Os socratintas do actual governo PS perderam definitivamente o juízo relativamente à Ota. As mais recentes declarações de Mário Lino sobre a Margem Sul (local putativo para uma alternativa à Ota) transparecem mesmo sinais de demência retórica e algum desespero político.
As evidências do problema são estas:
- não há nenhum estudo multicritério que aponte a Ota como uma boa solução para o novo aeroporto internacional de Lisboa (NAL).
- a grande maioria dos especialistas consideram a aposta da Ota um erro monumental.
- 92 a 93% dos portugueses (sondagens de Abril e Maio de 2007) estão contra a localização do novo aeroporto na Ota.
- a Portela está longe da saturação (apesar das mentiras compulsivas do ministro)
- bastaria activar o aeroporto do Montijo, para assegurar com custos mínimos a vida útil do aeroporto de Lisboa até 2050, seja porque o paradigma do transporte aéreo mudou radicalmente na Europa nos últimos 4 anos (fenómeno Low Cost), seja porque as novas regras europeias sobre a imposição de limites à emissão de gases com efeito de estufa terá consequências drásticas sobre o transporte aéreo na Europa, sobretudo a partir de 2012;
- A TAP e a PGA vêm cancelando mais de 100 voos por mês desde o princípio do ano! E só não cancelam mais, porque se o fizessem perderiam automaticamente parte dos slots (espaço-tempo para descolagens e aterragens nas horas de ponta) que dispõem, e que são renhidamente disputados pelas Low Cost que, em número crescente, demandam o nosso país.
- a TAP-PGA, i.e., o resultado da compra da PGA ao grupo BES pela TAP (um negócio escandaloso promovido pelo governo Sócrates, sem a mínima oposição dos restantes partidos parlamentares), caminhará muito rapidamente para a falência, ou, na melhor das hipóteses, para uma privatização que se traduzirá no seu efectivo desaparecimento. A venda dos aviões antigos (gastadores e ruidosos), a venda das empresas do grupo que não correspondam ao "core business" da empresa que a absorver (uma grande companhia de bandeira europeia, ou mesmo uma Low Cost interessada nos slots da TAP-PGA) e os despedimentos colectivos que poderão facilmente atingir 50% dos efectivos que conservarem os seus postos de trabalho após o saneamento decorrente da compra da PGA pela TAP, é o cenário mais provável para um sector incapaz de adaptar-se ao novo paradigma da aviação comercial, seja pela sua pesada inércia, seja porque não houve um mínimo de lucidez estratégica por parte dos poderes públicos.
- A obsessão da Ota está a revelar-se cada vez menos como uma teimosia, e cada vez mais como uma obediência do poder político a interesses poderosos instalados, seja no sector da especulação imobiliária (na Ota e na Portela), seja no sector das grandes obras.
- A anunciada privatização da ANA (Aeroportos e Navegação Aérea) para supostamente financiar a construção da Ota é um aburdo estratégico, na medida em que as Low Cost manterão o seu interesse por Lisboa enquanto o respectivo aeroporto estiver perto da cidade e as taxas aeroportuárias forem baratas. Se estes dois factores viessem a ser subvertidos (o que aconteceria se a Ota fosse construída), as Low Cost trocariam muito provavelmente Lisboa pelo Porto, por Faro-Beja e por Badajoz (que em 2012 deverá estar a menos de uma hora de Lisboa, via TGV), deixando a Ota e os seus imbecis patriarcas com um extraordinário mamute branco ao colo! Como a TAP terá deixado de existir muito antes de 2017, ninguém ficará para alimentar a Ota, e esta fechará, antes mesmo de inaugurar.
- Por fim, parece haver uma enorme pressão política sem nome contra o estabelecimento do eixo Madrid-Lisboa, seja através da localização idiota do NAL na Ota, seja pela reiterada indecisão da parte portuguesa relativamente à linha de Alta Velocidade entre Lisboa e Madrid, seja, mais gravemente ainda, na completa ausência de um plano ferroviário adequado às exigências energéticas do século 21 e, mais prosaicamente, à decisão espanhola de converter para bitola europeia toda a sua rede ferroviária até 2020 (o que significa pôr no chão 10 mil quilómetros de ferrovia nova).
