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quarta-feira, abril 21, 2010

Crise Global 77

Portugal: o elo mais fraco?

Portugal é, afinal, o segundo país que mais pode perturbar a zona euro

O custo de subscrever a protecção para um eventual incumprimento da dívida portuguesa é actualmente o terceiro mais elevado entre os países europeus emitentes de dívida soberana, sendo apenas superado pela Grécia e pela Islândia.

As preocupações dos investidores com a situação das finanças públicas portuguesas fizeram os Credit Default Swaps (CDS) sobre obrigações de Portugal dispararem durante a última semana, sendo neste momento apenas ultrapassados na Europa pelo risco da Grécia (467,14 pontos), que é o quarto mais alto do mundo, e da Islândia (381,93 pontos), em oitavo lugar. — in Notícias Lusófonas, 20-04-2010.

Custo da dívida pública portuguesa ultrapassa a Irlanda pela primeira vez desde o início da crise

Apesar de estar a prever um défice público mais baixo para este ano e de ter menos problemas no seu sistema bancário, Portugal voltou ontem, pela primeira vez desde o início da crise financeira internacional, a ter de pagar taxas de juro mais elevadas do que a Irlanda, um sinal da desconfiança que os mercados estão a ter relativamente à situação das finanças públicas nacionais. — in Público, 20-04-2010.

Cavaco Silva: "Não acredito que Portugal chegue a uma situação de bancarrota"

O economista [Simon Johnson] diz que Portugal, tal como a Grécia, em vez de abater os juros da sua dívida, tem refinanciado os pagamentos de juros todos os anos através de emissão de nova dívida, chegando mesmo ao ponto de dizer que "vai chegar a altura em que os mercados financeiros se vão recusar pura e simplesmente a financiar este esquema ponzi". in Destak, 20-04-2010.

Must Germany bail out Portugal too?
Portugal, not Greece, poses the greater existential threat to Europe's monetary union.
By Ambrose Evans-Pritchard

Portugal does not face an imminent funding crisis. If Europe's economy grows briskly, it may be enough to lift the country off the reefs. But one thing seems sure: Germany is not going to bail out any more countries, and the IMF is too small to cover. — in Telegraph.

Como refere um amigo meu num email que acaba de me enviar, entre pagar e refinanciar as nossas dívidas, o Estado português precisa de arranjar rapidamente uns 30 mil milhões de euros no mercado financeiro internacional. Como as garantias dadas pelos empréstimos são apenas títulos de dívida pública aceites pelo BCE como bons, mas que na realidade não passam de papeis, progressivamente mais duvidosos desde Janeiro deste ano, haverá previsivelmente cada vez menos interessados em emprestar-nos dinheiro a 10 anos (ver resultados da emissão de dívida pública portuguesa a 14 de Abril, e também no dia 21), e os que emprestam a 2 pressupõem que Portugal ainda tem alguma margem de segurança no curto prazo.

Este simples facto poderá levar o país à falência. E a razão explica-se muito simplesmente assim: é o financiamento de longo prazo que financia os custos de curto prazo. Imaginem, a título de ilustração, que para comprar a nossa própria casa os bancos deixavam de emprestar a 15, 25 ou 30 anos, e por isso éramos forçados a liquidar o empréstimo contraído para a compra da dita casa num prazo de dois anos. Que sucederia? É precisamente esta a situação a que o senhor Cavaco, o senhor Sócrates, o senhor Jardim e outros que tais, mais a bela democracia populista que alimentamos a pão de Ló, levaram as finanças públicas portuguesas!

O problema é especialmente grave porque o endividamento tornou-se um problema sistémico na maioria das economias desenvolvidas, incluindo muito especialmente os seus grandes protagonistas: Estados Unidos, Reino Unido, Japão, França, Itália e mesmo a Alemanha. Na realidade, a situação é explosiva na América de Obama e no reino de sua majestade britânica, dona de alguns dos principais paraísos fiscais onde se esconde boa parte do saque financeiro operado contra milhões de pessoas em todo o planeta. O escândalo que nos últimos dias (1) tem vindo a revelar as entranhas corruptas da Goldman Sachs —o grande propagador e beneficiário, a par da JP Morgan, dos chamados derivados financeiros, de que se destacam os Credit Default Swaps (CDS, inventados em 1995) e os Collateralized Debt Obligation (CDO, inventados em 1987)— mostra que há uma guerra surda de titãs entre a União Europeia (onde a velha Albion não se revê) e o triângulo Reino Unido, Israel, Estados Unidos. A Alemanha (ou se se preferir, a União Europeia sem a Inglaterra, nem a República Checa), e agora também a China, são as grandes ameaças à sobrevivência das super potências militares, financeiras e diplomáticas que reinaram nos últimos 200 anos no mundo. O chamado deficit spending, de origem vagamente keynesiano, levou a América desde o tempo de Reagan até hoje, e boa parte da Europa, a uma lógica de desenvolvimento baseada no endividamento cumulativo dos Estados, empresas, bancos, famílias e pessoas singulares, tudo em nome do crescimento virtual do PIB e das maravilhas estimulantes do consumo.

Para que este endividamento criminoso dos países ocorresse foi necessário, no entanto, proceder ao seu disfarce com produtos financeiros complexos, tais como os derivados especulativos (CDS, CDO, OTC, etc.), ao mesmo tempo que se mantinha a ficção de uma moeda universal, o dólar americano, com o qual os Estados Unidos mantiveram um nível de vida escandalosamente acima das suas possibilidades, esmagando no caminho tudo o que se lhe opusesse. O que hoje está a ruir como um dominó é pois esta monumental pirâmide de corrupção e espoliação dos fracos. Daí a pergunta: por onde vai romper a cadeia desta super Dona Branca? Pelo euro, ou pelo dólar? Pelo elo fraco grego, português ou espanhol, ou pelo elo forte, mas perigosamente falido, de Londres, ou Wall Street? A resposta não é indiferente. E as consequências ainda menos!

O Ocidente pensa com modelos historicamente gastos. Sobretudo a América depois de Reagan, e a Inglaterra desde sempre, convivem mal com a ideia de terem que repartir os recursos energéticos, minerais e alimentares do planeta com o resto da humanidade. Os Estados Unidos, viciados na sua moeda imperial, resistem como podem —e podem ser muito perigosos— ao aparecimento de novas moedas, e sobretudo ao declínio da green back. Atacaram o Iraque quando Saddam Hussein ameaçou aceitar outras moedas que não o dólar por petróleo. Querem desencadear um ataque atómico contra o Irão porque este há alguns anos que troca petróleo por euros com a maioria dos seus principais clientes —China, Itália, Espanha, Grécia, França (o Japão e a Coreia do Sul continuam a preferi usar USD)— e anunciou querer abrir uma bolsa de petróleo em euros!

Os tigres anglo-saxónicos acumularam demasiados inimigos, declarados e disfarçados, nas últimas duas décadas. O mundo está farto da sua arrogância, corrupção e insensibilidade. Preparar, como parece estar em curso, um novo 11 de Setembro, desta vez atómico, para justificar um ataque nuclear contra o Irão (via Israel, supõe-se) seria o suicídio da América. Mais vale sufocar no ninho as forças tenebrosas que neste momento conspiram activamente para ver realizado um tal cenário de guerra total. Espero que Obama acabe por desmontar uma a uma as sucessivas armadilhas que o poderosa teia sionista (2) lhe tem colocado no caminho.

Mas voltemos a Portugal.

A nossa situação é desesperada, por mais que pretendamos olhar para o lado. E é precisamente por estarmos tão mal objectivamente que as aves de rapina das agências de avaliação (todas, não por acaso, norte-americanas ou inglesas) investem furiosamente contra este elo fraco do euro. Que podemos fazer? Mostrar indignação patriótica faz bem ao ego, mas não resolve os problemas. A unidade de que o país precisa tem que nascer rapidamente de uma nova transparência de linguagem que substitua o disléxico discurso político dominante. Por outro lado, é preciso ouvir a verdade, como pedia sem saber como Manuela Ferreira Leite — em vez de continuarmos a aturar o optimismo cada vez mais grotesco do sempre jovial pedaço de asno que supostamente nos governa. Não, não é ele quem nos governa, mas os piratas que o colocaram onde agora está.

As eleições inglesas poderão ser o prelúdio do grande colapso financeiro mundial. Se este ocorrer, estaremos imediatamente à beira de um ou mais conflitos bélicos de vastas proporções. Por outro lado, vários bancos, empresas, cidades e países inteiros caminharão como Zombies para a falência. O valor nocional dos contratos de derivados financeiros (registados e OTC) é da ordem dos 1 144 biliões de dólares (3), ou seja, qualquer coisa como 6,8x a totalidade dos activos financeiros mundiais (acções+obrigações+depósitos bancários), ou 16 vezes o PIB do planeta! Quer dizer, não há dinheiro que chegue para o dominó de incumprimentos que se aproxima a uma velocidade vertiginosa. Nada a fazer se não assistirmos atónitos à maior destruição de valor que alguma vez ocorreu na história da homem. Mas será possível que tal ocorra sem que a humanidade se veja mergulhada num verdadeiro holocausto de penúria, guerra e perda de identidade?

Para já, uma recomendação: é preciso que a sociedade civil se organize e prepare para o pior. Dos populistas que nos governam, nada ou muito pouco podemos esperar.


