, de receber outra parcela de forma a que a entidade patronal contribuísse para a constituição da sua reforma. E o que fez o Estado desses compromissos? Teve de os abandonar, dada a situação financeira a que conduziu o país. Manuela Ferreira Lete, Expresso 14 maio 2011.

Os jornalistas mais conhecedores e sérios já não conseguem esconder o embuste e a calamidade provocada por quem conduziu conscientemente Portugal à bancarrota. Como disse Estela Barbot —uma empresária certamente conservadora no voto, consultora do FMI— os responsáveis pela falência do país são quem canalizou os poucos recursos disponíveis, isto é a nossa fraca poupança, os limitados fundos comunitários e os empréstimos externos, para estádios de futebol (hoje falidos) e autoestradas desnecessárias e economicamente impagáveis. De forma ainda mais detalhada é preciso dizer, explicar e repetir ao país, até à saciedade, que na ordem de principais responsáveis pela bancarrota de Portugal não estão os encargos com os funcionários públicos, mas quatro evidências contabilísticas da responsabilidade de Sócrates e dos piratas que o acompanham:
  1. as 120 Parcerias Público-Privadas
  2. o Estado paralelo escondido do orçamento de Estado (Parpública, empresas privadas regioanis e municipais de capital 100% público, fundações, etc.)
  3. os juros da dívida pública
  4. e os encargos sociais com o subsídio de desemprego a que os cidadãos desempregados têm todo o direito, sobretudo se descontaram para tal eventualidade. 
A falência portuguesa é da exclusiva responsabilidade dos últimos três anos de governação PS, sob o império da tríade de Macau, associada ou não à Maçonaria, associada ou não a redes internacionais que se dedicam a roubar literalmente estados inteiros.

Tão importante quanto pagar as dívidas, é investigar e responsabilizar, criminalmente se for o caso, os seus principais responsáveis, e sobretudo operar uma grande metamorfose social. Sem recuperar as condições fiscais mínimas da liberdade empresarial e criativa, o nosso potencial de crescimento continuará estagnado e caminhará mesmo para uma recessão profunda e duradoura. A consequência desta hipótese de definhamento económico, social e cultural da nossa sociedade, a concretizar-se, seria o caminho mais rápido para a implantação de uma nova ditadura em Portugal. Os embriões adormecidos desse novo poder invasivo estão à vista de quem os quiser ver.

Francesco Franco: “Portugal não vai ter uma segunda hipótese para voltar a ser competitivo e pôr fim a um processo de acumulação de dívida externa que se arrasta há mais de 15 anos”.

Só uma subida dos impostos sobre o consumo, um corte forte nos custos unitários do trabalho e uma estagnação dos salários proporcionada pela chamada desvalorização fiscal irá, no curto prazo, ajudar Portugal a reequilibrar o pesado défice externo e voltar a crescer.

A Taxa Social Única (TSU) deverá descer dos actuais 23,7% para 11% a 12% para ter efeitos imediatos e relevantes na descida dos custos do trabalho e aumento da competitividade./ A redução das contribuições para a Segurança SOcial não significa um emagrecimento do seu financiamento que deverá ser assegurado por outras taxas que não as do trabalho. Anabela Campos, “É preferível reduzir os custos de trabalho a salários”, Expresso, 14 maio 2011.

Não se pode pedir mais produção, como faz e bem o PCP, se esmagarmos pela via fiscal e pelo excesso de zelo burocrático os produtores e os criadores de riqueza.

Há dias visitei um pequeno agricultor biológico que há vinte anos, num hectare e meio de terra recuperada a um pinhal, se dedica a esta alternativa ao colapso inevitável da agricultura intensiva, toda ela baseada no petróleo e no gás natural. Perguntei-lhe duas coisas: como tem evoluído o ambiente do teu negócio nos últimos anos; e que parte do ganho foi comida pelos factores de produção. A resposta foi desoladora:

“Tenho cada vez menos condições para continuar; o trabalho pago e o Estado levam quase tudo — 90% do que vendo vai para salários, licenças, taxas, impostos, selos, segurança social, seguros e médicos do trabalho. Actualmente sou forçado a subsidiar com uma pequena herança recente o meu próprio negócio e as pessoas que trabalham comigo.”

Como querem o PCP e o Bloco apelar à produção se, na realidade, autorizaram no parlamento e continuam a insistir em ideologias cujo resultado prático é a destruição da própria possibilidade de começar? Temos a segunda maior taxa de emigração dos últimos 160 anos por algum motivo. Chegou o momento de acordarmos e de sermos inflexíveis para com os ladrões e os populistas profissionais!

