sábado, março 19, 2011

Beja ou Portela?

Aeromoscas de Beja precisa duma Low Cost. A TAP?

'Girls of Ryanair' — Michael O'Leary, o homem da Ryanair, com duas das suas assistentes
de bordo no calendário de 2011 editado pela companhia para apoio a obras de caridade.

Que tal uma Nova TAP, com metade do pessoal e 1/4 dos administradores actuais, Low Cost e em Beja? Estou a brincar! O fantasma de Figo Maduro, sim, deve ir para Beja, e a TAP deve aproveitar o resto da sua vida, que será mais curta do que a do aeroporto da Portela, usando mais racionalmente, e sem manipulação partidária, as suas pistas de sempre, na Portela!

Início dos voos regulares no aeroporto de Beja mais uma vez adiado

No debate que decorreu durante a apresentação do voo para Cabo Verde e no qual se abordaram as futuras valências do Terminal Civil de Beja, António Pinto da Silva, da Agência Abreu, expressou a sua convicção de que uma das alternativas para o novo aeroporto estará na realização de voos de baixo custo, admitindo que o aeroporto de Beja só ficará "operacional" quando surgir uma companhia low cost. — Público.

O senhor Sócrates e a tríade de piratas que o promoveu, aparou e continua a teleguiar, e que conduziram o país à bancarrota, deveriam ser criminalmente responsabilizados por este e outros desfalques da riqueza nacional. O aeromoscas de Beja, tal como o apoio partidário ao BCP, EDP, Mota-Engil, Grupo Lena, e por aí adiante, serão um dia escalpelizados — na barra dos tribunais, ou na barra, mais pesada ainda, da História.

O génio Mateus deveria ser publicamente interrogado pelas suas mirabolantes consultorias cor-de-rosa, e chamado a responder por este aeromoscas sem futuro, que derrapou para a nossa austeridade, dos inicialmente anunciados 34,1 milhões de euros, para 74 milhões (in Expresso), e também pela famosa cidade aeroportuária com que publicitou o grande objectivo cor-de-rosa, laranja e vermelho (sim, o PCP apoia sempre o investimento público, bom ou mau) de destruir alegremente o que resta dos estuários do Tejo e Sado, com o desnecessário e colossal elefante branco a que chamam NAL, i.e. o novo aeroporto da Ota em Alcochete.

O aeromoscas civil de Beja não tem futuro na aviação comercial, e nunca deveria ter sido sequer pensado para tal. As obras que lá fizeram são de pura fachada. Nem sequer mexeram na pista! Deveria permanecer o que é: um importante aeródromo militar, com valências civis pontuais, e para onde o lóbi corporativo e burocracia militares do aeroporto fantasma de Figo Maduro, e da pista NATO do Montijo, esses sim, deveriam emigrar, libertando, o primeiro, a placa que ocupa indevidamente na Portela, para futuro estacionamento das aeronaves de carga civil que demandam Lisboa, e o Montijo, uma pista suplementar para o aeroporto de Lisboa (leia-se Portela-Montijo).

