Mostrar mensagens com a etiqueta Dívida Pública. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Dívida Pública. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, abril 21, 2010

Crise Global 77

Portugal: o elo mais fraco?

Portugal é, afinal, o segundo país que mais pode perturbar a zona euro

O custo de subscrever a protecção para um eventual incumprimento da dívida portuguesa é actualmente o terceiro mais elevado entre os países europeus emitentes de dívida soberana, sendo apenas superado pela Grécia e pela Islândia.

As preocupações dos investidores com a situação das finanças públicas portuguesas fizeram os Credit Default Swaps (CDS) sobre obrigações de Portugal dispararem durante a última semana, sendo neste momento apenas ultrapassados na Europa pelo risco da Grécia (467,14 pontos), que é o quarto mais alto do mundo, e da Islândia (381,93 pontos), em oitavo lugar. — in Notícias Lusófonas, 20-04-2010.

Custo da dívida pública portuguesa ultrapassa a Irlanda pela primeira vez desde o início da crise

Apesar de estar a prever um défice público mais baixo para este ano e de ter menos problemas no seu sistema bancário, Portugal voltou ontem, pela primeira vez desde o início da crise financeira internacional, a ter de pagar taxas de juro mais elevadas do que a Irlanda, um sinal da desconfiança que os mercados estão a ter relativamente à situação das finanças públicas nacionais. — in Público, 20-04-2010.

Cavaco Silva: "Não acredito que Portugal chegue a uma situação de bancarrota"

O economista [Simon Johnson] diz que Portugal, tal como a Grécia, em vez de abater os juros da sua dívida, tem refinanciado os pagamentos de juros todos os anos através de emissão de nova dívida, chegando mesmo ao ponto de dizer que "vai chegar a altura em que os mercados financeiros se vão recusar pura e simplesmente a financiar este esquema ponzi". in Destak, 20-04-2010.

Must Germany bail out Portugal too?
Portugal, not Greece, poses the greater existential threat to Europe's monetary union.
By Ambrose Evans-Pritchard

Portugal does not face an imminent funding crisis. If Europe's economy grows briskly, it may be enough to lift the country off the reefs. But one thing seems sure: Germany is not going to bail out any more countries, and the IMF is too small to cover. — in Telegraph.

Como refere um amigo meu num email que acaba de me enviar, entre pagar e refinanciar as nossas dívidas, o Estado português precisa de arranjar rapidamente uns 30 mil milhões de euros no mercado financeiro internacional. Como as garantias dadas pelos empréstimos são apenas títulos de dívida pública aceites pelo BCE como bons, mas que na realidade não passam de papeis, progressivamente mais duvidosos desde Janeiro deste ano, haverá previsivelmente cada vez menos interessados em emprestar-nos dinheiro a 10 anos (ver resultados da emissão de dívida pública portuguesa a 14 de Abril, e também no dia 21), e os que emprestam a 2 pressupõem que Portugal ainda tem alguma margem de segurança no curto prazo.

Este simples facto poderá levar o país à falência. E a razão explica-se muito simplesmente assim: é o financiamento de longo prazo que financia os custos de curto prazo. Imaginem, a título de ilustração, que para comprar a nossa própria casa os bancos deixavam de emprestar a 15, 25 ou 30 anos, e por isso éramos forçados a liquidar o empréstimo contraído para a compra da dita casa num prazo de dois anos. Que sucederia? É precisamente esta a situação a que o senhor Cavaco, o senhor Sócrates, o senhor Jardim e outros que tais, mais a bela democracia populista que alimentamos a pão de Ló, levaram as finanças públicas portuguesas!

O problema é especialmente grave porque o endividamento tornou-se um problema sistémico na maioria das economias desenvolvidas, incluindo muito especialmente os seus grandes protagonistas: Estados Unidos, Reino Unido, Japão, França, Itália e mesmo a Alemanha. Na realidade, a situação é explosiva na América de Obama e no reino de sua majestade britânica, dona de alguns dos principais paraísos fiscais onde se esconde boa parte do saque financeiro operado contra milhões de pessoas em todo o planeta. O escândalo que nos últimos dias (1) tem vindo a revelar as entranhas corruptas da Goldman Sachs —o grande propagador e beneficiário, a par da JP Morgan, dos chamados derivados financeiros, de que se destacam os Credit Default Swaps (CDS, inventados em 1995) e os Collateralized Debt Obligation (CDO, inventados em 1987)— mostra que há uma guerra surda de titãs entre a União Europeia (onde a velha Albion não se revê) e o triângulo Reino Unido, Israel, Estados Unidos. A Alemanha (ou se se preferir, a União Europeia sem a Inglaterra, nem a República Checa), e agora também a China, são as grandes ameaças à sobrevivência das super potências militares, financeiras e diplomáticas que reinaram nos últimos 200 anos no mundo. O chamado deficit spending, de origem vagamente keynesiano, levou a América desde o tempo de Reagan até hoje, e boa parte da Europa, a uma lógica de desenvolvimento baseada no endividamento cumulativo dos Estados, empresas, bancos, famílias e pessoas singulares, tudo em nome do crescimento virtual do PIB e das maravilhas estimulantes do consumo.

