Portugal: o elo mais fraco?
Portugal é, afinal, o segundo país que mais pode perturbar a zona euro
O custo de subscrever a protecção para um eventual incumprimento da dívida portuguesa é actualmente o terceiro mais elevado entre os países europeus emitentes de dívida soberana, sendo apenas superado pela Grécia e pela Islândia.
As preocupações dos investidores com a situação das finanças públicas portuguesas fizeram os Credit Default Swaps (CDS) sobre obrigações de Portugal dispararem durante a última semana, sendo neste momento apenas ultrapassados na Europa pelo risco da Grécia (467,14 pontos), que é o quarto mais alto do mundo, e da Islândia (381,93 pontos), em oitavo lugar. — in Notícias Lusófonas, 20-04-2010.
Custo da dívida pública portuguesa ultrapassa a Irlanda pela primeira vez desde o início da crise
Apesar de estar a prever um défice público mais baixo para este ano e de ter menos problemas no seu sistema bancário, Portugal voltou ontem, pela primeira vez desde o início da crise financeira internacional, a ter de pagar taxas de juro mais elevadas do que a Irlanda, um sinal da desconfiança que os mercados estão a ter relativamente à situação das finanças públicas nacionais. — in Público, 20-04-2010.
Cavaco Silva: "Não acredito que Portugal chegue a uma situação de bancarrota"
O economista [Simon Johnson] diz que Portugal, tal como a Grécia, em vez de abater os juros da sua dívida, tem refinanciado os pagamentos de juros todos os anos através de emissão de nova dívida, chegando mesmo ao ponto de dizer que "vai chegar a altura em que os mercados financeiros se vão recusar pura e simplesmente a financiar este esquema ponzi". in Destak, 20-04-2010.
Must Germany bail out Portugal too?
Portugal, not Greece, poses the greater existential threat to Europe's monetary union.
By Ambrose Evans-Pritchard
Portugal does not face an imminent funding crisis. If Europe's economy grows briskly, it may be enough to lift the country off the reefs. But one thing seems sure: Germany is not going to bail out any more countries, and the IMF is too small to cover. — in Telegraph.
Como refere um amigo meu num email que acaba de me enviar, entre pagar e refinanciar as nossas dívidas, o Estado português precisa de arranjar rapidamente uns 30 mil milhões de euros no mercado financeiro internacional. Como as garantias dadas pelos empréstimos são apenas títulos de dívida pública aceites pelo BCE como bons, mas que na realidade não passam de papeis, progressivamente mais duvidosos desde Janeiro deste ano, haverá previsivelmente cada vez menos interessados em emprestar-nos dinheiro a 10 anos (ver resultados da emissão de dívida pública portuguesa a 14 de Abril, e também no dia 21), e os que emprestam a 2 pressupõem que Portugal ainda tem alguma margem de segurança no curto prazo.
Este simples facto poderá levar o país à falência. E a razão explica-se muito simplesmente assim: é o financiamento de longo prazo que financia os custos de curto prazo. Imaginem, a título de ilustração, que para comprar a nossa própria casa os bancos deixavam de emprestar a 15, 25 ou 30 anos, e por isso éramos forçados a liquidar o empréstimo contraído para a compra da dita casa num prazo de dois anos. Que sucederia? É precisamente esta a situação a que o senhor Cavaco, o senhor Sócrates, o senhor Jardim e outros que tais, mais a bela democracia populista que alimentamos a pão de Ló, levaram as finanças públicas portuguesas!
O problema é especialmente grave porque o endividamento tornou-se um problema sistémico na maioria das economias desenvolvidas, incluindo muito especialmente os seus grandes protagonistas: Estados Unidos, Reino Unido, Japão, França, Itália e mesmo a Alemanha. Na realidade, a situação é explosiva na América de Obama e no reino de sua majestade britânica, dona de alguns dos principais paraísos fiscais onde se esconde boa parte do saque financeiro operado contra milhões de pessoas em todo o planeta. O escândalo que nos últimos dias (1) tem vindo a revelar as entranhas corruptas da Goldman Sachs —o grande propagador e beneficiário, a par da JP Morgan, dos chamados derivados financeiros, de que se destacam os Credit Default Swaps (CDS, inventados em 1995) e os Collateralized Debt Obligation (CDO, inventados em 1987)— mostra que há uma guerra surda de titãs entre a União Europeia (onde a velha Albion não se revê) e o triângulo Reino Unido, Israel, Estados Unidos. A Alemanha (ou se se preferir, a União Europeia sem a Inglaterra, nem a República Checa), e agora também a China, são as grandes ameaças à sobrevivência das super potências militares, financeiras e diplomáticas que reinaram nos últimos 200 anos no mundo. O chamado deficit spending, de origem vagamente keynesiano, levou a América desde o tempo de Reagan até hoje, e boa parte da Europa, a uma lógica de desenvolvimento baseada no endividamento cumulativo dos Estados, empresas, bancos, famílias e pessoas singulares, tudo em nome do crescimento virtual do PIB e das maravilhas estimulantes do consumo.
