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sexta-feira, junho 12, 2015

Deutsche Bank a três passos do lixo (BBB+) !



Vem aí um Lehman Brothers Made in Germany?


E se o 12º maior banco do mundo, o Deutsche Bank  (DB), estivesse já numa espiral implosiva? A sua exposição ao mercado de derivados financeiros é superior ao PIB mundial!!!

Os sinais abundam e o pânico que parece ter tomado subitamente conta de Angela Merkel e François Hollande perante o incumprimento grego de 5 de junho é porventura o mais avermelhado aviso do buraco negro que poderá, de um momento para o outro, abrir-se diante do euro, mas também do dólar.

Tem muito dinheiro no DB? Mais de 50 mil euros? Mude-os para o BPI, para o Crédito Agrícola, ou mesmo para a Caixa Geral de Depósitos!

Nós avisámos: No Grexit / Grécia—1, Alemanha—0

Here’s a re-cap of what’s happened at Deutsche Bank over the past 15 months:
  • In April of 2014,  Deutsche Bank was forced to raise an additional 1.5 Billion of Tier 1 capital to support it’s capital structure.  Why?
  • 1 month later in May of 2014, the scramble for liquidity continued as DB announced the selling of 8 billion euros worth of stock at up to a 30% discount.   Why again?  It was a move which raised eyebrows across the financial media.  The calm outward image of Deutsche Bank did not seem to reflect their rushed efforts to raise liquidity.  Something was decidedly rotten behind the curtain.
  • Fast forwarding to March of this year:   Deutsche Bank fails the banking industry’s “stress tests” and is given a stern warning to shore up it’s capital structure.
  • In April,  Deutsche Bank confirms it’s agreement to a joint settlement with the US and UK regarding the manipulation of LIBOR.   The bank is saddled with a massive $2.1 billion payment to the DOJ.  (Still, a small fraction of their winnings from the crime). 
  • In May,  one of Deutsche Bank’s CEOs, Anshu Jain is given an enormous amount of new authority by the board of directors.  We guess that this is a “crisis move”.  In times of crisis the power of the executive is often increased.
  • June 5:  Greece misses it’s payment to the IMF.   The risk of default across all of it’s debt is now considered acute.   This has massive implications for Deutsche Bank.
  • June 6/7:  (A Saturday/Sunday, and immediately following Greece’s missed payment to the IMF) Deutsche Bank’s two CEO’s announce their surprise departure from the company.  (Just one month after Jain is given his new expanded powers).   Anshu Jain will step down first at the end of June.  Jürgen Fitschen will step down next May.
  • June 9: S&P lowers the rating of Deutsche Bank to BBB+  Just three notches above “junk”.  (Incidentally,  BBB+ is even lower than Lehman’s downgrade – which preceded it’s collapse by just 3 months)
And that’s where we are now.  How bad is it?  We don’t know because we won’t be permitted to know.  But these are not the moves of a healthy company.

Deutsche Bank The Next Lehman?
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 06/12/2015 12:15 -0400 

quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Alemanha exportou demais


source: tradingeconomics.com

A Alemanha sofre de uma dependência obsessiva das exportações. Provavelmente esta dependência levou-a a cometer um erro fatal: subsidiar os seus clientes, nomeadamente através da criação do euro (uma moeda com duas caras muito diferentes, como viemos todos a constatar), e do laxismo orçamental induzido por uma política de destruição das taxas de juro e créditos de risco muito para além do razoável.

À medida que este modelo artificial de crescimento foi começando a dar de si, a Alemanha e em geral o sistema financeiro europeu, mais os indigentes governos democráticos que controla de cima abaixo, embarcaram na grande aventura dos contratos de futuros especulativos (OTC), destinados a aumentar indefinidamente a capacidade de investimento e de comércio de bens e serviços, sem cuidar se a liquidez artificial gerada e a velocidade do dinheiro traduziam uma criação efetiva de valor.

Como não correspondia, o endividamento público e privado foi crescendo sem parar, e a par deste descalabro outro houve ainda maior: a especulação financeira criminosa que nos trouxe ao colapso para que caminhamos como lémures.

Escreve a AICEP:

Embora tenha vindo a perder quota de mercado nos últimos anos, a UE27 continua sendo o principal parceiro comercial da Alemanha, tendo, em 2013, absorvido 55,5% das exportações e fornecido 55,4% das importações, destacando-se a França como principal parceiro comercial do lado das exportações (9,0% do total) e os Países Baixos do lado das importações (8,9%).

Alemanha. Ficha de Mercado.
AICEP, fevereiro de 2015

Tudo isto é verdade, mas se a Alemanha andou a subsidiar as importaçoes nos países destinatários através de estímulos financeiros aos orçamentos, nomeadamente públicos, dos seus clientes, então pode talvez afirmar-se que andou a brincar com o fogo.

Basta ver o gráfico da exposição do Deutsche Bank aos derivados especulativos.



quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Grexit? (2)

Quem deve o quê e a quem?

Todos ralham... mas nem gregos, nem troianos têm razão


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Does Anyone Remember 2007? The Global Debt Bubble In 3 Ominous Charts
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 12:08 -0500

Seven years after the bursting of a global credit bubble resulted in the worst financial crisis since the Great Depression, debt continues to grow. In fact, as McKinsey explains in their latest report, rather than reducing indebtedness, or deleveraging, all major economies today have higher levels of borrowing relative to GDP than they did in 2007. They pinpoint three areas of emerging risk: the rise of government debt, which in some countries has reached such high levels that new ways will be needed to reduce it; the continued rise in household debt; and the quadrupling of China’s debt, fueled by real estate and shadow banking, in just seven years... that pose new risks to financial stability and may undermine global economic growth.
Keiser Report — Episode 714

In this episode of the Keiser Report back in London, Max Keiser and Stacy Herbert discuss the Greek situation and that a nation is not what it thinks it is but what others attempt to hide about that nation - like the fact that it is bankrupt. They discuss the role Goldman Sachs played in helping Greece hide its debts and, thus, strapping it to the euro and the mispricing of real risk by well-compensated bond investors lending to Greece at ultra low interest rates. They also discuss that, while deflated footballs was the main headline on the nightly news in America, a memo was delivered to Obama outlining the various ways that brokers defraud American investors of years worth of retirement income.

Keiser Report en español: La verdad sobre Grecia (E714)
Publicado: 3 feb 2015 15:17 GMT | Última actualización: 3 feb 2015 15:17 GMT

Os bancos, os fundos de pensões, o investimento financeiro de poupanças privadas, e os fundos de investimento especulativo ganharam até hoje rios de dinheiro com os governos e as suas dívidas soberanas. Foi assim até que um belo dia estes investimentos, parte dos quais pertencem a fundos de pensões, públicos e privados, de inúmeros países, começaram a dar cada vez menos retorno, nomeadamente por efeito das políticas monetárias expansionistas dos governos dos países mais ricos do mundo, por sua vez, cada vez mais ávidos de recursos financeiros.

Os estados cresceram desmesuramente depois da Segunda Guerra Mundial, em número de funcionários, em responsabilidades sociais, em despesas de capital e consumos intermédios, muito para além das receitas fiscais que é razoável extrair dos rendimentos da riqueza efetivamente produzida. Daí o endividamento sistémico que atinge hoje, como uma espécie de peste negra, cerca de cinquenta países, e algumas das maiores economias mundiais: Japão, Itália, Reino Unido, Espanha, França, Estados Unidos, Alemanha, etc. O mundo inteito tem hoje uma dívida pública na ordem dos 64%, acima, portanto, do limite estabelecido pela União Europeia para a dívida pública de cada um dos seus membros.

Como resultado desta degradação orçamental dos estados subiu o apetite soberano pelo endividamento, mas as aplicações em dívidas soberanas foram sendo, apesar desta procura maciça, remuneradas com taxas de juro cada vez menores, partindo-se do princípio que os governos não iam à falência. Este contrasenso foi o resultado de uma montagem cuidadosa das chamadas agências de notação financeira. Na realidade, à degradação orçamental dos países correspondia, de facto, um risco cada vez maior, escondido, porém, debaixo das famosas notações triplo A.

O facto de este risco, após os colapsos do Subprime, e do banco Lehman Brothers, ter passado rapidamente a ser compensado pela exigência de dividendos (yields) mais elevados, com repercussões diretas nos juros a pagar pelos devedores, não resolveu todos os problemas.

Quando os juros implícitos das dívidas soberanas disparam para valores de 7% ou mais, é o próprio sistema financeiro que entra em terra incognita.

Os principais dirigentes mundiais sabem disto, mas alimentaram o conúbio entre poder político e poder financeiro durante mais de 30 anos. Basicamente, desde 2000, ou 2006, estamos no fim dum ciclo longo de crescimento inflacionista, o qual durou mais ou menos 120 anos—desde 1886, ano do jubileu da Rainha Victoria, até 200, início da crise do Subprime.


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The Death Cross Of American Society
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 15:26 -0500

As BofAML warns, if Main St. doesn’t recover this year on the back of the powerful cyclical combo of lower oil/rates/currencies then the specter of “policy failure” will haunt investors, and currency wars, debt default and deficit financing will become macro realities.

Os sintomas desta crise anunciada começaram a revelar-se claramete durante a primeira grande crise petrolífera, em 1973.