Para que este endividamento criminoso dos países ocorresse foi necessário, no entanto, proceder ao seu disfarce com produtos financeiros complexos, tais como os derivados especulativos (CDS, CDO, OTC, etc.), ao mesmo tempo que se mantinha a ficção de uma moeda universal, o dólar americano, com o qual os Estados Unidos mantiveram um nível de vida escandalosamente acima das suas possibilidades, esmagando no caminho tudo o que se lhe opusesse. O que hoje está a ruir como um dominó é pois esta monumental pirâmide de corrupção e espoliação dos fracos. Daí a pergunta: por onde vai romper a cadeia desta super Dona Branca? Pelo euro, ou pelo dólar? Pelo elo fraco grego, português ou espanhol, ou pelo elo forte, mas perigosamente falido, de Londres, ou Wall Street? A resposta não é indiferente. E as consequências ainda menos!

O Ocidente pensa com modelos historicamente gastos. Sobretudo a América depois de Reagan, e a Inglaterra desde sempre, convivem mal com a ideia de terem que repartir os recursos energéticos, minerais e alimentares do planeta com o resto da humanidade. Os Estados Unidos, viciados na sua moeda imperial, resistem como podem —e podem ser muito perigosos— ao aparecimento de novas moedas, e sobretudo ao declínio da green back. Atacaram o Iraque quando Saddam Hussein ameaçou aceitar outras moedas que não o dólar por petróleo. Querem desencadear um ataque atómico contra o Irão porque este há alguns anos que troca petróleo por euros com a maioria dos seus principais clientes —China, Itália, Espanha, Grécia, França (o Japão e a Coreia do Sul continuam a preferi usar USD)— e anunciou querer abrir uma bolsa de petróleo em euros!

Os tigres anglo-saxónicos acumularam demasiados inimigos, declarados e disfarçados, nas últimas duas décadas. O mundo está farto da sua arrogância, corrupção e insensibilidade. Preparar, como parece estar em curso, um novo 11 de Setembro, desta vez atómico, para justificar um ataque nuclear contra o Irão (via Israel, supõe-se) seria o suicídio da América. Mais vale sufocar no ninho as forças tenebrosas que neste momento conspiram activamente para ver realizado um tal cenário de guerra total. Espero que Obama acabe por desmontar uma a uma as sucessivas armadilhas que o poderosa teia sionista (2) lhe tem colocado no caminho.

Mas voltemos a Portugal.

A nossa situação é desesperada, por mais que pretendamos olhar para o lado. E é precisamente por estarmos tão mal objectivamente que as aves de rapina das agências de avaliação (todas, não por acaso, norte-americanas ou inglesas) investem furiosamente contra este elo fraco do euro. Que podemos fazer? Mostrar indignação patriótica faz bem ao ego, mas não resolve os problemas. A unidade de que o país precisa tem que nascer rapidamente de uma nova transparência de linguagem que substitua o disléxico discurso político dominante. Por outro lado, é preciso ouvir a verdade, como pedia sem saber como Manuela Ferreira Leite — em vez de continuarmos a aturar o optimismo cada vez mais grotesco do sempre jovial pedaço de asno que supostamente nos governa. Não, não é ele quem nos governa, mas os piratas que o colocaram onde agora está.

As eleições inglesas poderão ser o prelúdio do grande colapso financeiro mundial. Se este ocorrer, estaremos imediatamente à beira de um ou mais conflitos bélicos de vastas proporções. Por outro lado, vários bancos, empresas, cidades e países inteiros caminharão como Zombies para a falência. O valor nocional dos contratos de derivados financeiros (registados e OTC) é da ordem dos 1 144 biliões de dólares (3), ou seja, qualquer coisa como 6,8x a totalidade dos activos financeiros mundiais (acções+obrigações+depósitos bancários), ou 16 vezes o PIB do planeta! Quer dizer, não há dinheiro que chegue para o dominó de incumprimentos que se aproxima a uma velocidade vertiginosa. Nada a fazer se não assistirmos atónitos à maior destruição de valor que alguma vez ocorreu na história da homem. Mas será possível que tal ocorra sem que a humanidade se veja mergulhada num verdadeiro holocausto de penúria, guerra e perda de identidade?