As palavras e os perdigotos de Mário Lino deixaram a assistência atónita. Espero que a Margem Sul venha a dar ao PS a devida réplica eleitoral a esta inadmissível demonstração de arrogância.
Este governo arrisca-se a morrer antes de tempo, como o anterior, de ridículo.
Última hora
## Tempestade no deserto do Poceirão
Na SIC Notícias - 24-05-2007 23:10 -, Pedro Ferraz da Costa pôs o dedo na ferida sobre a questão da Ota: o que está em causa não é alternativa Ota vs. Rio Frio, Poceirão ou Faia, mas discutir se é ou não necessário, e um bom investimento, destruir a Portela (que poderá, sem grandes custos, ser modernizada e prolongada com mais duas pistas no Montijo ou em Sintra). Para os governos que lançaram para o ar a hipótese da Ota, houve apenas uma consideração efectiva: como arranjar um bom pretexto para sacar mais uns milhões ao orçamento comunitário.
A ideia de um novo aeroporto parecia excelente... Sucede que esse dinheiro, se um dia cá chegar, servirá sobretudo para encher os bolsos dos fundos imobiliários (seja na Portela e Ota, seja na Portela e Margem Sul) e dos grandes consórcios de construção. As comissões ilegais irão, como se sabe, parar aos dois principais partidos do arco parlamentar (PS e PSD) e ainda a uma parte da actual e mui corrupta nomenclatura partidocrata. Momentaneamente, haverá trabalho e contratos para todos, embora seja previsível que entre 1/3 e 50% do negócio global vá direitinho para as contas bancárias de empresas espanholas e europeias não nacionais. No fim, os portugueses terão um aeroporto destruído e transformado numa China Town cheia de primos do José Eduardo dos Santos e do Stanley Ho, uma infraestrutura inútil e falida na Ota, e várias facturas pesadíssimas por pagar, como sucedeu com a factura da Ponte Vasco da Gama, que foi paga duas vezes (*), e sucede e sucederá por vários anos a fio com as facturas da Expo 98, dos estádios do Euro e das SCUDs. É esta forma criminosa de fazer política que vem arruinando o país, empobrecendo os pagadores de impostos, rebentando com a nossa produtividade e com a possibilidade de o Estado cumprir as suas principais missões sociais e de segurança. No entanto, a nomenclatura do rotativismo nacional anseia pelo negócio e pelo que poderá sacar, como se estivéssemos em Luanda, Bogotá ou no Haiti!
António José Teixeira e Luis Delgado são dois prototipicos agentes mediáticos dos polvos que manobram o PS e o PSD. Quando perguntados por Mário Crespo (que vem fazendo um excelente trabalho, contra a corrente andrajosa da maioria do jornalismo mercenário dominante) sobre o embuste da Ota, assobiaram para o lado, afirmando cinicamente que não são técnicos, que não percebem nada do assunto, mas que, mesmo assim, acham termos já perdido muito tempo a discutir a Ota. Se o PSD e o PS decidiram sobre o assunto (como se não houvesse dados novos de 2000 para cá), quem somos nós para duvidar?! Perfeitos imbecis!
Ainda sobre as declarações de Mário Lino durante o colóquio gastronómico que teve lugar na Ordem dos Economistas, e revistas na extensa transmissão difundida pela SIC (no jornal das 10), das duas uma, ou o homen estava bêbado, ou então, como dizia um habitante do Poceirão, é mesmo burro!
