Os pequenos e médios depositantes portugueses estão a entrar em pânico. Por enquanto, em silêncio. Depois, logo se verá.
Exijo, como cidadão, uma declaração formal do governo português sobre o grau de garantias que está disposto a assumir caso ocorram rupturas de pagamentos por parte dos bancos sediados em Portugal. Os 25 mil euros actualmente estabelecidos são manifestamente insuficientes.
Última hora!
UE avança em direcção a acordo para garantir depósitos
LUXEMBURGO 06-10-2008, 23:20 (AFP) — Os países da União Europeia (UE) avançaram nesta segunda-feira, em Luxemburgo, em direcção a uma proposta para elevar até 100 mil euros a garantia dos depósitos bancários na comunidade, actualmente em cerca de 20 mil euros, com o objectivo de tranquilizar os depositantes e evitar uma corrida aos bancos.
Teixeira dos Santos: depósitos bancários em Portugal garantidos “aconteça o que acontecer”
06.10.2008 - 16h12 Isabel Arriaga e Cunha, no Luxemburgo (Público)
O ministro das Finanças anunciou esta tarde que “aconteça o que acontecer as poupanças dos portugueses em qualquer banco que opera em Portugal estão garantidas”. Teixeira dos Santos, que falava no Luxemburgo à margem do Eurogrupo, escusou-se a esclarecer se esta é uma garantia de depósitos ilimitada. Actualmente o Fundo de Garantia de Depósitos garante até um máximo de 25 mil euros de depósitos, em caso de falência e de incumprimento de uma instituição bancária.
Depois da Irlanda (1) garantir inesperadamente os depósitos bancários dos seis principais bancos do país -- lançando a confusão geral entre os dirigentes europeus, nomeadamente do Bando dos Quatro (Alemanha, Reino Unido, França e Itália) -- um a um, os demais países da União copiam agora a receita de Dublin: "mais vale um pássaro na mão do que dois a voar!" Alemanha (sim, a que vociferava contra os irlandeses!), Grécia, Dinamarca (2), Espanha (3), Reino Unido, Áustria e Suécia, engrossam o cada um por si decidido hoje pelos atarantados "27" -- precipitando mais um dia negro nas bolsas mundiais (4).
UE: Sócrates subscreve declaração comum reforçando garantias de estabilidade
06.10.2008 - 15h17 (Por AFP, Lusa/ Público)
O primeiro-ministro português subscreveu hoje, em conjunto com os restantes Estados-membros da UE, uma declaração em que os 27 se comprometem a adoptar medidas para a estabilidade do sistema financeiro europeu e dar protecção aos depositantes. ...
“Os líderes da União Europeia afirmam que cada país tomará as medidas necessárias com vista a assegurar a estabilidade do sistema financeiro – seja através da cedência de liquidez por parte dos bancos centrais, de medidas pontuais para lidar com situações específicas de alguma instituição financeira, ou do reforço dos mecanismos de protecção dos depositantes”, lê-se na declaração.
No mesmo comunicado, os Estados-membros garantem que “continuarão a tomar as medidas necessárias de protecção do sistema para que os depositantes nas instituições financeiras monetárias não sofram quaisquer perdas”. ...
Na semana passada, em diversas intervenções públicas, tanto o primeiro-ministro, José Sócrates, como o ministro de Estado e das Finanças, Teixeira dos Santos, defenderam que o sistema financeiro português “têm dado provas de resistência” face à actual conjuntura de turbulência nos mercados internacionais.
No mesmo contexto, José Sócrates deixou também uma mensagem de tranquilidade em relação aos cidadãos com depósitos em instituições financeiras nacionais, dizendo estarem asseguradas as poupanças dos portugueses.