POST SCRIPTUM (16-05-2011 23:30)— Clara de Sousa perguntou a José Sócrates, durante o debate deste com Jerónimo de Sousa, porque razão não havia ainda uma tradução oficial do Memorando da Troika. Sócrates meteu os pés pelas mãos, como é costume quando apanhado em falso, e disse que achava que havia. Achava!

NOTAS
  1. Uma loja de luxo em Beverlly Hills (a Bijan) publicitava na montra principal os seus clientes VIP, entre estes um tal primeiro ministro de Portugal, José Sócrates. Alguém perguntou a esta criatura se é verdade? E se é, alguém lhe perguntou onde obteve o dinheiro para as compras? A diferença entre Lisboa e Luanda, ou entre Lisboa e Port-au-Prince é cada vez mais insignificante.
  2. O CM apanhou o “socialista” Pinóquio Pinto de Sousa à saída de um restaurante de luxo no Porto, onde jantou com seis apoiantes do PS. «A refeição custa, em média, 100 euros por pessoa», lê-se na legenda da fotografia publicada na última página do jornal. Vinham certamente da campanha eleitoral, muitos cansados de explicar ao povo porque devem votar no "estado social".

sábado, maio 14, 2011

O dilema de votar

Pintelho (Puffinus obscurus)

O voto no PS é um voto inútil
Só uma vitória do centro-direita poderá salvar a Esquerda!

Na guerra das sondagens, quem paga mais consegue, por vezes, travar as más notícias, e sobretudo inundar os média com muito ruído. A sondagem da Marktest dava há dois dias atrás uma vantagem clara ao PSD (39,7%) sobre o PS (33,4%), apesar das quedas fortíssimas, que ainda podem ser invertidas, do PCP e do Bloco. Ontem, a Intercampus respondeu com uma sondagem, no mínimo hilariante, onde o PS supera o seu próprio resultado de 2009 (passando de 36,56 para 36,8%), batendo o PSD (33,9%), uma vez mais com o PCP e o Bloco em colapso eleitoral. Mas a verdade é que quase 50% dos eleitores ainda não decidiram! Como diz a Manuela Moura Guedes só um PIG (Povo Idiota e Grunho) é que votaria em quem lhe acaba de assaltar a casa. Mas o mais grave é que os grunhos, uma vez de bolsos vazios, o que ocorrerá ao longo dos próximos dois anos, mudarão de ideias num ápice — e não será para alimentar, uma vez mais ainda, a demagogia populista da Esquerda! Não sei, pois, o que é que a dita Esquerda, perdida entre o irrealismo panfletário do PCP e do Bloco, e o comportamento proto-fascista do cadáver adiado do PS, tem a ganhar com o actual curso dos acontecimentos. Agarrados aos pequenos e grandes poderes, agarrados às pequenas e grandes mordomias, agarrados à falsa profissão que têm, os partidocratas levaram Portugal à falência, por acção ou por omissão hipócrita e oportunista. Talvez seja altura de arrepiarem caminho e pensarem a sério sobre o seu próprio futuro, já que não pensam no país, nem no povo que os sustenta.
Greece [Ireland and Portugal] Defaulting on Debts Anticipated by 85% in Global Poll of Investors

Eighty-five percent of those surveyed this week said Greece probably will default, with majorities predicting the same fate for Portugal and Ireland, which followed Greece in seeking European Union-led bailouts, a new Bloomberg Global Poll shows. The outlook for all three countries deteriorated since January.

“All these countries will go bust at some stage,” said Wilhelm Schroeder, a poll participant who helps manage the equivalent of about $172 million for Schroeder Equities GmbH in Munich. “I just can’t see a scenario in which these countries get out of their debt problems”— Bloomberg.
Os americanos e os ingleses são suspeitos, pois são quem mais aposta no insucesso do euro. Provavelmente cairão primeiro do que a Eurolândia. Mas isso não altera um facto óbvio: a União Europeia está confrontada com problemas gravíssimos que poderão, no limite, conduzir a um congelamento, ou mesmo à implosão nacionalista do projecto. O regresso das fronteiras demográficas, a incapacidade de transformar a tragédia do norte de África numa oportunidade para ambas as margens do Mediterrâneo, e a incapacidade de lançar uma estratégia económico-financeira que amorteça o colapso financeiro em curso, por efeito da explosão da bomba relógio do endividamento —soberano, das empresas, dos especuladores perdedores, e dos consumidores—, são ameaças globais à estabilidade e ao sonho europeu.