* Nos termos do novo FRA Global, as contrapartidas directas à concessionária, para reposição do equilíbrio financeiro da concessão, ascendem, a preços descontados das taxas de inflação, a cerca de 180 milhões de contos, isto é, o equivalente ao custo de uma nova travessia sobre o Tejo. -- in Auditoria ao Acordo Global celebrado entre o Estado e a Lusoponte, p.9, 22-11-2001. (PDF)## O presidente do PS (Almeida Santos) considerou que a construção de um aeroporto na Margem Sul poderá ser perigosa tendo em conta um eventual atentado terrorista que poderá destruir a ponte que liga o norte e o sul do Tejo. -- Ler/ouvir em TSF online em TSF 24-05-2007 10:35
Comentário: o homem está manifestamente gágá e os socratintas perderam a cabeça!
OAM #206 24 MAI 2007
3 comentários:
Caro António,
O Eixo Lisboa Madrid não pode ser construído à custa da drenagem de Portugueses do Norte para Sul. Não se esqueça. O ideal é que a ligação por TGV a Espanha se fizesse apenas por AVeiro-Salamanca.
JSilva
Norteamos.blogspot.com
Caro J,
se reparar na rede AV desenhada e em construção (ver o post Aeroportos 21) na vizinha Espanha, verá que estão previstas precisamente duas ligações AV a Portugal: uma, entrando por Badajoz, e outra por Salamanca... até Aveiro. Existe ainda uma linha de mercadorias que ligará Sines à futura refinaria da Extremadura espanhola, com passagem pela grande plataforma logística do Caia (Elvas-Badajoz), também já em construção do lado espanhol. O fundamental é que ambos os traçados AV permitam a circulação de comboios de passageiros e comboios de mercadorias. E depois que, em Portugal, se substitua toda a via de bitola ibérica por uma rede coerente em bitola europeia. Finalmente, a ligação ferroviária Lisboa-Porto não precisa de AV para nada; basta-lhe melhorar o actual Pendular, fazendo-o rolar à sua esperada velocidade de 240Km/hr e obtendo toda a sua rentabilidade, longe de ser conseguida.
O êxito extraordinário das Low Cost no aeroporto Sá Carneiro prova que a economia e a cultura nortenhas se ligam rápida e directamente a Espanha, ao resto da Europa e ao mundo, sem precisar de passar por Lisboa para coisa alguma. Portugal sempre foi, é, e é bom que continue a ser, um país bipolar. O que o Norte tem que fazer é exigir, como fazem os catalães --olho por olho, dente por dente--, que os impostos nacionais sejam justamente redistribuidos pelas duas capitais do país: Lisboa e Porto. A estratégia da Ota não passa da sobrevivência de um arcaísmo tipicamente salazarista. Não fez o seu caminho durante os 40 anos de ditadura; muito menos o fará agora!
São estas as medidas estratégicas equilibradas de que o país precisa, e não da criminosa tentativa de destruição da Portela, ou de visões acagaçadas da integração ibérica. Esta, se for inteligente, acompanhará necessariamente a dinâmica mais geral da integração europeia. Não temos que recear demasiado o desenho centralista de Madrid. Percebe-se o ponto de vista dos castelhanos, mas o futuro incerto que nos espera depende muito mais de quem controla as periferias ibéricas, atlântica e mediterrânica, do que da estepe madrilena. O que temos sobretudo que fazer, e já, é denunciar e corrigir os elevados níveis de corrupção e imbecilidade política que actualmenmte atrofiam gravemente o nosso futuro e a nossa independência nacional naquilo que lhe é mais essencial: o poder de colaborar com a União Europeia com os nossos próprios argumentos e os nossos próprios recursos estratégicos: autonomia alimentar, autonomia energética, sustentabilidade demográfica, segurança territorial e marítima, elevados níveis cognitivos e de informação da população, solidariedade social, cooperação competitiva e criatividade.
Sejamos optimistas :-)
Poçeirão ou Poceirão?
Um anónimo chamou-me a atenção para a ortografia em uso: Poceirão (sem cedilha...)
Eu escrevi Poçeirão, deduzindo instintavemente que o termo deriva de poço ou poça. Daí "poçeirão". Creio que ambas as ortografias são admissíveis. Mas enfim, seguindo a heráldica daquele valioso deserto (que afinal é um oásis, pois tem um grande poço de água!), passemos então a escrever "poceirão".
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