POST SCRIPTUM — Portugal vai ter que aguentar o barco até à madrugada do próximo dia 6 de maio, momento em que saberemos todos o que vai acontecer no Reino Unido depois de Gordon Brown deixar o poder. De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde (e quanto mais tarde, pior), teremos que optar entre aumentar o desemprego, reduzir os rendimentos do trabalho, ou uma combinação agressiva das duas opções. O desemprego e a redução nominal e real dos salários no sector privado são realidades dramáticas desde meados de 2008, e têm vindo a agravar-se dia a dia. Parece que apenas quem trabalha para o sector privado está a pagar a crise! Ora isto é uma bomba-relógio que irá inevitavelmente explodir e causar um enorme buraco na identidade do país. Em vez de mendigarmos empréstimos no exterior para pagar aos funcionários públicos (e para pagar as mordomias sem conta da nomenclatura populista que temos), talvez fosse boa ideia reter metade dos subsídios de férias e de Natal deste ano e do próximo, na Administração Pública, convertendo-os em certificados de aforro. Ou seja, talvez não fosse má ideia impor uma poupança forçada aos funcionários públicos. Será certamente menos injusto do que a presente situação, onde prolifera o acosso e a ilegalidade em tudo o que são contratações eventuais na Administração Pública e no sector privado. Um poder político que resolva escorar-se apenas nos funcionários do Estado e na tropa de choque do desemprego caminha inexoravelmente para o fascismo!


NOTAS
  1. City watchdog launches Goldman Sachs investigation

    Embattled Wall Street firm Goldman Sachs is now facing an investigation by the City watchdog, the Financial Services Authority, following the $1bn (£650m) fraud allegations brought by the US regulators. — Jill Treanor, Guardian, 19 April 2010.

    Gordon Brown and Angela Merkel attack Goldman Sachs

    A crisis gripping Goldman Sachs deepened today as Britain and Germany moved towards joining the US in pursuing a fraud investigation against the Wall Street bank for allegedly fiddling clients out of $1bn ($650m) through a misleading mortgage investment deal.

    Gordon Brown ordered a special investigation into Goldman, accusing the bank of "moral bankruptcy". He threatened to block multimillion-pound bonus payouts if the firm is found guilty of wrongdoing.

    In Berlin, Angela Merkel's government said it had sought information from the US Securities and Exchange Commission with a view to evaluating "legal steps" against Goldman. — Andrew Clark, Guardian, 18 April 2010.

    Now we know the truth. The financial meltdown wasn't a mistake – it was a con

    The global financial crisis, it is now clear, was caused not just by the bankers' colossal mismanagement. No, it was due also to the new financial complexity offering up the opportunity for widespread, systemic fraud. Friday's announcement that the world's most famous investment bank, Goldman Sachs, is to face civil charges for fraud brought by the American regulator is but the latest of a series of investigations that have been launched, arrests made and charges made against financial institutions around the world. — Will Hutton, The Observer, 18 April 2010.

    Senior Executives at Goldman Had a Role in Mortgage Unit

    The Securities and Exchange Commission filed a civil fraud suit on Friday that essentially says that Goldman built the financial equivalent of a time bomb and then sold it to unwitting investors. Mr. Egol, 40, was not named in the S.E.C.’s suit.

    Goldman has vowed to fight the S.E.C. But the allegations have left many on Wall Street wondering how far the investigation might spread inside Goldman and perhaps beyond.

    Pressure on Goldman mounted on Sunday as two members of Congress and Gordon Brown, Britain’s prime minister, called for investigations into the bank’s role in the mortgage market. Germany also said it was considering legal action against the bank. — Louise Story, The New York Times, 18 April 2010.
  2. A extrema-direita judia e em geral a seita Sionista radical não param de conspirar. A sua rede engloba nomeadamente os serviços secretos israelitas —Mossad—, o poderoso lóbi judeu que actua junto do Congresso americano em Washington —The American Israel Public Affairs Committee (AIPAC)—, e o think-tank Council on Foreign Relations (CFR), entre outros. Enquanto montam um teatro à escala global sobre o perigo iraniano (por querer desenvolver tecnologia nuclear pacífica, e provavelmente militar), que está muito longe de ser verosímil, a verdade é que ainda recentemente os EUA de Obama contrataram a venda de mais 200 mil milhões de dólares de material bélico à potência nuclear que ninguém no Ocidente se atreve a denunciar, ou seja, Israel. Ler a propósito "Despite ‘Tensions,’ US OKs Massive Arms Shipment to Israel" (Antiwar News)
  3. "Total Notional Value Of Derivatives Outstanding Surpasses One Quadrillion" — in Slate. [Listed derivatives =~$548 trillion + OTC derivatives =~$596 trillion = $1.144 quadrillion. ]

OAM 686—20 Abril 2010 23:34 (última actualização: 21 Abril 2010 0:45)

sábado, janeiro 23, 2010

Portugal 155

Se o Pedro Passos Coelho...

WASHINGTON (21 Jan 2010) -- Rep. Dennis Kucinich (D-OH) on Wednesday said the Massachusetts election was a "wake up call" for Democrats and that his party had better change course or it could suffer devastating losses come November.
... "Every area of the economy is still about taking wealth from the great mass of people and putting it into the hands of a few. If you don't have a economic democracy, you don't have a political democracy." — in The Raw Story.

Há dinâmicas imparáveis. E a dinâmica de vitória de Pedro Passos Coelho, goste-se ou não se goste dele, já começou. E assim sendo, o melhor é irmos contribuindo para que o jovem turco não faça demasiadas asneiras.

Eu preferiria, porventura, ver Paulo Rangel suceder a Manuela Ferreira Leite, mas as coisas são o que são, e a entrevista que Pedro Passos Coelho deu hoje ao Mário Crespo foi uma prestação promissora.

É patente e compreensível a decisão da actual líder do PPD-PSD de se afastar, ainda que fazendo um indecoroso frete político à turma de parasitas que há décadas vivem do partido fundado por Sá Carneiro. Refiro-me claramente ao intriguista Marcelo, ao desamparado e manifestamente quadrado intelectual orgânico que dá pelo nome de Zé Pacheco Pereira, à candeia sombria da Fundação Luso-Americana e da SLN, Rui Machete, ao teddy boy já um pouco cota da 24 Julho, Pedro Santana Lopes, e a todas as ratazanas e pequenos parasitas acomodados que torcem pelo suicídio colectivo do PSD. Como lémures ameaçados por praga divina, preferem incendiar a instituição que os tem engordado, a dar lugar aos mais novos — como é natural, humano e inteligente. A síndroma salazarenta é, infelizmente, muito mais difícil de erradicar do que todos supúnhamos. Basta olhar, noutra direcção, para os clubes de inúteis que impedem os sindicatos, as associações patronais, e as ordens corporativas, de se tornarem algo de útil à democracia, para confirmarmos a natureza endémica desta praga hereditária.

Manuela Ferreira Leite perdeu o momento durante a campanha eleitoral que conduziria à sua clamorosa e inesperada derrota. Depois deste desaire, e apesar de ter sido quem primeiro, de entre a nomenclatura partidária, alertou para a gravidade dos nossos problemas, tem vindo a colocar-se primordialmente ao serviço da estratégia defensiva de Cavaco Silva e da velha guarda cor-de-laranja, responsável, a par da decrépita guarda cor-de-rosa, pelo descalabro a que a democracia portuguesa chegou ao fim de pouco mais de 30 anos de desvario populista. O actual regime demo-burocrático e clientelar, protagonizado por uma partidocracia basicamente corrupta, ocupou e asfixiou o tecido social do país, consumindo-lhe as energias criativas e a poupança. Tal como em muitas outras democracias europeias e americanas, a confiança morreu e o caos social espreita ao virar da esquina deste ou do próximo colapso económico-financeiro das economias virtuais do Ocidente. A guinada desesperada de Obama contra os vampiros de Wall Street e da Banca Global, que hoje fez afundar as bolsas americanas, europeias e asiáticas, tal como as declarações do congressista republicano Dennis Kucinich, deveriam inspirar o novel candidato a mudar o segundo maior partido político português.

Obama Calls for Limiting Size, Risk-Taking of Financial Firms
Jan. 22 (Bloomberg) -- President Barack Obama, tapping into voter anger over bank bailouts, called for limits on the size and trading activities of financial institutions in order to reduce risk-taking and prevent another financial crisis.
... “While the financial system is far stronger today than it was one year ago, it’s still operating under the same rules that led to its near collapse,” Obama said yesterday at the White House after meeting with former Federal Reserve Chairman Paul Volcker, who has been an advocate of taking such steps. “Never again will the American taxpayer be held hostage by a bank that is too big to fail.”

The proposals could affect trading at some of the nation’s largest banks, including New York-based Goldman Sachs Group Inc., Morgan Stanley and JPMorgan Chase & Co., according to Frederic Dickson, chief market strategist at D.A. Davidson & Co. in Lake Oswego, Oregon.

A grande pergunta é esta: será capaz?

O título do livro que Pedro Passos Coelho acaba de lançar (que ainda não li), se não for uma máscara da ignomínia, ou mais uma caricatura de política, então denota uma direcção ambiciosa. Ambiciosa porque pressupõe uma ruptura (Mudar/ Change). Ambiciosa porque é irrealizável sem estabelecer claramente que a próxima vitória do PSD tem que resultar de um movimento de opinião pública nascido desta crise profunda, e não de mais uma arranjo floral intra-partidário. Ambiciosa porque, para ter sucesso, implica obviamente a não recandidatura de Cavaco Silva.

Um aviso: cuidado com Alcochete! E Pedro, não me desiluda, como Sócrates me desiludiu!


Post scriptum —  (23-01-2010 19:22) Os condottieri da comunicação (vulgo, "agências") iniciaram, na edição do Expresso de hoje, a campanha de demolição de carácter de Pedro Passos Coelho. O ponto de partida foi a sua relação profissional com a Fomentinvest, uma empresa típica de lobbying político-empresarial e gestão virtual de empresas e fundos de investimento, cujo presidente é o antigo ministro laranja Ângelo Correia. O que encontraram, para já, é picuinhas, pífio, e se nada mais houver, pode dizer-se que o procedimento de clearance do bem colocado challenger à futura direcção do PPD-PSD, vai no bom caminho. Pelos vistos, Passos Coelho dificilmente se verá metido no usual colete de varas que a promiscuidade entre dinheiro fácil e poder há décadas limita a independência da generalidade dos decisores políticos. A Fomentinvest, precisamente por causa da sua natureza de empresa de gestão de influências, mesmo tendo em conta a notoriedade dos seus associados —Caixa Geral de Depósitos, Grupo Espírito Santo, BANIF, Banco Africano de Investimentos, Fundação Ilídio Pinho, IP Holding, Millennium BCP, Fundação Horácio Roque—, está em relativos maus lençóis. Com um capital de 20 milhões de euros demonstrou apenas um volume de negócios de pouco mais de 600 mil euros em 2007! Por sua vez, a sua aposta recente no mercado de derivados em volta da esperada super-bolha verde das chamadas emissões de CO2 equivalente, depois do fracasso redondo da Cimeira Climática de Copenhaga, e da agora anunciada suspensão dos subsídios públicos à produção de energia solar por parte da Alemanha e da França (que não deixará de contaminar o resto da UE), augura tempos difíceis numa empresa essencialmente virtual, como a Fomentinvest efectivamente é. Também por aqui, o mais que se poderá afirmar é que Pedro Passos Coelho já terá percebido que precisa de mudar de vida. "Crime, disse ela?" Não creio.