Para já, uma recomendação: é preciso que a sociedade civil se organize e prepare para o pior. Dos populistas que nos governam, nada ou muito pouco podemos esperar.


POST SCRIPTUM — Portugal vai ter que aguentar o barco até à madrugada do próximo dia 6 de maio, momento em que saberemos todos o que vai acontecer no Reino Unido depois de Gordon Brown deixar o poder. De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde (e quanto mais tarde, pior), teremos que optar entre aumentar o desemprego, reduzir os rendimentos do trabalho, ou uma combinação agressiva das duas opções. O desemprego e a redução nominal e real dos salários no sector privado são realidades dramáticas desde meados de 2008, e têm vindo a agravar-se dia a dia. Parece que apenas quem trabalha para o sector privado está a pagar a crise! Ora isto é uma bomba-relógio que irá inevitavelmente explodir e causar um enorme buraco na identidade do país. Em vez de mendigarmos empréstimos no exterior para pagar aos funcionários públicos (e para pagar as mordomias sem conta da nomenclatura populista que temos), talvez fosse boa ideia reter metade dos subsídios de férias e de Natal deste ano e do próximo, na Administração Pública, convertendo-os em certificados de aforro. Ou seja, talvez não fosse má ideia impor uma poupança forçada aos funcionários públicos. Será certamente menos injusto do que a presente situação, onde prolifera o acosso e a ilegalidade em tudo o que são contratações eventuais na Administração Pública e no sector privado. Um poder político que resolva escorar-se apenas nos funcionários do Estado e na tropa de choque do desemprego caminha inexoravelmente para o fascismo!


NOTAS
  1. City watchdog launches Goldman Sachs investigation

    Embattled Wall Street firm Goldman Sachs is now facing an investigation by the City watchdog, the Financial Services Authority, following the $1bn (£650m) fraud allegations brought by the US regulators. — Jill Treanor, Guardian, 19 April 2010.

    Gordon Brown and Angela Merkel attack Goldman Sachs

    A crisis gripping Goldman Sachs deepened today as Britain and Germany moved towards joining the US in pursuing a fraud investigation against the Wall Street bank for allegedly fiddling clients out of $1bn ($650m) through a misleading mortgage investment deal.

    Gordon Brown ordered a special investigation into Goldman, accusing the bank of "moral bankruptcy". He threatened to block multimillion-pound bonus payouts if the firm is found guilty of wrongdoing.

    In Berlin, Angela Merkel's government said it had sought information from the US Securities and Exchange Commission with a view to evaluating "legal steps" against Goldman. — Andrew Clark, Guardian, 18 April 2010.

    Now we know the truth. The financial meltdown wasn't a mistake – it was a con

    The global financial crisis, it is now clear, was caused not just by the bankers' colossal mismanagement. No, it was due also to the new financial complexity offering up the opportunity for widespread, systemic fraud. Friday's announcement that the world's most famous investment bank, Goldman Sachs, is to face civil charges for fraud brought by the American regulator is but the latest of a series of investigations that have been launched, arrests made and charges made against financial institutions around the world. — Will Hutton, The Observer, 18 April 2010.

    Senior Executives at Goldman Had a Role in Mortgage Unit

    The Securities and Exchange Commission filed a civil fraud suit on Friday that essentially says that Goldman built the financial equivalent of a time bomb and then sold it to unwitting investors. Mr. Egol, 40, was not named in the S.E.C.’s suit.

    Goldman has vowed to fight the S.E.C. But the allegations have left many on Wall Street wondering how far the investigation might spread inside Goldman and perhaps beyond.

    Pressure on Goldman mounted on Sunday as two members of Congress and Gordon Brown, Britain’s prime minister, called for investigations into the bank’s role in the mortgage market. Germany also said it was considering legal action against the bank. — Louise Story, The New York Times, 18 April 2010.
  2. A extrema-direita judia e em geral a seita Sionista radical não param de conspirar. A sua rede engloba nomeadamente os serviços secretos israelitas —Mossad—, o poderoso lóbi judeu que actua junto do Congresso americano em Washington —The American Israel Public Affairs Committee (AIPAC)—, e o think-tank Council on Foreign Relations (CFR), entre outros. Enquanto montam um teatro à escala global sobre o perigo iraniano (por querer desenvolver tecnologia nuclear pacífica, e provavelmente militar), que está muito longe de ser verosímil, a verdade é que ainda recentemente os EUA de Obama contrataram a venda de mais 200 mil milhões de dólares de material bélico à potência nuclear que ninguém no Ocidente se atreve a denunciar, ou seja, Israel. Ler a propósito "Despite ‘Tensions,’ US OKs Massive Arms Shipment to Israel" (Antiwar News)
  3. "Total Notional Value Of Derivatives Outstanding Surpasses One Quadrillion" — in Slate. [Listed derivatives =~$548 trillion + OTC derivatives =~$596 trillion = $1.144 quadrillion. ]