  • A TAP não tem futuro, a não ser reestruturando-se radicalmente. Isto é, focando-se na única actividade que lhe dá dinheiro: voar!
  • A TAP não tem futuro, a não ser partindo-se em três companhias ponto-a-ponto: TAP Atlântica (Brasil, Venezuela, Angola, Cabo-Verde, São Tomé, etc.); TAP Europa (mais de 80% do seu movimento actual); e TAP Oriente (Turquia, Golfo, Índia, China, Japão), com parceiros regionais fortes ( na Europa, a Lufhtansa, em África a TAG, na Ásia, com a Air China, etc.)
  • A TAP precisa, como do pão para a boca, da Portela, mas de uma Portela renovada a sério e bem gerida, talvez por uma ANA privada, não para engordar a burguesia palaciana, inepta e preguiçosa nacional, mas para entregar a gestão aeroportuária do país a um consórcio privado com provas dadas, subordinado a obrigações de serviço público muito claras, mas libertando de uma vez por todas a gestão desta empresa rentável dos indecorosos boys&girls do PS e do PSD.
  • A Portela precisa, como do pão para a boca de obras que aumentem a segurança das pistas e a gestão dos movimentos no ar e em terra. Para tal precisa de libertar espaço aéreo militar reservado na zona de Lisboa sem qualquer justificação e que apenas permanece como está pela estúpida e proverbial resistência dos lóbis burocráticos às decisões racionais (1). Num estado civil, os militares obedecem ao poder civil democraticamente eleito, ponto final! O ministério da defesa, infelizmente dirigido nas últimas décadas por amadores e aparachiques, continua a ocupar corredores aéreos de bases militares à volta de Lisboa, inúteis ou até desactivadas: Sintra e Montijo (inúteis), e Alverca (desactivada).
  • A TAP precisa dum aeroporto na cidade, porque 80% dos seus voos são para e do espaço comunitário europeu, porque apenas 9% dos aviões que demandam a Portela são da classe wide-body (i.e. adequados a viagens de longo curso, nomeadamente intercontinentais), o que afasta liminarmente a verborreia dos vendedores-ambulantes do PS e do PSD sobre o "Hub aeroportuário de Lisboa".
  • A Portela deve permanecer, pelo menos até 2020, como o único aeroporto civil de Lisboa, pois tem ainda oportunidades de ver crescer o número de passageiros que por ele transitam, sem precisar de aumentar muito mais o número de movimentos de aeronaves. Só no filet mignon dos horários prime-time, há falta de slots na Portela. Mas isso é assim em todos os aeroportos! O que mais importa saber é que os aviões da TAP andam vazios, para ser mais preciso, com taxas de ocupação muito baixas e sempre a descer desde que as Low Cost atacaram, e bem, o mercado português. Os nossos imbecis governantes ainda não perceberam que o sucesso das Low Cost, que tem vindo a encostar a TAP literalmente às boxes (em Faro, Porto, e em breve Funchal e Lisboa) se deve, em grande parte, ao enorme contingente de novos emigrantes portugueses que viajam, desde que há tarifas convenientes, não uma ou duas vezes por ano, como antes acontecia, mas de dois em dois meses, todos meses, ou até quinzenalmente (sobretudo quando têm emprego ou negócios simultaneamente em Portugal e nalgum outro país comunitário). Os irresponsáveis e incompetentes políticos agarrados à mama orçamental habituaram-se às borlas e mordomias da TAP, e como qualquer viciado em heroína, custa-lhes a deixar os maus hábitos  pagos pela nossa austeridade!
  • Finalmente o aeroporto da Portela, que tem ainda margem para crescer fisicamente (nova taxiway, afastamento dos militares do aeroporto fantasma de Figo Maduro, desalojamento de alguns serviços e empresas do perímetro mais próximo da zona operacional das pistas, etc.) precisa de importantes e urgentes obras de saneamento básico. Tudo junto: uns 100 a 200 milhçoes de euros de investimento útil, para prolongar a vida de um dos mais seguros, pontuais e convenientes aeroportos do mundo. Como se vê, a construção civil ainda tem muito que fazer em Portugal. Só não queremos que continue a roubar à descarada e a enterrar o país, em vez de o construir!

POST SCRIPTUM: a ideia de construir por fases um novo aeroporto na margem sul (em Alcochete, Canha ou Rio Frio), mantendo durante a construção das sucessivas fases, e mesmo depois, a Portela, é uma opção inviável por motivos económicos, de logística e mesmo de compatibilização dos corredores aéreos. Mas o principal argumento contra esta sugestão decorre da caríssima operação de protecção dos críticos lençóis friáticos existentes no subsolo, a qual corresponde a uma fatia muito grossa de todo o investimento previsível (que não é de 3,5 MM de euros, mas de 11 a 12 MM de euros!) Além de desnecessário, pelo que o horizonte energético nos reserva a todos, a novo aeroporto de Alcochete não se fará, por óbvia falta de dinheiro … que a Alemanha não deixará, de vez, aos piratas lusitanos esconder da dívida soberana, uma vez mais, debaixo de um qualquer tapete PPP.

NOTAS
  1.  Que privilégios protegem a permanência injustificada do fantasma de Figo Maduro na Portela? Se o aeroporto da Portela fosse encerrado, como defende o Bloco Central da Corrupção (mas que não será), que aconteceria ao fantasma de Figo Maduro e respectivos corredores aéreos?