OAM 675 — 22 Jan 2010 00:00

domingo, outubro 18, 2009

Obama Nirvana

Caminhando em direcção à luz?
Será a mensagem sobre o Diwali, pelo homem mais poderoso do planeta, um sinal? Que sinal?




Os tempos que aí vêm já não se compadecem com as oratórias cansadas do cada vez mais insuportável populismo político predominante no Ocidente, venha o dito da Direita ou da Esquerda, do falso Centro ou da Extrema Esquerda quadrada e mumificada nas suas falidas ortodoxias litúrgicas. O desenrolar inicial das agendas partidárias após o recente ciclo eleitoral prenunciam infelizmente uma procissão de impasses até à grande crise que se aproxima vertiginosamente de todos nós. Quando uma situação apodrece e o caldo de hipocrisias e tensões começa a ferver lentamente, basta uma faísca qualquer para que a guerra civil estale. O milhão de espanhóis que ontem (Sábado) confluiu para Madrid (1), protestando contra o fundamentalismo anti-humanista do pensamento senil da Esquerda é tão só um aviso do que, de um dia para outro, pode fazer descarrilar de novo as democracias ibéricas.

O enigma do Prémio Nobel da Paz deste ano merece pois, neste contexto que se degrada dia a dia, uma reflexão nada leviana, mas atenta e futurista.
O Diwali [...] é uma festa religiosa hindu, conhecida também como o festival das luzes. Durante o Diwali, celebrado uma vez ao ano, as pessoas estreiam roupas novas, dividem doces e estouram rojões e fogos de artifício. Este festival celebra o assassinato de Narakasura, o que converte o Diwali num evento religioso que simboliza a destruição das forças do mal — in Wikipédia.

O MITO DO ETERNO RETORNO
Para nossos propósitos, só uma questão deve nos preocupar: como pode o "terror da história" ser tolerado a partir do ponto de vista do historicismo? A justificação de um acontecimento histórico, pelo simples fato de ele ser um acontecimento histórico, em outras palavras, pelo simples fato de ter "acontecido dessa maneira", não caminha no sentido de libertar a humanidade do terror que o acontecimento inspira. Deve-se compreender que não estamos aqui preocupados com o problema do mal, que, independente do ângulo a partir do qual possa ser visto, permanece como um problema filosófico e religioso; estamos preocupados, isto sim, com o problema da história como história, do "mal" que está limitado não pela condição do homem, mas pelo seu comportamento em relação aos outros. Deveríamos querer saber, por exemplo, como seria possível tolerar e justificar os sofrimentos e a aniquilação de tantas pessoas que sofrem e que são aniquiladas pela simples razão de que sua situação geográfica as coloca no caminho da história; por serem vizinhos de impérios que se encontram em estado de permanente expansão. Como justificar, por exemplo, o fato de o sudeste da Europa ter sofrido durante séculos — sendo portanto obrigado a renunciar a qualquer impulso no sentido de uma existência histórica mais elevada, na direção da criação espiritual no plano universal — pela única razão de que estava no caminho dos invasores asiáticos e, mais tarde, vizinho do Império Otomano? E, em nossos dias, quando as pressões históricas já não permitem mais qualquer fuga, como pode o homem tolerar as catástrofes e horrores da história — desde as deportações e massacres coletivos até os bombardeios atômicos — se, além deles, não consegue ver qualquer sinal nem significado trans-histórico; se esses acontecimentos são apenas as jogadas cegas de forças econômicas, sociais ou políticas, ou, pior ainda, unicamente o resultado das "liberdades" que uma minoria toma e exercita de modo direto sobre o cenário da história universal?

Sabemos como, no passado, a humanidade conseguia suportar os sofrimentos que já tivemos oportunidade de enumerar: eles eram considerados como uma punição aplicada por Deus, a síndrome do declínio da "era", e assim por diante. E era possível aceitar os acontecimentos precisamente porque tinham um significado meta-histórico, porque, para a maior parte da humanidade, ainda apegada ao ponto de vista tradicional, a história não tinha, e nem poderia ter, valor em si mesma. Todos os heróis repetiam o gesto arquetípico, todas as guerras ensaiavam a luta entre o bem e o mal, cada nova injustiça social era identificada com os sofrimentos do Salvador (ou, por exemplo, no mundo pré-cristão, com a paixão de um mensageiro divino ou deus da vegetação), cada novo massacre repetia o glorioso fim dos mártires. Não nos compete aqui decidir se tais motivos eram pueris ou não, nem se uma tal rejeição da história mostrava-se sempre eficaz. Em nossa opinião, só um fato importa: em virtude deste ponto de vista, dezenas de milhões de homens, século após século, foram capazes de suportar enormes pressões históricas sem se desesperar, sem cometer o suicídio nem cair naquela aridez espiritual que sempre traz consigo uma visão relativista ou niilista da história. — O Mito do Eterno Retorno (1954), Mircea Eliade (1907-1986). Ed. Mercuryo Ltda. (1992).

Ler também artigo em inglês na Wikipedia, e em particular este trecho da versão inglesa original de The Myth of the Eternal Return: Cosmos and History, de Mircea Eliade:
"In our day, when historical pressure no longer allows any escape, how can man tolerate the catastrophes and horrors of history—from collective deportations and massacres to atomic bombings—if beyond them he can glimpse no sign, no transhistorical meaning; if they are only the blind play of economic, social, or political forces, or, even worse, only the result of the 'liberties' that a minority takes and exercises directly on the stage of universal history?

"We know how, in the past, humanity has been able to endure the sufferings we have enumerated: they were regarded as a punishment inflicted by God, the syndrome of the decline of the 'age,' and so on. And it was possible to accept them precisely because they had a metahistorical meaning [...] Every war rehearsed the struggle between good and evil, every fresh social injustice was identified with the sufferings of the Saviour (or, for example, in the pre-Christian world, with the passion of a divine messenger or vegetation god), each new massacre repeated the glorious end of the martyrs. [...] By virtue of this view, tens of millions of men were able, for century after century, to endure great historical pressures without despairing, without committing suicide or falling into that spiritual aridity that always brings with it a relativistic or nihilistic view of history". — Mircea Eliade, The Myth of the Eternal Return: Cosmos and History. Princeton: Princeton UP, 1971 (1954); in Wikipedia.

NOTAS
  1. Em Espanha, como é sabido, o aborto é praticado livremente e tornou-se aliás num negócio próspero há já vários anos. Pois bem, a tonta Esquerda espanhola, certamente pensando distrair o povo do buraco negro para onde foi conduzido pelas mãos laicas e corruptas da aliança entre os armani-marxistas do PSOE e a corja mundial da especulação imobiliária e financeira, resolveu escarafunchar a legislação sobre a IVG e propor que qualquer jovem mulher com 16 anos ou mais possa decidir individualmente (no foro íntimo da sua consciência, dizem) sobre a sua gravidez até às 16 semanas de desenvolvimento do feto que eventualmente traga no útero. Quer dizer, sem necessitar de autorização dos pais, nem do namorado ou marido, caso tenha. No entanto, esta mesma jovem adulta está proibida por lei de fumar e tomar bebidas alcoólicas. A noção de livre arbítrio tem para o exibicionismo decadente da Esquerda actual, como se vê, dois pesos e duas medidas. Descriminalizar a prática do aborto é uma exigência de saúde pública e de tolerância social e humanista, liberalizar comportamentos irresponsáveis e conferir poderes absolutos à mulher em matéria de procriação é, pelo contrário, ilegítimo, contra-natura e uma insensatez cultural que pagaremos caro, mais cedo do que alguns previram.


OAM 636 18-10-2009 01:25

quarta-feira, abril 01, 2009

G20-London 3

Change, please
A esperança de Obama por terra. Uma moedinha por favor!

Um embuste anglo-americano
Obama não resiste à rainha, nem aos banqueiros!

A reunião do G20 fracassou em quatro frentes essenciais:
  1. Na frente monetária: a hegemonia do falido dólar americano e a sobrevalorização artificial da falida libra inglesa deixaram de fazer qualquer sentido, dados os irreparáveis graus de endividamento destes dois países.

    As duas coisas urgentes a fazer, que Obama, Brown e Sarkozy rejeitaram ab initio são estas:
    • criar uma nova moeda de reserva internacional, nomeadamente através da incorporação das moedas chinesa, indiana, russa, brasileira e ainda a futura moeda única dos países árabes produtores de petróleo, no cesto onde se amassam os chamados SDR;
    • acabar com os movimentos de desvalorização agressiva do ouro, reforçando as reservas oficiais da mais antiga e fiável moeda do mundo nos cofres de todos os bancos centrais, por forma a estabelecer uma paridade mais fiável entre a riqueza real dos países e as aparências ilusionistas engendradas pela especulação corrupta e criminosa que, pelos vistos, Obama tenciona manter e alimentar.

    Os SDR (Special Drawing Rights) são uma espécie de moeda de reserva internacional destinada a fazer as vezes do ouro no comércio mundial. Chama-se por vezes a este contrato fiduciário, "ouro-papel", pretendendo-se com tal afirmação ostensiva dar aos Direitos Especiais de Saque a aparência de uma autêntica e universal moeda de reserva.