Desde o tempo de Ronald Reagan que os governos americano e europeus começaram a endividar-se, em conúbio com os bancos e as elites financeiras, garantindo desta forma que as economias cresceriam, ainda que artificialmente, nomeadamente através de várias estratégias conjugadas:

  • expansão do mercado de capitais;
  • endividamento público e privado através de crédito barato e aumento da massa monetária em circulação;
  • privatização progressiva dos setores públicos das economias;
  • controlo artifical da inflação—abaixo dos 2%, como repete até à exaustão o BCE;
  • criação de emprego não produtivo, nomeadamente nas áreas da educação e serviços;
  • assalto aos principais países produtores de matérias primas e alimentos;
  • globalização financeira e comercial;
  • informação estatística obscura, também conhecida por massagem criativa dos números!

No entanto, esta tentativa de parar a tendência inevitável para o fim de mais uma era prolongada de crescimento rápido, ou inflacionista (D H Fischer), cuja tendência subterrrânea é a incapadidade da oferta agregada global satisfazer a procura agregada global, não resultou. Ainda que tenha conseguido prolongar artificialmente a ilusão da prosperidade para todos, a verdade começa a vir ao de cima com um conhecido cortejo de desgraças: queda progressiva e consistente dos rendimentos do trabalho, mas também dos rendimentos da propriedade, da poupança e do investimento, destruição maciça de empregos, falências imparáveis de empresas, deflação, colapso social, e alterações políticas e culturais tendencialmente radicais.

As estratégias neo-keynesianas, conjugadas com o crescimento dos chamados países emergentes, boa parte dos quais havia estado sob um domínio colonial centenário, tiveram como efeito principal a criação de uma bolha especulativa global incontrolável. Só o mercado dos chamados derivados financeiros especulativos (Over The Counter—OTC), representa um potencial destrutivo na ordem de 10xPIB mundial. Se apenas 10% destes contatos especulativos derem para o torto, o buraco negro será da ordem do 1xPIB mundial.

É por isto que uma crise extrema como a da Grécia poderá ser tão explosiva e desencadear um inesperado efeito dominó.

Todos ralham, mas ninguém razão.

Mas para deixar um gosto menos amargo na boca do leitor aqui vai um remake divertido de Tom Jones ;)





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quarta-feira, janeiro 28, 2015

O nó grego. Alemanha isolada?

Alexei Tsipras visitou em Kaisariani a campa dos duzentos ativistas gregos, na sua maioria comunistas, fuzilados pelos nazis em maio de 1944.

Parece que a Alemanha vai perder mais uma guerra


A Alemanha, que é tão extraordinária em tanta coisa, como no fabrico de automóveis e lentes fotográficas, ou na sua Filosofia, tem, no entanto, o mesmo problema do Francisco Louçã: pensa de maneira quadrada. Ou seja, a sua sensibilidade e capacidade de manobra são iguais a zero. Sempre que é conveniente contornar um obstáculo, o quadrado mal se move, pois, para chegar a qualquer um dos outros três lados do polígono, precisa de realizar um esforço enorme para vencer a inércia.

Todos sabemos que os oportunistas do sul da Europa se aproveitaram do súbito mas falso enriquecimento proporcionado pela entrada numa zona monetária forte. Sem produzirem o suficiente para o poder aquisitivo que lhes saiu na rifa, de um dia para o outro, desataram a comprar Golfs, Audis, BMWs, Mercedes e Porshces. E não ficaram por aqui. Especularam com terrenos e construiram milhares de empreendimentos imobiliáros para nada, construiram pontes para lado nenhum, autoestradas vazias, fecharam e venderam empresas em catadupa porque, de repente, o que produziam ficou mais caro do que sul-americanos, africanos e asiáticos exportavam para a Europa. Dedicaram-se aos casinos financeiros, que davam mais proveitos e prestígio do que a maçada de criar valor. E, para culminar tudo isto, endividaram os respetivos estados até à ruína, em nome de excelentes serviços de saúde, educação para todos, pensões de reforma para quem trabalhou e não trabalhou, e ainda mordomias sem fim e salários milionários para os principais rendeiros e devoristas dos novos e mui populistas regimes democráticos (outra aquisição repentina e mal digerida, claro). Em cima de tudo isto, a cereja da corrupção galopante—uma consequência previsível do abandono da ética, e da arrogância, protagonizados desde logo e em primeiro lugar pelas partidocracias instaladas.

Isto é tudo verdade, mas falta acrescentar um ponto: a Alemanha e os países ricos da Eurolândia contribuiram e beneficiaram como ninguém desta mentira económica, social e ética.

“...the conclusion is that Greece’s crisis is the EU’s fault, and the EU should “pay” via the debt write-offs that Syriza wants.” — Steve Keen, “It’s All The Greeks’ Fault”, Forbes, 21/1/2015.

Os gráficos (aqui e aqui) mostram que
  1. antes do euro a produção industrial da Grécia, Espanha e Itália cresciam mais depressa que a produção alemã, mas mais devagar do que esta última assim que foi criada a zona euro; e
  2. que o desemprego, a dívida pública, e o rácio da dívida privada face ao PIB se agravaram, e o desendividamento privado foi mais acentuado na Grécia e na Espanha do que nos Estados Unidos, quando comparados os gráficos homólogo, única e exclusivamente por efeito da austeridade. 
Mas há mais:

Por um lado, não podemos isolar o problema do endividamento e sobretudo das responsabilidades financeiras futuras do estado social grego, do resto da Eurolândia, como no gráfico seguinte bem se demonstra. 418% do PIB alemão são qualquer coisa como $15 592 490 980 000, enquanto que 875% do PIB grego são algo parecido com $2 115 058 750 000, ou seja, mesmo considerando as responsabilidades por cabeça, os números são desfavoráveis à Alemanha: $193 055/hab na terra da senhora Merkel, contra $192 418 /hab na terra do senhor Alexei Tsipras.



E mais ainda:

O sistema bancário grego está sob um enorme e orquestrado ataque financeiro especulativo. Teme-se pela segurança bancária grega, dizem. Mas a verdade é outra: o que se realmente se teme é que a crise grega possa revelar o grau de exposição criminosa da banca alemã, nomeadamente do Deutsche Bank, ao buraco negro dos derivados especulativos. Se não, reparemos no gráfico seguinte:



Vale a pena ler o comentário publicado pelo Zero Hedge sobre o artigo do The Wall Street Journal sobre esta bomba-relógio:

NY Fed Slams Deutsche Bank (And Its €55 Trillion In Derivatives): Accuses It Of "Significant Operational Risk"

Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 07/22/2014 20:41 -0400

First it was French BNP that was punished with a $9 billion legal fee after France refused to cancel the Mistral warship shipment to Russia (which promptly led to French National Bank head Christian Noyer to warn that the days of the USD as a reserve currency are numbered), and now moments ago, none other than the 150x-levered NY Fed tapped Angela Merkel on the shoulder with a polite reminder to vote "Yes" on the next, "Level-3" round of Russia sanctions when it revealed, via the WSJ, that "Deutsche Bank's giant U.S. operations suffer from a litany of serious problems, including shoddy financial reporting, inadequate auditing and oversight and weak technology systems."

What could possibly go wrong? Well... this. Recall that as we have shown for two years in a row, Deutsche has a total derivative exposure that amounts to €55 trillion or just about $75 trillion. That's a trillion with a T, and is about 100 times greater than the €522 billion in deposits the bank has. It is also 5x greater than the GDP of Europe and more or less the same as the GDP of... the world.

Que se passa então para lá da poeira e do fumo criados pela artilharia mediática?

Infelizmente só há uma explicação: a Alemanha tentou, mais uma vez, conquistar a Europa, usando desta vez uma estratégia sobretudo financeira. Uma vez mais falhou. E uma vez mais falhou porque traíu simultaneamente os compromissos com os aliados atlânticos, e com a Rússia!

Tal como nas anteriores tentativas de hegemonia, a Alemanha procurou resolver simultaneamente o problema do acesso ao mar e o problema da energia. Aceder à Eurásia, ao Atlântico e ao Mediterrâneo sem pedir licença, nem pagar taxas a ninguém, foi sempre um desejo racional, mas ilegítimo. Desta vez, caiu na armadilha americana de tentativa de isolamento da Rússia, aceitando expandir a NATO para os antigos países da Cortina de Ferro, ignorando que tal movimento seria sempre avaliado por Moscovo como uma ameaça intolerável.

A resposta de Moscovo foi estrategicamente contundente: interromper o fornecimento de gás natural (a energia rainha do século 21) à Europa via Ucrânia, e apostar num novo gasoduto a sul, com entrada europeia pela... Grécia!

A complicação está montada, e não é nada interessante para a Alemanha, a Holanda, e os países do Báltico.

Sinais eloquentes: os dois primeiros atos do novo governo grego foram uma homenagem aos comunistas fuzilados pelos nazis em Kaisariani, em 1944, e a receção do embaixador da Rússia, que já prometeu fornecer alimentos à Grécia, e o mais que for preciso.

A Rússia ameaçou o Ocidente com uma escalada sem precedentes da tensão existente se Wall Street, Londres e Frankfurt se atreverem a expulsar o país de Putin da SWIFT, a Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Globais.

A Rússia e a China são dois poderes globais a que a Grécia certamente recorrerá no seu desafio à arrogância paternalista do senhor Schauble.

Como em tempos escrevi, em vez de a Grécia sair do euro, pode acontecer que seja a Alemanha a regressar ao marco.

segunda-feira, dezembro 15, 2014

Há que enxotar alguns abutres

Abutres têm função ecológica, mas não podem dominar...