O apoio da China ao euro pode não ser suficiente. E se não for, ou os grandes blocos geoestratégicos se sentam a uma mesa e equilibram a geometria da globalização, como outrora portugueses e espanhóis fizeram em Tordesilhas, ou os tambores de uma nova guerra mundial começarão em breve a rufar.

A queda praticamente inevitável da moeda americana e o colapso do Japão, hoje com uma dívida pública —a mais elevada do mundo— que supera (antes da tragédia que recentemente assolou o país) os 225% do PIB, conjugados com a procura crescente de recursos energéticos, industriais e alimentares por parte dos países emergentes (China, Índia, Brasil, Rússia) e da África, são já os cenários das guerras assimétricas em curso, mas também da nova grande guerra por vir. É para isto que a Europa, e cada um dos estados membros da União tem que se preparar a sério. Entre nós, portugueses, não podemos continuar a discutir os problemas como se estivéssemos na Cova da Iria, e o drama maior que se desenrola aceleradamente diante de todos, fosse uma fantasia longínqua de que estaríamos, pelo amor que a Virgem nos dedica, protegidos. Só não vê quem não quer ver — por medo, ou oportunismo.

Onde está a tradução do Memorando de Entendimento da Troika? 

Como dizia e bem Eduardo Catroga, a precária comunicação social que temos só se interessa por pintelhos, isto é, por minudências que ninguém conhece — como, por exemplo, a pequena ave marítima chamada Pintelho (Puffinus obscurus), que não é o pentelho a que tantos púdicos reagiram ofendidos. O pentelho, palavra específica e correcta para pelo púbico, é também uma designação comum no Brasil para as melgas, chatos e sarnas, i.e. aquele tipo de criaturas humanas que não desgrudam e fazem perder a paciência a qualquer santo, como se o futuro do país fosse apenas mais um concurso para descerebrados, ou mais um reality show. “O Pentelho” é, por exemplo, o título brasileiro do filme protagonizado por Jim Carrey, The Cable Guy. Pentelhos são, no caso que aqui interessa, as agendas vigiadas e manipuladas da comunicação social. Em inglês chamam-se scramblers a estas ferramentas de perturbação da comunicação correcta dos sinais. Por cá deveríamos passar a chamar-lhes pentelhos!

Sobre o que interessa a todos, o silêncio é de ouro.

O governo assinou um memorando crucial para o país — mas não o traduziu, nem divulgou junto de quem lhe sustenta as mordomias, a pirataria e os vícios. Os partidos, a quem pagamos para pouco fazerem, também não se deram ao trabalho de traduzir o memorando, e por isso falam de pintelhos (minudências que ninguém conhece) e de pentelhos (ruído para entreter), em vez de explicar aos portugueses o que os nossos credores impõem, e bem, à corja que tem o país nas mãos e o conduziu à bancarrota, com reflexos inevitavelmente dolorosos para todos nós. Mas também a precária comunicação social que temos (que ou depende do partido que está no governo, ou de quem os financia e compra espaço publicitário) se esqueceu de traduzir o que a Troika desenhou para os próximos três (ou trinta!) anos da nossa vida colectiva, encontrando aí uma boa desculpa para esconder o tema dos olhares indiscretos das audiências. A tradução, no entanto, existe! Mas devêmo-la a mais um acto de cidadania da Blogosfera, desta vez por iniciativa do blogue Aventar. O Memorando da Troika, em português, encontra-se aqui, e é de leitura e discussão obrigatórias.

PCP e Bloco podem recuperar e enterrar o PS — para bem da Esquerda, incluindo o PS!

O PCP e o Bloco de Esquerda podem acolher centenas de milhar de votos de eleitores descontentes com a ladroagem e manipulação proto-fascista do PS de Sócrates. Basta moderarem a linguagem, falarem claro e colocarem-se, como é sua obrigação, ao serviço do país e da justiça social.

Depois de o PSD e o CDS terem esclarecido que não formarão governo com o PS, nomeadamente por este ter sido capturado por uma teia de piratas, associações secretas, máfias e famílias ricas ignorantes —improdutivas, incapazes de competir a céu aberto e rentistas (1)—, a agremiação cientologista do Pinóquio das Beiras ficou literalmente sem base de sustentação pós-eleitoral. Ou seja, quer perca, quer ganhe (uma ficção alimentada pelas sondagens da treta), não tem com quem dançar o tango. Logo, voltaria a cair, antes de aprovar o orçamento de 2012. Novas eleições se seguiriam, ou em alternativa, Cavaco chamaria alguém do PS, do PSD ou do CDS para liderar a formação de um governo de convergência nacional. Se este improvável cenário viesse a ocorrer, Eduardo Catroga seria porventura the man for the job!