    De facto, sabemos que não é assim, pois o que os pilotos de guerra americanos e ingleses levam no bolso para o caso de caírem nalgum deserto iraquiano, ou nalguma montanha afegã, não são SDRs, mas moedas de ouro! Aliás, que diria qualquer um de nós, se alguém nos quisesse pagar um jantar, ou uma casa, com SDRs?

    De facto, esta pseudo moeda universal, nascida no interior do FMI em 1969, dois anos antes de Nixon pôr fim à garantia de trocar dólares por ouro, e que aparece invariavelmente no capítulo das reservas cambiais e de ouro dos relatórios anuais dos bancos centrais, não passa de um compromisso político decorrente ainda da vitória aliada na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e dos defuntos Acordos de Bretton Woods.

    Estes últimos impuseram basicamente a submissão de todas as moedas mundiais ao dólar americano. Mas a progressiva desvalorização desta moeda comercial e de reserva levou a que se cozinhasse os SDRs como uma nova opção em matéria de reserva monetária.

    A desvalorização agressiva do ouro em sucessivas operações especulativas orquestradas por americanos e ingleses, nem por isso impediu a desvalorização paulatina da nuvem de dólares americanos espalhados pelo globo. Todos os bancos centrais eram obrigados a comprar dólares para as suas trocas comerciais com o exterior — por exemplo, para comprar petróleo! Com o ouro artificialmente baixo e sobretudo ausente de boa parte das reservas cambiais existentes, e a desvalorização inevitável de um dólar que se imprimia (e continua a imprimir) como papel higiénico, alguém se lembrou de inventar um cabaz mais "democrático" de moedas, a fim de proporcionar alguma estabilidade aos mercados financeiros mundiais. A esse cabaz, que funciona ainda hoje como uma espécie de moeda franca do FMI, chamou-se SDR. Continha à data da sua criação (1969), dólares americanos, marcos alemães, francos franceses, libras inglesas e ienes japoneses. Hoje contém dólares americanos, euros, libras inglesas e ienes.

    Por razões óbvias, e sobretudo porque o dólar americano se encontra à beira do colapso, faria todo o sentido enriquecer este cabaz de divisas, com as moedas cada vez mais fortes dos chamados países emergentes. A cimeira do G20 deveria pois ser aproveitada, por exemplo, para agir nesta direcção, em vez de tentar prolongar o estertor do falido império anglo-americano, como é a manifesta intenção da América e de boa parte da Eurolândia.

  2. Na frente social: anunciar aos quatro ventos que o poderoso G20 irá criar 25 milhões de postos de trabalho, quando o desemprego mundial deverá atingir, segundo estatísticas das Nações Unidas, qualquer coisa como 230 milhões de pessoas em 2010, não passa de uma piada de mau gosto que as televisões acéfalas de todo o mundo irão vender como a prova de piedade dos piratas que causaram a tragédia actual e, não contentes com isso, nem sequer com o perdão já anunciado por Barak Obama, estão neste preciso momento a refinanciar as suas actividades corruptas e os seus bancos à custa do maior roubo fiscal da história da humanidade.

  3. Na frente da corrupção: a benção de Obama aos donos do mundo financeiro, respectivos bancos de investimento e paraísos fiscais, assim que chegou a Londres, ao lado do homem que alienou em 1999 metade das reservas inglesas de ouro (Gordon Brown), mostra bem o percurso da palavra change: da coragem de anunciar a mudança, à litania do pedinte! Jersey, Guernsey e Isle of Man são propriedade exclusivas da coroa inglesa. E são também conhecidos offshores. Que dirá Obama a Isabel II sobre isto?

  4. Na frente económica: o que está em curso é a montagem de uma gigantesca armadilha económico-financeira, com a face risonha de um programa de ataque à crise e apoio aos pobres — mais investimento = mais emprego, dizem —, mas cuja intenção escondida a sete chaves é rebentar com a poupança mundial, nomeadamente através de uma expropriação em larga escala dos rendimentos de países inteiros, vergados sob o peso das dívidas de curto prazo, cujo refinanciamento se fará por uma inflação monetária sem precedentes e pela captura do bem comum (as melhores paisagens e os melhores terrenos agrícolas, a água potável, as sementes, as redes de energia, os sistemas de transportes, as telecomunicações, etc.) — sob a forma de grandes e demagógicos programas de obras públicas, empacotados em Parcerias Público Privadas, cujos contratos assegurarão desde já a liquidez de curto prazo de que os governos tanto necessitam, ao preço de comprometer as independências dos países e a liberdade, prosperidade e felicidade dos povos. Os governos há muito que dependem dos bancos e sobretudo de grandes manipuladores financeiros como o JPMorgan Chase, Bank of America, Citibank, Goldman Sachs e HSBC Bank USA, ou dos entretanto caídos em desgraça shadow bankers (Bear Stearns, Lehman Brothers, etc.), bem como das suas inúmeras e camufladas delegações. Melhor conjuntura para começar uma revolução não poderia haver!




REFERÊNCIAS

  • Sobre o G20 neste blog: 1, 2, 3.

  • "The Relevance and Importance of Gold in the World Monetary System", by R. Peter W. Millar (PDF)

  • Mints coin it as consumers scramble for gold
    By Sarah Marsh and Jan Harvey/ Reuters
    Mon Mar 30, 2009 9:27pm EDT

    Russia's state-controlled Sberbank says it has never seen such strong demand for investment coins, while the U.S. Mint says sales of its one-ounce American Eagle gold bullion coins rocketed over 400 percent to 710,000 ounces in 2008.

    "The demand for gold and silver has been unprecedented," said Carla Coolman, a spokeswoman at the United States Mint.

    Austria's Philharmonic, named after the Vienna Philharmonic Orchestra, was the world's best-selling gold coin in the last quarter and sales soared 544 percent in the first two months of 2009.

    "There is no sign of demand abating," Austrian Mint Marketing Director Kerry Tattersall told Reuters, expecting sales this year to exceed 2008's record levels. "At present production is struggling to keep up with demand."

  • China and Argentina in currency swap
    By Jude Webber in Santiago/ Finantial Times.com
    Published: March 31 2009 01:25 | Last updated: March 31 2009 01:25

    China, which is pushing to end the dominance of the dollar as a worldwide reserve, has agreed a Rmb70bn ($10.24bn, £7.18bn, €7.76bn) currency swap with Argentina that will allow it to receive renminbi instead of dollars for its exports to the Latin American country.

    Xinhua, the official Chinese news agency, said the deal was signed on Sunday by Zhou Xiaochuan, governor of the People’s Bank of China, and Martín Redrado, Argentine central bank president, in Medellín, Colombia, where they are attending a meeting of the Inter-American Development Bank.

  • Chavez seeks Arab support for oil-backed currency

    BRIAN MURPHY
    Associated Press/ The Globe and Mail, Toronto
    March 31, 2009 at 5:56 PM EDT

    DOHA, Qatar — Venezuelan President Hugo Chavez tried Tuesday to court Arab support for another swipe at America as its economy stumbles: a proposal for a new, oil-backed currency to challenge the global prominence of the dollar.

    The idea never reached the full agenda of a summit of leaders from South America and the Arab League — and has little hope of gaining any momentum among the U.S. allies in the Middle East. But it managed to reflect broader sentiments at the gathering: That Western financial leadership has been deeply eroded by the economic meltdown.

  • RPT-EU says G20 not to focus on China financial calls

    BEIJING, March 29 (Reuters) - Europe is comfortable with China's growing world role but believes the G20 summit will be too early to decide on Beijing's calls for more say in global financial bodies, the EU Commissioner for External Relations said on Sunday.

    European Union Commissioner Benita Ferrero-Waldner told Reuters in Beijing that the London gathering of 20 major wealthy and developing powers this week would focus on "concrete results" to revive the global economy, not more distant issues.

    China caused a stir ahead of the Thursday summit when it suggested the world move to greater use of IMF Special Drawing Rights as an international reserve currency.

    "I don't think that this will be the question that really will be discussed thoroughly in London," Ferrero-Waldner said after talks with Chinese Foreign Minister Yang Jiechi and Vice Premier Li Keqiang.

    Likewise, she said, China's call for a bigger role in the International Monetary Fund (IMF) and other international financial bodies would not be a focus of the summit.

    "I think it's too early for us to give a really concrete answer," she said of these calls. "I think it is within the IMF, it is within the international financial institutions, that these questions have to be discussed."

    The idea of a new reserve currency system based on the IMF special drawing rights has not been entirely knocked down, but many G20 leaders have made clear that for now the U.S. dollar's status as the dominant reserve unit remains.

  • O buraco negro dos Derivados — 600 milhões de milhões de USD — representa 12 vezes o PIB do planeta!

    OCC’s Quarterly Report on Bank Trading and Derivatives Activities — Fourth Quarter 2008 (PDF)

    • The notional value of derivatives held by U.S. commercial banks increased $24.5 trillion in the fourth quarter, or 14%, to $200.4 trillion, due to the migration of investment bank derivatives business into the commercial banking system.
    • U.S. commercial banks lost $9.2 billion trading in cash and derivative instruments in the fourth quarter of 2008 and for the year they reported trading losses of $836 million. The poor results in 2008 reflect continued turmoil in financial markets, particularly for credit instruments.
    • Net current credit exposure increased 84% from the third quarter to a record $800 billion, and much of this is attributable to the sharp decline in interest rates in the fourth quarter.
    • Derivative contracts remain concentrated in interest rate products, which comprise 82% of total derivative notional values. The notional value of credit derivative contracts decreased by 2% during the quarter to $15.9 trillion. Credit default swaps are 98% of total credit derivatives.

    Derivatives activity in the U.S. banking system is dominated by a small group of large financial institutions. Five large commercial banks represent 96% of the total industry notional amount and 81% of industry net current credit exposure.