A tensão financeira mundial aproxima-se de patamares explosivos


O estádio especulativo avançado do capitalismo é um sinal incontroverrso do seu rápido declínio. Tal não significa, porém, que saibamos o que vem a seguir. Socialismo utópico não será certamente.

A economia real decresce, os rendimentos reais do trabalho decrescem, o valor real dos ativos tangíveis (imobiliário, energia, matérias primas, obras de arte, etc.) decresce à medida que as bolhas em que são colocados rebentam, o valor real do dinheiro decresce (crescendo artificialmente a massa monetária virtual), a capacidade de aquisição e o consumo descrescem (apesar da deflação), mas, no meio desta implosão colossal, o valor dos ativos especulativos imateriais, como as dívidas soberanas, os balanços dos bancos, os volumes da especulação bolsista (todos financiados pelos bancos centrais americano, europeu, japonês, chinês, etc.) disparam para níveis estratosféricos.

Como é evidente, perante esta mistura explosiva, os governos, apesar de corruptos, não querem ter a mesma sorte da Maria Antonieta. Logo, a solução é mesmo subordinar a babélia do endividamento, começando por destruir as expetativas dos fundos de especulação que nas últimas décadas foram confluindo no mercado dos derivados financeiros OTC e similares à procura de rendibilidade.

É o momento de enxotar os abutres, pois não só comem carne podre, como começaram a comer também a viva!

Fundos internacionais avançam para tribunal europeu contra resolução do BES
14 Dezembro 2014, 12:41 por Jornal de Negócios com Bloomberg

Os detentores de quase metade da dívida subordinada que o BES emitiu em Novembro de 2013 e que foi colocada no "banco mau" no processo de resolução do banco, já avançaram com processos no Tribunal Geral da União Europeia.

Segundo a agência de notícias Bloomberg, são cerca de 20 os queixosos que pedem ao tribunal que anule a medida de resolução aplicada ao BES e que passou pela divisão do banco em duas instituições. No "banco mau" ficaram os 750 milhões de euros em dívida subordinada emitida em Novembro de 2013, enquanto a dívida sénior foi transferida para o Novo Banco.

São sobretudo fundos internacionais, entre eles o brasileiro BTG Pactual e o norte-americano Third Point (do conhecido investidor activista Daniel Loeb), que avançaram para o Tribunal de Justiça Europeu, numa acção intentada pela firma de advogados Shearman & Sterling LLP.

Ler mais

segunda-feira, maio 12, 2014

Crescimento? Onde?

Dois gráficos ilustrativos do não crescimento


Europa: desde 2007 que deixou de haver financiamento à economia

Japão: maior dívida soberana do planeta soma-se a contas externas negativas.

Crescimento zero não é problema.

O problema é que a economia e a segurança social dos países estão a ser engolidos pelo buraco negro da especulação financeira (derivados financeiros OTC) gerado pela carestia inevitável do petróleo e dos recursos naturais em geral, pela imparável intensidade energética e financeira da produção tecnológica, e pelo subsequente endividamento incontrolado dos governos, bancos, empresas e famílias em todo o mundo.

Solução?

Só consigo imaginar, infelizmente, a continuação do colapso em curso à escala global :(

sábado, novembro 09, 2013

Buraco negro dos derivados diminui


Uma nova divisão do mundo a caminho

Here is a typical example of how the huge Derivatives Beast is ignored by economists pretending to understand what is going on in the world.  I have explained for years how the derivatives game suddenly appeared during the years banks were deregulated and offshored.  This game meant NO CAPITAL was needed for lending and bankers lent money they didn’t have to all and sundry with wild abandon.  Then, when debt deals went bankrupt, there was no capital base to cover losses and the entire system suddenly collapsed in 2008.

Derivatives Contraction Is Leading Cause Of Bank Deflation And Credit Crunch: Economists Ignore This Fact | Culture of Life News.

O gráfico mais importante dos últimos meses: a recapitalização dos bancos e nomeadamente dos grandes bancos de investimento e especulação está a servir sobretudo para diminuir a exposição destes ao buraco negro dos derivados financeiros, o qual, como mostra o gráfico, tem vindo a diminuir.

Esta recapitalização está a ser feita à custa do aumento do endividamento público (são os governos e os bancos centrais que emprestam dinheiro aos bancos para que estes ensopem a trampa que fizeram), mas também da inflação monetária e da subsequente deflação do valor do dinheiro pela via da destruição das taxas de juro (Mario Draghi acaba de baixar a taxa de referência do BCE para 0,25%), e ainda de uma interrupção severa e prolongada do crédito às empresas e às pessoas.

O dinheiro entra a custo zero nos bancos e fica por lá para ensopar o buraco negro dos derivados especulativos. Ou seja, salvar o sistema bancário e financeiro significa promover a destruição parcial da economia, do emprego e das poupanças de centenas de milhões de europeus e americanos e ainda o aumento das responsabilidades sociais dos estados que se vêem confrontados com o aumento súbito das despesas sociais causadas pelo desemprego e pela pobreza crescente.

É fácil de entender, mas as máquinas de propaganda dos governos corruptos de ambos os lados do Atlântico (e as correspondentes Oposições rotativistas) mentem todos os dias aos seus cidadãos.

É preciso tapar o buraco dos derivados; é preciso diminuir o consumo público e privado conspícuo e não reprodutivo; é preciso reequilibrar a balança mundial entre produtores e consumidores (a que chamo Tratado de Tordesilhas 2.0 — e de que a nova aliança comercial em preparação, entre a América e a Europa, é um claro sintoma); é preciso ajustar com prudência e muito saber a redistribuição da riqueza mundial num quadro historicamente marcado pelo fim dos recursos energéticos, industriais e alimentares baratos.

A procura agregada global excede a oferta agregada global, e o inevitável ajustamento vai passar por duas ou três décadas de empobrecimento das classes médias e de instabilidade social dramática. Neste ajustamento, os sábios conseguirão salvar os navios no meio da tempestade. Os ambiciosos sem limite e os cretinos irão ao fundo :(

quarta-feira, maio 01, 2013

Swapilândia cor-de-rosa

Carlos Costa Pina transitou do governo de Sócrates para a Ongoing (i Online)

É enorme a responsabilidade da Esquerda no colapso de Portugal

Perdas nos "swaps" cresceram para 2.840 milhões de euros

No final do ano passado as perdas potenciais com instrumentos de cobertura do risco de taxas de juro, nas empresas públicas, chegaram aos 2.840 milhões de euros. Um agravamento de 183,2 milhões nos últimos três meses de 2012. Esta é a fotografia oficial mais actualizada da "caso dos 'swaps'" — in Jornal de Negócios.

Portugal demorará 25 anos a ter dívida abaixo de 60% do PIB

Segundo o Documento de Estratégia Orçamental (DEO), entregue hoje na Assembleia da República, Portugal terá uma dívida pública dentro dos limites dos Tratado de Maastricht apenas em 2037, ou seja, dentro de 25 anos — in Jornal de Negócios.

Os derivativos são, por definição, veículos sem controle!
Da Caixa Geral de Depósitos ao BCP, passando pelo BPI, Santander-Totta e BES, há segredos que precisam de ser revelados quanto antes. Como irá o governo continuar a financiar as dívidas pública e orçamental? Haverá quem nos empreste dinheiro suficiente para acedermos aos fundos do QREN? O ciclo eleitoral que se avizinha não podia ser pior conselheiro para a malta irresponsável dos partidos. Vai ser uma procissão de perigosas baboseiras — in O António Maria, 29 set 2008.

Como já se temia, e no fundo se sabia desde 2008 (alertámos então para a bomba-relógio), PSD, e sobretudo o PS de José Sócrates, enterraram o país em derivados especulativos (1).

O ‘socialista’ António Vitorino, presidente da AG do Santander-Totta, e o ‘socialista’ Carlos Santos Ferreira, que transitou em 2005 da Estoril-Sol (de Stanley Ho) para a Caixa Geral de Depósitos (até 2008), devem explicações ao país. E António José Seguro tem que tirar a cabeça da toca onde a enfiou durante todo o congresso, e vir a terreiro explicar qual é a posição do Partido Socialista sobre este monumental escândalo. Quer ou não o candidato a primeiro-ministro saber o que se passou? Exige ou não o apuramento de responsabilidades? Está ou não disposto a retirar todas as consequências desta monumental irresponsabilidade cometida por camaradas seus no anterior governo?

O Bloco Central, da estupidez, da irresponsabilidade, da endogamia, da ganância e da corrupção é o principal culpado do colapso do país, em associação ilegítima e frequentemente criminosa com os ‘banksters’, os rendeiros, as corporações (patronais, profissionais e sindicais), e a nomenclatura nepotista e partidocrata do regime. Os 90% de portugueses que o regime pretende continuar a sangrar, se possível mesmo, com mais intensidade, apenas cometeram um pecado: confiar nas promessas eleitorais de uma partidocracia populista aparentemente inimputável.

Temos que colocar um ponto final a esta destruição criminosa do país.

Como? Separando as águas, identificando claramente os responsáveis, nomeadamente do PSD, do CDS-PP, do PS, do PCP, do Bloco, da Intersindical e da UGT, com responsabilidades no endividamento aventureiro dos portugueses, e organizando a resistência democrática ao que nos espera (se nada fizermos) ao longo de toda esta década e da próxima: a maior espoliação de que há memória das poupanças e haveres da esmagadora maioria dos portugueses.