Ou seja, o voto no PS é um voto completamente inútil. Pelo contrário, votar no PCP, ou no Bloco de Esquerda, para quem for incapaz de votar na Direita, abre a porta a três desenhos partidários futuros da maior importância:
  • a expulsão dos corpos estranhos que envenenam o PS, permitindo assim a refundação deste partido; 
  • uma reforma generativa efectiva no interior do PCP, com possível mudança de sigla e adopção de um programa político e social adequado aos tempos que aí vêm, claramente aberto aos cenários da governação que não se limitem apenas às autarquias; se pode governar cidades, vilas, aldeias e bairros, porque carga de água não pode governar o país?
  • e, finalmente, a desinfecção do Bloco, eliminado os ácaros leninistas, estalinistas e trotskistas que ainda impedem esta associação intelectual pequeno-burguesa de contribuir de forma útil e pragmática para a alternância democrática no nosso país.

A Direita será com toda a probabilidade governo depois do dia 5 de junho. Vou votar em Passos Coelho para que isso aconteça, deixando de votar à esquerda pela primeira vez na minha vida. E a motivação é puramente pragmática: só derrotando o possuído PS actual, e portanto só abrindo caminho a um governo do PSD, ou do PSD-CDS, daremos tempo à Esquerda para renascer...

Compreendo os eleitores de esquerda incapazes de votar à direita. Trata-se de um atavismo como outro qualquer. Eu, por exemplo, algures na minha tenra infância tornei-me benfiquista, por motivos que desconheço inteiramente. Se me perguntarem se sou capaz de mudar de clube, direi que não. E no entanto nunca entrei num estádio de futebol! Nem nunca vi um jogo de futebol profissional ao vivo!! Então, perguntar-se-à, por que serei eu benfiquista, se ainda por cima o Benfica é há décadas um perdedor sem remédio? Por atavismo. No entanto, talvez porque os partidos chegaram à minha vida quando era já adulto e consciente, o medo atávico da traição à marca não existe. Voto em consciência, e não como um autómato emocional. Faço apostas e cálculos. Procuro, em suma, na pequena escala do meu voto pessoal, influir nos resultados. No caso vertente, o meu diagnóstico é claro: a Esquerda aburguesou-se e corrompeu-se em trinta e tal anos de delegação inusitada de poderes. Faz parte do problema, e precipitou-o na última década e meia, levando o país à bancarrota. É tempo de expiar os erros, e preparar, com honestidade e inteligência, o futuro!

POST SCRIPTUM



— É preciso deixar bem claro que a Esquerda, partidária, sindical e cultural, viveu em perfeita simbiose oportunista com Os Donos de Portugal —sobre quem recentemente Francisco Louçã, Jorge Costa, Luís Fazenda, Cecília Honório e Fernando Rosas publicaram um livro. Essa mão mal cheia de endogamia familar (os Mellos, os Espírito Santo, os Champallimaud, os Roquete, os Ulrich, os Ricciardi, e os d'Orey — ver aqui a árvore genealógica publicada no livro citado) está associada quase toda ao principal espinho do nosso sobre endividamento: as 120 parcerias público-privadas (ver mapa 1; ver mapa 2). Mas de quem é, em última instância, a culpa, se não da democracia populista que temos? O FMI entendeu num ápice onde estava o tumor da nossa democracia, e o que é preciso para extirpar o bicho. Mas como reagem Sócrates, os sindicatos, o PCP, e o Bloco? Com o FMI, nunca! É por estas e por outras que precisamos de uma cura de direita! É que há muita gente a querer trabalhar, criar empresas e ganhar dinheiro honestamente! O biocapitalismo incestuoso que tivemos até esta bancarrota acabou!

quinta-feira, maio 12, 2011

China: pena capital para políticos corruptos

Se a moda pega...

Xu Zongheng, antigo presidente da câmara de Shenzhen, condenado à morte por corrupção.

Former Shenzhen Mayor Sentenced to Death

Xu Zongheng (许宗衡), the former deputy party secretary and mayor of Shenzhen, was sentenced to death, with a two-year reprieve by Zhengzhou Municipal Intermediate People's Court on May 9 on charges of accepting bribes.

The former mayor was also stripped of his political rights for life and had all his personal property confiscated — Economic Observer.