  • Reform International Financial Regulatory Framework:A Few Remarks
    Research Institute of Finance & Banking
    People's Bank of China

    In the midst of the current financial crisis, the needs for major reform of the global financial system and global financial stability framework have been increasingly recognized. Policymakers and international organizations have made substantial efforts to improve the international financial system including financial regulation and supervision. Various proposals have come forward on priority areas such as redefining the scope and boundaries of financial regulation and supervision, tackling issues of pro-cyclicality in the system, retooling capital and provisioning requirements as well as refining valuation and accounting rules, and some consensus has been reached. Among others, the Group of Thirty has published a Financial Reform report, and FSF and BCBS have undertaken some work on various aspects of financial regulation and Basel II framework. A number of regulators and the financial industry have initiated a centralized clearing and central counter-party mechanisms for OTC derivatives including credit default swaps (CDS). All these efforts will help to fend current crisis and future risks. However, we also note that several issues with respect to the financial regulatory framework have not received adequate attentions. In this note, we would like to explore these issues and provide relevant suggestions.


  • U.K. Bond Auction Fails for First Time in 14 Years - WSJ.com.
    Isto significa que já nem as emissões de dívida pública funcionam. Por isso Gordon Brown quer que os governos do G20 esmifrem os seus concidadãos para refinanciar o falido FMI. Refinanciado este, não serão só os países pobres do Terciro Mundo que poderão então acolher-se à sombra castigadora do FMI. Não — é a própria planície de sua majestade a rainha de Inglaterra!

  • OECD predicts 10% jobless rate for 2010

    By Chris Giles in London, Ralph Atkins in Frankfurt and Mark Mulligan in Madrid
    Published: March 30 2009 20:02 | Last updated: March 30 2009 20:46 — Finantial Times.co.

    One in 10 workers in advanced economies will be without a job next year, “practically with no exceptions”, the head of the Organisation for Economic Co-operation and Development said on Monday.

    In a graphic indication of the global recession’s transmission from the financial sector to the rest of the economy, Angel Gurría warned that the ranks of the unemployed in the 30 advanced OECD countries would swell “by about 25m people, by far the largest and most rapid increase in OECD unemployment in the postwar period”.

    He said the misery of joblessness – what Mr Gurría described as “rapidly turning into a jobs and social crisis” – would come as the OECD expected advanced economies to contract by 4.3 per cent in 2009 with little or no growth expected in 2010. The forecast is significantly worse than the International Monetary Fund’s most recent estimate of a 3-3.5 per cent contraction for 2009.

  • 20 Million Laid-off Migrant Workers May Send China's Unemployment Rate to 10% February 06,2009

    by CSC staff, Shanghai — China Stakes.com.
    20 million! The number of jobless migrant workers brought by the economic slowdown is even higher than the most pessimistic estimation.

    Chen Xiwen, deputy director of the Office of Central Financial Work Leading Group and director of the Office of The Central Leading Group on Rural Work, disclosed that, due to the financial crisis, about 20 million out of 130 million migrant workers, had returned home as they became jobless or failed to find jobs thanks to the economic slowdown.

    ... According to the estimation of the Ministry of Human Resources and Social Security, the over supply issue of labor will worsen in 2009, and the government will have to offer jobs to 24 million people, including 13 million new workers, 8 million laid-off workers and 3 million who are waiting for jobs.

  • China Unemployment Rate

  • 2009 world unemployment could rise by 40 million [to 230 million], says UN

    Invest in India — The global economic downturn could see 40 million more people lose their jobs by the end of the year, taking the unemployment rate to its highest in a decade, the U.N. labor agency said Wednesday.

    The number of unemployed in 2009 will largely depend on how effective governments’ economic stimulus measures are, the International Labor Organization cautioned.

    Worldwide unemployment by the end of the year will range between 210 million and 230 million people, the agency said in its annual Global Employment Trends report.

OAM 567 01-04-2009 18:26 (última actualização: 02-04-2009 00:09)

sábado, março 21, 2009

Portugal 93



Vem aí a Grande Depressão !

TAP cancela 2190 voos nos dois primeiros meses e meio de 2009, e apresenta prejuízos de 280 milhões euros em 2008. Para quem o novo aeroporto?

Durante o ano de 2008 circularam menos 20 mil veículos por dia na Ponte 25 de Abril. Para quem a nova ponte sobre o Tejo?

Se a carga movimentada nos cinco principais portos portugueses diminuiu 1,8% em 2008 e cairá a pique em 2009, para que querem a Mota-Engil e a tríade de Macau estuporar o Cais de Alcântara e enterrar a Linha do Estoril (um dos percursos ferroviários mais bonitos do mundo)?

Os níveis de desemprego nos EUA e na Europa (a caminho dos dois dígitos), tal como as quedas bolsistas, nomeadamente em Wall Street, apresentam um padrão cada vez mais semelhante ao do colapso de 1929. Para quem as novas autoestradas e as novas barragens?

Michelle Obama planta alfaces, tomate, cebolas, brócolos e ervas aromáticas nos jardins da Casa Branca (ver plano). Isto não vos diz nada?

A Cimeira do G20, que terá lugar em Londres no próximo dia 2 de Abril, ou abre campo para a substituição do dólar americano como moeda internacional de troca, hipótese em cima da mesa da próxima reunião de especialistas da ONU para a reforma financeira mundial, partilhada pela China, Rússia, alguns países árabes, parte da União Europeia e até um ex-alto funcionário do J P Morgan — prevendo-se que tal decisão possa travar o rumo vertiginoso e perigoso da economia mundial na sequência do colapso do castelo de cartas do endividamento compulsivo do Ocidente —, ou deixa ingleses e americanos imporem a sua vontade, exigindo ao resto do mundo que continue a suportar a falência patente desta aliança, e então as probabilidades de tumultos generalizados, guerras civis, secessões e até de uma 3ª Guerra Mundial passarão a estar em cima da mesa das probabilidades.

O Pico Petrolífero e o fim do paradigma energético que possibilitou até agora os nossos estilos afluentes de vida tem muito mais que ver com a presente crise financeira e económica do que à primeira vista parece. 85% da energia industrial produzida e consumida pela humanidade tem origem no carvão, petróleo e gás natural. Apenas 15% provêm de outras fontes energéticas, como as centrais hídricas e nucleares, os biocombustíveis, os geradores eólicos, os painéis solares, etc. As energias alternativas exploradas nos EUA em 2007 não iam além de 1% do mix energético que move a economia americana, e até 2015 pouco ultrapassarão 4% das necessidades energéticas de um país que consome 25% do petróleo mundial. As possibilidades de substituição das energias dominantes nos últimos 200 anos por energias alternativas e renováveis antes de o Pico Petrolífero provocar danos virtualmente irreparáveis à economia mundial parecem pois escassas.

Assim, até 2015, 2020, 2030, dificilmente nos safaremos de uma depressão permanente, com altíssimos níveis de desemprego, inflação, agravamento contínuo dos impostos, implosão de sistemas sociais e regimes de pensões, colapso de empresas, falências de muitas cidades, luta de classes sob várias formas e uma permanente instabilidade política, que nalguns casos poderão desembocar em guerras civis e revoluções.

Diante deste cenário realista não faz qualquer sentido continuarmos a discutir filosoficamente as vantagens de uma Terceira Travessia do Tejo, o Novo Aeroporto de Alcochete, mais autoestradas, barragens assassinas e até a rede de Alta Velocidade. Portugal está pura e simplesmente à beira da falência. E se os seus cidadãos não tomarem rapidamente consciência deste simples facto, irão todos pagar muitíssimo caro a indolência, o oportunismo ou a falta de coragem demonstradas. As soluções deixaram definitivamente de passar pelo endividamento contínuo em nome da criação de infraestruturas para uma economia que, em boa verdade, já não existe!

Precisamos, isso sim, de nos organizar de outra forma, estabelecendo uma estratégia firme de eficiência energética, de protecção dos recursos públicos, de distribuição solidária do trabalho disponível, de adaptação forçada das cidades ao fim do paradigma energético dos últimos cem anos, de mitigação do impacto extremamente negativo do transporte automóvel, e da instauração de uma democracia directa em rede — alternativa ao irremediavelmente corrupto sistema político actual.



REFERÊNCIAS

Obamas to Plant Vegetable Garden at White House

WASHINGTON (20-03-2009) — Michelle Obama will begin digging up a patch of the South Lawn on Friday to plant a vegetable garden, the first at the White House since Eleanor Roosevelt’s victory garden in World War II. There will be no beets — the president does not like them — but arugula will make the cut.

While the organic garden will provide food for the first family’s meals and formal dinners, its most important role, Mrs. Obama said, will be to educate children about healthful, locally grown fruit and vegetables at a time when obesity and diabetes have become a national concern.

“My hope,” the first lady said in an interview in her East Wing office, “is that through children, they will begin to educate their families and that will, in turn, begin to educate our communities.” — in New York Times.


Shell dumps wind, solar and hydro power in favour of biofuels

Shell will no longer invest in renewable technologies such as wind, solar and hydro power because they are not economic, the Anglo-Dutch oil company said today. It plans to invest more in biofuels which environmental groups blame for driving up food prices and deforestation.

Executives at its annual strategy presentation said Shell, already the world's largest buyer and blender of crop-based biofuels, would also invest an unspecified amount in developing a new generat­ion of biofuels which do not use food-based crops and are less harmful to the environment.

The company said it would concentrate on developing other cleaner ways of using fossil fuels, such as carbon capture and sequestration (CCS) technology. It hoped to use CCS to reduce emissions from Shell's controversial and energy-intensive oil sands projects in northern Canada.

The company said that many alternative technologies did not offer attractive investment opportunities. Linda Cook, Shell's executive director of gas and power, said: "If there aren't investment opportunities which compete with other projects we won't put money into it. We are businessmen and women. If there were renewables [which made money] we would put money into it." — guardian.co.uk, Tuesday 17 March 2009 19.04 GMT.