    O principal impasse deste país é a inércia corporativa que, depois da ditadura, em vez de diminuir por força da democracia, aumentou desmesuradamente por força da corrupção. A degenerescência do actual regime tem, estou convencido, uma origem genética: a apropriação oportunista de pedaços do fascismo derrotado em 25 de abril.

    8 comentários:

    Unknown disse...

    Como sabe, leio com interesse e admiração as suas análises. Tenho seguido o que diz sobre a rede de Aeroportos. Gostava de o ler sobre Monte Real.
    Sabe, fui Presidente da Câmara da Figueira e Presidente do Conselho da Região Centro. Senti muito o que significa o tempo excessivo dos transfers dos turistas para uma Região. Por exemplo, para a Figueira, ou para Fátima, o chamado turismo Religioso.
    Considero, pois, muito importante, para um País equilibrado no desenvolvimento, uma boa rede de Aeródromos Regionais. E, por isso, aproveitar as infraestruturas que existem. Já li, e vou sabendo, o que se passa com Badajoz. Quem o diria, aqui há uns anos. Isto a propósito, também, de Beja.E de Vila Real. Ou de Bragança. Sei que são realidades diferentes, nomeadamente, nos investimentos já exigidos ou exigíveis. Mas é de uma rede, também para o equilíbrio regional, que estou a falar.O transporte ferroviario é outro assunto, para outro dia.
    Tome estas palavras como uma reflexão que se pretende conjunta.
    Registo e agradeço os seus emails.
    Melhores cumprimentos
    Pedro Santana Lopes

    António Maria disse...

    Caro Pedro Santana Lopes,

    Agradeço-lhe o elogio e o incentivo.
    A minha visão geral sobre o transporte aéreo, depois de muito ler e ouvir (estive a semana passada numa reunião pro bono de especialistas que amam o país, os aeroportos e os aviões) deriva de duas premissas:

    1) o pico do petróleo chegou, e vai forçar grandes mudanças nos sistemas de transporte (pois dois dos mais importantes: o automóvel e o avião, não andam nem andarão tão cedo sem ele);
    2) a desorganização do nosso território, e sobretudo a sua suburbanização, dificultará de forma extrema a adaptação do país ao novo paradigma civilizacional que aí vem: menor mobilidade física (compensada parcialmente com maior telepresença e mobilidade virtual), menos intensidade energética das economias (no nosso caso vai ser traumática esta adaptação) e uma radical viragem das empresas, cidades, estado e pessoas para a eficiência energética.

    Tudo isto concorre para duas prioridades no sector dos transportes: o regresso em massa à ferrovia e a sistemas de transporte urbano e suburbano alimentado por energia eléctrica; e o fim dos hubs aeroportuários, em favor de ligações ponto-a-ponto, dependentes da viabilidade económica das ligações, recorrendo a pistas seguras, mas sem aerogares nem serviços desnecessários. Todos os aeroportos militares portugueses devem ser imediatamente afectos ao transporte civil, dependendo as decisões de afectação de um só argumento: a sua viabilidade económica. Se o aeroporto militar estratégico das Lajes serve a população civil, não há nenhuma razão para que os nossos aeródromos militares não sirvam a população e a economia do país.

    tempus fugit à pressa disse...

    1) o pico do petróleo ainda não chegou, e vai forçar grandes mudanças nos sistemas de transporte

    (pois dois dos mais importantes: o automóvel e o avião, não andam nem andarão tão cedo sem ele);
    Gasogénio desde a 2ªguerra mundial

    e GPL actualmente que poderia ser substituido por metano ou metanol em escala suficiente para o parque automóvel existente que deve já superar largamente o bilião de veículos motorizados

    o avião pode ser adaptado
    voos mais lentos com mais escalas

    obviamente excepto para os carros que pode ser feito em 4 ou 5 anos

    15 milhões de veículos aderiram ao gasogénio de 40 a 45 logo...