Partidos e bancos, ambos falidos, olham para as casas, quintas e quintais dos portugueses, olham para os seus pinhais e micro-empresas, olham para as suas poupanças, com uma gula nunca vista. Se deixarmos, roubarão tudo!

A Esquerda (do PS ao PCP, passando pelo Bloco) não assumiu até agora, por cobardia e populismo, as suas graves responsabilidades no buracão recentemente revelado dos swap especulativos encomendados por José Sócrates aos banqueiros piratas, indígenas e internacionais. O grosso dos contratos teve lugar entre 2005 e 2011, e o grosso dos contratos especulativos foi cozinhado e realizado entre 2009 e 2011. Que é preciso saber mais para colocar o DCIAP atrás dos mandantes destas operações de entrega do tesouro nacional e da nossa soberania a especuladores profissionais e países terceiros?

Em vez de assumir os erros, e demarcar-se frontalmente dos ladrões, a Esquerda barafusta e corre como uma barata tonta atrás de fantasmas, pretendendo assim lançar uma onda de ruído sobre a realidade.

Os portugueses pagam cada vez mais por cada vez menos e piores transportes públicos, pagam as greves do senhores maquinistas do Estado, e agora pagam também com língua de pau os lucros especulativos do Santander-Totta, da Caixa Geral de Depósitos, do JP Morgan, da Goldman Sachs e de outros ‘banksters’ do género.

Os portugueses pagam, assim, a socialização dos prejuízos e dos roubos, na forma de desemprego em massa (que vai chegar em breve ao funcionalismo público), em perdas de salário, de reformas e de  subsídios, na deterioração rápida dos serviços sociais, tudo isto, em grande parte, cortesia da imprestável Esquerda que temos.

Não foi precisa nenhuma Direita para desgraçar o nosso país. Bastaram os oportunistas de abril.

O problema destas perversões populistas têm, porém, um preço trágico: costumam terminar em ditaduras. Para já estamos a caminho de uma ditadura fiscal — diria mesmo, de uma espécie de fascismo fiscal :(

Temos uma democracia capturada pelos bancos, pelas corporações e por uma oligarquia partidária. O resultado desta captura, ao fim de três décadas, chama-se bancarrota. Para evitar a sua consumação trágica aceitámos subscrever um acordo humilhante com os credores. No entanto, a coligação PSD-CDS/PP cumpriu apenas metade do Memorando assinado com a Troika, exagerando nos impostos e em cortes cegos na despesa pública, sem praticamente atacar a despesa estrutural onde a mesma deve cessar de vez, e sem beliscar sequer os grandes rendeiros do regime, da EDP à Portugal Telecom, passando pela Mota-Engil, Grupo Mello e BES.

Mas o pior ainda está para vir! 

Se deixarmos a Esquerda populista que conduziu o país à falência regressar ao poder, nomeadamente por demérito e falta de coragem da coligação saída das últimas eleições, o que a Esquerda fará, sobretudo depois de reunir à sua volta toda a nomenclatura oportunista e corrupta do regime, será certamente continuar a expropriar as poupanças dos 90% de portugueses que não vivem de impostos, mas pagam imposto por tudo e por nada.

As classes médias e os pequenos proprietários urbanos e rurais serão em breve as presas ideais deste regime falido. Pela via fiscal, e pela via bancária, a corja instalada roubará tudo o que puder. E a maior burla de todas é esta: tentará fazê-lo, em nome, dirão, da preservação das conquistas de abril e do estado social!

Nunca Portugal esteve tão perto de se transformar num estado falhado e chupado até à medula pela corrupção. É isto que queremos? Não. Mas então é preciso dizer basta!


POST SCRIPTUM

A propaganda da economia
Bubble Symmetry and Housing. By Charles Hugh Smith of two minds.

Hmm, what would have happened if the Federal Reserve hadn't dumped trillions of dollars into the mortgage market, and the Federal housing agencies hadn't subsidized mortgages and housing with 3% down payments and tax credits?

O colapso da bolha imobiliária americana tem sido sustada por intervenções maciças da FED. Até quando, pergunta Charles-Hugh Smith?

Também em Portugal e no resto da Europa a queda livre dos preços do imobiliário tem sido travada pelos bancos em geral (resistindo a rever os valores dos seus ativos imobiliários) e pelo BCE em particular, à custa da extensão das maturidades das dívidas soberanas e de doses criminosas de austeridade (cuja designação técnica é 'consolidação fiscal'), destinadas a diminuir os défices e as dívidas soberanas.

Acontece que o sistema financeiro euro-americano está viciado em duas coisas: especulação com derivados OTC (sobretudo com taxas de juro e câmbios) e crédito aos governos. Ou seja, apesar da contração da procura de crédito por parte dos especuladores (em período de defeso) e dos governos (em período de defeso), o aperto no crédito à economia (sobretudo às empresas) continua violento como dantes. Os bancos preferem colocar o excesso de depósitos e os próprios empréstimos do BCE a render, por vezes a juros negativos, no mesmo BCE. É por isto que o discurso sobre a economia, o emprego e o crescimento não passa de propaganda populista — tanto do lado da Oposição, como do lado do Governo.

Como temos visto, as grandes empresas e bancos indígenas, depois de colocarem as sedes de holdings e veículos especulativos na Holanda, andam desesperadamente à procura de paraísos de exploração (a Colômbia é a Gata Borralheira du jour) para onde possam exportar paulatinamente os seus negócios... antes do colapso final :(

Comentário sobre afirmação (verdadeira) do PM

O primeiro-ministro sublinhou hoje que "em democracia" o país "nunca conseguiu registar um excedente orçamental" e que não é possível "cumprir obrigações e respeitar compromissos sem diminuir a despesa" e que quem o defende faz "demagogia" — in Jornal de Negócios.

Há verdades que pesam como chumbo sobre o estado a que chegámos. E a principal conclusão a retirar é que todos nós, mas em particular a oligarquia do regime, com os seus partidos populistas, as suas corporações egoístas, os rendeiros de sempre e os ladrões de ocasião, que proliferaram como coelhos em toda a parte, são responsáveis pela pré-bancarrota do país, pelo inevitável e doloroso ajustamento que temos pela frente para mais de uma década.

Os erros do governo de coligação são, porém, evidentes e para os mesmos chamámos reiteradamente a atenção dos leitores. No essencial, Passos Coelho e Gaspar não seguiram a receita, mais equilibrada, da Troika: ajustar pelo aumento da receita e ajustar pela diminuição da despesa, ao mesmo tempo, atacando frontalmente os lóbis financeiros, económicos e corporativos. Preferiram uma forma inaceitável de fascismo fiscal. Poderão cair por este imperdoável erro de avaliação. E o país, se tal ocorrer, descerá um nível mais na degradação do regime e na injustiça.


NOTA
  1. Especulação com taxas de juros (Swaps e Credit Default Swaps): mais de dois terços do mercado especulativo de derivados OTC (não regulamentados, nem supervisionados) está concentrado, precisamente, na especulação com taxas de juro. É por aqui que os cinco 'banksters' que controlam 95% deste mercado (JPMorgan, Bank of America, Citi, Goldman Sachs e HSBC), sangram os países. É por aqui que nasceu a grande especulação destes banksters com as dívidas soberanas americana e europeia. Para aceder a vários textos aqui publicados sobre estes produtos especulativos basta pesquisar em 'derivados OTC'.

    The interest rate derivatives market is the largest derivatives market in the world. The Bank for International Settlements estimates that the notional amount outstanding in June 2009 [1] were US$437 trillion for OTC interest rate contracts, and US$342 trillion for OTC interest rate swaps. According to the International Swaps and Derivatives Association, 80% of the world's top 500 companies as of April 2003 used interest rate derivatives to control their cashflows. This compares with 75% for foreign exchange options, 25% for commodity options and 10% for stock options — in Wikipedia.
Última atualização: 1 de maio de 2013, 20:31

sexta-feira, setembro 30, 2011

Barroso acordou!

Mil posts depois, a luta continua!

Se não faltam Mourinhos, nem Barrosos, porque deixámos cair Portugal?
Foto: autor desconhecido
... deixou de haver margem de manobra para o despesismo corrupto, para a irresponsabilidade política e para a indecência manifesta. O tempo das vacas gordas dos Fundos de Coesão chegou ao fim. Malbaratámos esta oportunidade única de organizar as nossas vidas? Os políticos passaram o tempo a tomar conta de si mesmos? Deixaram o país de tanga e sem ideias? Vem aí um ciclo irreversível de recessões e uma imparável curva ascendente nos custos da energia e do dinheiro? Que fazer com os políticos que temos? Para já, vigiá-los de perto e sem descanso! 
— in O António Maria, “Sócrates  3”, 26-09-2004.
Os ladrões fazem necessariamente parte da crise, mas esta última tem tais proporções que é melhor começar a perceber as suas verdadeiras causas, se quisermos encontrar os pensos, os antibióticos e a cura da mesma —antes da próxima que há-de vir! Por outro lado, alguém terá um dia que explicar como é que um país tão pequeno quanto Portugal, mas com gente de tão boa fibra e em lugares invejados por todos (Ronaldo, Mourinho, Barroso, Damásio, Borges, Osório, Constâncio, Guterres, Siza, etc.) se deixou apanhar por uma matilha de penduras ignorante, irresponsável, gananciosa, corrupta e indolente, capaz, como foi, de deixar Portugal à beira da extinção.