The Real Unemployment Rate, by Lee Adler

Let’s stop kidding ourselves. The sugar coated headline unemployment rate reported by the government is completely bogus. The real unemployment rate buried in the Federal Government’s data tables, including discouraged workers and those who are considered marginally attached or working part-time because they cannot find full time work, is now 12.2%, the highest it has been in 15 years. This number is up 33% over the past 12 months.

For those egonomists who claim that this is nothing like the Great Depression, because then the unemployment rate was 25%, stick this in your pipe and smoke it. Where was the unemployment rate in 1930, the year after the market crashed? According to the BLS, the unemployment rate for all of 1930 was 8.9%. Admittedly, there’s no information on how that statistic was calculated, but those economists who say that today’s recession is nothing like the Great Depression. By this one measure at least, given the timing. Today’s deterioration is at least as rapid, and probably more rapid, than the beginning of the Great Depression. — in Wall Street Examiner (5-12-2008.)

The peak oil economic depression has arrived, by Clifford J. Wirth, Ph.D.

The best advice for individuals and organization is to prepare for Peak Oil impacts. No federal or state agencies are studying Peak Oil impacts and contingency planning. A few local governments and organizations are beginning to make plans.

This is what we must plan for. With increasing costs for gasoline and diesel, along with declining taxes and declining gasoline tax revenues, states and local governments will eventually have to cut staff and curtail highway maintenance. Eventually, gasoline stations will close, and state and local highway workers won’t be able to get to work. We are facing the collapse of the highways that depend on diesel and gasoline powered trucks for bridge maintenance, culvert cleaning to avoid road washouts, snow plowing, and roadbed and surface repair. When the highways fail, so will the power grid, as highways carry the parts, large transformers, steel for pylons, and high tension cables from great distances. With the highways out, there will be no food coming from far away, and without the power grid virtually nothing modern works, including home heating, pumping of gasoline and diesel, airports, communications, water distribution systems, waster water treatment, and automated building systems. — in Energy Bulletin.


Peak oil - keep your eye on the donut and not the hole, by Chris Shaw



You see, to find and exploit an oil deposit, we need to expend quite a lot of oil energy. Oil is the supreme example of compact energy, so we have all enjoyed the abundance of "spare" energy left over. As the easy stuff is used up, we arrive at the point where we must finally expend a whole barrel of oil to produce a barrel of oil. Approaching this point, rising oil prices simply express the diminishing proportion of "spare" energy left over for distribution.

Once the net energy return is zero, it's over ... no matter how much oil is tantalisingly "still down there". For the same reasons, less accessible or poor quality oil deposits can be very short-lived. At the finish, the price of oil is immaterial. One cent or one million dollars a barrel - it's over.

...Would you think me a jester if I said that the one true currency is energy? It always was and always will be. Economics is the game of Tiddlywinks that we can afford to play only in the midst of easy, abundant energy. Energy is the donut, economics is the hole. — in Online Opinion.


Leading climate scientist: 'democratic process isn't working'


Protest and direct action could be the only way to tackle soaring carbon emissions, a leading climate scientist has said.

James Hansen, a climate modeller with Nasa, told the Guardian today that corporate lobbying has undermined democratic attempts to curb carbon pollution. "The democratic process doesn't quite seem to be working," he said.

Speaking on the eve of joining a protest against the headquarters of power firm E.ON in Coventry, Hansen said: "The first action that people should take is to use the democratic process. What is frustrating people, me included, is that democratic action affects elections but what we get then from political leaders is greenwash.

"The democratic process is supposed to be one person one vote, but it turns out that money is talking louder than the votes. So, I'm not surprised that people are getting frustrated. I think that peaceful demonstration is not out of order, because we're running out of time." — guardian.co.uk, Wednesday 18 March 2009 18.31 GMT.


Crude Oil: Uncertainty about the Future Oil Supply Makes it Important to Develop a Strategy for Addressing a Peak and Decline in Oil Production (2007)

“Because development and widespread adoption of technologies to displace oil will take time and effort, an imminent peak and sharp decline in oil production could have severe consequences. The technologies we examined [ethanol, biodiesel, biomass gas-to-liquid, coal gas-to-liquid, and hydrogen] currently supply the equivalent of only about 1% of U.S. annual consumption of petroleum products, and DOE [U.S. Department of Energy] projects that even under optimistic scenarios, these technologies could displace only the equivalent of about 4% of annual projected U.S. consumption by around 2015. If the decline in oil production exceeded the ability of alternative technologies to displace oil, energy consumption would be constricted, and as consumers competed for increasingly scarce oil resources, oil prices would sharply increase. In this respect, the consequences could initially resemble those of past oil supply shocks, which have been associated with significant economic damage. For example, disruptions in oil supply associated with the Arab oil embargo of 1973-74 and the Iranian Revolution of 1978-79 caused unprecedented increases in oil prices and were associated with worldwide recessions. In addition, a number of studies we reviewed indicate that most of the U.S. recessions in the post-World War II era were preceded by oil supply shocks and the associated sudden rise in oil prices. Ultimately, however, the consequences of a peak and permanent decline in oil production could be even more prolonged and severe than those of past oil supply shocks. Because the decline would be neither temporary nor reversible, the effects would continue until alternative transportation technologies to displace oil became available in sufficient quantities at comparable costs. Furthermore, because oil production could decline even more each year following a peak, the amount that would have to be replaced by alternatives could also increase year by year.” — (PDF)

OAM 558 21-03-2009 02:54 (última actualização: 22-03-2009 02:09)

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Crise Global 61

Suspendam-se as execuções de hipotecas, já!

Bancos americanos anunciam suspensão temporária de execução de hipotecas

15-02-2009. O Citigroup e o JP Morgan Chase, dois dos maiores bancos de varejo dos Estados Unidos, informaram que vão suspender os processos de retomada de bens dos mutuários inadimplentes com suas hipotecas, a fim de esperar a implementação do programa que o Departamento do Tesouro dos EUA planeja para reduzir as ações de despejo.

Na sexta, porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que o presidente Barack Obama apresentará na próxima quarta-feira (18) um plano contra os despejos de famílias de imóveis hipotecados. Os detalhes serão dados pelo presidente durante a visita que fará ao estado do Arizona.

Pressão

A decisão dos bancos ocorre após pressão feita por congressistas norte-americanos durante encontro com executivos dos bancos com deputados na câmara dos EUA nesta semana.

No caso do JP Morgan, a suspensão valerá por três semanas. No Citi, a previsão é de que ela dure até o Tesouro detalhar seu programa. A expectativa é de que o governo gaste pelo menos US$ 50 bilhões para reduzir as parcelas mensais atualmente pagas pelos tomadores de empréstimos. -- in nesseinstante.

Enquanto o Bloco Central da Corrupção se desdobra numa miríade de escândalos e sombras, os partidos fora do arco governamental português continuam mentalmente bloqueados numa espécie de catatonia inexplicável, incapazes de avançar qualquer análise lúcida, substancial e objectiva das verdadeiras causas de uma das mais graves crises do Capitalismo, ou de propor sequer uma agenda coerente de mitigação dos efeitos imediatos e mais dramáticos do colapso do modelo neoliberal da globalização.

A inércia predadora instalada pela tríade de piratas que capturou o Partido Socialista tem servido para proteger o descarado comportamento Ponzi do pseudo Banco Privado, tem servido para salvar da transparência o atoleiro de corrupção em que se transformou o BPN, até serviu para renegociar nas melhores condições os atrevimentos financeiros do mediático Joe Berardo, mas não tem servido —antes pelo contrário— para ajudar as vítimas do negócio imobiliário agressivo, sobretudo aquelas que foram atraídas para aquisições temerárias ou simplesmente mal aconselhadas de casa própria pelas mais sofisticadas e sedutoras estratégias de marketing e publicidade. A mesma Caixa Geral de Depósitos que salva milionários e bancos da falência, despeja na rua sem qualquer pudor famílias inteiras das suas próprias casas, cujas hipotecas são executadas seguindo critérios diametralmente opostos àqueles que servem para manter a actual paz podre capitalista neoliberal.

Pois bem, senhores deputados, acordem do vosso estuporado sono e olhem à vossa volta!

Exijam, desde já, deste governo e do presidente da república, uma convergência social de opiniões sobre as execuções assassinas actualmente em curso no sector da habitação, nomeadamente por parte do banco do Estado. Reparem, se vos falta a imaginação, no esforço de Barak Obama. É que ele acaba de empurrar os bancos americanos para uma alteração radical de atitude face às centenas de milhar de famílias falidas americanas, que não podendo satisfazer as respectivas responsabilidades hipotecárias, têm sido literalmente lançadas para gigantescos campos de algo a que poderíamos talvez chamar refugiados do American Way of Life.

Estão há espera de quê, senhores deputados da Assembleia da República, para evitar uma situação trágica semelhante à que a ganância banqueira já conduziu milhões de americanos?

Suspendam-se imediatamente todas as execuções de hipotecas pelo período de um ano, e proceda-se à renegociação dos contratos de modo inteligente, por forma a evitar uma mais do que provável explosão das falências familiares e individuais nos próximos anos.


OAM 536 15-02-2009 23:45

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Crise Global 60

O governo popular de Barak Obama



Continuo a receber regularmente mensagens e vídeos de Barak Obama (1), agora na sua qualidade de presidente dos Estados Unidos da América. Inscrevi-me, por curiosidade, no seu sítio web, quando começou a campanha para as presidenciais. A plataforma eleitoral continua, por incrível que pareça, mais viva do que nunca!

Evoluiu entretanto para um verdadeira rede social de massas, com fortes componentes tecnológicas, de comunicação interactiva e de formação de poder a partir das bases sociológicas que elegeram o actual presidente americano. Chama-se Organizing for America.

O modelo, ainda que mais elegante e tecnológico, é aparentemente o mesmo há muito seguido, entre outros, por Fidel Castro e Hugo Chávez! Mas será mesmo?