    2) a desorganização do nosso território, e sobretudo a sua suburbanização, dificultará de forma extrema a adaptação do país ao novo paradigma civilizacional que aí vem: menor mobilidade física (compensada parcialmente com maior telepresença e mobilidade virtual)

    a rede ferroviária não se pode adaptar a essa realidade urbanística de que fala

    o raciocínio falha também em alguns pontos

    e essa do fascismo derrotado no 25 de Abril parece um daqueles chavões

    fascismo nunca mais

    nunca tivemos um regime fascista desde os anos saudosos do Marquês

    mas certamente teremos muitos no futuro

    a autocracia ditatorial do extinto merceeiro só funciona em tempos de bois mansos que anseiam pela paz

    e tempos desses só surgem após anos de caos
    assi foi na 1ª res pública

    tempus fugit à pressa disse...

    não há nenhuma razão para que os nossos aeródromos militares não sirvam a população e a economia do país.

    nem todos têm dimensão para tal
    nem localização que atraia companhias

    António Maria disse...

    Em tempo de guerra inventam-se soluções de recurso, e ninguém liga aos inconvenientes de tais soluções, nem aos danos que podem causar. Parte-se do princípio que são soluções temporárias, como foram os casos do diesel e do gasogénio. Há mesmo quem ponha carros e tractores a andar a água! Os famosso motores Pantone E depois? Acha (desculpe, mas não entendo o alfabeto árabe) que algumas destas hipóteses são soluções a sério? Se fossem não haveria uma coligação internacional para reduzir o Kadafi a pó!

    O petróleo é essencial para milhares de coisas, que os biocombustíveis e as demais fontes de energia conhecidas, não substituem. A gasolina é, por assim dizer, um dos subprodutos do petróleo. Em última análise, o petróleo é essencial para tanta outra coisa que, a gasolina, a não ser queimada, causaria grandes problemas...

    tempus fugit à pressa disse...

    lamento trabalhei na indústria petroquímica até à Primavera de 199...e tal

    o processo de craking industrial pode ser aplicado ao querogénio
    e o carvão pode ser gaseificado

    mas também hidrogenado

    o processo data dos combustíveis sintéticos desenvolvidos pela indústria alemã na 2ªguerra

    todas as outras aplicações do pitroil podem ser realizadas com outros a adaptação seria dispendiosa mas não impossível

    as reservas de hidrocarbonetos fósseis xistos betuminosos areias asfálticas superam em várias ordens de grandeza as existências de petróleo

    a gasolina é composta de hidrocarbonetos alifáticos obtidos por um processo que em química orgânica se designa por destilação fraccional, juntam-se a esses compostos alifáticos uns aneizinhos aromáticos tolueno benzeno ou cadeias de iso-octanas
    para aumentar o conteúdo em octanas

    todas estas cadeias alifáticas ou os anéis aromáticos têm outras aplicações e existem em toda a matéria orgânica da qual veio
    o pitroil

    o meu ponto e isto não exige resposta

    sou só eu a passar o tempo que me resta e provavelmente ainda me resta muito

    é que as alternativas são possíveis
    a custos mais elevados que os presentes

    o mesmo se passa em toda a actual produção de energia e sua distribuição

    optou-se por maximização dos lucros

    e não por estruturas sustentáveis

    nos anos 70 o arquitecto paisagista ribeiro telles e mais uns quantos reuniram num livro

    uns comem os figos 1978?
    várias perspectivas da época
    tiradas de fontes anglo's

    desde os anos 70 e principalmente em 1991 quando os poços do golfo começaram a arder e a verter

    soluções várias e dezenas de milhares de projectos foram feitos e arquivados

    protelou-se porque era mais fácil

    como me disse um escocês esta semana

    é mais fácil deixar andar que levantar ondas

    parece mal...

    não sei qual a sua formação mas química ou bioquímica não deve ser

    pelo texto ou textos diria letras
    ou direito nicht wahr?


    a intervenção americana na Líbia

    tal como no iraque

    é apenas um episódio

    que serve para manter o status quo
    industrial

    tempus fugit à pressa disse...

    com um bocado de azar se quiser dinamitar os poços como o fez saddam

    sai-lhes o tiro pela culatra

    António Maria disse...

    Recomendo, por facilidade e rapidez de argumentação, a leitura de dois relatórios científicos realizados para o governo americano, um em 1956, de M. King Hubbert, e outro em 2005, de Robert Hirsch.

    Se houvesse alternativas conhecidas e efectivas ao petróleo leve, ao gás natural e ao carvão (embora as reservas de gás e de carvão tenham um horizonte de exaustão mais longínquo), não se construíam centrais nucleares, nem assistiríamos à escalada dos preços dos combustíveis... e do pão!