Não fora a saudada invasão da Troika, e já estaríamos todos arrumados. Não fora esta última, e os estrangeirados e jovens independentes que Passos Coelho teve o bom-senso de convidar para o governo de maioria que o eleitorado exigiu nas urnas, já teriam sido triturados pela malta que fez do regime saído do golpe militar de 25 de Abril uma democracia oportunista, centrada no umbigo dos partidos, burocrática, familiar, populista e inimputável.

A provocação insidiosa sistemática contra Álvaro Santos Pereira e Nuno Crato, vinda de quem esconde desesperadamente o fruto roubado, e dos eternos papagaios da esquerda mumificada, amplificada diariamente pela indigente e falida imprensa que temos, dá toda a dimensão do pânico que se apoderou da criminosa nomenclatura que levou o país à falência. Chegou a hora de exigir um julgamento mais detalhado desta tribo!

E no entanto, a solução dos nossos problemas, uma vez afastados e responsabilizados os seus mais directos agentes e mandantes, é muito menos um problema de pessoas, do que uma questão sistémica.

Tenho andado a reler um livro magnífico de Hyman Minsky, publicado em 1986, chamado Stabilizing an Unstable Economy. Ele escreve, entre uma interminável série de observações de extrema pertinência e rigor analítico, isto:
“Cover-ups, however, have repercussions, as do bail-outs. Protecting and bailing out bankers affect the subsequent performance of the economy. The interventions, beginning with the credit crunch of 1966, to protect financial institutions from the life-threatening effects of their behavior have led to an economy that fluctuates, over a period of varying length, between financial crises and accelerating inflations. The authorities, frightened of the unknown consequences of the failure of giant banks, intervene to protect them when they are at hazard, which implies that the giant banks are too big for a noninterventionist, free-market economy.”
O capitalismo financeiro dominado pela especulação e pelos esquemas Ponzi, e desde meados da década de 1960, por uma tendência para a inovação em grande medida desenvolvida e posta em prática à escala mundial sob o patrocínio de meia dúzia de famílias do dinheiro, é propenso a um género novo e mal dominado de bolhas e crises cíclicas que já nada tem que ver com os ciclos económicos de produção e consumo de bens transaccionáveis que foram causa de grandes dramas sociais nos séculos 19 e até meados do século 20.

Numa economia de capital intensivo, como nunca existiu, assente também no consumo igualmente maciço de combustíveis fósseis baratos, com destaque crescente para o petróleo e o gás natural, centrado no crescimento e expansão de indústrias e sistemas comerciais para escalas nunca vistas, nada se pode realmente fazer, com impactos económicos e sociais significativos, sem os bancos e sem fundos de investimento. Sem os bancos convencionais, de depósitos e empréstimos, mais ou menos transparentes, mais ou menos regulados, mais ou menos supervisionados, mas também sem os bancos informais, sociedades de investimento crípticas e outras formas cada vez mais enervantes de "shadow banking". A dimensão dos grandes projectos, que começaram ainda no século 19 com as redes ferroviárias, prolongando-se depois no século 20 com as grandes barragens hidroeléctricas, as redes cada vez mais apertadas e extensas de autoestradas e a indústria automóvel associada, foi exigindo um sistema financeiro cada vez mais universal e ao mesmo tempo especializado para lidar com a dimensão e variedade imparáveis dos projectos emergentes ao longo de todo o século 20. Minsky, que actualizou de forma honesta a teoria de Keynes, tem razão quando defende ao longo de quase quatrocentas páginas, a natureza intrinsecamente instável do capitalismo na era da sua expansão financeira. Sem reconhecer e perceber esta característica será sempre mais difícil lidar com as crises, e será sempre mais fácil reduzir os problemas ao clássico maniqueísmo Esquerda/Direita e Ricos/Pobres, esperando no meio da algazarra, e por vezes de criminosas tragédias humanas, que a tempestade passe.

Há um ponto que Hyman Minsky, na sua aguda análise, seguramente por razões de método, omite: a causa material do activismo especulativo e da inovação financeira nas sociedades capitalistas intensivas, financeiras e tecnologicamente avançadas. Poderão as necessidades gigantescas de financiamento explicar a voragem incontrolada dos derivados financeiros? Seria interessante escutá-lo, se fosse vivo, sobre a crise das dívidas soberanas, as quais deixaram de ser um problema típico de estados colonizados e de países falhados, para notabilizarem tão tristemente as economias desenvolvidas da América e da Europa. Como podem governos sobre endividados, numa economia globalizada, desempenhar cabalmente a função de "lenders of last resort"? Se o uso insistente desta faculdade perder eficácia, precisamente por causa da globalização e dos algoritmos de especulação (High-frequency trading), que acontece? Poderá a esfera financeira da economia sobreviver a uma explosão demográfica planetária, com impactos inevitáveis na produção, distribuição e consumo dos bens transaccionáveis? Poderá esta esfera ignorar os efeitos da exaustão relativa dos recursos energéticos e naturais? Quais os impactos da deslocalização das unidades produtivas à escala global na lógica financeira do capitalismo? Esta é provavelmente uma das perguntas de um bilião de euros da crise que continua a agravar-se diante de todos nós.



 “The prices in German supermarkets are about half of what they are in Belgium, Italy or Spain.” — Antonio S. Mello
Esta verificação consta da conferência do professor de finanças da universidade de Wisconsin, Antonio S. Mello (1), dada este mês em Nova Iorque. A compilação de dados eventualmente desconhecidos sobre a situação estrutural das finanças portuguesa é mais um contributo útil para a compreensão, longe de estar completa, das causas do nosso endividamento soberano, doméstico e empresarial, da falência bancária escondida e da perda de crédito internacional da nossa economia. Mas o mais surpreendente são duas das conclusões a que chegou:
“Too little investment in the last fifteen years to expand and upgrade the tradables sector. No money to do it now!”

“What periphery countries need is stabilization with growth, not stabilization at the expense of growth.”
Conclusão: a ajuda financeira externa deve dirigir-se preferencialmente às empresas, e não aos bancos, para o financiamento intensivo (pois doutro modo seria inútil, e puramente cosmético) da produção de bens transaccionáveis, e não para recapitalizar os bancos com mais cheques em branco, de que resultaria inevitavelmente o imediato recomeço do financiamento especulativo do Orçamento de Estado — e do consumo. Mas como fazer isto? Montando linhas de crédito preferenciais para as PME? Para todas? Como definir critérios de prioridade? Quanto tempo precisaríamos para ver resultados? Resistiríamos até lá?

Talvez possamos cruzar este meu entendimento da comunicação de Antonio Mello, com o Big Government de Minsk, no ponto em que este propõe, ainda que por períodos limitados, a intervenção do governo na qualidade de criador, já não da liquidez ilimitada, que no caso português não existe e seria inviável obter do BCE, mas de emprego ilimitado, a preços controlados, orientado para obras de interesse estratégico evidente: substituição da actual rede ferroviária de bitola ibérica por uma nova rede de bitola europeia, eficiência energética, requalificação urbana, gestão integrada e sustentável da floresta, atendimento de populações idosas sem recursos, etc.
“The current strategy seeks to achieve ful employment by way of subsidizing demand. The instruments are financing conditions, fiscal inducements to invest, government contracts, transfer payments, and taxes. This policy strategy now leads to chronic inflation and periodic investment booms that culminate in financial crises and serious instability. The policy problem is to develop a strategy for full employment that does not lead to instability, inflation and unemployment.

The main instrument of such a policy is the creation of an infinitely elastic demand for labor at a floor or minimum wage that does not depend upon long- and short-run profit expectations of business. Since only government can divorce the offering of employment from the profitability of hiring workers, the infinitely elastic demand for labor must be created by government.” (Minsky, op. cit.)
Neste caso, o encolhimento doloroso do estado burocrático, mas que libertaria fundos para uma política activa de emprego temporário e por objectivos, a custos controlados, teria um propósito social que as políticas meramente financeiras não poderão suprir na totalidade. Basta reparar nas constatações de Antonio Mello sobre a importância do crescimento económico, ou melhor dito, da falta dele, no agudizar das crises irlandesa e espanhola, na rigidez cultural do mercado de trabalho europeu (que contrasta claramente com a fluidez dos fluxos financeiros), ou ainda no estado crítico em que se encontram as nossas empresas privadas em matéria de endividamento, para que o problema do pleno emprego deixe de ser um eterno campo de retórica e demagogia, e seja estudado seriamente pelos economistas e pelos políticos profissionais.
“What is interesting is that a country can become a highly indebted country, not because of higher primary deficits. Ireland and Spain did not run budget deficits before 2009! They run primary surplus. They also had relatively low Debt to GDP ratios. The key factor is fall in growth coupled with bank bailouts which had a very large negative effect on government net worth.” (Author’s adaptation of W. Easterly in “Growth Implosions, Debt Explosions”)

[...]

“One would expect pressure for realignment from the labor market. As the German export sector reaches full capacity, wage costs should rise more than the Eurozone average. This is not happening. One would expect German workers to seek higher wages outside the country. But the European labor market remains extremely fragmented. Little internal migration. Causes? Housing, pension systems, language, culture, non-matching skills. German wage moderation can persist uncorrected for years.”

[...]