Vamos precisar de algum tempo para avaliar o potencial desta verdadeira guarda pretoriana no extraordinário jogo de cintura que o novo presidente americano terá que evidenciar para conseguir levar por diante o seu plano. A verdade é que a situação da América é desesperada. E não vai ser nada fácil lidar com a enorme corrupção que tomou conta de Washington juntando democratas e republicanos nas mesmas práticas de tráfico de influências e subserviência aos poderosos sectores da finança e indústria da maior potência militar do planeta. O nosso Bloco Central da Corrupção não faz mais do que copiar, em pequenino, tarde e a más horas, este modelo escandalosamente gasto.

Há quem diga que Obama traz uma verdadeira revolução escondida na sua bagagem. Uma revolução pacífica, mas uma revolução mundial... dirigida ao poder desconhecido da mente.

Uma já célebre fotografia, que exibe o actual presidente americano com uma gravata MT ao peito, parece apontar para algo comum em muitos políticos americanos: a necessidade de uma forte motivação "interior". Quem não se lembra da peregrinação de Hillary Clinton a Fátima! No caso de Obama, tudo leva porém a crer que essa força interior reside na Meditação Transcendental — espécie de renascimento futurista das milenares visões védicas do mundo.

O facto de a sua campanha ter começado em Iowa, onde se situa a pequena cidade de Fairfield, sede da Maharishi University of Management e a escassos quilómetros da Maharishi Vedic City, uma cidade-modelo contemporânea desenhada segundo a sabedoria védica, mas incorporando as mais avançadas e inovadoras tecnologias de desenvolvimento sustentável, auto-organização, gestão e comunicação, prenuncia, a ser verdade, uma nova luz para entender a acção de Obama.

O facto de a MT ser tipicamente e em todo o mundo um movimento de quadros técnicos e empresariais da classe média, associado à evidência de a crise americana ser, em primeiro lugar, a maior crise de sempre da própria classe média —ameaçada de extinção pela lógica auto-destrutiva do Capitalismo— faz um especial sentido para o ângulo de visão sugerido pela visita do então candidato Barak Hussein Obama à cidade de Fairfield, onde posou para a fotografia, com o mayor da cidade, usando uma gravata MT.

Ainda que numa perspectiva de alarmismo de direita, muito a jeito das maquinações da FOX, a previsão de uma revolução nos Estados Unidos, como consequência de estar a evoluir rapidamente para o estatuto de uma nação não-desenvolvida ("undeveloped"), foi anunciada em 10 de Novembro de 2008 pelo homem que aparentemente previu a queda da União Soviética, a crise bolsista asiática de 1997, o descalabro do Subprime e a desvalorização sem precedentes da moeda americana. O mau agoiro vem de Gerald Celente, e vale a pena consultar esta referência: Celente Predicts Revolution, Food Riots, Tax Rebellions By 2012.

A recente histeria de Dick Cheney a propósito da política anti-terrorista de Barak Obama, afirmando que a mesma expõe os Estados Unidos "a atentados nucleares ou biológicos muito graves" (SIC), vai na mesma direcção.

Como se pode ler na newsletter do Bloco de Esquerda, há aliás mais gente, desta vez em quadrante radicalmente oposto, a pensar que estamos mesmo no início de uma verdadeira metamorfose:
Numa entrevista à revista inglesa Socialist Review, o marxista István Mészàros analisa a crise económica mundial e critica aqueles que apostam que ela será resolvida trazendo de volta as ideias keynesianas e a regulação. "É uma fantasia que uma solução neo-keynesiana e um novo Bretton Woods resolveriam qualquer dos problemas dos dias atuais", defende Mészàros. Para ele, estamos vivendo a maior crise na história humana, em todos os sentidos.

Não temos escrito neste blogue sobre outra coisa nos últimos três anos. E é por isso que penso ser urgente atacar sem hesitação o Bloco Central da Corrupção, por forma a salvar o PS e o PSD, mas acima de tudo, regenerar a tempo o actual regime democrático, sem o que os desafios que temos pela frente correm sérios riscos de empurrar Portugal para mais uma ditadura, ainda que inicialmente disfarçada de mais democracia! Os artigos recentes de Bagão Feliz —A força da mentira— e de Mário Crespo —Está bem, façamos de conta—não podem ser mais esclarecedores, especialmente junto do grande público, da gravidade da situação em que nos encontramos. Ou a Justiça põe na prisão rapidamente quem lá merece estar, ou Cavaco Silva terá que assumir até ao fim as suas obrigações de Estado.

Entretanto, enquanto governo e parlamento se auto-diluem no charco que criaram, recomendo vivamente a Cavaco Silva e a alguns políticos atentos, como Paulo Rangel, Francisco Louçã, Medina Carreira, Bagão Félix e Campos e Cunha, que leiam atentamente o rol das medidas do programa de estímulos sucessivamente esquissado pelo Congresso, e depois aprovado pela Câmara dos Representantes dos EUA. Servirá, pelo menos, para que aumentemos a fasquia de exigência do Plano de Emergência que há muito reclamo para o nosso país (2).

Breaking Down The Stimulus Bill

06-02-2009 (CNBC) — A comparison of the $827 billion economic recovery plan drafted by Senate Democrats and moderate Republicans with a $820 billion version passed by the House. Additional debt costs would add about $350 billion or more over 10 years. Many provisions expire in two years.


NOTAS
  1. Esta chegou enquanto escrevia este postal:
    Organizing for America
    Antonio --

    Americans have organized Economic Recovery House Meetings in all 50 states -- including 382 in California, 255 in Florida, 115 in Ohio, 199 in New York, 105 in Washington, and 149 in Texas.

    That's more than 3,587 meetings in 1,579 cities and 429 congressional districts.

    This past weekend, meeting hosts and guests watched a video of Governor Tim Kaine answering your questions about the president's recovery plan. Then they shared their own stories about how the crisis has affected them.

    Watch Governor Kaine's video and share your economic crisis story.

    Watch the video

    The media is filled with numbers about the economic crisis. But the numbers do not tell the full story.

    The story of this crisis is in homes across the country -- homes where a family member has lost a job, where parents are struggling to pay a mortgage, and where college tuition has slipped out of reach.

    That's also where the story of our recovery begins -- in communities where repairing roads and bridges, manufacturing green technologies, and rehabilitating our schools and hospitals will directly impact the lives of ordinary people and their families.

    President Obama's recovery plan will help struggling families right now by saving or creating up to 4 million jobs. But it will also help strengthen our economy for the future by investing in crucial infrastructure projects in health care, education, and energy.

    Share your story about how this economic crisis is affecting you and your family and join your fellow Americans in supporting bold action to speed our recovery:

    http://my.barackobama.com/sharestories

    Thank you for organizing so much support at this crucial moment for our country,

    Mitch

    Mitch Stewart
    Director
    Organizing for America

  2. Escrito em Outubro de 2005
    Muito antes das datas previstas nos cenários pró-Ota (...) Portugal ver-se-à na contingência de ter que redesenhar dramaticamente as suas prioridades de desenvolvimento (...). A brutal crise energética chegará muito mais cedo do que se prevê. E antes dela (ainda na vigência do actual governo) chegará também um mais do que provável "crash" imobiliário. Sem precisar de consultar cartas astrológicas, um número crescente de especialistas vem advertindo os governos de todo o mundo para o que se poderá passar num planeta subitamente consciente do declínio acelerado e irreversível das suas duas principais fontes energéticas: o petróleo e o gás natural. Mitigar este cenário mais do que certo exigirá avultados investimentos públicos e privados, que serão tanto maiores quanto mais próximos estivermos do colapso energético global.

    A prioridade das prioridades, em Portugal, como em toda a Europa, é criar uma rede capilar de transportes rodoviários, ferroviários, marítimos e aéreos altamente sustentáveis, divergindo rapidamente da dependência exclusiva dos combustíveis fósseis. Os Estados deverão concentrar-se na construção muito dispendiosa destas infraestruturas (e no apoio à investigação científica e tecnológica apropriada), deixando aos privados o papel de explorar, em regime de concorrência vigiada, o correspondente material circulante: camiões, comboios, barcos e aviões. O transporte individual tal como o conhecemos hoje desaparecerá muito rapidamente, devido aos custos insuportáveis de veículos e combustíveis, mas também devido à insolvência de milhões famílias por essa Europa fora.

    A segunda prioridade inadiável é a autonomia alimentar local. Temos que reconstruir rapidamente as cinturas verdes das cidades com mais de 100 mil habitantes, tendo como objectivo inegociável a criação de capacidades básicas de auto-abastecimento alimentar.

    A terceira prioridade é parar imediatamente com a actividade imobiliária especulativa, interrompendo pura e simplesmente toda a actividade de construção civil desnecessária. Os recursos técnicos, logísticos e humanos até agora empregues nesta actividade inútil e tonta deverão ser desviados para a consecução das grandes obras de infra-estruturas prioritárias a serem lançadas imediatamente como vértice fundamental de uma estratégia de mitigação da aproximação do "crash" energético.

    A quarta prioridade é reorganizar radicalmente o actual aparelho de Estado, eliminando tudo o que for dispensável. Precisamos de um Estado de Emergência. Mais vale perceber isto agora, do que esperar por uma metamorfose repentina, anárquica, tumultuosa e violenta.

    A quinta prioridade é relançar a Democracia...

    in O António Maria, 28-10-2005

OAM 534 09-02-2009 19:07 (última actualização: 10-02-2009 01:07)

domingo, dezembro 07, 2008

Portugal 57



Mutatis Mutandis

Ainda não tomou posse, mas os sinais dados por Barak Obama são claros: não irá permitir que a China, e muito menos a Rússia, explorem para lá dos limites do razoável o actual estado de fraqueza do seu país. A águia americana reduzirá os seus voos altivos, mas não descuidará nenhum dos seus flancos estratégicos. Decidiu finalmente cuidar das feridas. Mas decidiu também que não perderá protagonismo, nem deixará de marcar pela positiva algumas das agendas mundiais mais importantes.