Para que este endividamento criminoso dos países ocorresse foi necessário, no entanto, proceder ao seu disfarce com produtos financeiros complexos, tais como os derivados especulativos (CDS, CDO, OTC, etc.), ao mesmo tempo que se mantinha a ficção de uma moeda universal, o dólar americano, com o qual os Estados Unidos mantiveram um nível de vida escandalosamente acima das suas possibilidades, esmagando no caminho tudo o que se lhe opusesse. O que hoje está a ruir como um dominó é pois esta monumental pirâmide de corrupção e espoliação dos fracos. Daí a pergunta: por onde vai romper a cadeia desta super Dona Branca? Pelo euro, ou pelo dólar? Pelo elo fraco grego, português ou espanhol, ou pelo elo forte, mas perigosamente falido, de Londres, ou Wall Street? A resposta não é indiferente. E as consequências ainda menos!
O Ocidente pensa com modelos historicamente gastos. Sobretudo a América depois de Reagan, e a Inglaterra desde sempre, convivem mal com a ideia de terem que repartir os recursos energéticos, minerais e alimentares do planeta com o resto da humanidade. Os Estados Unidos, viciados na sua moeda imperial, resistem como podem —e podem ser muito perigosos— ao aparecimento de novas moedas, e sobretudo ao declínio da green back. Atacaram o Iraque quando Saddam Hussein ameaçou aceitar outras moedas que não o dólar por petróleo. Querem desencadear um ataque atómico contra o Irão porque este há alguns anos que troca petróleo por euros com a maioria dos seus principais clientes —China, Itália, Espanha, Grécia, França (o Japão e a Coreia do Sul continuam a preferi usar USD)— e anunciou querer abrir uma bolsa de petróleo em euros!
Os tigres anglo-saxónicos acumularam demasiados inimigos, declarados e disfarçados, nas últimas duas décadas. O mundo está farto da sua arrogância, corrupção e insensibilidade. Preparar, como parece estar em curso, um novo 11 de Setembro, desta vez atómico, para justificar um ataque nuclear contra o Irão (via Israel, supõe-se) seria o suicídio da América. Mais vale sufocar no ninho as forças tenebrosas que neste momento conspiram activamente para ver realizado um tal cenário de guerra total. Espero que Obama acabe por desmontar uma a uma as sucessivas armadilhas que o poderosa teia sionista (2) lhe tem colocado no caminho.
Mas voltemos a Portugal.
A nossa situação é desesperada, por mais que pretendamos olhar para o lado. E é precisamente por estarmos tão mal objectivamente que as aves de rapina das agências de avaliação (todas, não por acaso, norte-americanas ou inglesas) investem furiosamente contra este elo fraco do euro. Que podemos fazer? Mostrar indignação patriótica faz bem ao ego, mas não resolve os problemas. A unidade de que o país precisa tem que nascer rapidamente de uma nova transparência de linguagem que substitua o disléxico discurso político dominante. Por outro lado, é preciso ouvir a verdade, como pedia sem saber como Manuela Ferreira Leite — em vez de continuarmos a aturar o optimismo cada vez mais grotesco do sempre jovial pedaço de asno que supostamente nos governa. Não, não é ele quem nos governa, mas os piratas que o colocaram onde agora está.
As eleições inglesas poderão ser o prelúdio do grande colapso financeiro mundial. Se este ocorrer, estaremos imediatamente à beira de um ou mais conflitos bélicos de vastas proporções. Por outro lado, vários bancos, empresas, cidades e países inteiros caminharão como Zombies para a falência. O valor nocional dos contratos de derivados financeiros (registados e OTC) é da ordem dos 1 144 biliões de dólares (3), ou seja, qualquer coisa como 6,8x a totalidade dos activos financeiros mundiais (acções+obrigações+depósitos bancários), ou 16 vezes o PIB do planeta! Quer dizer, não há dinheiro que chegue para o dominó de incumprimentos que se aproxima a uma velocidade vertiginosa. Nada a fazer se não assistirmos atónitos à maior destruição de valor que alguma vez ocorreu na história da homem. Mas será possível que tal ocorra sem que a humanidade se veja mergulhada num verdadeiro holocausto de penúria, guerra e perda de identidade?
Para já, uma recomendação: é preciso que a sociedade civil se organize e prepare para o pior. Dos populistas que nos governam, nada ou muito pouco podemos esperar.