“With Net debt 16 X EBIT, Portuguese companies spend 96% of their pre-tax earnings just to service their debts, with interest rates at 6%! As rates climb, a number of these companies will find it increasingly hard just servicing their debts.” (Mello, op. cit.)
 As atenções têm estado sobretudo concentradas no Estado, mas quando começarmos a conhecer a real situação dos bancos, e de algumas empresas, como a EDP e várias grandes construtoras, perceberemos então melhor os dilemas que temos pela frente até ao fim desta década.



O estado da União... Europeia

Alguma coisa muito forte fez despertar Durão Barroso. Basicamente, na mensagem ao Parlamento Europeu, disse duas coisas: precisamos de por as instituições financeiras, nomeadamente os bancos, a contribuir para a resolução da crise das dívidas soberanas europeias; e precisamos e contrapor as instâncias europeias eleitas aos namoros oportunistas entre alguns governos da União. A mensagem nunca foi tão clara da parte deste astuto político e corredor de fundo.
“Much has been said about the alleged vulnerability of some of our banks. European banks have substantially strengthened their capital positions over the past year. They are now raising capital to fill the remaining gaps identified by the stress tests in summer. This is necessary to limit the damage to financial market turbulence on the real economy and on jobs. Over the last three years, we have designed a new system of financial regulation. Let's remember, we have already tabled 29 pieces of legislation. You have already adopted several of them, including the creation of independent supervising authorities, which are already working. Now it is important to approve our proposals for new rules on:
  • derivatives;
  • naked short selling and credit default swaps;
  • fair remuneration for bankers.

    These propositions are there, they should be adopted by the Council and by the Parliament. The Commission will deliver the remaining proposals by the end of this year, namely rules on:
     
  • credit rating agencies;
  • bank resolution;
  • personal responsibility of financial operatives.

    So we will be the first constituency in the G20 to have delivered on our commitment to global efforts for financial regulation. 

    Honourable members, In the last three years, Member States - I should say taxpayers - have granted aid and provided guarantees of € 4.6 trillion to the financial sector. It is time for the financial sector to make a contribution back to society.


    That is why I am very proud to say that today, the Commission adopted a proposal for the Financial Transaction Tax. Today I am putting before you a very important text that if implemented may generate a revenue of above € 55 billion per year. Some people will ask "Why?". Why? It is a question of fairness. If our farmers, if our workers, if all the sectors of the economy from industry to agriculture to services, if they all pay a contribution to the society also the banking sector should make a contribution to the society. And if we need – because we need – fiscal consolidation, if we need more revenues the question is where these revenues are coming from. Are we going to tax labour more? Are we going to tax consumption more? I think it is fair to tax financial activities that in some of our Member States do not pay the proportionate contribution to the society. It is not only financial institutions who should pay a fair share. We cannot afford to turn a blind eye to tax evasion. So it is time to adopt our proposals on savings tax within the European Union. And I call on the Member States to finally give the Commission the mandate we have asked for to negotiate tax agreements for the whole European Union with third countries.”
Não, isto não é um discurso do PCP, nem sequer do Bloco de Esquerda, dois papagaios ressequidos que a nossa democracia preserva no formol parlamentar de São Bento. É a voz de muitos estados da União que já não suportam o paternalismo da falida América, nem estão dispostos a ver entrar pela porta do cavalo, uma federação de estados subordinada a Berlim e acolitada (como sempre!) por Paris. Em breve haverá 28 estados soberanos unidos por um ideal e muitos interesses sob a bandeira da União Europeia — e não ficaremos por aqui.

É este, precisamente, o temor do eixo anglo-americano, responsável por uma descarada e injusta guerra financeira contra o euro. Wall Street e a City londrina têm tentado tudo para levar o BCE e a União Europeia a entrar no mesmo galope suicida do Quantitative Easing. A ideia é realmente contaminar o euro com a síndrome monetarista do dólar, por forma a obrigar a uma revalorização compulsiva da moeda chinesa, mas não do iene! Claro que as burocracias corruptas, cobardes e ineptas de boa parte das democracias populistas da União, quase todas a um fio da falência, querem mais dinheiro, juros mais baixos, e que o Casino de Lisboa volte a distribuir fichas sem limite aos viciados da casa. É ilegal!

A seu tempo, quando os governos populistas sobre endividados da União acolherem as reformas institucionais inadiáveis, cortarem nas gorduras indecentes dos estados, e substituírem as elites governamentais por gente nova, politicamente arejada e sem almoços por pagar, a criação de um mercado de obrigações na Eurolândia será justificada e necessária, assim como uma política monetária mais generosa por parte do BCE. Precipitar agora esta medida seria um suicídio, ao contrário do que pensa a rainha de Belém. A ideia peregrina lançada com ar professoral por Cavaco Silva na entrevista a Judite de Sousa, sobre a urgência de transformar o BCE num emissor de liquidez ilimitada, num lender of last resort, só podia mesmo ocorrer a uma mente perdida em compromissos inconfessáveis. Para este tipo de keynesianismo de pacotilha está o FED, muito obrigado!

Do que nós precisamos mesmo é de renovar a nomenclatura económico-financeira, político-partidária e institucional portuguesa, incluindo na procissão de limpeza contabilística a falência de uma série de empresas ruinosas e a venda de outras a quem tiver biografia, transparência de processos e idoneidade para as retomar e fazer crescer. Os "cadernos de encargos" exigidos pela rainha de Belém não serão certamente aqueles de que o país precisa.

A renovação eleitoral das elites irá ocorrer na Europa a partir de agora. Na realidade, Portugal deu o pontapé de saída nesta matéria, e os resultados não poderiam ter incomodado mais a nomenclatura, do governo aos média, passando pelas burocracias corporativas e sindicais, bem como pelas castas culturais. Se não me enganar, o importante a partir de agora não serão as siglas partidárias, mas a mudança efectiva de discurso, de objectivos e de comportamento na acção política de quem se propõe exercê-la.
“Comme je l'ai dit, au fond de la crise que nous avons maintenant, c'est un problème politique. C'est un test de notre volonté de vivre ensemble. C'est pourquoi nous devons approfondir l'Union européenne, c'est pourquoi nous avons construit des institutions communes. C'est pourquoi il faut garantir l'intérêt européen. Et la réalité aujourd'hui c'est que la coopération intergouvernementale n'est pas suffisante pour sortir l'Europe de cette crise, pour doter l'Europe d'un avenir. Tout au contraire, un certain intergouvernementalisme risque de mener à la renationalisation et à la fragmentation. Un certain intergouvernementalisme pourrait être la mort de l'Europe unie telle que nous la voulons.”
Hyman P. Minsky foi um teórico da economia capitalista, que embora acreditasse no Big Government, sempre se opôs, quanto mais não fosse, por razões técnicas, ao excesso de burocracia, bem como ao crescimento alimentado sistematicamente pela via do consumo, do emprego público não produtivo, e do endividamento descontrolado, obtido, a partir da década de 1980, através do recurso a uma desregrada inovação financeira. Vale a pena conhecer melhor este verdadeiro continuador de Keynes.
“Only an economics that is critical of capitalism can be a guide to successful policy for capitalism.” (Minsky, op. cit.)


NOTAS
  1. “The EU and the € Crisis:
    Growth Imbalances, Growth Implosion, Debt Explosion”
    Antonio S Mello — September, 2011

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 3-10-2011 23:09

quarta-feira, setembro 07, 2011

Derivatives

A Besta dos Derivados Financeiros

Touro morto na arena, Pamplona. Bernat Armangue—photo/AP (versão mod. p/ PB)

Aquilo a que se chama produtos "tóxicos" são regra geral (1) contratos de derivados financeiros, complexos (porque agrupam vários produtos financeiros em pacotes embrulhados com designações que não permitem ver o que está lá dentro), e negociados por debaixo da mesa, i.e. fora da bolsa e das demais praças (como são, por exemplo, os mercados públicos das "commodities": café, petróleo, trigo, arroz, carne argentina, etc.) A esta negociação fora dos mercados "transparentes" chama-se OTC: Over The Counter, que eu traduzo Por Debaixo da Mesa, na medida em que tais contratos, embora registados no seu valor, não são negociados em praças públicas (bolsas, etc.) e escapam aos organismos de supervisão financeira.

O derivado mais antigo e simples, que não é necessariamente "tóxico", é o chamado contrato de futuros, por exemplo, um seguro de colheitas, um seguro contra naufrágios, um seguro contra falências, ou contra alterações cambiais, etc. Um contrato de promessa de compra e venda de trigo por um dado valor numa dada moeda realizado antes da colheita é um bom exemplo de um contrato de derivados (não financeiro). Estes contratos existem desde que há comércio marítimo de longa distância, mas com a exportação progressiva das actividades produtivas (extração de matérias primas, produção industrial, serviços) do Ocidente para os chamados países emergentes, a base material da economia ocidental (a começar pela sobre endividada economia dos EUA) começou a decair. O modo como os gurus de Wall Street (de que tais Big Five são a marca distintiva) reagiram a esta perda progressiva de riqueza real foi precisamente a especulação com os mercados de futuros, tornando este tipo de contratos cada vez mais elaborados, opacos e fortemente apostados em ganhar dinheiro a partir de operações de risco: por exemplo, apostando na falência de um banco, ou de um país, apostando na subida e descida das taxas de juro interbancários, ou na subida e descida das taxas de juro das Obrigações soberanas no mercado secundário das dívidas públicas, etc.