OAM 686—20 Abril 2010 23:34 (última actualização: 21 Abril 2010 0:45)

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Dívida Pública

Depois do Subprime, vem aí o estouro das Dívidas Públicas!
Casos críticos: EUA, Reino Unido, Japão, e... Eurolândia



"New York - Nightmare In The City that Never Sleeps", 2008 (7 parts)

A dívida dos EUA chegará no fim de 2010 aos "$14,3 trillion" (14,3x10^12 USD), ou seja, mais de 32 vezes as dívidas somadas da Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal. Há, por conseguinte, um problema muito gordo no Ocidente. Sobretudo se tivermos em conta que os chineses deixaram praticamente de comprar títulos de dívida soberana a países virtualmente falidos, começando obviamente pelos EUA.

Trade And Government Deficits Always Matter
By Elaine Meinel Supkis

(February 23, 2010)  Spanish default will trouble everyone a great deal.  But conversely, a US default, even though it is a smaller GDP ratio than Spain, would devastate, nay, annihilate all banking.  On the other hand, the countries with a strong industrial base will spring back totally powerful while the US will collapse and not rise again for another 100 years. This is something the Chinese are betting on in the future.  (Link)


‘Size Matters’ as EU Weighs Up Greek Rescue Bill: Chart of Day
By Frances Robinson

Feb. 17 (Bloomberg) -- Europe may need to stump up as much as 320 billion euros ($441 billion) if it decides to bail out Greece because it would open the door to rescuing other countries in financial distress, according to BNP Paribas.

“To come up with a bailout plan that would be reasonably certain of success, it would have to cover all the most likely candidates, and it would have to be big,” said Paul Mortimer- Lee, global head of market economics at BNP in London. “Size matters when you are trying to scare off speculators and to comfort nervy bondholders.”  (Link)


Second half of 2010: Sudden intensification of the global systemic crisis – Strengthening of five fundamental negative trends
in GEAB #42

LEAP/E2020 is of the view that the effect of States’ spending trillions to « counteract the crisis » will have fizzled out. These vast sums had the effect of slowing down the development of the systemic global crisis for several months but, as anticipated in previous GEAB reports, this strategy will only have ultimately served to clearly drag States into the crisis caused by the financial institutions. Therefore our team anticipates, in this 42nd issue of the GEAB, a sudden intensification of the crisis in the second half of 2010, caused by a double effect of a catching up of events which were temporarily « frozen » in the second half of 2009 and the impossibility of maintaining the palliative remedies of past years.

... The sudden intensification of the global systemic crisis will be characterised by the acceleration and/or strengthening of five fundamental negative trends:
  • the explosion of the bubble in public deficits and a corresponding increase in state defaults
  • the fatal impact of the Western banking system with mounting debt defaults and the wall of debt coming to maturity 
  • the inescapable rise in interest rates
  • the increase in issues causing international tension
  • a growing social insecurity.

... 2010 will produce a surprising case of the increase in strength of the concept of sovereign debt at risk: it started with Iceland in 2008, then moved to Latvia, Ireland, California and Dubai in 2009, and now Greece. Portugal and Spain will easily get out of it because the Eurozone is currently testing its discovery of the method of supporting countries with credit difficulties with Greece’s case and because these two countries consist of foreseen and manageable risks by Euroland. Then, this wave will go to Japan, the United Kingdom and the United States: the three risks which the system in charge refuses to recognise and for which there is really no possible solution because it concerns the prop of the system and its two supports.

OAM 690 — 24 Fev 2010 12:53 (última actualização: 28 Fev 2010 02:07)

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Portugal 165

O bisavô de Manuela Ferreira Leite
A crise de 1890-93 e a actual têm interessantes pontos em comum


Apesar da oportunidade grega, o nascimento de um governo económico europeu pode borregar no meio da maior crise do Euro desde a sua fundação.

"UE diz à Grécia que redução maior do deficit pode ser necessária" (Folha Online, 16-2-2010)

A propósito da última cimeira europeia, realizada expressamente para tratar do problema grego, travar a ofensiva especulativa contra o Euro, e impedir uma crise de proporções imprevisíveis associada ao colapso das dívidas soberanas, as opiniões de alguns especialistas não são nada animadoras.