A pergunta retórica que me ocorre, sobretudo num dia em que o PSI20 tem a maior queda dos últimos 3 anos (4), depois de ter perdido no que vai de ano mais de 40% do seu valor (5), é esta:
quando pensam as luminárias lusitanas que informam e aconselham o senhor Sócrates em matéria de finanças (o senhor Constâncio e o senhor Teixeira dos Santos, presumo) dizer-lhe que a questão das garantias bancárias dos depositantes é uma matéria da máxima urgência, exigindo um comunicado claro do Conselho de Ministros?
Tudo o que ouvimos até ao momento (07-10-2008 00:28) foram declarações manhosas. Não foi assumido nenhum compromisso oficial quanto às garantias, para além daquelas que já estão definidas: um máximo de 25 mil euros por cada conta bloqueada por falta de fundos imputáveis à entidade bancária. Ora o que está em causa é saber se o Estado português está em condições de ir para além destes valores obviamente insuficientes. E se não está, como pensa travar uma corrida aos bancos e a fuga de massiva de capitais para outros países da União Europeia?
A senhora Merckel percebeu algo que é elementar e qualquer aforrador, como qualquer especulador entende: se há bancos europeus que garantem os meus depósitos bancários, contra outros que não o fazem, ou estão indecisos, ou proclamam intenções vagas para enganar os tolos, eu, com um clique de computador transfiro instantaneamente o meu dinheiro para a Irlanda, a Alemanha, a Dinamarca, ou qualquer outro país da União que ofereça garantias!
A Caixa Geral de Depósitos está sob pressão -- como atempadamente alertámos e Nicolau Santos aprofunda em artigo do Expresso online de hoje (6). Ou então, ficam por explicar os três encaixes de capital (ou melhor dito, provisões) realizados em contra-ciclo ideológico do actual colapso da lógica privatizadora neoliberal. As acções do BCP vão a caminho dos cêntimos. E já agora: quanto ouro português existe ainda em Fort Knox, que não esteja comprometido em SWAPS?
Se amanhã a Espanha seguir a Alemanha, ou multiplicar por cinco o tecto actual das suas miseráveis garantias (20 mil euros), em que posição ficaria a banca portuguesa? Eu creio que neste preciso momento existe já uma corrente grossa de capitais em direcção aos países que oferecem garantias. Por cada dia que passar sem uma decisão do governo de José Sócrates, temo que saiam milhões de euros -- reais e virtuais! -- do país. É preciso agir já!
Tal como fizeram os dinamarqueses,
- é fundamental decretar o mais rapidamente possível a garantia ilimitada dos depósitos em dinheiro existentes na contabilidade dos bancos portugueses, pelo período de um ano;
- e é mais fundamental ainda decretar ao mesmo tempo a interrupção da distribuição de dividendos especulativos (ou seja, a conversão dos títulos em dinheiro) e a proibição de auto-compra de acções por parte dos bancos.
NOTAS
- Banco irlandês garantido pelo Estado aproveita para atrair depósitos
Dublin, 3 out (EFE/ Globo).- O filho do diretor-executivo do Irish Nationwide, um dos seis bancos irlandeses garantidos pelo Governo de Dublin, utilizou o aval estatal para tentar fazer negócios com uma entidade de investimentos globais radicada em Londres, confirmaram hoje fontes oficiais.
Michael Fingleton (filho) enviou vários e-mails a funcionários de uma firma da City londrina pedindo que depositassem grandes somas de dinheiro, antes inclusive que a nova lei de garantia fosse aprovada na quinta-feira pelo Parlamento irlandês, informou o escritório do regulador financeiro, que investiga o assunto.
No e-mail, que circula pela internet, Fingleton - funcionário de uma filial do Irish Nationwide - afirmava que, graças ao apoio do Governo, sua entidade era agora "o lugar mais seguro para depositar dinheiro na Europa", com ofertas de depósitos com juros de 6,75% e 7%.