Apostar contra/a favor das  taxas de juro, ou a favor/contra as taxas de câmbio, são o principal jogo da especulação financeira mundial de há umas duas décadas para cá, muito à frente das apostas no mercado imobiliário especulativo (de que o Subprime foi o mais recente exemplo), precisamente através dos tais produtos "tóxicos" que compõem o mercado de derivados financeiros: CDO (Credit Debt Obligations), CDS (Credit Default Swaps), Options, Naked Short Selling (vendas a descoberto sem garantia de recompra), etc....

Um dos principais estímulos concertados desta monumental bolha especulativa foi o chamado Yen Carry-Trade, i.e. a especulação com a moeda japonesa, e com as suas baixíssimas taxas de juro interbancário. Porém, no momento em que a China começou a emular este estratagema, e os Estados Unidos também decidiram optar por uma política de desvalorização agressiva do dólar e de destruição das taxas de juro, colocando-as cada vez mais perto de zero, o Yen Carry-Trade entrou em colapso, e com este colapso, começou o turbilhão desse inimaginável buraco negro financeiro chamado derivados.

A partir do momento em que estes produtos se autonomizaram a ponto de serem vistos e transaccionados como fichas de um gigantesco casino, o monstro do mercado de derivados financeiros começou a crescer exponencialmente. Hoje este mercado tem um valor "nocional" —quer dizer, um potencial de exposição ou de risco— na ordem de 12x o PIB mundial, i.e. 12x63 000 000 000 000 = 756 biliões de USD (ou como dizem os americanos: $756 trillions)

Bastaria que 30% dos contratos de Derivados dessem para o torto —e estão a dar!— para que se evaporassem da Terra qualquer coisa como 226,8 biliões de dólares (68E12 USD)

É este maremoto financeiro que está em curso :(




Vale a pena ver os 6 episódios deste excelente doc.

 NOTÍCIAS DO BURACO

A exposição dos cinco principais bancos americanos (JPMorgan Chase Bank, Bank of America, Goldman Sachs Bank USA, HSBC Bank USA) ao mercado de derivados financeiros, sobretudo envolvidos na especulação cambial (82%), com Credit Default Swaps (97,28% dos contratos), equivale a 4x o PIB mundial!

O crescimento desta exposição em 2010 (12,7%), a manter-se, seria claramente exponencial — i.e. virtualmente fora de controle.

Estes Big Five estão entre as dezassete instituições financeiras recentemente processadas pelas autoridades de Washington por terem defraudado a Fannie Mae e a Freddie Mac, causa principal do colapso do Subprime em 2007-2008.

É por estas e por outras que a imprensa anglo-saxónica berra histericamente e todos os dias contra os PIIGS. Estamos mal, sim, mas porque somos o elo fraco de uma cadeia de especulação e ganância mundiais com sede, precisamente, em Wall Street, sob o comando dos piratas que dirigem os Big Five.

CITAÇÕES
The notional value of derivatives held by U.S. commercial banks increased $12.8 trillion, or 5.5%, from the fourth quarter of 2010 to $244 trillion. The notional value of derivatives is 12.7% higher than a year ago. Derivative contracts remain concentrated in interest rate products, which comprise 82% of total derivative notional values. Credit derivatives, which represent 6.1% of total derivatives notionals, increased 5.3% to $14.9 trillion — in OCC’s Quarterly Report on Bank Trading and Derivatives Activities First Quarter 2011, Comptroller of the Currency Administrator of National Banks

World GDP in US$ (Wikipedia)
Listed by:
—IMF: 62,909,274,000,000
—World Bank: 63,048,823.000.000
—CIA: 63,170,000.000.000

JP Morgan still is the biggest HOLDER of derivative contracts. It has only $1.7 trillion in total assets while holding a hot hand of $73.6 trillion in derivatives! Wow. Talk about a heavy overhang of vapid paperwork that has no reality! Goldman Sachs has a mere $84 billion in assets but this lets them toy with $44 trillion in derivatives — in Culture of Life News.

NOTAS
  1. Esta versão simplificada não dispensa aos interessados leituras mais detalhadas sobre o fenómeno. Ler este artigo na Wikipedia.

sábado, julho 09, 2011

O fim de uma era

Verão 2011: depois do sonho, um pesadelo inesperado - I



A corrida espacial foi iniciada pelos russos e tudo leva a crer que serão os últimos a fechar a porta. Mais de 8000 despedimentos, directos e indirectos, são esperados na NASA. Até que a promessa de Obama, à laia de compensação, se cumpra —levar os americanos a Marte e a mais um asteróide qualquer— a América andará à boleia do vai-e-vem russo, fazendo ao mesmo tempo muitos votos para que o turismo espacial arranque!

É possível que os bilionários globais do futuro ganhem massa crítica suficiente para sustentar um tal negócio imbecil. Tenho, porém, sérias dúvidas de que tal venha a ocorrer. O que na realidade este último lançamento da nave espacial Atlantis assinala é o fim de uma era e o prenúncio de uma longa e desconhecida crise social à escala planetária, de que o colapso do sistema financeiro mundial, em curso desde 2007-2008, é o epifenómeno.

As causas deste colapso são de ordem sistémica, sendo por isso impossível travar semelhante derrocada. Ao longo dos últimos duzentos anos a humanidade cresceu demais, envelheceu e tornou-se uma espécie predadora perigosa para todas as demais formas de vida, à excepção das bactérias e dos vírus, além de assustadoramente autofágica. O empinar da sua longa curva de crescimento demográfico deveu-se principalmente ao descobrimento e aproveitamento tecnológico de três fontes de energia abundantes e baratas até meados da década de 1970: o carvão, o petróleo e o gás natural. Mas à medida que, por um lado, o consumo humano das reservas energéticas, dos recursos minerais e dos solos vivos da Terra crescia exponencialmente, acompanhando a explosão demográfica e o enriquecimento de uma parte da humanidade, por outro, estas mesma base finita do desenvolvimento desigual cedo começaria a dar sinais de esgotamento.

Lentamente, entre 1973 e 2007, até chegar ao pára-arranca actual da economia mundial, as previsões de Thomas Malthus, M. King Hubbert, Rachel Carson, do trio Donella Meadows, Jorgen Randers e Dennis L. Meadows, ou ainda do médico, ornitólogo e ambientalista Jared Diamond, ganharam uma actualidade crítica dificilmente disputável. As subidas dos custos da energia fóssil afectam imediatamente o crescimento, obrigando este a ajoelhar até à recessão; a recessão baixa temporariamente o preço do petróleo, até que a economia dá sinais de melhoria, mas à medida que estes sinais se traduzem em mais encomendas de matérias primas e consumo humano à escala global, a pressão da procura sobre as reservas energéticas acaba por reenviar as economias para taxas de crescimento anémicas e para a estagnação, provocando finalmente novas recessões. Mas ao contrário deste sobe-e-desce, o desemprego, a falta de emprego, a inflação real e a perda imparável do poder de compra da esmagadora maioria das pessoas, de que a destruição das classes médias no Ocidente é um sinal mais do que evidente e dramático, instalaram-se como os novos e reveladores invariantes do declínio cada vez mais evidente do paradigma de desenvolvimento humano decorrente do abuso sem precedentes das riquezas naturais disponíveis à face da Terra.

Sem este cenário de fundo corremos o risco de ir simplesmente atrás da espuma dos dias e das intrigas palacianas a que a propaganda mediática se entrega como sua própria condição de sobrevivência.

À medida que os salários e em geral os custos sociais do trabalho foram aumentando nos Estados Unidos e na Europa, sobretudo após a guerra mundial de 1939-1945, a par de uma subida paulatina dos preços da energia, das matérias-primas e dos alimentos oriundos das antigas colónias americanas, asiáticas, do Médio Oriente e africanas, as economias ocidentais, embora muito competitivas e produtivas no interior dos respectivos países e alianças de comércio livre, viram baixar drasticamente a competitividade das suas exportações para o resto do mundo. As mesmas moedas fortes —o dólar, a libra inglesa, o franco suíço e o marco alemão— que serviam para controlar os preços das importações de preciosos recursos oriundos dos países pobres, manipulando-os enquanto pareciam sem fim, impediam as nações mais fracas de aceder às manufacturas cada vez mais tecnológicas do Ocidente.

A opção dos Estados Unidos e da Europa foi então, sobretudo depois da longa crise económico-financeira que vai do colapso de 1929 até ao fim da Segunda Guerra Mundial, expandir a procura interna e o consumo popular nos seus grandes espaços económicos. Mas para atingir este desiderato, a principal medida de estratégia económica e financeira adoptada foi expandir consistentemente a oferta e a circulação monetárias, aumentando ao mesmo tempo para níveis sem precedentes em tempo de paz os tectos do endividamento público. O chamado deficit spending não nasceu, portanto, neste século, mas com o New Deal (1933-1936) de Roosevelt, e com o Plano Marshall (1948-1951).