Former Head of Galaxy Securities Sentenced to Death for Accepting Bribes

Xiao Shiqing (肖时庆), the former Chairman of Galaxy Securities, one of China's largest and oldest securities firms, was handed a death sentence with a two-year reprieve after the Henan Province Higher People's Court found him guilty of accepting approximately 15.46 million yuan in bribes and making about 100 million yuan from insider trading — Economic Observer.

Nunca iríamos tão longe. Mas nem sequer investigar quem desfalcou o país, também é inaceitável. Para além dos efeitos da crise, houve claramente um assalto premeditado e organizado ao país, de que o roubo do BPN é um dos episódios mais graves, seguido do polvo mafioso das PPP (SCUTs, fornecimento e tratamento de águas e resíduos, barragens e hospitais), tão ao mais pesado de consequências para a pobreza que vai recair sobre mais de 90% da população portuguesa.

Anda por aí uma petição a favor da investigação dos putativos criminosos que assaltaram o país. O memorando da Troika exige a independência e celeridade dos tribunais e dos órgãos reguladores e fiscalizadores assim que o próximo governo entre em funções. Quando 1500 a 3000 trabalhadores da TAP ficarem na rua, após declarada a falência da empresa que, tanto quanto julgo saber, já deixou de pagar a Segurança Social dos seus empregados, a dita petição poderá chegar rapidamente aos 100 mil subscritores!

A China tem hoje um regime e dois sistemas. Compete no mercado mundial usando esta duplicidade: por um lado, é liberal e pela iniciativa privada e contra as barreiras alfandegárias à circulação de mercadorias e capitais (da China para fora, mas não de fora para dentro da China!), e por outro, os seus principais bancos, seguradoras e empresas são estatais, e continua a não haver liberdades burguesas de expressão e criação, ao mesmo tempo que a corrupção endémica do regime é episodicamente castigada com condenações à morte exemplares — usualmente por injecção letal, seguindo a receita americana, embora fazendo uso dum meio expedito de aplicação da pena, as chamadas carrinhas da morte (Death Vans). São executados, em média, 10 mil chineses por ano, entre eles vários empresários e políticos corruptos.

Sou contra a pena de morte, como boa parte dos portugueses, mas não defendo nem a condescendência, nem a impunidade que parece imperar actualmente entre nós.

segunda-feira, maio 09, 2011

Colar de Pérolas

Bin Laden, o Paquistão e o porto de Gwadar
O que é que isto tem que ver com o "TGV"?

Porto de águas profundas de Gwadar, Paquistão e Mar Arábico.

 O assassínio de Bin Laden, se é que o homem ainda era vivo e estava onde dizem que estava, pode ter servido mais de um propósito. O primeiro, melhorar a depauperada popularidade de Barack Obama; o outro, revelar ao mundo que o Paquistão manteve sob sua custódia o terrorista mais procurado do planeta, e que portanto traiu o amigo americano.

No entanto, este pode ter sido apenas mais um dos sucessivos incidentes que acabará por conduzir a humanidade a uma nova guerra mundial, ou, se tivermos juízo, a uma nova divisão do mundo, em duas metades, como outrora Portugal e Castela fizeram, assinando o Tratado de Tordesilhas. Se a Europa e os Estados Unidos não concordarem com a China uma revisão das regras da globalização, a luta desesperada dos grandes países, blocos de países e alianças, pelo acesso às fontes de energia, matérias primas e alimentos, tornar-se-à explosiva, ao ponto de poder provocar uma guerra mundial de proporções dantescas. Há, como se sabe, nos Estados Unidos e em Israel, um visão estratégica que aposta na antecipação de uma guerra com a China, antes que esta se torne imbatível. Mas há também quem defenda que um cenário de guerra global provocará uma aliança imediata entre a China e a Rússia (com o Paquistão a caminho?), tornando-a, assim, um MAD (Mutual Assured Destruction).

String of Pearls: Meeting the Challenge of China's Rising Power Across the Asian Littoral. By Lieutenant Colonel Christopher J Pehrson. SSI

China's rising maritime power is encountering American maritime power along the sea lines of communication (SLOCs) that connect China to vital energy resources in the Middle East and Africa. The "String of Pearls" describes the manifestation of China's rising geopolitical influence through efforts to increase access to ports and airfields, develop special diplomatic relationships, and modernize military forces that extend from the South China Sea through the Strait of Malacca, across the Indian Ocean, and on to the Arabian Gulf. A question posed by the "String of Pearls" is the uncertainty of whether China’s growing influence is in accordance with Beijing’s stated policy of "peaceful development," or if China one day will make a bid for regional primacy. This is a complex strategic situation that could determine the future direction of the China’s relationship with the United States, as well as China’s relationship with neighbors throughout the region.