...A lei de garantia irlandesa, que permanecerá em vigor até a meia-noite de 28 de setembro de 2010, protege depósitos, bônus e certo tipo de dívida dos seis grandes bancos nacionais avaliados em mais de 400 bilhões de euros. EFE. - Dinamarca garante depósitos bancários
06-08-2008. (Jornal de Negócios) A Dinamarca vai garantir todos os depósitos bancários num acordo com as entidades de concessão de crédito comercial do país. Os bancos comerciais vão fornecer cerca de 35 mil milhões de coroas dinamarquesas (4,69 mil milhões de euros) nos próximos dois anos a um fundo para assegurar os depositantes em situação de perdas. ...
Segundo avança a agência noticiosa, esta soma (4,63 mil milhões de euros) é equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Com base neste acordo, os bancos não poderão pagar dividendos aos accionistas ou comprar acções próprias.
No últimos mês, seis bancos regionais dinamarqueses colapsaram, foram comprados, ou colocados à venda. Segundo 39 dos 45 economistas consultados pela agência Bloomberg, mais bancos pequenos podem falir dentro de um ano. - Governo espanhol aumentará 'imediatamente' fundo de garantia dos depósitos bancários
06/10/2008 - 17:20; MADRID (AFP) - O governo espanhol aumentará "imediatamente" o fundo de garantia dos depósitos bancários, anunciaram fontes oficiais depois de uma reunião do presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, com dirigentes de bancos e caixas de poupança, mas não especificaram de que forma, nem em que quantidade.
As contas bancárias na Espanha estão garantidas em até 20.000 euros por cliente. Zapatero conversou hoje com os presidentes dos bancos Santander, BBVA, Banco Popular e das caixas de poupança La Caixa, Caja Madrid e Unicaja.
O governo espanhol, que defendia uma solução europeia para a crise financeira mundial que afectou várias entidades europeias nos últimos dias e criticava as soluções unilaterais decididas por Irlanda e Alemanha, avisou nesta segunda-feiras que por falta disso, adoptará medidas para garantir os depósitos na Espanha dos poupadores.
A Alemanha, que se nega a ter que pagar pelos problemas dos bancos de outros países, impede que os europeus cheguem a um acordo a respeito.
Até o momento, o sistema bancário espanhol não foi afectado pela onda de quebras em instituições bancárias nos Estados Unidos, Reino Unido, Benelux e Alemanha.
Zapatero e os dirigentes dos bancos destacaram hoje "a fortaleza e solvência do sistema financeiro espanhol" e "a política de rigor mantida pelo Banco de España nas últimas décadas", segundo o comunicado.
Copyright © 2008 AFP. Nenhuma das informações contidas neste servidor pode ser reproduzida, seja a que título for, sem o acordo prévio da Agence France-Presse. - Portugal e Espanha exigem que resposta à crise seja decidida pela totalidade da UE
06.10.2008, Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas (Público)
Reuniões dos ministros das Finanças dos 15 países da zona euro e dos Vinte e Sete decorrem hoje e amanhã com o desafio de conseguir a unidade europeia que tem faltado
Portugal e Espanha criticaram ontem de forma velada a cimeira de sábado passado limitada aos quatro maiores países da União Europeia (UE), defendendo que as decisões relevantes sobre a crise financeira deverão ser tomadas a 27 e no âmbito de uma resposta europeia. - Galp cai 17,8 por cento e EDP 14,4 por cento
Lisboa cai mais de oito por cento e liderava mais um dia negro para bolsas europeias
06.10.2008 - 15h49, Por Eduardo Melo
A quase uma hora do fecho da sessão, a Bolsa de Lisboa tomava a dianteira na Europa e afundava 8,54 por cento (PSI20), penalizado pelos seus principais títulos. Galp, EDP, e BPI desciam entre 12 e quase 18 por cento, contagiados pelo desempenho das congéneres europeias.