O que aconteceu entretanto foi que esta estratégia deixou, sobretudo a partir da década de 1960 (por alturas da formação da OPEP), de assentar num certo equilíbrio entre produção e consumo, passando a estar ancorada cada vez mais na combinação fatal entre dois tipos de inflação inusitada: a inflação do consumo (elevada entretanto a uma verdadeira cultura do consumo conspícuo), e a inflação do crédito, conseguida através do abandono do padrão ouro e de uma imparável política de diminuição das taxas de juro. Mas os preços crescentes das matérias primas solicitadas por uma demografia planetária em crescimento explosivo, apoiada nos equilíbrios diplomáticos saídos da derrota da Alemanha (bipolarização EUA-Europa versus URSS, ou EUA-Europa versus URSS+China), começaram a erodir de forma grave as expectativas de lucro das empresas e dos investidores ocidentais, tornando-os cada vez mais sensíveis aos custos directos e indirectos do trabalho que dentro dos EUA e na Europa esmagavam de forma imparável as suas margens de lucro. Numa primeira fase, Washington, Londres e Berlim começaram a abrir as suas fronteiras aos produtos industriais —nomeadamente os automóveis, máquinas e material electrónico em geral— muito mais baratos, oriundos do Japão. Depois abriram-se aos produtos coreanos, e finalmente aos chineses. A fase seguinte, na realidade uma decisão fatal, foi a imposição estratégica do processo da globalização comercial e financeira, promovendo através desta destruição das barreiras alfandegárias à escala mundial, três processos destinados a atrasar o declínio social do Ocidente, sem atacar verdadeiramente as suas causas:
  1. transferência dos processos produtivos, tecnologias e marcas para os países de trabalho barato, ausência de regras e moedas subavaliadas;
  2. aumento exponencial da disponibilidade de liquidez no sistema financeiro, nomeadamente através da diminuição deslizante dos rácios de solvabilidade dos bancos e sociedades de investimento não reguladas —ver aqui a longa série (1975-2011) do stock de moeda da Reserva Federal, conhecido por M1;
  3. criação de produtos derivados financeiros cada vez mais complexos, com o objectivo inconfessável de expandir até limites inimagináveis a capacidade de endividamento das antigas potências coloniais: o valor nocional do mercado de derivados financeiros OTC era em Dezembro de 2010 de aproximadamente 10xPIB mundial (BIS).
Resumindo: a humanidade, liderada por um Ocidente irresponsável, atingiu o planalto insustentável de três curvas de exaustão: o Pico do Petróleo, o Pico Demográfico e o Pico da Liquidez Especulativa. Para sair daqui não bastam os Memorandos de Entendimento com o FMI, o BCE e a Comissão Europeia. É preciso muito mais!

(continua)

sexta-feira, junho 10, 2011

Bitcoin

Uma moeda finita, puramente computacional, para derrotar o buraco negro da ladroagem mundial?

E se os money changers fossem derrotados por um banqueiro anarquista anónimo e sem dono?

Em plena erupção da crise financeira e económica mundial, desencadeada pelo colapso dos chamados empréstimos Subprime, a percepção de que o sistema bancário na era da globalização electrónica se transformara numa Dona Branca planetária, levou um misterioso hacker japonês, Satoshi Nakamoto, a criar, entre 2007 e 2010, o modelo daquela que promete ser a futura moeda global: descentralizada, democrática, sem dono, e à prova de inflação. Esta moeda, que já circula na tecnosfera, chama-se Bitcoin. Baseada na partilha ponto-a-ponto de ficheiros entre computadores (P2P), é um meio de pagamento digital-electrónico, cujo valor é extraído através da resolução de problemas matemáticos de complexidade crescente, encriptado através de algoritmos muito sofisticados e resistentes, finito (para evitar a inflação monetária) e que promete resistir aos money changers pós-modernos, responsáveis pela gestação criminosa de um risco de incumprimento financeiro global equivalente a 10x o PIB mundial, ou seja, 600 milhões de milhões de US dólares (“Semiannual OTC derivatives statistics at end-December 2010”—Bank of International Settlements).

The Currency That's Up 200,000%
Bitcoins are the top-performing money in the world -- but what are they?
Smart Money, Wall Street Journal

The best performing currency of the past year isn't Brazil's real, up 15% versus the U.S. dollar, or Australia's dollar, up 27%. It's the Bitcoin. A year ago one was worth half a penny. Thursday morning it hit $10.50. That's a gain of more than 200,000%.

What's a Bitcoin? It's a peer-to-peer system of electronic money that allows payments to be sent directly between two parties without the need for a financial institution. It's related to Bit Torrent, a system for sharing large files like movies, but in this case the "movie" is a file with the currency's entire transaction history. And because users themselves all share that history, "it's more secure than even bank transactions," says Donald Norman, a spokesman for the Bitcoin Consultancy, which is seeking to gain wider acceptance for the currency.


The Bitcoin Triples Again
Smart Money, Wall Street Journal

The world's fastest-gaining currency has tripled in price again. Last week, SmartMoney.com reported that the Bitcoin had exploded from an exchange rate near zero to more than $10 in about a year, making it one of the top-returning assets of any kind. On Wednesday the currency topped $30.

If returns like those seem otherworldly, perhaps its because Bitcoin is a world unto itself. To recap, it's is a purely online currency with no intrinsic value; its worth is based solely on the willingness of holders and merchants to accept it in trade. In that respect, it's not so different from fiat currencies like the dollar or Euro, but whereas governments back such money, Bitcoins lack central control.

Bitcoin tem a sua origem cultural na vasta comunidade de hackers e de defensores de uma espécie de anarquia electrónica responsável, comunitária e anti-capitalista. A genealogia deste movimento cultural com impacto crescente na actual civilização tecnológica (paradoxalmente ameaçada pelo consumo e destruição especulativa dos seus limitados recursos energéticos, naturais e sociais objectivamente disponíveis) é bem conhecida de muitos de nós. Basta citar alguns do seus mais notórios acrónimos:

Linux
Open Source/ Software Livre
Creative Commons
Wikipedia
Wikileaks
Anonymous
Humblebundle
Bitcoin
BitTorrent
The Pirate Bay

Os recentes êxitos instantâneos do Facebook, Twitter, Groupon, LinkedIn e Mac iCloud são versões comerciais híbridas da ideologia tecno-comunitária do Software Livre e da Partilha Gratuita de Ficheiros. Esta ideologia, de que o Bitcoin promete ser o grande protagonista monetário, desafia as noções convencionais de propriedade intelectual aprisionadas por uma agressiva e imperial indústria dedicada à comercialização de direitos de autor e de patentes.

À medida que as dificuldades criadas pelos money masters reduzem as soluções racionais e socialmente disponíveis para a actual crise de endividamento, arriscando destruir a economia mundial (por exemplo, através de uma guerra tecnológica sem precedentes), os indivíduos, as empresas e os governos acabarão por escolher a melhor forma de se protegerem dos processos de implosão e rapina em curso e que não parecem ter fim (sobretudo por causa da dimensão do buraco negro dos derivados financeiros OTC.)

É neste contexto que a Bitcoin aparece como uma ideia brilhante, ainda que na sua infância, capaz de desafiar o poder aparentemente ilimitado dos senhores de um dinheiro que deixou de ser metálico em 1971, e que tem vindo a ser multiplicado electronicamente —numa base puramente declarativa, ou contabilística— sem qualquer base sólida de valor. As bolhas especulativas que nascem e rebentam de forma cada vez mais destrutiva são a marca distintiva desta espoliação em massa das populações e dos países. A partir do momento em que a moeda de reserva mundial, o dólar americano, em nome de uma inflação monetária que não mais acabaria, rejeitou qualquer regra de paridade relativamente ao ouro, as populações e as economias subordinadas à hegemonia imperial desta moeda flutuante foram sendo sucessivamente despojadas das suas poupanças, dos seus empregos, das suas autonomias e, no limite, do direito à existência. Há, no entanto, uma rebelião em marcha — confusa, caótica, mas que a crescente república electrónica global vem apetrechando com escudos e ferramentas de perturbação cada vez mais sofisticados e eficazes.

Há quem diga que Dominique Strauss-Khan foi vítima de uma conspiração dos serviços secretos americanos, em resultado de o ex-director do FMI ter confirmado o que há muito se suspeitava: as reservas de ouro americanas evaporaram-se de For Knox! E o ouro português, ainda lá está? Se o Parlamento Europeu aprovar a proposta da sua Comissão de Economia e Assuntos Monetários, ECON, sobre o uso das reservas de ouro dos países comunitários no pagamento de dívidas de Estado, saberemos finalmente até que ponto a moeda americana não passa hoje de um perigoso fantasma.


What is bitcoin?


Online Cash Bitcoin Could Challenge Governments, Banks

Late last year, after WikiLeaks began releasing its trove of State Department cables, many individuals sought to show solidarity with the group by making a donation. They found, however, that many payment processors would not remit money to WikiLeaks, some say as a result of U.S. government pressure. PayPal even froze the group's account so it couldn't access funds already collected.

“Hey, Visa, Mastercard, Paypal: It's MY money,” media critic Jeff Jarvis tweeted at the time. “How DARE you tell me where I can and can't spend it?” — TIME.

Bitcoin, the new digital currency explained


Crypto Currency
Andy Greenberg, 04.20.11, 06:00 PM EDT
Forbes Magazine dated May 09, 2011

Want to buy socks or psilocybin without being traced? Bitcoins are for you.

The Internet has left plenty of dead and maimed paper-based institutions in its wake. If Gavin Andresen and his underground cadre of cypherpunks have their way, another archaic slice of pulped tree may be next: the dollar.

Bitcoin is a grassroots nonprofit project that seeks to fashion a new currency out of little more than cryptography, networking and open-source software, and Andresen is the closest thing the project has to a director. Bitcoin is not, he explains, just a new way to digitally spend dollars, pounds and yen. That's been tried before. Remember Beenz and Flooz?

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 10-06-2011 23:33