A China, de facto, não para de lançar as suas redes em todos os mares disponíveis, à medida que o seu crescimento empobrece objectivamente as antigas potências coloniais e imperiais do Ocidente — com dificuldades crescentes de subsidiar as suas armadas e os seus aliados subordinados. O novo porto de águas profundas de Gwadar, paquistanês, mas construído pela China e administrado pela Autoridade Portuária de Singapura, aproximando as fontes petrolíferas da Arábia, da África, e do Irão, por via terrestre (pipeline), da China, através de território paquistanês (ver este vídeo: The Karakoram Highway), é um movimento estratégico de peso por parte de Pequim, que certamente deixou os americanos do Pentágono muito irritados.

Porto de Gwadar (Google maps)

China has acknowledged that Gwadar’s strategic value is no less than that of the Karakoram Highway, which helped cement the China-Pakistan relationship. Beijing is also interested in turning it into an energy-transport hub by building an oil pipeline from Gwadar into China's Xinjiang region. The planned pipeline will carry crude oil sourced from Arab and African states. Such transport by pipeline will cut freight costs and also help insulate the Chinese imports from interdiction by hostile naval forces in case of any major war.

Commercially, it is hoped that the Gwadar Port would generate billions of dollars in revenues and create at least two million jobs. In 2007, the government of Pakistan handed over port operations to PSA Singapore for 25 years, and gave it the status of a Tax Free Port for the following 40 years. The main investors in the project are the Pakistani Government and the People's Republic of China, making China's plan to be engaged in many places along oil and gas roads evident — in Wikipedia.

Recomendo vivamente aos que entre nós ainda têm dúvidas sobre a importância das ZEE e dos portos de águas profundas, nomeadamente no Atlântico, norte e sul, que estudem o desenho das linhas de comunicação que a China está neste preciso momento a construir —de que o porto de Gwadar é porventura a mais recente ousadia— e retirem as suas conclusões. Algeciras e o triângulo Sines-Setúbal-Lisboa são plataformas portuárias multimodais absolutamente estratégicas para os tempos difíceis e violentos que aí vêm. Vitais para a Europa, e fundamentais para Portugal.

É tempo de os assuntos logísticos do país deixarem de ser matéria de verborreia inconsequente por parte dos nossos imprestáveis políticos. A imprestabilidade destes conduziu-nos à bancarrota e à humilhação de preferirmos ser governados por uma Troika estrangeira do que pelas nódoas partidárias que temos. Não queiramos que sejam os outros a determinar em breve o que teremos que fazer com os nossos portos de águas profundas e com as nossas ligações ferroviárias a Espanha e ao resto da Europa!


POST SCRIPTUM: este texto foi suscitado pela leitura de um artigo de Elaine Meinel Supkis.

domingo, maio 08, 2011

Passos de Lebre

O líder do PSD, nesta verdadeira corrida de obstáculos, é mais matreiro do que parece! Paulo Portas: sempre aceita um passo de dança com Sócrates, ou não?

©António Carvalho. “Empalagado” — exclusivo para O António Maria e CHICOTE

Alguns burros pobres e esfomeados continuam a arrastar as patas obedientes por uma cenoura virtual. É o caso de uma parte notória dos nossos comentadores televisivos, que mais parecem autómatos biológicos atacados pela Síndrome de Estocolmo. Espero que o seu contágio seja superficial junto de quem for votar no próximo dia 5 de junho, e que o programa de mudança hoje apresentado por Pedro Passos Coelho tenha o número suficiente de votos para ser testado, em consonância inevitável com o Memorando de Entendimento da Troika.

À partida, por ter sabido esperar, o PSD está neste momento bem adiantado face aos partidos que resolveram antecipar os seus programas de trazer por casa ao trabalho aturado, certeiro, radical e calendarizado da delegação de representantes da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI.

Agora, das duas uma: ou fazem como os obsoletos do PCP e do Bloco que decidiram rejeitar qualquer contacto com os nossos credores (como se as suas ajudas de custo partidárias tivessem sido pagas com o suor dos rostos das respectivas turmas parlamentares), e neste caso o que escreveram ou deixaram de escrever é totalmente irrelevante — quando poderia não ser; ou então, nos casos do PS e do PP, lá terão que ajustar, contorcer, negar e reformular boa parte da lenga-lenga vertida nas suas pueris cartilhas eleitorais, com sempre, de mera circunstância. Quem passou agora a estar na defensiva? Todos menos o PSD!