"They offered nothing," said Jochen Felsenheimer, a credit expert at Assenagon in Frankfurt. "It was just words without any concrete measures, hoping to buy time."

... "Economically, we are in a very risky situation. Greece is close to default. We face systemic risk like the Lehman collapse and unless there is a bail-out for Greece, there will have to be a bail-out for the whole European banking system within two or three months," he said.

Yet they are damned if they don't, and damned if they do. "A Greek bail-out increases the risk of EMU break-up, because monetary union can only work if everybody sticks to the rules," Mr Felsenheimer said.

French banks have $76bn of exposure to Greece, the Swiss $64bn, and the Germans $43bn. But this understates cross-border links. There are large loans between vulnerable states. The exposure of Portuguese banks to Spain and Ireland equals 19pc of Portugal's GDP. Interlocking claims within the eurozone zone are complex. Contagion can spread fast. — in "Will markets call EU bluff on Greek rescue?", By Ambrose Evans-Pritchard, Telegraph, 11 Feb 2010.

Apesar do optimismo de circunstância de Teixeira dos Santos, a verdade é que, se a informação recolhida por Ambrose Evans-Pritchard é correcta, então podemos com segurança afirmar que o destino da banca portuguesa —da Caixa Geral de Depósitos ao BCP, BES e BPI— está literalmente nas mãos do destino. Uma exposição da banca nacional às bancas espanhola e irlandesa na ordem dos 31,8 mil milhões de euros (19% do PIB), boa parte da qual se prende com o financiamento do Estado, das PPP e dos quase-monopólios indígenas, é de pôr os cabelos em pé. Bastará a carruagem grega descarrilar, deixando de pagar à França, Alemanha e Suíça o que lhes deve, para que a Península Ibérica passe do actual estado de turbulência para o cone de uma perigosa tempestade.

O PIB nominal previsto pelo nosso sempre optimista governo para este ano é de 167.367,1 milhões de euros. A desgraça, porém, é que a parcela mais relevante deste Produto Interno Bruto (85,4%) não é nenhum produto, mas sim uma descomunal dívida pública de 142.916,2 milhões de euros! Para pagá-la, não temos ouro suficiente, não temos matérias primas suficientes, não temos indústria suficiente, e não temos reservas financeiras, nem cambiais, suficientes. Ou seja, numa conjuntura de crise sistémica global, estamos totalmente à mercê da meteorologia!

Se a Grécia e a Espanha se aguentarem, nós sobreviveremos. Mas se qualquer destes países entrar em suspensão, mesmo que parcial, de pagamentos das respectivas dívidas soberanas, iremos com eles pelo cano abaixo, e a bancarrota do país só não ocorrerá se houver uma prova de grande imaginação por parte da Alemanha. O buraco negro dos Derivados Financeiros é mesmo um buraco negro! E é por isso que a Alemanha hesita e procura, como os demais países endividados do planeta, enganar o mercado.

Mas das duas, uma: ou o sistema informático do BCE desata a imprimir euros virtuais, copiando o fraudulento método americano, o que irá agravar e muito a emergente crise do endividamento público galopante de dezenas de países desenvolvidos, ou faz um ultimato à Grécia, Espanha e Portugal, para adoptarem sem subterfúgios as medidas drásticas de diminuição da despesa pública adoptadas por parceiros europeus como a Irlanda e a Letónia. A alternativa a semelhante tratamento de choque seria, porventura, um choque ainda maior: a saída, ainda que parcial e temporária, da Grécia, Espanha e Portugal, da moeda única europeia!

Não deixa de ser interessante comparar a presente situação, com a bancarrota portuguesa de 1890-91.

O pai do actual Banco de Portugal, que foi um banco emissor, mas maioritariamente privado, até à sua nacionalização em 1974, chamava-se Banco de Lisboa, e foi à falência em 1846, depois de ir acumulando perdas e problemas desde a sua primeira grande crise, em 1828 (ano da proclamação miguelista e do início da Guerra Civil de 1828-1834). Este declínio e falência do banco ficaram a dever-se em grande medida ao facto de se tratar de um banco emissor a que os sucessivos governos monárquicos recorriam sem pudor (à semelhança do que vem ocorrendo desde 1974 entre a Caixa Geral e os sucessivos governos desde então.) Como é bom de ver, Portugal entrara numa espiral de desespero depois da perda do Brasil, a qual não deixará de agravar-se até ao estouro financeiro de 1890-91, precedido a 11 de Janeiro de 1890 pelo humilhante Ultimato inglês.