POST SCRIPTUM — Portugal vai ter que aguentar o barco até à madrugada do próximo dia 6 de maio, momento em que saberemos todos o que vai acontecer no Reino Unido depois de Gordon Brown deixar o poder. De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde (e quanto mais tarde, pior), teremos que optar entre aumentar o desemprego, reduzir os rendimentos do trabalho, ou uma combinação agressiva das duas opções. O desemprego e a redução nominal e real dos salários no sector privado são realidades dramáticas desde meados de 2008, e têm vindo a agravar-se dia a dia. Parece que apenas quem trabalha para o sector privado está a pagar a crise! Ora isto é uma bomba-relógio que irá inevitavelmente explodir e causar um enorme buraco na identidade do país. Em vez de mendigarmos empréstimos no exterior para pagar aos funcionários públicos (e para pagar as mordomias sem conta da nomenclatura populista que temos), talvez fosse boa ideia reter metade dos subsídios de férias e de Natal deste ano e do próximo, na Administração Pública, convertendo-os em certificados de aforro. Ou seja, talvez não fosse má ideia impor uma poupança forçada aos funcionários públicos. Será certamente menos injusto do que a presente situação, onde prolifera o acosso e a ilegalidade em tudo o que são contratações eventuais na Administração Pública e no sector privado. Um poder político que resolva escorar-se apenas nos funcionários do Estado e na tropa de choque do desemprego caminha inexoravelmente para o fascismo!
NOTAS
- City watchdog launches Goldman Sachs investigation
Embattled Wall Street firm Goldman Sachs is now facing an investigation by the City watchdog, the Financial Services Authority, following the $1bn (£650m) fraud allegations brought by the US regulators. — Jill Treanor, Guardian, 19 April 2010.
Gordon Brown and Angela Merkel attack Goldman Sachs
A crisis gripping Goldman Sachs deepened today as Britain and Germany moved towards joining the US in pursuing a fraud investigation against the Wall Street bank for allegedly fiddling clients out of $1bn ($650m) through a misleading mortgage investment deal.
Gordon Brown ordered a special investigation into Goldman, accusing the bank of "moral bankruptcy". He threatened to block multimillion-pound bonus payouts if the firm is found guilty of wrongdoing.
In Berlin, Angela Merkel's government said it had sought information from the US Securities and Exchange Commission with a view to evaluating "legal steps" against Goldman. — Andrew Clark, Guardian, 18 April 2010.
Now we know the truth. The financial meltdown wasn't a mistake – it was a con
The global financial crisis, it is now clear, was caused not just by the bankers' colossal mismanagement. No, it was due also to the new financial complexity offering up the opportunity for widespread, systemic fraud. Friday's announcement that the world's most famous investment bank, Goldman Sachs, is to face civil charges for fraud brought by the American regulator is but the latest of a series of investigations that have been launched, arrests made and charges made against financial institutions around the world. — Will Hutton, The Observer, 18 April 2010.
Senior Executives at Goldman Had a Role in Mortgage Unit
The Securities and Exchange Commission filed a civil fraud suit on Friday that essentially says that Goldman built the financial equivalent of a time bomb and then sold it to unwitting investors. Mr. Egol, 40, was not named in the S.E.C.’s suit.
Goldman has vowed to fight the S.E.C. But the allegations have left many on Wall Street wondering how far the investigation might spread inside Goldman and perhaps beyond.
Pressure on Goldman mounted on Sunday as two members of Congress and Gordon Brown, Britain’s prime minister, called for investigations into the bank’s role in the mortgage market. Germany also said it was considering legal action against the bank. — Louise Story, The New York Times, 18 April 2010. - A extrema-direita judia e em geral a seita Sionista radical não param de conspirar. A sua rede engloba nomeadamente os serviços secretos israelitas —Mossad—, o poderoso lóbi judeu que actua junto do Congresso americano em Washington —The American Israel Public Affairs Committee (AIPAC)—, e o think-tank Council on Foreign Relations (CFR), entre outros. Enquanto montam um teatro à escala global sobre o perigo iraniano (por querer desenvolver tecnologia nuclear pacífica, e provavelmente militar), que está muito longe de ser verosímil, a verdade é que ainda recentemente os EUA de Obama contrataram a venda de mais 200 mil milhões de dólares de material bélico à potência nuclear que ninguém no Ocidente se atreve a denunciar, ou seja, Israel. Ler a propósito "Despite ‘Tensions,’ US OKs Massive Arms Shipment to Israel" (Antiwar News)
- "Total Notional Value Of Derivatives Outstanding Surpasses One Quadrillion" — in Slate. [Listed derivatives =~$548 trillion + OTC derivatives =~$596 trillion = $1.144 quadrillion. ]
OAM 686—20 Abril 2010 23:34 (última actualização: 21 Abril 2010 0:45)