Ainda não li todo o programa eleitoral apresentado hoje por Passos Coelho para um Novo Portugal 2020, mas ouvi-o e sublinho aqui as “mensagens finais” do documento (PDF da versão integral). O PSD quer, em declarada e construída sintonia com o Memorando de Entendimento da Troika, o seguinte:
  1. Um Portugal Solvente e Prestigiado a tender para o equilíbrio, com elevado prestígio na União Europeia e no Mundo e elevada credibilidade nos mercados financeiros.
  2. Um Portugal com um Sistema Político Próximo dos Cidadãos, merecedor de elevados níveis de confiança por parte dos portugueses.
  3. Um Portugal com uma Sociedade Confiante, com elevada mobilidade, dinâmica e solidária, com instituições fortes e independentes, respeitados pelos portugueses, com um elevado grau de confiança interpessoal e contratual.
  4. Um Portugal com uma Justiça Célere e Para Todos, garante de transparência e segurança nas relações interpessoais e contratuais.
  5. Um Portugal com uma Economia Competitiva globalmente inovadora, exportadora, com elevada atractividade global ao nível da agricultura, da floresta, da economia do mar, da indústria transformadora, do turismo, dos serviços e de segmentos económicos da nova economia e geradora de valor e de empregos nas novas actividades económicas em crescimento.
  6. Um Portugal Melhor Administrado, com um Estado facilitador do crescimento e do desenvolvimento sustentável, com uma administração pública eficiente, inovadora e orientada para os cidadãos e para as empresas, com pessoas motivadas e baseados em modelos de organização flexíveis, com actualização intensa das novas tecnologias da informação e garante da coesão social.
  7. Um Portugal com Território Inteligente, seguro, sustentável e atraente, conectado por comunicações de banda larga e serviços móveis, espaços urbanos de qualidade com novos modelos de relação casa-trabalho, suportado por redes de energia eficientes e sustentáveis e de transportes inteligentes.
  8. Um Portugal de Empreendedores, centrados em inovações para a economia global e suportados por um dinâmico ecossistema financeiro, científico, empresarial e institucional.
  9. Um Portugal mais Qualificado e confiante, com competências ajustadas aos requisitos da empregabilidade da economia global e tecnológica do século XXI.
  10. Um Portugal mais Justo, Coeso e com Protecção Social sustentável, com serviços sociais personalizados, eficientes, factores da inclusão social, à medida das capacidades do País, em condições de sustentabilidade, com menores assimetrias sociais, com escolas devidamente inseridas nas comunidades locais, e sistemas de saúde, de educação e de segurança social adaptados às necessidades das pessoas e com reforço progressivo da sua liberdade de escolha.
Tal como o Memorando da Troika (PDF), este é um documento a ler na íntegra (PDF).

Em primeiro lugar, para ver o grau de compaginação razoável entre os dois programas, sabendo-se desde já que o primeiro é bem mais detalhado e tem prazos, ao contrário do programa eleitoral do PSD —que ainda padece de alguns tabus tipicamente partidocratas. Por exemplo, não refere sequer a necessidade óbvia de diminuir o número autarquias, a começar por Lisboa e Porto, que deverão ser rapidamente transformadas em cidades-região, com órgãos representativos e executivos semelhantes às regiões autónomas, i.e. com governos próprios, diferentes das demais câmaras municipais e sem, pelo menos, metade das freguesias actualmente existentes.

Em segundo lugar, para que esta eleição estabeleça pela primeira vez uma relação exigente, informada, crítica e construtiva, entre os cidadãos e o futuro governo — o qual, com grande probabilidade, agora que conheço o programa, e depois da prestação de hoje de Passos Coelho, será laranja.

Pela minha parte, que sempre votei no PS, e às vezes até mais à esquerda, o PSD já tem um voto garantido!


POST SCRIPTUM: Passos Coelho tem um calcanhar de Aquiles. Chama-se Miguel Relvas — uma insuportável e conflituosa criatura, que há-de dar muitos problemas ao provável próximo primeiro-ministro.

O fim do Bloco

A quadratura impossível entre Estaline, Mao e Trotsky
Louçã sofreu uma lesão cognitiva na adolescência que lhe impede qualquer pragmatismo ou pensamento criativo. Já era assim 1975...

O PS não vai voltar a governar à esquerda, acusa Gil Garcia

Com críticas duras à direcção de Francisco Louçã, o rosto principal da oposição interna à actual liderança disse que um PS sem Sócrates é uma “fantasia” e justificou que é uma “proposta bizarra” uma coligação à esquerda com o PS sem o actual secretário-geral Sócrates. Porque o PS não vai renegociar a dívida externa, acusou.