A nota curiosa, que faz uma ponte ilustrativa com os tempos de hoje, é o facto de o bisavô de Manuela Ferreira Leite, José Dias Ferreira —professor de Direito, jurisconsulto e respeitado político independente— ter sido então chamado pelo Rei Dom Carlos para liderar um governo cuja principal tarefa seria negociar com os credores estrangeiros, nomeadamente ingleses e franceses, o difícil processo de negociação da dívida externa decorrente da bancarrota de 1890-91. Curioso ainda é a coincidência de o Ministro da Fazenda do chamado "governo de  acalmação partidária" (1) se chamar Joaquim de Oliveira Martins, tio bisavô do actual socialista que preside ao Tribunal de Contas.

Mas as semelhanças não se ficam por aqui...

Então como hoje a espoleta da crise económica, social e política do país foi e é de natureza financeira, e resulta de um endividamento excessivo, suportado por uma moeda artificialmente forte. O valor efectivo dos mil reis da monarquia portuguesa dependiam do ouro brasileiro que chegava então a Portugal por via das remessas dos mais de 300 mil emigrantes que para lá se dirigiram entre 1881 e 1900 (2). Ou seja, a moeda portuguesa e a moeda brasileira estavam unidas por um cordão umbilical. No dia em que a moeda brasileira caísse, a portuguesa seguir-lhe-ia os passos. E assim sucedeu em 1890-1891, com a queda de 80% do valor das remessas enviadas pelos emigrantes portugueses no Brasil. Não foi nem a filoxera nem o oídio, como se tem repetido em muitos estudos apressados sobre a crise da monarquia, que trouxeram a desgraça ao país. A quebra de exportações do Vinho do Porto nem sequer ocorreu nos anos 1890, 1891 e 1892 (3). O que deitou a perder a monarquia, para além dos ingleses, e da universal estupidez e incultura da nossa burguesia, foi uma bancarrota com origem precisa, da qual Portugal dificilmente poderia escapar. O seu nome foi Panic of 1890!

The Baring Crisis is the nineteenth century's most famous sovereign debt crisis. Few studies, however, have attempted to understand the extent to which the crisis mattered for countries other than Argentina and England. Using a new database consisting of more than 15,000 observations of weekly sovereign debt prices, we assess the extent to which the Barings Crisis affected other emerging market borrowers and find empirical evidence of a regional crisis. We find that Latin American yield spreads increased by more than 200 basis points during the crisis relative to the rest of the world, even after controlling for macroeconomic, trade, political-institutional factors, and other country specific effects. Our evidence suggests that European investors may have sold off or reduced their holdings of Latin American securities in the wake of the Baring Crisis.

... the Baring Crisis was primarily a regional crisis. The country risk premium for Latin American countries increased by more than 840 basis points between 1890 and 1891, and more than 1,600 basis points between 1890 and 1895. In contrast, yield spreads for non-Latin emerging markets and “core” countries (high income European countries and the U.S.) were generally flat or unchanged during this period.

... The country risk premium for Brazil rose from 200 basis points in the late summer of 1890 until it reached its peak at more than 550 basis points in late 1892.

... Using a new database of more than 15,000 bond prices collected from the Economist, we find that the Baring Crisis was largely a regional phenomenon. The average sovereign yield spread for Latin American countries in our sample increased by 844, 759, and 1,608 basis points in the one-year, two-year, and four-year periods after the onset of the financial crisis. On the other hand, yield spreads in non-Latin emerging markets and core countries were generally flat during the same period.  — in "The Baring Crisis and the Great Latin American Meltdown of the 1890s". By Kris James Mitchener and Marc D. Weidenmier. NBER Working Paper No. 13403, September 2007.

O impacto nas finanças públicas portuguesas foi devastador

Em 1890-93 deu-se um colapso das finanças públicas portuguesas, no rescaldo do Ultimato britânico de 1890, da desvalorização cambial das remessas dos emigrantes, e da crise do Baring Brothers Bank (1890), associada à crise financeira regional da América Latina desencadeada pelo colapso da economia argentina. As crises bancárias portuguesas (com falências várias) continuaram entre 1920 e 1923, até que Salazar ocupa o cargo de ministro das finanças, desvinculando então o país do padrão ouro (1931-32), com a consequente desvalorização da moeda, diminuição subsequente das importações e o início de uma política de isolamento ditatorial assente numa estratégia económica de substituição de importações, na exportação de mão de obra barata e ignorante, e ainda na exploração das reservas de matérias primas coloniais. O resto é conhecido...

Curiosamente, a solução autoritária incubada no golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 é resultado do agravamento de uma situação que o bisavô de Manuela Ferreira Leite (José Dias Ferreira) tentara mas não conseguira afinal controlar. A República sucedeu à Monarquia, mas nada ou muito pouco mudou. O processo de definhamento nacional prosseguia o seu triste fado.