O pânico parece ter-se instalado entre os investidores, que pressionavam o título da petrolífera para uns reduzidos 8,93 euros, fruto de uma descida de 17,8 por cento. A eléctrica baixava 14,4 por cento, para 2,31 euros, o BPI diminuía 12,4 por cento, para 1,84 euros e o BES quase dez por cento, para 7,95 euros.
Para completar o trio das acções do sector da banca, o BCP acompanhava a tendência geral e recuava 8,2 por cento, para quase um euro (1,04 euros), demonstrando que o enfoque do movimento vendedor se concentra na área financeira, na Galp e na EDP.
O comportamento da bolsa portuguesa excede o desempenho do resto da Europa, onde as quedas aproximavam-se dos sete por cento e evidenciavam grande volatilidade.
A ausência de acordo na União Europeia para uma resposta conjunta à crise financeira no espaço europeu pode estar a minar os mercados bolsistas, que não encontram motivos para saudar a reunião de sábado dos quatro países mais ricos da UE: Alemanha, Reino Unido, França e Itália. E como parte desta crise é de confiança nas instituições, os líderes destes quatro países deram uma grande prova da falta de coordenação e preocupação conjunta para responder a problemas, que até há bem pouco tempo pareciam ser do seu total desconhecimento.
Como ninguém ainda sabe a dimensão da crise financeira internacional e da sua repercussão na economia real, hoje parece ser o dia para os investidores demonstrarem a sua ansiedade nos mercados bolsistas, saindo das suas posições accionistas.
Fora da Europa, o sentido é igualmente vendedor. Em Nova Iorque, o índice Dow Jones baixou dos 10 mil pontos, escorregando mais de três por cento (3,4 por cento) após algum tempo da abertura. É a primeira vez que se assiste a este nível de fraqueza, desde Outubro de 2004. - Perdas anuais do PSI 20 já superam os 40%
- O dia em que nasceu o cisne negro
por Nicolau Santos
06-10-2008. (Expresso) As mensagens passadas são diferentes. Nos Estados Unidos, a análise tem sido casuística. Na Europa, a indicação clara é que os governos não deixarão cair as grandes instituições financeiras - e que os critérios de convergência serão flexibilizados face a esta situação de excepção.
Em Portugal, o primeiro-ministro e o ministro das Finanças também fizeram questão de passar a mensagem de que o Estado não deixará que haja falências no sistema financeiro e que os depositantes e credores podem estar tranquilos. É fundamental que o recado seja interiorizado. Os bancos nacionais estão bem no que toca aos rácios de solvabilidade, mas uma eventual onda de pânico que leve a uma corrida aos depósitos de uma instituição vai atirá-la para uma situação de pré-falência, obrigando o Estado a intervir.
É por isso incompreensível que, na mesma semana em que passaram esta mensagem, José Sócrates e Teixeira dos Santos tenham permitido que a CGD concretizasse a venda de duas participações que detinha na REN e na AdP, à Parpública, por €390 milhões.
Bem pode o ministro clamar que tal estava há muito previsto. Se estava, não se percebe que tenha sido concretizada agora, no exacto momento em que há receios, em todo o mundo, quanto à solidez das instituições financeiras. Ainda por cima, nos últimos sete meses, o Estado procedeu, pela calada, a dois aumentos de capital na Caixa, um a 31 de Dezembro de 2007, de €150 milhões, e outro de €400 milhões no final de Julho.
Ora de tudo isto o que resulta é a legítima dúvida de saber se os rácios de solvabilidade da Caixa não estariam debilitados 1) pelas participações que detém em diversas empresas que se desvalorizaram fortemente; 2) e por financiamentos que fez a diversas entidades para compra de acções contra garantias que estão hoje muito desvalorizadas.
Em alternativa, fica a outra dúvida: e se este reforço dos rácios da Caixa é para prever a possibilidade de esta ter de ir em socorro de alguma instituição financeira que esteja à beira de enfrentar sérias dificuldades?
OAM 454 06-10-2008 18:17 (última actualização: 07-10-2008 00:24)