O discurso dirigido este Sábado pelo presidente eleito dos Estados Unidos ao seu país e ao mundo, via YouTube, é um desses documentos preciosos da futura história política do século 21 e da resposta dada aos tremendos desafios com que se deparou e afligiu.

Na substância, o anúncio de Obama irá comprometer a mais diversificada, trabalhadora e criativa nação do planeta no inimaginável esforço de recuperar a economia real dos Estados Unidos ao longo dos próximos quatro anos.

As três prioridades não negociáveis do seu discurso —
  • eficiência energética,
  • educação tecnologicamente avançada,
  • e renovação das infraestruturas degradadas (a começar pelas escolas e estradas municipais)
— irão abrandar fortemente a suicida exportação de recursos financeiros e conhecimento para fora do país, posta em prática desde a década de 1970, em nome de uma produtividade ilusória, cujos efeitos acumulados acabariam por dar no desastre actual.

Uma mais apertada regulação dos mercados e instituições financeiras é praticamente inevitável para atingir o desiderato definido por Obama. Do controlo mais apertado destas porcas do sistema, advirá uma segunda consequência, que ainda ninguém quer discutir, mas que a seu tempo abrirá os telejornais e as cachas da nossa desmiolada "comunicação social". Refiro-me à necessidade de redesenhar os equilíbrios (ou melhor, desequilíbrios) do comércio mundial. A OMC (ou WTO) irá sofrer uma reforma inevitável. A globalização, em suma, será objecto de ajustamentos dramáticos, tendo em vista, por um lado, acomodar os impactos na economia mundial de potências emergentes onde não predominam propriamente regras de transparência e accountability, e por outro, alterar radicalmente a perspectiva neocolonialista e imperialista que tem orientado a imposição dos termos de troca à escala planetária por parte dos países industrializados do G7.

No século 15, portugueses e castelhanos negociaram um célebre Tratado de Tordesilhas para evitarem disputas desnecessárias, e sobretudo ruinosas, entre os dois países. Era o início das grandes descobertas que levariam ao mapeamento integral do mundo. Foi o tempo da novidade e da disponibilidade absoluta do Outro. Camões eternizou o momento nos Lusíadas, ao pintar a Ilha dos Amores com estas cores:

«Sigamos estas Deusas e vejamos
Se fantásticas são, se verdadeiras.»
Isto dito, veloces mais que gamos,
Se lançam a correr pelas ribeiras.
Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos,
Mas, mais industriosas que ligeiras,
Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando,
Se deixam ir dos galgos alcançando.

Os tempos de hoje são infelizmente muito diferentes. São tempos de desgaste, escassez, poluição, ganância sem regra e assimetrias extremas. E os protagonistas de uma nova partilha da Terra, certamente mais do que dois!

Ainda que possamos imaginar uma grande metade Ocidental, e outra Oriental, a verdade é que boa parte dos recursos naturais e tecnológicos se conservam na metade Ocidental do planeta (no continente americano, em África e na Europa). O Atlântico, o Mediterrâneo, os mares interiores da Europa e a Passagem do Noroeste alinham-se sob uma única e vasta aliança potencial. Não tardará muito que a China acabe por empurrar a Rússia para os braços da Europa Ocidental. Mas há uma realidade dramática de que não podemos fugir: 60% da população mundial vive na Ásia! E boa parte das reservas petrolíferas mundiais situam-se nas juntas entre a Ásia, a Europa e África, isto é, no explosivo Médio Oriente, onde o conflito Israel-Árabe vem desempenhando desde 1917 (Balfour Declaration) a função de uma verdadeira válvula de escape das tensões geo-estratégicas que se jogaram ao longo de todo o século 20 em volta das principais reservas mundiais de petróleo.

A haver uma nova Tordesilhas, que a sobrevivência dos Estados Unidos e da Europa a prazo exige, será seguramente um bordado bem mais complexo que a linha situada algures a 370 léguas do arquipélago de Cabo Verde. Mas duma coisa estou certo: o discurso de Obama emitido pelo YouTube este Sábado, que não entusiasmará Wall Street, vai abrir a discussão sobre o futuro imediato da globalização.

No que toca à União Europeia, que pelos vistos continua a navegar nos mares alterados do mais imbecil oportunismo, poucas alternativas haverá que não passem por ouvir e seguir Obama. O novo senhor da América tem uma visão amadurecida dos problemas, e sobretudo das soluções. Por outro lado, a sua campanha presidencial fez emergir de forma definitiva a Internet (ver o canal Change.gov) como meio insubstituível da interacção democrática na era pós televisiva. Se mantiver o rumo até agora traçado —eficiência energética, educação avançada, e renovação das infraestruturas— , a Europa não poderá se não segui-lo. Mudando o que há mudar, claro!


PS: O Blogger acaba de implementar um widget (no canto superior direito deste blogue), chamado Seguidores, o qual dá visibilidade aos meus leitores frequentes. Para fazer parte deste mini clube de fãs é no entanto necessário abrir uma conta no Gmail. A decisão é vossa. Bem-vindos ;-)


OAM 488 07-12-2008 20:22

quarta-feira, novembro 05, 2008

Sonho Americano

Good morning Mr. President!



A expectativa nunca foi tão grande, e o tempo para lhe corresponder tão curto!

Acabo de ouvir o discurso de vencido de John McCain. A comoção de que a primeira e grande referência das democracias ocidentais continua a morar na América foi instantânea e eloquente. De algum modo, o discurso deste homem -- que certamente irá provocar grandes alterações no corrupto Partido Republicano --, era fundamental para conferir à vitória de Barack Obama toda a dimensão histórica que efectivamente tem, não só para o seu país, mas também para o resto do mundo, e em particular para os continentes e países que bordejam o Oceano Atlântico, já que o Pacífico e o Índico deixarão em breve de ser mares americanos.

Os Estados Unidos vivem aquela que é a sua maior crise de sempre. Não se trata apenas de uma gigantesca crise financeira e económica, muito mais profunda e desestruturante do que a crise de 1929, mas também de uma crise de hegemonia, ou melhor dito, de cedência e partilha imperial. Conjuga-se, pois, o fim de uma certa economia com o fim de uma certa política.

Sendo há pelo menos uma década o país mais endividado do mundo, ao mesmo tempo que continua a ser o mais consumista e maior devorador mundial de recursos energéticos, a pátria das oportunidades ao longo de mais de um século tem vindo a transformar-se num pesadelo para mais de 250 milhões de pessoas. Os Estados Unidos andam hoje de chapéu na mão pelas chancelarias asiáticas e do Médio Oriente em busca de dinheiro e perdões de dívida, como se fossem um qualquer pária da comunidade internacional. Foi para mudar este estado de coisas que uma ampla maioria dos americanos elegeram Barack Obama.

O principal problema da América (como da Europa) são dois: viver acima das suas possibilidades, endividando-se em cascata por causa desta filosofia de vida; e exportar temerariamente boa parte das suas capacidades produtivas para os países de mão de obra barata e sem direitos sociais, deteriorando pelo caminho de forma perigosa os termos de troca internacional, as liberdades, os direitos sociais e o emprego nas democracias ocidentais.

O colapso da indústria automóvel nos Estados Unidos e na Alemanha, depois da implosão do sistema financeiro que prossegue o seu rasto de destruição, é a prova provada do curso suicida das principais democracias mundiais. Estas democracias -- que foram sequestradas pela ganância das máfias e tríades que paulatinamente se infiltraram em todos os interstícios vitais dos seus sistemas de poder --, ou aproveitam a gravidade da actual crise, e a eleição de Barack Obama, para redesenhar a ética da redistribuição mundial, em nome de novos equilíbrios dinâmicos, e justificáveis partilhas de soberania regional, ou caminharão inexoravelmente para uma triste e duradoura subalternidade económica, política e cultural.

Como é evidente, esta hipótese de declínio duradouro convoca todos os demónios escondidos de uma sempre possível depuração nuclear e bioquímica da humanidade. A mais importante missão das almas civilizadas deste planeta é evitar que o relógio do eclipse termonuclear e bioquímico continue o seu macabro tique-taque. A única forma de travar os demónios de Marte passa pelo uso radicalmente livre do pensamento e da criatividade. As ideologias do século 19, que perduraram durante todo o século 20, e ainda infestam boa parte dos neurónios partidários que ocupam as instâncias legitimadas do exercício do poder, não servirão para resolver coisa nenhuma. Basta ouvir uma única discussão entre José Sócrates e os parlamentares da Assembleia da República para percebermos que, não havendo porventura tempo útil para reformar drasticamente, no curto prazo, o actual regime, caberá forçosamente à cidadania electrónica participativa o dever de pressionar os decisores políticos, económicos, sociais e institucionais, na direcção que melhor convenha ao bem comum, e sobretudo ilumine de forma credível uma saída para a dramática encruzilhada civilizacional em que nos encontramos todos.

Até ao fim de 2008 Barack Obama irá definir o seu plano de ataque aos problemas que afligem a América e o mundo. No dia 20 de Janeiro de 2009 saberemos se Barack Obama terá ou não coragem para fazer o que tem que ser feito, ou seja, recuperar a economia americana pela única via possível: pelo trabalho e pela produção, trocando o consumismo desmiolado pelo fortalecimento cognitivo e cultural de todo um povo.

Mas para aqui chegar será inevitável criar uma nova moeda americana, porventura uma moeda regional, semelhante ao euro. Será inevitável alterar radicalmente as regras do comércio mundial, regressando a formas inteligentes e justas de proteccionismo económico e financeiro. Será inevitável estabelecer uma linha divisória entre o ascenso fulgurante do poder asiático, protagonizado pela China, e a conservação estratégica do potencial económico, político e cultural da Euro-América. Mais cedo ou mais tarde, e quanto mais cedo melhor, Estados Unidos e Europa terão que negociar com a China um novo Tratado de Tordesilhas que estabeleça o quadro de concorrência criativa e estabilidade civilizacional para todo o século 21. Menos do que isto será uma desilusão, e a extraordinária eleição de Barack Obama terá sido em vão.

OAM 470 05-11-2008 11:37