O líder da Ruptura/FER, que defendeu ao longo da VII Convenção do BE, uma coligação com os comunistas, foi mais longe, ao afirmar que o maior “empecilho” para a unidade da esquerda é, depois da reunião de Francisco Louçã com Jerónimo de Sousa, defender que “cada um deve ir na sua bicicleta.” E acrescentou que, ”enquanto cada um de nós anda na sua bicicleta", o PS continua a ganhar as eleições.”

No final do discurso, Garcia afirmou que Louçã só voltará a contar com os signatários da Moção C quando “discursar à esquerda contra os Governos do regime”, sem alianças com o PS. À moção C coube hoje a eleição de 11 membros para a Mesa Nacional do partido, num total de 80. — in Público.

Francisco Louçã é, desde os tempos em que estudava no liceu Padre António Vieira, um militante marxista a quem as leituras da IV Internacional, e em particular de Ernest Mandel, avariaram definitivamente algum do código genético responsável pelo pensamento racional autónomo. Desde então, como um relógio inteiramente previsível, o seu mundo intelectual resume-se a uma cópia defeituosa do pensamento tardio e pessimista de Léon Trotsky face ao ascenso do estalinismo e do fascismo no mundo, nas vésperas, aliás, do seu assassínio por um agente de Estaline.

Para Louçã, a missão dos marxistas revolucionários (leia-se trotskystas), já não é tomar quanto antes o poder, formar conselhos operários e decretar a ditadura do proletariado, porque faltam evidentemente as condições objectivas e subjectivas para que tal possa ocorrer nos países do que Mandel chamava o “capitalismo tardio”. Há que esperar!

A esta espera do regresso das condições objectivas e subjectivas maduras e necessárias para uma nova situação pré-revolucionária que abra de novo caminho à revolução socialista, chama-se “entrismo”.

O “entrismo” é basicamente isto: sobreviver ao ciclo ainda longo do “capitalismo tardio”, através de uma simbiose oportunista com os partidos socialistas pequeno-burgueses por essa Europa fora, tanto penetrando no interior dos respectivos aparelhos, criando neles células clandestinas, como formando partidos socialistas revolucionários autónomos e dispostos ao jogo eleitoral burguês. Em ambos os casos, os trotskistas mandelianos, de que Francisco Louçã é há décadas uma eminência parda, limitam a sua missão na Terra a duas regras intransponíveis: a regra canónica, ou seja, preservar o dogma trotskista, e evangélica, a qual passa por educar os socialistas, e os social-democratas desviados, na palavra marxista, leninista e trotskista original, preparando-os assim para o inexorável tempo da revolução socialista. Mais recentemente, o “entrismo” mandeliano, que é fundamentalmente uma forma de organização clandestina de inspiração tipicamente jacobina, tem alargado o leque dos seus hospedeiros potenciais a todo o tipo de movimentos sociais que “objectivamente” ameaçam o edifício do “capitalismo tardio”: dos católicos progressistas (oriundos em Portugal, por exemplo, do Graal), aos movimentos anti-racistas, gays e lésbicas, etc. A mais recente tentativa retórica de estender esta forma de oportunismo militante aos movimentos cívicos espontâneos, deu-se no apelo patético que Francisco Louçã lançou hoje à Geração à Rasca, para que juntos façam um segundo 25 de Abril!

Sem conhecermos esta matriz genética irremediável do pensamento clonado de Francisco Louçã, não se percebe a sua eterna e visceral arrogância para com Partido Comunista, bem como o seu amor pedagógico por Manuel Alegre, Paulo Pedroso, Ferro Rodrigues e, no limite, se for mesmo preciso, pelo próprio Pinóquio Pinto de Sousa!

Foi assim em 1975, é assim agora e será sempre assim. Pois uma degenerescência cognitiva não se corrige sem um longo processo de desconstrução teórica associado a uma indispensável psicanálise.

Os partidos portugueses, especialmente o PCP e o Bloco, são evidências puras do atraso cultural da nossa democracia. São, na realidade, tal como as corporações, os sindicatos, e a burguesia financeira que tanto atacam, evidências de agrupamentos sociais privilegiados com uma indisfarçável  dependência rentista do Estado — i.e. dos impostos que pagamos. Quanto mais cedo nos vermos livres destas sobrevivência arcaicas da nossa cultura política, mais cedo daremos espaço e oportunidade às novas formas de acção política de que as sociedades actuais precisam, como do pão para a boca, para enfrentar os sérios problemas de sobrevivência global que temos pela frente.