Os ingleses cobraram-nos, à época, o Mapa Cor-de-Rosa. Se deixarmos agora chegar o país ao ponto em que o Rotativismo da monarquia constitucional e a I República o deixaram, que teremos para oferecer aos nossos credores — agora que o império definitivamente se foi, e a emigração deixará de ser a breve prazo a principal e vergonhosa fonte da boçal presunção lusitana? Um rim por cada português?!


Post scriptum — O artigo do Sol de 12 de Fevereiro, que me chegou por email, foi o ponto de partida, mas não de chegada, deste artigo.


NOTAS
  1. Os exaltados eram os partidos do Rotativismo, brilhantemente causticado por Rafael Bordalo Pinheiro, nomeadamente n' O António Maria (de que este blogue é uma modesta evocação.)
  2. Emigração portuguesa para o Brasil (in Wikipédia):
    1881-1900: 316.204;
    1901-1930: 754.147;
    1931-1950: 148.699;
    1951-1960: 235.635
    Emigração portuguesa entre 1960-1974: mais de 1,5 milhões... e continua! (Link)
  3. Ver "1870, O culminar da crise da vinha Duriense".

OAM 687 — 17 Fev 2010 1:58

    quinta-feira, fevereiro 04, 2010

    Portugal 158

    Orçamento vigiado - 4, o garrote aperta...

    Bolsa afunda mais de 5% e regista maior queda desde o rescaldo da falência do Lehman Brothers (Negócios)

    Aviso ao PS 2 - Ouçam o Medina Carreira!
    Do que ouvi, apenas Medina Carreira, na entrevista de esta noite ao José Gomes Ferreira (um excelente profissional), resumiu simultaneamente o essencial da crise em que estamos e o essencial das medidas a tomar. Dentro de 10 a 15 anos, se nada de sério se fizer, o Estado irá à falência. - in O António Maria, 27-05-2005.

    Aviso ao PS 3 - Job for the boys 2
    O PS alterou promessas eleitorais fundamentais (aumentou os impostos e promete mexidas abruptas no sistema das pensões e reformas) com base numa encenação caricata em volta do valor do défice esperado das contas públicas. Para isso, contou com a assessoria zelosa, mas suspeita, do Governador do Banco de Portugal. Ao contrário do esperado, a tónica foi para o aumento das receitas, e não para os cortes sérios na despesa pública. E quando digo cortes sérios nas despesas refiro-me, sobretudo, a uma diminuição drástica, mas faseada, ponderada e inteligente, do Estado, contemplando medidas como as que se seguem, e que me parecem inevitáveis, mais cedo ou mais tarde:... - in O António Maria, 05-06-2005.

    No Conselho de Estado (C.E.) reunido ontem à tarde encontravam-se alguns dos máximos responsáveis pela pré-falência técnica para que Portugal caminha a passos largos. Salvo António Guterres, Santana Lopes e Victor Constâncio, que não fazem parte deste C.E., estavam lá muitos culpados: Cavaco Silva, José Sócrates, Mário Soares, Almeida Santos, Jaime Gama, Carlos César, Alberto João Jardim, etc. Claro que as dezenas de economistas e de opinadores mediáticos que só agora acordaram para o endividamento geral do país e tiveram responsabilidades várias nos processo de formação da vontade política são igualmente cúmplices do descalabro actual.

    A declaração lacónica emitida pelo dito C.E., pouco depois de José Sócrates ter quebrado o voto de silêncio e declarado que a reunião do C.E. lhe correra muito bem, serviu certamente para reposicionar o problema da actual crise na sede que lhe é devida por efeito dos resultados eleitorais de Setembro de 2009: a Assembleia da República. Vamos ver o que acontece na sessão parlamentar de hoje: se a Madeira recebe o reforço orçamental que pediu, e se Teixeira dos Santos larga ou não o governo.

    Para já, uma coisa é certa: Portugal está e estará sob vigilância apertada, quer por parte de Joaquín Almunia, comissário da União, quer por parte das agências de rating e dos especuladores envolvidos no ataque concertado às dívidas soberanas dos pequenos países fragilizados por décadas de despesismo, artimanhas e corrupção generalizada das respectivas nomenclaturas político-partidárias. As exigências que pesam sobre a Grécia chegarão a Portugal em dose reforçada!

    Teixeira dos Santos: Portugal vai emitir dívida pública dirigida às famílias
    27/01/10 13:58 -- "Vamos lançar uma emissão de OT para o mercado de retalho", disse Teixeira dos Santos, citado pela "Reuters" que, durante o ano passado, já tinha dito que encarava este tipo de operações com "simpatia".

    A emissão, que está já a ser preparada pelo Instituto de gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP), será uma medida de "fomento à poupança", explicou o governante, que ontem projectou um agravameto da dívida pública em 2010 até 85,4% do PIB.

    Teixeira dos Santos não adiantou, contudo, o montante da emissão nem a data de lançamento da emissão.O ministro das Finanças anunciou que está a ser preparada uma emissão de Obrigações do Tesouro (OT) para particulares. in Económico.

    Entretanto, com o preço da dívida pública a subir numa escalada cujo fim se desconhece, a anunciada emissão de Obrigações do Tesouro ficou no tinteiro, sem que ninguém tenha dado o aviso. Foi preciso lê-lo no boletim diário do EurActiv que hoje me chegou à caixa de correio.

    Brussels vows to hold Greece to austerity

    Thu, 2010-02-04 06:15 - The European Commission vowed on Wednesday (3 February) to hold Greece strictly to an austerity plan to tackle the most severe debt crisis in the euro zone, proposing unprecedented surveillance measures to keep Athens' soaring budget deficit under control.

    ... In addition to the strict surveillance, the Commission recommended launching an excessive deficit procedure against Greece, suggesting a strict adjustment path to cut its deficit.

    "The recommendations include measures to be implemented already in 2010, such as a reduction in the overall public sector wage bill, including through the replacement of only 1 of 5 retiring civil servants, progress with healthcare and pension reforms, the set up of a contingency reserve amounting to the 10% current expenditure, tax and excise duties increases and tax administration reform," the Commission said.

    ... Greek bonds and stocks rose briefly in response to Brussels' approval, but dipped again and ended in negative territory after fellow eurozone weakling Portugal cut a planned treasury bill issue because of high borrowing costs.

    ... "The market appears to be taking over from the European Commission the role of enforcer of fiscal discipline, and it could prove far more efficient and brutal than the Stability and Growth Pact," said Unicredit chief economist Marco Annunziata." -- in EurActiv.

    Admitir apenas um novo elemento na Administração Pública por cada cinco funcionários que saem ou se reformam, encerrar serviços inúteis, acabar com muitos dos benefícios fiscais que persistem, aumentar a idade da reforma e penalizar ainda mais as saídas antecipadas (para evitar a esperada sangria de quadros, nomeadamente no sector da Saúde), baixar os vencimentos  da Função Pública (nomeadamente no sector da Educação) ou congelá-los até 2013, e aumentar os impostos (o IVA poderá subir até 25%, situando-se então nos actuais valores aplicados na Dinamarca e na Suécia), são algumas das medidas que ninguém quererá tomar, mas que os credores internacionais acabarão por nos impor.

    É verdade que Portugal, tal como a Grécia, está sendo alvo de uma agressão financeira sem precedentes. E que países em idêntica ou pior situação que os PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), tais como os Estados Unidos da América, o Reino Unido, e o Japão, jamais foram atacados da mesma maneira pelas retóricas das agências de rating e dos burocratas de Bruxelas. Quem se lixa é o mexilhão, pois é! Mas talvez haja um ponto que convém não esquecer quando comparamos Portugal com os Estados Unidos: nós não temos bombas nucleares, não dispomos de recursos energéticos, minerais e alimentares em abundância, a nossa capacidade produtiva é escassa e de baixa qualidade técnica, desbaratámos a poupança pública e privada e vegetamos numa economia real estagnada há mais de uma década! Sem fundos comunitários e com uma previsível redução substancial das remessas dos portugueses que voltaram a emigrar como já não faziam desde a década de 60, a nossa economia caminha mesmo para uma depressão profunda. É por isso que os credores e os especuladores não desistirão de nos importunar.

    A principled Europe would not leave Greece to bleed

    ... With Europe's economy still weak, an excessively rapid tightening of its budget deficit would risk throwing Greece into a deep recession. Adjustments always take time, and are always painful. Europe should reframe the short-run budgetary targets it sets for Greece in terms of the structural deficit – what the deficit would have been had the country been able to achieve full employment. In recent years, even the IMF has reframed most countries' budgetary targets in terms of the primary deficit – net of interest payments, recognizing that volatile financial markets mean that interest payments are not really within a country's control. — in Joseph Stiglitz, The Guardian, Monday 25 January 2010.

    O trambolhão do PSI-20 de hoje pode ser apenas o princípio de uma verdadeira derrocada. Atenção à situação da Caixa Geral de Depósitos!



    OAM 680 — 04 Fev 2010 15:20